Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Infecção do Trato Urinário Rever a morfofisiologia do Trato Urinário. Anatomia e Histologia: Os rins são um par de órgãos avermelhados em forma de feijão, localizados logo acima da cintura, entre o peritônio e a parede posterior do abdome. Por causa de sua posição posterior ao peritônio da cavidade abdominal, são considerados retroperitoneais. Os rins estão localizados entre os níveis das últimas vértebras torácicas e a terceira vértebra lombar (L III), uma posição em que estão parcialmente protegidos pelas costelas XI e XII. O rim direito está discretamente mais baixo do que o esquerdo, porque o fígado ocupa um espaço considerável no lado direito superior ao rim. Anatomia externa dos rins Um rim adulto normal tem 10 a 12 cm de comprimento, 5 a 7 cm de largura e 3 cm de espessura – aproximadamente do tamanho de um sabonete comum – e tem massa de 135 a 150 g. A margem medial côncava de cada rim está voltada para a coluna vertebral. Perto do centro da margem côncava está um recorte chamado hilo renal, através do qual o ureter emerge do rim, juntamente com os vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos. Três camadas de tecido circundam cada rim. A camada mais profunda, a cápsula fibrosa, é uma lâmina lisa e transparente de tecido conjuntivo denso não modelado que é contínuo com o revestimento externo do ureter. Ela serve como uma barreira contra traumatismos e ajuda a manter a forma do rim. A camada intermediária, a cápsula adiposa, é uma massa de tecido adiposo que circunda a cápsula fibrosa. Ela também protege o rim de traumas e ancora o firmemente na sua posição na cavidade abdominal. A camada superficial, a fáscia renal, é outra camada fina de tecido conjuntivo denso não modelado que ancora o rim às estruturas vizinhas e à parede abdominal. Na face anterior dos rins, a fáscia renal localiza se profundamente ao peritônio. Anatomia interna dos rins duas regiões distintas: uma região vermelha clara superficial chamada córtex renal e uma região interna mais escura castanha avermelhada chamada medula renal. A medula renal consiste em várias pirâmides renais em forma de cone. A base (extremidade mais larga) de cada pirâmide está voltada para o córtex renal, e seu ápice (extremidade mais estreita), chamado papila renal, está voltado para o hilo renal. O córtex renal é a área de textura fina que se estende da cápsula fibrosa às bases das pirâmides renais e nos espaços entre elas. Ela é dividida em uma zona cortical externa e uma zona justamedular interna. As partes do córtex renal que se estendem entre as pirâmides renais são chamadas colunas renais. Juntos, o córtex renal e as pirâmides renais da medula renal constituem o parênquima, ou porção funcional do rim. No interior do parênquima estão as unidades funcionais dos rins – aproximadamente 1 milhão de estruturas microscópicas chamadas néfrons. O filtrado formado pelos néfrons é drenado para grandes ductos coletores, que se estendem através da papila renal das pirâmides. Os ductos coletores drenam para estruturas em forma de taça chamadas cálices renais maiores e cálices renais menores. Cada rim tem de 8 a 18 cálices renais menores e 2 ou 3 cálices renais maiores. Um cálice renal menor recebe urina dos ductos coletores de uma papila renal e a carreia para um cálice renal maior. Uma vez que o filtrado entra nos cálices, torna se urina, porque não pode mais ocorrer reabsorção. O motivo é que o epitélio simples dos néfrons e túbulos se tornam epitélio de transição nos cálices. Dos cálices renais maiores, a urina flui para uma grande cavidade única chamada pelve renal e, em seguida, para fora pelo ureter até a bexiga urinária. O hilo se expande em uma cavidade no interior do rim chamada seio renal, que contém parte da pelve renal, os cálices e ramos dos vasos sanguíneos e nervos renais. O tecido adiposo ajuda a estabilizar a posição destas estruturas no seio renal. Irrigação sanguínea e inervação dos rins Visto que os rins removem as escórias metabólicas do sangue e regulam o volume e a composição iônica do sangue, não é surpreendente que eles sejam abundantemente irrigados por vasos sanguíneos. Embora os rins constituam menos de 0,5% da massa total do corpo, recebem 20 a 25% do débito cardíaco de repouso por meio das artérias renais direita e esquerda. Em adultos, o fluxo sanguíneo renal, o fluxo sanguíneo através de ambos os rins, é de aproximadamente 1.200 mℓ por minuto. No rim, a artéria renal se divide em várias artérias segmentares, que irrigam diferentes segmentos do rim. Cada artéria segmentar emite vários ramos que penetram no parênquima e passam ao longo das colunas renais entre os lobos renais como as artérias interlobares. Muitos nervos renais se originam no gânglio renal e passam pelo plexo renal para os rins, juntamente com as artérias renais. Os nervos renais integram a parte simpática da divisão autônoma do sistema nervoso. A maior parte consiste em nervos vasomotores que regulam o fluxo sanguíneo renal, causando dilatação ou constrição das arteríolas renais. Néfron Partes do néfron Os néfrons são as unidades funcionais dos rins. Cada néfron consiste em duas partes: um corpúsculo renal, onde o plasma sanguíneo é filtrado, e um túbulo renal, pelo qual passa o líquido filtrado (filtrado glomerular). Estreitamente associado a um néfron está a sua irrigação sanguínea, que acabou de ser descrita. Os dois componentes de um corpúsculo renal são o glomérulo e a cápsula glomerular (cápsula de Bowman), uma estrutura epitelial de parede dupla que circunda os capilares glomerulares. O plasma sanguíneo é filtrado na cápsula glomerular, e então o líquido filtrado passa para o túbulo renal, que tem três partes principais. Em ordem de recebimento do líquido que passa por eles, o túbulo renal consiste em um (1) túbulo contorcido proximal (TCP), (2) alça de Henle e (3) túbulo contorcido distal (TCD). Proximal denota a parte do túbulo ligado à cápsula glomerular, e distal indica a parte que está mais longe. O corpúsculo renal e os túbulos contorcidos proximais e distais se localizam no córtex renal; a alça de Henle se estende até a medula renal, faz uma curva fechada, e então retorna ao córtex renal. Fisiologia: Os rins desempenham a principal função do sistema urinário. As outras partes do sistema são essencialmente vias de passagem e áreas de armazenamento. As funções dos rins incluem: Regulação da composição iônica do sangue. Os rins ajudam a regular os níveis sanguíneos de vários íons, sendo que os mais importantes são os íons sódio (Na+), potássio (K+), cálcio (Ca2+), cloreto (Cl–) e fosfato (HPO4 2– ) Regulação do pH do sangue. Os rins excretam uma quantidade variável de íons hidrogênio (H+) para a urina e preservam os íons bicarbonato (HCO3 –), que são um importante tampão do H+ no sangue. Ambas as atividades ajudam a regular o pH do sangue Regulação do volume de sangue. Os rins ajustam o volume do sangue por meio da conservação ou eliminação de água na urina. O aumento do volume de sangue eleva a pressão arterial, enquanto a diminuição do volume de sangue reduz a pressão arterial. Regulação da pressão arterial. Os rins também ajudam a regular a pressão arterial por meio da secreção da enzima renina, que ativa o sistema renina angiotensina aldosterona. O aumento da renina provoca elevação da pressão arterial Manutenção da osmolaridade do sangue. Ao regular separadamente a perda de água e a perda de solutos na urina, os rins mantêm uma osmolaridade do sangue relativamente constante de aproximadamente 300 miliosmóis por litro (mOsm/ℓ)* Produção de hormônios. Os rins produzem dois hormônios. O calcitriol, a forma ativa da vitamina D, ajuda a regular a homeostasia do cálcio, e a eritropoetina estimula a produção de eritrócitos. Regulação do nível sanguíneo de glicose.Tal como o fígado, os rins podem utilizar o aminoácido glutamina na gliconeogênese, a síntese de novas moléculas de glicose. Eles podem então liberar glicose no sangue para ajudar a manter um nível normal de glicemia. Excreção de escórias metabólicas e substâncias estranhas. Por meio da formação de urina, os rins ajudam a excretar escórias metabólicas – substâncias que não têm função útil no corpo. Algumas escórias metabólicas excretadas na urina resultam de reações metabólicas no organismo. Estes incluem amônia e ureia resultantes da desaminação dos aminoácidos; bilirrubina proveniente do catabolismo da hemoglobina; creatinina resultante da clivagem do fosfato de creatina nas fibras musculares e ácido úrico originado do catabolismo de ácidos nucleicos. Outras escórias metabólicas excretadas na urina são as substâncias estranhas da dieta, como fármacos e toxinas ambientais. FUNÇÕES DO SISTEMA URINÁRIO Os rins regulam o volume e a composição sanguíneos; ajudam a regular a pressão arterial, o pH e os níveis de Glicose; produzem dois hormônios (calcitriol e eritropoetina); e excretam escórias metabólicas na urina. Os ureteres transportam a urina dos rins para a bexiga urinária. A bexiga urinária armazena a urina e depois a expele pela uretra. A uretra elimina a urina do corpo. Aspectos gerais da fisiologia renal Para produzir urina, os néfrons e os ductos coletores realizam três processos básicos – filtração glomerular, reabsorção tubular e secreção tubular: Filtração glomerular. Na primeira etapa da produção de urina, a água e a maior parte dos solutos do plasma sanguíneo atravessam a parede dos capilares glomerulares, onde são filtrados e passam para o interior da cápsula glomerular e, em seguida, para o túbulo renal. Reabsorção tubular. Conforme o líquido filtrado flui pelos túbulos renais e ductos coletores, as células tubulares reabsorvem aproximadamente 99% da água filtrada e muitos solutos úteis. A água e os solutos retornam ao sangue que flui pelos capilares peritubulares e arteríolas retas. Observe que o termo reabsorção se refere ao retorno de substâncias para a corrente sanguínea. Por outro lado, o termo absorção indica a entrada de novas substâncias no corpo, como ocorre no sistema digestório. Secreção tubular. Conforme o líquido filtrado flui pelos túbulos renais e ductos coletores, as células dos túbulos renais e do ductos secretam outros materiais – como escórias metabólicas, fármacos e excesso de íons – para o líquido. Observe que a secreção tubular remove uma substância do sangue. Entender a fisiopatologia da Infecção do Trato Urinário. DEFINIÇÃO: A infecção do trato urinário (ITU) constitui uma das principais causas de consulta na prática médica, só perdendo para as infecções respiratórias. As ITUs podem manifestar-se em qualquer idade. Entretanto, existe uma maior prevalência em três grupos etários: crianças até os seis anos de idade, mulheres jovens com vida sexual ativa e na população com mais de 60 anos de idade. As infecções do trato urinário (ITUs) são causas comuns de morbidade com índices significantes de mortalidade. As ITUs podem acometer homens e mulheres em todas as faixas etárias, com variadas apresentações. O trato urinário inferior é um sistema estéril, podendo sofrer contaminação e colononização de bactérias que ascendem da região perineal. Os principais fatores envolvidos na patologia das ITUs estão associados aos mecanismos de defesa do hospedeiro ou virulência das bactérias envolvidas. As manifestações clínicas podem variar desde pacientes assintomáticos, passando por queixas miccionais, quadros febris, alteração do comportamento em crianças e idosos, até quadros sépticos. EPIDEMIOLOGIA: É comum em unidades de terapia intensiva onde representa a terceira infecção mais frequente. Nos países em desenvolvimento a ITU também é uma importante causa de infecção hospitalar. O sexo feminino é mais vulnerável do que o sexo masculino para ocorrência de infecção urinária. Mulheres adultas têm 50 vezes mais chances de adquirir ITU do que os homens e 30% das mulheres apresentam ITU sintomática ao longo da vida. Como a principal rota de contaminação do trato urinário é por via ascendente, atribui-se esse fato à menor extensão anatômica da uretra feminina e à maior proximidade entre a vagina e o ânus característica da genitália feminina. Embora mais comum em mulheres, a incidência de ITU aumenta entre homens acima de 50 anos. A instrumentação das vias urinárias - incluindo- se o cateterismo vesical - e a ocorrência de doença prostática são os fatores mais implicados no aumento da incidência no sexo masculino. Entre idosos e em indivíduos hospitalizados, as taxas de ITU também são elevadas pelos fatores citados e pela presença de comorbidades que aumentam a susceptibilidade às infecções. As taxas de ITU são bem maiores nos homossexuais masculinos, estando relacionadas com a prática mais frequente de sexo anal não protegido, nos indivíduos com prepúcio intacto e em portadores de infecção pelo vírus HIV. As ITUs são mais comuns em mulheres do que em homens, exceto nos primeiros dois anos de vida. Mulheres que tiveram ITU apresentam 25% de chance de recidiva após tratamento. A prevalência da ITU em mulheres aumenta com a idade, devido, principalmente, a diminuição hormonal. Além disso, mulheres com quadro de perda urinária em uso de absorventes podem apresentar maior predisposição a ITU. Nos homens com mais de 50 anos de idade a hiperplasia prostática benigna pode ocasionar obstrução infravesical e o crescimento da próstata, levando a uma dificuldade de esvaziamento vesical. Esses indivíduos apresentam resíduo urinário pós-miccional e diminuição do jato urinário, levando a um aumento na prevalência de ITU. ETIOLOGIA: Os agentes etiológicos mais frequentemente envolvidos com ITU adquirida na comunidade são, em ordem de frequência: a Escherichia coli, o Staphylococcus saprophyticus, espécies de Proteus e de Klebsiella e o Enterococcus faecalis. A E. coli, sozinha, responsabiliza-se por 70% a 85% das infecções do trato urinário adquiridas na comunidade e por 50% a 60% em pacientes idosos admitidos em instituições. Quando a ITU é adquirida no ambiente hospitalar, em paciente internado, os agentes etiológicos são bastante diversificados, predominando as enterobactérias, com redução na frequência de E. coli (embora ainda permaneça habitualmente como a primeira causa), e um crescimento de Proteus sp, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella sp., Enterobacter sp., Enterococcus faecalis e de fungos, com destaque para Candida sp. Entre os pacientes com ITU complicada e de repetição tem crescido a incidência de microrganismos produtores de B-lactamase de espectro estendido (ESBL) incluindo a própria E. coli multirresistente o que dificulta o tratamento da infecção urinária e exige a utilização de antibióticos de largo espectro com frequência cada vez maior. outros patógenos podem causar ITU como micobactérias, anaeróbios e fungos, sendo estes últimos encontrados em pacientes cateterizados ou com imunossupressão. PATOGENIA: É de grande utilidade clínica a estratificação da infecção urinária em ITU complicada e não complicada. Os fatores de virulência bacteriana de um lado e a integridade dos mecanismos de defesa do hospedeiro do outro lado são os principais fatores determinantes do curso da infecção. Na ITU não complicada a Escherichia coli é a bactéria responsável pela maioria das infecções enquanto nas ITUs complicadas o espectro de bactérias envolvido é bem mais amplo incluindo bactérias Gram positivas e Gram negativas e com elevada frequência organismos multirresistentes. Quanto à localização, é classificada como baixa ou alta. A ITU pode comprometer somente o trato urinário baixo, caracterizando o diagnóstico de cistite, ou afetarsimultaneamente o trato urinário inferior e o superior, configurando infecção urinária alta, também denominada de pielonefrite. As infecções do trato urinário podem ser complicadas ou não complicadas, as primeiras têm maior risco de falha terapêutica e são associadas a fatores que favorecem a ocorrência da infecção. A infecção urinária é complicada quando ocorre em um aparelho urinário com alterações estruturais ou funcionais ou quando se desenvolve em ambiente hospitalar. Habitualmente, as cistites são infecções não complicadas enquanto as pielonefrites, ao contrário, são mais frequentemente complicadas, pois em geral resultam da ascensão de microrganismos do trato urinário inferior e estão frequentemente associadas à presença de fatores complicadores. Um paciente é considerado portador de ITU de repetição quando acometido por 3 ou mais episódios de ITU no período de doze meses. As ITUs são resultados da interação entre os patógeno e o hospedeiro. Para a ocorrência da infecção do trato urinário devemos ter fatores do patógeno com virulência da bactéria e/ou déficits nos mecanismos de defesa do hospedeiro. A forma mais comum de entrada de bactérias no trato urinário é a via ascendente através da uretra. A maioria dos patógenos tem reservatório no trato gastrointestinal e acabam colonizando o períneo. Estas bactérias possuem fímbrias ou pili capazes de aderir ao urotélio, facilitando sua ascendência pela uretra. Cerca de 50% das cistites bacterianas podem ascender ao trato urinário superior. Não há necessidade da existência de refluxo vesicoureteral para a colononização do trato urinário superior; fatores relacionados a cistite como edema da mucosa vesical são suficientes para a ocorrência de passagem de bactérias ao ureter. Fatores que alterem a peristalse ureteral também podem contribuir para a infecção do trato urinário superior, como gravidez, cálculos ureterais ou mesmo toxinas produzidas por bactérias gram-negativas. As vias hematogênicas e linfáticas são as menos comuns de infecção do trato urinário. Pacientes com infecções sistêmicas por Staphylococcus aureus podem apresentar pielonefrite por este patógeno. A infecção por via linfática geralmente acontece quando há infecções em órgãos próximos e contíguos, por exemplo diverticulite. Entretanto, o real papel dessas vias de disseminação ainda são questionáveis e não totalmente aceitas. As infecções complicadas são associadas a fatores que podem predispor a infecções do trato urinário ou diminuem a eficácia da terapia. O trato urinário é funcional ou anatomicamente anormal. O paciente pode ser portador de patologias sistêmicas ou as bactérias podem apresentar maior virulência ou resistência a antibióticos. Fatores que sugerem ITU complicada: · Gravidez;- Neste período as gestantes passam a ser mais suscetíveis a desenvolver um quadro de infecção urinária sintomática. Este quadro se deve as alterações fisiológicas (mecânicas e hormonais) que ocorrem no sistema urinário. Dentre estas alterações estão dilatação do sistema coletor (compressão extrínseca pelo útero gravídico e pelo complexo vascular ovariano dilatado ao nível do infundíbulo pélvico); hirpetrofia da musculatura longitudinal no terço inferior do ureter, redução da atividade peristáltica decorrente da progesterona e aumento do débito urinário. A associação destes fatores à redução do tônus vesical propicia a estase urinária e o refluxo vésico- ureteral, convertendo as infecções assintomáticas em sintomáticas. · Anormalidades funcionais ou anatômicas do trato urinário; · Homens; · Diabetes; · Idosos ou crianças; · Uso recente de anti microbianos; · Manipulação cirúrgica do trato urinário ou uso de cateteres; · Infecção adquirida em ambiente hospitalar. Os fatores de risco para ITU com organismos resistentes incluem o uso recente de antimicrobianos de amplo espectro, exposições a cuidados de saúde e viagens a partes do mundo onde organismos multirresistentes são prevalentes. SINAIS E SINTOMAS: ITU é definida pela presença de bactéria na urina tendo como limite mínimo definido a existência de 100.000 unidades formadoras de colônias bacterianas por mililitro de urina (ufc/ml). Os sinais e sintomas associados à infecção urinária incluem polaciúria, urgência miccional, disúria, alteração na coloração e no aspecto da urina, com surgimento de urina turva acompanhada de alterações no sedimento urinário, hematúria e piúria (>10.000 leucócitos/mL). É comum a ocorrência de dor abdominal mais notadamente em topografia do hipogástrio (projeção da bexiga) e no dorso (projeção dos rins) podendo surgir febre. A infecção urinária pode ser sintomática ou assintomática, recebendo na ausência de sintomas a denominação de bacteriúria assintomática. A ITU baixa (cistite) apresenta-se habitualmente com disúria, urgência miccional, polaciúria, nictúria e dor suprapúbica. A febre nas infecções baixas não é um sintoma usual. O antecedente de episódios prévios de cistite deve sempre ser valorizado na história clínica. A urina pode se apresentar turva, pela presença de piúria, e/ou avermelhada, pela presença de sangue, causada pela presença de litíase e/ou pelo próprio processo inflamatório. A ITU alta (pielonefrite) se inicia habitualmente com quadro de cistite, sendo frequentemente acompanhada de febre elevada, geralmente superior a 38°C, associada a calafrios e dor lombar uni ou bilateral. Febre, calafrios e dor lombar formam a tríade de sintomas característicos da pielonefrite, estando presentes na maioria dos casos. A dor lombar pode se irradiar para o abdômen ou para os flancos ou ainda, para a virilha, situação que sugere mais fortemente a presença de litíase renal associada. Os sintomas gerais de um processo infeccioso agudo podem também estar presentes, e sua intensidade é diretamente proporcional à gravidade da pielonefrite. COMPLICAÇÕES: Pacientes com ITU aguda complicada também podem apresentar bacteremia, sepse, disfunção de múltiplos sistemas de órgãos, choque e / ou insuficiência renal aguda. É mais provável que isso ocorra em pacientes com obstrução do trato urinário, instrumentação recente do trato urinário ou outras anormalidades do trato urinário e em pacientes idosos ou com diabetes mellitus. A pielonefrite aguda também pode ser complicada pela progressão da infecção do trato urinário superior para abscesso corticomedular renal, abscesso perinéfrico, pielonefrite enfisematosa ou necrose papilar. Os fatores de risco para tais complicações incluem obstrução do trato urinário e diabetes mellitus (particularmente para pielonefrite enfisematosa e necrose papilar). A pielonefrite xantogranulomatosa é uma variante rara da pielonefrite em que ocorre destruição maciça do rim por tecido granulomatoso. A maioria dos casos ocorre no contexto de obstrução devido a cálculos renais infectados. Os pacientes afetados podem apresentar semanas a meses de sinais e sintomas insidiosos e inespecíficos, como mal-estar, fadiga, náusea ou dor abdominal. Esta condição é discutida em detalhes em outro lugar. Outras complicações associadas a ITU na gravidez incluem, hipertensão e a pré- eclâmpsia, anemia, carioamnionite, endometrite e septcemias. Entretanto não se pode afirmar se o episódio de infecção urinária precede a ocorrência dessas complicações, ou se as mesmas já existiam no momento do diagnóstico da infecção do trato urinário. Compreender o diagnóstico, diagnósticos diferenciais e tratamento para ITU. DIAGNÓSTICO: O diagnóstico de ITU baseiase na presença de bacteriúria associada aos sinais e sintomas que denotem inflamação de segmentos do trato urinário. A infecção urinária é caracterizada pelo crescimento bacteriano de pelo menos 100.000 unidades formadoras de colônias por ml de urina (100.000 ufc/mL) colhidaem jato médio e de maneira asséptica. Em determinadas circunstâncias (paciente idoso, infecção crônica, uso de antimicrobianos) pode ser valorizado crescimento bacteriano igual ou acima de 10000 colônias (10.000 ufc/mL). Para pacientes cateterizados e mediante realização de assepsia rigorosa contagem superiores a 100 UFC/mL podem ser consideradas significativas. O nível de bacteriúria significativa pode variar de acordo com a forma de coleta da amostra de urina, o fluxo urinário, a presença e o tempo de permanência do cateter urinário e até com o microrganismo isolado. Microrganismos com crescimento mais lento, como Enterococcus sp e Candida sp, podem requerer mais tempo para atingir contagem mais elevada de colônias.13 A coleta de urina para cultura pela micção deve ser realizada após limpeza genital externa e rigor de anti-sepsia. Nos pacientes cateterizados, é recomendada a coleta por meio da punção do sistema de drenagem no local especialmente designado, após rigorosa desinfecção com álcool a 70% deste local, mantendo- se o sistema fechado. Os exames complementares que podem ser úteis para o diagnóstico de ITU incluem: (1) Urina rotina, (2) Urocultura (Exame definidor do diagnóstico), (3) Antibiograma; e em casos selecionados, (4) Hemocultura (Em casos de pielonefrite) e (5) Exames de imagem (Ultrassonografia, Tomografia computadorizada e Ressonância Magnética). URETROCISTOGRAFIA MICCIONAL (UCM), CINTILOGRAFIA RENAL DINAMICA (DTPA), CINTILOGRAFIA RENAL ESTATICA (DMSA), CISTOGRAFIA RADIOISOTOPICA DIRETA ABORDAGEM DE DIAGNÓSTICO Avaliação - Deve-se suspeitar de infecção aguda complicada do trato urinário (ITU) em pacientes com disúria, frequência ou urgência urinária ou dor suprapúbica que também apresentam febre, calafrios, dor nos flancos, dor pélvica ou perineal (em homens) ou que de outra forma aparecem clinicamente eu vou. A pielonefrite aguda, especificamente, deve ser suspeitada em pacientes que apresentam febre e dor no flanco, mesmo na ausência de sintomas típicos de cistite. Freqüentemente, há suspeita de ITU aguda complicada em pacientes com febre não localizada ou sepse. A avaliação inclui exames para avaliar outras causas de doenças e estudos de urina. O exame físico deve avaliar o ângulo costovertebral, a sensibilidade abdominal e suprapúbica. Entre mulheres jovens sexualmente ativas, um exame pélvico pode ser justificado, particularmente se os sintomas não forem convincentes para uma ITU, para avaliar o movimento cervical ou sensibilidade uterina, que seria sugestiva de doença inflamatória pélvica Entre os homens com sintomas de dor pélvica ou perineal, o exame de toque retal cauteloso pode ser necessário para avaliar a presença de próstata edemaciada ou sensível que poderia sugerir prostatite aguda. A ITU costuma ser suspeita em pacientes idosos ou debilitados que apresentam sinais ou sintomas inespecíficos, como quedas, mudança no estado funcional e mudança no estado mental. No entanto, evidências crescentes indicam que esses não são preditores confiáveis de bacteriúria ou ITU e sugere que o tratamento para ITU neste cenário não está associado a melhores resultados . Quando esses sinais ou sintomas inespecíficos são acompanhados por sinais ou sintomas de infecção sistêmica ou pielonefrite, a avaliação para ITU aguda complicada com estudos de urina, além de uma investigação infecciosa geral, é apropriada. Para todos os pacientes com suspeita de ITU complicada aguda, enviamos urina para análise de urina (por microscopia ou por fita reagente) e cultura com teste de suscetibilidade. Os resultados do exame de urina informam o diagnóstico. Como a piúria está presente em quase todos os pacientes com ITU; sua ausência sugere um diagnóstico alternativo, principalmente em pacientes que apresentam sintomas inespecíficos. Os cilindros de células brancas, em particular, sugerem uma origem renal para piúria. No entanto, piúria e bacteriúria podem ocasionalmente estar ausentes se a infecção não se comunicar com o sistema coletor ou se o sistema coletor estiver obstruído. O crescimento de bactérias na cultura de urina também apóia o diagnóstico de ITU, e o teste de sensibilidade é essencial para garantir o tratamento antimicrobiano adequado. Se disponível, A coloração de Gram na urina também pode ser útil para restringir a lista de organismos causadores em potencial e informar a seleção antimicrobiana empírica. Questões relacionadas à coleta e teste de urina, bem como à interpretação das contagens de colônias de cultura de urina, são encontradas em outros lugares. O teste de gravidez é apropriado em mulheres com potencial para engravidar quando a possibilidade de gravidez não pode ser razoavelmente excluída apenas pela história. Os exames de sangue, como química geral e hemogramas completos, geralmente não são necessários, a menos que o paciente seja hospitalizado. As hemoculturas são garantidas para aqueles que apresentam sepse ou doença grave. TRATAMENTO: O tratamento de ITU baixa (cistite) de origemcomunitária em mulheres jovens imunocompetentes e sem fatores associados à ocorrência de ITU complicada pode ser instituído empiricamente sem a solicitação de urocultura. Para isto deve existir dois ou mais dos sintomas como disúria, urgência miccional, polaciúria, nictúria e dor suprapúbica, associado ao encontro de leucocitúria na urina tipo 1. Já em mulheres idosas ou diabéticas, a investigação com urocultura é necessária, o tempo de uso dos agentes deve ser prolongado (10 a 14 dias) e a ciprofloxacina 500 mg VO de 12/12 h passa a fazer parte das opções terapêuticas. Em gestantes com cistite de origem comunitária, algumas contraindicações relativas a determinados antimicrobianos promovem uma redução significativa com relação às drogas potencialmente utilizáveis. As possibilidades terapêuticas disponíveis para a gestante são antibióticos beta-lactâmicos, nitrofurantoína e fosfomicina. Quando a cistite ocorre em pacientes do sexo masculino a ciprofloxacina é uma opção terapêutica e o tempo de tratamento se prolonga para 10 a 14 dias. Caso o paciente possua mais de 60 anos, justifica-se a realização do exame de próstata e a solicitação de urocultura e teste de sensibilidade a antimicrobianos deve ser realizada em todos os casos. O uso de Sulfametoxazol+Trimetoprin, amplamente difundido em guias internacionais, poderá ser utilizado baseado em teste de sensibilidade a antimicrobianos e não em tratamento empírico, devido ao aumento de resistência desta droga em isolados de Escherichia coli.Os antimicrobianos da classe dos aminoglicosídeos, apesar de possuírem excelente ação sobre enterobacteriácias no trato urinário, têm seu uso res tringido devido ao potencial de nefrotoxicidade e a existência de drogas com excelente ação e com perfil de segurança maior em relação aos efeitos colaterais. Entretanto são opções válidas nos casos de contraindicações de outros agentes ou guiado por teste de sensibilidade a antimicrobianos, não sendo, portanto, indicado entre as primeiras opções para tratamento. As drogas e doses utilizadas são: Gentamicina 3mg/Kg/ dia dividido em 3 doses diárias e Amicacina 15mg/Kg/ dia em dose única com infusão de 1h. A ITU alta (pielonefrite) de origem comunitária e não complicada inicialmente pode ser tratada em regime ambulatorial, com reavaliação a cada 48 h para determinar a efetividade do tratamento. Em pacientes com sinais de instabilidade ou com fatores associados à ocorrência de ITU complicada, devem preferencialmente ser internados. Nestes pacientes o uso de antimicrobianos endovenosos deverá ser instituído até que se encontrem sem febre por um período de 48 a 72h, quando a terapia pode ser completada por via oral. Em caso de internação hospitalar, recomenda-se a coleta de hemoculturas e a realização de ultrassonografia. O tratamento da ITU hospitalar baixaou alta, considerando a variedade de microrganismos infectantes no ambiente hospitalar e a variação em sua sensibilidade, deve fundamentar-se no isolamento da bactéria na urocultura e na sensibilidade demonstrada ao antibiograma. A bacteriúria assintomática definida pela presença de bactérias na urocultura (>100.000 UFC/ml) e ausência de sinais e sintomas clínicos de infecção, não deve ser tratada em mulheres jovens não grávidas. Em gestantes, pacientes submetidos a transplante de órgãos sólidos, granulocitopenia, pré-operatório de cirurgias urológicas e pré-operatório de colocação de próteses, devemos instituir tratamento para bacteriúria assintomática guiados pelo teste de sensibilidade a antimicrobianos. Bacteriúria assintomática Bacteriúria assintomática em mulheres idosas, sadias e sem lesões estruturais ou neurológicas, em geral, não requer tratamento, uma vez que o custo e a toxicidade do tratamento podem ser maiores que o risco de doença. Estudos realizados em mulheres idosas demonstraram que bacteriúria assintomática existe em 20% dos casos e que depois de seis meses cerca de 50% das mulheres tratadas e igual número de mulheres não tratadas evidenciam bacteriúria significativa. Pacientes com algum risco de acomentimento do trato urinário superior, como, por exemplo, meninas com menos de cinco anos, mulheres grávidas ou com complicações como diabetes mellitus, rins policísticos, portadores de anormalidades neurológicas ou anatômicas, devem ser tratados de maneira adequada. Tratar bacteriúria assintomática em gravidez diminui o risco de pielonefrite aguda e parto prematuro no terceiro trimestre. Prevenção de recorrência Quando ocorre recorrência co m frequência de três ou mais episódios por ano ou mais de dois episódios em seis meses, considera-se oquadro como cistite recorrente. O tratamento do quadro infeccioso segue a mesma regra da cistite não complicada. Ou seja, o tratamento deve ser instituído por três dias com antibiótico adequado. Mulheres com quadro de cistite recorrente devem realizar cultura de urina e antibiograma sempre que tiverem sintomas, mesmo que se pretenda iniciar antibiótico antes do resultado da cultura. A coleta da cultura visa determinar se os sintomas realmente estavam associados a uma infecção urinária e para determinar se o antibiótico escolhido empiricamente era adequado. Pacientes com mais de seis episódios de ITU por ano podem beneficiar-se de profilaxia antibiótica. Em geral, o tratamento supressivo ou profilático é feito por meio da administração de um quarto da dose terapêutica antibiótica à noite. Os antibióticos mais utilizados são sulfametroxazol-trimetoprima (200 mg de sulfa), nitrofurantoína (100 mg), cefalexina (250 mg), ácido pipemídico (200 mg) ou norfloxacino (200 mg). O tempo de utilização da medicação não está estabelecido, podendo variar de 3 a 12 meses. Algumas pacientes apresentam quadros de ITU relacionados ao coito. Quando essa associação é claramente estabelecida, a paciente pode ser orientada a ingerir os referidos antibióticos (1/2 da dose terapêutica diária) após cada relação sexual, sendo mais econômico e com eficácia semelhante à profilaxia contínua. Com tal abordagem, a incidência de cistites reduz cerca de dez vezes. Além dessa medida, todas as pacientes devem ser orientadas a tratar, imediatamente, qualquer infecção vaginal, evitar o uso de espermicidas e ter uma ingesta hídrica regular. Medidas como tratar constipação intestinal, urinar após relação sexual, limpeza pós- miccional da parte anterior para posterior, beber suco de Cranberry não apresentam evidência científica para sua recomendação. A imunoterapia através do emprego de lisado liofilizado de cepas de E. coli (UroVaxom®), avaliada através de estudos controlados e randomizados em mulheres com cistite recorrente seguidas por um ano, demonstrou redução de 40% na recorrência da infecção no período estudado, assim como redução na intensidade dos sintomas nos casos de recorrência. Seu mecanismo de ação se baseia na absorção de proteínas da membrana celular de E. coli através da mucosa intestinal, desencadeando uma resposta imunológica do trato gastrointenstinal, que por meio da imunidade celular e humoral, permitem a secreção de imunoglobulinas na mucosa vesical. Mulheres idosas podem beneficiar-se de reposição hormonal tópica vaginal. A reposição hormonal restabelece a flora e o pH vaginal. Prognóstico O prognóstico está relacionado a uma série de fatores como: idade de apresentação, presença ou não de cicatrizes renais, malformações e atraso no diagnóstico e na instituição de terapêutica. Referências: TORTORA G.J.DERRICKSON. Principios de anatomia e fisiologia.14° edição. SILVA, José Maria Penido et al. Aspectos atuais no diagnóstico e abordagem da infecção do trato urinário. Rev Med Minas Gerais, v. 24, n. 2, p. 20-30, 2014. RORIZ-FILHO, Jarbas S. et al. Infecção do trato urinário. Medicina (Ribeirão Preto. Online), v. 43, n. 2, p. 118-125, 2010. PAULA, Maria Luiza Almeida de et al. Infecção do trato urinário em mulheres com vida sexual ativa. J. bras. med, 2016. MAZILI, P. M.; CARVALHO JÚNIOR, Adilson Pimentel de; ALMEIDA, Fernando G. Infecção do trato urinário. Rev Bras Med, v. 68, p. 74-81, 2011. TAVARES, Verônica Barreto. INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO NA GRAVIDEZ UMA REVISÃO DE LITERATURA. Caderno de Graduação-Ciências Biológicas e da Saúde- UNIT-PERNAMBUCO, v. 2, n. 3, p. 67, 2017. Uptodate: Infecção aguda complicada do trato urinário (incluindo pielonefrite) em adultos,2019. Departamento Científico de Nefrologia-SBP,2016- Infecção do Trato Urinário
Compartilhar