Prévia do material em texto
ANNA CAROLINA PINHEIRO HASTENREITER ESTER LOPES PÔRTO GABRIEL SANTOS MORAES ISABELA GUASTI JÚLIA OLIVEIRA PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS Vila Velha- ES 2022 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 2 OBJETIVOS............................................................................................................... 3 METODOLOGIA......................................................................................................... 4 Plantas alimentícias não convencionais................................................................ 4.1 Açafrão da Índia (Cúrcuma Longa L.) .................................................................... 4.2 Beldroega (Purtulaca Oleracea).............................................................................. 4.3 Costela de Adão (Monstera Deliciosa) ................................................................... 4.4 Inhame (Dioscorea cayennensis Lam).................................................................... 4.5 Lavanda (Lavandula)............................................................................................... 4.6 Lírio do Brejo (Hedychium coronarium)................................................................... 4.7 Mandacuro (Cereus Jamacaru) .............................................................................. 4.8 Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata)........................................................................... 4.9 Peixinho da Horta (Stachys Byzantina)................................................................... 4.10 Tupinambo (Helianthus Tuberosos) ...................................................................... 5 CONCLUSÃO............................................................................................................. 6 REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 2 OBJETIVOS O presente trabalho tem como objetivo: • Entender o que é PANC; • Identificar sua relação em nível populacional; • Compreender como as PANCs atuam na promoção da alimentação saudável e segurança alimentar nutricional; • Descrever algumas PANC e suas principais características e composição. 3 METODOLOGIA Para a construção deste trabalho foi empregado o método de revisão de literatura referente à plantas alimentícias não convencionais. Suas fontes de pesquisa são compostas por artigos científicos retirados dos bancos de dados eletrônicos SciELO e google acadêmico. Além disso, foram utilizados 17 artigos entre os anos 1980 a 2020. 4 PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVÊNCIONAIS O termo PANC foi criado no Brasil por um professor e biólogo chamado Valdely Ferreira Kinupp, em 2008, tendo como conceito todas as plantas que possuem uma ou mais partes comestíveis, sendo elas espontâneas ou cultivadas, nativas ou exóticas, que não estão incluídas no cardápio cotidiano. Cabe salientar que antes da definição do termo PANC, estas eram chamadas somente de plantas alimentícias ou plantas daninhas, silvestres, inços ou mato devido à falta de conhecimento e ao desuso pela maior parte da população. Porém, são espécies com grande importância ecológica, nutricional e econômica com potenciais inexplorados (LIBERALESSO, 2019). As Plantas alimentícias não convêncionais (PANC) são plantas que possuem uma ou mais partes ou produtos que podem ser utilizados na alimentação humana, como: raízes, tubérculos, bulbos, rizomas, cormos, talos, folhas, brotos, flores, frutos e sementes. Elas também podem possuir látex, resina e goma, ou serem usadas para extração de óleos e gorduras comestíveis (LIBERALESSO, 2019). As PANC se adaptam em diferentes ambientes, nascem sozinhas ou podem ser cultivadas, podendo contribuir com o resgate dos processos vivos, denominados bioprocessos, contribuindo para a biodiversidade dos ecossistemas de cultivos por nascerem em ambientes diversificados. Para exemplificar como as PANC podem contribuir com a alimentação e em outras esferas da sociedade humana, enfatiza-se o impacto da cadeia de valor das PANC no desenvolvimento agrícola (LIBERALESSO, 2019). O uso de PANC, além de diversificar a dieta alimentar, pode representar uma alternativa de renda para comunidades rurais, além de contribuir com a economia local e regional. Se realizado de forma sustentável, pode ser considerado uma forma de utilização do solo com baixo impacto na agricultura, associado à conservação ambiental (TULER; PEIXOTO; SILVA, 2019). Contudo, se aponta a problemática da insegurança alimentar, sendo caracterizada pelo sofrimento de milhões de pessoas com fome crônica ou a falta de alimentos em quantidade suficientes para suprir suas necessidades nutricionais mínimas. (SANCHES, 2022). Segundo a POF (2017-2018), 10,3 milhões de pessoas viviam em domicílios em que houve privação severa de alimentos em ao menos alguns momentos de 2017-2018, além disso, a predominância nacional de segurança alimentar caiu nesses mesmos anos para 63,3%, alcançando seu patamar mais baixo. No entanto, mesmo com a garantia do direito à alimentação adequada, a fome e a insegurança alimentar continuam sendo uma realidade nos dias atuais, assumindo um papel recorrente no contexto mundial. (SANCHES, 2022). Pensando em maneiras de driblar a insegurança alimentar, surge então a busca por novas alternativas, dentre as quais, se destaca, a possibilidades de minimizar a desnutrição a partir das PANC, ainda mais por possuir uma característica muito interessante do alto valor nutritivo. (SANCHES, 2022). As PANC poderiam fazer parte do nosso consumo diário, mas devido à ausência de conhecimento da população e dos profissionais que atuam no combate à fome, muitas dessas plantas por serem facilmente encontradas na natureza, são caracterizadas como ervas daninhas sem valor e acabam sendo negligenciadas para o consumo. Tem-se como exemplo clássico, o Mandacaru encontrado na região semiárida brasileira, que por mais que possui seu alto valor cultural, não é reconhecido de maneira efetiva para a alimentação humana. (DA SILVA LIBERATO et al., 2019). 4.1 AÇAFRÃO DA ÍNDIA Nome científico: Cúrcuma Longa L. A cúrcuma (Cúrcuma Longa L.), espécie originária do sudeste asiático, é considerada uma preciosa especiaria, ela é conhecida no mercado como açafrão da India, tem sua importância econômica devida às peculiares características de seus rizomas. Além de sua substância corante, a curcumina, contém óleos essenciais de excelentes qualidades técnicas e organolépticas, com características antioxidante e antimicrobiana, que juntos possibilitam estender sua utilização aos mercados de perfumaria, medicinal, têxtil, condimentar e alimentício (CECILIO FILHO et al., 2000). O açafrão da Índia (Cúrcuma longa L.), pertence à família Zingiberaceae, classificado como planta condimentar, por vezes é confundido, no Brasil, com outra espécie, a Crocus sativus L., também denominada de açafrão, sendo esta, no entanto, conhecida como o açafrão verdadeiro. Por esse motivo, parece crescer no meio científico o consenso pela denominação da espécie Cúrcuma longa (Koening),sinonímia de C. domestica (Valet), de cúrcuma ou cúrcuma. É comum deparar-se com a regionalização do nome comum da espécie, como: açafroeira, açafrão-da-terra, açafrão da Índia, batatinha amarela, gengibre dourada, mangarataia (CECILIO FILHO et al., 2000). Originária do sudeste da Ásia, mais precisamente das encostas de morros das florestas tropicais da Índia, a planta é do tipo herbácea e perene. Introduzida no Brasil, é cultivada ou encontrada como subespontânea em vários estados. Atinge em média 120 a 150 centímetros de altura em condições favoráveis de clima e solo. As folhas grandes, oblongo-lanceoladas e oblíquo-nervadas, emanam um perfume agradável quando amassadas. Possui pecíolos tão compridos quanto os limbos, que reunidos em sua base, formam o pseudocaule (CECILIO FILHO et al., 2000). Receita de Tofu mexido com açafrão da Índia: • Pique 1/4 de cebola e leve a refogar numa frigideira com uma colher de sopa de manteiga vegetal. • Junte 1 dente de alho picado, 1 a 2 colheres de chá de açafrão da índia em pó, uma pitada de cominhos e 250g de tofu esfarelado. • Tempere com sal, pimenta preta e orégãos secos. • Finalize com sumo de limão e sirva com pão! Composição centesimal dos rizomas de cúrcuma, segundo (PRUTHI,1980); (GOVINDARAJAN, 1980); (CECÍLIO FILHO; VILLAS BOAS, 1996): 4.2 BELDROEGA Nome cientifico: Portoluca oleracea A Portulaca oleracea L. (beldroega), herbácea de origem incerta (alguns autores dizem que sua origem é asiática ou africana, porém outros falam em América Tropical) possui diversas propriedades nutricionais e farmacológicas, podendo ser utilizada como planta medicinal e alimento funcional. São plantas com caule geralmente prostrado, com ramificação dicotômica, folhas subsésseis, espatulada, nervura central evidente; base atenuada; ápice arredondado a obtuso; margem inteira; glabras; Inflorescência com 2-6 flores (ZHOU et al., 2015). Portulaca oleracea tem sido usada na medicina popular em muitos países, agindo como vermífugo, antisséptico, febrífugo, antibacteriano, anti-inflamatório, antioxidante e possui muitas outras propriedades, as quais estão associadas com seus diversos constituintes químicos, incluindo flavonoides, alcalóides, polissacarídeos, ácidos graxos, terpenóides, esteróis, proteínas, vitaminas e minerais (ZHOU et al., 2015). Devido a esses fatores, a beldroega é listada pela Organização Mundial da saúde (OMS) como uma das plantas medicinais mais usadas, e foi-lhe dada o termo “Panaceia Global”. O folclore chinês descreve a beldroega como “vegetal para vida longa”, e essa já é usada na medicina tradicional chinesa há milhares de anos. Desta forma, a beldroega se mostrou uma opção com bons valores nutricionais, de sabor agradável e de baixo custo, sendo de fácil acesso para todas as classes sociais, e uma boa saída para a alimentação das pessoas de baixa renda (ZHOU et al., 2015). Em relação ao consumo, essa planta pode ser consumida por inteira. As folhas são ricas em mucilagem, possui sabor levemente ácido e salgado, pode ser utilizada em saladas, na preparação de sopas e caldos ou apenas cozida e refogada como espinafre. Pode ser considerado um alimento funcional, já que tem função de contribuir na proteção contra algumas patologias. As sementes podem ser utilizadas em pães substituindo a chia e o gergelim. Sementes germinadas (brotos) são indicadas para saladas e decoração comestível. No entanto, os ácidos fenólicos presentes na planta, quando em doses elevadas, podem ocasionar efeitos indesejáveis. Nesse aspecto, destacam-se os efeitos de P. oleracea sobre a fertilidade. Estudos apontam para o envolvimento de flavonoides presentes na planta sobre a fertilidade em estudos in vivo com animais. Kaempferol, apigenina, luteolina, miricetina e quercetina são alguns dos principais flavonoides encontrados. A quantidade mais alta de flavonoides é encontrada na raiz, seguida pelo caule e pela folha. Embora as folhas sejam as partes mais utilizadas na culinária, é bastante sugestivo ter cautela no uso de P. oleracea em preparações alimentares por gestantes. Ainda, ao analisar o potencial biológico e perfil fitoquímico de P. oleracea, detectaram a alta presença de ácido oxálico que merecem atenção quanto às suas consequências para o consumo humano, por esse composto atuar como quelante de minerais da dieta, especialmente o cálcio (SOUZA et al., 2019). Composição nutricional da Beldroega crua em 100g: Nutrientes Beldroega crua (100g) Energia 16g Lipídeos totais 0,1g Carboidratos 3,4g Proteínas 1,3g Magnésio 68,0mg Ferro 2,0mg Potássio 494mg Receita do mix de Arroz com Beldroega e Leite de Coco: Ingredientes • ½ Cebola cortada em julienne • 1 colher de sopa de azeite • 2 maços de beldroega. • 1 ½ colher de chá de curry • Sal a gosto • 2 xícaras de arroz • 3 xícaras de água fervente • Leite de coco natural a gosto • Folhas de almeirão para finalizar Modo de preparo 1. Refogue a cebola no azeite. 2. Quando a cebola estiver dourada, acrescente as folhas de beldroega. 3. Acrescente o curry, o sal e o arroz. Refogue. 4. Adicione a água fervente e o leite de coco. 5. Tampe e deixe no fogo até que o líquido seque. 6. Sirva com folhinhas de almeirão. 4.3 COSTELA DE ADÃO Nome científico: Monstera deliciosa Planta trepadeira nativa do México é mundialmente cultivada como ornamental pelas belas e peculiares folhas, com segmentos que lembram costelas. É um nativo das florestas tropicais americanas. Familiar para alguns como o filodendro de folha dividida, Monstera agora floresce na Califórnia e na Flórida (BASS et al., 2020). Seu fruto é comestível e muito saboroso. Quando o fruto está maduro tem aroma semelhante ao do abacaxi. A polpa (parte mais interna e comestível) é constituída por gomos individuais. Entre estes, situam-se pequenas e finas membranas de cor escura. O fruto é extremamente doce; no entanto, quando não se encontra completamente maduro, oferece uma sensação de irritação na boca, devido à elevada concentração de cristais de oxalato de cálcio. Pode ser consumido quando os gomos se encontram soltos, frescos ou processados como destilado (BASS et al., 2020). Devem ser consumidos apenas os gomos hexagonais mais próximos ao centro do fruto (do miolo), devido à alta concentração de cristais em formato de ráfides (agulhas). O fruto, em sua composição é rico em cálcio e sódio (BASS et al., 2020). 4.4 INHAME Nome cientifico: (Dioscorea cayennensis Lam) A Dioscorea cayennensis Lam, conhecida popularmente como inhame, inhame-da- costa ou cará-da-costa, é uma hortaliça produtora de rizomas alimentícios com alto valor energético e nutritivo, e elevado teor de amido. Essa planta não convencional é amplamente cultivada em todo trópico, sendo o Brasil o segundo maior produtor da América do Sul. A região Nordeste do país apresenta-se como a maior produtora nacional, destacando-se os estados da Paraíba, Pernambuco, Bahia, Alagoas, Sergipe e Maranhão. Ademais, o inhame é uma cultura de subsistência e de grande importância socioeconômica para a agricultura familiar da região Nordeste do país. Em relação à composição nutricional, a espécie D. Cayennensis é muito rica fonte de antioxidantes, vitaminas e fitoquímicos. Além disso, essa raiz possui baixo índice glicêmico, por isso auxilia na perda de peso e no tratamento da diabetes; é uma boa fonte de carboidratos e fibras, ajudando na maior saciedade; e auxilia na redução do risco de doenças cardiovasculares e do colesterol, devido ao baixo teor de gordura. Composição nutricional em 100g de Inhame: Falando um pouco agora sobre as formas de consumo, os turbéculos de inhame são consumidos de diferentes maneiras,principalmente, em alimentos tradicionais domésticos (cozido, assado, frito ou purê), sendo pouco utilizado para fins industriais. Além disso, o emprego da secagem desse alimento pode sintetizar a farinha para ser usado em outros preparos, a exemplo do pão. Uma curiosidade é que a maioria dos métodos de cocção doméstica do cará-da- costa apresentam efeitos na qualidade nutricional dele, uma vez que reduz os níveis dos fatores antinutricionais ao passo que aumentam outros nutrientes. Receita: Escondidinho de Inhame com carne moída: Ingredientes • 1 unidade de inhame (cará) (ou batata-doce) grande • 1 colher (sopa) de leite vegetal (amêndoa, aveia, castanha) • 1 unidade de cebola pérola cortada em cubos • 1 fio de azeite de oliva extravirgem • 3 colheres (sopa) de carne moída magra refogada • 1 pitada de sal a gosto • 1/2 unidade de tomate sem pele e semente picado Modo de preparo Cozinhe o inhame com o sal até́ ficar macio. Escorra a água, amasse com um garfo e misture o leite vegetal. Em uma panela à parte, doure a cebola no azeite. Junte a carne e o sal. Refogue. Em um prato, coloque a carne, o inhame (ou a batata-doce) e, por cima, o tomate. 4.5 LAVANDA Nome científico: Lavandula. Pertencente à família Lamiaceae como a hortelã, o orégano ou o tomilho, a lavanda (Lavandula angustifolia) é um arbusto aromático nativo da bacia do Mediterrâneo e típica originária do clima temperado (sul e oeste da Europa, sudeste asiático, norte da África). Seu aroma inconfundível e belas flores roxas fazem desta planta ornamental ser admirada desde a antiguidade. Seus usos medicinais remontam aos tempos antigos por possuir propriedades benéficas ao ser humano como antissépticas, digestivas, anti-inflamatórias, relaxantes e calmantes (BASS et al., 2020). Além de seu uso na medicina natural, suas flores perfumadas são secas e destiladas para produzir um óleo essencial amplamente utilizado em produtos cosméticos, de limpeza, aromaterapia, hidroterapia (BASS et al., 2020). A lavanda também é utilizada na culinária não convencional. Essa PANC é explorada nas preparações com carnes (carne de boi, cordeiro, coelho, frango e porco) a fim dos consumidores adquirirem experiências sensoriais, principalmente olfativas e palatáveis, com as nuances de seu sabor. Também é utilizada em pães, bolos, biscoitos, sorvetes, milkshakes, macarons, bombons, cheesescakes, cremes, chás e até mesmo mel quando o pólen colhido pelas abelhas é o da Lavanda. No entanto, em virtude de seu sabor intenso, deve ser usada com cautela para não mascarar o sabor dos outros ingredientes (BASS et al.,2020). Composição nutricional em 100g de lavanda: Composição Quantidade (g) CDR(%) Calorias 49 2,6% Carboidratos 11 3,5% Proteína 1 2,1% Fibra 0,2 0,7% Gorduras 1 1,9% Minerais Quantidade (mg) CDR(%) Sódio 0 0% Cálcio 160 13,3% Ferro 1,4 17,5% Magnésio 0 0% Potássio 0 0% Vitaminas Quantidade (mg) CDR(%) Vitamina A 0,05 5,3% Vitamina B1 0,03 2,5% Vitamina B2 0,08 6,2% Vitamina B3 0,02 0% Vitamina B12 0 0% Vitamina C 16 17,8% Receita: Limonada com Lavanda Ingredientes: • 4 xícaras de água filtrada • 3 colheres de sopa de mel • 4 ramos de lavanda secas • 1 xícara de suco de limão recém espremido • Raminhos de lavanda recém-colhidas para enfeitar Modo de preparo: 1. Combine a água, o mel e a lavanda em uma panela e aqueça por 10 minutos ou até que a mistura comece a ferver. Retire do fogo e deixe esfriar por cerca de 20 minutos. 2. Despeje a mistura em uma jarra, através de uma peneira. Adicione o suco de limão e mexa. Sirva em copos cheios de gelo e decorados com um raminho de lavanda e/ou uma rodela de limão. 4.6 LÍRIO DO BREJO Nome cientifico: Hedychium coronarium O Hedychium coronarium também conhecido como lírio-do-brejo, bastão, gengibre branco e lágrima de moça, é uma planta macrófita nativa da região do Himalaia. É encontrada nas Américas e foi introduzida desde os Estados Unidos até a Argentina. No Brasil, a espécie é muito comum em toda a zona litorânea e em Minas Gerais, sendo relatada em várias regiões. A planta pode atingir até dois metros de altura, com hastes eretas e folhas coreáceas, e é comumente utilizada na alimentação de bovinos de leite por pequenos produtores em períodos em que há diminuição na oferta de pastagem (RIBEIRO; MASSAFERA, 2020). Os rizomas do lírio-do-brejo apresentam forma alongada e contorcida, de comprimento e diâmetro diferentes (RIBEIRO; MASSAFERA, 2020). Apesar de ser considerada uma planta invasora no Brasil, o lírio do brejo possui diversas propriedades farmacêuticas, uma delas é a presença de substâncias antimicrobianas em suas folhas, e também é usado como ingrediente culinário no preparo de geleias, chás e saladas em algumas regiões. Além disso, sua raiz (rizoma) é rica em amido, e quando transformada em polvilho, pode virar biscoitos, cremes, pães, mingaus, pudins, sorvetes, entre outros. O chá de lírio do brejo possui sabor similar ao gengibre, caracterizado por aspecto picante e aromático, por isso um de seus nomes é gengibre branco. Ademais, ele também pode ser usado como gengibre fresco, em sucos, molhos e sorvetes, por exemplo (ASCHERI et al., 2010). Como citado anteriormente, o lírio do brejo pode ser usado de forma similar ao gengibre cru. Dessa forma, uma opção é usá-lo no preparo de molhos, como na receita sequente (ASCHERI et al., 2010). Composição nutricional do Lírio-do-brejo: Nutrientes Abril Julho Outubro Média MS (%) 20,43 20,46 20,45 20,44 NDT (%MS) 57,16 65,07 68,36 63,53 PB (%MS) 12,88 10,17 13,70 12,25 FDN (%MS) 59,54 58,29 64,73 60,85 Ca (%MS) 0,37 0,49 0,50 0,45 P (%MS) 0,21 0,19 0,18 0,19 Legenda: MS= matéria seca, NDT= nutrientes digestíveis totais, PB= proteína bruta, FDN= fibra em detergente neutro, Ca= Cálcio, P= Fósforo Receita: Molho de gengibre-branco Descasque e rale 50g de raiz de lírio-branco. Pique uma cebola grande em pedaços bem miúdos. Refogue-os em 125g de manteiga, em fogo médio, por aproximadamente 20 minutos. Coe tudo numa peneira fina e passe para outra panela. Junte duas gemas, 100g de creme de leite, o sal e pimenta a gosto e mexa bastante com uma colher de pau. Deixe em fogo brando por 5 minutos. Esse molho acompanha peixes, frango, verduras ou legumes cozidos. 4.7 MANDACURO Nome científico: (Cereus Jamacaru) O mandacaru é uma cactácea nativa do Caatinga brasileira, adaptada às condições climáticas do Semiárido. Além de representar o poder da cultura nordestina, essa planta pode alcançar até seis metros de altura e possui um formato que pode lembrar um candelabro. O mandacaru é importante para a restauração de solos degradados, serve como cerca natural e alimento para os animais. A planta espinhenta sobrevive às secas devido à sua grande capacidade de captação e retenção de água (SILVA, 2017). As aves e o vento, espalhando as sementes, ajudam no nascimento e crescimento do mandacaru em áreas rurais. Por conta da ausência de folhas, a espécie não faz sombra e os espinhos ajudam na defesa diante de animais herbívoros. A planta é protegida por uma grossa cutícula que bloqueia a excessiva perda de água. O fruto tem cor violeta ou rosa forte e polpa branca com sementes pretas minúsculas que se assemelha bastante com a Pitaya nativa da América Central, muito popular nos últimos anos. Essa PANC serve de alimento tanto para as aves da região quanto para seres humanos. Embora não seja explorada comercialmente, pode sim ser consumida, sendo bem rica em ácido ascórbico (vitamina C) (SILVA, 2017). Durante os últimos anos, alguns estudos vêm demonstrando que o consumo do fruto do mandacaru e de produtos à base deste, pode ser uma alternativa alimentar com benefícios paraa saúde da população, por conter substâncias como as fibras, que equilibram a absorção de gorduras, açúcar e colesterol, sendo responsável também por diminuir a velocidade da entrada do açúcar no sangue, evitando picos de insulina, mantendo um nível saudável de glicose no sangue. Os principais açúcares são a glucose e a frutose, com níveis baixos, e ácido málico, além do cítrico, oxálico e succínico (LUCENA et al., 2016). Composição nutricional em 100g de Mandacuru: Receita: “chup-chup” de Mandacaru. Para a elaboração dos chup-chups de mandacaru, escolha os frutos maduros da cactácea na quantidade que desejar. Retire a polpa dos frutos, e em seguida bata no liquidificador com leite condensado, água e leite em pó integral. Depois, filtre a mistura usando uma peneira. Para finalizar, adicione na embalagem própria para chup-chup e armazene em temperatura de congelamento a 4°C. 4.8 ORA-PRO-NÓBIS Nome científico: (Pereskia aculeata) A Pereskia aculeata é uma trepadeira arbustiva pertencente à família cactácea, a qual é conhecida, popularmente, como ora-pro-nóbis. Essa planta rústica é encontrada, no Brasil, desde a região Nordeste ao Rio Grande do Sul, normalmente, ela é produzida para auto-consumo (RODRIGUES et al., 2015). Em relação à composição nutricional, a ora-pro-nóbis, também chamada de carne de pobre, por ter baixo custo e elevado teor protéico, tem utilidade alimentar significativa. Isso ocorre devido à ótima digestibilidade das proteínas presentes nesse alimento (cerca de 85%), ao elevado teor de aminoácidos essenciais (leucina, lisina e valina têm a maior destaque) e aos níveis de fibras e minerais (ferro e cálcio, principalmente) (RODRIGUES et al., 2015). Composição nutricional em 100g de ora-pro-nóbis: A parte mais consumida da Pereskia aculeata são as folhas podendo ser utilizadas para a preparação de saladas, sopas, omeletes. Além disso, essa planta, que faz parte do grupo das hortaliças não convencionais, pode ser comercializada na forma de pó, cápsula e folha desidratada. O pó, por exemplo, pode ser diluído em água ou sucos, ou ainda serem utilizadas na preparação de bolos, pães, massas, biscoitos e temperos (CRUZ et al., 2020). Receita: Batatinhas ao posto de ora-pro-nóbis Ingredientes para a batata: 1/2 quilo de batatas bolinha inteiras ou partidas ao meio (se forem maiorzinhas) Azeite Sal Ingredientes para o pesto: 1 xícara de chá de folhas de ora-pro-nóbis previamente rasgadas com as mãos 1/2 dente de alho 1/2 xícara de chá de queijo minas meia-cura ralado 1/3 de xícara de chá de castanha do pará 1/2 xícara de azeite de oliva ou azeite de castanha do pará Sal e pimenta do reino a gosto Modo de preparo do pesto: Amasse todos os ingredientes em um pilão ou, se preferir, bata no liquidificador ou em um processador de alimentos Reserve Modo de preparo da batatinha: Deixe as batatas em água fervente por 10 minutos Escorra a água e coloque-as em uma forma ou refratário Acrescente sal e um pouquinho de azeite Deixe assar por 15 minutos Passe as batatas no pesto e sirva quente. 4.9 PEIXINHO DA HORTA Nome científico: (Stachys Byzantina) A espécie Stachys byzantina, conhecida popularmente como peixinho da horta, lambari de folha ou pulmonária, pertence à classe Magnoliatae, subclasse Asteridae, família Lamiaceae. Tem origem na Turquia, Ásia e Cáucaso, porém, pode ser encontrada em regiões de clima ameno, com temperaturas entre 5 e 30 ºC. No Brasil, é cultivada nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. É uma herbácea perene, atinge cerca de 30 cm de altura e forma touceiras com dezenas de propágulos. É uma planta rústica, com baixas exigências e bastante tolerante ao ataque de pragas e doenças. A colheita de folhas é feita a partir de 60-70 dias, à medida que elas atingem tamanho superior a 8 cm, podendo alcançar facilmente a 15 cm. No Brasil, o peixinho da horta ainda é pouco encontrado em grandes mercados, sendo geralmente comercializado em feiras de produtos agroecológicos. A compra costuma ser feita antecipadamente por encomenda e a entrega realizada semanalmente em espaço destinado a esse tipo de comércio. Suas folhas se destacam quanto ao teor de proteínas, o que faz com que tenham um bom potencial de aplicação como elemento proteico em dietas livres de produtos de origem animal, como é o caso, por exemplo, da dieta vegetariana estrita. Além disso, as proteínas presentes nas folhas poderiam ainda ser utilizadas para o desenvolvimento de fórmulas proteicas de origem vegetal, que tem como vantagem a ausência de colesterol. Com relação aos compostos bioativos, as amostras apresentaram elevada atividade antioxidante e alta quantidade de fenólicos totais, o que pode contribuir para sua elevada resistência a pragas, juntamente com a grande espessura e pilosidade das folhas O peixinho da horta é uma planta alimentícia, contudo não é normalmente aproveitada na alimentação das populações que habitam os ambientes onde é nativa, mas em outros locais, com destaque para o Brasil, onde tem sido consumida, usualmente, empanada e frita. Pouco se sabe a respeito do potencial alimentício da espécie, assim como seu aspecto nutricional (AZEVEDO, 2018). Composição nutricional em 100g de peixinho da horta: Receita: Peixinho da Horta Empanado Ingredientes • 10 folhas de peixinho da horta; • 80gr de farinha; • 100ml de água; • alho em pó; • limão em pó (opcional); • 200gr farinha panko; • Óleo para fritar; • 1 colher chá fermento em pó. Modo de preparo 1. Misture a farinha de trigo, o alho em pó, limão em pó e vá adicionando a água até formar uma pasta homogênea. 2. Adicione o fermento e mexa novamente. 3. Esquente o óleo e vá passando a peixinho nessa mistura e fritando por imersão 4. Reserve. 4.10 TUPINAMBO Nome científico (Helianthus Tuberosos) É uma espécie da família das Asteraceae. É uma planta nativa da América do Norte, cultivada por seu tubérculo comestível. A planta é rústica e de fácil cultivo, mesmo em solos pouco férteis. É resistente a doenças e predadores. A multiplicação é feita através da plantação dos tubérculos em linha. Os tubérculos armazenam, em vez de amido, a inulina, um carboidrato que, por meio da cocção, se decompõe em moléculas de frutose (BASS et al., 2020). Os rizomas podem ser consumidos crus em saladas; cozidos; fritos, assados, em conserva (picles); como purê, refogados, salteados ou em bolos, pudins, pães ou tortas. Os rizomas podem ser fatiados, desidratados e moídos para farinha. De forma caseira, pode se liquidificar e peneirar o pó. Esta farinha é fonte de inulina e pode ser adicionada com moderação a produtos de panificação em geral em saladas, sucos, achocolatados, cereais matinais (BASS et al., 2020). O Tupinambo é rico em inulina, oligofrutanos, frutose, etanol. A parte aérea é rica em proteína, gordura e pectina, para a alimentação animal. Os oligofrutanos não são hidrolisados pelas enzimas digestivas na primeira porção do intestino. Como consequência, não aumenta a glicemia nem os níveis de insulina no sangue, sendo ideal na formulação de alimentos para diabéticos. A inulina é uma fibra solúvel; essas fibras fermentam e se transformam em comida para as bactérias benéficas que já habitam o nosso intestino grosso (BASS et al., 2020). Composição nutricional em 100g de Tupinambo: Receita: Torta de Tupinambo Ingredientes: • 500g de Tupinambo; • 3 bolas de muçarela fresca; • 1 massa folhada; • Tomilho. Modo de preparo: 1. Limpe os Tupinambos. Descasque e limpe-os novamente. Corte em rodelas, espessura nem fina, nem grossa. 2. Por cima do papel vegetal/manteiga, abra a massafolhada e faça furos com a ajuda de um garfo. Coloque por cima as rodelas de topinambos, deixando cerca de 1 cm livre em torno da massa. 3. Corte a muçarela em rodelas e coloque-as por cima dos topinambos. Polvilhe com tomilho seco. 4. Leve ao forno por 20 minutos a 200°C. CONCLUSÃO • As PANCs (plantas alimentícias não convencionais) são as plantas que possuem uma ou mais partes comestíveis, sendo elas espontâneas ou cultivadas, nativas ou exóticas que não estão incluídas em nosso cardápio cotidiano; • As PANCs são encontradas em comunidades tradicionais e de pequenos agricultores familiares que ocupam áreas de vegetação nativa; • Com a diminuição do consumo de alimentos em casa e o crescimento de consumo de alimentos pré-preparados e instantâneos é um novo hábito da população o que pode prejudicar a qualidade de vida se a alimentação não for de qualidade, podendo comprometer a manutenção da saúde. Tornando as PANCs parte do consumo da população em geral, ela se integrará na sociedade como um todo e permanecerá viva na cultura alimentar popular. Os nutricionistas e prestadores de serviços de alimentação se tornam, figuras de grande importância na definição dos hábitos de consumo alimentar da população brasileira. REFERÊNCIAS ASCHERI, Diego Palmiro Ramirez et al. Caracterização física e físico-química de rizomas e amido do lírio-do-brejo (Hedychium coronarium). Embrapa Agroindústria de Alimentos-Artigo em periódico indexado (ALICE), 2010. AZEVEDO, Thaise Duda de. Propriedades nutricionais, antioxidantes, antimicrobianas e toxicidade preliminar do peixinho da horta (Stachys byzantina K. Koch). 2018. BASS, Andréa et al. Plantas Alimentícias Não Convencionais-PANC: Resgatando a Soberania Alimentar e Nutricional. 2020. CECILIO FILHO, Arthur Bernardes et al. Cúrcuma: planta medicinal, condimentar e de outros usos potenciais. Ciência Rural, v. 30, n. 1, p. 171-177, 2000. CRUZ, AFP et al. PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS: UTILIZAÇÃO DAS FOLHAS DE “ORA-PRO-NÓBIS” (PERESKIA ACULEATA MILL, CACTACEAE) NO CONSUMO HUMANO. Visão Acadêmica, v. 21, n. 3, 2020. DA SILVA LIBERATO, Pricila; DE LIMA, Danielly Vasconcelos Travassos; DA SILVA, Geuba Maria Bernardo. PANCs-Plantas alimentícias não convencionais e seus benefícios nutricionais. Environmental smoke, v. 2, n. 2, p. 102-111, 2019. LIBERALESSO, Andréia Maria. O futuro da alimentação está nas plantas alimentícias não convencionais (PANC), UFGRS: Lume, 2019. LIMA, Anna Karoline de Sousa et al. Desenvolvimento de pães à base de farinha de inhame (Dioscorea cayennensis Lam.) obtidos por fermentação natural. 2019 LUCENA, Talita Kelly Pinheiro et al. Sabores de nossa terra: uma abordagem ecológica e nutricional de mandacaru (Cereus jamacaru) e de palma forageira (Opuntia ficus-indica) em âmbito escolar. Campina Grande, Editora Realize, 2016. PRUTHI, J.S. Spices and condiments: chemistry, microbiology, technology. New York: Academic Press, 1980. RIBEIRO, Marcos Guilherme; MASSAFERA, Danilo Antônio. Composição bromatológica do lírio-do-brejo (Hedychium coronarium). Revista Científic@ Universitas, v. 7, n. 1, 2020. RODRIGUES, Sueli et al. Caracterização química e nutricional da farinha de ora-pro- nóbis (Pereskia aculeata Mill.). Revista Científica Eletrônica de Ciência Aplicadas da FAEF. São Paulo, Brasil, 2015 SANCHES, João Lucas Soares et al. (In) segurança alimentar e as Possibilidades de Minimizar a Desnutrição a Partir das PANC. Cadernos de Agroecologia, v. 17, n. 2, 2022. SILVA, Maria Vitória Serafim da. Valor nutritivo do mandacaru sem espinhos, palma orelha de elefante mexicana e miúda na alimentação de ovinos. 2017. SOUZA, Alana Thamára Robim et al. Análise nutricional e teste de aceitação sensorial da beldroega (Portulaca Oleracea). Brazilian Journal of Development, v. 5, n. 10, p. 17670-17680, 2019. TULER, Amélia Carlos; PEIXOTO, Ariane Luna; SILVA, Nina Claudia Barboza da. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) na comunidade rural de São José da Figueira, Durandé, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia, v. 70, 2019. ZHOU, Yan-Xi et al. Portulaca oleracea L.: a review of phytochemistry and pharmacological effects. BioMed research international, v. 2015, 2015. Ingredientes