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Trabalho sobre PANC

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CAMPUS SÃO JOSÉ DO RIO PARDO – SP 
 
Trabalho da Disciplina de Técnica Dietética – TD 
Curso de Nutrição 
Nome: Danusa Caroline Moneda Consolini RA: F0790F-1
tema: PANC X NUTRIÇÃO X DESPERDÍCO
 
 
1) Introdução sobre PANC’s 
2) Desperdício de alimentos no Brasil e no mundo 
3) Produção e comercialização de PANC’s no Brasil 
4) Introdução de PANC na alimentação 
5) Tipos de PANC’s 
6) Nutrição e PANC’s 
7) Técnicas de preparo e receita à base de PANC’s 
8) Conclusão 
9) Referências 
1 – Introdução sobre PANC´s:
 As PANC´s (plantas comestíveis não-convencionais) são constituídas em sua maioria por hortaliças, frutas, flores ou ervas que crescem espontaneamente na natureza, mas que por não fazerem parte da alimentação convencional para a maioria das pessoas, acabam sendo confundidas com plantas daninhas por questões culturais ou falta de conhecimento, razão pela qual são muito pouco consumidas e comercializadas pela grande maioria da população.
 Geralmente são espécies nativas, e são comumente encontradas em quintais, terrenos e plantações, onde nascem espontaneamente ou propositalmente, para aproveitar os espaços improdutivos das plantações, já que são totalmente adaptadas às condições de onde são nativas, tendo maior resistência que outras espécies convencionais de plantas, o que garante as vezes sua produção durante o ano todo, servindo de sustento para muitas comunidades sem demandar muito trabalho ou custo.
 Além de seu uso na alimentação, existem pesquisas promissoras sobre o uso das PANC´s em suas mais diversas vertentes: culinária, gastronomia, segurança alimentar, ciência de alimentos, cosméticos, fármacos, entre outras.
 De acordo com Kinupp & Barros (2007) plantas alimentícias não convencionais (panc´s) são as plantas que possuem uma ou mais partes comestíveis, sendo elas espontâneas ou cultivadas, nativas ou exóticas que não estão incluídas em nosso cardápio cotidiano. As panc´s podem ser entendidas ainda como todas as plantas que não são convencionais em nossos cardápios ou não são produzidas em sistemas convencionais (agricultura industrial ou convencional), designadas também como plantas alimentícias da agro biodiversidade
 (brack 2016) (Kinupp & barros 2007; Miranda & Hanazaki 2008; Pilla & Amorozo 2009; nascimento et al. 2012; cruz et al. 2013; nascimento et al. 2013; leal et al. 2018).
2 – Desperdício de alimentos no Brasil e no mundo:
 O desperdício de alimentos atinge aproximadamente um terço de toda a comida produzida no mundo. A política do mercado financeiro que gera produção em excesso e o transporte são fatores significativos para esse problema. Mas além disso, há desperdício de alimentos na cozinha da nossa casa.
 De acordo com a FAO (agência das nações unidas preocupada em erradicar a fome), 54% do desperdício de alimentos no mundo ocorre na fase inicial da produção, que é composta pela manipulação pós-colheita e pela armazenagem. Os outros 46% do desperdício, de acordo com a mesma fonte, ocorrem nas etapas de processamento, distribuição e consumo. Quando lembramos que todos os dias 870 milhões de pessoas passam fome, esses dados sobre desperdício de alimentos se tornam aterrorizantes. A Europa sozinha é responsável por 222 milhões de toneladas do desperdício de alimentos, o equivalente a toda a produção de alimentos na região da África subsaariana!
 Em colheitas menos sofisticadas como no Brasil, grande parte do desperdício de alimentos acontece durante o manuseio e logística da produção: na colheita, o desperdício é de 10%. Durante o transporte e armazenamento, a cifra é de 30%. No comércio e no varejo, a perda é de 50%, enquanto nos domicílios 10% vai para o lixo. Segundo um relatório do instituto de engenharia mecânica, existe uma perda de 37% e 80% da produção de arroz no leste asiático. Na índia, 20 milhões de toneladas de trigo são perdidas por sistemas de abastecimento e distribuição impróprios.
 Em países desenvolvidos, o desperdício tem uma razão mais estética, onde consumidores se recusam a comprar produtos com aparência mais abatida ou feridos, e as próprias redes rejeitam alimentos de aparência menos saudável.
 No reino unido, 30% da colheita britânica é rejeitada por não atingir as expectativas do mercado quanto a suas características físicas, e sete milhões de toneladas de alimentos (o equivalente a dez bilhões de libras, ou 40 bilhões de reais) são descartadas pelo mesmo motivo.
 Uma pesquisa feita pela Unilever, chamada World Menu Report, afirma que 96% dos brasileiros se preocupa com desperdício de alimentos, uma porcentagem alta em comparação à Alemanha (79%), aos estados unidos (77%) e à Rússia (69%). Porém, o que é contraditório é que o país possui um dos maiores índices de desperdício de alimentos do mundo! Com 40 mil toneladas de alimentos que vão para o lixo todo dia. Segundo a ONG banco de alimentos (organização que busca combater a fome e o desperdício de alimentos), cada brasileiro desperdiça mais de meio quilo de alimento por dia.
 As causas para tamanho desperdício são muitas. Muitos produtos, como frutas e vegetais, estragam antes de saírem das prateleiras. Muitos consumidores compram produtos que estragam antes de irem para a mesa e uma parte considerável do que chega até ela não é consumido. Existem também os problemas durante o transporte. Longas distâncias e embalagens impróprias (ou até mesmo a ausência de embalagens) são fatores impactantes.
 
 Prejuízos econômicos: Quanto mais alimento jogado fora, mais caro ele fica. Inclusive foi baseada nessa lógica de mercado que, na década de 1930 (e ainda hoje, ilegalmente), no brasil, a produção de café em excesso foi queimada para gerar lucro. Um relatório feito em 2013 apontou que, apesar de trazer lucro para pouquíssimas pessoas, em escala mundial, o desperdício de alimentos custa 750 bilhões de dólares por ano. Agora imagine essa quantia em reais.
 Prejuízos ambientais :O desperdício de alimentos prejudica enormemente o meio ambiente. Imagine que boa parte dos agrotóxicos, água, terras, fertilizantes, desmatamento, transporte, gastos de energia e petróleo para a produção de máquinas e combustíveis empregados em todos os processos da agropecuária são utilizados em vão. Isso faz com que seja necessário intensificar ainda mais a produção e, consequentemente, a pressão ao meio ambiente.
 No caso de desperdício de alimentos de origem animal, o prejuízo ambiental é maior, pois a criação de carneiro ou boi demanda maiores quantidades de insumos que a produção vegetal. Isso sem falar na questão do aumento da quantidade de resíduos sólidos, que é formado majoritariamente por resíduos orgânicos (60%).
 Por todos esses fatores, podemos afirmar que uma forma muito eficiente de evitar desperdício é optar por consumir panc’s (plantas alimentícias não-convencionais) ruderais, pois essas são uma alternativa às monoculturas e muitas vezes nascem naturalmente em casa ou nas proximidades, podendo ser colhidas na hora do uso, ou pouco tempo antes, evitando também perdas de transporte a longa distância e degradação pelo armazenamento.
3 – Produção e comercialização de panc´s no Brasil;
 As plantas alimentícias não convencionais têm ganhado mercado entre consumidores que buscam alimentos orgânicos e mais nutritivos
 As plantas alimentícias não convencionais, conhecidas como panc’s, têm atraído a atenção de agricultores e consumidores interessados em diversificar a produção e a alimentação com produtos orgânicos, mais nutritivos e saudáveis.
 Os benefícios variam de acordo com a planta e já atraem muitos pesquisadores e chefs de cozinha que têm introduzido as panc’s em receitas gourmets e diferenciadas em restaurantes de grandes centros urbanos.
 “As plantas alimentícias não convencionais são aquelas que não são corriqueiras, não têm cadeia produtiva estabelecida, não estão no supermercado de primeiro de janeiro a 31 de dezembro como as convencionais”, explica Nuno Madeira, pesquisador daempresa brasileira de pesquisa agropecuária (EMBRAPA).
 Também são consideradas não convencionais algumas partes de plantas tradicionais, como o umbigo da banana, a medula do mamão, a semente da abóbora, a folha de batata doce e a folha e a flor da abóbora.
 O consumo desse tipo de planta é importante devido ao grande valor nutricional e para a valorização cultural e histórica do país. A EMBRAPA estima que o brasil tenha pelo menos 50 espécies de panc’s, entre nativas, exóticas ou naturalizadas. “As naturalizadas foram trazidas ou pelos escravizados ou pelos colonos europeus e asiáticos e se inseriram no nosso bioma. A gente até acha que a vinagreira é maranhense, mas é africana, que o inhame do espírito santo é capixaba, mas ele é asiático”.
 No norte de minas além da ora pro nobis também se destaca o maxixe do reino, parecido com o chuchu. No estado mineiro, os produtores fazem entrega diária ou semanal de maxixe, que pode ser encontrado facilmente em algumas feiras.
 “O consumo e a procura do consumidor final, da dona de casa ou mesmo de restaurantes, tem aumentado muito. Isso estimula a produção, porque se a gente não tem demanda, não tem como o produtor produzir”, diz a bióloga Lenita Haber, que também integra a equipe de pesquisadores da EMBRAPA hortaliças.
 Na região serrana do rio de janeiro, uma das panc’s que tem cultivo comercial é a bertália.  A folhosa é vendida em maços e consumida geralmente de forma refogada, como o espinafre. “A bertália tem uma série de minerais e vitaminas e tem condições de entrar no rol de outras folhosas que já são produzidas comumente”, destaca Raphael melo, engenheiro agrônomo e pesquisador da EMBRAPA.
 Já da flor da vinagreira é feito o famoso chá de hibisco, recomendado para problemas digestivos e para combater a obesidade. E as folhas amargas da vinagreira são usadas na receita do típico arroz de cuxá maranhense.
 A EMBRAPA tem promovido atividades de orientação e capacitação sobre a produção e possibilidades de uso das panc’s. No último dia de campo realizado pela unidade da EMBRAPA hortaliças, em abril em Brasília, cerca de 200 produtores e técnicos de diferentes regiões do país se reuniram para conhecer novos sistemas de produção de hortaliças não convencionais.
 Alguns agricultores demonstraram ter certa familiaridade com as espécies, outros ficaram surpresos. “Muita gente vê um caruru e acha que é uma planta daninha e nem sabe que ela é comestível e tem valor nutricional. Então, esse trabalho de divulgação é muito importante”, ressalta a bióloga Lenita Haber.
 Um dos produtos que chamou a atenção dos visitantes foi o cará-do-ar, conhecido como cará-moela, que tem um aspecto que lembra uma moela de frango. Segundo os pesquisadores, este tipo de cará tem um amido de excelente qualidade e não precisa de muito insumo para ser cultivado. Quem se interessou foi Nely Barcellos, produtora da região de formosa, em goiás. 
4 – Introdução de panc´s na alimentação.
 O uso da biodiversidade local na alimentação contribui para a ampliação das fontes de nutrientes disponíveis à população e para a promoção da soberania e segurança alimentar.  É observado que no brasil se apresenta uma das maiores diversidades biológicas do planeta, abrigando cerca de 46.097 espécies nativas de plantas (zappi et al. 2015). Apesar dessa riqueza e do potencial que ela representa, a biodiversidade brasileira é ainda pouco conhecida e sua utilização como alimento tem sido negligenciada. Pode-se afirmar que de forma geral as espécies nativas do brasil não fazem parte do grupo de alimentos mais consumidos no país. Souza et al. (2013) mostraram que a dieta alimentar dos brasileiros inclui entre as plantas mais consumidas arroz, café e feijão, associadas ao consumo regional de alguns poucos itens, destacando-se entre eles a mandioca. Dessa forma, nota-se uma valoração de poucas espécies, a maior parte delas exóticas em detrimento das inúmeras espécies nativas que são consumidas de modo ocasional e influenciadas pela cultura regional.
 A organização mundial de saúde (OMS) define saúde como o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade (who 1946). Este conceito, apesar de datar da década de 40, demonstra a complexidade do tema ainda hoje ao incorporar questões como a criação e manutenção de condições de vida saudáveis, dialogando com outro conceito, a segurança alimentar. Segurança alimentar é o direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde, que respeitam a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis (brasil 2006). Buscando ampliar as fontes de nutrientes disponíveis à população e à promoção da soberania e segurança alimentar, tem sido dada maior atenção à necessidade de diversificação das espécies vegetais consumidas. As plantas alimentícias conhecidas como não convencionais vem ao encontro deste conceito e podem ser consideradas essenciais para a consolidação de práticas alimentares que promovam a soberania e segurança alimentar. 
 No brasil, diversas panc´s foram relatadas principalmente em comunidades tradicionais (Diegues et al. 2001; Borges & Peixoto 2009) e de pequenos agricultores familiares (Pilla & Amorozo 2009; cruz et al. 2013; barreira et al. 2015; leal et al. 2018) que ocupam áreas de vegetação nativa, onde cultivam ou coletam uma ampla diversidade de espécies para subsistência. O uso de panc´s, além de diversificar a dieta alimentar, pode representar uma alternativa de renda para comunidades rurais, contribuindo com a economia local e regional (Nesbitt et al. 2010). Além disso, se realizado de forma sustentável, pode ser considerado uma forma de utilização do solo com baixo impacto na agricultura, associado à conservação ambiental (Kinupp & Barros 2007).
 Embora a utilização de panc´s faça parte da cultura, identidade e práticas agrícolas em muitas comunidades no brasil, ainda são poucos os estudos sobre essas espécies. Em função desta carência de informações sobre a disponibilidade, formas de uso, partes utilizadas e usos potenciais, esses recursos alimentares são desconhecidos e/ou negligenciados por uma parcela significativa da população. (Kinupp & barros 2007; Miranda & Hanazaki 2008; Pilla & Amorozo 2009; nascimento et al. 2012; cruz et al. 2013; nascimento et al. 2013; leal et al. 2018)
5 – Tipos de panc´s
 Lista de panc’s mais consumidas:
 Em algumas publicações, como hortaliças não-convencionais (tradicionais), preparada pela secretaria de desenvolvimento agropecuário e cooperativismo do ministério da agricultura, pecuária e abastecimento; e guia prático sobre panc’s: plantas alimentícias não convencionais, do instituto Kairós, encontramos as características e os usos de várias dessas plantas, como segue:
 Almeirão-de-árvore: usada como a couve ou espinafre no preparo de pratos quentes ou em saladas. Pode ser preparado com feijão, arroz, angu e como recheio de bolinhos e tortas.
 Araruta: uso tradicional na forma do polvilho extraído das raízes (rizomas). O polvilho seco e peneirado é usado para fazer bolos, biscoitos e mingau. Também engrossa molhos, cremes e sopas.
 Azedinha: as folhas frescas picadas podem ser utilizadas em saladas e moderadamente em sucos verdes, conferindo-lhes um agradável e estimulante sabor ácido. As folhas refogadas são usadas também em sopas e molhos. Rica em ferro, também pode ser usada em pratos doces, caipirinhas, sucos e geleias. São duas variedades, a graúda e a pequena. Deve ser evitada por quem é intolerante à carambola.
 Beldroega: dela são utilizados os talos e as folhas em saladas cruas, sucos, sopas e caldos, conferindo-lhes uma característica consistência cremosa.
 Bertalha: é utilizada refogada, cozida e em sopas, da mesma forma que se utiliza o espinafre. Deorigem asiática, é uma planta trepadeira bem conhecida no rio de janeiro, e tem sabor único, que lembra a folha da beterraba. Fervida rapidamente e temperada, vira um ótimo recheio de pastel. Seus frutos produzem excelente corante alimentar roxo.
 Cambuquira: assim são chamados os brotos e folhas jovens de abóbora e chuchu, bastante usados na Europa e na nossa cozinha caipira. São ricos em vitaminas A, C e E. Desde que sejam tenros, os caules também podem ser descascados e refogados junto com os brotos e folhas. Apenas as pontas tenras dos brotos (um palmo) devem ser usadas e fervidas para amaciar. Vão bem em sopas, com polenta ou com ovos.
 Capiçoba: de sabor levemente amargo, é consumida como couve e pode ser acompanhada com angu, arroz e feijão.
 Capuchinha: com folhas, flores e sementes comestíveis, tem sabor picante, semelhante ao agrião e à rúcula. Confere um toque exótico às saladas. Seu caule é suculento e as folhas possuem formato arredondado, com flores vistosas em tons de vermelho, laranja e amarelo. Os frutos verdes em conserva são semelhantes às alcaparras. Pode ser usada em molhos, saladas, pestos e omeletes.
 Chaya: suas folhas, que devem ser sempre cozidas, podem ser usadas em caldos verdes ou em cozidos com carnes, substituindo a couve. Chamada de espinafre de árvore, é uma planta de consumo milenar pelos povos mesoamericanos. É rica em cálcio, vitamina a e c.
 Chicória-do-Pará: muito utilizada como condimento, no norte faz parte do popular “cheiro-verde”.
 Chuchu-de-vento: os frutos são consumidos refogados, cozidos, em pratos com carnes ou aves ou recheados. De sabor levemente amargo, semelhante ao do jiló, os frutos ainda verdes podem ser consumidos crus.
 Cubiu: pode ser consumido ao natural, ou processado na forma de sucos, doces, geleias e compotas. Também é usado na caldeirada de peixe ou como tempero de pratos à base de carne e frango.
 Folhas de batata-doce: ricas em nutrientes e antioxidantes, essas folhas podem ser usadas como a couve e o espinafre, após um cozimento rápido. De uso comum na culinária asiática e africana, podem ser servidas em tortas, molhos e como acompanhamento.
 Inhame: fonte saudável de carboidratos, pode ser consumido cozido, frito, assado ou em forma de pão.
 Jambu: com paladar peculiar que causa um amortecimento característico das mucosas, é utilizado no norte para o preparo de pratos tradicionais como o tacacá, o pato no tucupi e peixes regionais.
 Jurubeba: particularmente amargos, os frutos são cozidos com arroz ou feijão, ou utilizados em forma de conservas.
 Mangarito: depois de cozido, sua polpa branca ou amarelada, dependendo da variedade, ganha consistência tenra. É usado da mesma forma que a batata e a mandioca – cozido, frito, em purê, bolinhos, sopas e assados.
 Maxixe: é consumido refogado ou cozido com arroz, carne ou feijão. Para consumo cru, o maxixe deve ser previamente descascado ou raspado, retirando-se a fina casca.
 
 Ora-pro-nobis: a combinação mais usada em pratos tradicionais em minas gerais é com frango ou com angu, mas também aparece no feijão, na polenta e no recheio de massas e salgados. Vai bem também em sopas, mexidos e omeletes. Pode-se usar as folhas secas e moídas no preparo da farinha múltipla, complemento nutricional no combate à desnutrição. Possui alto teor de proteínas e de fibras. Para não soltar baba, não deve ser picada.
 Palma: refogada ou em suco verde, a palma é um cacto comestível. Para ingerir os brotos eles devem ser descascados e seus espinhos eliminados. Usada como legume no México e parecida com o chuchu, é rica em vitamina c, cálcio e magnésio. Batida com limão e capim-santo, faz um suco verde cremoso e refrescante.
 Peixinho: suas folhas podem ser utilizadas no preparo de sucos, refogados, sopas, omeletes e recheios diversos. Quando preparadas à milanesa seu sabor assemelha-se ao de peixe, servindo como ótimo petisco. Também chamada de orelha-de-coelho e lambari-da-horta, de suas folhas suculentas e nutritivas pode-se fazer lasanha, massas e até risoto.
 Serralha: suas folhas são utilizadas como hortaliça e condimento. É consumida refogada em alho e acompanha feijão, polenta, angu ou cozidos. Seu sabor amargo é amenizado se ficar de molho em água fria ou em caldo de laranja-lima. Não deve ser confundida com a planta Emília, serralhinha ou pincel-de-estudante (Emília Sonchifolia), de flores vermelhas, cujo uso na alimentação não é recomendado cientificamente.
 Taioba: suas folhas enormes são um clássico na comida caipira. Tóxicas quando cruas, seus rizomas podem ser usados como o inhame. Deve ser consumida somente cozida ou branqueada (choque térmico). De sabor excelente, substitui a couve da feijoada, o repolho do charutinho, e pode ser usada em vários outros preparos. Seu talo é comestível, mas deve ser preparado separadamente. Tradicional da culinária porto-riquenha e indiana, requer cuidado para não ser confundida com a taioba de talos roxos, que é comestível mas exige preparo especial.
 
 Vinagreira: as folhas são usadas em saladas cruas ou refogadas e as flores em chás. Seus cálices viram geleias e sucos. É ingrediente do tradicional arroz-de-cuxá do maranhão.
 
6 – Nutrição e panc´s:
 Os teores de proteína, carotenoides, minerais e compostos fenólicos destas plantas poderiam caracteriza-los como vegetais de elevado potencial nutricional, e quando comparados aos vegetais convencionais possuem um valor antioxidante superior. Isso demonstra que as panc’s podem trazer benefícios nutricionais à saúde se incorporadas a dieta da população.
 Através da revisão bibliográfica realizada percebemos que o uso de panc’s aumentaria a ingestão de vitaminas, fibras e minerais, por serem ricas nos mais diversos nutrientes e que não são diariamente consumidos pelos beneficiários por acreditarem que as frutas, verduras e legumes são dispendiosos e podem ser substituídos por alimentos ultra processados e industrializados. Esta afirmativa demonstra que os usuários detém de pouco conhecimento nutricional e representam ainda uma amostra da transição nutricional brasileira, na qual alimentos naturais vem sendo substituídos pelos processados e industrializados. O baixo custo de produção chamou também a atenção pelo relato de não se haver renda suficiente para compra de alimentos naturais como frutas, verduras e legumes para consumo diário, sendo então as panc’s uma excelente alternativa devido ao seu custo benefício, acessibilidade e alto valor nutricional.
(Flack, m.; silva, m. R., et al. Plantas alimentícias não convencionais ocorrentes no vale do taquari-rs e suas principais utilizações. In: 5° simpósio de segurança alimentar: alimentação e saúde. Bento gonçalves-rs; 2015. Sbcta-rs. 4 p.)
7 – Técnicas de preparo e receitas à base de panc´s:
Bolinho de taioba servido com molho de alho
5 folhas de taioba
2 dentes de alho amassados
2 xícaras (chá) de farinha de rosca
2 ovos
sal, coentro e pimenta-do-reino a gosto
óleo para fritar
Modo de preparo:
O primeiro passo para fazer esse bolinho é cozinhar as folhas de taioba em água fervente por alguns minutos, até ficarem macias.
Escorra a água quente e coloque a taioba em um recipiente com gelo, para dar o choque térmico e parar o cozimento.
Em seguida, transfira a taioba para uma tigela, acrescente 1 ovo, os alhos, os temperos e, por último, a farinha de rosca.
Misture bem até formar uma massa homogênea.
Faça bolinhas do tamanho de sua preferência.
Passe-as no ovo batido e depois na farinha de rosca.
Frite os bolinhos em óleo quente até dourar levemente.
Remova o excesso de óleo com papel-toalha.
Sirva quente!
Omelete de serralha:
Ingredientes:
4 unidades ovos se forem caipiras, melhor 1 punhado folhas de serralha Talosde 1 pezinho talos de serralha 1/2 dente alho em lâminas finas 1 colher sopa azeite de oliva extra virgem À gosto sal e pimenta-do-reino
Modo de Preparo:
Pique grosseiramente as folhas de serralha e corte os talos em pedaços pequenos. Aqueça uma panela com água salgada até a fervura. Coloque os talos e cozinhe por 2 minutos. Escorra com água corrente em uma peneira e deixe secar. Coloque as folhas em uma panela e deixe no fogo para que solte um pouco de sua umidade, mexendo sempre e sem deixar que cozinhe em excesso. Bata os ovos com um garfo, coloque os talos de serralha e tempere com sal e pimenta. Aqueça uma frigideira com 20 cm de diâmetro e coloque o azeite. Adicione o alho e cozinhe rapidamente. Coloque as folhas e espalhe bem. Jogue a mistura de ovos e deixe cozinhar, sem mexer, levantando as bordas para que a parte líquida vá escorrendo para baixo. Quando as bordas estiverem douradas e o centro cozido, mas ainda úmido, desligue o fogo. Sirva o omelete como desejar, aberto, dobrado ou enrolado, como foi minha opção.
Polenta com ora-pro-nóbis.
Ingredientes:
200 g de fubá
1 e 1/2 xícara de água
sal e temperos a gosto
2 colheres (sopa) de extrato de tomate
1/2 cebola
2 dentes de alho
200 g de carne moída
2 colheres (sopa) de azeite
100 g de ora-pro-nóbis
100 g de mussarela ralada
Modo de preparo:
Coloque 1 colher de azeite em uma panela e refogue a cebola e o alho.
Junte a carne moída e mexa tudo muito bem.
Adicione o extrato de tomate e os temperos.
Misture e deixe cozinhar por alguns minutos, reserve.
Em outra panela, refogue a ora-pro-nóbis em 1/2 copo de água, reserve.
Pegue mais uma panela e misture o fubá, a água e o óleo.
Tempere e mexa até o fubá diluir.
Quando começar a ferver, continue mexendo por mais um minuto e desligue.
Pegue uma travessa e cubra o fundo com colheradas de angu.
Logo depois o molho, o queijo e, por cima de tudo, o ora-pro-nóbis.
Petisco de peixinho da horta:
Ingredientes:
400 gramas de folhas de peixinho da horta 100 gramas de fubá 50 gramas de trigo sarraceno 2 unidades de ovo * a gosto de óleo de canola ou de oliva para fritar 200 gramas de folhas de dente-de-leão 100 gramas de folhas de ora-pro-nóbis 40 ml de azeite de oliva * a gosto de alho
Modo de preparo:
Lave as folhas de peixinho-da-horta e seque-as com papel-toalha. Em um prato fundo, bata os ovos com sal e em outro prato, coloque o fubá com trigo sarraceno. Passe as folhas primeiro no ovo e depois na mistura de fubá com trigo sarraceno. Frite-as em pouco óleo e lentamente para não queimar. Para o creme, lave as folhas de ora pro-nóbis e de dente-de-leão, deixe-as em água fervente por cinco minutos. Retire e coloque em água gelada para que as folhas não percam a cor. Leve ao fogo uma frigideira com azeite de oliva e alho picado e refogue tudo. Triture a mistura no liquidificador e sirva com os petiscos de peixinho-da-horta"
Purê de inhame:
Ingredientes:
2 ou 3 inhames médios 1 colher cheia de manteiga ou margarina 1/2 xícara de leite, ou o quanto baste para uma consistência cremosa 1 colher (sobremesa) sal
Modo de preparo
Descasque e corte os inhames em pedacinhos e leve ao fogo para cozinhar em água e sal por cerca de 10 a 15 minutos ou até começar a desmanchar. Escorra e amasse de preferência com um machucador. Na mesma panela do cozimento, coloque o leite e a margarina. Dissolva o inhame até os ingredientes estarem bem misturados. Acerte o sal. Leve ao fogo brando mexendo rapidamente até desprender do fundo da panela. Sirva quentinho com arroz e um ensopadinho de carne.
8 – Conclusão:
 As vantagens e as possibilidades desta introdução alimentar, tendo, como era esperado por todos os autores, se mostrado um processo benéfico do ponto de vista nutricional, econômico, social e ambiental. Percebemos que o uso de panc’s aumenta a ingestão de vitaminas, fibras e minerais, por serem ricas nos mais diversos nutrientes e que não são diariamente consumidos pelos beneficiários por acreditarem que as frutas, verduras e legumes são dispendiosos e podem ser substituídos por alimentos ultra processados e industrializados. O baixo custo de produção torna as panc’s uma excelente alternativa devido ao seu custo-benefício. Do ponto de vista social, o uso destas plantas se mostrou um resgate às antigas culturas da população regional, já que as panc‘s variam de acordo com cada região, valorizando aqueles que sempre lutaram para manter vivas tradições de suas origens, como os indígenas e a população rural. Estes são os maiores conhecedores, sabendo as formas de preparo, onde podem ser encontradas e cultivadas, porém, com o êxodo rural, as populações acabaram se dissipando para as grandes cidades e deixando para trás tais tradições. 
 As panc’s ainda podem se tornar fonte de renda para essas famílias. A partir delas é possível criar as mais diversas preparações para comercialização como compotas, geleias, tortas, refogados, licores, entre outras, além de poder ser vendida em sua forma natural. A venda destes produtos em feiras livres é uma novidade e um resgate as culturas antigas, demonstram ainda a preocupação com o meio ambiente e a preferência por alimentos naturais e saudáveis por parte daqueles que já possuem certo conhecimento a respeito do tema. 
 Ainda se mostrou possível ser cultivada nos mais diversos ambientes, pequenos quintais, calçadas, lotes vagos e nos menores espaços, sem uso de agrotóxicos ou fertilizantes e sem gasto excessivo de água, devolvendo ao nosso ambiente o seu equilíbrio, já que estas plantas crescem e se alastram em seu bioma natural, sem a necessidade de qualquer intervenção. Um ponto importante para esta população que alega não ter espaço e condições para o cultivo. 
9 – Referências:
 Hortaliças não-convencionais: (tradicionais) / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo. – Brasília: MAPA/ ACS, 2010. Disponível: http://biblioteca.consumoresponsavel.org.br/files/original/8ed263e13f4bb8a26cd01d89882eea07.pdf
 Guia prático sobre Panc’s :plantas alimentícias não convencionais, organizado pelo Instituto Kairós; coordenação Guilherme Reis Ranieri; ilustração Felipe Borqea, Vinicius Nascimento, Juliana Rodrigues Gonçalves 1.ed. São Paulo :Instituto Kairós, 2017.Disponível em: https://institutokairos.net/wp-content/uploads/2017/08/Cartilha-Guia-Pr%C3%A1tico-de-PANC-Plantas-Alimenticias-Nao-Convencionais.pdf
 Manual de hortaliças não-convencionais / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo. – Brasília: Mapa/ACS, Https://www.ecycle.com.br/5387-pancs.html Https://www.ecycle.com.br/3007-desperdicio-de-alimentos.html Https://www.gov.br/agricultura/pt-br
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