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DEFINIÇÃO Conceitos básicos e tipos de signos. Matrizes da linguagem: visual, verbal e sonora. Linguagem imagética e tecnologias. Educação bilíngue de surdos e pedagogia visual. PROPÓSITO Compreender os conceitos relacionados à linguagem visual com vistas a sua ampliação nos processos de ensino e aprendizagem. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever conceitos de linguagem e da semiótica MÓDULO 2 Identificar a relação entre a linguagem visual e as tecnologias visuais com base nos principais elementos dessa linguagem MÓDULO 3 Justificar a importância do uso das imagens na educação de surdos INTRODUÇÃO Fonte: freepik As linguagens são caminhos expressivos disponíveis em diferentes vias, por exemplo, visual ou verbal e sonora. A partir delas, são formadas as mais diferentes combinações. A fim de tratar da linguagem visual, de extrema importância na educação de surdos, apresentaremos alguns conceitos sobre a imagem, como o signo, além da própria concepção de linguagem. Além disso, analisaremos algumas possibilidades de uso de imagem na educação de maneira geral, e na de surdos especificamente, considerando ainda as facilidades de fotografar, gravar e editar. Estudaremos, ainda, a arte-tecnologia, algumas de suas possibilidades e como estas refletem em nossa percepção estética, para pensarmos em propostas educativas relacionadas a mídias e tecnologias. Fonte:freepik Novas práticas didáticas incluem dialogar com as novas realidades. E na educação de surdos, elas podem ser fundamentais. MÓDULO 1 Descrever conceitos de linguagem e da semiótica LINGUAGEM X LÍNGUA LINGUAGEM PODE SER DEFINIDA COMO UM SISTEMA ORGANIZADO DE SINAIS, COMPLEXOS OU NÃO, A SERVIÇO DA COMUNICAÇÃO. Ela é uma das capacidades humanas mais importantes. Temos um sistema de produção e processamento de linguagem extremamente complexo. Portanto, linguagem é a capacidade humana para produzir, desenvolver e compreender, além de uma língua, várias outras manifestações, como os gestos, a pintura, a música, a dança, e assim por diante. Além de humana, a linguagem também pode ser artificial, específica de sistemas complexos, como a linguagem de programação. Esta pode ser definida como um método padronizado de implementação de um código-fonte, com base em um conjunto de regras sintáticas e semânticas. No que diz respeito aos seres humanos, a ciência que se dedica a estudar a linguagem é a Linguística. Devemos, portanto, fazer uma distinção importante entre língua e linguagem. LINGUAGEM O conceito de linguagem é amplo, englobando linguagens artísticas, mímica e outra. LÍNGUA A língua é um conjunto organizado de elementos que possibilitam a comunicação que surge naturalmente nas sociedades e nos grupos humanos. Para nosso propósito de estudo, podemos organizar a linguagem em: verbal e não verbal. VERBAL NÃO VERBAL LINGUAGEM VERBAL A linguagem verbal é expressa por meio do código escrito ou da fala e se caracteriza pela linearidade, sequencialidade entre os signos e sons da fala. LINGUAGEM NÃO VERBAL A linguagem não verbal é expressa por meio de signos visuais, imagens e gestos e se caracteriza pela possibilidade de simultaneidade entre os signos expressos. Exemplificando, as letras da linguagem verbal também são visuais e são signos, mas dispostos linearmente. Placas de trânsito e figuras na porta de um banheiro são bons exemplos de linguagem não verbal Já as línguas podem ter diferentes modalidades, como a oral-auditiva, no caso das línguas orais, ou a visuoespacial, no caso das línguas de sinais. Ao tratar de línguas de sinais, como a Língua Brasileira de Sinais (Libras) , é fundamental entendê-las desta maneira, como línguas naturais, com estrutura própria e complexidade. No passado, havia uma compreensão errônea de que se tratava de uma linguagem, isto é, um modo de expressão sem organização formal. SEMIÓTICA Para compreendermos as matrizes da linguagem e, em seguida, analisarmos as noções de linguagem visual e imagética, passaremos brevemente pelos conceitos de semiótica (estudos dos signos) de Charles Sanders Peirce. javascript:void(0) Fonte: Wikipédia CHARLES SANDERS PEIRCE (1839-1914) Filósofo americano, considerado um gênio multifacetado, pois se dedicou a Matemática, Física, Astronomia, Química, Linguística, Psicologia, História, Lógica e Filosofia. Formado em Ciências e doutor em Química, pesquisou e elaborou teorias muito mais relacionadas aos estudos de lógica e linguagem. Também fez importantes contribuições à Pedagogia e à Matemática. O filósofo se dedicou a analisar as relações entre os objetos e o pensamento. Apesar de não ter publicado um tratado sobre a semiótica, seus escritos foram recolhidos em vários artigos, manuscritos, anotações em cadernos e cartas. Peirce se beneficiou dos conhecimentos de diversas áreas para formular seus estudos sobre os signos. Ele pensava que não seria possível compreender objetos externos aos sujeitos de forma clara e uniforme. A semiótica tem como unidade de estudo o signo, que pode ser definido como o estímulo portador da mensagem ou de fragmento desta e que representa algo para alguém sob determinado ponto de vista. O signo pode se apresentar das mais variadas formas. Trata-se de algo de qualquer espécie que representa outro elemento. Aquilo que é representado pelo signo é chamado de objeto. Assim, quando posto no lugar do objeto, o signo produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial – efeito este que é chamado por Pierce de interpretante. Peirce (1990) listou três tipos de signos ou modos de o signo mediar os significados. São eles: ÍCONE Neste caso, existe uma relação de semelhança entre o signo (que é a representação do objeto) e o objeto em si, ou seja, uma relação icônica entre o signo e seu significado. Como exemplos, destacam-se fotos, onomatopeias, desenhos etc. De alguma forma, os ícones dependem de questões culturais. Para se conectar com a ideia que representam, usam formas, cores, texturas, sons, e assim por diante. ÍNDICE Parte que representa um todo adquirido anteriormente pela experiência subjetiva ou herança cultural. Nesta categoria de signo, existe uma relação de causalidade sensorial indicando seu significado. Por exemplo, biquíni e óculos de sol podem ser índices de praia. Como o próprio nome já diz (indício), o índice nos leva a alguma associação de ideias. SÍMBOLO Nesta caso, não existe uma forte relação de semelhança entre o signo e o significado. O símbolo é abstrato, e a relação do signo com o significado é fruto de uma convenção. Como na relação grafo-fonêmica das línguas, a escrita mapeia a fala, e a escrita é puramente convencionada. No entanto, os símbolos não necessariamente são referentes a línguas, por exemplo, o símbolo de um time de futebol ou a hóstia como um símbolo cristão. Portanto, para Pierce (1990), signo é uma representação parcial do objeto e comunica algo externo, informa parte do objeto que representa, sem ser idêntico ao ele. O SIGNO É UMA ABSTRAÇÃO DOS ASPECTOS DO OBJETO. Pode até mesmo ser fictício e ter mais de um significado. Nenhum signo é completo, porque está sempre referenciado a algo. CATEGORIAS DE PERCEPÇÃO DA EXPERIÊNCIA Fonte: Freepik PEIRCE AINDA TRATA DA TRÍADE SUJEITO - OBJETO - INTERPRETANTE O signo é um representante que transmite a ideia do objeto, e esse objeto tem relação com um interpretante, que não é necessariamente uma pessoa, mas o conjunto de pressupostos e percepções do receptor. Peirce era especialmente interessado na compreensão da realidade. No artigo Sobre uma nova lista de categorias (PEIRCE, 1867), ele propôs três categorias básicas universais de toda experiência e de todo pensamento, inicialmente denominadas qualidade, relação e representação, mas renomeadas posteriormente, para fins científicos, como primeiridade, secundidade e terceiridade. A ideia é que tudo o que aparece à consciência acontece em uma gradação dessas três propriedades, que correspondem aostrês elementos formais de toda e qualquer experiência. Vamos entender melhor essas categorias: PRIMEIRIDADE Trata-se da formação do novo. O signo é notado pelo sistema perceptivo e desperta sensações e sentimentos por meio de cores, formas e texturas. Nesse estado, percebemos somente as qualidades dos elementos, sem questionamentos sobre a qual objeto essas qualidades se referem, se elas são reais ou se existem de fato. SECUNDIDADE Trata-se de uma compreensão mais profunda do conteúdo do objeto. Para que exista a qualidade percebida na primeiridade, é preciso que esta esteja vinculada a uma matéria. Portanto, a secundidade se trata do reagir: o signo é percebido como uma mensagem gerando força, que permite compreendê-lo e associá-lo a outras experiências vivenciadas. TERCEIRIDADE Trata-se de uma generalização, uma compreensão simbólica cheia de significações. Pode ser conceituada como uma experiência de síntese, que dá sentido e aprendizado de novos conceitos trazidos para a consciência. RESUMINDO Primeiridade – trata-se de uma primeira impressão, rápida e abstrata; Secundidade – faz relações e compreensões mais profundas; Terceiridade – traz o pensamento generalizado e o contexto do signo. O professor Nataniel Gomes relembra os pontos mais importantes para se entender os signos na semiótica. REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA No fim do século XIX, depois da Revolução Industrial, com a criação das indústrias e das máquinas e, mais recentemente, com a revolução tecnológica, surgiram novos interesses e modos de comunicação e interação social, uns influenciando os outros. O contato face a face não é mais necessário para interagirmos e nos comunicarmos. Cada vez mais, as relações podem ser mediadas por máquinas, o que acarreta mudanças significativas nos processos de comunicação. Fonte:freepik Com o avanço tecnológico, temos nossas necessidades atendidas sem a necessidade de contato humano. Com o aparecimento de uma cultura urbana e de massas e com a popularização dos meios de comunicação, como rádio, televisão, cinema e internet, temos contato com uma diversidade de signos a cada dia. A disseminação de múltiplas ferramentas comunicacionais permitiu, a diversos profissionais, o acesso a recursos capazes de reproduzir, gravar, editar, manipular e divulgar mensagens de uma forma economicamente barata, de fácil acesso e de distribuição rápida. Essa comunicação massiva iniciou um processo que estava destinado a se tornar cada vez mais absorvente: o envolvimento dos signos que constituem a linguagem com novos veículos de divulgação, invadindo ambientes anteriormente não destinados a eles. Para analisar esses processos, vamos nos debruçar sobre os estudos de Santaella (2005). MATRIZES DA LINGUAGEM Santaella apresenta a teoria de três matrizes que guiam a linguagem e o pensamento, fundamentada na teoria do signo de Peirce. Ela se baseia nas categorias universais peircianas e na taxonomia dos signos sob uma perspectiva semiótica. De acordo com a autora, a princípio, todas as formas e variantes da linguagem estão sustentadas em três matrizes de linguagem-pensamento: SONORA OU ORAL VISUAL OU IMAGÉTICA VERBAL OU TEXTUAL Resultante da audição, esta matriz compreende todo tipo de sons e suas variações (como altura e duração) combinados, formando elementos mais complexos, como ritmo, melodia e harmonia. A linguagem oral está nesta categoria. Resultante da visão, esta matriz está ligada à imagem, especialmente à produção de sentido e à compreensão por meio dela. Disso resulta seu vínculo com a secundidade, pois ela se refere a uma singularidade, tendo como propriedade a forma e um forte apelo estético. Afinal, por meio de uma imagem, temos a possibilidade de inúmeras representações. As modalidades visuais, portanto, são tratadas aqui como formas visuais estruturadas como linguagem. Os signos visuais podem existir de forma estática (pinturas e fotografias) ou de forma dinâmica (vídeos e animações). Resultante da verbalização, esta matriz se concretiza no símbolo. Portanto, traz elementos das matrizes sonoras e visuais. Seu alicerce é a palavra – uma convenção feita entre emissor e receptor, portanto, arbitrária. ATENÇÃO A partir dessas três matrizes, infinitas combinações são possíveis. As matrizes não são independentes uma da outra. Pelo contrário: na maioria das vezes, são complementares. TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO Fonte: Freepik Como já sabemos, o mundo contemporâneo nos aproximou das Tecnologias de Informação e Comunicação, que utilizam grande quantidade de materiais visuais para representar o mundo. Fonte: Freepik Diariamente, somos bombardeados pela imprensa, pela TV, por vídeos, anúncios etc. As imagens presentes em entretenimentos e propagandas influenciam nossas decisões e emoções e, muitas vezes, modulam nosso pensamento e a forma de nos comportar. Fonte: Freepik A escola também reflete as transformações sociais. Logo, os processos educacionais sofreram igualmente o impacto do desenvolvimento tecnológico. O computador e a internet possibilitam outras abordagens educacionais Fonte: Freepik O material usado na educação, impresso ou digital, conta com grande quantidade de conteúdo visual, que auxilia a aprendizagem e enriquece a produção de conhecimento. As imagens podem ser utilizadas nos processos de ensino e aprendizagem de várias formas. A potencialização desses processos por meio da evolução tecnológica é evidente, em especial na área da Educação a Distância (EAD). A tecnologia pode ser uma grande aliada, motivando novos métodos educacionais. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ESTUDAMOS OS CONCEITOS DE PEIRCE SOBRE SIGNOS. DE ACORDO COM O AUTOR, QUAL DAS AFIRMAÇÕES A SEGUIR É VERDADEIRA? A) Signo é uma representação que remete ao objeto do mundo externo em sua completude. B) Signo é tudo aquilo que, de certa forma, representa algo para alguém. C) Signo pode definir a característica de seres humanos por meio das dicotomias linguísticas saussurianas. D) Signo pode ser definido como uma mensagem que não é compreendida por causa de sua incongruência com o mundo real. 2. SANTAELLA (2005) PROPÕE TRÊS MATRIZES QUE GUIAM A LINGUAGEM E O PENSAMENTO, COM BASE NA TEORIA DO SIGNO DE PEIRCE. NO QUE SE REFERE À MATRIZ VISUAL OU IMAGÉTICA, É INCORRETO AFIRMAR QUE: A) Uma imagem pode oferecer ao receptor múltiplos conceitos. B) Imagens podem ter grande apelo sensório por meio de formas, cores e tons. C) Com o avanço tecnológico, as imagens se tornaram uma ferramenta importante para a publicidade. D) Imagens possuem elementos apresentados de forma linear. GABARITO 1. Estudamos os conceitos de Peirce sobre signos. De acordo com o autor, qual das afirmações a seguir é verdadeira? A alternativa "B " está correta. Para Peirce, a definição de signo é geral e admite signos das mais diversas naturezas, de todos os tipos de linguagens. 2. Santaella (2005) propõe três matrizes que guiam a linguagem e o pensamento, com base na teoria do signo de Peirce. No que se refere à matriz visual ou imagética, é incorreto afirmar que: A alternativa "D " está correta. Diferentemente dos sons, que são lineares e consecutivos, a imagem possui simultaneidade de seus elementos: todos são percebidos ao mesmo tempo. MÓDULO 2 Identificar a relação entre a linguagem visual e as tecnologias visuais com base nos principais elementos dessa linguagem LINGUAGEM VISUAL Como sabemos, a linguagem não é apenas verbal ou escrita. Como meio de comunicação, a fala não pode ser rigorosamente separada de toda atividade comunicativa humana, que também inclui o visual. Por exemplo, gesticulamos e produzimos expressões faciais enquanto falamos. Esses elementos comunicacionais fazem parte da linguagem não verbal. A linguagem visual se caracteriza pelo uso de imagens para comunicar alguma ideia. O pensamento humano pode ser tanto verbalizado quanto visualizado. A capacidade visual permite a formação de imagens mentais. Uma figura,uma pintura, uma fotografia, diagramas e mapas são exemplos de usos da linguagem visual. Conforme destaca Kahane (2015), a palavra “imaginação” sugere que também podemos pensar por meio de imagens. Fonte:freepik Mapas, fotografias, placas são exemplos da linguagem visual. Portanto, a linguagem visual é definida como um sistema de comunicação que usa elementos visuais e envolve a percepção, a compreensão e a produção de sinais visíveis. OS ELEMENTOS DE UMA IMAGEM REPRESENTAM CONCEITOS EM UM CONTEXTO ESPACIAL E SIMULTÂNEO, DIFERENTE DA LINEARIDADE E CONSECUTIVIDADE DO TEMPO, PRESENTES NA FALA E NA LEITURA. A fala e a comunicação visual são meios paralelos e, frequentemente, interdependentes, pelos quais os seres humanos trocam informações. ELEMENTOS DA MATRIZ VISUAL Fonte: Freepik Dondis (1997) chama atenção para não confundirmos a substância de uma obra com seu material ou meio de expressão: a madeira ou a argila, a tinta ou o filme. Ao se projetar, esboçar, pintar, rabiscar, construir, esculpir ou gesticular, a substância da obra é composta a partir de uma lista básica de elementos. Os elementos visuais constituem a substância básica daquilo que vemos: as unidades estruturais da linguagem visual incluem ponto, linha, forma, direção, tom, cor, textura, escala, direção e movimento. A seguir, descrevemos os elementos estruturais da linguagem visual de acordo com Dondis (1997): PONTO É a unidade básica de representação visual e a mais comum encontrada na natureza. A partir do ponto, originam-se todas as outras formas. O ponto é a primeira imagem de toda expressão visual. LINHA É definida como a união de pontos, ou, ainda, como o ponto posto em movimento. Kandinsky (1997) classifica as linhas em: Retas – que variam em dimensões horizontal, vertical, diagonal e quebrada; Curvas – que variam de simples a ondulada; Combinadas – que correspondem ao conjunto das retas e curvas. O autor relaciona as linhas quebradas com as formas básicas (triângulo, círculo e quadrado) e com as cores primárias. Nesse caso, sua descrição ajuda a pensar na linguagem visual, porém é mais artística e poética do que teórica. FORMA É descrita pela linha, que articula a complexidade da forma. O quadrado, o círculo e o triângulo equilátero são formas básicas. A cada uma se atribuiu uma quantidade de significados, alguns por associação, outros por vinculação arbitrária, outros por meio de nossas próprias percepções psicológicas e fisiológicas. Por exemplo, há as seguintes associações comuns: Quadrado – honestidade, retidão e esmero; Triângulo – conflito e tensão; Círculo – infinitude e proteção. A partir de combinações e variações infinitas dessas três formas básicas, derivam-se todas as formas físicas da natureza e da imaginação humana. DIREÇÃO É inerente às formas. Todas as formas básicas expressam três direções visuais básicas e significativas: Quadrado – direção horizontal e vertical; Triângulo – diagonal; Círculo – curva. Cada uma das direções visuais tem um forte significado associado e é um valioso instrumento para a criação de mensagens visuais. A direção horizontal-vertical é a referência primária do homem em termos de bem-estar. A direção diagonal tem referência direta com a ideia de estabilidade. TOM Está relacionado diretamente com a intensidade da obscuridade ou claridade de qualquer objeto visto. Podemos ver graças à presença de luz, e sua ausência pode dificultar a percepção. Pelas variações de luz ou de tom, distinguimos oticamente a complexidade da informação visual do ambiente. A sensibilidade tonal é básica para a sobrevivência: graças a ela, percebemos movimento súbito, profundidade, distância, entre outras referências. CORES Têm muita afinidade com as emoções. As cores estão impregnadas de informação e são uma das experiências visuais mais penetrantes. Elas são fontes de valor inestimável para comunicadores visuais. Abundantes no meio ambiente, possuem uma vasta categoria de significados simbólicos. Por exemplo, o vermelho pode significar perigo, amor, calor e vida. TEXTURA É um elemento visual que, geralmente, representa as propriedades perceptuais do tato. Mas é possível que uma textura tenha apenas qualidades óticas. ESCALA Refere-se à capacidade que os elementos visuais têm de se modificar e definir uns aos outros. O grande não pode existir sem o pequeno. A escala pode ser alterada pela introdução de outra modificação visual. Os resultados visuais são fluidos, e não absolutos, pois estão sujeitos a muitas variáveis modificadoras. DIMENSÃO Está ligada à forma como o espaço se apresenta. A representação bidimensional depende da ilusão e também existe no mundo real. No entanto, em nenhuma das representações bidimensionais – seja na pintura, seja na fotografia ou no cinema –, existe uma dimensão real. Em outras palavras, ela é apenas implícita. O principal artifício para simulá-la é a técnica da perspectiva. MOVIMENTO É uma das forças visuais mais dominantes da experiência humana. No movimento, bem como na dimensão, o elemento visual é mais implícito do que explícito. Como sabemos, o cinema é uma série de imagens imóveis com ligeiras modificações. Um quadro ou uma foto podem ser estáticos, mas sua composição pode implicar movimento. A melhor maneira de analisarmos a linguagem visual é decompô-la em seus constituintes básicos. Assim, compreenderemos melhor o conjunto. Para tanto, os elementos básicos da comunicação visual foram descritos aqui. Percebemos que os elementos que constituem as imagens podem ser carregados de significados relacionados ao universo que nos cerca. Esses elementos estão presentes nas imagens veiculadas por meio das novas tecnologias digitais de comunicação e informação. ALFABETISMO VISUAL Mesmo no fim do século XX, Dondis (1997) já constatava que a invenção da câmera geraria desenvolvimentos da linguagem visual comparáveis à invenção do livro e seus desdobramentos em relação à alfabetização. A partir dessa compreensão, a autora pensou no imperativo do alfabetismo visual universal, que diz respeito à sintaxe visual. O cinema, a televisão e os computadores são extensões modernas de um desenhar e de um fazer que, historicamente, têm sido uma capacidade natural de todo ser humano. javascript:void(0) Ainda sobre o alfabetismo visual, podemos considerar as afirmações de Kahane (2015) sobre o pensamento visual. Para o autor, os seres humanos têm a capacidade inata de modelagem cognitiva. Sua expressão por meio do desenho, da construção, da atuação etc. é fundamental para o pensamento humano. Fonte: PxHere A invenção da câmera foi uma percursora para o desenvolvimento da linguagem visual. ALFABETISMO “O alfabetismo significa que um grupo compartilha o significado atribuído a um corpo comum de informações.” Fonte: DONDIS, 1997, p. 4. A apropriação de um sistema de palavras escritas (literacia ou alfabetização) e de informações por meio de números (numeracia) é uma conquista bem desenvolvida da espécie humana. O desenvolvimento do aspecto visual das comunicações humanas como uma disciplina paralela à alfabetização e à numeracia tem sido referido como graficacia (graphicacy) – um termo ainda longe de ser familiar. A capacidade de pensar e de se comunicar em termos visuais, tanto sob a perspectiva de compreensão quanto de concepção do visual, torna-se cada vez mais importante. IMPACTO DAS NOVAS TECNOLOGIAS Fonte: Freepik A revolução tecnológica, principalmente nos meios de comunicação, traz consequências para as relações humanas. Se ela nos aproxima, também nos distancia. Um dos possíveis resultados das novas tecnologias é a diminuição de interações presenciais, forçando relações mais dinâmicas e instantâneas, porém menos próximas fisicamente. ENQUANTO AS TECNOLOGIAS NOS CONECTAM E PERMITEM UMA COMUNICAÇÃO CONTÍNUA E QUASE IRRESTRITA, ELAS TAMBÉM NOS IMPULSIONAM A UM DECORRENTE AFASTAMENTO FÍSICO, UMA VEZ QUE O CONTATO FÍSICO NÃO ÉMAIS NECESSÁRIO PARA QUE OS MOMENTOS DE INTERAÇÃO OCORRAM. Essa nova realidade, pautada na agilidade, tem reflexos em nosso entendimento sobre o que é comunicação eficaz e, principalmente, sobre o que exigimos de nossos comunicadores. Por isso, a sociedade tem presenciado a produção e utilização de imagem sem precedentes. Em suas considerações sobre as tecnologias digitais e os impactos dela decorrentes, Campos ressalta: MAIS RECENTEMENTE, AS TECNOLOGIAS DIGITAIS AFIRMAM-SE COMO PROTAGONISTAS INQUESTIONÁVEIS DE NOVAS DINÂMICAS SOCIAIS E CULTURAIS QUE MARCAM DECISIVAMENTE OS CONTORNOS DA VISUALIDADE CONTEMPORÂNEA. O USO CRESCENTE DAS NOVAS TECNOLOGIAS DIGITAIS TEM INCENTIVADO A PRODUÇÃO INDIVIDUAL DE BENS DE NATUREZA VISUAL E AUDIOVISUAL A UMA ESCALA ATÉ AQUI DESCONHECIDA. Campos 2012, p. 554. Certamente, as inovações tecnológicas moldaram nosso entendimento de mundo e da realidade. Por exemplo, não é raro ficarmos impacientes quando aguardamos mais de 15 minutos por uma resposta ou confirmação. Naturalizamos a velocidade da informação e sua difusão em grande escala. Recursos visuais passaram a ser parte fundamental de uma boa apresentação de produtos, endereços e modelos. Tudo isso está diretamente relacionado à ampla disponibilização das ferramentas tecnológicas. Mesmo empresas pequenas, localizadas em bairros com consumidores de baixo poder aquisitivo, se preocupam com a comunicação visual. Fonte:freepik Empresas tem investido cada vez mais em novas tecnologias e em bons recursos visuais. Aliado ao custo mais baixo, em relação ao passado, o uso constante do computador faz com que pessoas das camadas socioeconômicas mais baixas tenham acesso ao que antes era exclusivo das camadas mais altas. Não nos contentamos apenas com a informação fundamental. Queremos uma apresentação do produto esteticamente agradável. No sentido do fazer artístico mais geral e da arte-tecnologia – ramo ainda novo, mas que vem ganhando força nos últimos anos –, a arte é fundamental para o desenvolvimento humano e pode ter papel importante na educação tanto em sentido estrito como mais amplo. Se as tecnologias se aliam, cada vez mais, ao processo de aprendizagem, vale refletir sobre o papel que a educação artística contemporânea possui em nosso currículo. Como afirmam Miglioli e Barros: A PROPÓSITO DE TECNOLOGIA E ARTE, É IMPORTANTE LEMBRAR QUE NÃO SÃO EXCLUDENTES, NÃO DEIXAM COMPLETAMENTE DE EXISTIR OU SÃO SUBSTITUÍDAS POR OUTRAS INTEIRAMENTE NOVAS. NA VERDADE, O CONTEMPORÂNEO É, EM ESSÊNCIA, MAIS UMA REORGANIZAÇÃO DO QUE ALGO PROPRIAMENTE NOVO. Miglioli e Barros 2013, p. 69. Assim, é fundamental o diálogo com novas expressões e pelos meios de comunicação disponíveis. ARTE-TECNOLOGIA NO CONTEXTO EDUCACIONAL Fonte: Billetto Editorial/ Unsplash Muitos ainda não enxergam a conexão entre arte e tecnologias, pois acreditam que as produções feitas por meio das ferramentas digitais são meras reproduções. O trabalho de arte usando tecnologia é recebido com ceticismo por alguns, aqueles que associam a arte às artes plásticas, como escultura, pintura e gravura – formas mais tradicionais de expressão. EXEMPLO Uma possibilidade, por exemplo, é o envio de tarefas de casa no modelo de ensino híbrido, pelo celular, em uma comunidade onde todos tenham um aparelho smartphone (comum entre os adolescentes). O recurso torna as aulas mais atrativas para os alunos. Esse é apenas um dos possíveis caminhos que as escolas devem cada vez mais utilizar, trazendo a tecnologia digital como uma ferramenta educacional para promover bons resultados no processo de ensino e aprendizagem. Entenda a importância da matriz visual para a comunicação nos dias de hoje, nas palavras do professor Anderson Lopes. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A LINGUAGEM VISUAL É A CRIAÇÃO DE IMAGENS PARA COMUNICAR ALGUMA IDEIA. SOBRE O ASSUNTO, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) A linguagem humana é somente verbal. B) O pensamento humano pode ser verbal ou visual. C) A fala e a comunicação visual são meios paralelos e independentes pelos quais os seres humanos trocam informações. D) Gesticulações não fazem parte da linguagem humana. 2. A REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA AFETOU OS PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO E AS RELAÇÕES HUMANAS. SOBRE O ASSUNTO, É INCORRETO AFIRMAR QUE: A) A velocidade da informação e sua grande escala de produção atualmente são percebidas como naturais. B) A imagem tem um caráter fundamental, e esperamos uma boa exposição dos produtos, endereços e modelos de apresentação. C) A escola não precisa dialogar com as novas expressões e meios de comunicação, uma vez que o conteúdo a ser ensinado não se altera. D) Graficacia se refere ao desenvolvimento do aspecto visual das comunicações humanas. GABARITO 1. A linguagem visual é a criação de imagens para comunicar alguma ideia. Sobre o assunto, é correto afirmar que: A alternativa "B " está correta. A linguagem humana é composta por elementos verbais e não verbais, inclusive a comunicação não visual. Além disso, nossos pensamentos também são imagéticos, isto é, constituídos de imagens. 2. A revolução tecnológica afetou os processos de comunicação e as relações humanas. Sobre o assunto, é incorreto afirmar que: A alternativa "C " está correta. A escola não pode ficar alheia às novas tecnologias e deve utilizar essas ferramentas a seu favor, de forma didática e estruturada. MÓDULO 3 Justificar a importância do uso das imagens na educação de surdos CONCEPÇÃO PEDAGÓGICA DA IMAGEM COMO SIGNO CONCEITUAL De diversas maneiras, os signos fazem parte da comunicação e das possibilidades de ensino. Por isso, é importante contemplá-los ao pensar nas ferramentas pedagógicas. Afinal, eles são os responsáveis por nossa possibilidade de comunicação e transmissão de saberes, uma vez que a própria linguagem é composta por signos. Os signos têm um papel muito importante em nossa atividade mental, e sua internalização torna nosso pensamento mais sofisticado. Como explica Rego (1995), todo signo representante de um conceito transforma-se em imagem, e esta passa a integrar nossa memória. Essa imagem na memória serve de facilitador sempre que for preciso invocar o signo e o conceito referido. Também podemos utilizar determinado signo quando pretendemos explicar um novo conceito. Isso facilita a compreensão daquilo que desejamos ensinar. A ilustração de uma abstração e mesmo a utilização direta de recursos visuais auxiliam na aprendizagem, permitindo maior compreensão e fixação do conteúdo. Na educação de surdos, usuários de uma língua visuoespacial, o recurso visual é ainda mais necessário. Consequentemente, importa que o educador compreenda e use todos os recursos possíveis na tarefa educacional. As pistas visuais, por exemplo, podem ajudar a organizar a agenda do dia ou rememorar atividades já realizadas e que remetem a determinado assunto. É possível reforçar com elas um valor emocional, além do educativo, proporcionando um aprendizado lúdico, mais prazeroso. javascript:void(0) Fonte:freepik PISTAS VISUAIS Representação gráfica com ilustração ou fotografia de tarefas e atividades. Pode ser feita em cartões ou em um mural, por exemplo. Ainda que poucos profissionais questionem a eficácia de recursos visuais para a melhor aprendizagem, sabemos que seu uso não é tão frequente. Muitos professores alegam não dispor de recursos de multimídia para criar aulas mais interessantes e interativas, pois as escolas em que atuam possuem, no máximo, um laboratório de informática. NO ENTANTO, EXISTEM RECURSOS IMAGÉTICOS BARATOS E AMPLAMENTE DISPONÍVEIS NAS ESCOLAS: OS LIVROS! A não utilização de livros ainda é uma realidade no Brasil e pelos motivos mais variados: desde a falta de adequação do conteúdo à realidade escolar até o medo de extravio ou dano causado por parte dos alunos. Fonte: freepik A utilização das ilustrações dos livros atuam como facilitadores. Ainda assim, é importante pensar que uma visita à bibliotecapode trazer grande benefício às aulas, tendo em vista a possibilidade de enriquecimento na explicação dos conteúdos. Por exemplo, em uma aula de Geografia, é possível apresentar fotos dos locais mencionados, ou uma imagem que remeta à explicação do conteúdo em algum estudo crítico. Na Biologia, o uso de figuras que representem os conceitos, muito abstratos para boa parte dos alunos, certamente facilita a compreensão. MENSAGEM SIMULTÂNEA Para retomarmos a discussão sobre a compreensão das imagens, podemos pensar em marcas ou rótulos nas embalagens de produtos como símbolos do cotidiano que são internalizados por todos. Fonte: PxHere De crianças a idosos, e até mesmo pessoas não alfabetizadas, conseguem reconhecer o produto por suas logomarcas. Obviamente, ao ver “Coca-Cola”, as pessoas não estão fazendo a junção das letras e sílabas pelo reconhecimento delas, mas utilizam a capacidade cognitiva de reconhecer as formas, os contornos e as cores que representam o produto. Fonte: PxHere A criação publicitária, com suas estratégias, é um bom exemplo de que nem sempre é necessário decodificar sequências de grafemas. Como pontua Lev Vygotsky, a linguagem escrita é constituída de diversos signos, que já são representações de sequências de fonemas, aos quais foram atribuídos por convenção social. Cada signo é internalizado com determinado significado e torna-se parte de nossa vida. javascript:void(0) Fonte: Wikipédia LEV VIGOTSKY (1896-1934) Psicólogo bielo-russo, bacharel em Direito, estudou Literatura, Arte e Psicologia, e foi no cruzamento desses saberes que se notabilizou, sobretudo ao teorizar sobre a Psicologia vinculada à linguagem e à aprendizagem. Foi um dos primeiros estudiosos a se interessar pelo desenvolvimento intelectual das crianças e de como este ocorre em função das interações sociais e das condições de vida. Sua corrente pedagógica é chamada de socioconstrutivismo ou sociointeracionismo, divergindo do que propunha o psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), mesmo que o admirasse. Para muitos teóricos, é possível conciliar ambas as visões. Aliás, reconhecendo essa capacidade de apreensão visual prévia à alfabetização, muitos alfabetizadores incentivam o uso de rótulos de embalagens, a fim de facilitar o processo de aprendizagem, pois as crianças sabem o nome dos produtos e das marcas antes de serem alfabetizadas. O uso de signos (não verbais, no caso da educação de surdos) é amplamente estudado e recomendado em todas as classes especiais, visto que a maioria dos conceitos utilizados em sala de aula pertence ao mundo das pessoas sem qualquer deficiência. Na educação de alunos cegos, os conceitos de signo como mediadores, que servem de suporte a eles, são apresentados por Nunes: ESTES SIGNOS MENCIONADOS, QUE, PARA O ALUNO CEGO, DEVEM SER ADAPTADOS EM RELEVO, ATUAM COMO ELEMENTOS DE MEDIAÇÃO, ESTABELECENDO CONEXÕES COM O TEXTO ESTUDADO, CONTRIBUINDO PARA QUE O ALUNO AMPLIE SEU CONHECIMENTO PARA OUTRAS ÁREAS DO SABER, AJUDANDO-O A COMPREENDER MELHOR O CONTEÚDO TRABALHADO PELO PROFESSOR NAS DIVERSAS DISCIPLINAS DO CURRÍCULO. Nunes 2012, não paginado. Na criança, os processos e a capacidade de abstração estão em desenvolvimento. Para Vygotsky, estes são concluídos aos 14 anos, quando a criança já será capaz de operar plenamente suas funções psíquicas, estabelecendo as ações lógicas básicas e complexas. Esses processos podem possuir características diferentes em alguns dos alunos, em virtude de suas experiências e idiossincrasias, o que justifica um tratamento mais voltado à realidade local dos aprendizes. IDIOSSINCRASIAS javascript:void(0) “Traço peculiar do comportamento, do temperamento ou da sensibilidade de uma pessoa, um grupo etc.” Fonte:Dicionário Aulete Digital. Em vista disso, os processos de ensino e aprendizagem utilizam um fluxo contínuo que é interpessoal e intrapessoal. INTERPESSOAL INTRAPESSOAL INTERPESSOAL O processo é interpessoal ou social porque envolve o aprendiz-criança e outras pessoas, muitas vezes adultos, mas também outras crianças com quem ele interage. INTRAPESSOAL O processo é intrapessoal porque a criança também precisa internalizar (acomodar) o que aprendeu e ser capaz de agir por meio disso, para que a aprendizagem seja eficaz. QUANDO O PAPEL DE MEDIADOR É COMPREENDIDO JUNTAMENTE COM OS PROCESSOS DE ASSIMILAÇÃO, PASSAMOS A REFLETIR SOBRE A EDUCAÇÃO E DESEJAMOS QUE AS ATIVIDADES NÃO SEJAM MERAS PRÁTICAS DIÁRIAS DE TRANSMISSÃO DE CONTEÚDO, PORÉM ATIVIDADES RELEVANTES. NISSO ENTRA A QUESTÃO DE BUSCAR DESCOBRIR EM QUE ESTÁGIO ESTÁ O ALUNO, COMO O USO DE ORGANIZADORES PRÉVIOS, QUE VÃO SERVIR DE PONTES COGNITIVAS, FACILITANDO A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA. Lemos; Rodrigues; Heckler, 2012, p. 10. UM POUCO DE HISTÓRIA Em sua pesquisa sobre a historicidade das imagens na educação de surdos, Sofiato (2016) nos apresenta uma gravura retratando um dos precursores da educação de surdos em ação pedagógica: o frei Pedro Ponce de Leon. Fonte: Wikipédia PEDRO PONCE DE LEON javascript:void(0) Monge beneditino precursor da educação de surdos em uma época em que se acreditava que isso não era possível. Ele criou uma escola de surdos em seu mosteiro na Espanha. A autora destaca que, apesar de não haver relatos detalhados da época, essa gravura demonstra como se percebia a importância do uso de imagens já no século XVI. Outro relato trazido por Sofiato (2016) é do educador Juan Pablo Bonet, que afirmava o seguinte: para os surdos, o processo de alfabetização é mais fácil com o uso de um alfabeto visual manual. A pesquisadora também menciona um médico inglês de nome John Bulwer, que defendia a língua manual como a única língua natural para os surdos. Infelizmente, há poucos registros dos procedimentos do passado. Fonte: Wikipédia JUAN PABLO BONET Padre espanhol, educador e pioneiro na educação de surdos. Bonet publicou o primeiro livro sobre a educação dos surdos em 1620, em Madrid, com o título Redução das Letras javascript:void(0) javascript:void(0) e Arte de Ensinar a Falar os Mudos. Fonte: Wikipédia JOHN BULWER Médico britânico, famoso pelos seus estudos sobre surdez. Foi o primeiro inglês a desenvolver um método de comunicação entre ouvintes e surdos. Se os recursos visuais são usados há séculos na educação dos surdos, resta-nos perguntar: POR QUE AINDA NÃO TEMOS MATERIAL VISUAL DESENVOLVIDO ESPECIFICAMENTE PARA ESSA EDUCAÇÃO? Parte da resposta está nas perdas causadas pela proibição das línguas de sinais e da atuação de professores surdos educados conforme a educação trabalhada até o Congresso de Milão. Como já mencionado, não há muitos indícios do que era feito ou como. Mas sabe-se que antes do período oralista, toda as relações e ensinamentos eram repassados de maneira “oral/sinalizada” de surdo para surdo. As narrativas e momentos de interação oportunizavam que o conhecimento fosse mantido vivo, visto que, diferentemente do que acontece hoje, o registro não era tão fácil ou disponível. O custo de produção de livros, fotografias e outros materiais era bem mais alto Hoje, a educação bilíngue é o parâmetro base, porém o oralismo e a chamada ditadura ouvintista buscaram destruir aquilo que havia sido construído pelos primeiros professores de surdos. Além disso, é um grave problema muitos professores que atuam hoje na educação de surdos não reconhecerem a necessidade de adaptação de suas metodologias ouvintes para aquelas que levam em conta a especificidade visual, como veremos a seguir. Mesmo em escolas de surdos, há professores que utilizam uma metodologia expositiva, baseada na língua oral, ou seja, os professores apenas escrevem conceitos no quadro e esperam que os alunos os compreendam. Fonte:freepik USO DE IMAGEM NA EDUCAÇÃO DE SURDOS Fonte: Freepik Muitas das práticas pedagógicas ainda comuns não levam em conta a diversidade existente e abrem pouco espaço para dialogar com as realidades a seu redor. Há poucas exceções,principalmente quanto às avaliações feitas para todos, da mesma maneira e ao mesmo tempo. Os espaços para avaliações menos generalistas ainda são poucos. Quando ocorrem, são carregados de preconceitos, rotulando os alunos como aqueles que não aprendem como os demais. A “diferença” muitas vezes é considerada negativa. PARA ALÉM DA QUESTÃO DA LÍNGUA, PORTANTO, O BILINGUISMO NA EDUCAÇÃO DE SURDOS REPRESENTA QUESTÕES POLÍTICAS, SOCIAIS E CULTURAIS. NESSE SENTIDO, A EDUCAÇÃO DE SURDOS EM UMA PERSPECTIVA BILÍNGUE DEVE TER UM CURRÍCULO ORGANIZADO EM UMA PERSPECTIVA VISUAL ESPACIAL PARA GARANTIR O ACESSO A TODOS OS CONTEÚDOS ESCOLARES NA PRÓPRIA LÍNGUA DA CRIANÇA, A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA. Quadros, 2005, p. 34-35. De maneira geral, os surdos utilizam uma linguagem ou uma língua visuoespacial para sua comunicação. Por meio dela expressam seus sentimentos, suas opiniões e suas vontades, como também dialogam com seus pares. Toda comunicação que pretenda levar em conta quem são os sujeitos que utilizam a língua de sinais deve ter em mente que a visão é o meio pelo qual ela deve passar. Só será possível contemplarmos efetivamente o público surdo quando pensarmos na matriz visual e deixarmos um pouco de lado nossa própria experiência ouvinte. Se a forma como os surdos organizam seu pensamento é visual, dentro de sua própria realidade, os professores ouvintes devem se lembrar disso ao preparar suas aulas. LINGUAGEM Neste caso, referimo-nos à linguagem para contemplar crianças surdas que chegam à escola sem terem sido devidamente expostas a uma língua de sinais, apresentando lacunas em sua aquisição da primeira língua. TENDO EM VISTA O CARÁTER ESPACIAL-VISUAL DA LÍNGUA DE SINAIS E, NATURALMENTE, O MAIOR DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES javascript:void(0) RELACIONADAS À MEMÓRIA E AO RACIOCÍNIO VISUAIS, AS ATIVIDADES QUE ENVOLVERAM IMAGENS E O CONTATO COM OBJETOS DE SIGNIFICADO HISTÓRICO FORAM AS QUE OBTIVERAM MELHORES RESULTADOS E QUE GERARAM MAIOR INTERESSE E PARTICIPAÇÃO DA TURMA. Neves, 2009, p. 7907. Apesar de muito frequentemente se tratar das necessidades educacionais dos surdos, poucos professores usam material visual (não voltado para a escrita alfabética) em suas aulas, conforme relatam muitos alunos ao relembrarem sua trajetória escolar. Esse fato se deve, muitas vezes, à trajetória docente ouvinte, que sempre contou com alunos ouvintes, posto que a maioria das aulas ministradas em escolas regulares e em classes regulares é expositiva, nas quais somente são passados conceitos escritos na lousa. Há, ainda, um fator importante: a formação desses docentes. Saiba mais sobre a importância das imagens na educação de surdos e sobre alguns problema de inadequação em seu uso. EDUCAÇÃO BILÍNGUE NÃO SE ESGOTA EM TRADUÇÃO Fonte: Freepik As aulas puramente orais ou mesmo traduzidas tornam-se pesadas e carregadas de conteúdo para os alunos surdos, que necessitam de outras didáticas com recursos imagéticos, capazes de beneficiar, ao mesmo tempo, os alunos ouvintes. A utilização de suporte visual complementa e enriquece a educação regular nas salas de aula para todos os presentes, e não apenas para surdos. Mas, para esses alunos, o suporte visual é essencial. Por exemplo, muitos conceitos não possuem um sinal, ou há sinais não conhecidos por todos. Quando se trabalha com palavras na educação bilíngue, é importante apresentar palavra, sinal e imagem. EXEMPLO Imagine uma aula sobre o Uruguai: país da América Latina que talvez seja desconhecido por alguns alunos. Para que todos tenham acesso a esse conteúdo, o professor pode apresentar o sinal, seguido do nome do país, que pode ser soletrado manualmente, e, por último, um mapa. Assim, haverá diferentes caminhos para se ter acesso ao conteúdo. Na literatura de educação bilíngue, alguns professores contam trabalhar com linhas do tempo em História, a fim de explicar visualmente a contagem de tempo. Outra possibilidade é apresentada no relato de Neves: UM GRANDE CARTAZ DE PAPEL PARDO FOI DIVIDIDO EM CINCO PARTES, E, EM CADA UMA DELAS, FORAM COLADAS IMAGENS QUE REPRESENTAVAM AS CARACTERÍSTICAS DA EUROPA, DA ÁSIA, DA ÁFRICA E DA AMÉRICA NO SÉCULO XVI. Neves 2009, p. 7908. Como já vimos, todos os aprendizes são beneficiados por uma aula que utilize diversos recursos. No caso de imagens, especificamente, o professor proporciona uma dinâmica diferenciada, com uma quebra da linearidade de uso de apenas uma forma de comunicação. Muitos livros de linguagens trazem figuras divertidas exatamente para que a comunicação ocorra por diferentes vias. Como já exposto, diversos termos utilizados em sala de aula não têm um sinal oficial (dicionarizado) . Por isso, muitos professores sinalizantes de Libras ou com ajuda de um intérprete apenas escrevem a palavra com o alfabeto manual. Fonte:freepik A utilização de imagens auxiliam no aprendizado e comunicação. Como no exemplo da aula sobre o Uruguai, é necessário que qualquer conceito seja apresentado de maneira a gerar significado para o aluno. O mero digitalizar ou o soletrar de uma palavra (e isso também serve para o aluno ouvinte), mesmo que decorada pelo estudante, não significa compreensão, mas apenas reprodução. Cabe ao educador ajudar na construção desse significado a ser apropriado pelo aluno. As dúvidas quanto ao significado de palavras e se existe ou não seu sinal em Libras servem de momento de construção pedagógica e podem ser aproveitadas para um aprendizado significativo. A compreensão visual deve ser aliada da compreensão verbal para a leitura de mundo por parte dos surdos. Privá-los desse recurso atrapalha seu processo de aprendizagem. Não à toa, mesmo livros adultos utilizam ilustrações. OBSERVAMOS QUE A IMAGEM PARECE SER A PRIMEIRA ESTRATÉGIA DESSES SUJEITOS PARA A LEITURA DO CONTEÚDO VERBAL E, QUANDO NÃO HÁ PISTAS SUFICIENTES NA IMAGEM, AS INFERÊNCIAS DIMINUEM. NO ENTANTO, QUANDO HÁ MAIS QUADRINHOS COM IMAGENS, FORTALECEM-SE AS PISTAS QUE ESSES SUJEITOS NECESSITAM PARA COMPREENDER O TEXTO. Vieira; Araújo, 2012, p. 226. RESULTADOS DA INADEQUAÇÃO PEDAGÓGICA Fonte: freepik Relatos de professores em salas inclusivas com alunos majoritariamente ouvintes, muitas vezes, trazem avaliações reducionistas quanto à capacidade de aprendizado desses surdos, que não conseguem acompanhar o ritmo dos demais. Quando o aluno não aprende, mesmo com o acompanhamento em tempo integral de um profissional que sabe Libras, professores, supervisores e direção acabam relacionando as dificuldades a uma baixa cognição do estudante. Muitos dos problemas de baixo rendimento escolar vivenciados por alunos surdos, porém, poderiam ser superados por uma experiência educacional que privilegiasse a visualidade. Infelizmente, ainda são poucos os exemplos positivos na escolarização de surdos, em grande parte, pela falta de preparo e pelo contexto em que esses alunos estão inseridos. Muitos professores trabalham com surdos sem qualquer preparo ou suporte teórico. Prefeituras e governos estaduais abrem vagas, mas a inclusão sem capacitação de profissionais não é sinônimo de integração e pode mesmo levar a visões equivocadas. A MOTIVAÇÃO PARA ESSA COMPLEXA SITUAÇÃO TEM UMA ALEGAÇÃO ANTIDISCRIMINATÓRIA, EM FAVOR DA INTERAÇÃO SOCIAL DE SURDOS. NO ENTANTO, OS BENEFÍCIOS EDUCACIONAIS DA INTEGRAÇÃO DE APRENDIZES SURDOS EM CLASSES SERIADAS, SEM QUE TENHAM DESENVOLVIDO CAPACIDADE DE USO DO PB [PORTUGUÊS BRASILEIRO] E, EM MUITOS CASOS, DA LIBRAS, EQUIVALEM À SUBMERSÃO EM UM AMBIENTE SEM FERRAMENTAS ESPECÍFICAS PARA UM TRABALHO ESPECIALIZADO. Soares, 2020, p. 70. Felizmente, a Libras tem mais visibilidade atualmente. A cada dia, mais pessoas abraçam o bilinguismo e incorporam práticas surdas na educação bilíngue. Nas palavras da importante pesquisadora da área e primeira doutora surda do Brasil: NÃO NOS IMPORTA QUE NOS MARQUEM COMO REFUGOS, COMO EXCLUÍDOS, COMO ANORMAIS. IMPORTA-NOS QUEM SOMOS, O QUE SOMOS E COMO SOMOS. A DIFERENÇA SERÁ SEMPREDIFERENÇA. NÃO TENTEM COLOCAR TODOS OS CAPITAIS DO MUNDO PARA DECLARAR-NOS DIVERSOS, PORQUE NÃO É ISSO QUE ESTAMOS SIGNIFICANDO. Perlin, 2007, p. 10. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. NO PROCESSO EDUCACIONAL DE ALUNOS SURDOS OU OUVINTES, A RELAÇÃO DO SIGNO COM O APRENDIZADO É: A) Fundamental, pois pensamos por meio de signos. B) Dispensável, já que é desnecessário sinalizar para pensar e aprender. C) Arbitrária e necessária à metodologia de ensino. D) Inescapável, pois é preciso decorar para aprender. 2. IMAGINE A SEGUINTE SITUAÇÃO: O PROFESSOR ESTÁ MINISTRANDO SUA AULA E SE DEPARA COM A DÚVIDA DE UM ALUNO SURDO QUANTO A UMA PALAVRA DA LÍNGUA PORTUGUESA DESCONHECIDA POR ELE. PARA SANAR A DÚVIDA DO ESTUDANTE, O EDUCADOR DIGITALIZA ESSA PALAVRA COM O ALFABETO MANUAL. SABEMOS QUE A ESTRATÉGIA DO DOCENTE NÃO DEVE SER A ÚNICA ABORDAGEM DE ENSINO EM SALA DE AULA DIANTE DESSA SITUAÇÃO, PORQUE: A) A palavra pode ter um sinal correspondente, e é importante que o aluno surdo o conheça. B) Não traz significação para o aluno surdo; logo, não produz conhecimento ou aprendizagem real. C) Muitas palavras demandam tempo para serem soletradas, interrompendo a dinâmica da aula. D) É importante que o aluno surdo pesquise por conta própria o que não conhece. GABARITO 1. No processo educacional de alunos surdos ou ouvintes, a relação do signo com o aprendizado é: A alternativa "A " está correta. O signo não apenas facilita a compreensão de um conceito e sua assimilação na memória, mas representa um conceito, que pode integrar a memória como uma imagem. Por isso, podemos afirmar que pensamos por signos, assim como pensamos por imagens. Disso resulta a importância da relação entre signo e aprendizado. 2. Imagine a seguinte situação: O professor está ministrando sua aula e se depara com a dúvida de um aluno surdo quanto a uma palavra da língua portuguesa desconhecida por ele. Para sanar a dúvida do estudante, o educador digitaliza essa palavra com o alfabeto manual. Sabemos que a estratégia do docente não deve ser a única abordagem de ensino em sala de aula diante dessa situação, porque: A alternativa "B " está correta. A compreensão e a apreensão – ou seja, a assimilação de um conhecimento – dependem de significação. Se um dado não tiver significado para o aluno surdo, este pode até memorizá-lo, mas isso será apenas um processo de reprodução. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Diariamente, somos bombardeados por imagens. No entanto, pouco pensamos sobre como somos afetados e como nossa percepção estética é alterada em relação àquela do passado. Partindo das compreensões da semiótica, pensamos no uso dos signos e tornamos nosso entendimento mais significativo a respeito da utilização massiva de imagens ao nosso redor. Ao estudarmos as matrizes da linguagem e do pensamento (sonora, visual e verbal), fundamentamos nossa compreensão sobre a importância da linguagem visual na educação de surdos. Mesmo com as potencialidades das novas tecnologias, que também reforçam a matriz visual no mundo contemporâneo, é importante compreender que há várias possibilidades a serem exploradas quando se ajustam as práticas educadoras às novas realidades. A educação precisa de dinamismo, pois os alunos estão inseridos na sociedade, que está em constante transformação. O medo do novo ou a falta de percepção sobre a grandeza das mudanças que ocorrem no mundo é um problema que impede a transformação da escola em ambiente realmente inclusivo. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS CAMPOS, R. A pixelização dos muros: graffiti urbano, tecnologias digitais e cultura visual contemporânea. Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia, Porto Alegre, v.19, n. 2, p. 543-566, maio/ago. 2012. DONDIS, D. A. Sintaxe da linguagem visual. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. KAHANE, J. The form of design: deciphering the language of mass produced objects. Amsterdã: BIS Publishers, 2015. KANDINSKY, W. 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