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Dafne Freitas - Odontologia - UFAM Patologia Bucal Doenças da Polpa e do Periápice Alterações inflamatórias e regressivas da polpa: pulpite, dentina secundária e terciária e calcificações pulpares PULPITE Normalmente, as pulpites ocorrem devido à destruição dos tecidos mineralizados dentários pela cárie com processos de descalcificação do esmalte e da dentina e pela degradação e destruição da função orgânica do dente. ● A degeneração e morte dos prolongamentos dos odontoblastos serve como sinal para o tecido conjuntivo pulpar —-> ocorre a reação inflamatória; A resposta inicial da polpa dentária à lesão não é diferente significativamente das observadas em outros tecidos —--> o resultado final pode ser diferente devido à rigidez das paredes dentinárias da câmara pulpar. Como ocorre? ● Quando um estímulo externo atinge um nível nocivo, ocorre degranulação dos mastócitos, diminuição do fluxo de nutrientes e dano celular. ● São liberados diversos mediadores inflamatórios (p. ex., histamina, bradicinina, neurocinina, neuropeptídeos e prostaglandinas) -----> estes mediadores causam vasodilatação, aumento do fluxo sanguíneo e extravasamento vascular com edema. Nos tecidos normais ----> o aumento do fluxo sanguíneo promove a cicatrização pela remoção dos mediadores inflamatórios e normalmente ocorre a tumefação dos tecidos lesionados. Na polpa dentária —--> como está situada em uma área muito confinada, o aumento da pressão do fluido em geral está localizado na área da polpa inflamada imediatamente adjacente à dentina afetada. O aumento da pressão intersticial nas áreas de inflamação leva ao aumento do retorno do fluxo para os capilares dos tecidos adjacentes não inflamados e ao aumento da drenagem. Dessa maneira, o aumento da pressão do fluido proveniente da inflamação é compensado e não leva a um aumento generalizado da pressão dos fluidos pulpares, prevenindo com eficácia o “autoestrangulamento”. A resposta pulpar aos estímulos nocivos tem o propósito de eliminar quaisquer organismos invasores, remover restos celulares e limitar o dano tecidual. ● Os mecanismos de defesa na polpa dentária funcionam bem na grande maioria dos casos e raramente resultam em necrose generalizada. ● Muitas vezes, consegue-se a cura de abscessos pulpares localizados após a formação de dentina reparadora ou com o cessar do estímulo nocivo. ● Danos pulpares localizados graves podem sobrecarregar o sistema e se estender progressivamente para a porção apical, potencialmente causando necrose pulpar generalizada. Em lesões cariosas, quando bactérias atingem a dentina terciária, então a barreira de defesa foi atravessada, causando um grau de pulpite severa e uma chance mínima de recuperação da polpa. Quatro tipos principais de estímulos nocivos são causas frequentes da inflamação pulpar: Dano mecânico —-> incluem os acidentes traumáticos, danos iatrogênicos decorrentes de procedimentos odontológicos, atrição, abrasão e alterações barométricas. Lesão térmica —--> podem ser transmitidos por restaurações metálicas de grande extensão não isoladas ou podem ocorrer durante procedimentos odontológicos, tais como o preparo de cavidades, polimentos e reações químicas exotérmicas dos materiais dentários. Irritação química —--> podem surgir da erosão ou pelo uso inadequado de materiais odontológicos ácidos. Efeitos bacterianos —--> podem causar danos à polpa por toxinas ou pelo contato direto através de cáries ou pelo transporte via vascular. É a principal causa. ● Agentes microbianos —-> responsáveis pela maioria das alterações pulpares; ● A contaminação, de início limitada à dentina, estende-se depois à polpa e ao periápice —-> se não houver intervenção; Classificação da pulpite O melhor sistema de classificação é aquele que orienta o tratamento apropriado —-> pulpite reversível e pulpite irreversível; ● Aguda ou crônica; ● Localizada ou generalizada; Dafne Freitas - Odontologia - UFAM ● Infectada ou estéril; Pulpite reversível —--> denota um grau de inflamação pulpar no qual o tecido é capaz de retornar a um estado normal de saúde se os estímulos nocivos forem retirados. Pulpite irreversível —--> significa que um nível maior de inflamação se desenvolveu, no qual a polpa dentária sofreu um dano além da possibilidade de recuperação —--> a invasão bacteriana é o limite entre a pulpite reversível e a irreversível. Características clínicas Pulpite reversível Reação pulpar inflamatória aguda branda de baixa intensidade e localizada; Exposição a temperaturas extremas —-> dentes apresentam: ● Dor súbita de intensidade leve a moderada (pulpalgia) de curta duração; ● Apresenta uma resposta maior aos estímulos frios (p. ex., gelo, bebidas e ar frio); ● O contato com alimentos doces ou ácidos e com refrigerantes também pode causar dor; ● A dor não ocorre na ausência de estímulos e regride dentro de alguns segundos após a remoção dos mesmos. ● Responde ao teste pulpar elétrico em níveis mais baixos de corrente do que em um dente de controle apropriado. Estão ausentes —--> a mobilidade e a sensibilidade à percussão. Se for permitida a progressão da pulpite, então a duração da dor desencadeada pelo estímulo pode se tornar maior e a polpa vir a ser irreversivelmente afetada. Características histopatológicas A polpa geralmente demonstra hiperemia, edema (mais discreto) e infiltrado de células inflamatórias leves a moderado subjacentes à região dos túbulos dentinários afetados. Pode ser observada dentina terciária na parede dentinária adjacente e, ocasionalmente, são encontradas células inflamatórias agudas dispersas. Pulpite reversível. Polpa dentária exibindo hiperemia e edema. A dentina adjacente foi recentemente cortada durante a execução de uma restauração dentária. Prognóstico e tratamento É tratada pela remoção do irritante local. Às vezes é necessário o uso de analgésicos. O prognóstico da pulpite reversível é bom se o tratamento for realizado o quanto antes. O dente deve ter a sua vitalidade testada após a diminuição dos sintomas, para assegurar que não tenha ocorrido um dano irreversível. Pulpite irreversível Progressão da pulpite focal/localizada reversível, podendo constituir uma exacerbação aguda de pulpite crônica já existente. Nos estágios iniciais —-> apresentam uma dor aguda, difusa, contínua e acentuada ao estímulo térmico e a dor continua após o estímulo ter sido removido. ● O frio é especialmente desagradável, ainda que o calor ou o doce, além dos alimentos ácidos, também possam provocar dor. ● A dor pode ser espontânea ou contínua e pode ser exacerbada quando o indivíduo se deita ou abaixa a cabeça. ● O dente responde ao teste pulpar elétrico em níveis mais baixos de corrente; ● A dor pode ser facilmente relacionada ao dente afetado —--> com o aumento do desconforto, o paciente torna-se incapaz de identificar o dente acometido no quadrante em questão. Nos estágios avançados —--> a dor aumenta em intensidade, sendo relatada como uma pressão pulsátil, que pode deixar os pacientes acordados durante a noite —-> exacerba quando o indivíduo se deita ou abaixa a cabeça; ● O calor aumenta a dor —--> o frio promove o seu alívio. ● O dente responde ao teste pulpar elétrico em níveis mais altos de corrente ou não responde a ele. ● A mobilidade e a sensibilidade à percussão estão geralmente ausentes —--> a inflamação significativa ainda não se estendeu para a região apical. Os casos dolorosos de pulpite aguda são aqueles que são percebidos mais facilmente tanto pelos pacientes quanto pelos profissionais —--> sinais clássicos da inflamação (dor, calor, rubor, edema e perda da função); ● O padrão de sintomatologia é altamente variável e, muitas vezes, o paciente pode não apresentar sintomas. Pulpites graves com formação de abscesso e necrose podem ser assintomáticas, enquanto uma pulpite moderada pode causar uma dor lancinante. Características histopatológicas Nos estágios iniciais ● Dilatação dos vasos pulpares; ● Edema no tecido conjuntivo; ● Pode haver presença de abscessos intrapulpares; ● Muitasvezes demonstra congestão das vênulas, o que resulta em necrose focal —-> essa zona necrótica contém leucócitos polimorfonucleares e histiócitos; Dafne Freitas - Odontologia - UFAM ● O tecido pulpar circundante geralmente exibe fibrose e um infiltrado misto de plasmócitos, linfócitos e histiócitos. Nos estágios avançados ● Processo inflamatório envolve a maior parte da polpa; ● Presença ainda maior de abscessos intrapulpares; ● Necrose e liquefação da polpa (pulpite supurativa aguda); ● Presença de bactérias; Pulpite irreversível. Polpa dentária exibindo infiltrado inflamatório agudo consistindo predominantemente em leucócitos polimorfonucleares. Pulpite irreversível. A polpa dental exibe uma área de fibrose e inflamação crônica periférica à zona de formação do abscesso. Mecanismo da dor Exposição pulpar pequena —--> falta de drenagem do exsudato inflamatório —--> aumento da pressão intrapulpar —--> dor aguda e intensa —--> necrose pulpar; Prognóstico e tratamento São tratadas pela extração do dente ou por tratamento endodôntico. Pulpite crônica Reação inflamatória que resulta de uma agressão de baixa intensidade e longa duração ou da quiescência de um processo agudo; Características clínicas Dor surda, moderada ou assintomática; Sintomas brandos e intermitentes aparecendo durante um longo período tempo; ● À medida que a polpa se deteriora, as respostas à estimulação térmica e elétrica vão diminuindo; ● Resultado final: morte da polpa; Características histopatológicas ● Infiltrado de linfócitos e plasmócitos; ● Se houver exacerbação aguda do processo crônico, os neutrófilos são evidentes —--> inflamação crônica agudizada; ● Capilares proeminentes; ● Fibrose da polpa; Pulpite crônica hiperplásica (pólipo pulpar) É um padrão único de inflamação pulpar. Ocorre em crianças e adultos jovens que apresentam grande exposição da polpa, nas quais muitas vezes toda a dentina do teto da câmara pulpar está ausente. Os dentes mais envolvidos são os molares decíduos ou permanentes, que possuem câmaras pulpares amplas nesta faixa etária. Como ocorre? A irritação mecânica e a invasão bacteriana resultam em um grau de inflamação crônico, que produz um tecido de granulação hiperplásico, o qual extrui da câmara pulpar e, muitas vezes, preenche o defeito dentinário associado. Pulpite crônica hiperplásica. Tecido de granulação eritematoso extruindo da câmara pulpar do primeiro molar inferior. O ápice pode estar aberto, reduzindo a chance de necrose pulpar secundária à compressão venosa. O dente é assintomático —--> exceto pela possível sensação de pressão quando colocado em função mastigatória —--> o dente que é a fonte da dor pulpar pode ser difícil de ser identificado em alguns casos. Apesar de a dor pulpar nunca cruzar a linha média, ela pode ser referida como sendo de arco a arco, tornando o teste pulpar dos dois arcos necessários nos casos difíceis. Pulpite crônica hiperplásica. Imagem macroscópica demonstrando tecido pulpar hiperplásico preenchendo uma extensa lesão cariosa coronária. As setas esboçam o que previamente era o teto da câmara pulpar. Dafne Freitas - Odontologia - UFAM Características histopatológicas Apresenta um capuz de tecido de granulação inflamado subagudo, que preenche completamente o espaço que a câmara pulpar ocupava, e histopatologicamente se assemelha ao granuloma piogênico. ● Infiltrado de linfócitos e plasmócitos; ● Tecido pulpar profundo apresenta infiltrado inflamatório crônico; A superfície do pólipo pode ou não ser coberta por um epitélio escamoso estratificado, que migra da gengiva adjacente ou se origina do epitélio descamado contido nos fluidos orais. Calcificações pulpares são comuns tanto na porção radicular quanto na coronária —--> muitas vezes a porção apical do tecido pulpar permanece normal, apresentando fibrose e inflamação mínimas. Pulpite crônica hiperplásica. Tecido de granulação cronicamente inflamado preenchendo a destruição coronária. Observe a camada de epitélio escamoso estratificado. Características radiográficas Dente com a polpa destruída. Diagnóstico É direto e facilmente correlacionado ao dente acometido, que pode ser estimulado para produzir os sintomas associados. Dor pulpar —--> realizado com a combinação entre a apresentação clínica e as respostas dos dentes à percussão, aos estímulos térmicos e aos testes pulpares elétricos. Tratamento São tratadas pela extração do dente ou por tratamento endodôntico. Prognóstico É algumas vezes menor do que o desejado; ● Quando os procedimentos demonstram que a polpa está sadia, os resultados são altamente confiáveis. ● Quando o teste pulpar é positivo para a pulpite irreversível, o exame histopatológico pode demonstrar nenhuma evidência aparente de doença pulpar. Várias desordens, tais como dor miofascial, neuralgia do trigêmeo, neuralgia facial atípica, enxaquecas, dores de cabeça, patologias nasais ou sinusais e angina pectoris, foram relatadas como sendo parecidas à dor pulpar em alguns pacientes. Necrose Necrose de liquefação —--> comum em áreas de infecção bacteriana; Necrose de coagulação —--> geralmente por lesão traumática; ● Rompimento do feixe vasculovenoso —-> isquemia tecidual; ● Perda do núcleo com a manutenção da morfologia celular; Necrose gangrenar —-> em dentes traumatizados, cujas polpas sofreram necrose de coagulação, estéril, que tornam-se infectadas posteriormente; Diagnóstico Geralmente assintomática —--> episódio prévio de dor; ● Em casos de periodontite apical aguda ou abscesso perirradicular a dor pode estar presente —-> o dente em si não dói, o que dois são os tecidos periodontais; Presença de cáries ou restaurações extensas atingindo a polpa; ● Em necrose por trauma a coroa pode estar hígida; Testes pulpares —-> dente não responde; Testes perirradiculares —-> percussão e palpação (resposta + ou -) —--> depende do status dos tecidos perirradiculares; Achados radiográficos Pode-se observar presença de cáries, coroa fraturada e/ou restaurações extensas —-> na necrose traumática a coroa pode estar íntegra; Ligamento periodontal pode estar: ● Normal; ● Espessado; ● Lesão perirradicular; Gangrena pulpar Gangrena seca —-> polpa necrosada não purulenta —--> pode ser por traumatismo; DENTINA SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA A formação da dentina ocorre durante toda a vida. Dafne Freitas - Odontologia - UFAM Dentina primária —-> formada antes da formação completa da raiz —-> esse processo é seguido pela formação da dentina secundária. ● Durante a formação de dentina primária, os odontoblastos incorporam diversos fatores de crescimento, tais como fator transformador de crescimento B (TGF-B), na matriz intertubular —-> estes fatores de crescimento podem ser liberados secundariamente devido à presença de lesão dentinária ou restaurações cavitárias e podem estar envolvidos na sinalização para a diferenciação da segunda geração de odontoblastos. Dentina secundária —-> os mesmos odontoblastos que formaram a dentina primária permanecem funcionais e produzem a dentina secundária. ● Esse tipo de dentina, denominada dentina secundária fisiológica, ocorre como resultado do envelhecimento. ● Com o avançar da idade, a deposição de dentina secundária leva a uma diminuição da câmara pulpar e do sistema de canais. ● A deposição da dentina é lenta e gradual, mas de fato aumenta após os 35 a 40 anos de idade. ● A formação da dentina secundária ocorre de maneira tão consistente que a proporção da espessura da dentina retirada em três diferentes níveis radiculares está intimamente relacionada à idade —-> as câmaras pulpares diminuem significativamente em altura, mas não extensivamente em largura. ● O processo é mais acentuado em homens e tem sido associado positivamente a doenças calcificantes (p. ex., artrite, gota, cálculos renais, cálculos da vesícula, aterosclerose, hipertensão). ● A deposição no interior da câmara pulpar muitas vezes não é totalmente uniforme —-> nos dentes posteriores, uma maior deposição é encontrada no soalho pulpar, em menor grau no teto emenor ainda nas paredes laterais. No dente em função —--> a deposição inicia-se na porção coronária do dente e progride para as regiões apicais. Nos dentes impactados —--> a deposição de dentina parece se iniciar nas regiões apicais e progredir em direção à coroa. Características clínicas e radiográficas A deposição resulta na diminuição do tamanho das câmaras pulpares e dos canais radiculares. Usada como uma estimativa da idade; ● Parece reduzir a sensibilidade do dente acometido, a suscetibilidade a cáries em dentina e o trauma aos procedimentos odontológicos; ● Diminui a probabilidade de exposição pulpar durante os procedimentos operatórios; ● Aumenta a dificuldade de localização da câmara pulpar e dos canais radiculares durante o tratamento endodôntico. ● Lesões inflamatórias extensas podem envolver mais de um ápice —--> o tamanho dos canais pode ser usado para ajudar na determinação da origem do foco da infecção, pois o canal pode apresentar-se mais largo no dente que se tornou não vital mais cedo. Dentina secundária fisiológica. Abscesso periapical com os quatro dentes não respondendo aos testes pulpares elétricos. A diminuição da deposição de dentina secundária fisiológica no incisivo central direito (seta) delimitou a origem da infecção; o tratamento endodôntico deste dente resolveu a lesão. Características histopatológicas Consiste em dentina tubular regular que é sobreposta à dentina primária —-> estas duas camadas de dentina podem ser separadas por uma linha de demarcação, muitas vezes observada pela curvatura dos túbulos. Dentina secundária fisiológica. Uma linha de demarcação bem-definida (seta) separa a dentina primária da dentina secundária fisiológica. Com o avançar da idade, à medida que os odontoblastos sofrem alterações degenerativas, a dentina secundária fisiológica torna-se mais irregular com menor quantidade de túbulos. Dentina terciária (reacional, reparadora, irregular ou de irritação) —--> deposição de nova dentina localizada em áreas de lesão focal. ● É organizada de maneira mais aleatória; ● Pode ocorrer em resposta aos seguintes fatores: ● Atrição; ● Fratura; ● Erosão; ● Abrasão; ● Cárie; ● Doença periodontal; Dafne Freitas - Odontologia - UFAM ● Lesão mecânica decorrente de procedimentos odontológicos; ● Irritação provocada por materiais odontológicos; A lesão ao processo odontoblástico periférico é tudo que é necessário para iniciar a formação de dentina terciária. ● Estímulo suave a moderado —--> a dentina terciária é produzida pelos odontoblastos sobreviventes, sendo denominada dentina reacional —--> possui uma aparência mais regular e é mais contínua com os túbulos das dentinas primária e secundária. ● Estímulo mais intenso e levar à morte dos odontoblastos primários —--> uma nova geração de odontoblastos pode surgir das células indiferenciadas da polpa (células subodontoblásticas ou dos pericitos) e continuar a formar dentina terciária que é denominada dentina reparadora —--> a camada inicial é atubular e é conhecida como dentina de interface (fibrodentina) —--> não é contínua com as dentinas primária, secundária ou reacional —--> auxilia na proteção da polpa de estímulos externos. ● Quando os odontoblastos primários morrem, os seus túbulos dentinários são preenchidos por processos odontoblásticos degenerados, sendo denominados tratos mortos —--> túbulos são geralmente isolados da polpa pela dentina reparadora. A desmineralização da dentina durante o processo carioso também libera quantidades significativas de cálcio e fosfato —--> esses minerais se difundem em direção à polpa e auxiliam na esclerose dos túbulos na forma de fosfato de cálcio —--> a dentina não só atua como a espinha dorsal do dente, mas também como um reservatório de materiais bioativos à espera de serem liberados durante momentos críticos de lesão. Características clínicas e radiográficas Radiograficamente, os dentes acometidos exibem um acelerado fechamento da câmara pulpar e dos canais radiculares, quando comparados aos dentes adjacentes ou contralaterais —--> o espaço pulpar pode aparentar estar completamente obliterado ou acentuadamente reduzido. A B Metamorfose cálcica. A, Incisivo central superior esquerdo decíduo exibindo uma coloração amarelada. B, Radiografia do mesmo paciente mostrando a completa calcificação das câmaras pulpares e dos canais dos incisivos superiores decíduos. Essa alteração em geral se sucede ao trauma do dente e pode ser visto tão logo sejam completados 3 meses do episódio traumático; entretanto, a condição em geral não é diagnosticada por cerca de 1 ano. Os dentes acometidos pela metamorfose cálcica são muitas vezes diagnosticados clinicamente pela coloração amarelada da coroa; Características histopatológicas A qualidade e a aparência da dentina terciária dependem da gravidade dos estímulos nocivos que promoveram a sua formação. A dentina terciária está localizada na terminação pulpar dos processos odontoblásticos que foram afetados. Dentina terciária reparadora. Deposição de dentina terciária localizada (região inferior) na porção pulpar dos túbulos dentinários afetados pelo processo carioso. Leve estímulo (como abrasão ou atrição) —--> a dentina reacional exibe uma deposição lenta caracterizada por túbulos que estão em continuidade com a dentina secundária, sendo somente um pouco irregulares. Dano mais grave (p. ex., uma lesão cariosa de progressão rápida) —--> a dentina reparadora é formada, um processo que ocorre mais rapidamente e consiste em uma fina camada de interface dentinária, na qual é depositada dentina irregular, com túbulos bastante desorganizados e dispersos Tratamento e prognóstico Em estudos com dentes apresentando metamorfose cálcica, a grande maioria dos dentes acometidos nunca desenvolve características clínicas ou radiográficas sugestivas de doença inflamatória periapical —--> o tratamento endodôntico deverá ser realizado apenas se houver lesões periapicais ou na presença de teste de vitalidade negativo. ● Se o teste de vitalidade for positivo, então a reavaliação periódica parece ser uma atitude prudente. Mesmo se a luz de um canal não puder ser identificada radiograficamente, a terapia endodôntica convencional em geral consegue localizar e preparar o canal radicular. Devido à redução acentuada do espaço do canal radicular, a localização do canal pulpar pode ser difícil e Dafne Freitas - Odontologia - UFAM cuidados devem ser tomados durante a preparação do acesso para prevenir a perfuração. Se a terapia endodôntica não obtiver sucesso, então a cirurgia periapical pode ser realizada nos casos de doença periapical inflamatória evidente. Para melhorar a estética dentária, coroas totais são recomendadas para dentes anteriores escurecidos que possuam restaurações extensas. ● Caso contrário, o clareamento muitas vezes pode resolver com eficácia o escurecimento. CALCIFICAÇÕES PULPARES Calcificações no interior da polpa não são raras, mas a sua frequência é difícil de ser determinada. Somente são diagnosticadas radiograficamente quando ultrapassam 200 μm de diâmetro; Causas ● Forte associação com as pulpites crônicas de longa duração; ● Prevalência aumenta com a idade; ● Alguns casos parecem ser de desenvolvimento com uma tendência familiar. Os três tipos de calcificações pulpares são: Todas as calcificações pulpares iniciam-se como corpos livres no interior do tecido pulpar, mas muitas podem tornar-se aderidas ou embutidas nas paredes dentinárias da polpa. Os odontoblastos depositam dentina tubular à medida que se afastam do epitélio central e produzem estruturas com a forma de dedos ao redor do epitélio. 1. Dentículos São muito semelhantes à dentina; Formados como resultado de uma interação epitélio-mesênquima durante o desenvolvimento da polpa —--> se formam durante o período de desenvolvimento radicular e ocorrem no canal radicular e na câmara pulpar adjacentes às regiões de furca dos dentes multirradiculares —--> maioria aderidos à parede dentinária —--> podem atingir um tamanho suficiente para seremvisualizados em radiografias intraorais como áreas radiopacas no interior da câmara pulpar ou dos canais —--> são comumente encontrados na polpa coronária. Filamentos epiteliais originados da bainha radicular ou extensões cervicais para o interior da câmara pulpar adjacente às furcas induzem a diferenciação odontoblástica do mesênquima da papila dentária circundante, formando o centro do dentículo —--> devido ao desenvolvimento dos dentículos tipicamente preceder a formação completa da dentina primária, a maioria dos dentículos se torna aderida ou embutida na dentina. Classificação Estruturalmente ● Verdadeiras: quando apresentam uma estrutura dentinária típica; ● Falsas: com camadas concêntricas e tecido calcificado sem a presença de túbulos dentinários . Localização ● Livres: quando circundadas pelo tecido pulpar; ● Ligadas: quando fusionadas com as paredes dentinárias; ● Dentículos incorporados: inteiramente circundadas por dentina; 2. Cálculos pulpares São formados nas porções coronárias da polpa e podem surgir com uma parte das alterações patológicas locais ou relacionadas à idade —--> a maioria se desenvolve após a formação completa do dente e são geralmente livres ou aderidas. Se desenvolvem ao redor de um ninho central do tecido pulpar (p. ex., fibras colágenas, substância fundamental ou remanescentes de células necróticas); A calcificação inicial começa ao redor do ninho central e se direciona para fora, em um padrão concêntrico ou radial de material calcificado regular —--> apresentam uma massa amorfa central de calcificação irregular, circundada por anéis lamelares concêntricos de material calcificado regular —--> pode ser evidente a presença de material calcificado fibrilar irregular na periferia dos cálculos pulpares. Em ocasiões raras, os cálculos podem estar embutidos. Podem ser únicos ou múltiplos; Podem estar livres ou aderidos; 3. Calcificações lineares difusas Exibem áreas fibrilares e tênues de calcificação irregular, que muitas vezes estão paralelos aos vasos sanguíneos —--> não apresentam a organização lamelar dos cálculos pulpares; Dafne Freitas - Odontologia - UFAM Podem estar presentes na câmara pulpar ou nos canais e a frequência aumenta com a idade. Características clínicas São caracteristicamente de pouco significado clínico, embora raramente possam ser obstáculos durante procedimentos endodônticos. Algumas vezes, as calcificações pulpares podem se tornar bastante extensas e interferirem na formação radicular, possivelmente acarretando uma destruição periodontal precoce e a perda dentária. Características radiográficas Dentículos e cálculos pulpares —--> podem atingir um tamanho suficiente para serem visualizados em radiografias intraorais como áreas radiopacas no interior da câmara pulpar ou dos canais. Cálculos pulpares. Diversos dentes demonstrando calcificações radiograficamente evidentes no interior das câmaras pulpares. Calcificações difusas —--> não são visualizadas radiograficamente. Características histopatológicas Dentículos —--> consistem em dentina tubular circundando um ninho central de epitélio. ● Com o tempo, o epitélio central degenera e os túbulos sofrem esclerose, tornando a sua detecção difícil. ● A maioria é aderida ou embutida —--> aqueles que permanecem livres na polpa, ocasionalmente desenvolvem camadas externas de calcificação fibrilar irregular ou camadas lamelares de calcificação semelhantes às observadas nos cálculos pulpares. Cálculos pulpares —--> apresentam uma massa amorfa central de calcificação irregular, circundada por anéis lamelares concêntricos de material calcificado regular; ● Ocasionalmente, uma camada periférica de dentina tubular pode ser posicionada pelos odontoblastos, os quais se originam do tecido pulpar circundante, em resposta à presença do cálculo pulpar. ● Também pode ser evidente a presença de material calcificado fibrilar irregular na periferia dos cálculos pulpares. Cálculos pulpares. Múltiplos cálculos no interior da câmara pulpar. Calcificações lineares difusas —--> consistem na sua totalidade em calcificações fibrilares tênues e irregulares que se desenvolvem nas câmaras pulpares e nos canais; ● Este material costuma ser depositado de maneira linear ao longo do curso de um vaso sanguíneo ou de um nervo. Calcificações pulpares lineares difusas. Calcificações fibrilares tênues paralelas ao curso dos canais neurovasculares no interior do canal pulpar. Tratamento e prognóstico ● Nenhum tratamento é necessário. ● A maioria das calcificações pulpares não está associada a qualquer alteração clínica significativa. Referências: NEVILLE, Brad W. et al. Patologia oral e maxilofacial, 2016.
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