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Bases Metodológicas do Treinamento Aeróbio Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP G956m Guilherme, Flávio Ricardo Bases metodológicas do treinamento aeróbio / Flávio Ricardo Guilherme. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 119 p. : il. Color. 1. Exercícios aeróbicos. 2. Aptidão física. 3. Esportes - Aspectos fisiológicos. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 796.41 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. AUTOR Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme ● Graduado em Educação Física pela UNESPAR/FAFIPA ● Especialização em Personal Trainer: Atividade Física, Saúde, Bem Estar e Qua- lidade de Vida pela UNESPAR/ FAFIPA ● Mestrado e Doutorado em Educação Física pelo Programa de Pós-Graduação Associado UEM/UEL. ● Pós-Doutorado em andamento pela Universidade de Barcelona, Espanha ● Revisor das revistas científicas internacionais Family Medicine & Primary Care Review e BMJ Open. ● Professor dos cursos de Educação Física da UNIFATECIE. ● Coordenador dos Cursos de Educação Física (Licenciatura e Bacharelado) da UNIFATECIE. ● Editor-Adjunto da Editora Edufatecie. ● Coordenador de Pesquisa do Centro Universitário UNIFATECIE, Paranavaí, Paraná. ● Vice- Coordenador Adjunto Ensino do Centro Universitário UNIFATECIE ● Editor-Chefe da Revista Brasileira de Educação Física, Saúde e Desempenho (RBESDE). ● Líder do Grupo de Pesquisas e Estudos em Educação Física, Saúde e Desem- penho (GPESDE). ● Mais de 20 artigos publicados em revistas científicas nacionais e internacionais. ● CEO do HIIT CLUB 180 ● Fisiologista do Exercício na Clínica de Avaliação Nutricional Esportiva (CANE) em Maringá, Paraná CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/1281270433816299 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL O treinamento resistido é, sem dúvidas, uma das modalidades de exercício físico mais praticadas e estudadas ao longo do tempo e que atualmente tem recebido um des- taque na literatura científica. Contudo, os estudos publicados tem direcionamentos para o tratatamnto de lesões, doenças e na preparção física de esportistas, e também para o objetivo mais comum dos praticantes: a estética. O treinamento resistido tem inumeros pesquisadores, e nessa apostila, traremos as contribuições de autores renomados na área, tais como: William Kraemer, Paavo Komi, Steven Fleck e Keijo Hakkinen. Dentro das academias, o treinamento resistido (musculação) ainda tem muitos mi- tos e práticas sem fundamento algum, sem base científica. Assim o objetivo dessa apostilá é aproximar conceitos e descobertas científicas atuais da realidade das academias, e proporcionar à você aluno, futuro profisional de Educação Física, as bases metodológicas do treianemento resistido. Na unidade I vamos conhecer sobre a “Fisiologia aplicada ao treinamento resisti- do”, onde serão tratados temas como a estrutura e organização da fibra muscular, síntese proteica e estrutura e processos de contração muscular. Já na unidade II você irá saber mais sobre as “Adaptações morfológicas ao treina- mento”, com foco nos processos de hipertrofia e hiperplasia, bem como no entendimento dos tipos de fibras musculares e proprioceptores. Na sequência, na unidade III falaremos a respeito da “Métodos de treinamento”, passando pelos métodos metabólicos e tensionais, tipo de ação muscular e métodos para intensificar o treino de hipertrofia . Em nossa unidade IV, vamos finalizar o conteúdo dessa disciplina com o “Trei- namento resistido aplicado à saúde”, como foco nos efeitos do treinamento resistido sobre os aspectos relacionados à saúde e na aplicação do treinamento resistido para populações especiais. Bons Estudos! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 3 Contribuição Energética do Sistema Aeróbio UNIDADE II ................................................................................................... 23 Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio UNIDADE III .................................................................................................. 48 Métodos e Cargas de Treinamento UNIDADE IV .................................................................................................. 73 Adaptações Fisiológicas ao Treinamento Intervalado e o Papel da Intensidade do Exercício 3 Plano de Estudo: ● Métodos usados para avaliar a liberação de energia ● Potência, fadiga e fornecimento de energia anaeróbia ● Fornecimento de energia aeróbia ● Interação e contribuição relativa dos sistemas de energia Objetivos da Aprendizagem: ● Conhecer os métodos usados para avaliar a liberação de energia ● Aprender sobre os mecanismos de potência, fadiga e fornecimento de energia anaeróbia ● Entender como funciona o fornecimento de energia aeróbia ● Aprende sobre a interação e contribuição relativa dos sistemas de energia UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio Professor Dr. Flávio Ricardo Guilherme 4UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio INTRODUÇÃO A interação e a contribuição relativa dos sistemas de energia durante o exercício máximo apareceram pela primeira vez na literatura nas décadas de 1960 e 1970. Com base em um estudo de Fox e colegas de trabalho, que usou o débito de oxigênio e produ- ção de ácido láctico para determinar a liberação relativa de energia (FOX et al. 1969). Fox introduziu uma figura conceitual da relação entre os três sistemas de energia em relação ao tempo de desempenho e potência gerada. Em um momento semelhante, Howald et al. (1978) apresentaram uma figura que tentou resumir a sequência e a relação quantitativa entre os processos de fornecimento de energia no músculo esquelético em humanos. Fox (1979) e Mathews e Fox (1971) discutiram o conceito de continuum de energia, dividindo este contínuo em áreas de atividades baseadas na duração do exercício. A potência e a capacidade de cada sistema foram calculadas de tal forma queo sistema provavelmente predominante durante uma determinada atividade foi dado. As atividades selecionadas apareceram ao longo desta escala de contribuição. No entanto, a interpretação literal de muitos dos conceitos apresentados, infelizmente, muitas vezes leva ao equívoco de que os sistemas de energia operam em discretos períodos de tempo. Astrand e Rodahl (1970) basearam-se em dados anteriores para apresentar uma tabela da contribuição relativa dos sistemas aeróbio e anaeróbio durante o máximo esforços de trabalho que variam de 10 segundos até 120 minutos (ASTRAND et al.,1960; ASTRAND & SALTIN, 1960). A liberação de energia durante os períodos de exercício mais curtos e intensos foi estimada a partir de medidas de déficit de oxigênio, utilizando uma eficiência mecânica presumida de 22%. A representação gráfica desses dados indicou que um esforço máximo de dois minutos derivava contribuições iguais dos sistemas de energia aeróbia e anaeróbia. Representa- ções semelhantes de Mathews e Fox (1971) sugeriram que o ponto de contribuição igual não ocorreu até algo entre três a quatro minutos. Tal diferença marcante parece estar relacionada ao método pelo qual cada um desses grupos estimou a liberação de energia anaeróbia. Variações dessas figuras e tabelas originais têm, e continuam a aparecer na maioria dos textos de fisiologia do exercício. Poucas versões atualizadas, no entanto, foram apresentadas que levam em conta a quantidade significativa de pesquisas que têm ocorrido neste e áreas relacionadas mais recentemente. Embora tais dados não desacreditem a natureza da interação entre os sistemas de energia durante o exercício exaustivo, isso justifica uma revisão da sequência de tempo com que essas interações ocorrem. A mais interessante é o método pelo qual a liberação de energia é determinada, pois pode ter uma influência significativa sobre a contribuição relativa calculada dos sistemas de energia durante períodos de exercício máximo. 5UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 1. MÉTODOS USADOS PARA AVALIAR A LIBERAÇÃO DE ENERGIA A liberação de energia aeróbia derivada da combustão de carboidratos e gordura é prontamente quantificada por meio da relação direta entre a absorção de oxigênio (VO2) e produção de ATP (ASTRAND, 1981). Para cada litro de oxigênio (em temperatura, pressão e densidade padrão), utiliza-se uma cadeia respiratória de aproximadamente 20 kilojoules (Kj). A determinação do quociente respiratório (CO2 expirado/VO2 consumido) é funda- mental para quantificar a proporção de carboidrato e gordura metabolizados e fornece uma medida exata do rendimento energético aeróbio. Infelizmente, métodos para quantificar a liberação de energia anaeróbia são menos precisos. Uma variedade de procedimentos tem sido usada, contudo, como a produção de ATP anaeróbio é um processo intracelular com pouca confiança em processos centrais, não existe universalmente um método eficaz aceito. Métodos que foram usados no passado, agora são menos aceitos, devido à conhecidas imprecisões, tais como o débito de oxigênio, lactato sanguíneo e potência gerada em testes ergométricos. O pico de lactato sanguíneo é normalmente utilizado como uma medida de liberação de energia anaeróbia durante exercício (JACOBS, 1986). Embora o lactato sanguíneo pode fornecer uma indicação da extensão da glicólise (quebra da glicose), essa medida não pode ser usado para quantificar a produção de lactato muscular nem fornecer qualquer indicação da derivação de energia dos estoques de fosfagênios, (ATP e PCR). A concentração de lac- tato sanguíneo tem sido demonstrada ser claramente menor que a concentração muscular de lactato (JACCOBS e KAISER, 1982; TESCH et al., 1982). A comum observação que o lactato sanguíneo atinge um pico em tempos variados após o término do exercício intenso indica que o lactato no músculo e sangue não estão equilibrados (GOLLNICK et al., 1986; MARGARIA et al., 1933). 6UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio A quantidade de oxigênio avaliado em excesso durante a recuperação tem sido referi- da como débito de oxigênio. A hipótese clássica do débito de oxigênio previu que o volume de oxigênio consumido depois do exercício estava ligado para o metabolismo de lactato durante a recuperação pós-exercício (HILL e LUPTON 1923). Margaria et al. (1933) modificou a hipó- tese, dividindo o débito de oxigênio em componentes aláticos e lácticos. No entanto, o uso do débito de oxigênio como uma medida da liberação de energia anaeróbia foi desacreditado por vários autores (HERMANSEN, 1969; SALTIN, 1990). Bangsbo et al. (1990) descobriram que o débito de oxigênio marcadamente superestimou a liberação de energia anaeróbia e poderia representar apenas cerca de um terço do débito de oxigênio da ressíntese de nucleotídeos e PCR (A proteína C reativa) e eliminação do lactato durante 60 minutos de recuperação. Pa- rece que a dissociação entre o consumo de oxigênio de recuperação, o acúmulo e o destino do lactato, juntamente com a influência de uma série de fatores que estimulam a respiração mitocondrial após o exercício, prejudicam seu uso (GAESSER e BROOKS, 1984; RIEU et al., 1984). Isso desacredita o conceito tradicional de pagar uma dívida contraída durante o exercício, restaurando os depósitos anaeróbios. Fatores conhecidos para elevar o consumo de oxigênio durante a recuperação que não estão diretamente relacionados à liberação de energia anaeróbia durante o exercício incluem elevação da temperatura, aumento da ativi- dade hormonal e elevadas necessidades de energia associadas a um retorno à homeostase (VANDEWALLE et al., 1987; GAESSER e BROOKS, 1988). Avaliações ergométricas do trabalho mecânico são frequentemente usados como não invasivos, medidas indiretas baseadas no desempenho da potência e capacidade dos três sistemas de energia. Exemplos incluem força-velocidade, salto vertical, escada e testes de ergômetro em bicicletas. A contribuição dos sistemas de energia depende da intensidade e duração do esforço de trabalho, de modo que os testes geralmente tentam selecionar uma duração que maximize a contribuição de um sistema de energia específico, minimizando a contribuição dos outros (VANDEWALLE et al., 1987). Em teoria, a avaliação da potência e da capacidade de cada sistema é necessária para avaliar de forma abran- gente a energia potencial de um músculo (BOUCHARD et al., 1991). Na prática, dois tipos de testes são usados para a avaliação da energia do sistema anaeróbio. Bouchard et al. (1991) propõe que um máximo esforço com duração de 10 a 15 segundos seja usado para avaliar potência e capacidade anaeróbia-alática e um esforço máximo de 60 a 90 segundos devem ser usados para avaliar capacidade anaeróbia lática. Infelizmente, a ativação e subsequente contribuição de cada um dos sistemas de energia durante os dois tipos de testes torna-o difícil fornecer medidas relativas, mesmo que o trabalho mecânico possa ser 7UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio convertido com precisão para um equivalente de energia. Sabe-se agora que os processos glicogenolíticos que levam à formação de lactato, são iniciados nos primeiros segundos do exercício máximo dinâmico, tornando-se quase impossível distinguir entre componentes aláticos e lácticos (JACOBS et al.,1983; GAITANOS et al., 1993). O problema é ainda mais complicado pelo fato de que os processos aeróbios contribuem significativamente para o fornecimento de energia, mesmo em esforços máximos curtos, como por exemplo, de 30 segundos (NEVIL et al., 1996; WITHERS et al.,1991). A reintrodução da técnica de biópsia por agulha permitiu a medição direta da diminuição no ATP (Adenosina Trifosfato) e PCR (Proteína Reativa C) muscular, bem como acúmulo de metabólitos como piruvato e lactato, permitindo assim uma avaliação da produção de energia anaeróbia do músculo biopsiado (BERGSTRÖM, 1962). A técnica de biópsiamuscular fornece medidas de concentrações e não de quantidades. Tendo determinado mudanças nas concentrações de ATP, PCR e lactato, a liberação total de energia anaeróbia durante o exercício é calculado estimando-se a massa muscular ativa envolvida no exercício. Isso foi assumido ser cerca de 25 a 30% do peso corporal total, embora este número possa variar para diferentes modos de exercício e em indivíduos de diferentes pesos corporais (BOUCHARD et al., 1991; MEDBO et al., 1988). A preo- cupação também pode ser levantada sobre a representatividade da amostra de biópsia (BLOMSTRAND e EKBLOM, 1982) e uma possível subestimação da energia anaeróbia por causa das mudanças que ocorrem entre a interrupção do exercício e obtenção da amostra de biópsia (BANGSBO, 1998; GASTIN, 1994). Muitos desses problemas pare- cem ser superados no modelo extensor de joelho unipodal empregado por Bangsbo e colegas (BANGSBO et al., 1990; BANGSBO et al., 1993). O conceito de déficit de oxigênio foi introduzido pela primeira vez por Krogh e Lindhard (1920) em 1920, e tem sido usado desde então como um meio para determinar produção de energia durante os exercícios sub e supramáximos. Durante o exercício supra- máximo, a adequação de seu uso depende da validade de a suposição de que a demanda de energia supra máxima pode ser determinada a partir da relação entre intensidade de trabalho submáxima e consumo de oxigênio. Cálculos teóricos de Medbø et al., (1988) comparando favoravelmente o déficit de oxigênio máximo acumulado com estimativas na literatura de liberação de energia anaeróbia durante esforços semelhantes de alta intensi- dade, esforços intensos, desde então têm sido apoiados em pequenos grupos musculares e exercícios que envolvem o corpo inteiro (BANGSBO et al.,1990; WITHERS et al.,1991). Apesar desses relatórios, muitos debates foram realizados quanto à validade do método 8UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio e suas suposições subjacentes (GRAHAM, 1996; MEDBØ, 1996). Por exemplo, embora Bangsbo demonstrou uma relação estreita entre o déficit de oxigênio e as estimativas de mudanças em metabólitos musculares em um único grupo muscular, ele tem levantado repetidamente preocupações sobre a capacidade do método quantificar com precisão a liberação de energia anaeróbia durante exercícios de corpo inteiro (BANGSBO, 1998; BANGSBO, 1996). Bangsbo (1998) sugeriu que a produção de energia anaeróbia obtida de ambas as biópsias musculares e o método do déficit de oxigênio são subestimadas. Até que ponto este pode ser o caso, não é conhecido. Em seu modelo de extensor de joelho unipodal, a subestimação como resultado da liberação do lactato no músculo quadríceps foi estimada em cerca de 3% e provavelmente é maior em exercícios para corpo inteiro (BANGSBO, 1998). A quantificação da liberação de energia anaeróbia usando o método de déficit de oxigênio é provavelmente mais subestimado durante exercícios muito curtos e intensos, em que as saídas de potência médias são bem acima da potência aeróbia máxima, tais como a eficiência da relação usada para prever a demanda de energia pode não permanecem lineares (ASTRAND et al., 1970; BANGSBO, 1998) vários investigado- res relataram decréscimos de eficiência com o aumento potência gerada (GAESSER e BROOKS, 1975; LUHTANEN et al., 1987) No entanto, a extrapolação linear do trabalho submáximo pode compensar ineren- temente esta mudança da eficiência, pois é semelhante ao cálculo de uma eficiência delta no sentido de que reflete cada incremento adicional no trabalho (GASTIN, 1994; GASTIN et al., 1995). Ao fazer isso, segue as mudanças em qualquer ponto ao longo da regressão de liberação de energia e intensidade do exercício (GLADDEN e WELCH, 1978). Ao considerar as mudanças de eficiência de submáxima para trabalho máximo, Gladden e Welch (1978) relataram uma diminuição na eficiência, porém notou que o padrão também foi evidente em intensidades submáximas progressivas, predominantemente de natureza aeróbia. Embora a questão da eficiência durante o exercício supramáximo permanece sem solução, alguns dados sugerem que o déficit de oxigênio é relativamente afetado por possíveis mudanças na eficiência em aumentos da intensidade supramáxima de exercícios (GASTIN, 1994) A determinação precisa da liberação da energia anaeróbia durante exercícios intensos de corpo inteiro continua a ser um problema. A compreensão da resposta desse sistema de energia ao exercício permanecerá limitada. No momento, no entanto, a técnica de biópsia muscular e o método de déficit de oxigênio fornecem os melhores insights possí- veis sobre a produção de energia anaeróbia durante exercícios intensos. Combinando com medidas de VO2, e juntando informações de uma série de investigações, estimativas da interação e contribuição relativa dos três sistemas de energia para intensidades e durações variadas de exercício podem ser sugeridas. 9UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 2. POTÊNCIA, FADIGA E FORNECIMENTO DE ENERGIA ANAERÓBIA A taxa de liberação de energia é crítica para o sucesso em esportes que requerem o desenvolvimento e manutenção de altas potências em curtos períodos. Lamb (1995) estimou que levantadores de peso de classe mundial podem produzir saídas de energia (potência) que são 10 a 20 vezes a necessária para obter a taxa máxima de energia aeróbia [consumo máximo de oxigênio (VO2max). Sprinters podem ser capazes de atingir de três a cinco vezes a saída de potência que conseguem em intensidade de VO2max , mas não conseguem sustentar saídas de potência tão altas (LAMB, 1995) .Ward-Smith (1999), usando técnicas de modelagem matemática no desempenho de corrida de atletas de elite do sexo masculino, estimou que a relação entre a potência anaeróbia máxima e a potência aeróbia sustentável máxima está na faixa de 2,0 a 2,6, um valor consistente com o intervalo de 2 a 4 sugerido por Spriet. (SPRIET, 1995). Durante a fase de sprint de aceleração, a potência média de saída de uma passada de corrida completa pode exceder 1000W (Watts), com valores acima de 3 kW (Kilowatts) sendo relatados durante a fase de propulsão da passada (LAKOMY, 2000). A taxa de fornecimento anaeróbio de ATP (Adenosina Trifosfato) é crítica para o desenvolvimento de alta potência. Taxas pico de síntese de ATP de ambas as degra- dações de PCR (Proteína Reativa C) e glicólise durante vários modos de exercício com duração de 10 segundos ou menos parecem estar no faixa de 6 a 9 mmol ATP/kg de massa seca por segundo (SPRIET, 1995). Juntos, esses dois caminhos de energia po- 10UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio dem fornecer aproximadamente 15 mmol ATP/kg de massa seca por segundo durante os primeiros 6 segundos do exercício de sprint, com cerca de 50% do ATP sendo fornecido da degradação de PCR (LAKOMY, 2000). A taxa da degradação de PCR fica em seu máximo imediatamente após o início da contração e começa a declinar após apenas 1,3 segundos (MAUGHAN et al., 1997). A produção de ATP a partir da glicólise, por outro lado, não atinge sua taxa máxima antes de 5 segundos e é mantida em essa taxa por vários segundos (MAUGHAN et al., 1997). A diminuição da geração de força durante exercícios breves e intensos é o resul- tado de uma taxa reduzida de ressíntese de ATP ou uma taxa decrescente de utilização de ATP pelo aparelho contrátil (HERMANSEN, 1981; HULTMAN et al.,1990). Os níveis de ATP e PCR no músculo esquelético estão na faixa de 25 e 70 a 80 mmol de massa seca por segundo, (SPRIET, 1995; MAUGHAN et al., 1997) respectivamente, e não parecem ser relativamente afetados pelo estado de treinamento (SALTIN & GOLLNICK, 1983). Uma de- pleção total de ATP não ocorre mesmo em condições extremas de exercício, embora uma diminuição de 30 a 40% no ATP muscular já foi relatado (BANGSBO et al., 1990; JACOBS et al., 1982). Em contraste, a depleção quase completa dos estoques dePCR é possível (HULTMAN et al.,1990; BOGDANIS et al., 1995; VOLLESTAD, 1988). Energia derivada das reservas de ATP e PCR, considerados componentes aláticos, estima-se que contribuam com 20 a 30% da energia anaeróbia durante o exercício intenso e exaustivo de 2-3 minutos de duração (SALTIN, 1990; BANGSBO et al., 1990; MEDBØ et al., 1988) A fadiga é a diminuição transitória da capacidade de desempenho dos músculos, geralmente vista como uma falha em manter ou desenvolver a força ou potência esperada. Ambos os mecanismos centrais e periféricos foram postulados como causas da fadiga mus- cular. Algum dos muitos elos da cadeia longa dos centros motores voluntários no cérebro para o aparelho contrátil das fibras musculares individuais pode contribuir (ASMUSSEN, 1979). Embora as evidências apontem para o sistema nervoso central como um possível local de fadiga, a maioria das pesquisas implicam mudanças na periferia como o principal fator limitante (MCLESTER, 1997) Embora as reservas e energia que derivam de ATP (Adenosina Trifosfato) e PCR (Proteína Reativa C) são limitadas, parece que a taxa e a liberação total de energia da glicó- lise anaeróbia pode também ser limitada, devido à inibição de enzimas glicolíticas ou à falta de ativação da glicólise (MEDBØ et al., 1988; HULTMAN et al.,1990). Durante o exercício máximo, a taxa de glicólise pode ser aumentada em até 100 vezes em comparação ao re- pouso, embora esta taxa não possa ser sustentada (NEWSHOLME, 1973). Uma diminuição 11UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio gradual do pH é provável que reduza a atividade das enzimas glicolíticas, em particular fosforilase e fosfofrutoquinase, as quais resultam em uma taxa reduzida de ressíntese de ATP (HULTMAN et al.,1990; HERMANSEN, 1981). Uma explicação alternativa sugere que uma diminuição na concentração sarcoplasmática livre de adenosina monofosfato (AMP) resulta em uma ativação diminuída de fosforilase (MAUGHAN et al., 1997). A diminuição da taxa de glicólise pode ser em resposta a uma redução da demanda de energia, resultante de qualquer inibição do motoneurônio, mudanças na capacidade de ativação ou geração de força de pontes cruzadas individuais ou alteração da capacidade do retículo sarcoplas- mático de carregar e liberar cálcio (HJ VERDE, 1990; FITTS, 1981). 12UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 3. FORNECIMENTO DE ENERGIA AERÓBIA Há muito supõe-se que o sistema de energia aeróbia responde lentamente às demandas de exercícios de alta intensidade e desempenha um papel pequeno na deter- minação do desempenho durante curtos períodos de esforços. Na verdade, muitos testes de laboratório e de campo com duração de até 90 segundos são descritos como testes de desempenho anaeróbio (BOUCHARD et al., 1991). O popular teste de Wingate de 30 segundos é um exemplo. Entretanto, o desenvolvimento de técnicas para avaliar mais de perto a cinética de VO2 e a contribuição aeróbia relativa para o fornecimento total de energia durante o exercício intenso, forneceu um meio para desafiar algumas das suposições que cercam o papel do metabolismo aeróbio durante o exercício de alta intensidade. A taxa de VO2 no início do exercício reflete o ajuste do transporte sistêmico de oxi- gênio e do metabolismo muscular (XU & RHODES, 1999). Quando o exercício é realizado a uma taxa de trabalho abaixo do limiar anaeróbio, o VO2 aumenta exponencialmente até um nível estável (WHIPP, 1971). Já em exercício em intensidades mais altas, observa-se um componente lento adicional desenvolvido após poucos minutos, o que atrasa a obten- ção do estado estacionário ou impulsiona VO2 ao máximo nível (XU & RHODES, 1999; ARMON et al., 1991; PATERSON & WHIPP, 1991). Durante o exercício supramáximo, o VO2 não pode se estabilizar e continua a aumentar até o ponto de fadiga, que pode ou não ver o VO2 subir a um máximo (XU & RHODES, 1999; GASTIN & LAWSON, 1994). A obtenção do VO2max durante o exercício de alta intensidade de apenas alguns minutos foi consistentemente documentado. Após apenas 30 a 60 segundos de exercício, o VO2 pode ser tão alto quanto 90% do máximo do atleta (ASTRAND & SALTIN, 1961; GASTIN & LAWSON, 1994; KAVANAGH, 1988) 13UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio Kavanagh e Jacobs (1991) investigaram o consumo de oxigênio durante o teste de Wingate após observar dados conflitantes que relataram contribuições aeróbias variando de 13 a 44% durante o teste de 30 segundos. Com base em uma eficiência mecânica assu- mida de 25% para exercícios em bicicleta, eles estimaram a contribuição aeróbia em 18,5%. Smith e Hill (1991) usando procedimentos semelhantes, estimaram a contribuição aeróbia em 16%. Em contraste com essas estimativas bastante baixas, cinco estudos que usaram o déficit de oxigênio acumulado para quantificar os valores reportados do fornecimento de energia entre 23 a 33% por 30 segundos máximos em exercício (GASTIN & LAWSON, 1994; CALBET et al., 1997; O’BRIEN et al.,1997). Em linha com essas estimativas, Bogdanis et al. (1996) usando medidas musculares diretas, relataram uma contribuição aeróbia de 29%. Interessantemente, quando um segundo sprint máximo de 30 segundos foi realizado após quatro minutos de recuperação passiva, a contribuição aeróbia estimada aumentou para 44%. Na comparação com o primeiro sprint, a potência produzida e a ressíntese anaeróbia de ATP foi reduzida em 18% e 41%, respectivamente. A aparente incompatibilidade entre o fornecimento de ATP anaeróbio e a diminuição na produção de energia pode ser expli- cada principalmente por um aumento de 19% no VO2 (NEVIL et al., 1996; BOGDANIS et al.,1996). Durante o exercício de sprint repetido, a redução significativa no volume de ATP anaeróbio parece ser parcialmente compensada por um aumento em VO2 em sprints subsequentes (BOGDANIS et al.,1996; BOGDANIS et al., 1996). Também foi demonstrado que a depleção local dos estoques de oxigênio e / ou fosfagênio, seja por meio de exercí- cios de preparação ou oclusão do fluxo sanguíneo, melhora significativamente a cinética do oxigênio em resposta ao exercício (PAGENELLI et al., 1989). A incompatibilidade entre o declínio na produção de potência durante o exercício de sprint e a diminuição na utilização de ATP anaeróbio também foi observada durante sprints repetidos tão curtos quanto seis segundos de duração. Durante dez sprints de ciclo de seis segundos, o declínio na potência do sprint 1 a 10 foi de 27% (GAITANOS et al., 1993). Todavia, o declínio na utilização de ATP anaeróbio foi de 64%, em grande parte devido a uma inibição quase completa da taxa glicolítica no sprint 10. Embora um aumento na eficiência à medida que o exercício continuou, foi sugerido como uma explicação parcial, o metabolismo aeróbio foi reconhecido como um importante contribuinte para o suprimento de energia (NEVIL et al., 1996). Agora parece evidente que todos os três sistemas de energia contribuem para o fornecimento no decorrer da corrida, mesmo durante os esforços tão curtos quanto seis segundos. 14UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio Embora os dados disponíveis sugiram uma contribuição aeróbia significativa durante o exercício intenso, as percepções de treinadores e cientistas continuam a re- fletir divergências. Em uma recente discussão em mesa redonda com oito treinadores e cientistas do esporte, especialistas opinaram sobre a contribuição aeróbia para a corrida de 800 m (1,5 a 2 minutos de duração) e as estimativas variaram de 35 a 65% (Novos Estudos em Mesa Redonda de Atletismo, 1996). As estimativas mais baixas fornecidas por alguns membros deste grupo são um tanto típicas e refletem os equívocos que ainda existem como um resultado de conceitos iniciais se tornando enraizados no exercer as profissões de cientistas e treinadores. Investigações recentes avaliando especificamente a contribuição relativa de energia durante eventosde corrida indicam que a contribuição aeróbia para o evento de 800 m é cerca de 55 a 65% provenientes do sistema aeróbio. DI PRAMPERO et al., 1993; HILL, 1999; PÉRONNET & THIBAULT, 1989; SPENCER & GASTIN, 2001). Esta contribuição aeróbia relativamente alta é indiretamente suportada pela forte relação entre déficit de oxigênio máximo determinado em laboratório e tempos de desempenho acima de 100 e 400m, mas não 800m, o que sugere que a importância do suprimento de energia anaeróbia diminui e, consequentemente, o suprimento de energia aeróbia aumenta, conforme aumenta a distância de corrida (RAMSBOTTOM et al., 1994). 15UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 4. INTERAÇÃO E CONTRIBUIÇÃO RELATIVA DOS SISTEMAS DE ENERGIA A contribuição aeróbia para os períodos cumulativos de exercício exaustivo aparece ainda em livros didáticos de fisiologia do exercício, muitos com base nos primeiros cálculos da Fox e colegas (FOX et al., 1969; FOX, 1979; MATHEWS & FOX, 1978) que usaram o débito de oxigênio como medida da liberação de energia anaeróbia, um método que não é mais a favor e que tem sido mostrado superestimar consideravelmente o metabolismo anaeróbio. Os autores Howald et al. (1978) introduziu uma figura tentando resumir a sequência e as relações quantitativas entre os três sistemas de fornecimento de energia no músculo esquelético humano. Uma escala logarítmica foi usada para exercícios com duração de até 120 minutos, com produção total de energia, dada em kcal/min, diminuindo com o tempo. A figura sugere que a contribuição igual do sistema aeróbio ocorre por volta de três a quatro minutos. Fox et al. (1993) reproduziu uma figura desenvolvida mais de 20 anos antes (MATHEWS & FOX, 1978) que sugeria um esforço cujo precisava ter cerca de 3,5 minutos de duração antes de derivar energia igual do sistema aeróbio. Astrand e Rodahl (1970) apresentaram dados que calcularam a contribuição relativa do sistema de energia durante esforços máximos de trabalho variando de 10 segundos até 120 minutos. Notou-se que um esforço máximo de dois minutos derivava cerca de 50% de cada sistema, de modo que ambos os processos fossem igualmente importantes para o sucesso. Bouchard et al. (1991) apresentaram as suas próprias versões da interação entre os sistemas de energia, com contribuições iguais do aeróbio e sistemas anaeróbios ocorrendo em torno de 100 segundos. Lamb (1995) ao resumir os dados de Bangsbo et al (1990) sugeriu que o ponto de contribuição igual ocorre entre dois a três minutos. 16UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio Em contraste com essas estimativas, muitos dos primeiros cálculos baseados na liberação de energia anaeróbia agora parece questionável, a análise sumária apresen- tada na Tabela 1, adaptada do estudo de Gastin (2001) cujo sugere que a duração do exercício máximo que resulta em uma contribuição igual do sistema aeróbio e anaeróbio é entre um a dois minutos, e a maioria provavelmente cerca de 75 segundos. Assim, parece que a contribuição aeróbia durante o exercício intenso tem sido sistematicamente subestimada, de tal forma que números usados até recentemente para descrever a inte- ração entre os sistemas de energia (FOX et al., 1993; MCARDLE et al., 2000) são tam- bém superestimados. Em uma determinada sessão de exercício, o ponto de cruzamento para o fornecimento de energia predominantemente aeróbia pode ocorrer entre 20 a 30 segundos, (GASTIN e LAESON, 1994; SPENCER e GASTIN, 2001), com a contribuição aeróbia para cada período de continuação de exercício (séries) aumentando enquanto a contribuição anaeróbia continua a diminuir. Embora não pareça, isso é de fato consistente com a sugestão de que um esforço máximo por volta de 75 segundos, deriva energia igual tanto do sistema aeróbio quanto do anaeróbio. Uma alternativa para avaliar a contribuição do sistema de energia para um de- terminado período de exercício máximo é considerar a contribuição aeróbia e anaeróbia relativa para as fases sequenciais dentro de um dado período de exercício máximo. A interação e a contribuição dos sistemas de energia dependerão da intensidade, duração e modelo de exercício. Existem pequenas diferenças e insignificantes para o status de treinamento. A Tabela 2 fornece cinco exemplos contrastantes, com estimativas da con- tribuição do sistema de energia sequencial durante 90 segundos máximos de ciclismo, (GASTIN e LAESON, 1994) corrida de 800 e 1500m (SPENCER & GASTIN, 2001) e exer- cício para exaustão durante o ciclismo a 110% VO2max (GASTIN et al., 1995) e extensão unilateral de joelho a 65 W (BANGSBO et al., 1990). Ao longo dos anos, a maioria dos números que foram apresentadas na literatura para descrever as interações entre os sistemas de energia têm sido de natureza concei- tual (HOWALD et al.1978; MCARDLE et al., 2000; BOUCHARD et al.,1982). As tentativas de descrever a cinética individual de cada um dos sistemas fornecedores de energia em relação à potência real não parecem ter sido empreendidos. A Figura 1 apresenta um re- trabalho dos dados originais de Gastin e Lawson (1994) durante 90 segundos de exercício completo em cicloergômetro. O exercício de ciclo completo é caracterizado pela obtenção do pico de potência nos primeiros 5 a 10 segundos, seguidos por um declínio progressivo da potência de saída até a conclusão do teste ou cessação voluntária. O fornecimento de 17UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio energia é fornecido em equivalentes de oxigênio, tendo sido derivados de medidas reais de VO2 e estimativas da demanda energética pelo método do déficit de oxigênio acumulado. O componente anaeróbio foi dividido em ATP-PCR e contribuições glicolíticas com base na suposição de que o sistema ATP-PCR é máximo nos primeiros dois segundos de exer- cício, que aproximadamente 75 a 85% do declínio na PCR ocorre durante os primeiros 10 segundos, e que pouco ou nenhuma ressíntese de ATP de PCR ocorre após 20 segundos de exercício máximo (LAKOMY, 2000; MAUGHAN et al., 1997). Tendo estabelecido a ciné- tica do sistema ATP-PCR, a contribuição anaeróbia restante foi então atribuída à glicólise anaeróbia. O pico resultante na taxa glicolítica apresentado na figura é consistente com a noção que a produção de ATP da glicólise atinge uma taxa máxima após cinco segundos e é mantida por vários segundos (MAUGHAN et al., 1997). FIGURA 1 - CONTRIBUIÇÃO RELATIVA DOS SISTEMAS ENERGÉTICOS EM RELAÇÃO À ENERGIA TOTAL DURANTE O EXERCÍCIO MÁXIMO ATP-PC: Componente alático do sistema energético anaeróbio. Fonte: Adaptado de Gastin et al., (2001). 18UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio TABELA 1 - ESTIMATIVA DA CONTRIBUIÇÃO AERÓBIA E ANAERÓBIA DURANTE PERÍODOS DE EXERCÍCIO MÁXIMO Fonte: Adaptado de Gastin et al., (2001). TABELA 2 - ESTIMATIVA DA CONTRIBUIÇÃO AERÓBIA E ANAERÓBIA DURANTE FASES SEQUENCIAIS DURANTE VÁRIOS MODELOS DE EXERCÍCIO E INTENSIDADES. Fonte: Adaptado de Gastin et al., (2001). 19UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio CONSIDERAÇÕES FINAIS A interação e contribuição relativa dos três sistemas de energia durante os períodos de exercício exaustivo máximo é de considerável interesse teórico-prático. As primeiras tenta- tivas na década de 1960 e 1970 para descrever essas relações, embora perspicazes na época, desde então foram consideradas um pouco “enganadoras”. Dada a reprodução repetida ao longo dos anos, estas primeiras tentativas levaram a dois equívocos comuns nas profissões de ciência do exercício e treinamento. Primeiro, que os sistemas de energia respondem às demandas de exercício intenso de uma maneira quase sequencial e, em segundo lugar, que o sistema aeróbio responde lentamente a essas demandas de energia, desempenhando assim, um papel pequeno em determinar o desempenho em curtos períodos. A avaliação da liberação de energia anaeróbia durante o exercício é muito menos precisa do que aavaliação da liberação de energia aeróbia, medida pelo VO2. Medidas de mudanças nos substratos musculares e metabólitos e o déficit de oxigênio acumulado, com- binado com medidas de VO2, têm sido usado mais recentemente para proporcionar a con- tribuição dos sistemas de energia durante vários períodos de exercício máximo. Técnicas de modelagem matemática, que tentaram contabilizar cada troca de energia durante exercício, também têm sido empregados. Juntos os três sistemas de energia parecem bem adequados para lidar com alto fornecimento de energia durante o dia e atividades esportivas. A análise da literatura atual sugere que praticamente todas as atividades físicas derivam alguma energia de cada um dos três sistemas de energia. Não há dúvida de que cada sistema é mais adequado para fornecer energia para um tipo diferente de evento ou atividade, mas isso não implica exclusividade. Da mesma forma, os sistemas de energia contribuem sequencialmente, mas de forma sobreposta, para as demandas de energia em exercício. O sistema anaeróbio é capaz de responder imediatamente às demandas de energia do exercício e é capaz de suportar uma potência muscular extremamente alta. Infelizmente, o sistema anaeróbio é limitado em sua capacidade, de modo que uma cessação de trabalho ou uma redução na produção de energia para um nível que pode ser atendido pelo meta- bolismo aeróbio é visto durante longos períodos de exercício intenso. O sistema de energia aeróbia responde surpreendentemente rápido às demandas de exercício intenso, mas é incapaz de atender às demandas de energia no início do exercício, independentemente da intensidade do exercício. Isto agora parece evidente que o sistema aeróbio desempenha um papel significativo na determinação do desempenho durante exercícios de alta intensi- dade, com um exercício de esforço máximo de 75 segundos deriva-se aproximadamente igual energia dos sistemas de energia aeróbia e anaeróbia. 20UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio SAIBA MAIS Com a evolução da ciência no Brasil, cada vez mais se pesquisou e, por consequência, soube-se sobre o treinamento aeróbio e sua contribuição energética. Ainda, cada vez mais são formados novos grupos de estudo, e posteriormente de pesquisa, que enfoca essa temática. O artigo a seguir analisa a contribuição energética em duas intensidades distintas de corrida. Confira. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5384060/pdf/hukin-56-127.pdf REFLITA “Toda ação humana, quer se torne positiva ou negativa, precisa depender de motivação.!” Dalai Lama https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5384060/pdf/hukin-56-127.pdf 21UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio LEITURA COMPLEMENTAR MATSUURA, C.; MEIRELLES, C. M.; GOMES, P. S. C. Gasto energético e consumo de oxigênio pós-exercício contra resistência. Revista de Nutrição [online]. 2006, v. 19, n. 6 [Acessado 12 Novembro 2021]. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rn/a/Lqdr9gJhqqS- DwCfNtKMwynw/?lang=pt# https://www.scielo.br/j/rn/a/Lqdr9gJhqqSDwCfNtKMwynw/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rn/a/Lqdr9gJhqqSDwCfNtKMwynw/?lang=pt 22UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Aptidão Aeróbia: desempenho esportivo, saúde e nutrição Autores: Rômulo Bertuzzi, Patrícia Chakur Brum, Christiano Ro- bles Rodrigues Alves, Adriano Eduardo Lima-Silva Editora: Manole Sinopse: O livro reúne temas tradicionais e contemporâneos que envolvem essa temática. Entre os temas tradicionais abordados destacam-se o consumo máximo de oxigênio (VO2 máx.), os limia- res metabólicos e a mecânica da corrida. Entre os temas contem- porâneos destacam-se os efeitos do treinamento aeróbio sobre pacientes portadores de câncer, insuficiência cardíaca e diabetes. FILME / VÍDEO Título: AERÓBIO ou ANAERÓBIO? Contribuição dos sistemas energéticos Ano: 2017 Sinopse: No vídeo, você vai aprender o que é um exercício aeró- bio ou anaeróbio. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=zkUzMN- Ro910&t=1813s https://www.youtube.com/watch?v=zkUzMNRo910&t=1813s https://www.youtube.com/watch?v=zkUzMNRo910&t=1813s 23 Plano de Estudo: ● Mensurando a intensidade de treinamento ● Como os atletas de endurance de elite treinam? ● Estudos de intensificação de treinamento ● Conectando características de treinamento à sinalização celular e respostas ao estresse Objetivos da Aprendizagem: ● Aprender a mensurar a intensidade do treinamento aeróbio. ● Conhecer como os atletas de endurance de elite treinam. ● Entender as respostas adaptativas da intensificação do treinamento ● Conhecer as características de treinamento à sinalização celular e respostas ao estresse UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio Professor Dr. Flávio Ricardo Guilherme 24UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 24UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio INTRODUÇÃO O treinamento aeróbio envolve a manipulação da intensidade, duração e frequên- cia das sessões de treinamento ao longo de dias, semanas e meses. Distância longa e lenta, treinamento de limiar de lactato e treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT ou em inglês High Intensity Interval Training) são todos termos familiares para exercícios em diferentes regiões da escala de intensidade. O impacto relativo de diferentes combina- ções de intensidade e duração do treinamento aeróbio tem sido estudado e debatido por décadas entre atletas, treinadores e cientistas. Atualmente, o HIIT voltou ao foco com base em descobertas recentes que sugerem adaptações centrais superiores para programas intervalados de curto prazo em comparação com exercícios contínuos em intensidade mais baixa (DAUSSIN et al., 2007; HELGERUD et al., 2007). Entretanto, a aplicação desses achados para o treinamento aeróbio em longo prazo para atletas não está claro. O objetivo desta Unidade será discutir os papéis da duração e intensidade do treinamento aeróbio no desenvolvimento fisiológico e de desempenho dos seus praticantes a longo prazo. 25UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 25UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio 1. MENSURANDO A INTENSIDADE DO TREINAMENTO Uma revisão das questões de intensidade e duração do treinamento no treinamento aeróbio deve começar com alguma discussão de como essas variáveis são quantificadas. Medir a duração do exercício é simples. O volume de treinamento pode ser medido em termos de distância (por exemplo, quilômetros em execução) ou tempo (horas anuais de treinamento). A unidade mais facilmente comparável em esportes de endurance (resistên- cia) são as horas eficazes de treinamento. Quantificar a intensidade do treinamento é mais complicado. Descrever e comparar a distribuição da intensidade do treinamento requer uma escala de intensidade comum. A maioria dos órgãos reguladores de esportes nacio- nais emprega uma escala de intensidade de orientação com base em faixas de frequência cardíaca relativa para a concentração máxima e de lactato no sangue. Frequentemente, o treinamento aeróbio de endurance (resistência) perpassa na faixa de intensidade de apro- ximadamente 50% a 100% do consumo máximo de oxigênio (VO2max) é dividido em cinco zonas de intensidade um tanto arbitrárias. A Tabela 1 dá como exemplo uma escala usada pelo Comitê Olímpico Norueguês. A padronização de uma escala de intensidade pode ser criticada porque a abordagem falha em levar em consideração a variação individual na relação entre a frequência cardíaca e a concentração de lactato sanguíneo, ou a variação específica da atividade, como a tendência de concentrações máximas de lactato sanguíneo em estado estacionário serem maiores em atividades que ativam menos massa muscular (BENEKE et al., 2001; BEBEKE e DUVILLARD, 1996). No desempenho prático, neste ce- 26UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 26UNIDADEII Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio nário, essas fontes potenciais de erro parecem ser superadas pela melhoria da comunicação que uma escala comum facilita entre o técnico e o atleta e entre as disciplinas esportivas. Uma “linguagem” de intensidade de treinamento padronizada pode ser particularmente im- portante para melhorar a correspondência entre a prescrição de intensidade de um treinador e a interpretação de um atleta dessa prescrição. Por exemplo, Foster e colegas quantificaram a tendência dos atletas de nível médio de treinarem mais forte do que o planejado em dias fáceis e em intensidade mais baixa do que o planejado em dias difíceis, em relação às pres- crições do treinador (FOSTER, 2001). É importante apontar que abordagens integradas que multiplicam o tempo da sessão de treinamento por uma medida fisiológica ou perceptual de intensidade também foram desenvolvidas e usadas para quantificar o treinamento (BANIS- TER et al.,1986; FOSTER et al., 1996; FOSTER et al., 1995). TABELA 1- EXEMPLOS DE UMA ESCALA DE CINCO ZONAS DE TREINAMENTO PARA PRESCRIÇÃO E MONITORAMENTO DO TREINAMENTO AERÓBIO. Zona de Intensidade VO2 (%máx) FC (% máx) Lactato (mmol.L-1) Duração acumulada 1 50 - 65 60 - 72 0,8 - 1,5 1 - 6 h 2 66 - 80 73 - 82 1,6 - 2,5 1 - 3 h 3 81 - 87 83 - 87 2,6 - 4,0 50 - 90 min 4 88 - 93 88 - 92 4,1 - 6,0 30 - 60 min 5 94 - 100 93 - 100 6,1 > 15 - 30 min Adaptado de Seiler, 2010. No entanto, nesta unidade vou me concentrar na distribuição da intensidade do treinamento, e essas abordagens integradas não serão apresentadas em detalhes. Vários estudos recentes, examinando a distribuição da intensidade do treinamento (Esteve-La- nao et al., 2005; ZAPICO et al., 2007) ou distribuição de intensidade de desempenho em eventos de vários dias (DAUSSIN et al., 2007; HELGERUD et al., 2007; LUCIA et al., 2003), empregaram o primeiro e segundo limiares ventilatórios (LV1 E LV2) determinados individualmente para demarcar três zonas de intensidade (Zona 1, 2 e Zona 3; Figura 1). Os estudos de distribuição de intensidade com base em zonas derivadas de limiar ventilatório não são diretamente comparáveis com o modelo de cinco zonas, mas o que é normalmente identificado como “intensidade de limiar de lactato”, ou a faixa de concentração de lactato sanguíneo de aproximadamente 2 a 4 mM, corresponde bem na prática à zona de intensi- dade demarcada pelo primeiro e segundo limiares ventilatórios. Assim, para fins práticos, o modelo de três zonas e o modelo de cinco zonas têm pontos de ancoragem de intensidade comuns em torno do limiar de lactato. 27UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 27UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio FIGURA 1- AS TRÊS ZONAS DE INTENSIDADE BASEADAS NA IDENTIFICAÇÃO DOS LIMIARES VENTILATÓRIOS. Fonte: O autor Para atletas bem treinados, usarei o termo treinamento de baixa intensidade (TBI) para me referir ao trabalho que elicia uma concentração estável de lactato de menos de 2 mM. O treinamento de alta intensidade (TAI) irá se referir ao treinamento acima da intensidade máxima de lactato no estado estacionário (≥4 mM de lactato sanguíneo). O treinamento na região delimitada por cerca de 2 e 4 mM de lactato sanguíneo será referido como treinamento de limiar (TL). Para indivíduos não treinados/treinados recreacional- mente, descobrimos que um ponto de mudança de lactato de 2 mM é difícil de identificar, pois o lactato sanguíneo frequentemente se aproxima desta concentração já em cargas de trabalho muito baixas (observações não publicadas). Estudos publicados relatando as características de treinamento de atletas de resistência empregaram vários métodos de quantificação da distribuição de intensidade. Autorrelato de ritmo de treinamento com base em questionário e ancoragem com diferentes ritmos de corrida (por exemplo, ritmo abaixo da maratona, ritmo de 10 km, ritmo de 3 km) foi usado sozinho e em conjunto com testes fisiológico (KARP, 2007; BILLAT et al., 2001). Distribuição de intensidade com base nos intervalos de limiar de lactato durante os treinos foram relatados em amostragem representativa de nadadores de elite (MUJIKA et al., 1995). A análise da frequência cardíaca “Time-in-zone” foi empregada com base em quantificação do tempo de treinamento gasto em diferentes faixas de frequência cardíaca identificadas do teste de limiar preliminar (Esteve-Lanao et al., 2005; SEILER e KJERLAND, 2006; ES- TEVE-LANAO et al., 2008) 28UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 28UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio O último método dá a duração total e porcentagem de tempo com frequência car- díaca dentro de cada zona de intensidade. Este método é atraente por não ser invasivo, individualizado e direto analiticamente. No entanto, o tempo na zona da frequência cardíaca tende a subestimar o tempo gasto trabalhando em alta intensidade (devido ao tempo de atraso da frequência cardíaca durante os intervalos), e ainda, não parece corresponder bem com o esforço percebido para um determinado treino (SEILER e KJERLAND, 2006). Para exemplo, aplicando a análise do tempo nas zona de frequência cardíaca em uma sessão de treinamento intervalado de 4 × 4 min em uma carga de trabalho de 95% VO2max, precedido por um aquecimento de 20 min e seguido por um resfriamento de 20 minutos resultará em frequência cardíaca média baixa de toda a sessão (devido ao pelo tempo gasto em baixa intensidade) assim, uma análise observando apenas a média, deturpa o esforço percebido e perfil de lactato sanguíneo de toda a sessão, assim como estresse autonômico do indivíduo (SEILER et al., 2007). 29UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 29UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio 2. COMO OS ATLETAS DE ENDURANCE DE ELITE TREINAM? Boas descrições empíricas da distribuição da intensidade de treinamento em pes- soas bem treinadas os atletas constituem uma adição bastante recente à literatura científica do esporte. Em 1991, Robinson e Cols (1991) publicaram “a primeira tentativa de quantificar a intensidade do treinamento pelo uso de dados objetivos e longitudinais de treinamento”. Eles estudaram as características de treinamento de 13 corredores Neozelandeses de classe nacional com distâncias favoritas de 1.500m para a maratona. Eles usaram dados de frequência cardíaca coletados durante o treinamento e relataram determinações pa- dronizadas de frequência cardíaca e velocidade de corrida em esteira na concentração de lactato sanguíneo de 4 mM. Durante um período de coleta de dados de 6 à 8 semanas correspondentes à fase de preparação, os atletas relataram que apenas 4% de todas as sessões de treinamento eram corridas ou exercícios intervalados. Para as demais sessões de treinamento, a frequência cardíaca média foi de 77% de sua frequência cardíaca a 4 mM de lactato de sangue (que se traduz em aprox. 60% do VO2max). Billat et al. (2001) realizaram testes fisiológicos e coleta de dados do diário de treinamento de maratonistas de elite franceses e portugueses (BILLAT et al., 2001). Eles classificaram a intensidade do treinamento em termos de várias velocidades específicas: menos de v-maratona, v-10.000m e v-3.000m. Durante as 12 semanas anteriores a uma maratona de testes olímpicos, os atletas correram 78% de seus quilômetros de treinamento abaixo da velocidade da maratona, apenas 4% na corrida de maratona velocidade (pro- 30UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 30UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio vavelmente entre LV1 e LV2), e 18% em v-10K ou v-3K (provavelmente ser > LV2). Esta distribuição de intensidade de treinamento foi idêntica em ambos os sexos (<2 h 16 min ou <2 h 38 min para homens ou mulheres) e atletas de elite (<2 h 11 min ou<2 h 32 min para homens e mulheres). Mas os atletas de elite correram mais no total de quilômetros e proporcionalmente mais quilômetros acima de V-10Km. Exames de dados de outro estudo descritivo de Billat et al. sobre homens e mulheres de corredores de elite do Quênia de 5 e 10 Km demonstraram que aproximadamente 85% de seu treinamento semanal foram corridos abaixo do limite da velocidade de limiar de lactato (BILLAT et al., 2003) Esteve-Lanao e Cols (2005) analisaram mais de 1000 registros de frequência cardíaca usando a abordagem de “Time in Zone” para quantificar o treinamento de oito atletas espanhóis de classe regional e nacional de longa distância durante um período de 6 meses. Zonas de intensidade foram estabelecidas em testes de esteiras. Em média, esses atletas correram 70 km por semana durante o período de 6 meses. Setenta e um por cento (71%) do tempo de corrida foi < LV1, 21% entre LV1 e LV2 e 8%> LV2. A intensidade média do treinamento foi de 64% VO2máx. Eles também relataram que o de- sempenho dos tempos em corridas longas e curtas foram inversamente correlacionados com o treinamento total de tempo na zona 1, ou seja, quanto mais tempo nessa zona, menores os tempos. Eles não encontraram correlação alguma entre o volume de treino realizado em alta intensidade com desempenho de corrida. Os remadores competem em uma distância de 2.000 m, exigindo de 6 a 7 min de esforço. Steinacker e Cols. (1998) relataram que o treinamento aeróbio de sessões entre 60 a 120 min em <2 mM de sangue lactato dominou o volume de treinamento dos remadores de elite de alemães, dinamarqueses, holandeses e noruegueses. O treinamento em intensidades mais altas foi realizado em cerca de 4% a 10% do tempo total do treinamento de remo. Os dados também sugeriram que remadores alemães se preparando para os campeonatos mundiais não realizaram essencialmente nenhum treinamento de remo na intensidade de limiar (TL), mas em vez disso, treinaram em baixa e alta intensidade na faixa de 6 a 12 mM. Fiskerstrand e Seiler (2004) examinaram desenvolvimentos históricos na organiza- ção de treinamento entre os remadores de elite. Usando dados de questionário diários de treinamento de atletas e registros de testes fisiológicos, eles quantificaram a distribuição da intensidade de treinamento em 27 atletas noruegueses que ganharam medalhas em mundiais ou olimpicas nas décadas de 1970, 1980, ou 1990. Eles documentaram que ao longo das três décadas o volume de treinamento teve aumentou cerca de 20% e o volume em baixa intensidade aumentou relativamente mais; as horas mensais de treinamento em alta intensidade foram realmente reduzidas em um terço; intensidade muito alta de treina- mento de sprint diminuiu drasticamente em favor do treinamento de intervalado mais longo em 85% a 95% do VO2máx e o número de acampamentos de altitude feitos pelos atletas 31UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 31UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio aumentou drasticamente. Ao longo deste cronograma de 30 anos, os atletas tiveram cerca de 12% o VO2max mais alto e uma melhoria de 10% no desempenho de remo ergômetro com nenhuma mudança na altura média ou massa corporal. No entanto, a maior parte desse aumento foi visto entre os anos 1970 e 1980, quando grandes ajustes na distribuição na intensidade do treinamento foram feitos. Guellich e Cols. (2009) descreveram o treinamento de remadores juniores da clas- se mundial da Alemanha durante um período de 37 semanas culminando em campeonatos nacionais e qualificação de corridas para os campeonatos mundiais. Vinte e sete dos trinta e seis atletas estudados conquistaram medalhas nos campeonatos mundiais juniores no período de treinamento analisado. Usando o método de análise de frequência cardíaca “time in zone” descrito acima, 95% de todo o tempo de treinamento de endurance (resistên- cia), foi realizado em baixa intensidade. Esta dominância do treinamento extensivo persistiu por nove meses. Contudo, o volume relativamente pequeno de TL e TAI aumentou da fase de preparação básica para a fase de competição, ou seja, a intensidade geral a distribuição tornou-se mais polarizada à medida que os atletas se aproximavam da competição. Os ciclistas profissionais de estrada são conhecidos por realizar volumes de treina- mento muito altos, de 30 a 35.000 km no ano. Zapico e colegas usaram o modelo da zona de três intensidades para rastrear características de treinamento de novembro a junho em um grupo de elite composto por ciclistas espanhóis sub-23 (ZAPICO et al., 2007). Além disso, foram realizados testes fisiológicos no início da temporada e no final dos mesociclos de inverno e primavera para comparar as mudanças de treinamento e resultados de testes fisiológicos. A Figura 2 compara a distribuição da intensidade de treinamento nos mesoci- clos de inverno e primavera. FIGURA 2- HORAS DE TREINAMENTO DE CICLISTAS ELITE ESPANHÓIS SUB-23 NO PERÍODO DE INVERNO E PRIMAVERA. Fonte: Adaptado de Zapico et al. (2007). 32UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 32UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio A comparação da distribuição de intensidades do treinamento nos dois períodos mostra que houve tanto um aumento no volume total de treinamento e um aumento de 4× no treinamento acima do LV2 durante o mesociclo da primavera. No entanto, o teste fisiológico não revelou nenhuma melhora adicional na potência em LV1, LV2, ou no VO2max entre o final dos mesociclos de inverno e primavera, apesar de uma clara intensificação do treinamento. Curiosamente, este não é um achado incomum. Tempo no VO2max ou tempo na potência de LV2 podem ser variáveis mais sensíveis para avaliar o impacto do treinamento intensificado em atletas altamente treinados com limiar estável e resultados do VO2max. O esqui cross-country adotou um sprint amigável ao espectador de 1000 a 1500 m corridas na última década (disputada como torneio eliminatório). Recentemente, Sandbakk et al comparou o treinamento e a fisiologia de oito esquiadores de classe internacional e oito esquiadores de cross-country sprint de classe nacional da Noruega (SANDBAKK Ø et al., 2010). Os esquiadores de elite internacional se destacaram com maior VO2pico, vVO2pico e tempo de exercício no VO2pico. Ao longo de um período de registro de 6 meses, os esquiadores de classe mundial treinaram volume cerca de um terço a mais (445 h vs 341), com quase toda essa diferença no tempo de treinamento devido a maiores volumes de treinamento de baixa intensidade (86 horas a mais) e treinamento de velocidade (mais 9 horas). Os dois grupos realizaram volumes idênticos de alta intensidade ao longo de 6 meses (19h em ambos os grupos, ou cerca de 45 min por semana). Schumacher e Mueller (2002) demonstraram a validade da modelagem de equilíbrio de poder na previsão de “padrões de medalha de ouro” para testes fisiológicos e produção de energia na corrida de ciclismo de perseguição de 4.000m. No entanto, menos óbvio que o título era a descrição detalhada do programa de treinamento monitorada no estudo. Esses atletas treinaram para manter uma média de intensidade de mais de 100% da po- tência no VO2max com um programa dominado por treinamento de baixa intensidade (TBI) (29.000–35.000 km/ano). Nos 200 dias anteriores às Olimpíadas, a equipe de perseguição realizou treinamento de “baixa intensidade e alta quilometragem” de 50 a 60% do VO2máx. em aproximadamente 140 dias. Etapas de corridas compreenderam aproximadamente 40 dias. Treinamento em intensidades específicas, próximas à competição foi realizado em menos de 20 dias entre março e setembro. Aproximadamente 110 dias antes da final olímpica, o treinamento intervalado de alta intensidade foi realizado em apenas 6 dias. Os estudos descritivos acima destacam a constatação paradoxal de que, embora todos os eventos olímpicos de resistência são realizados no ouacima do limiar de lactato (ou ≥85% VO2max), a grande maioria do treinamento realizado é concluída abaixo inten- 33UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 33UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio sidade do limiar de lactato. A duração do monitoramento de estudos publicados varia de semanas a uma temporada inteira, mas parece convergir para uma intensidade comum de distribuição: cerca de 80% das sessões de treinamento são de baixa intensidade (TBI) e o restante 20% são realizados como treinamento no limiar (TL) ou treinamento de alta intensi- dade (TAI). Para um atleta treinando de 10 a 14 vezes por semana, isso significa que duas a três dessas sessões seriam sessões de treinamento TL ou TAI. Esta distribuição se encaixa bem com as descobertas de que adicionar duas sessões de treinamento intervalados por semana por 4 a 8 semanas melhora o desempenho em 2% a 4% em atletas bem treinadas que fazem apenas treinamento básico de endurance (LINDSAY et al., 1996; DRILLER et al., 2009). Aumentos adicionais na frequência de TAI frequência não induz melhorias adicionais e tendem a induzir sintomas de overreaching / overtraining (BILLAT et al., 1999; HALSON e JEUKENDRUP, 2004) 34UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 34UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio 3. ESTUDOS DE INTENSIFICAÇÃO DE TREINAMENTO Apesar da consistência com que esta distribuição geral é observada, uma questão a ser ainda discutida é se a distribuição de intensidade de treinamento “80-20” é realmen- te um sistema auto organizado ideal para atletas de alto rendimento, ou um produto de tradição e/ou superstição. Vários estudos examinaram o impacto da intensificação do treinamento (com ou sem redução de volume correspondente) na fisiologia e/ou desem- penho em atletas bem treinados. Em 1997, Driller et al. publicou o primeiro de três artigos de um estudo envolvendo intensificação do treinamento em 20 esquiadores cross-country juniores bem treinados competindo em nível nacional ou internacional (EVERTSEN et al., 2001; EVERTESEN et al., 1997). No 2º mês antes do início do estudo, 84% do treinamento foi realizado a 60% a 70% do VO2max, com o restante a 80% a 90% do VO2máx. Eles foram então randomizados para uma intensidade moderada (MOD) ou um grupo de treinamento de alta intensidade (TAI). O grupo MOD manteve essencialmente a mesma distribuição de intensidade de treinamento, mas o volume de treinamento foi aumentado de 10 para 16h por semana. O grupo TAI reverteu sua distribuição de intensidade de linha de base para que 83% do tempo de treinamento fosse realizado em 80% a 90% do VO2máx, com apenas 17% realizado em baixa intensidade. O grupo TAI treinou 12h por semana. O período de intervenção de treinamento durou 5 meses. O controle de intensidade foi feito usando monitoramento da frequência cardíaca e amostragem de lactato sanguíneo durante o período de treinamento. 35UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 35UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio Apesar de 60% mais volume de treinamento em MOD e aproximadamente quatro vezes mais intensidade de treinamento maior ou igual ao limiar de lactato em TAI, as mu- danças fisiológicas e de desempenho foram bastante modestas em ambos os grupos de atletas bem treinados (Tabela 2). TABELA 2 - RESUMO DAS RESPOSTAS DA INTENSIFICAÇÃO DO TREINAMENTO DE ESQUIADORES CROSS-COUNTRY BEM TREINADOS. Aumento de Intensidade (n = 10) Aumento de Volume (n = 10) VO2 Máximo ↔ ↔ Velocidade no Limiar Anaeróbio ↑3% ↔ 20´ de Corrida em 9% Inclinação ↑3,8% ↑1,9% Tipo de Fibra ↔ ↔ Atividades Enzimáticas Transportadores MCT1 ↔ ↓12% Transportadores MCT4 ↔ ↔ Citrato Sintase ↔ ↔ Succinato Desidrogenase ↑6% ↔ Bomba de Sódio e Potássio ↑? ↑? Adaptado de Evertsen et al. (1997, 1999, 2001). Gaskill et al. relataram os resultados de um projeto de 2 anos envolvendo 14 esquiadores cross-country (GASKILL et al., 1999). Durante o primeiro ano, os atletas treinaram de forma semelhante, com uma média de horas de 660 treinamentos com 16% de TAI (distribuição nominal das sessões). Resultados de testes fisiológicos e os desem- penhos de corrida durante o primeiro ano foram usados para identificar sete atletas que responderam bem ao treinamento e sete que apresentaram baixo VO2máx e progressão do limiar de corrida. No segundo ano, os respondentes positivos continuaram usando seu programa de treinamento estabelecido, enquanto os não respondedores realizaram um programa de treinamento marcadamente intensificado com uma ligeira redução nas horas de treinamento. Eles observaram que os não respondentes do ano 1 mostraram um resul- tado positivo ao programa intensificado no ano 2 (VO2max, limiar de lactato, resultados de corrida). Os respondentes positivos do ano 1 mostraram um desenvolvimento semelhante tanto no ano 2 como no ano 1. Esteve-Lanao et al. randomizaram 12 corredores de longa distância sub-elite para um de dois grupos de treinamento (Z1 e Z2) que foram cuidadosamente monitorados por 5 meses (ESTEVE-LANAO, 2007). Eles baseiam sua distribuição de intensidade de treina- 36UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 36UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio mento no modelo de três zonas descrito anteriormente. Baseada no monitoramento do “time in zone”, Z1 realizou 81, 12 e 8% do treinamento em zonas TBI, TL e TAI respectivamente. O grupo Z2 realizou mais em TL, com 67, 25 e 8% do treinamento realizado nas três zonas respectivas. Curiosamente, os autores relataram que nos esforços-piloto, eles não foram capazes de aumentar o tempo total passado na zona de intensidade 3, pois era muito difícil para os atletas. A carga total de treinamento foi combinada entre os grupos usando uma modificação do TRIMPS. Melhorias em um contrarrelógio realizado antes e após o período de 5 meses revelou que o grupo que treinou mais o treinamento da zona 1 mostrou uma melhora significativamente maior no tempo de corrida (–157 ± 13 s vs –121,5 ± 7,1 s, P = 0,03). Ingham e Cols. (2008) randomizaram 18 remadores experientes do sexo masculino de padrão nacional do Reino Unido em dois grupos de treinamento que eram inicialmente equivalentes com base no desempenho e testes fisiológicos. Todos os remadores haviam completado 25 dias de pós-temporada “livres de treinamento” período imediatamente antes do teste de linha de base, seguido por um período de 12 semanas de treinamento em remoergômetro. Um grupo realizou 98% de todo o treinamento entre 60 e 75% do consumo do pico de oxigênio (TBI). O outro grupo realizou 70% do treinamento em 60% a 75% do VO2máx, bem como 30% do treinamento a uma intensidade de 50% entre a potência no LV2 e a potência no VO2pico (MIX). Na prática, o grupo MIX realizou TAI em 3 dias por semana. Os dois grupos realizaram volumes virtualmente idênticos de treinamento (aprox. 1140 km no ergômetro), com variação individual de ± 10%. Os resultados mostraram que 16 dos 18 atletas bateram novos recordes pessoais para o teste de 2000 metros no ergômetro ao final do estudo. Os autores concluíram que o treinamento TBI e MIX tiveram efeitos positivos semelhantes no desempenho e VO2máx. O TBI pareceu induzir um maior desvio para a direita no perfil de lactato no sangue durante o exercício submáximo, mas isso não se traduziu em um maior ganho no desempenho do ergômetro. 37UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 37UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio 4. PERIODIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS DE TREINAMENTO Atletas de endurance de elite treinam sistematicamente > 11 meses do ano e podem realizar mais de 600 sessões de treinamento individual, todas com o objetivo de atingir o máximo desempenho em um momento específico da temporada. Além disso, o pico de de- senvolvimento do atletapode levar 10 anos de treinamento específico, usando um ciclo de preparação de 2 ou 4 anos para campeonatos mundiais ou eventos olímpicos (BALYI, 2002). O treinamento é planejado em diferentes períodos ou ciclos de treinamento. A “linguagem de periodização” frequentemente incorpora termos de duração de fase, como micro, meso e macrocilo, mas essa taxonomia evoluiu da prática de coaching, não da pesquisa. Para os propósitos desta Unidade usaremos termo periodização de curto prazo para descrever a manipulação de variáveis de treinamento diária durante alguns dias até algumas semanas. Periodização de longo prazo de treinamento refere-se à manipulação do treinamento em ciclos que duram semanas a vários meses. A manipulação de curto prazo das cargas de intensidade e duração parece ser muito importante para manter a saúde do atleta e a tolerância para o treinamento. A periodização de longo prazo é projetada para facilitar o desenvolvimento da capacidade ao longo do tempo, e garantir que o pico de desempenho seja apropriadamente. 38UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 38UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio Desde que Matveyev introduziu seu modelo clássico de periodização de volume e intensidade no treinamento há quatro décadas, tem havido considerável debate sobre a melhor forma de organizar a exposição de longo prazo aos estímulos de treinamento(ou seja, volume, intensidade, modelo) para atletas de endurance (resistência) modernos (MATWEJEW, 1972). Uma série de estruturas de periodização de longo prazo estruturas foram conceituadas e descritas (MATWEJEW, 1972; TSCHIENE, 1977), contudo, estudos controlados comparando o impacto dessas diferentes estruturas organizacionais no de- sempenho de endurance ainda são escassos. Uma suposição subjacente que influencia os princípios de organização do treinamento de longo prazo em endurance parece ser a adaptação dos componentes periféricos e centrais da cadeia respiratória serem diferen- cialmente impactados pela intensidade e duração do treinamento, com cursos de tempo, e alcance adaptativos diferentes e adaptativos. A função miocárdica pode ser um pouco mais responsiva à maior enchimento ventricular e pré carga associados à intensidade de exercício quase máxima (DAUSSIN et al., 2007; HELGERUD et al., 2007). O impacto fisiológico e de desempenho de adicionar TAI aos atletas de endurance (resistência) treinados que não têm realizado TAI são rápidos (LINDSAY et al., 1996; WESTON et al., 1997). No entanto, outros benefícios derivados do TAI, como maior capacidade de manter a acidose sanguínea (WESTON et al., 1997). O impacto cardiovascular da amplificação de intensidade adicional em pessoas já bem treinadas (TBI + TAI) parece limitado na me- lhor das hipóteses (ZAPICO et al., 2007; BILLAT et al., 1999). Em contraste, adaptações periféricas tais como densificação capilar e expansão do volume mitocondrial (medido direta ou indiretamente como melhorias na capacidade de utilização fracionada) parecem continuar a responder ao treinamento por muitos meses a grandes volumes de TBI (ZAPI- CO et al., 2007; INGHAM et al., 2008; BALYI, 2002; GUELLICH et al., 2010). Ao mesmo tempo, há algumas evidências sugerindo que a relação lactato-potência no sangue pode realmente ser neutralizada, ou mesmo negativamente impactada negativamente por grandes volumes de TAI em atletas bem treinados (BALYI, 2002; GUELLICH et al., 2010). No entanto, faltam explicações para essas observações. Poucos estudos documentaram de fato a distribuição de intensidade e volume de atletas de endurance ao longo de várias fases de seu ciclo de treinamento anual (ZAPICO et al., 2007; GUELLICH et al., 2009; SCHMACHER e MUELLER, 2002; GASKILL et al., 1999). Esses estudos - histórias de casos não publicados de atletas de elite e feedback de treinadores - todos sugerem que, embora haja um claro aumento no TAI passando do período de preparação para o período de competição, a ênfase em volumes substanciais 39UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 39UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio do treinamento de baixa intensidade permanece bastante forte. Muito pouco está docu- mentado sobre a correlação entre as respostas ao treinamento no período de preparação e capacidade ou desempenho meses depois no período de competição (INGJER, 1991). Por exemplo, recentemente observou-se que, enquanto as respostas do perfil de lactato a testes padronizados antes e depois de um período de 12 semanas de preparação básica de ciclistas de pistas alemães de classe nacional variaram de fortemente positivo a nega- tivo, esses resultados não foram correlacionados com sucesso no final da temporada em campeonatos (GUELLICH et al., 2010). O progresso na compreensão da periodização de longo prazo provavelmente exigirá o monitoramento sistemático do atleta por órgão do governo ou centros olímpicos em cooperação com cientistas do esporte. Periodização de treinamento de curto prazo, envolvendo a manipulação da intensidade e duração dia-a-dia até algumas semanas, foi investigado mais extensivamente. Atletas de endurance (resistência) treinam, descansam e repetem. As variáveis de treinamento (intensidade, duração) e recuperação (intervalo de descanso, nutrição) intera- gem para induzir a aptidão (isto é, adaptações fisiológicas) e fadiga (ou seja, respostas ao estresse e resultados positivos associados à saúde). Esta dicotomização prática foi intro- duzida por Banister e colegas em seus estudos de modelagem do processo de treinamento (BANISTER et al., 1986; BANISTER e CALVERT, 1980; MORTON, 1990). O valor preditivo e estabilidade de sua abordagem matemática para a relação entre a entrada de treinamento e o resultado na aptidão física foi desafiado (HELLARD et al., 2006). Conceitualmente, o modelo continua útil na medida em que prevê a organização do dia-a-dia de treinamento, recuperação e estratégias de nutrição que devem tender a maximizar o ganho de aptidão para um determinado período de longo prazo. Durante alguns dias, os atletas normalmente realizam sessões TBI e TL / TAI. Cavalos são treinados de forma semelhante, com alternância de “dias fáceis” de corrida contínua e “dias difíceis” de treinamento intervalado. Bruin e colegas (1994) reali- zaram um estudo de longo prazo com treinamento de cavalos em que eles manipulavam o ritmo difícil e fácil de duas maneiras. Depois de 187 dias de treinamento diário de maneira fácil e difícil, dias de treinamento difícil foram intensificados pela realização de mais corridas totais de alta intensidade, com dias fáceis deixados inalterados. Os cavalos apresentaram melhor desempenho de corrida ao longo dos próximos 75 dias. Após 261 dias, os dias fáceis foram intensificados com os cavalos correndo mais rápido pela mesma duração. Em 5 dias, os cavalos não foram mais capazes de completar o TAI e mostrou sinais claros de sintomas de descompensação e overtraining (alta carga de treinamento). Foster estendeu 40UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 40UNIDADE II Distribuição de Intensidade e Volume de Treinamento Aeróbio essa descoberta para atletas humanos e conceitualizou a monotonia de treinamento com o risco aumentando de adaptações negativas ao treinamento (FOSTER, 1998). O alto estresse do treinamento foi quantificado como um produto de grandes volumes de treina- mento, alta intensidade percebida e baixa variação diária na carga de treinamento. Atletas de elite costumam treinar duas ou até três vezes por dia, fazendo com que o intervalo de descanso entre as sessões de treinamento normalmente fique entre 4 e 12h. Alcançar esta frequência de treinamento sem estresse excessivo requer um gerenciamento cuidadoso da intensidade do treinamento. 41UNIDADE I Contribuição Energética do Sistema Aeróbio 41UNIDADE II Distribuição de Intensidade
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