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Perícia Contábil

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Prévia do material em texto

Martinho Maurício Gomes de Ornelas 
5ª edição 
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' ' 
MARTINHO MAURÍCIO GOMES DE ÜRNELAS 
• 
PERÍCIA CONTÁBIL 
Sª Edição 
SÃO PAULO 
EDITORA ATLAS S.A. - 2011 
© 1994 by Editora Atlas S.A. 
l.ed. 1994; 2.ed. 1995; 3.ed. 2000;4. ed. 2003; 
5. ed. 2011 ( 4 impressões) 
Capa: Aldo Catelli 
Composição: Lino-Jato Editoração Gráfica 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
Ornelas, Martinho Maurício Gomes de 
Perícia contábil/Martinho Maurício Gomes de Ornelas. - 5. ed. - São Paulo : Atlas, 2011. 
Bibliografia. 
ISBN 978-85-224-6258-2 
1. Contabilidade 2. Prova pericial I. Título. 
93-3045 CDD-657 
Índice para catálogo sistemático: 
1. Perícia contábil 657 
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer 
forma ou por qualquer meio. A violação dos direitos de autor (Lei nº 9.610/ 98) é crime 
estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal. 
Depósito legal na Biblioteca Nacional conforme Lei nº 10.994, de 14 de dezembro de 2004. 
Impresso no Brasil/Printed in Brazil 
1 
• 1 
. \ \ 
Editora Atlas S.A. 1 (. 
Rua Conselheiro Nébias, 1384 (Campos Elísios) 
01203-904 São Paulo (SP) 
Te!.: (011) 3357-9144 
www.EditoraAtlas.com.br 
N. cham.: 657 081 
Al1tor: Omelas, Martinho Maurício Gom 
Título: Perícia contábil. 
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::4 73 1 
e .," "cr.n nro 
A Iracy, Teo e Laura, 
minha querida fama.ia . 
• 
Apresentação, xi 
Prefácio à 5ª edição, xiii 
Prefácio à 4ª edição, xv 
Prefácio à 3ª edição, xvii 
Prefácio à l ª e 2ª edição, xix 
Introdução, 1 
SUMÁRIO 
1 Prova pericial: noções introdutórias, 5 
1.1 Introdução, 5 
1.2 Prova pericial, 6 
1.3 Função da prova pericial, 8 
1.4 Ônus da prova, 9 
1.5 Meios de prova, 12 
1.6 Modalidades da prova pericial, 14 
2 Perícia contábil, 15 
2.1 Alguns conceitos, 15 
2.2 Objeto da perícia contábil, 17 
2.3 Modalidades de perícia contábil, 18 
2.4 Admissão da perícia contábil, 20 
viii Perícia Contábil • Ornelas 
3 Exercício da função pericial contábil, 22 
3 .1 Aspectos legais e profissionais, 22 
3.2 Escolha do perito, 26 
3.3 Indicação do assistente técnico, 27 
3.4 Perícia contábil em arbitragem, 28 
3.5 Direitos e deveres funcionais , 30 
3.6 Perfil profissional, 34 
4 Perícia no Código de Processo Civil, 37 
4.1 Código de 1939, 37 
4.2 Decreto-lei nº 8.570, de 1946, 41 
4.3 Código de 1973, 42 
4.4 Lei nº 8.455, de 1992, 43 
4.5 Lei nº 8.952, de 1994, 46 
4.6 Lei nº 10.358, de 2001, 46 
4. 7 Lei nº 10.406, de 2002, 48 
4.8 Lei nº 11.232, de 2005, 48 
4.9 Novo Código de Processo Civil, 49 
5 Técnicas do trabalho pericial judicial, 50 
5.1 Introdução, 50 
5.2 Ambientes do trabalho pericial, 50 
5.3 Desenvolvimento do trabalho pericial, 51 
5.3 .1 Procedimentos preliminares, 52 
5.3.2 Organização e planejamento da perícia, 55 
5.3 .3 Diligências, 58 
6 Quesitos, 67 
6.1 Questionário básico, 6 7 
6.2 Quesitos suplementares, 72 
6.3 Pedido de esclarecimentos, 72 
6.4 Uso da linguagem técnico-contábil, 74 
7 Relatórios periciais contábeis: laudo e parecer, 76 
7 .1 Relatórios periciais, 76 
7.2 Laudo pericial contábil, 76 
7.2.l Aspectos gerais, 76 
7.2.2 Organização e desenvolvimento do conteúdo, 78 
7.2.3 Estética, 82 
7.2.4 Alguns tipos de laudo, 83 
7.3 Parecer pericial contábil, 87 
7.4 Encaminhamento do laudo e do parecer, 89 
8 Remuneração do trabalho pericial, 92 
8.1 Quando em função judicial, 92 
8.1.1 Honorários de perito judicial, 92 
8.1.1.1 Depósito integral, prévio e complementar, 95 
8.1.1.2 Levantamento dos honorários, 96 
8.1.1.3 Algumas particularidades, 98 
8.1.1.4 Modelos de petição, 99 
8.1.2 Honorários de assistente técnico, 100 
8.2 Quando em função extrajudicial, 101 
9 Perspectivas da perícia contábil, 113 
Apêndice A - Normas Técnicas e Funcionais de Perícia Contábil, 118 
Sumário ix 
Apêndice B - Modelo de Proposta/Contrato de Prestação de Serviços de Assi.stência Técnica, 143 
Bibliografia, 149 
~ -- ~ ~ ----- -
APRESENTAÇÃO 
Maurício de Ornelas é um profissional que respeito. Fiquei surpreso, entre-
tanto, quando me procurou com uma cópia de sua dissertação de mestrado, di-
zendo que me queria como autor da apresentação da obra: esta seria examinada 
e julgada, pouco tempo depois, no exame essencial à obtenção do título. Fiquei 
de ler o trabalho e de escrever alguma coisa. 
Para os advogados que exercem sua profissão em juízo, o conhecimento do 
que deve ser a prova pericial contábil é essencial. Só por esse motivo já merece 
encômios o autor, pela facilidade com que brinda a classe dos advogados militan-
tes com este livro que vai divulgar. Comentários sobre o que sejam as provas, até 
mesmo as provas contábeis, nós os temos, de variados e eruditos autores, mas 
trabalho que se dedique exclusivamente à perícia contábil, com ensinamentos 
valiosos para os praticantes do direito, só conheço este. 
Para os advogados, os peritos contábeis são de duas espécies: o nomeado 
pelo juiz e o escolhido por ele, advogado da causa, seja como autor ou como réu. 
O primeiro, de escolha do juiz, pode e deve ser culto, bom e imparcial. O outro, o 
perito assistente, deve ter também duas dessas qualidades, mas atuar muito mais 
como um advogado, como um advogado especializado na matéria contábil que 
precisa ser examinada. Isso, aliás, é o que se aplica a quaisquer assistentes peri-
ciais em qualquer tipo de prova, e não apenas na contábil. O assistente técnico é 
o advogado da parte em matéria técnica; posso até dizer que o assistente técnico 
é o perito particular do advogado da causa. Diferentes as situações, diferentes as 
atuações, diferentes os resultados. 
É de ver que, sobre o perito contábil, pouca influência possa o advogado da 
causa exercer. Não é o perito do juiz da escolha do advogado: a confiança que 
xii Per íc ia Contábi l • Ornelas 
reflete é a recebida do juiz que o nomeou. Totalmente diversa a situação do as-
sistente técnico, em matéria contábil ou outra qualquer: este é de confiança do 
advogado que o escolheu e, dentro do possível (tal como ocorre com o próprio 
advogado), deve procurar defender os legítimos interesses da parte que o contra-
tou, dentro dos limites de suas qualificações profissionais. Não presta os serviços 
desejados, muito menos aqueles para os quais foi contratado, o perito e assistente 
técnico que tenta ser imparcial, da mesma forma como se comete essa obrigação 
ao perito do juiz. 
Daí a importância do assistente técnico, desde a elaboração dos primeiros quesi-
tos apresentados nos autos; maior sua relevância, quando do preparo dos eventuais 
quesitos suplementares, e no exame do laudo apresentado pelo perito do juiz; ainda 
maior a importância do assistente técnico, quando aconselha o advogado da parte 
sobre os pedidos de esclarecimentos que serão apresentados em audiência. 
Questão delicada, e difícil, é a dos salários dos peritos - quaisquer que sejam. 
O escolhido pelo juiz faz sua proposta - contra a qual é difícil aos advogados das 
partes se rebelarem ou criticarem, com o receio justo de serem brindados com a 
má vontade, ou relutância, do perito do juiz em examinar as questões apresenta-
das com aquela imparcialidade a que a lei obriga. Se esta já é uma situação difícil 
para os advogados, quando não conhecem o perito, mais difícil se torna se já 
terçaram armas, em outros processos, com o perito do juiz. Essa é uma situação 
às vezes constrangedora, mas inevitável. 
A remuneração dos assistentes técnicos é estabelecida livremente entre estes 
e o advogado que os contrata. Leia-se "tão livremente quanto possível", porque 
essa remuneração está atrelada, em parte, à do perito do juiz e em não menor 
parte em sua receptividade às sugestões dos advogados e dos clientes que os 
contratam. Todavia, é forçoso reconhecer as divergências que hoje se notam a 
respeito dos salários dos peritos, que são muito menores com relação aos dos 
assistentes técnicos do que com relaçãoaos dos peritos nomeados pelos juízes. 
Os aspectos examinados pelo autor conduzem a importantes reflexões sobre 
todos esses temas. O trabalho que preparou muito facilita o dos advogados que se 
veem na contingência de contratar um assistente técnico contábil. 
Maurício de Ornelas é um estudioso da matéria. Suas preocupações com o 
ensino e a prática profissional transparecem neste trabalho que tem também o 
mérito de orientar contadores para a função pericial. Antecipa-se o autor aos 
próprios cursos de formação dos bacharéis em ciências contábeis, que a partir de 
agora, por determinação do Conselho Federal de Educação, terão a Perícia Contá-
bil como disciplina obrigatória. 
Como profissional, confirma o conceito que dele meus companheiros e eu 
formamos, há muito tempo. Que prossiga em seus estudos e sempre com a vonta-
de de contribuir para a elevação da profissão que adotou, com o que ajudará não 
só seus companheiros de profissão, mas principalmente os advogados e a Justiça. 
São Paulo, 30 de maio de 1994. 
J. M. Pinheiro Neto - KBE 
PREFÁCIO À 5ª EDIÇÃO 
Esta 5ª edição vem com questões novas relacionadas à perícia contábil e ao 
perito contador. 
A primeira delas diz respeito às novas Normas Brasileiras de Contabilidade 
relativas à perícia e ao perito. Trata-se da NBC-TP-01 - Perícia Contábil e da NBC-
PP-01 - Perito Contábil, baixadas pelo Conselho Federal de Contabilidade, em 
dezembro de 2009. 
Procedemos a várias adaptações do texto para enfatizar a produção de prova 
pericial contábil nos procedimentos de arbitragem. 
A função de assistente técnico é apresentada, em tópico destacado, em face 
da relevância que lhe é inerente. 
O texto foi amplamente revisto, ora reformulando, ora ampliando determi-
nados temas. 
Acredita-se que o leitor sai beneficiado com esta nova edição de um primeiro 
texto publicado em 1994. 
São Paulo, dezembro de 2010. 
Martinho Mauricio Gomes de Ornelas 
~ -- ~ ~ ----- -
PREFÁCIO À 4ª EDIÇÃO 
Pouco tempo se passou desde a 3ª edição deste livro; entretanto, aconteci-
mentos relevantes no mundo jurídico pátrio, em especial a entrada em vigor do 
novo Código Civil - Lei nº 10.406, de 10-1-2002 -, que revogou a Parte Primeira 
do Código Comercial - Lei nº 556, de 25-6-1850 - neste mês de janeiro de 2003, 
exigiram a revisão e acréscimos em seu conteúdo. 
Assim, todas as referências à parte revogada do Código Comercial foram 
excluídas, adaptadas ou modificadas, considerando os dispositivos correlatos e 
aqueles novos contidos no novo Código Civil. 
A Lei nº 10.358, de 27-12-2001, que introduziu acréscimos e modificações no 
Código de Processo Civil, de interesse da perícia contábil, também foi fator que 
determinou modificações no conteúdo do livro. 
Além desses aspectos, procedeu-se à revisão de todo o texto, ampliando ou 
reformulando determinados assuntos. 
Espera-se que o leitor usufrua desta edição modificada e ampliada. 
São Paulo, janeiro de 2003. 
Martinho Maurício Gomes de Orneias 
~ -- ~ ~ ----- -
• 
PREFÁCIO À 3ª EDIÇÃO 
Já se passaram cerca de cinco anos desde que veio a lume a primeira edição 
deste livro. A estrutura básica do livro permanece válida, entretanto, já reclama-
va algumas revisões e inclusões. É o que fizemos nesta 3ª edição. 
Com o advento da Lei nº 9 .307, de 23 de setembro de 1996, Lei de Arbitra-
gem, foram revogados os dispositivos sobre o juízo arbitral contidos no Código de 
Processo Civil. Assim, foi necessário reescrever os trechos onde se tratou do juízo 
arbitral, e, pela relevância e novidade do tema, tratou-se do assunto no Capítulo 
3, em tópico específico. 
Por força de acréscimo de parágrafo único ao artigo 33, CPC, introduzido pela 
Lei nº 8.952, de 13 de dezembro de 1994, foi necessário reescrever parte do Ca-
pítulo 8, que trata da remuneração do trabalho pericial, considerando que o ma-
gistrado pode determinar que o perito nomeado ofereça orçamento ou estimativa 
da sua remuneração a ser fixada e depositada antes do início do trabalho pericial. 
A reformulação das Normas Técnicas de Perícia Contábil e Funcionais do 
Perito, aprovadas no decorrer do mês de outubro de 1999, pelo Conselho Federal 
de Contabilidade, provocou a necessidade de adaptar o texto às modificações ali 
contidas. Sem prejuízo do conteúdo, entendeu-se mais conveniente tratar do as-
sunto em tópico específico; assim, em Apêndice são abordados e comentados os 
normativos aprovados pelo Conselho Federal de Contabilidade, relativos à perícia 
contábil e ao exercício da função pericial. 
Espera-se que o leitor obtenha proveito desta edição revisada e ampliada. 
São Paulo, janeiro de 2000. 
Martinho Maurício Gomes de Ornelas 
~ -- ~ ~ ----- -
PREFÁCIO À 1 ª E 2ª EDIÇÃO 
Este livro, que é o resultado da dissertação de Mestrado apresentada ao Pro-
grama de Estudos Pós-Graduados em Contabilidade da Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo, em junho de 1994, sintetiza minha experiência profissio-
nal e acadêmica nestes últimos anos. 
Reflete minha prática e preocupação profissionais no desenvolvimento de 
perícias contábeis judiciais, como perito contábil nomeado por magistrados da 
capital de São Paulo, ou como assistente técnico indicado por escritórios de ad-
vocacia paulistas. 
É, também, resultado de minha atividade acadêmica de professor da disci-
plina Perícia Contábil oferecida aos alunos do curso de Ciências Contábeis da 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, desde 1978. 
Em seu todo, sem qualquer pretensão de esgotar o assunto ou intenção de 
ser obra perfeita ou acabada, é uma contribuição que se coloca à disposição do 
profissional contábil brasileiro, creio inédita na forma como o assunto é tratado, 
relativa ao estudo e desenvolvimento de uma das áreas de aplicação da ciência 
contábil, a da perícia contábil, no âmbito judicial. 
Perícia contábil é um dos meios que as pessoas têm a sua disposição, garanti-
do constitucionalmente de se defenderem ou exigirem direitos nas mais variadas 
situações, e seu estudo possibilita fazer uma avaliação da própria ciência contá-
bil, à medida que se entende o sistema contábil como o melhor banco de dados, 
consequentemente um dos melhores instrumentos de prova de fatos patrimo-
niais, quantificáveis monetariamente. 
XX Perícia Contábil • Ornelas 
Três momentos podem ser descortinados no texto. O primeiro deles revela o 
que é e a que se presta a perícia contábil. O segundo momento cuida da elabo-
ração do trabalho pericial contábil. O terceiro momento revela um diagnóstico 
positivo das possibilidades de desenvolvimento da perícia contábil no país. 
Dois ambientes científicos convivem neste livro: (1) o da ciência jurídica: 
o desenvolvimento da perícia contábil, em seus aspectos formais, é matéria de 
Direito Processual Civil; (2) o da ciência contábil dá-nos o contexto teórico nor-
teador do conteúdo da prova técnica. 
O presente livro procura sistematizar aspectos relevantes sobre a perícia 
contábil, colocando à disposição dos leitores conteúdo de muita utilidade para 
aqueles que se dedicam ou que poderão vir a interessar-se pela função pericial 
contábil. 
É, por outro lado, texto que contribuirá e auxiliará os professores no desen-
volvimento da disciplina Perícia Contábil do curso de Ciências Contábeis, bem 
assim de interesse dos advogados que desenvolvem sua profissão em juízo. 
São Paulo, julho de 1994. 
Martinho Maurício Gomes de Ornelas 
AGRADECIMENTOS 
Muitos são aqueles a quem devo agradecer, uns por serem responsáveis por 
minhas escolhas profissionais, outros por me terem incentivado no desenvolvi-
mento deste livro. 
Não poderia deixar de lembrar de Vaner Bícego, que conheci na cidade de 
Maringá, Paraná, nos idos de 1977, pois foi por meio de sua recomendação que 
tive a oportunidade de iniciar meus trabalhos periciais. 
Ao Dr. Sebastião Oliveira Lima, em 1978, Juiz Federal da Sexta Vara Federal 
em São Paulo, hoje Juiz do Tribunal Regional Federal - 3ª Região, responsável 
por minha primeira nomeação comoperito judicial contábil, bem como ao Dr. 
Ubiratan Mattos, de Pinheiro Neto - Advogados, que me proporcionou, pela pri-
meira vez, a oportunidade de funcionar como assistente técnico. 
Ao Dr. Paulo Octávio Baptista Pereira, Juiz Titular da Décima Vara da Justiça 
Federal em São Paulo, hoje membro do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, 
por ter colocado sua biblioteca à disposição de nossa pesquisa; à Dra. Christine 
Santini Muriel, digna Juíza de Direito da Comarca de São Paulo, pela leitura e 
contribuições oferecidas. 
Aos colegas peritos que sempre me incentivaram com sugestões muito opor-
tunas. 
Agradecimento especial ao honrado colega Valder Luiz Palombo Alberto, que 
se dignou ler o presente livro, oferecendo críticas e comentários de muita perti-
nência e profundidade. 
XXÍÍ Perícia Contábil • Ornelas 
Ao nobre Prof. Dr. Sérgio de Iudícibus, digno orientador e incansável edu-
cador e divulgador da ciência contábil no país, responsável pela materialização 
desta contribuição que ora ofereço. 
À colega Profa. Dra. Sueli Cristina Marquesi, que teve a gentileza de ler os 
originais, oferecendo sugestões e correções muito oportunas, nossos sinceros 
agradecimentos. 
Agradecimentos especiais aos colegas professores da disciplina de Perícia 
Contábil oferecida nos cursos de graduação em Ciências Contábeis deste imenso 
país que vêm adotando este livro em suas aulas e, mais especialmente, por seus 
comentários sempre oportunos que têm ensejado a melhoria do próprio texto. 
A meus alunos da cadeira de Perícia Contábil do Curso de Ciências Contábeis 
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que, desde 1978, obrigaram-me 
a cada vez mais aprofundar meus estudos sobre o tema prova pericial contábil. 
Nesta 5ª edição, é meu dever consignar e agradecer as contribuições ofereci-
das pelo colega Prof. Dr. Ivam Ricardo Peleias. 
INTRODUÇÃO 
Este livro é uma contribuição ao estudo e desenvolvimento de uma das áreas 
de aplicação da Ciência Contábil, ou seja, a da Perícia Contábil, no âmbito do 
Poder Judiciário, ainda muito pouco explorada ou conhecida, seja em trabalhos 
publicados, seja em livros-textos. Muito embora seja dada ênfase à vertente judi-
cial, não se olvidou sua aplicação no campo extrajudicial, neste incluída a perícia 
contábil determinada pelos tribunais arbitrais . 
Prova Pericial Contábil é um dos meios que as pessoas naturais e jurídicas 
têm a sua disposição, garantido constitucionalmente, de se defenderem ou exigi-
rem direitos nas mais variadas situações econômicas e sociais. Trata-se do direito 
de o cidadão defender-se, e uma das formas de exercitá-lo é por meio da prova 
técnica, ou seja, a pericial que, em nossa área científica, é a contábil. 
Falar de Perícia Contábil é, portanto, num plano abrangente, trazer à tona 
direitos essenciais das pessoas, o direito do contraditório e da ampla defesa. 
Como preliminar, cabe esclarecer o significado de alguns termos usados neste 
livro. 
A aplicação da expressão prova pericial, de uso genérico no Judiciário, é 
adotada quando queremos referir-nos a prova técnica, ou seja, quando os fatos 
alegados pelas partes são de natureza científica ou artística, para os quais o ma-
gistrado vai precisar de opinião técnica de um especialista, no caso, o perito. 
Nesse sentido, a palavra perícia tem o mesmo significado de prova pericial 
ou prova técnica. No mesmo diapasão, pode-se entender prova pericial contábil 
ou perícia contábil. 
2 Perícia Contábi l • Orn elas 
Dois podem ser os objetivos que justificam o requerimento de prova técnica 
contábil. 
Um deles pode ter a intenção de procrastinar o desate do litígio, pois em sua 
origem mais remota, ou seja, a própria propositura da ação, já tem esse caráter 
protelatório. Trata-se do conhecido ganhar tempo. Naturalmente, essas tentati-
vas devem e são rechaçadas pelo magistrado. 
Como objetivo relevante para seu requerimento, existem razões objetivas 
de provar, pelos fatos patrimoniais, a tese ou as questões submetidas ao Poder 
Judiciário. 
Nossa preocupação central, neste livro, é com este segundo objetivo, e a ra-
zão é simples, pois possibilitará fazer uma reavaliação da própria ciência contá-
bil, nesse campo de aplicação, à medida que se entende o sistema contábil como 
o melhor banco de dados e, consequentemente, um dos melhores instrumentos 
de prova de fatos patrimoniais, quantificáveis monetariamente. 
No Judiciário, parafraseando Fernando Pessoa, um dos maiores poetas lusi-
tanos, provar é preciso. Nesse sentido, não basta alegar direitos. É fundamental 
transformar os fatos alegados, por meio da prova técnica contábil, em certeza 
jurídica. 
Chegam alguns juristas de renome nacional a dizer que a essência de um 
processo é a prova. 
Começa com a necessidade de ser provado que existe autorização para se ini-
ciar o processo. A parte interessada passa procuração a seu advogado, dando-lhe 
poderes específicos para propor ação ou defendê-la. 
A parte que passou a procuração tem que provar que pode e tem capacidade 
jurídica para dar esses poderes. É o caso, por exemplo, de um sócio ou diretor 
de entidade jurídica que tem que juntar ata de assembleia ou contrato social nos 
quais constem seus poderes. 
Se os fatos alegados pelas partes versarem sobre questões de natureza técni-
ca, havendo contestação ou dúvidas por parte do magistrado, ha\·erá, com cer-
teza, a necessidade da produção de prova técnica, em nosso caso prova pericial 
contábil. 
Em determinados casos, como veremos, a produção de prü\·a técnica surge 
não da existência de controvérsia, mas por determinação legal. 
Dois ambientes científicos estarão convivendo neste livro, à medida que ele 
se situa numa área limítrofe entre a Contabilidade e o Direito. 
Do Direito estaremos alimentando-nos de todo o embasamento teórico da 
denominada Teoria da Prova e do Direito Processual Civil, naquilo que se 
refere à prova técnica e à função do perito e do assistente técnico, à medida que 
a perícia contábil tem de obedecer a determinados rituais, ou seja, o desenvol-
Introdução 3 
vimento de uma perícia contábil, em seus aspectos formais, é matéria de Direito 
Processual Civil. 
A Contabilidade dá-nos o segundo contexto teórico, que vai nortear o de-
senvolvimento do conteúdo da prova técnica; consequentemente, os princípios 
fundamentais de Contabilidade, os sistemas contábeis aplicados a cada caso e 
as Normas Técnicas de Perícia Contábil e Funcionais de Perito, aprovadas pelo 
Conselho Federal de Contabilidade, estarão sempre presentes na realização da 
perícia contábil. 
Os três primeiros capítulos deste texto delineiam o ambiente teórico-proces-
sual, técnico e funcional que permeiam a perícia contábil. 
No Capítulo 1, apresentamos as noções fundamentais quanto ao estudo da 
prova pericial, inserindo aqui aspectos relevantes quanto à função da prova, ônus 
da prova, meios de prova e as modalidades de prova pericial admitidas no Judi-
ciário, buscando, na área do Direito Processual Civil, os subsídios necessários ao 
desenvolvimento desses aspectos. 
O Capítulo 2 tem por preocupação apresentar conceitos fundamentais quan-
to ao que seja perícia contábil, seu objeto, suas modalidades, possibilidades e 
admissão desse tipo de prova técnica, isto é, o eixo central do texto. 
No Capítulo 3, traçamos os aspectos centrais do exercício profissional da fun-
ção pericial contábil, na qualidade de perito e de assistente técnico. Abordamos 
quem pode exercer essas funções, como são nomeados os peritos e indicados os 
assistentes técnicos, seus direitos e deveres funcionais , ou seja, os aspectos legais 
do exercício da função e, por fim, o perfil profissional requerido do perito em 
Contabilidade. 
O Capítulo 4 apresenta uma evolução histórica, desde o Código de Processo 
Civil de 1939, até os dias atuais, dos aspectos mais significativos da prova pericial 
e da função pericial, seja do perito, seja do assistente técnico. São enfatizados os 
acréscimos trazidos pela Lei nº 10.358, de2001, especialmente quanto ao dever 
de o perito dar ciência às partes do dia e local de início da prova, bem como da 
possibilidade da realização de perícias complexas. Introduz-se o leitor em deter-
minados aspectos do novo Código Civil, de interesse da perícia contábil, que num 
futuro próximo, crê-se, irão provocar modificações e adaptações, ou, possivel-
mente, um novo Código de Processo Civil. 
Os Capítulos 5 a 7 estão voltados para o desenvolvimento do trabalho peri-
cial contábil propriamente dito. 
No Capítulo 5, são apresentadas as etapas de desenvolvimento do trabalho 
pericial, desde seus primeiros momentos, que se inicia com a nomeação e indica-
ção do perito, aquela de responsabilidade do magistrado ou do tribunal arbitral, 
esta de responsabilidade das partes, passando pela organização e planejamento 
do trabalho pericial e trabalhos de campo, no caso, as diligências realizadas pelo 
• 
4 Perícia Con tábil • Ornelas 
perito para a coleta de informações. Ênfase especial foi dada aos novos livros 
empresariais obrigatórios exigidos pelo novo Código Civil. 
No Capítulo 6, são abordados aspectos fundamentais quanto às questões téc-
nicas submetidas ao perito, quando sob a forma de quesitos. Aqui, são postas 
algumas técnicas de como bem responder às perguntas formuladas, os cuidados 
que devem ser observados no uso correto e preciso da linguagem escrita, evitan-
do-se a utilização de termos ambíguos, prejudiciais à clareza e entendimento do 
trabalho pericial. Basicamente, preocupações com técnicas de comunicação escri-
ta, partindo do pressuposto fundamental de que seus leitores são pessoas alheias 
ao universo técnico-contábil. 
O Capítulo 7 tem por questão central a elaboração dos relatórios periciais 
contábeis: laudo e parecer sob duas vertentes. Numa primeira abordagem, busca-
se oferecer uma organização quanto ao desenvolvimento e apresentação do con-
teúdo do trabalho pericial contábil, seja do laudo, seja do parecer. >l"a segunda, 
são apresentados e comentados vários aspectos relativos à apresentação gráfica 
do laudo e do parecer, ou seja, as preocupações que o perito deve ter presentes 
para valorizar seu trabalho em seus aspectos estéticos e propiciar leitura fácil e 
agradável do laudo pericial contábil e do parecer pericial contábil. 
Em síntese, são apresentados os aspectos intrínsecos e extrínsecos que devem 
conter o laudo e o parecer, tudo já adaptado ao disposto no novo Código Civil. 
Abordam-se também alguns tipos de laudo pericial contábil e de parecer. 
No Capítulo 8 são desenvolvidos alguns procedimentos especiais que devem 
ser observados pelo perito, no que se refere ao orçamento ou estimativa dos 
honorários periciais e seu arbitramento, depósito integral, prévio e complemen-
tar, assim como quanto ao levantamento desses honorários. É também exposto o 
mesmo tema remuneratório que envolve o assistente técnico. 
O Capítulo 9 delineia um inventário das perspectivas da perícia contábil, ju-
dicial ou extrajudicial, diante das condições objetivas postas, na atualidade, para 
seu desenvolvimento futuro. 
No Apêndice A, são apresentadas as Normas Técnicas e Funcionais vigen-
tes relativas à Perícia Contábil e à Função de Perito, aprovadas pelo Conselho 
Federal de Contabilidade. O Apêndice B consubstancia um modelo de proposta/ 
contrato de prestação de serviços de assistência técnica. 
1 
• 
PROVA PERICIAL: 
~ , 
NOÇOES INTRODUTORIAS 
1.1 Introdução 
O estudo da prova pericial contábil pressupõe desenvolver uma abordagem 
interdisciplinar, inter-relacionando diversos aspectos do Direito Processual Civil 
com nossa área de estudo, a Ciência Contábil aplicada à especialidade da perícia 
contábil. 
Desse modo, é necessário buscar alguns aspectos doutrinários fundamentais 
quanto ao instituto da prova, tratados por ilustres juristas pátrios. É conteúdo 
fora de nosso domínio técnico e científico, mas essencial ao entendimento da 
prova pericial contábil. Por isso, pedimos escusas por eventuais impropriedades 
que possam ser cometidas. 
A função pericial pressupõe enfrentar determinados aspectos processuais, 
relativos ao domínio e ao entendimento quanto à produção da prova pericial e, 
em particular, da contábil, que devem ser dominados pelo perito, já que este tem 
papel relevante, na qualidade de auxiliar da justiça estatal ou em arbitragem. 
O perito tem necessidade de apreender algumas noções fundamentais quan-
to ao instituto da prova, qual a função da prova, a quem compete o ônus da pro-
va, os meios de prova contábeis disponíveis, bem assim os tipos de prova, sobre 
os quais estará desenvolvendo seu mister. 
6 Perícia Contábil • Orn elas 
1.2 Prova pericial 
O estudo da prova pericial contábil, uma das espécies do género prorn peri-
cial, envolve, necessariamente, o entendimento e o domínio de noções essenciais 
quanto ao instituto da prova. 
Não entraremos nos aspectos polêmicos originários das dourrinas a que se 
filiam os tratadistas. Vamos limitar a questão aos aspectos que interessam a nosso 
propósito. 
De Milhomens colhemos alguns ensinamentos. Citando João Bonumá, diz 
que "a prova, no significado comum e geral, visa à demonstração da ver-
dade, ao passo que a prova específica processual civil limita-se à produção 
da certeza jurídica".1 Daí decorrem dois conceitos: o de \·erdade real e o de 
verdade formal. 
A este estudo interessa o conceito de verdade formal , aquele assentado nas 
provas, ou no dizer de Santos, "a verdade não existe no espírito sem a sua 
percepção. Os recursos de que se utiliza a inteligência, para a percepção da 
verdade, constituem a prova". 2 
Milhomens diz ainda que "a prova tem por finalidade demonstrar a verda-
de ou não verdade de uma afirmação" e classifica a verdade em duas classes: 
"verdade a respeito dos fatos e verdade no tocante ao direito:·: 
A verdade positiva ou negativa acerca dos fatos interessa ao julgador, estatal 
ou arbitral, quando, ao sanear determinado processo, percebe estar em·olvida 
matéria técnica, cuja certeza jurídica só pode ser alcançada mediante produção 
de prova pericial. 
Nesse mesmo sentido, Santos diz: "a prova visa, como fim último, a incutir 
no espírito do julgador a convicção da existência do fato perturbador do 
direito a ser restaurado". 4 
Por consequência, aquele objetivo, ou seja, a busca da \·erdade formal quanto 
aos fatos, interessa ao perito, já que a ele será cometida a responsabilidade fun-
cional de trazê-la para os autos do processo estatal ou arbitral. 
No tocante à outra classe de verdade, interessa exclusi\·ameme ao julgador, 
fora, portanto, de nosso objeto de estudo. 
Santos deixou-nos uma definição que bem sintetiza roda a amplitude do 
tema, ao dizer que "prova é a soma dos fatos produtores da convicção, apu-
rados no processo".5 
1 MILHOMENS, Jônatas. A prova no processo. Rio de Janeiro: Forense , 1982. p. 7. 
2 SANTOS, Moacyr Amaral. Prova judiciária no cível e comercial. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1983. 
V. 1, p. 2. 
3 Op. cit. p. 7-9. 
4 Op. cit. p. 6. 
5 Op. cit. p. 13. 
Prova Pe ricial: Noções Introdutórias 7 
Obviamente, não são todos os fatos que podem ser passíveis ou submetidos 
a prova. 
São afastados os impertinentes e os irrelevantes. Os primeiros são estranhos 
à lide, nada têm a ver com o que se debate. Já os irrelevantes podem referir-se à 
causa; todavia, não a ajudam em nada, são inconsequentes, sem qualquer possi-
bilidade de influir no processo decisório. 
No dizer de Milhomens, "provam-se os fatos controvertidos ou con-
troversos";6 por consequência, podem existir fatos relacionados com a lide que 
independem de prova, questão disciplinada no art. 334, CPC. 
Trata-se dos denominados fatos notórios (inciso I); os afirmados por uma 
parte e dados por verdadeiros pela outra parte (inciso II); os admitidos no 
processo como incontroversos (inciso III); e aqueles em cujo favor milita 
presunção legal de existência ou de veracidade (inciso IV) . 
Fatos notórios, segundo Santos, são aqueles que fazem "parteda cultura de 
uma determinada esfera social". 7 
Exemplifica essa espécie, colocando que todos sabem que a data de 15 de 
novembro corresponde à da Proclamação da República; que os agricultores e 
comerciantes de café conhecem a época da colheita; que os operários do porto 
de Santos sabem os sinais de autorização para atracação de um navio. Podemos 
acrescentar que os moradores da cidade de São Paulo tiveram conhecimento das 
enchentes acontecidas em meados de 1991. 
São• fatos evidentes e de domínio público, de ordem geral ou particular, po-
dendo ser únicos ou se repetirem. 
De fato, o que é notório, desnecessário é provar; todavia, não o são suas 
eventuais consequências. 
Essas devem ser provadas. Imprudente um comerciante alegar em Juízo ou 
em Tribunal Arbitral que perdeu seus estoques, o maquinário ou mesmo seus li-
vros mercantis, em função da enchente, se não fizer prova dessas consequências. 
Há que produzir provas de causa e efeito, se pretende, se for o caso, propor 
ação própria de perdas e danos e lucros cessantes, que vai requerer a produção 
de prova pericial contábil. 
O remédio jurídico preliminar é produzir prova ad perpetuam rei memo-
riam, a prova antecipada, prevista no art. 846 e seguintes do Código de Pro-
cesso Civil. 
Os fatos admitidos como verdadeiros e os incontroversos, como regra geral, 
independem de prova. Alerta, porém, Santos que a regra não deve ser aceita de 
forma absoluta, ou, em suas palavras: "Conquanto não se discuta o princípio, 
6 Op. cit. p. 11. 
7 Op. cit. p. 179. 
L. 
8 Perícia Contáb il • Ornelas 
é bom se diga que não se deve tomá-lo como absoluto e aplicável a todas as 
hipóteses."ª 
Ilustra com o exemplo da afirmação de um cônjuge que acusa o outro de ser 
portador de defeito irremediável que ignorava, afirmativa essa aceita pelo outro, 
e em função da qual, pelo princípio abordado, terminaria o juiz por anular oca-
samento. 
E arremata assim: "E ter-se-ia por essa forma um sem-número de vezes, 
por mera inteligência das partes, fraudado o princípio da indissolubilidade 
do casamento." 
Prossegue ainda no mesmo assunto afirmando: 
"Dita regra, se tomada com caráter absoluto, acarretaria se prestasse 
a Justiça a encampar manobras de interessados conluiados na reali-
zação de atos simulados ou na consecução de atos proibidos por lei." 
Atos simulados interessam e muito à perícia contábil, em especial desvios 
patrimoniais, transações mercantis danosas ou omitidas. 
Por último, temos os fatos mencionados no inciso Iv. Milhomens afirma: 
"Se o fato que se quer provar está protegido por presunção legal, ab-
soluta ou relativa, dispensa-se da prova a parte beneficiada pelo ex-
pediente da lei."9 
O caso pode ser ilustrado com -as certidões de dívida ativa, emitidas pelos 
órgãos do Poder Executivo nas várias esferas, pois, por dispositivo legal, há a 
presunção de que são possuidoras de certeza e liquidez. 
1.3 Função da prova pericial 
A função primordial da prova pericial é a de transformar os fatos relativos à 
lide, de natureza técnica ou científica, em verdade formal, em certeza jurídica. 
Valendo-nos, novamente, de Milhomens, vamos encontrar a função da prova 
colocada nos seguintes termos: "para demonstrar incidência da forma jurídi-
ca é mister provar a existência do fato da vida a que se ajusta a norma ou 
princípio de direito".1º 
Isso significa ser crucial provar-se, em primeiro plano, os fatos técnico-cientí-
ficos, em nossa área de estudo, os fatos patrimoniais. Assim, adquirida a certeza 
8 Op. cit. p. 149. 
9 Op. cit. p. 203. 
10 Op. cit. p. 43. 
Prova Pericial : Noções Introdutórias 9 
jurídica sobre os fatos da causa, pode o julgador aplicar o dispositivo correspon-
dente. Por isso é que ao julgador não é permitido tomar decisão adotando suas 
convicções pessoais, e tampouco supor qualquer coisa. Sua convicção é adquirida 
com base nas provas produzidas nos autos . 
Ao perito, tampouco, é permitido, em seus trabalhos, externar sua opinião 
pessoal sobre o que se debate nos autos do processo judicial ou arbitral. Quer-se 
do perito contador o relato dos fatos patrimoniais objeto da lide tal qual os ob-
servou, de conformidade com os princípios fundamentais da Contabilidade e sua 
boa técnica. Defeso, portanto, ao profissional oferecer sua opinião ou convicção 
pessoal sobre a lide. 
1.4 Ônus da prova 
A palavra ônus é entendida pelos juristas pátrios não como dever para com 
outrem, seja a parte contrária, seja o próprio julgador. Quem afirma ou nega de-
terminado fato é que tem o ônus, o interesse de oferecer ou produzir as provas 
necessárias que entende possam vir a corroborar as alegações oferecidas. 
O dever de provar compete a quem alega, a quem afirma ou nega determina-
dos fatos da causa. Quem busca a proteção da justiça estatal ou arbitral depara 
com a necessidade de produzir suas provas. Quem oferecer as provas mais con-
vincentes fatalmente obterá sucesso. 
É de se notar que ninguém está obrigado a produzi-las; todavia, não o fazen-
do, arcará com as consequências. 
O Código de Processo Civil trata a questão como incumbência, em seu art. 
333, estipulando que 
"incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; 
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou 
extintivo do direito do autor". 
Na produção da prova pericial contábil, é, portanto, indispensável o perito 
debruçar-se sobre a matéria fática objeto da causa, à luz da classificação contida 
no dispositivo legal, estudando-a detidamente sob essa ótica, o que lhe vai possi-
bilitar traçar os caminhos técnicos a serem por ele percorridos mesmo porque é 
inerente a sua função colaborar para o descobrimento da verdade.11 
Os fatos administrativo-financeiros e patrimoniais captados pelo sistema de 
informações contábeis e respectivo suporte documental podem servir para ilus-
trar a classificação dos fatos jurídicos objeto do dispositivo legal. 
:: CPC. "Art. 339. Ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário para o desco-
brimento da verdade." 
10 Perícia Contáb il • Ornelas 
Antes de apresentar alguns exemplos da tipificação legal, vamos buscar os 
ensinamentos de Santos, 12 oferecendo as definições dos fatos jurídicos, as quais 
devem ser de domínio do perito. 
Fatos constitutivos: "se entendem os que têm a eficácia jurídica de dar 
vida, de fazer nascer, de constituir a relação jurídica [ ... ]" 
Fatos extintivos: "os que têm a eficácia de fazer cessar a relação jurídica". 
Fatos impeditivos: "todas aquelas circunstâncias que impedem decorra de 
fato o efeito que lhe é normal, ou próprio, e que constitui a sua razão de ser". 
Fatos modificativos: "os que, sem excluir ou impedir a relação jurídica, à 
qual são posteriores, têm a eficácia de modificá-la". 
Passemos a exemplos ilustrativos. 
Determinado comerciante propõe ação contra um de seus devedores que 
não honrou o pagamento de uma duplicata de venda mercantil. Sabe-se 
que uma transação de venda mercantil provoca a emissão de nota fiscal e res-
pectiva duplicata, gerando alguns lançamentos contábeis nos livros mercantis e 
fiscais das partes: 
- nos do vendedor, lançamentos nas contas: (a) pela venda: duplicatas 
a receber e receitas; (b) pela saída das mercadorias: custo das vendas e 
estoques; e (c) registro da venda no livro Registro de Saídas; 
- nos do comprador, lançamentos nas contas: (a) pela compra: estoques, 
impostos e duplicatas a pp.gar; e (b) escrituração da compra no livro Re-
gistro de Entradas. 
A entrega da mercadoria pode ser efetuada por transportadora, ou mediante 
frota própria do comerciante, e ainda ser retirada pelo comprador. No primeiro 
caso, temos ainda duas possibilidades: frete pago ou a pagar. Independentemente 
do meio utilizado, o vendedor deve exigir do comprador o recibo de entrega do 
produto, mediante assinatura do denominado canhoto da nota fiscal. 
A duplicata mercantil poderá ser colocada em cobrança bancária e protesta-
da por falta de pagamento. 
Pode ter sidouma transação originária de um pedido remetido pelo compra-
dor ao vendedor; pode referir-se a pedido emitido por vendedor pertencente ao 
quadro de vendedores ou de representante comercial do vendedor, ou, então, 
ter origem em pedido extraído pela administração da vendedora, provocado por 
telefonema do comprador. 
A matéria fática disponível, de fonte própria, em favor do direito reclamado 
pelo comerciante, ou seja, os fatos constitutivos, são: 
12 Op. cit. p. 152. 
1 
Prova Pericial: Noções Introdutórias 11 
a) a duplicata e o respectivo instrumento de protesto; 
b) o canhoto da nota fiscal devidamente assinado pelo comprador e, se 
for o caso, a cópia do conhecimento de transporte; 
c) os registros contábeis e fiscais relativos à venda realizada, lançados em 
seus livros; 
d) o pedido recebido do comprador, ou aquele extraído pelo vendedor ou 
representante comercial, devidamente assinado por aquele. 
O autor tem, portanto, condições de oferecer e provar em juízo os fatos 
constitutivos de seu direito. Como é óbvio, se realizar a operação mercantil, sem 
a devida emissão documental, fica impossibilitado de produzir provas desse fato. 
Na hipótese de vir a surgir controvérsia, poderá, por meio de prova pericial 
contábil, socorrer-se de seus registros contábeis e fiscais, requerendo, também, 
exame naqueles do devedor, robustecendo seu direito. 
A polêmica surge quando da contestação. 
Santos, apreciando o art. 333, do CPC, distinguiu duas modalidades de con-
testação: 
"1 ª o réu não só nega os fatos constitutivos articulados pelo autor 
como também alega fatos que extinguem ou impedem aqueles; 
2ª o réu reconhece os fatos constitutivos, mas alega fatos que extin-
guem, impedem ou modificam a relação jurídica."13 
Seguindo em nosso exemplo, o devedor contesta negando que tenha qual-
quer obrigação pecuniária para com o comerciante vendedor, relativa à duplicata 
objeto da causa, sob o argumento de que nunca realizou negócios com aquele 
comerciante. 
Nesse caso, compete ao comerciante vendedor provar que o título (duplica-
ta) é possuidor de liquidez e certeza, ou seja, que se trata de operação mercantil 
legítima, efetivamente realizada. 
Não é possível pretender ou exigir do devedor prova da negativa. O devedor 
não teria condições de oferecer material fático, de modo que prove tratar-se de 
duplicata ilegitimamente sacada pelo vendedor. 
Poderá o devedor, além de negar a obrigação, articular que devolveu a mer-
cadoria. Para tanto, deverá prová-lo mediante cópia da nota fiscal de devolução 
com o respectivo canhoto devidamente assinado pelo credor. 
Procedimento alternativo será o de provar que pagou a totalidade da dupli-
cata, especificando sua forma de liquidação e juntando o respectivo documento 
:, Op. cit. p. 158. 
7 
12 Perícia Con tábil • Orn elas 
comprobatório. Esses são exemplos de fatos impeditivos, a serem constatados 
nos livros mercantis do devedor e respectivo suporte documental, bem como, 
confrontados com os assentamentos nos livros mercantis do credor. 
Poderá o devedor articular que devolveu parte da mercadoria, ou que reali-
zou pagamento parcial do título. Nesse caso, deverá provar esses fatos modificati-
vos do crédito original, mediante o comprovante do pagamento ou da devolução 
parcial da mercadoria e respectivos registros contábeis e fiscais. 
1.5 Meios de prova 
O meio de prova abordado neste livro é o da prova pericial. 
Inobstante essa especificidade, no desenvolvimento da mesma, é importante 
para o perito conhecer os demais meios de prova reconhecidos pelo Direito pátrio. 
O Código de Processo Civil, Capítulo VI - Das Provas, art. 332, dispõe que 
"todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que 
não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos 
fatos, em que se funda a ação ou a defesa". 
O Código Civil, em seu Livro III - Dos Fatos Jurídicos, Título V - Da Prova, 
art. 212, quanto aos meios de prova, assim dispõe: 
"Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode 
ser provado mediante: 
I - confissão; 
II - documento; 
III - testemunha; 
IV - presunção; 
V - perícia." 
O mesmo diploma legal especifica que os fatos jurídicos podem provar-se 
mediante: 
a) confissão de pessoa capaz (arts. 213 e 214); 
b) escritura pública, certidões textuais de qualquer peça judicial, trans-
lados e certidões extraídos por tabelião ou oficial de registro, decla-
rações constantes de documentos assinados, instrumento particular, 
telegrama, cópia fotográfica de documento, reproduções fotográficas 
e cinematográficas, registros fonográficos, reproduções mecânicas ou 
eletrônicas, livros e fichas dos empresários (arts. 215 a 226) ; 
Prova Pericia l: Noções In trod utórias 13 
c) testemunho de pessoas capazes e sobre as quais não haja impedimento 
ou suspeição (arts. 227 a 229); 
d) presunções legais (art. 230); e 
e) perícia (arts. 231 e 232). 
Como é natural, o Código de Processo Civil regula 
"o modo de oferecimento das provas, o momento de sua produção, 
as linhas mestras de sua apreciação, cercando os atos respectivos das 
medidas de segurança indispensáveis ao surgimento da verdade". 14 
Sem nos aprofundarmos nessa matéria, já que nosso objeto de estudo abor-
da, exclusivamente, um dos meios de prova, o da prova pericial, apresentamos 
sucintamente a questão. 
Os arts. 342 a 354 dispõem sobre o depoimento pessoal. 
Os arts. 355 a 362 cuidam do disciplinamento da exibição de documento ou 
coisa. 
Da prova documental cuidam os arts. 364 a 399. 
Destes, de interesse da perícia contábil, é necessário evidenciar aqueles rela-
tivos aos livros comerciais e à escrituração contábil, a saber: os arts. 378 e 379 
disciplinam os livros contábeis como meio de prova, verbis: 
"Art. 378. Os livros comerciais provam contra o seu autor. É lícito ao 
comerciante, todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em 
direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos. 
Art. 379. Os livros comerciais, que preencham os requisitos exigidos 
por lei, provam também a favor do seu autor no litígio entre comer-
ciantes." 
De qualquer modo, é necessário ter presente que a escrituração contábil é 
••indivisível"; isto quer dizer que não pode o seu autor valer-se apenas daquilo que 
lhe é favorável; é o que disciplina o art. 380, verbis: 
"Art. 380. A escrituração contábil é indivisível; se os fatos que resul-
tam dos lançamentos, uns são favoráveis ao interesse de seu autor e 
outros são contrários, ambos serão considerados em conjunto como 
unidade." 
A prova testemunhal é disciplinada pelos arts. 400 a 419. É a prova colhida 
:nediante o testemunho de pessoas físicas capazes juridicamente. 
- S.-\.\/TOS, Moacyr Amaral. Op. cit. p. 69. 
14 Perícia Contábil • Ornelas 
A prova pericial, objeto central deste livro, é tratada nos arts. 420 a 439. Vale 
observar que, no entendimento de Santos, o arbitramento é urna das modalida-
des de exame pericial. 15 
A inspeção judicial é abordada nos arts. 440 a 443. Trata-se da possibilidade 
na qual o magistrado, de ofício ou a requerimento de urna das partes, pode ins-
pecionar pessoas ou coisas de interesse da causa. Obviamente, se envolver ques-
tões patrimoniais, poderá o magistrado ser assistido por perito ou por peritos em 
contabilidade, a teor do art. 441, CPC. 16 
1.6 Modalidades da prova pericial 
As provas produzidas com a interveniência de perito são qualificadas pelo 
Código de Processo Civil corno prova pericial, dividida em quatro modalidades: 
(a) exame; (b) vistoria; (c) arbitramento; e (d) avaliação. 
O exame pericial envolve a inspeção de pessoas ou coisas com o objetivo de 
verificar determinados fatos relacionados com o objeto da lide. 
A vistoria pericial é o trabalho desenvolvido pelo perito para constatar in 
loco o estado ou a situação de determinada coisa, geralmente imóveis. 
O arbitramento consiste na fixação de valor, determinado pelo perito para 
coisas, direitos ou obrigações. É a estimaçãodo valor em moeda.17 
Pode, por outro lado, envolver não apenas aspectos quantitativos, mas tam-
bém aspectos qualitativos. 
Santos colocou a questão assim: 
"todo o arbitramento pode achar-se acumulado com o exame ou a vis-
toria, sempre que haja a necessidade de parecer sobre a qualidade ou 
quantidade das coisas, direitos ou obrigações sobre os quais ele versa". 18 
A avaliação tem também por finalidade a fixação de valor, 
"recebendo essa denominação quando feita em inventário, partilhas 
ou processos administrativos e nas execuções para estimação do valor 
da coisa a partilhar, ou penhorada". 19 
Voltaremos a esse assunto no Capítulo 2, quando tratarmos o terna sob a 
óptica contábil. 
15 Op. cit. p. 86. 
16 "Art. 441. Ao realizar a inspeção direta, o juiz poderá ser assistido de um ou mais peritos." 
17 SANTOS, Moacyr Amaral. Op. cit. p. 86. 
18 Op. cit. p. 86. 
19 Op. cit. p. 87. 
2 
• . 
PERÍCIA CONTÁBIL 
2.1 Alguns conceitos 
A Perícia Contábil inscreve-se num dos gêneros de prova pericial, ou seja, é 
uma das provas técnicas à disposição das pessoas naturais ou jurídicas, e serve 
como meio de prova de determinados fatos ou de questões patrimoniais con-
trovertidas. 
Alargando o significado do que se pode entender por fatos ou questões pa-
trimoniais, não se pode olvidar que a Contabilidade, enquanto ciência social 
aplicada, tem por objeto o patrimônio das entidades e das pessoas naturais, seja 
no aspecto qualitativo, seja no quantitativo, e ainda o observa em situações es-
táticas e dinâmicas; portanto, quando se relaciona a perícia contábil a fatos ou 
questões patrimoniais, é evidente e inerente que estas e aqueles sempre hão de 
referir-se a determinado patrimônio ou parcela deste. 
Alberto enfrenta a questão assim: 
"Definido que o objeto da Ciência Contábil é o patrimônio, já pode-
mos, logicamente, inferir que a perícia será de natureza contábil sem-
pre que recair sobre elementos objetivos, constitutivos, prospectivos 
ou externos, do patrimônio de quaisquer entidades, sejam elas físicas 
ou jurídicas, formalizadas ou não, estatais ou privadas [ ... ]"1 
. .\LBERTO, Valder Luiz Palornbo. Perícia contábil. São Paulo: Atlas, 1996. p . 46. 
16 Perícia Contábil • Ornelas 
Conceituando exame pericial ou perícia, Gonçalves assim se expressou: "é 
o exame hábil de alguma cousa realizada por pessoa habilitada ou perito, 
para determinado fim, judicial ou extrajudicial". 2 
Essa conceituação oferece, de forma concisa, o que é perícia, quem a realiza 
e qual sua finalidade. 
Situa, porém, a questão conceitual de modo stricto sensu, em nível exclusivo 
de exame. Inobstante o aspecto restrito, é uma definição feliz, dado que, em sua 
simplicidade, permite entender-se com muita clareza o aspecto operacional da 
perícia contábil do qual é possuidora. 
Podemos nos socorrer mais uma vez do citado autor para termos uma concei-
tuação do que seja perícia contábil. Diz Gonçalves: 
"A perícia contábil é, pois, o exame hábil [ ... ] com o objetivo de resol-
ver questões contábeis, ordinariamente originárias de controvérsias, 
dúvidas e de casos específicos determinados ou previstos em lei."3 
Traz a conceituação geral para o campo específico, substituindo alguma cou-
sa pela expressão questões contábeis, isto é, sai de um objeto genérico, qualifi-
cando-o no campo contábil. 
Possui outro aspecto que merece ser ressaltado: a perícia contábil, além de 
ser de aplicação usual na solução de controvérsias, é obrigatória em determina-
dos casos, como, por exemplo, .em processos judiciais que demandam apuração 
de haveres, como veremos em outro momento deste livro. 
D'Áuria disse que "o conceito pacífico da perícia é que, juízes e inte-
ressados pedem o testemunho e os subsídios dos técnicos para decidir e 
resolver". 4 
Por outro lado, desse mesmo autor, temos: 
"A perícia contábil se caracteriza como incumbência atribuída a con-
tador, para examinar determinada matéria patrimonial, administrati-
va e de técnica contábil, e asseverar seu estado circunstancial."5 
Note-se que para D'Áuria a perícia contábil é também um exame, só que mais 
amplo. Sua conceituação envolve dois enfoques. 
Numa primeira abordagem, qualifica o exame como de questões patrimo-
niais e administrativas. 
2 GONÇALVES, Reynaldo de Souza. Peritagem contábil. Rio de Janeiro: Forense, 1968. p. 7. 
3 Op. cit. p. 7-8. 
4 D'ÁURIA, Francisco. Revisão e perícia contábil. 3. ed. São Paulo: Nacional, 1962. p. 152. 
5 Op. cit. p. 154. 
1 
1 
Perícia Contábil 1 7 
Num segundo aspecto, traz à baila o exame de questões patrimoniais oriun-
das das consequências da própria aplicação dos princípios fundamentais de con-
tabilidade, ou, em suas palavras, de técnica contábil. Tudo de forma a possibili-
tar fidedigno testemunho técnico circunstanciado. 
Para Alberto, perícia contábil é 
"um instrumento técnico-científico de constatação, prova ou demons- , 
tração, quanto à veracidade de situações, coisas ou fatos oriundos 
das relações, efeitos e haveres que fluem do patrimônio de quaisquer 
entidades". 6 
Buscando os ensinamentos do saudoso mestre Santos, pode-se entender pro-
va pericial contábil como o meio ténico-jurídico pelo qual se chega à verdade, à 
certeza, sobre questões ou fatos patrimoniais objeto da causa. 
É o caminho trilhado com o objetivo de alcançar os meios afirmativos para os 
fatos patrimoniais alegados ou contestados. É também a ação de provar, de fazer 
a prova contábil. 7 
2.2 Objeto da perícia contábil 
A perícia contábil tem por objeto central os fatos ou questões patrimoniais 
relacionadas com a causa, as quais devem ser verificadas, e, por isso, são subme-
tidas à apreciação técnica do perito contador, que deve considerar, nessa aprecia-
ção, certos limites essenciais, ou "caracteres essenciais". 8 
Independentemente dos procedimentos a serem adotados, são caracteres es-
senciais da perícia contábil: 
a) limitação da matéria; 
b) pronunciamento adstrito à questão ou questões propostas; 
c) meticuloso e eficiente exame do campo prefixado; 
d) escrupulosa referência à matéria periciada; 
e) imparcialidade absoluta de pronunciamento. 
Em se tratando de perícia judicial contábil, ou mesmo arbitral, os limites da 
matéria submetida à apreciação pericial são delineados pelo próprio objeto sub 
judice ou pelo julgador dos pontos controvertidos quando do despacho saneador, 
ou em audiência. 
6 ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Op. cit. p. 48. 
7 SANTOS, Moacyr Amaral. Prova judiciária no cível e comercial. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1983. 
V. 1, p. 2. 
s D'ÁURlA, Francisco, Op. cit. p. 155. 
18 Perícia Contábil • Ornelas 
São os fatos ou questões de natureza patrimonial abordados nos autos sobre 
os quais o julgador ou Tribunal Arbitral deverá debruçar-se para exarar sua sen-
tença ou laudo arbitral. 
Desse modo, define-se a extensão do trabalho pericial, que, normalmente, 
fica sempre adstrito aos contornos da ação proposta; todavia, às vezes, é neces-
sário romper esses limites, buscando outros elementos correlatos oriundos das 
exigências técnicas provocadas pela matéria fática. Entretanto, deve-se sempre 
manter a regra básica de que matéria técnica alheia aos fatos é impertinente e, 
em hipótese alguma, deve alterar ou desvirtuar os objetivos centrais perseguidos 
pela perícia contábil. 
Consequência lógica do que acabamos de abordar é a de ser exigido da perí-
cia contábil pronunciamento limitado ou adstrito àquilo que foi apreciado; por-
tanto, o laudo pericial consubstanciará esses limites fixados. Nem pode ser dife-
rente, já que a causa é julgada pelo magistrado ou Tribunal Arbitral nos exatos 
termos de sua propositura. 9 
A tarefa pericial envolve a necessidade de o perito contador adotar procedi-
mentos meticulosos e eficientes de exame das questões patrimoniais prefixadas 
na lide. 
Além de constatar e identificar "as fontes informativas ou reveladoras dos 
elementos"1º que pesquisou, há que desenvolver e correlacionar referidas fontes 
com as próprias questõessob análise ou apreciação. Isso permitirá à perícia con-
tábil oferecer respostas ou raciocínios técnicos fundamentados e circunstanciados. 
Outro cuidado a ser adotado é o de permanecer fiel nas referências às ques" 
tões objeto do trabalho pericial. 
E, por derradeiro, a materialização do trabalho pericial, por meio de laudo 
ou parecer, deverá refletir, com muita nitidez, uma posição de imparcialidade 
absoluta. 
Voltaremos a este assunto no Capítulo 7. 
2.3 Modalidades de perícia contábil 
Da seção do Código de Processo Civil que trata da prova pericial, surge que 
esta pode constituir-se em exame, vistoria ou avaliação. 11 
9 CPC. "Art. 128. O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer 
de questões não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte." 
CPC. ''Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor de natureza diversa da 
pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi 
demandado." 
10 Op. cit. p. 157. 
11 ''Art. 420. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação." 
l 
1 
1 
1 
l 
Perícia Contábil 19 
São modalidades de perícia desenvolvidas na chamada fase de instrução do 
processo. São, portanto, necessárias no sentido de trazer para os autos a prova 
técnica contábil que convalide as alegações oferecidas, transformando ou não 
referidas alegações em certeza. 
Exame pericial é a modalidade de perícia contábil mais comum. É desenvol-
vida mediante a análise de livros e documentos. Pode envolver também procedi-
mentos indagativos e investigativos. 
Vistoria pericial é modalidade não muito usual na perícia contábil, mais ado-
tada em perícia médica ou de engenharia. Não obstante ser pouco adotada na 
área contábil, pode consistir em olhar ou observar determinada coisa ou fato de 
modo a constatar seu estado ou situação. 
A avaliação pericial contábil envolve, como o próprio nome já indica, a valo-
rização ou estimação em moeda. 
Nessa modalidade, enquadra-se a apuração de haveres, em processos de in-
ventário e de dissolução ou liquidação de sociedades.12 
Quando da liquidação de sentença, podem surgir outras modalidades de pe-
rícia contábil, no caso a liquidação por arbit:ramento13 e a liquidação por ar-
tigos.14 
Arbitramento envolve juízo técnico e surge quando "determinado pela sen-
tença ou convencionado pelas partes ou o exigir a natureza do objeto da 
liquidação. "15 
Referido dispositivo aplica-se ao arbitramento em liquidação de sentença. 
Faz-se necessário quando inexistem elementos fáticos que possibilitem a apura-
ção real de valores, seja pela natureza do objeto liquidando, ou por obstáculos 
normais ou causados pela parte perdedora, dando sumiço ou se negando a exibir 
livros e documentos necessários à apuração dos valores que liquidam a decisão. 
O arbitramento exige do expert poder criativo e domínio profissional amplo 
e profundo, de modo que lhe permita construir premissas técnicas plausíveis 
que suportem os critérios adotados na solução da controvérsia ou na fixação de 
\·alares. 
Fixar ou solucionar por arbitramento não quer dizer que se possa desenvol-
\·er trabalho pericial arbitrário. Há que suportar o resultado ou juízo técnico de 
forma coerente com o que se debate na lide. 
: Art. 381: incisos I e II . Art. 993: inciso II. 
·Art. 475-D. Requerida a liquidação por arbitramento, o juiz nomeará o perito e fixará o prazo 
;::ara a entrega do laudo." 
- ·Art. 475-E. Far-se-á a liquidação por artigos, quando para determinar o valor da condenação 
:: ou,·er necessidade de alegar e provar fato novo." 
' CPC : Art. 475-C., incisos I e II . 
20 Perícia Contábil • Ornelas 
Por isso, a questão mais significativa é a que se refere à construção das pre-
missas e critérios assumidos no arbitramento. 
Podemos afirmar, sem medo de cometer excesso, que o arbitramento envolve 
enorme responsabilidade técnica. 
Perícia contábil em liquidação por artigos poderá envolver exame e ava-
liação. Fatos novos provocarão a necessidade de examinar livros e documentos. 
Feitos os exames, a perícia contábil desenvolve procedimentos avaliatórios. 
Surge também quando as partes apresentam artigos de liquidação divergen-
tes, em consequência de levarem em consideração interpretações diferenciadas 
quanto aos itens da condenação. Nessa hipótese, a perícia contábil envolverá 
avaliação, já que voltada para a apuração do valor certo que reflita os exatos li-
mites da sentença. Essa modalidade aplica-se comumente na fixação dos itens da 
condenação constantes das decisões trabalhistas. 
2.4 Admissão da perícia contábil 
É da regra processual que, no rito ordinário, o autor na inicial indique as pro-
vas que pretende produzir, 16 assim como é exigido do réu o mesmo procedimento 
quando da contestação.17 
São, na maioria dos casos, protestos pela produção de todas as provas admi-
tidas em direito, sem prejuízo de nenhuma. O protesto genérico é que obriga o 
magistrado, antes de sanear o processo, a determinar às partes que especifiquem 
provas, justificando-as. 
Especificadas e justificadas as provas, passa-se ao momento de sua admissão 
ou não. 
Santos afirma que, a teor do art. 331, 
"A admissão é ato do juiz, exclusivamente seu, como o é a avalia-
ção ou estimação da prova. Aliás, é ato de direção do processo, que 
lhe cabe no processo baseado nos princípios do sistema dispositivo 
e, com mais força de razão, baseado no sistema em que predomina o 
princípio da autoridade (Cód. Proc. Civil, arts. 125 e 130)."18 
Prossegue dizendo que "a prova indicada pela parte passa pelo critério da 
admissão do juiz, que a defere ou a rejeita". 
16 CPC, art. 282, inciso VI. 
17 CPC, art. 300. 
18 Op. cit. p. 282. 
• 
Perícia Contábil 21 
A avaliação ou estimação da prova, de responsabilidade do magistrado, são 
procedimentos essenciais de modo a possibilitar a determinação das provas ne-
cessárias à instrução do processo e o indeferimento daquelas inúteis ou procras-
tinatórias.19 
Portanto, a realização de prova pericial contábil, ou seja, sua admissão, é 
ato que emana do princípio de autoridade do julgador estatal ou do Tribunal 
Arbitral, que se consubstancia quando do despacho saneador ou em audiência e 
de Ordem Procedimental. 20 
É, por sua vez, resultado da análise dos fatos da lide efetuada pelo julgador 
ou Tribunal, que lhe propicia concluir que os fatos a serem provados podem sê-lo 
mediante a perícia contábil. 
CPC, art. 130 . 
CPC, art. 331. 
~-. 
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3 
• 
EXERCÍCIO DA FUNÇÃO 
PERICIAL CONTÁBIL 
3.1 Aspectos legais e profissionais 
O exercício da função pericial contábil é uma atribuição privativa do bacha-
rel em Ciências Contábeis e daqueles que tenham equiparação legal, ou seja, dos 
contadores devidamente registrados no respectivo Conselho Regional de Conta-
bilidade. 
O comando legal vigente que organizou a profissão contábil veio à luz em 
maio de 1946, por meio do Decreto-lei nº 9.295. Esse diploma legal, entre outras 
providências, definiu as atribuições dos profissionais da contabilidade, em espe-
cial a competência legal quanto ao desenvolvimento de perícias. 
Na letra e, do art. 25, do mencionado diploma, foram definidos como traba-
lhos contábeis: 
"c) perícias judiciais ou extrajudiciais, revisão de balanços e de contas 
em geral, verificação de haveres, revisão permanente ou periódica de 
escritas, regulações judiciais ou extrajudiciais de avarias grossas ou 
comuns, assistência aos Conselhos Fiscais das sociedades anônimas 
e quaisquer outras atribuições de natureza técnica conferidas por lei 
aos profissionais da contabilidade". 
E, no art. 26, do mesmo diploma, foi definida a atribuição exclusiva da fun-
ção pericial, assim: 
j 
Exercício da Função Pericia l Contábil 23 
"Art. 26. Salvo direitos adquiridos ex-vi do disposto no art. 2º do De-
creto nº 21.033, de 8 de fevereiro de 1932, as atribuições definidas na 
alínea e do artigo anterior são privativas dos contadores diplomadose daqueles que lhes são equiparados, legalmente."1 
Cabe salientar que, anteriormente a 1945, a função pericial contábil já se 
apresentava ordenada, em especial pelo Decreto nº 20.158, de 30-6-1931. 
Nesse diploma legal já ficava assentado, desde o início da década de 30, do 
século XX, que os exames periciais, de modo geral, os exames em falências e 
concordatas e quaisquer exames de livros mercantis, somente poderiam ser reali-
zados por peritos-contadores ou contadores. 2 
Regulamentando o art. 25, do Decreto-lei nº 9.295/ 45, o Conselho Federal 
de Contabilidade, por meio da Resolução CFC nº 107, de 13-12-1958, especificou 
os trabalhos contábeis de natureza pericial, bem como definiu as atribuições e 
competências dos contadores. 
Em seu art. 1 º, item 6, é especificado: 
"6) Apuração de haveres em virtude de entrada, retirada, exclusão e 
falecimento de sócios, quotistas ou àcionistas; liquidação, falência e 
concordata de quaisquer entidades, inclusive a liquidação extrajudi-
cial de estabelecimentos bancários ou de qualquer outro tipo." 
Esse dispositivo profissional podia ser correlacionado com o art. 381 do CPC 
\igente, cujo comando dá poderes ao magistrado para determinar a exibição dos 
livros comerciais, no caso de liquidação de sociedade e na sucessão por morte 
de sócio.3 
Podia ser também relacionado com o parágrafo único do art. 993, CPC, quan-
to à apuração de haveres por morte de comerciante em nome individual e de 
quotista. 4 O parágrafo único do art. 1.003 é cristalino ao dispor que os trabalhos 
mencionados naquele dispositivo legal serão realizados por contador. 5 
Decreto-lei nº 8.191 , de 20-11-1945; Lei n" 2.811 , de 2-7-1956. 
'Art. 72. Somente os peritos-contadores e os contadores que tiverem os seus diplomas, títu-
:os ou atestados registrados na Superintendência do Ensino Comercial poderão ser nomeados ex-
_,.fi.c io, pelos juízes, para os exames de livros exigidos pelo Código Comercial, e bem assim para 
ja!anços e exames em falências e concordatas." 
·Art. 381. O juiz pode ordenar, a requerimento da parte, a exibição integral dos livros comer-
::ais e dos documentos do arquivo: 
I - na liquidação de sociedade; 
II - na sucessão por morte de sócio." 
·Art. 993. Parágrafo único. O juiz determinará que se proceda: 
I - ao balanço do estabelecimento, se o autor da herança era comerciante em nome individual; 
II - a apuração de haveres, se o autor da herança era sócio de sociedade que não anônima." 
"Art. 1.003. Parágrafo único. No caso previsto no artigo 993, parágrafo único, o juiz nomeará 
-..::-::. contador para levantar o balanço ou apurar os haveres." 
24 Perícia Contábil • Ornelas 
A presença do profissional contábil em processos de falência ou concordata 
estava disciplinada pelo Decreto-lei nº 7.661, de 21-6-1945.6 Com o advento da 
Lei nº 11.101, de 9-2-2005, que atualmente disciplina o processo falimentar e de 
recuperação judicial, a presença do perito contador está fixada, especialmente, 
no seu art. 186, parágrafo único. 
No mesmo art. 1 º, da Resolução CFC nº 107 /58, o item 7 especificava: 
"Levantamento e apuração de contas de qualquer organização." 
Esse dispositivo remetia aos arts. 914 e seguintes do CPC, que tratam das 
ações de prestação de contas. Quanto à presença do profissional contábil nesse 
tipo de processo judicial, está definida na parte final do § 3º, do art. 915, cujo 
texto é o seguinte: 
"sendo as contas julgadas segundo o prudente arbítrio do juiz, que 
poderá determinar, se necessário, a realização do exame pericial con-
tábil". 
A Resolução sob análise, em seu art. 6º, especificava várias atribuições do 
contador, relativas à função pericial, a saber: 
1. exames de escritas, em qualquer campo de atividades profissionais, in-
clusive perícias extrajudiciais e tidas como inspeções normais em qual-
quer tipo de contabilidade, mesmo quando forem efetuadas por órgãos 
da Administração Pública; 
2. peritagem simples; 
3. exames extrajudiciais de qualquer situação da entidade atingida; 
6. assistência aos Comissários nas concordatas e aos Síndicos, nas falên-
cias; 
7. assistência aos liquidantes de qualquer massa ou acervo; 
8. verificação de haveres para levantamento do Fundo de Comércio; 
9. exames e perícias para constituição, transformação e liquidação de so-
ciedades de qualquer natureza; 
6 ';,\rt. 63. Cumpre ao síndico: 
[ ........ .. ..... . .... ] 
V - designar, comunicando ao juiz, perito contador, para proceder ao exame da escrituração 
do falido, e ao qual caberá fornecer os extratos necessários à verificação dos créditos, bem como 
apresentar, em 2 (duas) vias, o laudo do exame procedido na contabilidade." 
';,\rt. 169. Ao comissário incumbe: 
VI - designar perito contador, para os trabalhos referidos no art. 63, nº V [ ... ]" 
Exercício da Função Pericial Contábil 25 
14. perícias judiciais de qualquer natureza, que envolvam matérias con-
tábeis; 
16. verificação de haveres; 
17. quaisquer outros exames, apurações, investigações e perícias judi-
ciais. 
A Resolução sob comento veio a ser substituída pela Resolução CFC nº 
560/83, de 28-10-1983, que, no Capítulo I - Das atribuições privativas dos con-
tabilistas, art.igo 3º, no que se refere, especificamente a trabalhos de cunho pe-
ricial, assim dispôs: 
"Art. 3º São atribuições privativas dos profissionais da contabilidade: 
1) avaliação de acervos patrimoniais e verificação de haveres e obri-
gações, para quaisquer finalidades, inclusive de natureza fiscal; 
2) avaliação dos fundos de comércio; 
3) apuração do valor patrimonial de participações, quotas ou ações; 
5) apuração de haveres e avaliações .de direitos e obrigações, do acer-
vo patrimonial de quaisquer entidades, em vista de liquidação, fu-
são, cisão, expropriação no interesse público, transformação ou 
incorporação dessas entidades, bem como em razão de entrada, 
retirada, exclusão ou falecimento de sócios, quotistas ou acionistas; 
8) regulações judiciais ou extrajudiciais, de avarias grossas ou comuns; 
15) levantamento de balanços de qualquer tipo ou natureza e para 
quaisquer finalidades, como balanços patrimoniais, balanços de re-
sultados, balanços de resultados acumulados, balanços de origens e 
aplicações de recursos, balanços de fundos, balanços financeiros, ba-
lanços de capitais, e outros (por exemplo: balanço de determinação); 
35) perícias contábeis, judiciais e extrajudiciais; 
43) assistência aos comissários nas concordatas, aos síndicos nas falên-
cias, e aos liquidantes de qualquer massa ou acervo patrimonial." 
A Resolução CFC nº 858/99, de 21-10-1999, reformulou a Norma Brasileira 
de Contabilidade T-13 - Da Perícia Contábil, sistematizando todo o arcabouço 
legal relativo à função pericial contábil, dispondo que a perícia contábil judi-
cial, extrajudicial e arbitral é de competência extlusiva de contador registrado no 
Conselho Regional de Contabilidade. 
Mais recentemente, veio a lume a Resolução CFC nº 1.243/09, de 10-12-
2009, que aprovou a NBC-TP-01 - Perícia Contábil, reorganizando todos os dis-
positivos anteriores relativos à pericial contábil, revogando várias resoluções, em 
especial a Resolução CFC nº 858/99. O inteiro teor da NBC-TP-01 é apresentado 
ao final deste livro como Apêndice A. 
26 Pe rícia Contábil • Ornelas 
3.2 Escolha do perito 
O exercício profissional da função pericial contábil realiza-se sob duas formas 
de atuação técnica. 
A primeira oportunidade surge quando o profissional contábil, de nível supe-
rior ou o equiparado, é nomeado pelo magistrado ou pelo Tribunal Arbitral para 
assumir o encargo de perito contador, judicial ou arbitral. 
Outra forma de atuação ocorre quando o profissional contábil é indicado 
pela parte para funcionar como assistente técnico, a qual será abordada no tópico 
seguinte. 
O momento da nomeação do perito contador, em função judicial, dá-se por 
ocasião do denominado despacho saneador7 exarado pelo magistrado nos autos 
do processo. 
Na vertente judicial, é nesse momentoprocessual, a teor do art. 130, com-
binado com o disposto nos arts. 145 e 331, do CPC, 8 que o magistrado avalia a 
relevância ou a necessidade de produzir prova técnica contábil. A relevância ou 
sua necessidade é analisada considerando-se as alegações oferecidas pelas partes 
e os fatos objeto da lide. 
Na vertente arbitral, nos termos do art. 22, Lei nº 9.307 / 96 e dos Regula-
mentos próprios, pode o árbitro ou o Tribunal Arbitral determinar a realização 
de perícia. 
Se as alegações ou os fatos· postos envolverem matéria fática patrimonial-
contábil9 controvertida que possa ser provada mediante perícia contábil, o jul-
gador ou o Tribunal Arbitral irá determinar sua realização e, consequentemente, 
nomeará perito-contador. 10 
Em determinados casos, como já observado, a nomeação de perito dá-se em 
função de determinação legal independentemente de controvérsias. Ser nomea-
do pelo magistrado é receber deste um voto de confiança ampla, que reflete o 
reconhecimento de sua capacidade técnica e honorabilidade. 
7 ''l\rt. 331. Se não ocorrer qualquer das hipóteses previstas nas seções precedentes e versar a 
causa sobre direitos que admitem transação, o juiz designará audiência preliminar [ ... ]. 
§ 2º Se, por qualquer motivo, não for obtida a conciliação, o juiz fixará os pontos controvertidos, 
decidirá as questões processuais pendentes e determinará as provas a serem produzidas, designan-
do audiência de instrução e julgamento, se necessário." 
8 ''l\rt. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias 
à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias." 
9 ''l\rt. 145. Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será 
assistido por perito, segundo o disposto no art. 421." 
10 ''l\rt. 421. O juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega do laudo." 
Redação dada pela Lei n Q 8.455, de 24-8-92. 
Exercício da Função Pericial Co ntábil 27 
Pode suceder que em audiência o magistrado, a requerimento da parte, ou 
de ofício, decida pela realização de prova pericial contábil, decorrendo dessa de-
cisão os mesmos passos retroexpostos. 
A Lei nº 8.455, de 24-8-1992, dando nova redação ao art. 427, do CPC, fez 
surgir uma nova possibilidade. 11 
Trata-se da elaboração de parecer pericial contábil que pode ser requisitado 
pelas partes, de modo que instrua a propositura da ação ou da contestação, que, 
em tese, poderá contribuir para a celeridade do trâmite do processo judicial. 
Nesse caso, o magistrado pode aplicar o disposto no art. 330, inciso II, CPC, 
julgando a lide antecipadamente, quando entender não haver necessidade de 
produção de provas. 
A Resolução CFC nº 1.244/09, de 10-12-2009, que aprovou a NBC-PP-01 -
Perito Contábil, reorganizou todos os dispositivos anteriores relativos à função 
pericial, revogando várias resoluções, em especial a Resolução CFC nº 858/ 99. O 
inteiro teor da NBC-PP-01 é apresentada ao final deste livro como Apêndice A. 
3.3 Indicação do assistente técnico 
A oportunidade de indicação para funcionar como assistente técnico surge 
do relacionamento que o perito contador tem com os advogados que estejam 
defendendo as partes. 
Note-se que o perito é nomeado, enquanto que o assistente técnico é indica-
do. Isso vale dizer que, do ponto de vista processual, o assistente técnico preci-
sa, para funcionar em determinado processo, ser aceito pelo magistrado ou pelo 
Tribunal Arbitral. Pode, portanto, ser recusado. Neste caso, será, naturalmente, 
substituído por outro profissional. 
O perito-contador, no exercício da função de assistente técnico, desenvolve 
atividades antes, durante e depois da realização da perícia oficial. 
Mesmo antes do próprio deferimento da prova pericial contábil já se justifica 
a presença e a participação do assistente técnico, seja preventivamente, ou já no 
desenvolvimento da estratégia de produção da prova técnica. 
Deferida a realização da perícia contábil, eis o momento da formulação de 
quesitos; para tanto, o assistente técnico deverá já conhecer e ter lido a Inicial, a 
Contestação e, se houver, a Réplica e a Tréplica. 
Ainda antes mesmo de iniciada a perícia, é sempre oportuna a contribuição 
tempestiva da proposição de impugnação de eventuais quesitos formulados pela 
11 ''Art. 427. O juiz poderá dispensar prova pericial quando as partes, na inicial e na contestação, 
apresentarem sobre as questões de fato pareceres técnicos ou documentos elucidativos que consi-
derar suficientes." 
28 Perícia Contábil • Ornelas 
parte contrária, ou mesmo subsidiar tecnicamente os pleitos de indeferimento 
dos quesitos formulados pela parte que o indicou. 
Durante a realização da prova pericial contábil, compete ao assistente técni-
co acompanhar o desenvolvimento do trabalho realizado pelo perito nomeado, 
acompanhando as diligências agendadas, examinando os mesmos livros e docu-
mentos colocados à disposição do expert nomeado, requerendo ou sugerindo ao 
perito o exame de outros livros e documentos. 
A participação efetiva na diligência é extremanente importante e muitas ve-
zes relevante, eis que é a ocasião em que podem surgir questões novas que teriam 
sido, casual ou propositadamente, omitidas pela parte. 
Conhecedor de algum fato novo, compete ao assistente técnico, ainda nesta 
.fase, formular e sugerir aos advogados da parte que o indicou, antes de finda a 
diligência, a apresentação de quesitos suplementares, como fixado no art. 425, 
CPC, ou ainda, de conformidade com os regulamentos dos Tribunais Arbitrais. 
Depois de finalizada a diligência e entregue o laudo pericial elaborado pelo 
perito nomeado, cabe ao assistente técnico proceder à elaboração do parecer 
pericial sobre o conteúdo daquele trabalho oficial. É o momento propício para 
apresentar aos advogados da parte que o indicou, sugestões ou quesitos de escla-
recimentos. Sendo deferidos os esclarecimentos da parte, compete ao assistente 
técnico debater com os advogados os próprios esclarecimentos apresentados pelo 
expert nomeado e, se for o caso, apresentar petição comentando e/ ou criticando 
o posicionamento pericial, podendo, a depender dos acontencimentos proces-
suais, ser convocado para comparecer à audiência de oitiva do perito contador 
nomeado. 
O perito contador, na função de assistente técnico, como visto, pode e oferece 
colaboração deveras importante aos advogados, debatendo com os mesmos as 
possibilidades técnicas quanto ao desenvolvimento da prova técnica contábil. O 
assistente técnico é o defensor técnico da parte. 
3.4 Perícia contábil em arbitragem 
Com o advento da Lei nº 9.307, de 23-9-1996, nova realidade temos quanto 
ao Juízo Arbitral. Referida lei revogou os arts. 1.037 a 1.048 do Código Civil e 
arts. 101, 1.072 a 1.102, do Código Civil. 
Finalmente, o país conta com uma lei de arbitragem nos moldes daquelas 
vigentes em outros países que há muito tempo se utilizam desse meio para solu-
cionar controvérsias. 
As partes interessadas poderão fazer incluir nos contratos procedimento ar-
bitral para solução das controvérsias advindas da execução desses contratos, de 
forma privada, através de árbitro ou de Tribunal Arbitral. 
Exercício da Função Pericial Contáb il 29 
Mujalli12 entende que, em face do texto da lei, três podem ser as hipóteses na 
estipulação da arbitragem, assim: 
"a) por cláusula arbitral inserida em contrato, para o só efeito da so-
lução de questões dele emergentes entre as partes, segundo prevê o 
artigo 1 º, parágrafo único, e o artigo 2 º, caput; 
b) utilização da arbitragem, sem que exista prévio contrato onde fi-
gure a cláusula arbitral, segundo prescreve o artigo 2 º, parágrafo 
único e artigo 3 º; 
c) utilização da arbitragem no curso de processo ou procedimento ju-
dicial ( artigo 4 º) ". .. 
Referida lei possibilita a aceitação, em nosso país, de procedimentos arbitrais 
internacionais, bastando, para tanto, que as sentenças arbitrais estrangeiras se-
jam

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