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Maria Eduarda Zen Biz | ATM 2025.1 7° fase Medicina | 2022.2 Fisiopatologia UCXX ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO Os acidentes vasculares são usualmente causados por anormalidades na circulação cerebral. No entanto, as variações anatômicas são frequentes → as síndromes decorrentes de um AVE podem não se correlacionar bem com a localização da lesão vascular. O polígono de Willis (ACA, ACM, ACP) é um local frequente de anomalias. Cérebro O cérebro é suprido com 14% do débito cardíaco. O metabolismo aeróbico de glicose no cérebro consome 140 umol de O2 e 24 umol de glicose por 100g de cérebro/minuto → isto equivale a utilizar 10% da glicose sanguínea, em uma única passagem. 80% dessa glicose é usada para energia. Aproximadamente 10 a 15% da glicose é metabolizada em lactato que pode ser perdido para a circulação. O restante é utilizado para a síntese de neurotransmissores, gorduras, e em pequeno grau proteínas. As atividades cerebrais normais como o pensamento e o sono não alteram o fluxo sanguíneo total, o uso de glicose ou a captação de oxigênio, mas alteram os padrões do suprimento do sangue e o uso de energia em áreas cerebrais específicas. O cérebro armazena pouca glicose, glicogênio, ou fosfatos de alta energia como ATP, dependendo do fluxo sanguíneo continuo para satisfazer as suas necessidades de energia. Na ausência desse fluxo, o cérebro possui reservas para sustentar as suas demandas metabólicas apenas para alguns minutos Hipóxia cerebral A oferta inadequada de glicose ou O2 para o cérebro inicia uma cascata de eventos que resulta em dano. Em poucos minutos, inicia-se uma disfunção metabólica, dando início a uma cascata de eventos que podem levar a necrose tecidual. A gravidade do quadro (definida pelo grau e duração do fluxo sanguíneo reduzido, pela hipóxia e pela hipoglicemia), determina se o tecido apresenta apenas uma disfunção temporária, uma lesão irreversível restrita a alguns neurônios, ou infarto cerebral extenso. AVE O Acidente Vascular Encefálico (AVE), conhecido popularmente como “derrame”, é a ocorrência súbita de um déficit neurológico devido a um mecanismo vascular. Ou seja, há uma perda repentina da função neurológica causada por uma interrupção do fluxo sanguíneo para o encéfalo. Dependendo da área afetada e sua extensão pode ocorrer problemas cognitivos e sensório-motor. É a principal causa de incapacidade neurológica em adultos. As consequências de um AVE dependem de sua localização e da extensão da área afetada, podendo levar desde a morte súbita até proporcionar consequências insignificantes até mesmo recuperável através de tratamento medicamentoso e fisioterápico. Um déficit isquêmico que melhora sem evidência radiológica de um infarto é chamado de Ataque isquêmico transitório (AIT). 24 horas é um limite comumente usada para diferenciar um AIT de um AVE. Um AVE pode ser isquêmico (85%) ou hemorrágico (15%) Fatores de risco: Não modificáveis: idade, sexo, etnia, HF Modificáveis: HAS, DM, FA, hiperlipidemia, tabagismo, obesidade, sedentarismo, dieta, doença carotídea AVE Isquêmico Causados pelo início súbito de inadequação de fluxo sanguíneo em alguma parte ou em todo o cérebro. A doença vascular oclusiva de um vaso sanguíneo cerebral geralmente leva à isquemia e hipóxia do tecido → infarto. A maioria das vezes está associado a aterosclerose e a diversas causas de trombose. Etiologia: Trombose o AVC lacunar de pequenos vasos o Trombose de grandes vasos Oclusão embólica o Arterioarterial (bifurcação carotídea, arco da aorta, dissecção atrial) o De origem cardíaca (fibrilação atrial, trombos murais, IAM, lesões valvares, estenose mitral, endocardite bacteriana) o Embolia paradoxal (comunicação interatrial, persistência do forame oval) o Aneurisma do septo atrial o Drogas estimulantes (cocaína, anfetaminas Aterosclerose intracraniana Distúrbios da coagulação (hipercoagulabilidade): hereditários ou adquiridos (gravidez; câncer; lúpus; púrpura trombocitopênica; coagulação intravascular disseminada; síndrome nefrótica, contraceptivos orais) Vasculites: inflamação ou necrose de vasos intracranianos (arterite de Takayasu; sarcoidose, infecções bacterianas ou fungicas; sífilis) Maria Eduarda Zen Biz | ATM 2025.1 7° fase Medicina | 2022.2 Síndrome de hiperviscosidade (aumento de viscosidade do sangue): anemia falciforme; policitemia vera; mieloma múltiplo Hemoglobinopatias: Beta talassemia. Mixoma atrial: tumor cardíaco primário Fármacos: vasoconstritores; descongestionantes nasais contendo efedrina. Fisiopatologia: pode ocorrer por oclusão embólica dos grandes vasos cerebrais. As fontes de êmbolos podem ser o coração, o arco aórtico ou outras artérias como as carótidas internas. As lesões isquêmicas pequenas e profundas estão frequentemente relacionadas com a doença intrínseca de pequenos vasos (AVEs lacunares). AVEs com baixo fluxo são verificados em casos de estenose proximal grave e artérias colaterais inadequadas. A variabilidade de recuperação do AVE depende da vascularização colateral, a PA, o local danificado, e o mecanismo de oclusão vascular. Se o fluxo sanguíneo for restaurado antes de ocorrer morte celular significativa, o paciente poderá apresentar apenas sintomas transitórios, isto é o ataque isquêmico transitório. Obstrução vascular das artérias cerebrais → regiões heterogêneas de isquemia → cascata isquêmica → área central de infarto isquêmico irreversível + áreas periféricas de penumbra isquêmica reversíveis A região cerebral afetada pela isquemia é subdivida em duas regiões: Núcleo isquêmico: tecido cerebral que sofrerá dano irreversível; corresponde à região do encéfalo irrigada exclusivamente pela artéria ocluída; nela ocorrem rapidamente danos severos e irreversíveis, marcados por necrose de neurônios e de células da glia. Penumbra isquêmica: margem de tecido moderadamente perfundido, entre o núcleo central mais isquêmico e o tecido normalmente perfundido; a área em torno do núcleo e é definida como o tecido isquêmico que foi funcionalmente prejudicado e está em risco de morte, no entanto, esse tecido possui um potencial de ser recuperado pela reperfusão espontânea e/ou por estratégias terapêuticas. Se esse tecido na área de penumbra isquêmica não for recuperado, ele é progressivamente recrutado no núcleo isquêmico, que se expandirá com o tempo para o máximo de volume Papel dos leucócitos: Obstrução microvascular pela obstrução mecânica direta e pelo dano ao endotélio: o Quando ativados por substâncias quimiotáticas durante a isquemia, a rigidez citoplasmática dos leucócitos aumenta e eles aderem ao endotélio capilar, levando à obstrução capilar. o Isto pode ser a principal causa do fenômeno do não refluxo (no-reflow) que é definido como a restauração incompleta do fluxo sanguíneo após um período de isquemia. Infiltração leucócitos no tecido nervoso e lesão celular citotóxica. A infiltração leucocitária leva a: o Lesão de células individuais (endoteliais, gliais e neuronais) o Vasoconstrição o Geração de substâncias que induzem a uma adesão leucocitária mais acentuada. A lesão mediada por leucócitos pode ser irreversível, mesmo se o fluxa sanguíneo for restaurado. Neutrófilos são atraídos ao endotélio ativado e alcançam espaços perivasculares após extravasarem de vênulas intracerebrais e vasos da meníngeos. Os neutrófilos ativados são protrombóticos e podem danificar a a barreira hematoencefálica. Tipos de isquemia cerebral: ISQUEMIA FOCAL: Causada por oclusão vascular embólica ou tromboembólica dos vasos sanguíneos extra ou intracranianos, levando à redução do fluxo sanguíneo dentro do território vascular relacionado. Neste tipo de isquemia é possível observar área de Penumbra isquêmica. ISQUEMIA GLOBAL: Resulta de uma assistolia cardíaca ou de fibrilaçãoventricular que reduz a taxa de fluxo sanguíneo a zero por todo o corpo. A isquemia global por mais de 5 a 10 minutos é usualmente incompatível com a recuperação total da consciência. Se o fluxo sanguíneo for restaurado a tempo de evitar a morte, a necrose seletiva isquêmica envolve os neurônios mais vulneráveis: piramidais do hipocampo; células cerebelares de Purkinje; e neurônios piramidais das camadas neocorticais 3, 5, e 6. Hipoxemia, envenenamento por CO e hipoglicemia grave prolongada também pode produzir esta lesão. Manifestações clínicas: Aparecem subitamente, e algumas vezes, a pessoa pode até já acordar com eles. Os principais são: Fraqueza ou dificuldade para movimentar um membro, um lado do corpo ou da face; Perda de sensibilidade em alguma região do corpo; Dificuldade para falar ou para comer; Visão embaçada ou perda parcial da visão; Tontura ou desequilíbrio; Perda da consciência ou desmaio. AVE Hemorrágico Vaso cerebral, geralmente arterial, se rompe → morte do tecido cerebral pela interrupção do fornecimento de sangue e O2. Pode acontecer no interior do tecido cerebral (intraparenquimatosa) ou nos espaços que circundam o cérebro, mais frequentemente no espaço subaracnóideo (subaracnóidea). Geralmente a causa é a hipertensão arterial e a ruptura de um aneurisma, associados à aterosclerose Maria Eduarda Zen Biz | ATM 2025.1 7° fase Medicina | 2022.2 Aneurisma É uma dilatação anormal localizada da parede de um vaso sanguíneo ou parede do coração. Aneurismas são mais relevantes quando atingem a aorta. Raramente um aneurisma se desenvolve antes dos 50 anos de idade e são mais comuns em homens. ETIOLOGIA: Principal causa: aterosclerose Outras causas: trauma, defeitos congênitos, infecções por fungos ou bactérias como na sífilis, outros tipos de vasculite. Existe uma influência genética para o aneurisma vinculada a uma predisposição à aterosclerose e hipertensão arterial. Defeitos genéticos ou adquiridos nos componentes do tecido conjuntivo de uma artéria que diminuam sua resistência ou fortalecimento podem por si só produzir aneurisma. A trombose e a ruptura são as possíveis complicações de um aneurisma. Curso clínico: Ruptura do vaso e hemorragia: quando é na aorta é potencialmente fatal. O risco de ruptura está diretamente relacionado ao tamanho do aneurisma: o 0-1% ao ano para aneurismas menores de 5 cm de diâmetro o 25% ao ano para maiores de 6 cm o Os aneurismas em geral se expandem em torno de 0,3 cm ao ano. Trombose com obstrução de vasos, Tromboembolia, infarto do miocárdio e AVE. Compressão de uma estrutura adjacente (nervos, ureter, vértebra...) Manifestações clínicas da hemorragia intracraniana: Vômitos e sonolência e cefaleia ocorrem em alguns casos, com aumento da pressão intracraniana. Putâmen: hemiparesia contralateral Tálamo: hemiparesia com déficit sensitivo proeminente. Ponte: tetraplegia, movimentos oculares horizontais diminuídos, pupilas “puntiformes”. Cerebelo: cefaleia, vômitos, ataxia de marcha. Déficit neurológico que evolui durante 30 a 90 minutos é muito sugestivo da presença de sangramento intracerebral.