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Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Meu nome é Juliane Aparecida de Paula Perez Campos. Sou graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Uber- lândia e em Pedagogia pelo Claretiano. Tenho mestrado e doutorado em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos, onde tive a oportunidade de realizar pesqui- sas a respeito do repertório de habilidades sociais de alunos e de trabalhadores com necessidades educacionais espe- ciais. Atuo como docente em cursos de graduação e pós- -graduação nas modalidades presencial e a distância, minis- trando diferentes disciplinas. E-mail: julianepaula@claretiano.edu.br Meu nome é Keiko Maly Garcia D’Ávila Bacarji. Fiz licenciatura em Pedagogia e já atuei como coordenadora pedagógica em escolas de primeira à quarta série. Tenho formação em Psicologia pela Uni- versidade de Franca, com aprimoramento profissional em Psicope- dagogia pelo HCFMRP-USP. Possuo, também, mestrado em Saúde Mental pela FMRP-USP. Atualmente, sou professora dos cursos de pós-graduação em Psicopedagogia no Processo de Ensino-Apren- dizagem, Psicopedagogia Clínica, Educação Infantil e Alfabetização e, também, dos cursos de graduação do Claretiano – Centro Uni- versitário de Batatais. Na mesma instituição, sou organizadora da disciplina de Atuação e Assessoria Psicopedagógica, que faz parte do curso de Psicopedagogia no Processo de Ensino-Aprendizagem. Além disso, trabalho em uma clínica particular de Psicologia e Psicopedagogia. E-mail: keiko@claretiano.edu.br Claretiano – Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretiano.edu.br Olá! Meu nome é Tatiana Noronha de Souza. Sou pedagoga, Mes- tre (2003) e Doutora (2007) em Psicologia pela Universidade de São Paulo – USP, campus de Ribeirão Preto, com trabalhos de pes- quisa na área da qualidade do atendimento em instituições infan- tis. Tenho experiência na área da educação infantil, com ênfase na avaliação de sistemas, instituições, planos e programas educacio- nais, atuando, especialmente, na formação inicial e continuada de professores e de gestores educacionais. Atuei no Claretiano – Centro Universitário de Batatais como professora e tutora entre os anos de 2007 e 2011. Atualmente, sou professora na Universi- dade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Unesp, campus de Jaboticabal, no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. Desejo que você apreenda, ao máximo, os conhecimentos presentes neste material, para poder, com ele, utilizar as referên- cias citadas para aprofundar seus conhecimentos acerca do assunto. Bons estudos! E-mail: tatii@hotmail.com Meu nome é Vera Lúcia Casari Parreira. Sou psicóloga, com formação na área de Psicologia Infantil e Educação, voltada para a Psicopedagogia e docência na graduação e na pós-gra- duação pela USP-RP. Sou, também, especialista em Psicopeda- gogia e Psicologia Clínica Infantil. Além disso, possuo mestra- do na área de Saúde Mental pela Faculdade de Medicina da USP-RP, com trabalho voltado para crianças com problemas de aprendizagem. Atuei como supervisora nos cursos de apri- moramento profissional em "Psicologia do desenvolvimento na área da saúde" e "Psicopedagogia para pedagogos", no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (USP-RP), no período de 1982 a 2007. Desenvolvi, no Claretiano – Centro Universitário de Batatais, um trabalho de docência para os cursos de pós-graduação (especialização – lato sensu), além de ser professora e coordenadora dos cursos de Psicopedagogia: Abordagem Clínica dos Problemas de Aprendizagem, Psicopedagogia no Processo de Ensino-Aprendizagem e Educação Infan- til e Alfabetização. Além disso, coordenei, nessa instituição, o NAPp – Núcleo de Apoio Psicopedagógico, núcleo responsável pelo atendimento à criança com dificuldades de aprendizagem, pela brinquedoteca e por grupos de pesquisas. E-mail: vera@claretiano.edu.br Juliane Ap. de Paula Perez Campos Keiko Maly Garcia D’Ávila Bacarji Tatiana Noronha de Souza Vera Lúcia Casari Parreira Batatais Claretiano 2016 PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO © Ação Educacional Claretiana, 2010 – Batatais (SP) Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Simone Rodrigues de Oliveira Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni • Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgarelli • Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami Videoaula: Fernanda Ferreira Alves • Marilene Baviera • Renan de Omote Cardoso Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 370.15 C21p Campos, Juliane Aparecida de Paula Perez Psicologia da educação / Juliane Aparecida de Paula Perez Campos ... [et al.]. – Batatais,SP : Claretiano, 2013. 234 p. ISBN: 978-85-67425-17-7 1ª edição ampliada. 1. Perspectivas históricas da Psicologia: diferentes escolas. 2. Diferentes abordagens teóricas da psicologia. 3. Desenvolvimento Humano: ciclo vital e psicossocial. 4.Teorias cognitivas da aprendizagem. 5. Variáveis psicológicas e o ensino aprendizagem. 6. Erro e Fracasso Escolar. 7. Indisciplina na Escola. I. Bacarji, Keiko Maly Garcia d’Avila. II. Souza, Tatiana Noronha de. III. Parreira, Vera Lúcia Casari. IV. Psicologia da educação. CDD 370.15 INFORMAÇÕES GERAIS Cursos: Graduação Título: Psicologia da Educação Versão: dez./2016 Formato: 15x21 cm Páginas: 234 páginas SUMÁRIO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11 2. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO ..................................................................... 13 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 37 Unidade 1 – PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA PSICOLOGIA: DIFERENTES ESCOLAS 1. OBJETIVOS ....................................................................................................... 39 2. CONTEÚDOS ................................................................................................... 39 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .............................................. 39 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................. 45 5. SENSO COMUM E PSICOLOGIA CIENTÍFICA ................................................. 47 6. ASPECTOS HISTÓRICOS DA PSICOLOGIA ......................................................52 7. ESTRUTURALISMO .......................................................................................... 58 8. FUNCIONALISMO ........................................................................................... 61 9. ASSOCIACIONISMO ......................................................................................... 64 10. A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO ....................................................................... 67 11. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 69 12. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 71 13. e-ReFeRÊnCiaS ............................................................................................... 72 14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 73 Unidade 2 – DIFERENTES ABORDAGENS TEÓRICAS DA PSICOLOGIA 1. OBJETIVOS ...................................................................................................... 75 2. CONTEÚDOS ................................................................................................... 75 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................. 75 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................. 79 5. CONTRIBUIÇÕES DO BEHAVIORISMO PARA A EDUCAÇÃO .......................... 80 6. NEOBEHAVIORISMO ....................................................................................... 87 7. GESTALT E SUAS CONTRIBUIÇÕES .................................................................. 93 8. PSICANÁLISE .................................................................................................... 96 9. O HUMANISMO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO ................... 103 10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 106 11. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 108 12. e-ReFeRÊnCiaS ............................................................................................... 109 13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 110 Unidade 3 – DESENVOLVIMENTO HUMANO: CICLO VITAL E PSICOSSOCIAL 1. OBJETIVOS ....................................................................................................... 111 2. CONTEÚDOS .................................................................................................... 111 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................. 111 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................. 115 5. CRIANÇA DE ZERO A DOIS ANOS: FATORES QUE INFLUENCIAM NO DESENVOLVIMENTO HUMANO ...................................................................... 117 6. deSenVOLViMenTO na SeGUnda inFÂnCia: anOS PRÉ-eSCOLaReS ..... 122 7. CRIANÇA NA FASE ESCOLAR E SUAS CARACTERÍSTICAS DE DESENVOLVIMENTO ........................................................................................ 132 8. ADOLESCENTE EM BUSCA DE SUA IDENTIDADE .......................................... 139 9. O SER HUMANO DA IDADE ADULTA À VELHICE ............................................ 148 10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 155 11. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 157 12. e-ReFeRÊnCiaS ............................................................................................... 157 13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 157 Unidade 4 – TEORIAS COGNITIVAS DA APRENDIZAGEM 1. OBJETIVOS ....................................................................................................... 161 2. CONTEÚDOS ................................................................................................... 161 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .............................................. 161 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................. 165 5. O CONSTRUTIVISMO À LUZ DA TEORIA DE JEAN PIAGET ........................... 167 6. SOCIOCONSTRUTIVISMO E MEDIAÇÃO NA APRENDIZAGEM .................... 175 7. TEORIA DO PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO ....................................... 180 8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 186 9. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 188 10. e-ReFeRÊnCiaS ............................................................................................... 188 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 189 Unidade 5 – VaRiÁVeiS PSiCOLÓGiCaS e O PROCeSSO de enSinO- APRENDIZAGEM 1. OBJETIVOS ....................................................................................................... 191 2. CONTÉUDOS ................................................................................................... 191 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................. 192 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................. 195 5. MOTIVAÇÃO .................................................................................................... 195 6. aUTOCOnCeiTO e SUaS iMPLiCaÇÕeS nO PROCeSSO de enSinO- APRENDIZAGEM ............................................................................................. 203 7. AUTOEFICÁCIA ................................................................................................. 207 8. HABILIDADES SOCIAIS .................................................................................... 209 9. PRODUÇÃO DE FRACASSO NA ESCOLA: DA INDISCIPLINA AO TRATAMENTO DO ERRO ........................................................................................................... 217 10. A EMOÇÃO NA SALA DE AULA ........................................................................ 228 11. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 231 12. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 231 13. e-ReFeRÊnCiaS ............................................................................................... 231 14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 233 11 CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO Conteúdo ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Perspectivas históricas da Psicologia: diferentes escolas. Diferentes abordagens teóricas da Psicologia. Desenvolvimento humano: ciclo vital e psicossocial. Te orias cognitivas da aprendizagem. Variáveis psicológicas e o ensino-aprendiza gem. Erro e Fracasso Escolar. Indisciplina na Escola. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 1. INTRODUÇÃO O estudo de Psicologia da Educação possibilitará reflexões e análises sobre o ser humano e sua educação, com base em conhecimentos científicos e na indicação de algumas especifici- dades no contexto da Educação. Na Unidade 1, estudaremos as doutrinas que contribuíram para a construção da Psicologia Moderna, de maneira que esta- rão em destaque os principais pensamentos teóricos e as bases para a Educação contemporânea. As abordagens teóricas que surgiram após as grandes esco- las da Psicologia serão estudadas na Unidade 2. Nessa unidade, conheceremos as contribuições para a Educação das seguintes teorias: Behaviorismo, Gestalt, Psicanálise e Humanismo. Já na Unidade 3, realizaremos uma viagem pelas mudanças observadas e experienciadasna sua própria vida. Algumas delas você certamente já vivenciou, mas não permaneceram na sua memória; outras aparecem como "marcos" importantes na sua 12 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO vida. Há, também, mudanças que você está vivenciando neste momento, e outras que ainda irá vivenciar. Compreenderemos, também, que o ciclo vital humano para o estudo do desenvolvimento do homem pode ser dividi- do em quatro fases: a primeira trata da "infância", que, segundo várias teorias, pode ser dividida em "primeira infância" (zero a dois anos), "segunda infância" (anos pré-escolares) e "terceira infância" (anos escolares); a segunda, muito importante para a Psicologia da Educação, é a adolescência; por fim, o ser humano ainda passa pela "vida adulta" e pela "velhice". Dando sequência ao seu estudo, conheceremos, na Uni- dade 4, as principais correntes teóricas cognitivas, atualmente, utilizadas pelos profissionais da Educação: o construtivismo, o socioconstrutivismo e a teoria do processo da informação. Para que você entenda melhor o construtivismo como teo- ria, é fundamental que tome conhecimento sobre as ideias de Jean Piaget. Já para a teoria socioconstrutivista, também conhe- cida como teoria sociointeracionista, serão apresentados, ainda, os pensamentos de Vygotsky, o principal representante dessa teoria. Abordaremos o processamento da informação como uma variável relevante no estudo da cognição e da inteligência, sen- do, portanto, muito importante para a Educação. Para finalizar, na Unidade 5, trataremos de algumas variá- veis psicológicas importantes para o processo de ensino-apren- dizagem, ou seja, fatores que influenciam no ato de aprender e que contribuem nas interações sociais, como a motivação, o autoconceito, a autoeficácia e as habilidades sociais. Partindo dessas variáveis, você perceberá a importância do autoconceito e da autoeficácia positiva; como se dão as relações 13© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO sociais nos contextos escolares; e por que, na maioria das vezes, é tão difícil manter-se motivado para algumas aprendizagens. Concluiremos com o problema da indisciplina e o tratamento do erro, devendo estes ser analisados de acordo com a perspectiva da Psicologia. Essa análise permite que atuemos de forma efetiva diante dessas questões, procurando modificar a dinâmica da sala de aula. Logo, o estudo deste material lhe ajudará a tornar-se um professor com muitos recursos para lidar com a aprendizagem, independentemente de qual seja o conteúdo a ser ensinado. Desse modo, com os conhecimentos adquiridos aqui, você terá melhor compreensão do seu papel de educador num contexto socioeducacional com grandes demandas de mudanças. Bons estudos! 2. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO Abordagem Geral Prof.ª Dra. Tatiana Noronha de Souza Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será estudado nesta obra. Aqui, você entrará em contato com os as- suntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Desse modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do qual você possa construir um referencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência cognitiva, ética e responsabilidade 14 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO social. Vamos começar nossa aventura pela apresentação das ideias e dos princípios básicos que fundamentam esta obra. A Psicologia da Educação é um ramo da Psicologia que es- tuda as teorias psicológicas para compreender o comportamen- to, o funcionamento e o dinamismo psicológico do ser humano. Podemos pensar que os conhecimentos adquiridos duran- te o estudo deste material são pertinentes tanto ao educando quanto ao educador, já que, no processo educativo, há uma rela- ção na qual estão implicados tanto quem aprende quanto quem ensina. Cada um, educador e educando, com seu comportamen- to, funcionamento e dinamismo psicológico. Já que estamos abordando Psicologia, é importante estu- darmos o seu surgimento. O mundo psicológico foi investigado pelos gregos, apesar de, naquela época, não haver Psicologia como Ciência (surgida somente em torno de 1879). Os gregos preocupavam-se com a alma e a razão humanas. Foram eles, portanto, que fizeram as primeiras tentativas de sistematizar a interioridade humana. Séculos mais tarde, no Renascimento, as ciências ganha- ram grande impulso. Dentre os diferentes postulados instituídos na época, destacamos a afirmação de que o ser humano possuía substâncias material e imaterial, estabelecendo o dualismo entre mente e corpo. Esse dualismo contribuiu para o desenvolvimen- to dos estudos de Anatomia e Fisiologia, que vieram a contribuir com o avanço posterior da Psicologia. A Psicologia teve início no século 19, na Alemanha, sen- do instituída por Wundt. Ele é considerado o "pai" da Psicologia, pois lutou para que ela se fixasse como Ciência, ganhando espa- 15© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO ço como disciplina acadêmica formal. Posteriormente, a Psicolo- gia conseguiu status de Ciência quando se libertou da Filosofia. Então, a partir de Wundt, quando a Psicologia se estabele- ceu como Ciência, começaram a surgir, nos EUA, as grandes esco- las da Psicologia do século 19: o Estruturalismo, o Funcionalismo e o Associacionismo. O Estruturalismo foi elaborado por Titchener. Para esse teórico, o objeto de estudo da Psicologia era os elementos bási- cos da consciência. Por essa razão, ele quis analisar os processos psíquicos conscientes. Mas o que era consciência para Titchener? Para esse pesquisador, a mente e a consciência eram rea- lidades semelhantes. No entanto, a consciência envolvia proces- sos mentais que ocorriam no momento, enquanto a mente en- volvia o acúmulo total desses processos. O método que Titchener utilizava para estudar a consciên- cia era a introspecção. Na introspecção, um sujeito, especialmen- te treinado para a auto-observação, descrevia de forma precisa a experiência pela qual passava. Ele deveria relatar a experiência imediata com exatidão, sem ser contaminado por interferências, sem ter a atenção subjetiva. Ao não permitir a atenção subjetiva, percebe-se que Titchener não se interessava pelas diferenças individuais, ou seja, pela singulari- dade entre mentes diferentes. O Funcionalismo teve como idealizador William James. Ele estudou a consciência, mas, na verdade, foi além do que é a consciência e se perguntou: para que serve a consciência? Des- se modo, ele deu ênfase à mente em funcionamento. William James buscou compreender o funcionamento da consciência 16 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO partindo do princípio de que o homem a utilizava para se adap- tar ao meio. Esse teórico ressaltava a importância do pragmatismo, ou seja, acreditava que só era válido na Psicologia aquilo que era útil. No que se refere ao ser humano, este seria útil quando con- seguisse se adaptar ao meio. Então, para saber quais os sujeitos mais aptos, foram desenvolvidos e aplicados testes. O estudo dessa teoria deixa claro que quem teria mais capacidade de se adaptar ao meio teria também mais chances de sobrevivência. O Associacionismo teve como maior representante Thorndike, que formulou a primeira teoria de aprendizagem da Psicologia. O Associacionismo compreendia a mente como um com- plexo de ideias que se relacionavam entre si. Portanto, para os as- sociacionistas, a aprendizagem, também, ocorria pela associação das ideias. Ao investigar a aprendizagem, Thorndike não admitia nenhuma referência à consciência ou aos processos mentais. Ele interpretava a aprendizagem em termos de estímulo – resposta, ou seja, a aprendizagem ocorria porque as respostas seriam se- lecionadas pelos seus efeitos. Esseteórico substituiu a consciência pelo conjunto casual de respostas selecionadas por seus efeitos. Surgiu, então, a Lei do Efeito. De acordo com essa lei, um comportamento tenderia a se repetir quando fosse recompensado; e tenderia a não acon- tecer mais quando o sujeito fosse castigado. Essas três escolas que acabamos de estudar, o Estrutu- ralismo, o Funcionalismo e Associacionismo, permitiram o de- senvolvimento de novas abordagens da Psicologia no início do 17© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO século 20. Estas são as seguintes: a Psicanálise, o Behaviorismo, a Gestalt e o Humanismo. Primeiramente, estudaremos a Psicanálise. O fundador da Psicanálise foi Freud. Freud alegava que, para compreender o comportamento humano, deveríamos ir além da consciência, pois não seriam apenas os conteúdos conscientes que influenciariam o compor- tamento, mas, também, os conteúdos inconscientes. Dessa forma, o mérito de Freud foi a descoberta do incons- ciente. No inconsciente, estão os elementos instintivos que nun- ca foram conscientes e que não são acessíveis à consciência. Você deve estar se perguntando: o que Freud tem a ver com a Educação? Qual a contribuição da Psicanálise para a Educação? Antes de discutirmos a relação entre a Psicanálise e a Educação, é necessário deixar claro que não vamos encontrar nenhum tex- to específico de Freud sobre o tema da aprendizagem. Contudo, esse teórico contribuiu com a Educação ao resgatar a afetividade e ao elaborar alguns conceitos, tais como transferência, contra- transferência e desejo. Vamos entender cada um deles e como podem ser relacio- nados com a Educação. Os conceitos de transferência e contratransferência foram observados na situação clínica entre paciente e terapeuta, mas podem ser usados na Educação, já que o ato de aprender envol- ve a relação afetiva professor-aluno. A transferência, ocorre quando o aluno transfere para o professor a sensação de segurança que pode ter experimenta- do na tenra infância em relação a seus pais ou cuidadores, de- 18 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO senvolvendo uma relação de confiança. Por outro lado, caso o professor seja idealizado aos olhos do aluno, pode ocorrer uma dependência dessa relação tida como "perfeita", e no momento que essa expectativa não se cumpra, o aluno cai em frustração, e o professor se transforma em "pai vilão". A contratransferência implica na forma como o professor reage ao seu aluno, ou seja, qual sua reação à transferência do aluno. É de grande ajuda quando essa reação emocional é com- preendida pelo professor, servindo a ele como guia. Observa-se que ansiedades ou fantasias inconscientes do aluno acionam reações emocionais na mente do professor, le- vando-o a ter dificuldades em estabelecer uma relação coopera- tiva e de ensino-aprendizagem com o aluno. No que diz respeito à questão do desejo, Freud descobriu o quanto o desejo motiva e impulsiona o ser humano para a busca do conhecimento. Assim, podemos pensar no desejo de aprender do aluno. Agora, vamos ver outra escola denominada Behaviorismo. O Behaviorismo foi inaugurado por Watson, mas o beha- viorista mais importante, que sucedeu a Watson, foi Skinner, portanto, daremos ênfase a Skinner. O objeto de estudo do Behaviorismo foi o comportamento. Os behavioristas negavam qualquer evento mental, porque, para eles, só poderia ser objeto de estudo o que fosse observável, mensurável e possível de ser controlado, mas sabemos que os eventos mentais fogem a todas essas regras. Segundo Skinner, o comportamento era aprendido em virtude das consequências que ele provocava, ou seja, o sujeito 19© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO agiria sobre o ambiente, e o efeito dessa ação provocaria deter- minado comportamento. Vamos ver um exemplo para compreender melhor o que Skinner pensava sobre o comportamento. Numa sala de aula, um aluno apresentou um comporta- mento considerado inadequado pela professora, que o encami- nhou para a sala de orientação educacional. Como a orientadora estava ocupada em entrevistas com pais, permitiu que o aluno utilizasse o computador. Ele brincou com jogos eletrônicos en- quanto aguardava. Seu comportamento inadequado em sala de aula foi reforçado positivamente, ou seja, ele poderá repe- tir o comportamento em sala de aula para voltar a brincar no computador. Percebeu como a consequência, ou seja, o brincar com jogos eletrônicos, pode reforçar o aluno a repetir o compor- tamento inadequado na sala de aula para voltar a brincar no computador? Dessa forma, podemos concluir que, para os behavioristas, as consequências são fundamentais na determinação do com- portamento. Dependendo da consequência, o comportamento pode voltar ou não a ocorrer. Você deve ter percebido que mencionamos o reforço. É im- portante esclarecer que o reforço é o estímulo dado ao aluno e que pode fortalecer um determinado comportamento esperado. Assim, o reforço pode ser positivo ou negativo. Positivo, quando o estímulo é dado direto após a ação do aluno, o que aumenta as chances do comportamento ocorrer. Negativo, quando o pro- fessor retira do aluno uma situação aversiva, e o comportamento assertivo aumenta as chances de ocorrer. 20 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO Passemos, então, para a apresentação da Gestalt ou Psico- logia da Boa Forma. Os psicólogos gestaltistas preocupavam-se em compreen- der quais seriam os processos psicológicos envolvidos na ilusão de óptica, quando o estímulo físico fosse percebido de maneira diferente da que ele tinha na realidade. Podemos pensar, por exemplo, em alguns desenhos ou fi- guras, que deixam claro que o estímulo pode ser percebido de maneira diferente da que ele tem na realidade. Quando isso acontece, há a ilusão de ótica. Em alguns desenhos, temos que fixar nossos olhos com calma para poder enxergar outros ele- mentos, indo além da percepção imediata. Segundo a Gestalt, percebemos o objeto como um todo porque o cérebro é dinâmico, ou seja, funciona com todos os elementos ao mesmo tempo. O objeto de estudo da Teoria da Gestalt é a percepção. Para os gestaltistas, o que o indivíduo percebe e como ele per- cebe são importantes para a compreensão do comportamento humano, porque "a maneira como percebemos um determinado estímulo irá desencadear nosso comportamento" (BOCK, 2002, p. 61). A seguir, vamos ler um texto de Fernando Sabino para en- tender melhor como a maneira de perceber um estímulo nos leva a ter um determinado comportamento: Chaves da vaguidão –––––––––––––––––––––––––––––––– Era um bar da moda naquele tempo em Copacabana e eu tomava meu uísque em companhia de uma amiga. O garçom que nos servia, meu velho conhecido, a horas tantas se aproximou: 21© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO –Não leve a mal eu sair agora, que está na minha hora, mas o meu colega ali continuará atendendo o senhor. Ele se afastou, e eu voltei ao meu estado de vaguidão habitual. Alguns minutos mais tarde, vejo diante de mim alguém que me cumprimentava cerimoniosamente, com um movimento de cabeça: –Boa noite, Dr. Sabino. Era um senhor careca, de óculos, num terno preto de corte meio amigo. Sua fisionomia me era familiar, e embora não o identificasse assim à primeira vis- ta, vi logo que devia se tratar de algum advogado ou mesmo desembargador de minhas relações, do meu tempo de escrivão. Naturalmente disfarcei como pude o fato de não estar me lembrando de seu nome, e me ergui, estendendo- -lhe a mão: –Boa noite, como vai o senhor? Há tanto tempo! Não quer sentar-se um pouco? Ele vacilou um instante, mas impelido pelo calor de minha acolhida, acabou aceitando: sentou-se meio constrangido na ponta da cadeira e ali ficou, erecto, como se fosse erguer-se de um momento para outro. Ao observá-lo assim de perto, de repente deixei cair o queixo: sai dessa agora, Dr. Sabino! Minhaami- ga ali do lado, também boquiaberta, devia estar achando que eu ficara maluco. Pois o meu desembargador não era outro senão o próprio garçom – e meu velho conhecido! – que nos servira durante toda a noite e que havia apenas trocado de roupa para sair (SABINO, 1980, p. 143-4). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Ficou claro como a forma como percebemos um estímulo influencia o nosso comportamento? Agora, após ter explicado alguns pontos principais da Gestalt, vamos explicar para você qual a relação dessa abordagem com a Educação. Quanto à relação entre a aprendizagem e a Gestalt, os ges- taltistas acreditam que a aprendizagem não se realiza por ensaio e erro, mas por insight. Vocês sabem o que é insight? Acreditamos que quase todos os indivíduos já passaram por essa experiência do insight, que se refere a um momento em que ocorre uma ideia abrupta, repentina e no qual compreende- mos determinado assunto. Não é apenas o insight que faz com que o indivíduo compreenda ou aprenda, pois a compreensão e 22 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO a aprendizagem são resultados das nossas experiências diante da forma como percebemos os estímulos ao nosso redor. Assim, a aprendizagem é, para a Gestalt, um processo global. Vimos até o momento o Estruturalismo, o Funcionalismo e o Associacionismo, como três grandes tradições na Psicologia, e, também, as principais abordagens como a Psicanálise, o Be- haviorismo e a Gestalt. Agora, veremos outras abordagens que construíram a Psicologia, como o Humanismo, a Epistemologia Genética de Piaget, da qual derivou o Construtivismo de Emília Ferreiro, e o Socioconstrutivismo, a pesquisa sócio-histórica de Vygotsky. O Humanismo teve como principal representante Carl Rogers, que desenvolveu sua teoria a partir da experiência clínica como te- rapeuta. Na clínica, ele deu ênfase aos aspectos afetivos, procurou criar um ambiente com ênfase na relação médico-paciente de forma humanista para que seu cliente pudesse fazer mudanças internas. Então, como podemos perceber, a abordagem humanista de Rogers iniciou-se no contexto clínico, mas ele estendeu para o contexto escolar o que aplicou na clínica, porque se preocupava em humanizar o contexto escolar. Quando Rogers se referia a humanizar o contexto escolar, ele queria dizer que a aprendizagem deveria estar centralizada no aluno, porque este não é apenas um organismo biológico, mas, sim, um indivíduo que possui sentimentos, desejos, necessidades e pensamentos, o que o torna capaz de fazer mudanças internas. Para finalizar, vamos apresentar brevemente a teoria de Piaget, denominada Epistemologia Genética, e a pesquisa de Vygotsky, chamada sócio-histórica. 23© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO Vamos começar com a Epistemologia Genética, de Piaget. Piaget não construiu métodos para a Educação, mas uma teoria chamada Epistemologia Genética, que teve como ob- jetivo compreender o processo de formação/construção do conhecimento. Piaget tinha como pressuposto que tanto os fatores here- ditários e maturacionais, quanto o ambiente físico e social, eram importantes para o desenvolvimento da inteligência na criança, mas deu ênfase aos fatores maturacionais como determinantes da aprendizagem. É importante termos em mente que o fato de ele enfatizar os fatores maturacionais não significa que negligen- ciava as questões sociais e culturais, mas defendia que, para que houvesse aprendizagem, seria necessário, anteriormente, ter ocorrido o desenvolvimento biológico. Por essa razão, esse teórico considerava que o desenvolvi- mento dos seres humanos se processava por meio de estágios li- neares e crescentes que se tornavam mais complexos. Conforme Piaget, os estágios são: 1) Período sensório-motor: inicia-se com o nascimento e vai, aproximadamente, até os 2 anos de idade. 2) Período pré-operatório: que é subdividido em: a) Período simbólico: inicia-se aos 2 anos de idade e termina aos 4 anos, aproximadamente. b) Período intuitivo: inicia-se aos 4 anos de idade e termina aos 6/7 anos, aproximadamente. 3) Período operatório-concreto: inicia-se aos 6/7 anos de idade e termina aos 11 anos, aproximadamente. 4) Período operatório abstrato ou operatório formal: vai dos 11 anos em diante. 24 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO De acordo com Piaget, todos os seres humanos passam por essas fases, na referida sequência, mas o início e o término de cada uma delas depende das relações entre as características biológicas do indivíduo e os fatores sociais/ambientais. Então, a divisão dos estágios em faixas etárias é uma referência para nos nortearmos quanto ao desenvolvimento do ser humano, e não uma norma rígida a ser seguida. No que se refere à contribuição de Piaget para a Educa- ção, esse teórico não fornece respostas ao professor de como se deve ensinar um aluno, mas possibilita identificar o estágio em que o aluno se encontra, permitindo compreender como o aluno aprende, quais são seus limites e suas potencialidades intelec- tuais. O professor deve procurar saber os conhecimentos prévios dos alunos para poder apresentar elementos para que o próprio aluno construa seu conhecimento. Assim, cabe ao professor criar situações a fim de que o aluno construa seu conhecimento. Posteriormente, o último teórico estudado será Vygotsky. Segundo Vygotsky, o desenvolvimento é resultado de um processo sócio-histórico, ou seja, por meio das relações sociais, da interação com o outro e com a cultura, ocorre o desenvolvi- mento. Deve-se, portanto, dar ênfase à experiência social. Esse teórico estudou as funções psicológicas superiores, ou seja, a construção da linguagem, a memória, a atenção, o pensamen- to. Tais funções determinam comportamentos que diferenciam o ho- mem dos outros animais. Ele considera que a origem das funções psi- cológicas superiores se encontra nas relações que o homem mantém. Vygotsky não criou práticas ou instrumentos metodológi- cos de imediata aplicação na prática educativa, mas deixou mui- tas contribuições para a área da Educação. 25© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO De acordo com a teoria de Vygotsky, podemos pensar que não há educação escolar se não existir intervenção do professor na zona de desenvolvimento proximal dos alunos. Zona de desenvolvimento proximal é a distância entre o nível real de desenvolvimento da criança, ou seja, aquilo que a criança sabe fazer sozinha, e o nível de desenvolvimento poten- cial, que se refere às tarefas desempenhadas pela criança, com ajuda de outra criança mais experiente ou um adulto. O professor, ao interferir na zona de desenvolvimento pro- ximal, toma como ponto de partida o desenvolvimento real dos alunos, ou seja, aquilo que eles já sabem fazer sozinhos, para alcançar os objetivos do ensino escolar. Devemos lembrar que o professor sempre leva em consideração o nível de desenvolvi- mento potencial dos aprendizes. Ainda quanto à aprendizagem, um conceito de Vygotsky relacionado com a Educação é a mediação, na qual o professor é o mediador entre os alunos e os objetos do conhecimento. Para finalizar, apresentamos uma citação de Cláudia Davis referente a essa questão que, muitas vezes, nos fazemos: É impossível, nos dias de hoje, deixar de atribuir importância ao trabalho de Piaget e Vygotsky. Em especial no campo da psico- logia do desenvolvimento e, mais recentemente, da psicologia da educação, esses autores têm seu lugar assegurado. Talvez por isso, quase inevitavelmente, a pergunta se coloca: Piaget ou Vygotsky? As propostas de Piaget e Vygotsky iluminam diferentes aspec- tos do cotidiano escolar, e escolher entre uma ou outra oposi- ção pode ser um equívoco para o docente... O trabalho educa- tivo deve fazer uso dos melhores recursos que a psicologia lhe oferece (DAVIS, 2005, p. 38). 26 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DECONTEÚDO Ao final do material, você estudará as variáveis psicológicas que influenciam o desenvolvimento e a aprendizagem das pes- soas. Essas variáveis, tais como motivação, autoconceito, autoe- ficácia e habilidades sociais, influenciam a forma como aprende- mos algo, e contribuem para o desenrolar das interações sociais. A motivação é compreendida como o estado interior que direciona e mantém o comportamento em busca de algo. Esse estado caracteriza-se por impulsos, necessidades (querer atingir um objetivo), pressão social (ser mais bem colocado em algo, competir), interesses (passar no vestibular, por exemplo) etc. São várias as razões que podem direcionar um comportamento para determinado fim. Para nós, a grande questão desafiadora é transformar a aquisição do conhecimento em algo que gere interesse nos alunos, de modo que estes direcionem seu com- portamento aos estudos. O desenvolvimento do autoconceito inicia-se por volta dos 18 meses, quando o bebê demonstra consciência de si mesmo. Por volta dos 2 anos de idade, a criança passa a usar o prono- me "eu", dando um indicativo de autoconsciência. Assim, ao ter um conceito de si como ser distinto, a criança pequena começa a aplicar termos descritivos a respeito de si mesma, como, por exemplo, grande e pequena, bonita etc. Trata-se, então, da ideia que uma pessoa tem de si própria, como se vê. É construída por meio das relações que estabelece com o mundo (família, outras crianças, educadores etc.). Conclui- -se, então, que os pais e outras pessoas significativas influenciam na construção e no desenvolvimento do autoconceito da criança. Tal construção é lenta, desenvolve-se nas experiências so- ciais e é influenciada pela maneira como as pessoas reagem ao comportamento da criança. Na verdade, as pessoas que afetam 27© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO o autoconceito desenvolvido pela criança são, especialmente, os adultos importantes para ela (pais, parentes e professores). Estes, na sua maioria, exercem algum controle sobre o compor- tamento da criança e emitem opiniões que têm influência sobre ela. Por esse motivo, se a criança sofre experiências que afir- mem algum tipo de fracasso, muito provavelmente processará essa ideia, podendo vir a acreditar nela como uma crença, ainda que não corresponda à realidade. A autoestima manifesta-se no plano afetivo e refere-se à avaliação que a pessoa faz de si mesma. A autoestima relaciona- -se com o autoconceito, embora sejam elementos diversos. A autoestima é caracterizada pela condição do indivíduo se sentir amado, incluído no meio social em que vive. O autocon- ceito constitui um conjunto de pensamentos e ideias que cada pessoa tem em relação a si mesma, de acordo com a apreensão feita do comentário das pessoas sobre si. Essa construção de ideias se reflete em nosso comporta- mento, em nossa maneira de agir e influencia a construção da opinião que temos sobre nós e dos outros a nosso respeito. Por exemplo, um aluno que tem uma imagem positiva de si, normalmente, se comporta de maneira mais segura diante do enfrentamento das dificuldades. Essa segurança de confiar em si é que possibilita o alcance de êxito. O rendimento acadêmico é bastante afetado pelo auto- conceito dos alunos e, por esse motivo, a escola tem um papel fundamental na construção do autoconceito e da autoestima dos alunos. As primeiras experiências de fracasso, por exemplo, devem ser utilizadas para encorajar as crianças a superarem os 28 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO desafios. E como podemos fazer isso? Um dos caminhos é ofere- cer tarefas que sejam possíveis de serem realizadas, não fáceis demais, mas que se tornem desafios. Os professores devem organizar a sala de maneira colabo- rativa, fazendo que os alunos se ajudem. Além disso, devem ela- borar projetos com etapas a serem vencidas, possibilitando que os alunos realizem autocorreções. São várias as ações que podem contribuir para que o aluno se sinta competente diante das tarefas escolares. As punições e as humilhações são graves e levam ao pensamento de inca- pacidade de aprender. O pensamento disfuncional em relação à escola pode ser negativamente construído com a participação da comunidade escolar, e não está relacionado apenas aos fatores externos. Esses apontamentos estão intimamente ligados à constru- ção de outro conceito, a autoeficácia. A teoria comportamental cognitivista de Bandura aborda a crença de autoeficácia no alu- no, e indica que a motivação e o desempenho são influenciados pela crença que o indivíduo possui sobre o quanto pode ser efi- ciente na realização de determinadas tarefas. Pense nas pessoas que você conhece e veja que aquelas que possuem autoeficácia com bom nível acreditam na sua capa- cidade de realizar tarefas e investem um esforço para tanto. Em contrapartida, as pessoas que não acreditam na própria capaci- dade de realizar tarefas não estão motivadas a se esforçar. Percebeu como nossas ações são fundamentais para a construção de crenças que farão com que os alunos se envolvam nos estudos? Infelizmente, esses são conceitos pouco trabalha- dos nos cursos de formação de professores e nos horários de for- 29© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO mação continuada dentro das escolas. O aprendizado de como esses conhecimentos são construídos e da influência deles na vida das pessoas poderia fazer que melhorássemos algumas das condições de ensino-aprendizagem. A autoeficácia também deve ser pensada na perspectiva do professor. Trata-se do julgamento da capacidade de realizar determinada tarefa e atingir determinada performance; neste caso, a de ensinar. O professor acredita ser capaz de ensinar a seus alunos? Ele acredita que prepara boas aulas? De qualquer forma, o perceber-se capaz de ensinar aos alunos é fundamental para o processo de ensino-aprendizagem. Vamos, agora, para mais uma variável, que são as habilida- des sociais. As pessoas que desde crianças têm oportunidade de aprender e de desenvolver as habilidades sociais poderão apre- sentar melhor ajustamento social e, geralmente, mais satisfação nas suas relações interpessoais. O termo "habilidades sociais" diz respeito ao conjunto de desempenhos apresentados pela pessoa, em resposta às deman- das sociais. Essas habilidades são aplicadas às diferentes classes de comportamentos sociais de um indivíduo e contribuem para a relação saudável e produtiva com seu entorno social. Caberá à família e à escola promover processos de apren- dizagem e desenvolvimento de habilidades sociais; entretanto, o grande desafio é que, para o ensino dessas habilidades, os edu- cadores devem possuir uma formação profissional e pessoal que o permita. Para finalizar nossos estudos, trataremos das questões da indisciplina, da emoção, do tratamento do erro na sala de aula e da produção do fracasso escolar. 30 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO O conhecimento teórico inicial e, posteriormente, o conhe- cimento de práticas escolares reais é o que poderão ajudar os professores e os gestores a superarem alguns dos desafios e pla- nejarem intervenções em suas escolas. Aproveite o conhecimento a ser construído neste estudo, busque complementar suas leituras com as referências indica- das, além de procurar experiências reais para verificar o quanto a articulação teoria e prática é efetiva. Um grande abraço a você e sucesso nos estudos! Glossário de Conceitos O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá- pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados no estudo de Psicologia da Educação. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos desta obra: 1) Aprendizagem: mudança relativamente duradoura no comportamento da pessoa, gerada pela experiência (direta ou indireta) como ambiente. 2) Crescimento/Maturação orgânico/física: refere-se ao amadurecimento biológico do corpo, que possibilita a relação com o mundo. 3) Desenvolvimento humano: é o processo por meio do qual a Psicologia procura compreender a integralidade do homem, desde o seu nascimento até a terceira ida- de, incluindo o seu grau de estabilidade. 4) Hereditariedade: refere-se à carga genética que estabe- lece o potencial de desenvolvimento de cada indivíduo. 31© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO Mesmo existindo pesquisas que mostram os aspectos genéticos da inteligência, há outras pesquisas que mos- tram que ela se desenvolve aquém ou além do potencial genético, dependendo das condições do meio. 5) Interacionismo: conceito que concebe que a apren- dizagem e o desenvolvimento humano ocorrem por meio da interação do homem com o ambiente (pes- soas, objetos e materiais). As experiências nesse am- biente serão internalizadas pelo sujeito, por meio das trocas sociais. 6) Maturação neurofisiológica: amadurecimento do aparato neurológico que nos dá condição de execu- tar determinados comportamentos e ações, tais como aprender a falar. Escrever também pode ser um exem- plo, pois, para segurar um lápis, é preciso um desen- volvimento neurológico que a criança muito pequena não tem. 7) Meio: é o espaço de estímulos que modificam o com- portamento das pessoas. Isso pode ser analisado quando observarmos crianças que possuem contextos familiares diversos. Pense em uma criança com muito estímulo verbal, e em outra com a qual a família pou- co conversa. Essas crianças irão apresentar diferentes tempos de desenvolvimento da fala. 8) Zona de desenvolvimento proximal: distância entre o nível de desenvolvimento real (aquilo que consegue fazer sozinho) e o desenvolvimento potencial (aquilo que consegue fazer com ajuda). Trata-se do intervalo em que está acontecendo a aprendizagem, no qual o professor ou parceiro mais experiente deve atuar para promover aprendizagem. 32 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO Esquema dos Conceitos-chave Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Esquema dos Conceitos-chave de Psicologia da Educação. O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse exercí- cio é uma forma de você construir o seu conhecimento, ressig- nificando as informações a partir de suas próprias percepções. É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações entre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteú- dos de ensino. Com base na teoria de aprendizagem significativa, enten- de-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pedagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem. Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem escolar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pes- quisas em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que estabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do alu- no. Assim, novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem pontos de ancoragem. 33© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape- nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci- so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configu- re como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante considerar as entradas de conhecimento e organizar bem os ma- teriais de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos conceitos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes es- truturas cognitivas, outros serão também relembrados. Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você o principal agente da construção do próprio conhecimen- to, por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tornar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabelecendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs. br/edutools/mapasconceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010). 34 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave de Psicologia da Educação. Como pode observar, esse Esquema oferece a você, como dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im- portantes deste estudo. Ao segui-lo, será possível transitar entre os principais conceitos desta obra e descobrir o caminho para construir o seu processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, o desenvolvimento humano e a aprendizagem são tratados nas diferentes teorias apresentadas, com destaque às teorias cons- trutivista e socioconstrutivista. Cada teoria constrói caminhos para explicar os processos de desenvolvimento e aprendizagem, que dependem de aspectos diferentes que influenciam a apren- dizagem (autoestima, autoconceito, motivação, autoeficácia e habilidades sociais). 35© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no am- biente virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realizadas presencialmente no polo. Lembre-se de que você, alu- no EaD, deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio conhecimento. Questões Autoavaliativas No final de cada unidade, você encontrará algumas ques- tões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas. Responder, discutir e comentar essas questões, bem como relacioná-las com a prática do ensino de Psicologia da Educação pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tra- tado, você estará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional. As questões de múltipla escolha são as que têm como resposta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determina- da, inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por resposta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso, normalmente, não há nada relacionado a elas no item Ga- barito. Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma. 36 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO Bibliografia Básica É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as apre- sentadas no item Orientações para o estudo da unidade. Figuras (ilustrações, quadros...) Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte in- tegrante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilus- trativas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os conteúdos da obra, pois relacionar aquiloque está no campo vi- sual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual. Dicas (motivacionais) O estudo desta obra convida você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo de emancipação do ser hu- mano. É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunica- ção, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprenden- do a ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Obser- var é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade. Você, como aluno dos cursos de Graduação na modalidade EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri- mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas. 37© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas po- derão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de pro- duções científicas. Leia os livros da bibliografia indicada, para que você am- plie seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas. No final de cada unidade, você encontrará algumas ques- tões autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadurecimento intelectual. Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procuran- do sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores. Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a este estudo, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você. 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOCK, A. M. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2002. DAVIS, C. Piaget ou Vygotsky: uma falsa questão. Revista Viver: Mente e Cérebro, Coleção Memória da Pedagogia, São Paulo, Segmento-Duetto, n. 2, p. 38, 2005. SABINO, F. Chaves da vaguidão. In: A falta que ela me faz. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 1980. © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO 39 UNIDADE 1 PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA PSICOLOGIA: DIFERENTES ESCOLAS Prof.ª Ma. Keiko Maly Garcia D’Avila Bacarji 1. OBJETIVOS • Reconhecer as diferenças entre os conhecimentos do senso comum e da Psicologia Científica. • Conhecer as doutrinas que contribuíram para a construção da Psicologia Moderna. • Relacionar os diversos pensamentos teóricos aos contextos da época. • Relacionar a Psicologia Moderna às bases para a Educação contemporânea. 2. CONTEÚDOS • Senso comum e Psicologia Científica. • Estruturalismo. • Funcionalismo. • Associacionismo. 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orien- tações a seguir: 1) Você já ouviu aquele ditado popular: "De médico e de louco todo mundo tem um pouco?". Poderíamos estender esse ditado para outras áreas, in- cluindo a Psicologia. Reflita sobre a seguinte situação: você já entrou em 40 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UNIDADE 1 – PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA PSICOLOGIA: DIFERENTES ESCOLAS uma loja para saber somente o valor de um objeto, e, quando menos espe- rava, o vendedor conseguiu vender-lhe o tal objeto? Então, você comenta sobre o poder de persuasão do vendedor. E aquele amigo que o procura para conversar sobre conflitos pessoais e diz que você "tem psicologia" para escutá-lo, o que acha? Para você, essa é uma Psicologia Científica? Por quê? 2) Você já observou que, nesta realidade, tudo flui, o cotidiano acontece, você e eu nos sentimos vivos, posicionados no mundo? Neste exato mo- mento, estou digitando este texto, lendo livros de Psicologia, pesquisan- do na internet, trazendo conteúdos já estudados de volta à mente num processo de recordação, atendendo ao telefone e lembrando-me de um compromisso. Tudo isso comprova que estamos vivos. 3) Vamos lembrar-nos de alguns fatos do dia a dia que mostram o conheci- mento científico e o senso comum aproximados: a cozinheira, ao cozinhar o feijão, usa a panela de pressão, pois ela sabe, intuitivamente, o tempo que levará para o feijão estar no ponto. No entanto, ela desconhece as leis da Física que estão envolvidas no cálculo da pressão interna da panela. Outro exemplo ocorre quando alguém em casa reclama de indigestão, e a dona de casa faz um chá de louro ou de boldo, conhecimento este já usa- do na época das nossas avós; entretanto, não há nenhum conhecimento farmacológico ou do princípio ativo das folhas para combater a indigestão. No futebol, a própria bola, tão disputada pelas crianças e pelos jovens em um jogo na escola ou no bairro, para ser conduzida requer conhecimentos científicos de Física relativos a pesos e medidas, os quais esses jogadores nem imaginam que existam. Muitos outros exemplos você deve ter em mente sobre o conhecimento científico e o senso comum. 4) Se todos os homens possuem um senso comum, como ficam as diferentes sociedades, os grupos sociais, ou mesmo as diferenças entre um grupo profissional e outro? 5) Com relação ao senso comum, o que você pensa sobre esse conhecimento depois do que estudou até aqui? Qual é a importância dele e quais críticas você pode fazer? 6) Reflita sobre a seguinte informação: A maioria dos povos antigos – egípcios, chineses, hindus, me- sopotâmios e mesmo os gregos – já possuía, desde a Idade da Pedra, um enorme cabedal de conhecimentos práticos e úteis, 41© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UNIDADE 1 – PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA PSICOLOGIA: DIFERENTES ESCOLAS adquiridos empiricamente por meio de observações razoavel- mente acuradas. Na Grécia, porém, as especulações iniciadas pelos filósofos pré-socráticos a partir do século 6º constituíram o primeiro marco em direção ao pensamento científico moderno... Para saber mais, consulte o trabalho de Ribeiro Jr., disponível em: <http:// greciantiga.org/arquivo.asp?num=0721>. Acesso em: 11 abr. 2012. 7) No término de seu curso, será necessário desenvolver um trabalho cientí- fico. Certamente, você buscará um tema em sua área (do cotidiano!), ou seja, algum fenômeno importante para você que possa ser transformado em objeto de investigação. Esse estudo vai requerer objetividade, método e rigor científico. É, portanto, a esse resultado que a ciência aspira. 8) Reflita sobre o pensamento de nosso grande escritor João Guimarães Rosa quando ele se refere à condição humana: Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pes- soas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. ...Cada dia é um dia... "Vida" é noção que a gente completa seguida assim, mas só por lei duma ideia falsa. Cada dia é um dia... (Disponível em: <http://www.vidas- lusofonas.pt/joao_guimaraes_rosa.htm>. Acesso em: 11 abr. 2012). 9) Para melhor compreender a história da Psicologia, imagine-se voltando no tempo e vivendo toda a movimentação cultural e social do final do século 18 e início do século 19. Você já havia pensado na importância de se colocar naquela época como espectador da história? O que a história significa para você? 10) Antes de iniciar os estudos desta unidade, pode ser interessante conhecer um pouco da biografia de René Descartes. Para saber mais, acesse o site indicado. René Descartes (1596-1650) Filósofo e matemático, nasceu em La Haye, conhecida, desde 1802, por "La Haye-Descartes", na Touraine, cerca de 300 quilômetros a sudoestede Paris, em 31 de março de 1596, e veio a falecer em Estocolmo, Suécia, a 11 de fevereiro de 1650. Pertenceu a uma família de posses, dedicada ao comércio, ao direito e à medicina. O pai, Joachim Descartes, advogado e 42 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UNIDADE 1 – PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA PSICOLOGIA: DIFERENTES ESCOLAS juiz, possuía terras e o título de escudeiro, primeiro grau de nobreza, e era Conselheiro no Parlamento de Rennes, na vizinha província da Bretanha, que constitui o extremo noroeste da França. [...] Descartes com um ano de idade perdeu a mãe, Jeanne Brochard, por complicações de seu terceiro parto. Descartes foi criado pela avó e por uma babá... Seu pai casou novamente, mas não se distanciou... Aos oito anos, em 1604, Descartes foi matriculado no colégio Real de La Fleche, em Anjou, aberto pelos jesuítas poucos meses antes, em janeiro daquele mesmo ano, com dotação de Henrique IV. Ele foi recomendado ao padre Charlet, um intelectual reconhecido, parente dos Descartes, e que logo se- ria o reitor. Descartes, cujas relações familiares seriam um tanto frouxas, mais tarde a ele se refere como "um segundo pai" (Adaptado de texto dis- ponível em: <http://www.cobra.pages.nom.br/fmp-descartes.html>. Acesso em: 11 abr. 2012). 11) Pesquise na internet sobre o caso Phineas Gage ou, se preferir, veja o site disponível em: <http://www.cerebromente.org.br/n02/historia/ phineas_p.htm>. Acesso em: 12 abr. 2012. 12) O que você acha de uma sociedade que passa a utilizar-se de testes para selecionar os mais aptos para determinadas funções? Como ficam aqueles indivíduos que não são classificados nos testes? 13) Você imagina que unidades elementares seriam essas? Será que esse pri- meiro momento da Psicologia contribuiu para os conhecimentos que te- mos atualmente em termos de ensino e aprendizagem? 14) Depois de conhecer o início dos estudos da Psicologia, reflita sobre as po- sições de Titchener em relação ao papel da mulher em seu meio: como você vê essa parte da história? 15) Veja mais informações sobre John Dewey no site disponível em: <http:// www.curriculosemfronteiras.org/classicos/teiapple.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2012. 16) Para aprimorar seus conhecimentos, veja os significados das seguintes expressões: a) "Classificando e selecionando": refere-se às escalas de classificação e testes em busca de indivíduos mais habilitados para as diversas fun- ções (SCHULTZ; SCHULTZ, 2006). 43© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UNIDADE 1 – PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA PSICOLOGIA: DIFERENTES ESCOLAS b) Escola Nova: movimento de importante repercussão na Europa, na América e no Brasil, foi criada por John Dewey (1859-1952) em mea- dos do século 20. A Educação, na concepção desse pesquisador, é uma necessidade social, e essa necessidade deve levar à busca de melhor aperfeiçoamento das pessoas, com o objetivo de darem continuidade aos seus ideais. Assim, para esse pensador e filósofo, a educação deve seguir como direção a reconstrução permanente das experiências de vida e da própria aprendizagem. A função da educação é de democra- tizar as oportunidades, e isso implica a necessidade de uma sociedade democrática. 17) A Escola Nova tinha como princípio norteador a valorização do indivíduo como ser livre, ativo e social. A ideia de que o ensino deveria ser guiado pelo interesse do aluno levou a não considerar a necessidade de planeja- mento e, consequentemente, perderam-se os objetivos do que teria de ser ensinado/aprendido (PEREIRA, 2003). Para conhecer mais, pesquise na internet mais informações sobre a Escola Nova e John Dewey. a) Liberdade de ensino: compreendia a corrente na qual os professores poderiam se dedicar aos temas de seus interesses e sem receio da cen- sura. Os alunos tinham a liberdade para transitar entre universidades, e, além disso, para obter um diploma, precisavam ser aprovados em exames especiais e defender uma tese. Assim, não havia necessidade de cumprir determinado currículo (GOODWIN, 2005). b) Observação mecanizada: é o estado no qual o indivíduo deveria ape- nas observar o fato em si, em termos de descrições detalhadas dos fenômenos mentais (sensoriais, perceptuais e cognitivos) produzidos pelo sistema nervoso. c) Pragmatismo, do grego prágma, prágmatos, negócio, acção; doutrina filosófica que adota como critério da verdade a utilidade prática, iden- tificando como verdadeiro aquilo que é útil. Disponível em: <http:// www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx>. Acesso em: 12 abr. 2012. © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO 45© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UNIDADE 1 – PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA PSICOLOGIA: DIFERENTES ESCOLAS 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Conhecer a história ajuda-nos a evitar os erros do passado e a prever o futuro, mas seu maior valor está em permitir-nos com- preender o presente. Contribui também para que nos imunize- mos contra a crença de que o presente tem problemas insupe- ráveis, em relação ao passado. Cada era tem seus problemas. O conhecimento da história coloca os fatos da atualidade numa perspectiva melhor (James Goodwin). Estamos juntos para iniciar um novo estudo, desta vez so- bre a Psicologia da Educação, dando continuidade aos conteú- dos referentes à sua licenciatura. Devemos ressaltar o saber do cotidiano e o saber cientí- fico para compreender melhor a Psicologia, os quais são co- nhecimentos pertencentes ao nosso dia a dia e sobre os quais não paramos para pensar. No entanto, investigadores científicos preocupam-se com essas questões. Intermediados pelas diferentes linguagens, podemos notar que, constantemente, usamos o termo "psicologia" em nosso co- tidiano diante de várias situações. Nesse sentido, talvez pudéssemos expressar que os limi- tes entre essa "psicologia" e a Psicologia Científica não diferem muito daqueles que separam a linguagem natural das linguagens formais. Pela lógica, só podemos formalizar a linguagem recorrendo a ela. Assim, buscar dados nessa linguagem comum que possam ser comprovadamente formalizados pressupõe uma prosa ante- rior, ou seja, nossa própria linguagem de todos os dias. Por que pensar em linguagem ao estudar Psicologia? 46 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UNIDADE 1 – PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA PSICOLOGIA: DIFERENTES ESCOLAS A Psicologia tem como seu objeto de estudo a mente, requerendo uma investigação mais cuidadosa da linguagem empregada. Uma vez que convivemos em determinada cultura, passa- mos a utilizar, em nossa vida diária, expressões e termos intuiti- vos para explicar, descrever ou prever as atitudes ou o compor- tamento das pessoas em geral. Com isso, queremos dizer que, de alguma forma, as pes- soas, em geral, têm um domínio (mesmo que pequeno) do conhecimento da Psicologia Científica, o que lhes dá a condi- ção de explicar muitos dos problemas cotidianos sob o prisma psicológico. Atualmente, tem sido grande a discussão no campo cien- tífico sobre o que chamamos de senso comum, isto é, o saber cotidiano. Vejamos, a ciência busca nesse cotidiano, no senso co- mum, o material para reflexão. Ela busca, então, compreender, descobrir e alterar os fenômenos que ocorrem no cotidiano por meio da sistematização dos dados, isto é, mediante um estudo sistemático. Assim, podemos afirmar que toda ciência não é nada mais que um refinamento sistematizado do senso comum. Imagine os acontecimentos que ocorrem no dia a dia: para que esses dados possam ser estudados, a ciência precisa se afas- tar desses dados reais, e abstrair essa realidade para compreen- dê-la melhor. Explicando melhor, a ciência, ao afastar-se da realidade, trans- forma-a em objeto de investigação. Dessa forma, é possível cons- truir o conhecimento científico sobre o real – sobre o senso comum. 47© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UNIDADE 1 – PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA PSICOLOGIA: DIFERENTES ESCOLAS Para nos aprofundarmos melhor na discussão dessas ques- tões, veremos neste estudo, inicialmente, o senso comum e a Psicologia Científica. Você irá conhecer as principais característi-cas do senso comum, e o conceito de conhecimento científico. É importante que você busque sempre o conhecimento científico para que possa aperfeiçoar seu conhecimento profissional. Pro- cure não alimentar conceitos e valores construídos pelo senso comum, que circulam pelo universo educacional, na abordagem dos problemas educacionais brasileiros, mas busque superá-los, a fim de atingir o conhecimento científico. Posteriormente, você conhecerá um pouco da história da Psicologia, e como as diversas linhas de pesquisa foram consti- tuindo-se e como vem desenvolvendo-se o pensamento psico- lógico ao longo dos tempos. Ao final desta unidade, esperamos que você tenha clareza dos diversos aspectos que compõem a busca do conhecimento sobre a aprendizagem humana e sua evolução. 5. SENSO COMUM E PSICOLOGIA CIENTÍFICA O senso comum, isto é, todo o conhecimento acumulado pela cultura, baseia-se, muitas vezes, na tentativa e no erro, sen- do espontâneo e adquirido quase sem se dar conta. No entanto, é um saber fundamental, uma vez que sem o senso comum não conseguiríamos nos orientar em nossa vida cotidiana. De acordo com Costa (2012) e Francelin (2012), as princi- pais características do senso comum são: 1) Cunho empírico: origina-se da experiência humana diretamente. 48 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UNIDADE 1 – PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA PSICOLOGIA: DIFERENTES ESCOLAS 2) Cunho acrítico: é um conhecimento passivo, no qual o indivíduo não se questiona sobre os dados obtidos na experiência, não se preocupando com possíveis erros. 3) Cunho assistemático: o conhecimento adquirido na experiência não segue uma sistematização, um rigor como no conhecimento científico. 4) Cunho imetódico: não tem método, não tem regras formais, não tem técnicas. 5) Cunho ilusório: conhecimento que aceita, passiva- mente, apenas as aparências, sem questioná-las. 6) Cunho coletivo: é um saber partilhado pelos membros de uma comunidade, de acordo com seus valores e crenças (saber do senso comum). 7) Cunho subjetivo: o senso comum é subjetivo, de for- ma que cada indivíduo vê o mundo pelo seu viés, à sua maneira. 8) Cunho superficial: não aprofunda esse conhecimento da realidade; aceita-o apenas. 9) Cunho particular: o senso comum não é um saber universal, que pode ser aplicado em outras partes do mundo ou que pode ser replicado, pois cada cultura tem suas próprias crenças, seus mitos e suas regras. O senso comum é indispensável a qualquer sociedade, pois ele assegura a coesão necessária à vida coletiva. Poderíamos di- zer que ele exerce uma equilibração, essencial a toda sociedade. Até agora, você estudou sobre o senso comum; então, em algum momento, você já se questionou sobre qual foi a ne- cessidade de o homem desenvolver o conhecimento científico? Quando começou? Por quê? 49© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UNIDADE 1 – PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA PSICOLOGIA: DIFERENTES ESCOLAS O conhecimento científico surgiu da necessidade de o ser humano querer saber como as coisas funcionam, em vez de apenas aceitá-las passivamente. Por meio desse tipo de conhe- cimento, o homem, ao seguir suas observações, passou a com- preender a natureza e poder intervir cada vez mais nos aconteci- mentos ao seu redor. Ao fazer um retrocesso no tempo, verificamos que o ho- mem das cavernas deixou marcas de seu conhecimento nas pa- redes, quando desenhou a si mesmo e a figura da caça, demons- trando emoção, graça e sensibilidade. Esse primeiro movimento do homem deu início a uma das grandes áreas de conhecimento humano: a Arte. Assim, é por meio da Arte que o homem pode expressar seus sentimentos, sua vida. Na maioria das vezes, a Arte expressa-se no absoluto si- lêncio e provoca diversas emoções no espectador, como alegria, regozijo, amor, tristeza, medo, ansiedade etc., as quais nos mos- tram que o estado emocional está ligado à nossa frágil condição humana. Posteriormente, os gregos passaram a preocupar-se com o significado da existência humana, surgindo, com base nesses questionamentos, a Filosofia. Em conjunto, os homens também se perguntavam sobre a origem da vida, seus mistérios, a sua finitude, de forma que viram a necessidade de desenvolver valores e princípios morais; desse modo, surgiu a Religião. Temos, assim, cinco grandes domínios do conhecimen- to humano: a Arte, a Filosofia, a Religião, o senso comum e a Ciência. 50 © PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UNIDADE 1 – PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA PSICOLOGIA: DIFERENTES ESCOLAS O senso comum e a Ciência caminham muito próximos. Para fazer Ciência, é necessário basearmo-nos na realidade coti- diana. Nesse ponto, a Ciência aproxima-se do cotidiano e afasta- -se dessa realidade, transformando-a em objeto de investigação. A Ciência avança por meio de negações, reafirmações e descobertas de novos aspectos, caracterizando-se como um pro- cesso inacabado, uma vez que está em constante construção. As conclusões a que ela chega devem ser passíveis de veri- ficação e isentas de emoção. Assim, é necessário haver um obje- to específico, uma linguagem com rigor científico, bem como se- guir métodos e técnicas específicas. Nesse processo, o conteúdo é cumulativo e deve ter objetividade. Para que possamos pensar em Psicologia Científica, preci- samos entender que a Ciência é esse conjunto de conhecimentos coordenados ou sistematizados sobre determinados fenômenos ou aspectos da realidade. Para isso, torna-se necessário utilizar uma linguagem formal. A Ciência não aceita pensamento mágico, mas o senso co- mum agarra-se a ele. Coloca-se em questão a importância tanto de um quanto de outro, pois ambos buscam a compreensão do mundo para melhorar a sobrevivência (ALVES, 1993). O pensamento mágico é caracterizado pela falta do pen- samento crítico, uma vez que as pessoas acreditam naquilo que deduzem, sem levar em conta os fatos reais, a lógica, a Ciência, a crítica. Um exemplo de pensamento mágico são as supersti- ções e as crenças populares, como, por exemplo, a crença de que "passar embaixo de escada dá azar". Na Psicologia, temos como objeto de estudo a subjetivida- de humana, isto é, a subjetividade de cada pessoa, construída 51© PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO UNIDADE 1 – PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA PSICOLOGIA: DIFERENTES ESCOLAS ao longo de seu desenvolvimento, o que implica sua maneira de pensar, de sentir e de fazer no entorno em que está inserida. A Ciência busca experimentar, o que oferece vantagens, pois permite a verificação precisa. Dessa forma, vejamos o que Alves (1993, p. 94) exemplifica sobre um experimento realizado no início da Psicologia Behaviorista ou Comportamental, a qual será um dos assuntos da próxima unidade: Experimento de Pavlov ––––––––––––––––––––––––––––– O cientista russo Ivan Petrovitch Pavlov (1849-1936) resolveu testar suas hi- póteses em laboratório. A isto denominamos experimentação. Na experimenta- ção, o pesquisador, ao invés de ficar esperando que as coisas aconteçam, faz que elas aconteçam quantas vezes quiser, quando quiser e sob as condições que desejar. Ele ligou um tubo às glândulas salivares de um cão e verificou, como era de se esperar, que o cão produzia saliva diante da visão da carne. Aí ele associou à carne o barulho de um sino. Depois de algumas repetições, bastava que se batesse o sino para que o cachorro produzisse a saliva. Dessa forma, o cientista pode medir a distância, em tempo, em que o barulho do sino deve estar da carne, tempo esse que ele chamou de "permanência do reflexo salivatório". –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– À medida que vivenciamos as experiências, vamos cons- truindo nosso mundo interior. É como se passássemos o mundo exterior para o nosso mundo interior. Os fenômenos que ocorrem no cotidiano vão sendo inter- pretados de acordo com o olhar de cada um, ou seja, cada um lhes atribui um sentido. Então, passamos a ser individuais na ma- neira de ser; há uma singularidade que nos diferencia uns dos outros. Da mesma forma
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