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Doença Hemolítica Perinatal (DHPN) Definição - Conhecida popularmente como Eritroblastose fetal - É uma doença imunológica decorrente da incompatibilidade sanguínea materno- fetal - Cursa com hemólise do sangue fetal - O feto desenvolve anemia hemolítica (sangue fica cheio de eritroblastos) e múltiplos focos de eritropoese extramedular (fígado, baço, rim, suprarrenal, pulmão) em resposta à anemia e falta de oxigênio Introdução - Hoje existem várias causas de gravidez de risco. Entretanto, antigamente eram apenas cardiopatia, HAS, DM e a Doença hemolítica perinatal • Cardiopatia, HAS e DM —> comprometem o binômio mãe-feto • Doença hemolítica perinatal —> compromete apenas o feto! Formas Clínicas 1. Anêmica (mais frequente) 2. Ictérica 3. Hidrópica (mais grave; causa óbito intraútero) Etiologia - Causas: • 98% dos casos de DHPN são causados por incompatibilidade dos sistemas ABO ou Rh: • 2/3 por incompatibilidade ABO (menor gravidade) • 1/3 por incompatibilidade Rh (mais grave) • 2% são causados por antígenos irregulares e infrequentes (presentes no feto e na mãe) - Sistema Rh: • É um sistema complexo de antígenos • Existem mais de 50 antígenos e os mais importantes são os Cc, Dd, Ee (situados no braço curto do cromossomo 1) • O antígeno de maior potencial é o D —> se tiver o D é Rh + e se não tiver o D é Rh –: • Quando não existe o D (Rh -), deve ser investigado se há um D fraco (Fator DU): • O D fraco tem a hemácia revestida pelos antígenos e tem os respectivos epítopos do D, porém em menor quantidade • Na prática: Rh negativo + D fraco = Rh + • D Parcial: • Possui epítopos diferentes do D, possuindo os epítopos do D apenas parcialmente • Na prática: Rh negativo + D parcial = Rh - - D Fraco (Fator Du): • É uma variante quantitativa do antígeno D • Nesses pacientes D fraco, o antígeno é envolto por epítopos refentes ao D, só que em quantidade menor do que o normal • Menor número de sítios antigênicos por células • Reação variável com anti-soros comerciais • Melhor reação com antiglobulina humana • Tipos: alto e baixo grau • Usado somente para casos de Rh negativo • Rh negativo + D fraco presente → Rh + (apenas 1% das Rh – têm D fraco) • Rh negativo + D fraco ausente → confirma a negatividade (Rh –) - D Parcial: • Variante que apresenta epítopos diferentes do D • Gestantes D parcial devem ser considerados como Rh NEGATIVO —> pode ocorrer um processo imunização - Rh Nulo: • Não apresenta nenhum epitopo • 1 pessoa em 100 mil Etiopatogenia - Ocorre por incompatibilidade sanguínea materno fetal: • Mãe (Rh negativo) <—> Feto (Rh positivo) • Mãe (tipo O) < —> Feto (tipo A, B ou AB) - Para ocorre a Mãe Rh negativo deve ter entrado em contato com algum sangue Rh positivo (iso/aloimunização) - Isso pode ocorrer nos seguintes casos: • Gestação com filho Rh + anterior • Transfusão de sangue incompatível • Usuárias de drogas injetáveis – mínima quantidade de sangue já leva • iso/aloimunização Fisiopatologia - Para que haja a sensibilização é necessário que ocorram 4 passos: • 1º Passo - Incompatibilidade Sanguínea: • Pode ocorrer por: • Incompatibilidade materno-fetal (mãe Rh – e pai transmite o Rh + para a criança) • Transfusão incompatível • Uso de drogas injetáveis, etc • 2º Passo - Alo/Isoimunização: • Ocorre a formação dos anticorpos contra o Rh positivo (fase necessária para que ocorra DHPN, já que nem toda incompatibilidade sanguínea causa isoimunização) • Normalmente acontece durante a dequitação da placenta (3ª fase do trabalho de parto), quando ha grande quantidade de transfusão feto-materna • Na dequitação ocorre passagem de cerca de 30ml de sangue do feto para a mãe, há contato do Rh+ com células imunológicas e ocorre formação de memória imunológica (IgM e posteriormente IgG) • Ou seja, na 1ª gestação (ou outro contato com Rh+ que ocorra isoimunização) ocorre apenas a formação da memória • Na 2ª gestação, os anticorpos da memória imunológica passam para a circulação fetal, que passam a destruir as hemácias fetais (hemólise), desenvolvendo a doença • 3º Passo - Passagem dos anticorpos (IgG) da mãe para o feto Rh positivo: • Como já comentado, ocorre na primeira gestação, após a isoimunização • 4º Passo - Ação dos anticorpos no organismo fetal • A memória imunolígica ocorre por conta das imunoglobulinas IgM (como IgG não ultrapassam a barreira placentária, não ocorre na 1ª gravidez) • Em uma segunda gestação de um feto novamente Rh+, rapidamente formam-se os anticorpos IgG, já que já existe uma memória imunológica -> destroem as hemácias fetais • Quando a incompatibilidade é do sistema ABO (e não do sistema Rh) pode haver rejeição já na 1ª gravidez (Porém, o problema é menos grave que no Sistema Rh, por isso não se dá tanta importância) Quadro Clínico - Todo quadro clínico decorre de HEMÓLISE FETAL - O ponto inicial é sempre a anemia, que pode variar de leve a grave (evolui para hidropsia fetal) - A icterícia ocorre logo após o nascimento - Forma Anêmica: • É a forma mais frequente da doença hemolítica (Tanto intra-útero como no RN) • A hemólise, com o passar do tempo, faz macrocitose (anemia macrocítica não- megaloblástica) • Cursa com focos de eritropoiese extra-medular (fígado, baço, rim, suprarrenal, pulmão) - Forma Ictérica: • Não ocorre dentro do útero, porque o excesso de bilirrubina indireta do feto (produzida pela hemólise) passa a placenta e é conjugada pelo fígado materno (não acumula no feto) • Parte dessa bilirubina passa para o liquido amniótico e tinge ele de amarelo • Após o nascimento e laqueadura do cordão, o fígado do RN começa a tentar conjugar a bilirrubina (icterícia hemolítica) • Os focos de eritropoese extra-medular vão comprometendo a arquitetura e a função hepáticas, gerando a icterícia hepato-celular e podendo causar kernicterus (depósito de bilirrubina nos núcleos da base do cérebro do RN —> epilepsia, sonolencia, convulsões, surdez, paralisia cerebral) • É pior ainda no prematuro, que não apresenta enzimas adequadas para conjugar a bilirrubina - Forma Hidrópica: • É aforma mais grave • A hemólise causa lesões vasculares, anemia e focos de Eritropoese extramedular • Por conta da anemia, o sangue fica menos viscoso • Para tentar compensar a anemia, há taquicardia e aumento do débito cardíaco, que evolui para cardiomegalia e ICC • Os focos de eritropoese extra-medular comprometem as funções hepáticas, levando à hipoproteinemia • Também ocorre aumento da pressão portal, aumento da pressão na veia umbilical e diminuição da pressão oncótica • Tudo isso culmina em edema generalizado, ascite, derrame pleural e derrame pericárdico (mais comum que o pleural) • Pode ocorrer intrautero aproximadamente a partir de 20 semanas —> pode fazer óbito intraútero ou, se nascer, chance de morte neonatal • É uma importante causa de polidrâmnio • Existe também placentomegalia com produção excessiva de líquido amniótico. A relação feto/placenta pode chegar a 3/1 (normal é 6/1) Diagnóstico - Clínico: • Discordância de sangue do casal (na primeira bateria de exames do pre-natal) • Antecedentes de RN anêmico, ictéricos ou hidrópicos - Laboratorial: • Esfregaço mostrando eritroblastos no sangue periférico • Teste de Coombs indireto na MÃE: • Identificação da presença de aglutinação quando o sangue entra em contato com soro Rh + • Detecta anticorpos contra hemácias, os quais estão presentes livres no plasma sanguíneo • Quando da positivo é preciso fazer titulação: Título de significância: ≥ 1:16 para excluir reação cruzada • Teste de Coombs direto na CRIANÇA: • Detecta anticorpos ligados na superfície das hemácias • Feito no sangue do RN ou do feto pela cordocentese • Espectrofotometria de líquido amniótico: • É feita punção do líquido amniótico na bolsa amniótica, coleta-se o LA e determina-se a concentração de bilirrubina dentro do líquido amniótico• Quando fazer? • Se sem antecedentes: 32 semanas • Se antecedentes de anemia e icterícia: 28 semanas • Se antecedentes de natimorfo hidrópico: 24 semanas • Cordocentese: • Possibilita a tipagem sanguínea do feto, dosagem de hemoglobina, dosagem do hematócrito, dosagem da bilirrubina, Coombs direto • Feito somente por especialistas • Deve ser feito sob anestesia fetal para que a veia umbilical seja puncionada (tem risco de rasgar, causando hemorragia e possível morte por choque) • O feto deve estar sedado, pois ele pode se mexer e é perigos • É o mesmo procedimento que é usado para transfusão intravascular. • Ecografia e raio x: • Verifica atitude ou posição fetal, macrossomia, hepatoesplenomegalia, placentomegalia, ascite, hidrotórax, polidramnio • Cardiotocografia: • Feto anêmico apresenta uma frequência cardíaca que não se modifica, mesmo com a movimentação do feto ou estímulo sonoro (padrão ondulatório ou sinusóide – mais achatado) • Perfil biofísico fetal: • Avalia tônus, movimentação fetal, movimentos respiratórios, volume de LA • Dopplerfluxometria: • Exame não invasivo • É o mais utilizado para fazer o diagnostico de anemia. Avaliação da Anemia Fetal - Tripé: • Amniocentese • Cordocentese • Doppler - Amniocentese: • É realizada a a espectrofotometria do LA • Classificada de acordo com o Gráfico de Liley (Densidade da bilirrubina X comprimento de onda): • Em Azul: prognostico e conduta (de acordo com a IG) • Em Amarelo: diferença de densidade óptica; determina o grau de bilirrubina concentrada na cavidade amniótica. • Faixa 3: anemia grave; Faixa 2: anemia moderada; Faixa 1: anemia leve. • Epidemiologia: • Anemia leve (50% - mais comum), • Anemia moderada (35%) • Anemia grave (15%). • Em uma gestação normal não há linha amarela, ou seja, a relação entre densidade e comprimento de onda é ZERO (não tem bilirrubina no LA) - Cordocentese: • Dependendo dos antecedentes da gestante ela é indicada a cordocentese • Geralmente feita na 20ª semana e avalia o sangue fetal.Medicina • Permite dividir os pacientes em 5 grupos • Grupo I: • Criança Rh negativo —> parto a termo sem problema • Grupo II: • Criança Rh+ mas com Coombs direto (TCD) negativo —> as hemácias fetais não entraram em contato com anticorpos maternos • Acompanhamento com cordocentese a cada 4 semanas —> parto seguiu a termo • Grupo III: • Criança Rh + e Coombs direto + (hemácias fetais estavam afetadas) • Avaliar anemia e se hematócrito >30% • Acompanhar com cordocentese a cada 3 semanas • Interrupção do parto na 38ª semana • Grupo IV: • Criança Rh +, TCD + e Ht <30% (Hb deve estar 8-9g/Dl) • Indicação de TRANSFUSÃO INTRA-ÚTERO INTRAVASCULAR a cada 2 semanas —> tem que fazer o acompanhamento do perfil biofísico fetal pra avaliar vitalidade fetal • Interrupção do parto com 34-36 semanas • Grupo V: • Criança Rh +, TCD + e Feto hidrópico (confirmação pelo USG) – geralmente apresenta valores muito baixos de Hb e Ht • Indicação de TRANSFUSÃO INTRA-ÚTERO INTRAVASCULAR 1 VEZ POR SEMANA acompanhando o perfil biofísico fetal • Interrupção do parto em 32-34 semanas - Doppler: • Realizado preferencialmente na artéria cerebral média (ACM) • Verifica a pulsatilidade da artéria, o que determina a velocidade de passagem do sangue • Quanto mais rápido ele passa, maior a fluidez (pior a anemia) • Mede-se a velocidade com que o sangue atinge o pico sistólico: • Se ACM > 1,5 do Múltiplo da mediana da IG = anemia (de acordo com a Idade Gestacional -> ja que à medida em que se aumenta a IG, ocorre aumento da velocidade do sangue). • Quando mais acima do múltiplo da mediana, mais grave é a anemia Conduta - Se anemia leve: • Controle com: • Perfil biofisico fetal de 2/2 semanas • Doppler da ACM • Cardiotocografia > 28 semanas • Corticoide entre 24 e 34 semanas com BETAMETASONA • Parto entre 37 e 39 semanas - Se anemia moderada: • Controle com: • Perfil biofisico semanal • Doppler da ACM semanal • Cardiotocografia > 28 sem • Corticoide entre 24 e 34 semanas com BETAMETASONA • Parto entre 34 e 37 semanas - Se anemia grave: • Se acima de 32 sem: • interrupção da gestação • Se abaixo de 32 sem: • Transfusão intrautero • Perfil biofisico fetal 2X/semana: • Doppler de ACM • Espectografia /cordocentese • Cardiotocografia > 28 semanas • Corticoide entre 24 e 32 semanas • Após o parto: exosanguineo-transfusão do RN Profilaxia - IgG Anti-Rh (D): • É uma imunoglobulina humana anti-Rh que deve ser administrada durante a gravidez ou após o parto (mais indicado) – chamada de MATERGAN (300mcg). • Deve ser feita em até 72 horas (tempo necessário para imunização) após qualquer sangramento PLACENTÁRIO durante a gestação, incluindo: • Abortamento: • O fator Rh já está presente na hemácia a partir da 5a semana • Se a gestante tem um aborto, sobretudo o provocado, pode levar a uma sensibilização. • Deve ser feito a vacina até 72 horas após o abortamento e isso impede a formação dos anticorpos ativos. • Deve ser utilizado em gestante acima de 35 semanas de gestação, que sejam Rh – e que tenham um pai Rh + • Gravidez Ectópica • Neoplasia Trofoblástica Gestacional • Amniocentese: • Ex: biopsia de vilo corial -> nao deve ser feita em pacientes Rh -. • Quando perfura a placenta e não foi percebido que o mãe era Rh -, deve ser feito a vacina em até 72 horas • Placenta Prévia: • Deve ser aplicado em até 72 horas após a placenta previa • 28 semanas: • A partir desse período, aumenta a presença de hemácias fetais na circulação da mãe • Então deve ser feita em toda gestante Rh – que ainda não esteja sensibilizada a partir de 28 semanas. - Medidas Durante a Gestação: • Mães Rh negativo devem evitar atividade de impacto que possa produzir microlesões placentárias (podem causar microtransfusões maternas) • Qualquer caso de sangramento (>0,1 ml de sangue fetal na circulação materna) durante a gravidez há indicação de vacina • 28ª Semana (protocolo): toda mãe Rh – (que tem pai Rh +) não sensibilizada (Coombs -) deve receber a vacina • Passagem de sangue ocorre mais facilmente após a 28a semana até o termo, essa vacinação dá uma cobertura teórica de até 12 semanas. - Medidas Durante o Parto: • Parto normal preferencialmente, dequitação espontânea e laqueadura precoce do cordão (obs: laqueadura não precisa ser de imediato quando a mãe ainda não está sensibilizada; Nos casos que a mãe já está sensibilizada deve ser feito de imediato) - Medidas no Pós Parto: • Sempre fazer vacina (IgG Anti-Rh) se: • Mãe: • Rh negativo e Du negativo/D fraco ausente/D parcial + Coombs indireto negativo (se for positivo, verificar se ela tomou a Ig com 28 semanas, porque pode permanecer positivo até o parto) • RN: • Rh positivo ou Rh negativo + Du positive + Coombs direto negativo (se a mãe tomou a vacina com 28 semanas também pode ser positivo) • Quando existe DUPLA INCOMPATIBILIDADE (no Sistema ABO e no sistema RH) a doença se torna 10X menos antigênica -> mesmo assim tem que receber Ig • Se a mãe tomou a vacina com 28 semanas, tem que tomar de novo depois do parto! • Tem que tomar vacina a cada gravidez. • O ideal é que a vacina seja feita em até 72 horas, pois após esse tempo ocorre estabelecimento da memória imunológica. Pode fazer depois desse período, mas não ocorre mais uma proteção completa. • Quando a mãe é Du positivo mas se comporta como Rh -, deve ser vacinada também • Tomar após cada gestação, porque a imunoglobulina dá uma proteção por um tempo determinado • Se tomou com 28 semanas, pode apresentar Coombs indireto positivo em fracas titulações (negativa em 1 a 3 meses) no parto - Falhas de Vacinação: • Sensibilização durante a gestação: • Se ocorreu no início da gravidez, dá tempo de passar IgG para o feto • Ausência ou vacinação após 72hs do evento obstétrico • Macro transfusão feto-materna: • A vacinaçãocobre cerca de 30 ml de sangue que passa, quando passa mais deve ser dado uma segunda dose • Isso pode ocorrer em gestação de mais de um feto, descolamento de placenta, etc. • TESTE DE KLEIHAUER: • Visualiza as hemácias fetais que passaram para o corpo da mãe • Depois da aplicação da vacina tem que ficar negativo (Teste de suficiência da IgGanti-Rh) • Fazer 24 horas após a aplicação da Ig • É possível ver quanto de sangue passou -> isso possibilita ajustar a dose de vacina • Teste de COOMBS INDIRETO: • Fazer 24 horas após a Ig • Tem que dar POSITIVO após a vacinação!!
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