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Alexandra Bulgarelli do Nascimento ATUAÇÃO DO EDUCADOR FÍSICO NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE Sumário INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)����������������� 5 Contextualização Histórica �������������������������������������������������� 5 Princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) ������������������� 12 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA ���������������������������������������������������������30 ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) ������ 33 NÚCLEO AMPLIADO DE SAÚDE DA FAMÍLIA (NASF) �������������������������������������������38 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS ��������������������������������������������42 2 INTRODUÇÃO Neste material, O Sistema Único de Saúde (SUS) será apresentado como o sistema de saúde, atu- almente, vigente no Brasil, destacando a trajetória da sua construção, considerando a sua concepção como direito de cidadania ao acesso à saúde� Para tanto, as regulamentações pertinentes para a sua operacionalização serão enunciadas, con- juntamente aos princípios doutrinários e organi- zativos do Sistema Único de Saúde (SUS), a fim de possibilitar a compreensão sobre as premissas que subsidiarão a atuação do Educador Físico ao atuar na área da Saúde� Em seguida, a Política Nacional de Atenção Básica, conjuntamente à Estratégia Saúde da Família e o Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF) serão contextualizados historicamente e caracterizados, buscando demonstrar a potencialidade desses cenários de prática profissional, em destaque à atuação do Educador Físico, considerando a sua inserção nas equipes interprofissionais de saúde. Neste material, o futuro Educador Físico poderá vislumbrar uma área de atuação promissora, que abarca a sua absorção pelo setor público de saúde, em especial nos Núcleos Ampliados de Saúde da Família (NASF), com o objetivo de contribuir para 3 a melhoria da qualidade de vida e bem-estar das pessoas� Portanto, demonstrando a versatilidade e as pos- sibilidades ampliadas para a atuação do Educador Físico na área da Saúde� 4 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) O Sistema Único de Saúde (SUS) é o sistema de saúde que o Brasil dispõe para atender toda a sua população, desde 1990, quando ele teve a sua origem� Ele é composto por princípios doutrinários e orga- nizativos, e se constitui como o desdobramento de um contexto histórico que o compreende como um direito de cidadania do povo brasileiro� CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA O Sistema Único de Saúde (SUS) é o sistema de saúde atualmente vigente no Brasil, sendo produto do movimento da Reforma Sanitária, que teve a sua origem na década de 1970, quando o acesso aos serviços de saúde era destinado apenas àqueles que contribuíam para o Instituto Nacional de As- sistência Médica e Previdência Social (INAMPS), que se configurava como o sistema de saúde vigente da época� O movimento da Reforma Sanitária era composto por profissionais da área da Saúde e pela sociedade civil, que buscava ampliar o acesso à saúde para toda a população brasileira, já que a contribuição para o Instituto Nacional de Assistência Médica e 5 Previdência Social (INAMPS) era feito somente por aqueles que tinham trabalho formal com registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), o que permitia que eles e seus dependentes utili- zassem a rede de atendimento oferecida� É importante situar que o Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS) existiu durante o governo militar, que era amplamente pressionado pela população tanto para ampliação do acesso à saúde, bem como para melhorar a qualidade da assistência oferecida aqueles que usufruíam desse acesso� É nesse contexto que a Reforma Sanitária eclode como movimento questionador das desigualdades sociais e de como elas impactavam a condição e o acesso aos serviços de saúde pela população brasileira� Os sistemas de saúde têm o objetivo de organizar as ações em saúde que são oferecidas às pessoas, que se constituem em ações de promoção à saúde, prevenção de doenças, recuperação, reabilitação e cuidados paliativos� Nesse sentido, o Sistema Único de Saúde (SUS) nasce com a prerrogativa de buscar garantir que esse sistema de saúde garanta à população a articulação dessas ações em saúde� 6 O Sistema Único de Saúde (SUS) foi inspirado no Sistema Nacional de Saúde Inglês, que foi criado em 1948, Pós 2º Guerra Mundial, quando a Europa e o Reino Unido estavam devastados e precisaram ser reconstruídos, instituindo a Política de Bem- -Estar Social� Diante do caos deixado pela 2º Guerra Mundial, a população do Reino Unido tomou o Sistema Nacio- nal de Saúde Inglês como um direito de cidadania, sendo defendido ao longo de toda a sua existência pela população� O artigo de Amadeo et al, publicado em 2021 e intitulado: Sistema Nacional de Saúde britânico: trajetória de reformas, 1990-2002, apresenta o contexto histórico e a sequência de reformas que o Sistema Nacional de Saúde Inglês tem vivenciado, o que se configura numa oportunidade para aprofundamento dos estudos neste tema� Esse mate- rial está disponível em: https://www�scielo�br/j/csp/a/ gqH8SngyqqkRjDCD6r3Dj5p/?format=html&lang=pt� No Brasil, a intenção foi de conceber o Sistema Único de Saúde (SUS) também como direito de cidadania, já que na oitava Conferência Nacional de Saúde – ocorrida em São Paulo, em 1986 –, em uma das plenárias de debate, o médico sanitarista SAIBA MAIS 7 Sérgio Arouca, importante ícone da Reforma Sani- tária, em uma de suas argumentações disse que “A saúde é direito de todos e dever do Estado” – frase que dois anos mais tarde, em 1988, foi incorpora- da à Constituição Federal de 1988, no Artigo 196 (BRASIL, 1988)� Esse é o marco que posiciona a saúde no Brasil como direito de cidadania, ou seja, o acesso à saú- de é direito de todo brasileiro e deve ser garantido pelo Estado� Os artigos 197 e 198 da Constituição Federal de 1988 caracterizam o sistema de saúde a ser constituído, bem como o artigo 199 que enuncia que a “saúde no Brasil é livre à iniciativa privada” (BRASIL, 1988)� Isso significa que os serviços ofertados, pelo Estado, à população não precisam ser obrigatoriamente públicos, portanto, garantindo a participação da iniciativa privada no setor de saúde brasileiro� Para operacionalizar o que foi determinado na Constituição Federal de 1988, no que tange à criação de um novo sistema de saúde de natureza universal, ou seja, com acesso indiscriminado a todos em território brasileiro, em 1990, durante o governo do Presidente Fernando Collor de Mello, foi sancionada, inicialmente, a Lei nº 8080/1990 e, 8 em seguida, a Lei nº 8142/1990, as quais se cons- tituíram como as Leis Orgânicas da Saúde (LOS)� Durante a análise da Lei nº 8080/1990, o Presidente Fernando Collor de Mello precedeu com o veto de alguns artigos que se referiam à participação da sociedade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), diante desse fato, houve nova pressão para que Lei nº 8142/1990 fosse sancionada garantindo a participação social no Sistema Único de Saúde (SUS), bem como enunciando alguns aspectos referentes à organização do financiamento público do setor� Para iniciar a operacionalização do Sistema Único da Saúde (SUS), durante a década de 1990 e iní- cio dos anos 2000, foram publicadas as Normas Operacionais Básicas (NOB): NOB-SUS nº 01/1991, NOB-SUS nº 01/1992, NOB-SUS nº 01/1993 e NO- B-SUS nº 01/1996, e as Normas Operacionais de Assistência à Saúde (NOAS): NOAS-SUS nº 01/2001 e NOAS-SUS nº 01/2002� Em linhas gerais, as Normas Operacionais Básicas (NOB) e as Normas Operacionais de Assistência à Saúde (NOAS) buscaram organizar aspectos necessários para que o Sistema Único de Saúde (SUS) fosse operacionalizado, como no que se re- fere à organização das Redes de Atenção à Saúde, responsabilização dos municípios em relação à 9 implementação dasações em saúde e oferta de serviços à população, formas de pagamento das empresas privadas contratadas pelo setor público, desenvolvimento e implementação de programas de saúde, entre outros� Outros instrumentos normativos foram promulga- dos, como aqueles relacionados ao financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS), como Emenda Constitucional (EC) nº 29, de 2000, a qual foi re- conduzida até 2012, quando foi sancionada a Lei Complementar nº 141, e que estabelece os per- centuais mínimos de investimento dos governos federal, estadual e municipal em saúde (BRASIL, 2012)� Além do Decreto nº 7508, de 28 de junho de 2011, sancionado pela presidente Dilma Rousseff, rei- terando o Sistema Único de Saúde (SUS) como sistema de saúde universal do tipo seguridade social, e vigente no Brasil (BRASIL, 2011)� A Tabela 1 apresenta a trajetória histórica de con- solidação do Sistema Único de Saúde (SUS)� Tabela 1: Trajetória histórica de consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) Ano Década Instituto Nacional de Assis- tência Médica e Previdência Social (INAMPS) --------- 1970 Reforma Sanitária ---------- 1970 10 Oitava Conferência Nacional de Saúde 1986 1980 Constituição Federal de 1988 1988 1980 Sistema Único de Saúde (SUS) ---------- 1990 Lei nº8080/90 e Lei nº 8142/90 1990 NOB-SUS nº 01/1991 1991 NOB-SUS nº 01/1992 1992 NOB-SUS nº 01/1993 1993 NOB-SUS nº 01/1996 1996 Emenda Constitucional (EC) nº 29/2000 2000 2000 NOAS-SUS nº 01/2001 2001 NOAS-SUS nº 01/2002 2002 Decreto nº 7508/2011 ---------- 2010 Lei Complementar nº 141/2012 2012 Fonte: Elaborado pela autora� Diante do apresentado, denota-se o caminho trilhado para a construção e consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) como sistema de saúde vigente no Brasil e comprometido com o acesso à saúde de forma universal garantido pela Constituição Federal de 1988� 11 PRINCÍPIOS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) O Sistema Único de Saúde (SUS) é um exemplo de sistema de saúde classificado como Seguridade Social� Os sistemas do tipo Seguridade Social são aque- les conhecidos por serem universais, ou seja, oferecidos para a população de forma indiscrimi- nada, independentemente de classe social, poder aquisitivo, sexo, idade, credo etc., e financiados de forma indireta, por meio das arrecadações por carga tributária� O Artigo nº 196 da Constituição Federal de 1988 estabelece que o acesso à saúde é direito de todos e dever do Estado e para trazer diretrizes que pos- sibilitem que esse artigo seja praticado, o Artigo nº 197 enuncia que o poder público deve dispor de meios para regulamentar, controlar e fiscalizar a oferta de serviços de saúde, fazendo uso tanto de serviços públicos como de privados – ideias que convergem com o que dispõe o Artigo nº 199, que posiciona o setor de saúde brasileiro como livre à iniciativa privada (BRASIL, 1988)� Já o Artigo nº 198 aborda algumas características para a operacionalização do Sistema Único de Saúde (SUS), como as ideias de descentralização, integralidade e participação social – que dialogam 12 com alguns dos princípios do sistema (BRASIL, 1988)� Por fim, o Artigo nº 200 elenca as atribuições do Sistema Único de Saúde (SUS), as quais abarcam: I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos; II - executar as ações de vigilância sanitária e epide- miológica, bem como as de saúde do trabalhador; III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; IV - participar da formulação da política e da exe- cução das ações de saneamento básico; V - incrementar, em sua área de atuação, o desen- volvimento científico e tecnológico e a inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreen- dido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano; VII - participar do controle e fiscalização da produ- ção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho� (BRASIL, 1988)� 13 Portanto, na Constituição Federal de 1988 o direito à saúde está contemplado entre os Artigos nº 196 e nº 200, cuja compreensão é necessária para entender as Leis Orgânicas da Saúde nº 8080 e nº 8142, ambas sancionadas em 1990� Nessas leis são estabelecidos os elementos cen- trais que direcionam as atribuições e a atuação do Sistema Único de Saúde (SUS) na oferta de serviços à população� Para tanto, nelas são elencados os princípios que norteiam todas as ações e atividades organiza- das pelo sistema, os quais são classificados em princípios doutrinários e princípios organizativos� Os princípios doutrinários abarcam a essência do funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto que os princípios organizativos são aqueles que buscam dar direcionamento para a materialização do Sistema Único de Saúde (SUS) no cotidiano dos serviços� A Figura 1 apresenta um esquema da construção dos princípios do Sistema Único de Saúde� 14 Figura 1: Construção dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) Leis Orgânicas da Saúde, 1990: Lei nº 8080/1990 e Lei nº 8142/1990 Princípios Doutrinários: Universalidade Equidade Integralidade Princípios Organizativos: Hierarquização Descentralização Regionalização Participação Social Fonte: Elaboração própria� Os princípios doutrinários traduzem a essência do Sistema Único de Saúde e são constituídos pelo princípio da universalidade, equidade e integralidade� O princípio da universalidade refere-se à oferta de acesso à saúde a todos aqueles presentes em território brasileiro, independentemente de etnia, classe social, poder aquisitivo, sexo, idade, credo� No Brasil, esse princípio é aplicado para qualquer pessoa, nativa, naturalizada ou mesmo clandestina em território nacional. Isso significa, por exemplo, que se uma gestante venezuelana buscar um serviço brasileiro de fronteira para dar à luz ao seu filho, o serviço brasileiro a assistirá, independentemente se ela está legalizada ou não no país� 15 O artigo intitulado Novas perspectivas na gestão do sistema de saúde da Espanha, publicado em 2010, por Sacardo et al, aborda um descritivo da consolidação do sistema de saúde espanhol, reconhecido como um dos melhores sistemas de saúde do mundo e de natureza universal� Esse material está disponível em: https:// scielosp�org/pdf/sausoc/2010�v19n1/170-179/pt� O princípio da equidade refere-se à disponibilidade de recursos em saúde de acordo com as necessi- dades apresentadas pelo usuário/paciente� A prática desse princípio implica no desenvolvimento de competências dos profissionais da Saúde para identificarem precisamente essas necessidades, buscando a alocação justa de recursos� É importante dizer que o conceito de equidade não é equivalente ao conceito de igualdade� Na igualdade dispõem-se de recursos de forma desarticulada da identificação de necessidades, enquanto que na equidade a identificação das necessidades é condição obrigatória� Para exemplificar, considere as duas situações a seguir: Situação A: O secretário de saúde de um município tomou a decisão de instituir práticas de atividade SAIBA MAIS 16 física três vezes por semana para idosos em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS)� Ao adotar essa medida, percebeu-se no primeiro mês que algumas Unidades Básicas de Saúde (UBS) ade- riram mais e outras, menos� A análise da diferença entre essas Unidades Bási- cas de Saúde (UBS) demonstrou que aquelas que aderiram menos são justamente as que estão em localidades com menor número de idosos, sendo que parte deles se encontram acamados e sem condições físicas de participarem da atividade proposta� Esse desfecho demonstra que o secretário de saúde municipal atuou embasado na igualdade, ouseja, ao garantir a atividade física a todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS), ele não consi- derou as necessidades específicas atreladas ao perfil demográfico de cada uma. Situação B: O secretário de saúde de um município tomou a decisão de instituir práticas de atividade física três vezes por semana para idosos perten- centes às Unidades Básicas de Saúde (UBS) de localidades em que eles representam, no mínimo, 10% da população total e possuam boas condições físicas para participarem da atividade proposta, refletindo em melhoria da qualidade de vida e bem-estar� 17 Para os demais idosos pertencentes a outras localidades e que tenham condições físicas de participarem será direcionado um comunicado convidando-os à integrarem o grupo de atividade física junto à Unidade Básica de Saúde (UBS) que oferece o serviço� Nesse caso, o secretário de saúde municipal agiu pautado na equidade, ou seja, alocando os recur- sos para a oferta de atividade física para aqueles que efetivamente se beneficiarão, de forma justa e atendendo às necessidades identificadas e sem desperdício de recursos em saúde� O princípio da integralidade parte de duas premis- sas: de que a integralidade se refere à garantia do sistema de saúde oferecer a continuidade dos cuidados pertinentes frente às necessidades em saúde identificadas e, a segunda, de que a integra- lidade contempla a compreensão de que a existên- cia humana é composta por diversas dimensões: biológica, psicológica, social etc� e que, portanto, o sistema de saúde deve considerá-las para garantir o atendimento integral ao usuário/paciente� Por exemplo, suponha a situação de uma mulher de 65 anos assistida numa Unidade Básica de Saúde (UBS), hipertensa e com queixa de dores articulares participa regularmente de um grupo de 18 alongamento e caminhada oferecido pela equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF)� Numa das reuniões de equipe em que estava pre- sente o Educador Físico do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF), uma das enfermeiras relatou que essa paciente tem se mostrado com sintomas de agravamento cardiovascular, em es- pecial, durante as caminhadas� Ao considerar o princípio da integralidade, espe- ra-se que esse indício de agravamento da Hiper- tensão Arterial Sistêmica (HAS) seja investigado, considerando aspectos biológicos, mas também psicológicos e sociais que possam ter alguma influência na descompensação clínica. Também sendo pertinente, outros serviços de saúde da Rede de Atenção à Saúde (RAS) deverão ser acessados, por exemplo, o Ambulatório Médico de Especialidades (AME) para uma consulta com cardiologista, realização de um ecocardiograma e de exames de análises clínicas, entre outros, ou ainda, o agendamento de uma consulta com Psicólogo do Núcleo de Ampliado de Saúde da Família (NASF), se o caso exigir� Portanto, os princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde (SUS) são suportados pelos princípios da universalidade, equidade e integra- lidade, que devem direcionar todas as ações em 19 saúde oferecidas pelo sistema, o que implica na pertinência de se contar com profissionais que efetivamente tenham as suas práticas pautadas nos seus princípios� Além dos princípios doutrinários, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem quatro princípios organizativos: descentralização, hierarquização, regionalização e participação social� O princípio da descentralização refere-se à ideia de que o direcionamento das ações em saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) deve possuir uma linha de direção única, partindo do Ministério da Saúde – que representa o governo federal –, para as Secretarias de Saúde Estaduais – que representam os governos estaduais –, e por fim para as Secre- tarias de Saúde Municipais – que representam os governos municipais� Anteriormente ao Sistema Único de Saúde (SUS), a tomada de decisão em saúde era totalmente centralizada no Ministério da Saúde, portanto, no governo federal, o que significa que muitas das ações propostas não atendiam ou atendiam par- cialmente as necessidades em saúde da população, as quais são específicas e diferentes a depender da localidade em que as pessoas vivem� Por exemplo, imunizar sistematicamente a popu- lação da região metropolitana de São Paulo contra 20 a Febre Amarela não faz sentido, diferentemente da população da região Amazônica, que tem essa doença endemicamente no seu território� O princípio da descentralização fortalece a prática da equidade e trouxe consigo o desafio de respon- sabilizar estados e municípios na condução da gestão em saúde� Essa responsabilização descentralizada que o Sistema Único de Saúde (SUS) propõe implicou no fenômeno da municipalização, que se cons- titui em situar os municípios como os principais gestores em saúde, uma vez que eles são os que estão mais próximos das necessidades em saúde locais, abarcando maior precisão na identificação dessas necessidades e, consequentemente, maior eficiência na alocação dos recursos em saúde. Por esse motivo que a oferta de Educadores Físicos para atuarem no Sistema Único de Saúde (SUS) não é linear ao se comparar diferentes localidades, uma vez que os benefícios que esses profissionais trazem para a população depende do perfil epide- miológico existente no território� O princípio da hierarquização refere-se à organiza- ção dos serviços de saúde, visando garantir que esse ordenamento garante a prática do princípio da integralidade� 21 Esse ordenamento dos serviços de saúde se dá nos seguintes níveis de atenção à saúde: atenção primária, atenção secundária e atenção terciária, apresentados na figura 2 a seguir: Figura 2: Níveis de Atenção à Saúde Nível de Atenção Terciária (hospitais especializados Nível de Atenção Secundária (hospitais gerais, unidades de pronto atendimento, ambulatórios médicos de especialidades) Nível de Atenção Primária (unidades básicas de saúde, centros de Apoio Psicossocial) Fonte: Elaboração própria� O nível de atenção terciária é composto pelos hospitais especializados e, portanto, agregam 22 maior aparato tecnológico, sendo responsável pela assistência de alta complexidade� O nível de atenção secundária é composto pelos hospitais gerais, que minimamente oferecem as- sistência derivada das especialidades médicas de clínica médica, cirurgia geral, ginecologia/ obstetrícia e pediatria, além dos serviços que es- tabelecem um elo de comunicação direta com a assistência hospitalar, como as unidades de pronto atendimento (UPA) e os ambulatórios médicos de especialidades (AME)� O nível de atenção primária tem capacidade para responder até 80% das necessidades em saúde da população e tem nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) os serviços que buscam realizar a coordenação do cuidado da Rede Atenção à Saúde (RAS), conformada pela integração dos três níveis de atenção� Além das Unidades Básicas de Saúde (UBS), no nível de atenção primária também estão os cen- tros de apoio psicossocial (CAPS), que oferecem assistência às pessoas com transtornos mentais e dependência química� Portanto, o princípio da hierarquização tem o propósito de organizar a oferta dos serviços em saúde em níveis de atenção à saúde, os quais são acessados pelo usuário/paciente conforme 23 a identificação das suas necessidades, a fim de garantir o cuidado integral� Para exemplificar, suponha que um usuário/paciente assistido na Unidade Básica de Saúde (UBS) próxi- ma de sua residência apresentou a agudização de um quadro crônico de lombalgia� Em detrimento de todas as ações em saúde para manejo da dor e manutenção da mobilidade, ele apresentou uma piora significativa. Numa das consultas de acolhimento na Unidade Básica de Saúde (UBS) após constatada essa situa- ção, o médico fez um encaminhamento do paciente para atendimento eletivo com um ortopedista no Ambulatório Médico de Especialidades (AME) – a essa ação de referenciar um usuário/paciente de um serviço de um menor nível de atençãoà saú- de para um de maior nível de atenção à saúde é denominada de mecanismo de referência� No dia agendado com o ortopedista, o usuário/ paciente foi avaliado, sendo indicada a realização de uma Ressonância Magnética, em que acusou a existência de uma hérnia de disco� Diante disso, indicou-se tratamento conservador, com medica- mentos e atividades físicas de alongamento, sendo ele contrarreferenciado para a Unidade Básica de Saúde (UBS) para continuidade dos cuidados� 24 O mecanismo de contrarreferência é quando o usuário/paciente é direcionado de um serviço de maior nível de atenção à saúde para um outro serviço de menor nível de atenção à saúde, como no exemplo do usuário/paciente com quadro crô- nico e lombalgia, que foi do Ambulatório Médico de Especialidades (AME), que pertence ao nível de atenção secundária, para a Unidade Básica de Saúde (UBS), que pertence ao nível de atenção primária� Portanto, vale reiterar que os mecanismos de referência e contrarreferência têm a intenção de garantir que a assistência integral seja oportuni- zada à população� O princípio da regionalização tem o objetivo de or- ganizar a Rede de Atenção à Saúde (RAS) para além dos níveis de atenção à saúde, como preconiza o princípio da hierarquização, também considerando o território e a interação entre territórios diferentes� Como o Sistema Único de Saúde (SUS) atua pau- tado no princípio da equidade, deve-se compreen- der que a oferta dos serviços não se dá de forma igualitária, mas considerando as especificidades dos territórios� Por exemplo, ao se pensar no serviço hospitalar é fundamental ter clareza que a grande maioria dos municípios brasileiros não dispõe de um hospital 25 exclusivo para a população da cidade, haja vista o grande investimento para a sua manutenção, além da baixa eficiência que hospitais de pequeno porte, até 50 leitos, possuem em comparação com hospitais de grande porte, com 150 leitos ou mais� Isso significa que o Sistema Único de Saúde (SUS) precisa dispor de uma Rede de Atenção à Saúde (RAS) organizada para que as pessoas sejam as- sistidas em suas necessidades� Portanto, cidades pequenas, com até 50 mil habi- tantes, compartilham um serviço hospitalar lotado numa cidade específica de determinada localidade porque o esperado é que um quantitativo reduzido de pessoas venha a utilizar de serviços dos níveis da atenção secundária e terciária, já que a aten- ção primária tem potência para assistir a grande maioria das demandas em saúde� O princípio da regionalização está fortemente direcionado pelos princípios da equidade e inte- gralidade, desta forma, comprometendo-se com a garantia do acesso à saúde à população� O princípio da participação social se relaciona à participação da sociedade civil na gestão do Sis- tema Único de Saúde (SUS)� Para garantir a prática desse princípio, as Unidades Básicas de Saúde (UBS), em sua maioria, dispõem 26 de reuniões mensais do Conselho Gestor, o qual conta com a representação do gestor da Unidade Básica de Saúde (UBS), de um funcionário da Uni- dade Básica de Saúde (UBS) e de um representante da comunidade� As reuniões são abertas ao público e o objetivo é debater sobre pontos de melhoria no atendimento às necessidades das pessoas� A partir das demandas identificadas, aquelas que são de governabilidade da Unidade Básica de Saúde (UBS) são encaminha- das pela sua gestão, porém aquelas que precisam de um debate em nível municipal são levadas ao Conselho Municipal de Saúde (CMS), que conta com a representação de cada Unidade Básica de Saúde, sendo as reuniões também públicas� O artigo de Oliveira & Krüger (2018), intitulado Trinta anos da Constituição e a participação popular no SUS, traz um descritivo da construção legal e da participação da sociedade civil no Sistema Único de Saúde (SUS), possi- bilitando compreender o contexto político e econômico como influenciadores no mecanismo de controle social. Esse material está disponível em: https://periodicos�ufes� br/ argumentum/article/view/18621/13181� SAIBA MAIS 27 Um exemplo desse tipo de interlocução no Conse- lho Municipal de Saúde (CMS) é quando diferentes Unidades Básicas de Saúde (UBS) apontam a pertinência da construção de uma Unidade Pron- to Atendimento (UPA), o que demanda ação da Secretaria de Saúde Municipal� Entretanto, ainda há situações que o Conselho Estadual de Saúde (CSE), composto por represen- tação dos Conselhos Municipais de Saúde (CMS), precisa ser acionado, como, por exemplo, para debater a reorganização da Rede de Atenção à Saúde (RAS) estadual� Já o Conselho Nacional de Saúde (CNS) é constitu- ído por representação dos Conselhos Estaduais de Saúde (CES) e tem o propósito de debater temas de relevância nacional, como, por exemplo, as medidas de enfrentamento frente às epidemias, disponibilidade de recursos em saúde em massa para a população, entre outros� Diante do apresentado, o Sistema Único de Saúde (SUS) se apresenta como um sistema de saúde que tem as suas ações organizadas a partir dos seus princípios doutrinários e organizativos� Esse aspecto é fundamental e, portanto, deve ser reforçado recorrentemente, haja vista que o Sis- tema Único de Saúde tem o objetivo de assistir exclusivamente 2/3 da população brasileira – que 28 totaliza mais de 200 milhões de habitantes, bem como pontualmente ¼ da população brasileira que detém plano privado de saúde, a qual também tem direito de acesso ao setor público de saúde� Na ausência da prática dos seus princípios, o Sis- tema Único de Saúde (SUS) pode apresentar maior dificuldade para ter as suas ações organizadas para assistir a esse quantitativo de pessoas, porque estão inseridas em contextos sociais, culturais e econômicos díspares, trazendo maiores desafios para a sua operacionalização num país, como o Brasil, de dimensão continental� Portanto, é condição mandatória que os profissio- nais da área da Saúde, entre eles o Educador Físico, possuam consciência sobre a grandiosidade que o Sistema Único de Saúde (SUS) representa para a organização e oferta de serviços de saúde para a população brasileira� 29 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) teve a sua origem em 2006 como produto do amadure- cimento da implementação de iniciativas anteriores que colocaram o nível de atenção primária à saúde como elemento articulador do Sistema Único de Saúde (SUS)� Essa Política propõe a reorganização do modelo assistencial do sistema de saúde pautando as suas ações no acompanhamento da condição de saúde das famílias, a partir da compreensão do modo de vida em que elas estão inseridas� Neste sentido, o nível de atenção primária à saúde se coloca como a principal porta de entrada para acessar o Sistema Único de Saúde (SUS), oportu- nizando atendimento longitudinal e próximo das pessoas, o que possibilita o estabelecimento de vínculos e, portanto, de cuidados efetivos� A Política Nacional da Atenção Básica (PNAB), de 2006, estabeleceu as responsabilidades em âmbito federal, estadual e municipal, além da infraestrutura necessária, o processo de trabalho das equipes envolvidas, bem como a forma de financiamento do nível da atenção primária à saúde (BRASIL, 2006)� 30 Entretanto, com o avanço da implementação desta Política, percebeu-se a necessidade de organizar também as Redes de Atenção à Saúde (RAS)� Desta forma, em 2011, a Política Nacional de Aten- ção Básica (PNAB) foi revisada, sendo publicada por meio da Portaria do Ministério da Saúde nº 2488/2011 (BRASIL, 2011)� Nesta versão atualizada da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) é importante destacar que a Atenção Primária à Saúde (APS) foi posicionada como elemento coordenador e articulador dos cuidados em saúde� Outros aspectos foram contemplados nesta edição da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), como a estruturação da atuação profissional em Saúde Bucal, o fortalecimento do trabalhodos Agentes Comunitários em Saúde (ACS) e a orga- nização da assistência direcionada às populações específicas, como as ribeirinhas, bem como as em situação de rua� Além disso, a edição de 2011 da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) criou os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), os quais abar- caram a integração de diferentes profissionais da área da Saúde para atuarem na integralidade do cuidado, como: fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos, nutricionistas e educadores físicos (BRASIL, 2011)� 31 Em 2017, essa Política sofreu nova atualização, em especial no que se referiu à mudança na me- todologia de financiamento da Atenção Básica, atrelando o repasse de recursos do âmbito federal para estados e municípios à adesão aos sistemas de informação do Ministério da Saúde, em relação ao registro dos estabelecimentos e das equipes atuantes na Atenção Primária e ao cumprimento das metas estabelecidas para indicadores de produção das equipes de saúde (BRASIL, 2017)� Para você conhecer a diferença ideológica entre os termos “atenção primária à saúde” e “atenção básica”, faça a leitura do artigo da Profa� Dra� Lígia Giovanella, publicado em 2018 e intitulado Atenção básica ou atenção primária à saúde?, em que ela aborda uma contextuali- zação histórica e problematiza a adoção de ambos os termos� Esse material está disponível em: https://www� scielo�br/j/csp/a/rxLJRM8CWzfDPqz438z8JNr/?lang=pt� Portanto, a atuação do Educador Físico no Sistema Único de Saúde (SUS) está diretamente relacionada ao nível da atenção primária à saúde, o que justifica a necessidade desses profissionais conhecerem a trajetória de implementação e atualizações da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB)� SAIBA MAIS 32 ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) A Estratégia Saúde da Família (ESF) foi instituída por meio da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), publicada em 2006, como vista a reorientar o modelo assistencial no Sistema Único de Saúde (SUS)� Anteriormente a esse momento, o Brasil vivenciou durante a década de 1990 a implementação de dois programas: Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e o Programa Saúde da Família (PSF)� Esses dois programas foram instituídos a partir de experiências vivenciadas por outros países que adotaram um modelo de atenção centrado no pa- ciente/família, buscando potencializar a proximidade das pessoas aos serviços de saúde por meio do estabelecimento de vínculo e da proposta de um acompanhamento longitudinal que favorecesse a equidade e integralidade do cuidado� Tanto o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), como o Programa Saúde da Família (PSF) foram iniciados em regiões brasileiras com maior vulnerabilidade e dificuldade de acesso aos serviços de saúde, portanto, concentrando-se nas regiões Norte e Nordeste e depois expandindo para 33 as demais regiões brasileiras e naquelas com maior desenvolvimento em suas localidades periféricas� O Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) tinha em sua equipe mínima a presença de uma enfermeira e de agentes comunitários de saúde (ACS), enquanto que no Programa Saúde da Família (PSF), além desses profissionais, ha- via a presença de um médico e de um técnico de Enfermagem� Os resultados trazidos por esses programas em relação à redução da taxa de mortalidade infantil, que é calculada pela ocorrência de morte em me- nores de um ano para cada 1000 crianças nascidas vivas, bem como a redução da taxa de desnutrição etc� fez com que o Ministério da Saúde buscasse ampliar a atuação dessas equipes no território nacional� A Figura 3 mais adiante demostra essa implemen- tação, tendo como marco inicial o ano de 2006, quando a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) foi instituída, cuja Estratégia Saúde da Família (ESF), como produto das experiências com o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e o Programa Saúde da Família (PSF), foi posicionada como elemento central dessa Política� A análise dessa tabela permite identificar os es- tados que tinham alguma elevada cobertura pela 34 Estratégia Saúde da Família (ESF), como resultado dos programas anteriores como, por exemplo, os estados do Acre, Amapá, Roraima, Tocantins, Alagoas, Maranhão, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, bem como aqueles estados em que a cobertura foi expandindo ao longo dos anos, alguns de forma mais abrangente e outros de forma mais restrita, como ocorreu no Distrito Federal e no estado de São Paulo� Numa análise geral, permite-se observar que em 2006 a cobertura por equipes da Estratégia Saúde da Família era de 45,3% do território brasileiro e que esse percentual ao longo dos anos progrediu até chegar à cobertura de 64% do território� 35 Figura 3: Cobertura percentual da Estratégia Saúde da Família, grandes regiões, unidades da federação e Brasil, 2006-2016 4 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 27(3):e2017170, 2018 Tendência da cobertura da Estratégia Saúde da Família Tabela 1 – Coberturaa (%) da Estratégia Saúde da Família, Grandes Regiões, Unidades da Federação e Brasil, 2006-2016 Regiões e Unidades da Federação 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Variação anualb % (IC 95% )c Valor-p d Tendência Norte 40,7 42,0 45,7 49,2 51,4 51,6 51,1 52,0 57,3 61,9 63,4 10,3 (7,5;13,1) <0,001 Crescente Acre 59,9 58,0 59,4 63,6 61,1 60,6 66,3 69,8 73,8 77,2 79,7 7,4 (4,4;10,3) <0,001 Crescente Amapá 54,4 57,0 61,7 68,9 73,8 69,8 58,2 56,9 68,1 70,8 73,4 5,5 (-1,5;13,0) 0,116 Estável Amazonas 43,2 45,5 48,5 49,9 51,1 48,6 47,7 48,7 54,6 59,4 58,4 6,5 (2,8;10,5) 0,004 Crescente Pará 28,8 30,4 34,6 38,1 40,5 41,7 42,3 43,3 47,0 52,3 54,5 15,3 (11,9;18,8) <0,001 Crescente Rondônia 36,4 38,8 45,7 50,3 55,5 58,5 58,8 60,9 66,5 73,2 76,6 18,3 (14,1;22,6) <0,001 Crescente Roraima 72,5 67,7 69,3 72,1 69,1 67,2 64,8 56,1 72,4 72,7 76,2 0,3 (-4,4;5,3) 0,828 Estável Tocantins 77,0 76,0 76,5 85,2 88,4 88,4 82,8 84,8 91,7 92,9 93,1 4,7 (2,3;7,2) 0,002 Crescente Nordeste 65,8 66,7 69,7 69,7 70,0 72,0 72,5 73,8 78,1 79,3 80,0 4,6 (3,8;5,5) <0,001 Crescente Alagoas 68,7 69,2 70,1 70,6 72,1 71,8 72,4 73,2 75,2 75,7 76,5 2,5 (2,2;2,9) <0,001 Crescente Bahia 49,8 50,1 53,6 53,8 57,7 60,4 62,0 63,7 68,6 70,4 72,4 9,7 (9,2;10,2) <0,001 Crescente Ceará 58,6 65,0 66,5 66,6 69,0 70,1 69,4 70,8 78,1 80,7 81,0 6,8 (4,9;8,7) <0,001 Crescente Maranhão 73,5 72,7 77,4 79,0 80,7 79,1 76,6 77,4 81,9 83,2 80,2 2,2 (0,5;4,0) 0,018 Crescente Paraíba 91,1 91,9 94,5 94,7 95,3 93,2 92,5 92,9 93,8 91,9 94,2 0,3 (-0,6;1,2) 0,497 Estável Pernambuco 62,4 62,0 66,5 67,1 68,0 68,3 68,3 70,0 74,1 75,8 76,9 4,9 (3,7;6,0) <0,001 Crescente Piauí 95,2 94,8 96,0 96,9 97,4 96,7 94,2 96,1 96,9 97,0 98,7 0,6 (-0,1;1,3) 0,085 Estável Rio Grande do Norte 79,1 76,4 79,4 77,9 77,4 76,2 74,9 78,6 82,1 82,1 82,0 1,1 (-0,8;2,9) 0,218 Estável Sergipe 82,3 82,7 83,2 85,2 86,2 85,1 84,0 83,4 89,1 87,8 87,8 1,5 (0,6;2,4) 0,005 Crescente Sudeste 33,3 33,9 36,0 37,3 39,1 41,0 43,6 44,5 48,3 51,3 53,1 11,8 (11,0;12,6) <0,001 Crescente Espírito Santo 45,4 44,5 47,5 48,9 51,0 52,1 52,3 53,5 58,4 60,7 60,3 7,6 (6,4;8,8) <0,001 Crescente Minas Gerais 57,4 58,6 61,6 63,8 66,7 68,8 70,6 70,9 75,4 78,2 79,1 7,9 (7,2;8,6) <0,001 Crescente Rio de Janeiro 27,9 28,0 30,0 30,3 32,3 37,1 42,9 44,8 47,1 48,9 52,0 16,7 (12,9; 20,7) <0,001 Crescente São Paulo 22,8 23,5 25,1 26,1 27,3 28,3 30,4 31,0 35,0 38,7 40,7 14,2 (11,6;16,9) <0,001 Crescente Sul 44,1 44,4 46,5 48,2 49,8 51,0 52,9 55,3 60,1 64,6 66,5 10,1 (8,0;12,2) <0,001 Crescente Paraná 48,2 48,1 50,0 51,6 53,5 55,0 56,5 58,5 63,5 66,8 67,4 8,6 (7,1; 10,1) <0,001 Crescente Rio Grande do Sul 29,5 30,3 32,4 33,9 35,5 36,3 38,8 41,3 47,0 53,5 57,2 16,4 (12,1;20,8) <0,001 Crescente Santa Catarina 64,1 64,1 66,3 68,1 69,2 69,9 71,0 73,6 76,8 79,8 80,4 5,6 (4,6;6,6) <0,001 Crescente Centro-Oeste 44,8 44,8 47,4 49,0 51,9 52,9 53,7 55,5 58,6 60,2 60,9 7,9 (7,2;8,7) <0,001 CrescenteDistrito Federal 6,9 5,8 6,0 10,1 13,6 15,4 16,4 23,7 28,8 31,1 31,1 53,8 (40,6;68,2) <0,001 Crescente Goiás 55,1 54,6 56,8 56,9 59,7 61,2 62,6 63,0 65,4 66,6 67,1 5,4 (4,9;5,8) <0,001 Crescente Mato Grosso 53,0 52,3 56,3 60,2 63,3 62,7 61,2 61,0 63,8 65,3 66,7 5,3 (2,6;8,1) 0,001 Crescente Mato Grosso do Sul 47,6 50,6 54,8 57,5 59,8 60,3 62,1 63,9 66,8 68,7 69,7 8,9 (6,9;11,0) <0,001 Crescente Brasil 45,3 46,0 48,5 49,8 51,8 53,0 54,3 55,6 59,8 62,5 64,0 8,4 (7,4;9,3) <0,001 Crescente a) Os valores das coberturas de cada ano foram obtidos do cálculo da média de cobertura entre os meses de janeiro e dezembro. b) Variação anual em % e seus IC 95% foram calculados pela seguinte fórmula: TIA= (-1+[10 ])*100, em que é o logaritmo de base natural resultante da regressão de Prais-Winsten. c) IC 95% : intervalo de confiança de 95%. d) Valor-p da regressão de Prais-Winsten. Saúde,21 Programas de Valorização da Atenção Básica22 e Programa Mais Médicos.23 Todas as UFs apresentaram cobertura maior em 2016, na comparação com 2006. Contudo, nem todas apresentaram uma tendência de crescimento dessa cobertura. Roraima, Amapá, Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba mostraram estabilidade, possivelmente devida às oscilações nas coberturas ano a ano, não apresentando uma progressão de aumento no decorrer do tempo. É mister destacar que nenhuma das UFs, re- giões e o Brasil como um todo apresentaram tendência decrescente na cobertura da Saúde da Família. O Piauí e a Paraíba, por exemplo, apresentaram coberturas em torno de 90% desde 2006, tornando-se mais difícil ampliar a cobertura da ESF nesses estados. Eis um importante achado do presente estudo: os esforços despendidos desde a implantação da estratégia garanti- ram, ao menos, que houvesse melhoria nas coberturas Fonte: Neves et al, 2018� p� 4� Disponível em: https://www� scielo�br Acesso em: 25 de fevereiro de 2022� Esse avanço no número de equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) no Brasil reitera os pres- supostos da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB)� 36 A composição mínima da equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) é: um médico, um enfermeiro, um técnico de Enfermagem e o número de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) é variável a depender do número de famílias assistidas – o que é determinado na Política Nacional da Atenção Básica (PNAB)� Para aprofundar os seus estudos, realize a leitura da Política Nacional da Atenção (PNAB), dos anos de 2006, 2012 e 2017� Política Nacional da Atenção (PNAB), 2006� Disponível em: https://bvsms�saude�gov�br/bvs/publicacoes/poli- tica_nacional_atencao_basica_2006�pdf� Política Nacional da Atenção (PNAB), 2012� Disponível em: http://189�28�128�100/dab/docs/publicacoes/ geral/pnab�pdf� Política Nacional da Atenção (PNAB), 2017� Disponível em: https://bvsms�saude�gov�br/bvs/saudelegis/gm/2017/ prt2436_22_09_2017�html� FIQUE ATENTO 37 NÚCLEO AMPLIADO DE SAÚDE DA FAMÍLIA (NASF) Após a implantação da Política Nacional de Aten- ção Básica (PNAB), em 2006, frente à potência que essa política trouxe para possibilitar a maior resolubilidade das condições de saúde no nível da atenção primária, observou-se a necessidade de integração de outros profissionais da área da Saúde para apoiarem as demandas emergentes nas Unidades Básicas de Saúde (UBS)� Nesse sentido, a atualização da Política Nacional de Atenção Básica, de 2011, formalizou a criação dos então denominados Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), que podem ser constituídos por médico acupunturista, assistente social, educador físico, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico ginecologista/obstetra, médico homeopata, nutricionista, médico pediatra, psicólogo, médico psiquiatra, terapeuta ocupacional, médico geriatra, médico internista (clínica médica), médico do traba- lho, médico veterinário, profissional com formação em arte e educação (arte educador) e profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de saúde com pós-graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente em uma dessas áreas� 38 A constituição das equipes era de responsabilidade dos municípios que tinham a responsabilidade de planejar os recursos necessários considerando a classificação das equipes em NASF 1, NASF 2 e NASF 3. A diferença entre essas três classificações ocorre em relação à carga horária de dedicação dos profissionais da equipe no apoio às ações da Estratégia Saúde da Família (ESF), uma vez que a forma de financiamento até 2016 era proveniente do governo federal e pautado no número de equi- pes atuantes� Para aprofundar os seus estudos na classificação das equipes do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NAS- F-AB), faça a leitura da Portaria de Consolidação nº 02 do Ministério da Saúde, Secção II, Artigos nº 13, 14 e 15� Esse material está disponível em: https://bvsms�saude� gov�br/bvs/saudelegis/gm/2017/MatrizesConsolidacao/ Matriz-2-Politicas�html� Com a atualização, em 2017, da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), a forma de financia- mento sofreu mudança e o repasse de verba do governo federal para os municípios manterem as agora chamadas equipes do Núcleo Ampliado de Estratégia Saúde da Família da Atenção Básica (NASF-AB) foi extinto, sendo a partir desse mo- SAIBA MAIS 39 mento o financiamento pautado no número de atendimentos feitos e no investimento da dispo- nibilidade das equipes que não obrigatoriamente realizam o atendimento ao usuário/paciente, mas o assistem conjuntamente às equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) ou apoiando a condução dos casos dessas equipes� Para aprofundar os seus estudos em relação às ca- racterísticas e implementação das equipes do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF-AB), recomenda-se o acesso à página do Ministério da Saúde que aborda uma contextualização histórica de criação do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF-AB), bem como as normas para a implementação dessas equipes junto à Estratégia Saúde da Família (ESF)� Para tanto, acesse o link: https://aps�saude�gov�br/ape/nasf� SAIBA MAIS 40 CONSIDERAÇÕES FINAIS A atuação do Educador Físico nos Núcleos Am- pliados de Saúde da Família (NASF-AB) exige desse profissional conhecimento sólido sobre a construção histórica do Sistema Único de Saúde (SUS), o seu marco regulatório – representado pela Constituição Federal de 1988 e as Leis Orgânicas da Saúde nº 8080/1990 e nº 8142/1990, bem como dos princípios que direcionam as práticas em saúde� Nesse sentido, é fundamental compreender a robustez dos Sistema Único de Saúde (SUS) e os desafios na oferta de serviços de saúde que possibilitem garantir cuidados à saúde integral e comprometidos com a equidade e a universalidade� 41 Referências Bibliográficas & Consultadas AMADEO, J�; ANDREAZZA, R�; REIS, A� A� C� Sistema Nacional de Saúde britânico: trajetória de reformas, 1990-2002� Caderno de Saúde Pública, 37(5), 2021� Disponível em: https://www�scielo�br/j/csp/a/ gqH8SngyqqkRjDCD6r3Dj5p/?format=html&lang=pt� Acesso em: 25 de fevereiro de 2022� BARROS, S�; CAMPOS, P� F� S�; FERNANDES, J� J� S� Atenção à Saúde de Populações Vulneráveis� 1� ed� São Paulo: Manole, 2014� [Minha Biblioteca]� BOCCOLINI, C� S� Morbidade por doenças crônicas no Brasil: situação atual e futura� Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2016� Disponível em: https://saudeamanha� fiocruz.br/wp-content/uploads/2017/11/ PJSSaudeAmanha_Texto0022_2016_v05�pdf� Acesso em: 25 de fevereiro de 2022� BRASIL, Casa Civil� Constituição Federal de 1988� Disponível em: http://www�planalto�gov� br/ccivil_03/constituicao/constituicao�htm� Acesso em: 25 de fevereiro de 2022� BRASIL, Casa Civil� Decreto nº 7508, de 2011� Disponível em: http://www�planalto�gov�br/ ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7508� htm� BRASIL, Casa Civil� Lei Complementar nº 141, de 2012� Disponível em: http://www�planalto� gov�br/ccivil_03/leis/lcp/lcp141�htm� BRASIL, Casa Civil� Lei nº 8080,de 1990� Disponível em: http://www�planalto�gov�br/ ccivil_03/leis/l8080�htm� Acesso em: 25 de fevereiro de 2022� BRASIL, Casa Civil� Lei nº 8142, de 1990� Disponível em: http://www�planalto�gov�br/ ccivil_03/leis/l8142�htm� Acesso em: 25 de fevereiro de 2022� BRASIL� Conselho Nacional de Secretários de Saúde – (CONASS)� Sistema Único de Saúde� Brasília: CONASS� 2011� Disponível em: https://www�conass�org�br/bibliotecav3/pdfs/ colecao2011/livro_1�pdf� Acesso em: 25 de fevereiro de 2022� BRASIL� Ministério da Saúde� ABC do SUS: Doutrina e princípios� Brasília: Ministério da saúde� 1990� Disponível em: http://www�pbh�gov� br/smsa/bibliografia/abc_do_sus_doutrinas_e_ principios�pdf� Acesso em: 25 de fevereiro de 2022� BRASIL� Ministério da Saúde� Conselho Nacional de Saúde� O desenvolvimento do Sistema único de Saúde: avanços, desafios e reafirmação dos seus princípios e diretrizes� 2� ed� Brasília: Ministério da Saúde� 2003� Disponível em: https://bvsms�saude�gov�br/bvs/publicacoes/ desenvolvimento_sus�pdf� Acesso em: 25 de fevereiro de 2022� BRASIL� Ministério da Saúde� Política Nacional de Atenção Básica� Brasília: Ministério da Saúde, 2006� Disponível em: https://bvsms�saude�gov� br/bvs/publicacoes/politica_nacional_atencao_ basica_2006�pdf� Acesso em: 25 de fevereiro de 2022� BRASIL� Ministério da Saúde� Portaria de Consolidação nº 02, [s� d]� Disponível em: https://bvsms�saude�gov�br/bvs/saudelegis/ gm/2017/MatrizesConsolidacao/Matriz-2- Politicas�html� Acesso em: 25 de fevereiro de 2022� BRASIL� Ministério da Saúde� Portaria nº 2436, de 2017� Política Nacional de Atenção Básica� Disponível em: https://bvsms�saude�gov�br/bvs/ saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017�html� Acesso em: 25 de fevereiro de 2022� BRASIL� Ministério da Saúde� Portaria nº 2488, de 2011� Política Nacional de Atenção Básica� Disponível em: https://bvsms�saude�gov�br/bvs/ saudelegis/gm/2011/prt2488_21_10_2011�html� Acesso em: 25 de fevereiro de 2022� BUSATO, I� M� S� Epidemiologia e processo saúde-doença� 1� ed� Curitiba: Intersaberes� 2016� [Biblioteca Virtual]� CAMPOS, K� F� C�; MARQUES, R� C�; CECCIM, R� B�; SILVA, K� L� Educação permanente em saúde e modelo assistencial: correlações no cotidiano de serviço na Atenção Primária à Saúde� Revista da Rede APS, 1(2): 132-140, 2019� Disponível em: https://apsemrevista�org/aps/article/ view/28/26� Acesso em: 25 de fevereiro de 2022� GIOVANELLA, L� Atenção básica ou atenção primária à saúde? 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