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EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 1 Tutorial 2 – mod XIV Puerpério normal e puerpério patológico Puerpério normal - Rotinas - Período que se inicia logo após o parto e se estende até 6 semanas. - Período em que ocorre o retorno dos órgãos reprodutivos ao estado pré-gravídico. Pode ocorrer dentro da normalidade ou com sintomas que deverão ser reconhecidos e tratados para um adequado desfecho físico e psicológico. Puerpério imediato: 1-10 dia Puerpério Tardio: 10-45 dia Puerpério Remoto: além dos 45 dias MODIFICAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS Útero - Reduz 1000g após o parto imediato e 500mg ao final da primeira semana. - Encontra-se globoso, entre sínfise púbica e cicatriz umbilical, com aspecto lenhoso. Depois de 2d, diminui consistência, fundo uterino palpado na cicatriz umbilical. - Após 3 ou 4d, redução acentuada, 2sem, fundo uterino palpável na cavidade pélvica, pesando 200g e após 3od, 100g. - O colo uterino, em 12h perde o aspecto; 2d após, permite passagem de um dedo ao toque e em 1sem, está fechado. Lóquios - Eliminação do conteúdo uterino após o parto. - Lóquio: decídua externa remanescente que sofre necrose e é eliminada. Decídua interna fica intacta para regenerar endométrio. Lóquios vermelhos (rubra): sangue vivo eliminado nos primeiros dias após o parto. Lóquios serosos (fusca): 3-4d após o parto, eliminação fica descorada. Lóquios claros (alba): em torno do 10ºd após o parto, eliminação esbranquiçada. - Se Lóquios abundantes ou fétidos, e se associados à subinvolução, pode estar associado a retenção placentária ou infecção pélvica. Vagina e vulva - Rápida cicatrização. Se existirem lacerações, cicatrizarão em 4-5d. - Mucosa vulvovaginal perde as camadas externas e permanece atrofiada, permitindo a visualização dos vasos das camadas profundas, numa coloração avermelhada. - Perdura até proliferação tecidual e retorno dos níveis de estrogênio. Sistema circulatório - Após o parto, DC e volume plasmático 10% aumentados, com aumento da resistência vascular periférica. - Volta ao estado pré-gravídico em 2sem. - Após o parto, reduz peso materno pela eliminação da água retida na gestação. - Pressão melhora, melhoram as varizes vulvares, edemas em MMII e hemorroidas. Trato urinário - Pode haver hiperdistensão e esvaziamento incompleto, dilatação de ureteres e outros. São fatores que levam a ocorrência de infecções, pensadas sempre que a puérpera apresentar febre pós-parto. Ovulação - Na pcte que não amamenta, o retorno ocorre em torno de 6-8sem após o parto. Os ciclos menstruais nesse período são geralmente anovulatórios. - Não se deve esperar o início da menstruação para iniciar a ACO. Mamas - Após o parto, os seios começam a sequestrar colostro, um líquido amarelo-limão. - Colostro contém mais minerais e proteínas, menos açúcar e gordura. - Secreção de colostro por 5d, com conversão gradual para leite maduro nas 4sem seguintes. - Há IgA que pode oferecer proteção para o RN contra patógenos entéricos. Além de complemento, macrófagos, linfócitos, lactoferrina, Lactoperoxidase e lisozimas. - Prolactina essencial para a lactação. Na medida que o bebê faz sucção, aumentam seus níveis. Descida do leite pode ser provocada até pelo choro e inibida por medo ou estresse. - Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda amamentação exclusiva até 6m, continuando com amamentação e introdução alimentar após esse período. Contraindicações da amamentação: Infecção materna por AIDS Mãe positiva para vírus linfotrópico ou brucelose Lesões herpéticas mamárias Varicela Tuberculose ativa Hepatite materna Abuso de substâncias Ingestão de álcool, tabagismo, medicamentos maternos, doenças metabólicas nas crianças. - Para transferência do leite é feito a coordenação entre sucção e deglutição. Deglutição audível é reconfortante para uma transferência bem-sucedida. - A única avaliação viável da ingestão infantil é a comparação dos pesos antes e depois da alimentação e o crescimento ao longo do tempo. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 2 - Os problemas mais comuns da amamentação no período pós-parto são a ingestão inadequada de leite pelo lactente, dor no mamilo e/ou mama e infecções de mama. ASPECTOS CLÍNICOS DO PUERPÉRIO Cuidados na primeira hora pós-parto - Deve-se observar o sangramento vaginal com palpação uterina para se afastarem quadros de hemorragia que podem ocorrer por hipotonia uterina, lacerações de colo e vagina, ruptura uterina ou restos placentários. Cuidados no alojamento conjunto Controle dos sinais vitais: puérperas poderão ter elevação de temperatura como início de uma infecção ou de um quadro de ingurgitamento mamário. Palpação uterina: palpado para sinais de subinvolução, redução na consistência e mobilidade e aumento da dor, cogitando-se endometrite, principalmente se associada a sinais de febre. Lóquios: quantidade, cor e alterações do cheiro. Cólicas MMII: a deambulação precoce deve ser estimulada, pois favorece função vesical e o bom funcionamento intestinal, reduzindo risco de TVP e EP. Episiorrafia: Patógenos mais frequentes associados à flora vaginal ou urogenital: Streptococcus, Staphylococcus e Enterococcus, bacilos gram – e anaeróbios. Infecção superficial de episiotomia Infecção de fáscia superficial Fascite necrosante Mionecrose Ferida operatória: incidência de infecção na ferida é 3- 15%. Se faz profilaxia, risco diminui para menos de 2%. Imunizações: pcte Rh – com feto Rh+ deve receber anti- D 72h após nascimento. Cefaleia pós-punção: tontura, náuseas, vômitos, distúrbios visuais, rigidez de nuca e sintomas auditivos. ORIENTAÇÃO NA ALTA HOSPITALAR Anticoncepção - Discutir com o casal sobre o planejamento familiar. Minipílula: progesterona. Se usado junto com a amamentação, eficácia de ~100%, sem risco de alterar produção do leite. - Iniciado logo após alta hospitalar ou de preferência 4sem após nascimento. - Se diminuir frequência da mamada, eficácia diminui. Preservativo: evita contato do sêmen Ph elevado com mucosa vaginal atrofiada, causando um desconforto. DIU: de cobre ou com progesterona. Inserido 8-12sem após nascimento, com involução do útero, mas poderia ser inserido logo após dequitação na cesariana. - Se parto vaginal, maior % de expulsão imediata, desencorajando seu uso nesse tipo de parto. O mesmo não acontece na cesariana. Ligadura tubária: não é permitido no período do parto ou aborto, exceto nos casos de comprovada necessidade. Analgesia - Para pctes com episiorrafia, paracetamol é suficiente. - Para partos mais laboriosos, complicados ou cesariana, pode-se administrar AINE ou até codeína, numa menor dose para suprimir a dor e num período curto. Retorno às relações sexuais - Recomendação de que após duas semanas de puerpério normal com adequada cicatrização e desejo da pcte. - Muitas mulheres podem ter diminuição do desejo sexual, por ajustes hormonais, mudança de papel social, satisfação marital, humor, fadiga, amamentação, readaptação ao trabalho. Transtornos psiquiátricos pós-parto - O puerpério é uma fase de profunda alteração no âmbito social, psicológico e físico da mulher, sendo uma época de ↑ dos riscos para o aparecimento de transtornos psiquiátricos. Assim, o perfil psicológico da mulher no puerpério caracteriza-se por uma série de sentimentos que variam desde a euforia à depressão e são traduzidos em reações diversificadas. - Sensações como incapacidade, medo, sensação de mutilação do seu corpo devido ao processo gravídico - As alterações do ritmo circadiano e do humor são fenômenos comuns e transitórios, por isso o suporte psicológico e familiar à mãe é indispensável, sendo que raramente é necessário medicar a pcte. Porém, a persistência ou o agravamentodestes exigem uma abordagem especializada por psiquiatra. - Etiologias: fatores orgânicos ou hormonais, psicossociais e predisposição feminina. - Hormonais: ↓ acentuada da progesterona e estradial, ↓ do cortisol sérico. - Psicossociais: estresse. Disforia Pós-Parto (“Blue symdrome” ou “Maternity blue”) - Ocorre em aproximadamente 60% das puérperas, e se caracteriza por alterações do humor transitórias, benignas e autolimitadas. - Apesar do choro fácil e da tristeza, a puérpera afirma gostar do RN e ter vontade de amamentar, o que diferencia de depressão pós-parto. - Quadro de início no 3 dia após o parto e desaparece espontaneamente por volta do 14 dia. - Raramente evolui para um quadro de depressão maior. Depressão pós-parto - Pós-parto é um período de alto risco para a ocorrência de episódios ansiosos e depressivos. - Nos primeiros dias após o parto, as mães podem apresentar sintomatologia de blues pós-parto. - Fadiga, ansiedade, sono desordenado e mudança de humor. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 3 - Depressão pós-parto: mudança de humor, ansiedade, irritabilidade, depressão, pânico e fenômenos obsessivos. - Os 1ºs sintomas aparecem entre 4ª e 6ª semana pós- parto. - Depressão pode começar a partir do momento do nascimento, ou pode resultar de uma evolução contínua desde a gravidez. A intensidade dessa patologia é um fator de risco que pode perturbar o desenvolvimento neonatal. - Pode ocorrer em 10-20% das mulheres após o nascimento de seus filhos. - A alteração do humor no puerpério geralmente é autolimitada e ocorre por problemas na adaptação da mãe ao nascimento do bebê. São fatores de risco: História de depressão em gestações ou puerpérios anteriores Gestação indesejada Eventos traumáticos na gestação e no parto Baixo suporte social Baixo nível socioeconômico Adolescência História de Sd pré-menstrual com sintomas depressivos Presença de transtornos de humor ou mentais prévios Tabagismo ou drogas ilícitas TTO: aconselhamento com terapeutas treinados, grupos de ajuda e/ou medicações antidepressivas para o período da amamentação. - Amitriptilina, fluoxetina, paroxetina (em último caso). Carbonato de lítio é contraindicado no 1º trimestre por risco de malformação, sendo liberado no 2º e 3º trimestre. Carbamazepina tem um risco, mas é a melhor opção para o 1º trimestre. - Antipsicótico: risperidona, quetiapina, haloperidol, ... - Benzodiazepínicos: alprazolam, clonazepam. - Atualmente, acredita-se que sertralina e paroxetina sejam as melhores alternativas. Infecções no pós-parto - Febrasgo MORBIDADE FEBRIL, ENDOMETRITE E SEPSE PUERPERAL - Infecção genital pós-parto é uma das principais causas de mortalidade e morbidade materna no mundo e no Brasil. - Dados apontam que o n° vem crescendo pelo elevado n° de cesarianas, obesidade materna, gestações em mulheres mais velhas. - As bactérias estão presentes em quase todo o corpo e o aparelho genitourinário representa 9% do total, sendo que na maioria, não é uma microbiota de fácil cultura. - Microbiota é diferente entre gestantes e não gestantes na composição e estabilidade. ¼ das histerectomias tinham no útero microrganismos como Gardnerella vaginalis, Enterobacter e Streptococcus agalactie. - O sistema imunológico materno sofre alterações profundas na gestação e isso aumenta predisposição a infecções. EPIDEMIOLOGIA - A epidemiologia não é muito bem compreendida. - A infecção afeta 5-7% das mulheres pós-parto, com taxas elevadas para mulheres com cesariana. MORBIDADE FEBRIL PUERPERAL - Presença de temperatura, de no mínimo 38°C por 2 dias consecutivas, entre os primeiros 10 dias pós-parto, em pelo menos quatro tomadas diárias por via oral. - Sítios possíveis de infecção pós-parto: Mastite Não infecciosa: estase do leite pelo esvaziamento incompleto ou a má pega do RN do mamilo. Infecciosa: desde a inflamação focal até o acometimento total da mama e pode incluir sintomas sistêmicos como febre, mal-estar geral, astenia, calafrios e prostração, podendo formar abscesso e septicemia. - Mastite geralmente começa com uma lesão de pele, para baixo do mamilo e aréola, permitindo a entrada de bactérias que vêm da flora da pele. - O germe mais frequente é o Staphylococcus aureus, seguido de outro e mais raramente E. coli ou Estreptococcus. Se tiver suspeita de abscesso, estabelece diagnóstico. - TTO é múltiplo e inclui ATV, esvaziamento regular da mama, orientação sobre amamentação e drenagem de abscesso. - Se for unilateral, amamentação começa pela mama afetada, pois drenará mais leite e facilitará a cura. ATB (doxiciclina ou cefalosporina) por 7-14d. Infecção urinária - Fatores de risco: sondagem vesical, cesariana ou parto operatório, anestesia peridural ou IMC elevado. - Infecção renal: febre, seguido por dor no ângulo costovertebral, náuseas e vômitos. - TTO: individualizado com base nos sintomas, fatores de risco e urocultura. - Nitrofurantoína - Sulfa+trimetropima - 2ª Linha: tratamento da pielonefrite aguda puerperal. Pneumonia puerperal - Etiologia é múltipla, bacteriana, viral, fúngica e química. Endometrite puerperal - Infecção da decídua. - OMS define a sepse como infecção do trato genital em qualquer momento entre o início da ruptura das membranas ou parto até 42º dia pós-parto, onde a febre e um ou mais sintomas estão presentes: Dor pélvica EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 4 Secreção vaginal anormal Odor anormal dos Lóquios Atraso na redução do tamanho do útero - Se não tratada adequadamente, pode evoluir para miométrio e paramétrio (endometrite e parametrite). - Os organismos bacterianos do trato genital inferior podem ascender para dentro do útero e causar infecção. - Se pctes febris após o parto, apesar de ATB, investiga- se para ver se há abscesso pélvico, miometrite ou presença de infecções em locais não genitais, como pneumonia, gaze ou instrumento cirúrgico deixado na cavidade. - Os calafrios que acompanham a febre sugerem bacteremia e endotoxemia. - Infecções nosocomiais: adquiridas no hospital e podem vir do ambiente hospitalar ou da própria flora da pcte. - Infecções exógenas: vem de contaminação externa - Infecções endógenas: flora mista que coloniza o próprio aparelho genital da mulher. FATORES DE RISCO - Cesariana é a primeira e mais frequente causa, especialmente se for feita em TP, aumenta 5x se comparada com cesárea fora do TP. - Se não realizada a profilaxia, número triplica. - Fatores de risco pré-operatórios para a infecção cirúrgica: diabetes, obesidade, uso prolongado de esteroides sistêmicos, tabagismo e infecções preexistentes, como infecção intra-amniótica ou vaginose bacteriana. - Paro operatório ou traumático, retenção de fragmentos placentários no útero e a hemorragia pós-parto são outros fatores de risco. - Colonização do TGI com estrepto do grupo B, clamídia, micoplasma, ureaplasma e Gardnerella estão associados com maior risco de infecção pós-parto. - Anestesia geral, parto por cesariana para gestação múltipla, idade materna jovem e nuliparidade, indução prolongada do TP, obesidade e líquido amniótico com mecônio também são fatores de risco. PATOGÊNESE - A infecção puerperal após parto vaginal inicia e envolve local de implantação da placenta, decídua e miométrio adjacente ou lacerações cervicovaginais. - Pode progredir para órgãos adjacentes e ser o início do foco que determina septicemia. TRATAMENTO e ESCOLHA DE ATB - Se endometrite ficar restrita ao útero após PV, TTO com agente antimicrobiano oral. Amamentação ajuda no TTO da endometrite por estimulação do útero. - Para infecções moderadas a graves, a terapia com antimicrobiano é indicada. - A resposta terapêutica costuma ser boa e a maioria das pctesentre 48-72h do início do TTO já estão sem sintomas como a febre. - Gentamicina, associada com clindamicina. Se a mãe amamenta, substitui clinda por metronidazol. SEPSE PUERPERAL - Mesmo se fazendo TTO adequado, a mortalidade por sepse grave ou choque séptico é de ~40%, podendo exceder 50% em pctes mais graves. - Síndrome da resposta inflamatória sistêmica: resposta inflamatória do organismo a uma ampla variedade de insultos (infecções, alergias graves, hipóxia, etc) - Sepse grave: sepse com critérios clínicos e labs de disfunção orgânica e hipoxemia tecidual. - Choque séptico: sepse grave com presença de pelo menos um dos critérios: - PAS < 60 (ou <80 se pcte previamente hipertenso) - Uso de vasoconstritores para manutenção da pressão-alvo. Quadro infeccioso não obstétrico - PAC, ITU, colecistite, HIV e malária Quadro infeccioso obstétrico - Causas da gestação (corioamnionite, tromboflebite pélvica séptica, aborto infectado) - Causas do parto (endometrite pós-parto, infecção da episiotomia, infecção da parede ou do útero pós-cesárea) - Causado pela realizada de procedimentos invasivos. - Geralmente são quadros de origem polimicrobiana, sendo as Gram-negativas as mais frequentes. Ex: Escherichia coli, Streptococcus do grupo B, Staphylococcus aureus, bactérias anaeróbicas e Listeria monocytogenes. - O Streptococcus do grupo A é o principal patógeno ligado à mortalidade materna por sepse, representando 50% dos casos. FISIOPATOLOGIA - Gravidade depende da virulência do organismo agressor e fatores relacionados ao hospedeiro, como idade, genética, local de infecção e presença de comorbidades. - Acredita-se que as endotoxinas de bactérias Gram- negativas são as responsáveis pelo choque séptico. - A ativação da resposta imune se dá pela liberação das endotoxinas da parede celular de gram – e exotoxinas de alguns gram +. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 5 - A endotoxina ativa cascata de coagulação, fibrinólise, do complemento e dos sistemas de prostaglandinas. Isso pode levar a coagulopatia e liberação de mediadores por leucócitos, que fazem: Dano endotelial Agregação plaquetária e intensificação da cascata da coagulação Liberação de histamina o Aumento permeabilidade capilar o Diminuição volume plasmático o Vasodilatação o Hipotensão - A fase inicial do choque séptico é caracterizada por: Diminuição da RVP Aumento do DC Aumento do consumo de O2 Diminuição relativa do volume intravascular Presença de shunts arteriovenosos - Com a progressão do quadro, a hipoperfusão resulta em acidose láctica, piora perfusão tecidual (cianose de extremidades) e disfunção orgânica. - O desequilíbrio entre pró e anti-inflamatórios dificulta o restabelecimento da pcte, tornando-a suscetível à outras infecções. DIAGNÓSTICO - Anamnese e exame físico são imprescindíveis para avaliar fontes de infecção. - Exames, se necessário, devem ser realizados à beira do leito, sobretudo os exames de imagem (preferência de RX e USG). - Obtenção de pelo menos duas hemoculturas (sangue periférico e uma de cateter central), além de culturas de prováveis sítios infecciosos (urina, líquor, secreções do trato respiratório, pontas de cateteres) antes de iniciar ATBterapia. MANEJO – ATBIOTICOTERAPIA - Pctes muito graves, que devem ser internadas em centro de terapia intensiva e ficar sob cuidados de equipe multidisciplinar para obstetra auxiliar no diagnóstico do local da infecção e se indicado, fazer o tto cirúrgico do foco infeccioso. - ATB deve iniciar na primeira hora após reconhecimento da sepse grave e choque séptico; o atraso pode levar a morte. - Sendo a maioria das infecções pélvicas obstétricas causadas por polimicrobianos, para isso, faz-se associação de ampicilina ou penicilina, gentamicina e metronidazol. - Pode-se administrar vasopressores (norepinefrina e dopamina). - Ativação precoce da vitamina C e as fibras fibrinolíticas. - Ativar protocolo quando sangramento ativo ou um dos seguintes achados: PAS < 90, ph < 7,1, temp corporal < 34C... PROFILAXIA DE TVP - Quando há contraindicação para heparina, faz-se manobras não farmacológicas: como a compressão de panturrilhas. CONCLUSÃO Lavar as mãos Evitar exames vaginais desnecessários Assepsia de pele e vagina Técnica cirúrgica adequada ATB preventivos nas cesarianas eletivas e emergenciais Pré-natal adequado Hemorragia pós-parto - É uma das principais causas de mortalidade materna em todo o mundo. - Definida e diagnosticada clinicamente como um sangramento excessivo (> 500ml parto vaginal) ou > 1000ml (parto cesárea) que torna a pcte sintomática- vertigem, síncope- e/ou resulta em sinais de hipovolemia (hipotensão, taquicardia e oligúria). - Dividida em: Primária/Precoce/Imediata: ocorre nas primeiras 24h após o parto. Secundária/tardia: após as 24h até 6-12 semanas após o parto. - Dx é clínico, baseado na avaliação da perda sanguínea e ameaça da estabilidade hemodinâmica da puérpera. CAUSAS - A hemostasia uterina depende principalmente da contração miometrial e da produção de prostaglandinas, e em menor grau, da cascata de coagulação. Assim, as causas são aquelas que irão afetar esses fatores, as quais: Hipotonia e atonia uterina Laceração do trajeto Retenção placentária ou fragmentos Placentação anormal Rotura uterina Inversão uterina Distúrbios da coagulação - Em ordem de causas principais: atonia uterina, laceração de trajeto, retenção placentária e coagulopatia. OBS: regra dos 4T: tono, trauma, tecido e trombina FATORES PREDISPONENTES EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 6 Multiparidade Placentação anômala Trabalho de parto prolongado Trabalho de parto de evolução muito rápida Anestesia legal (↑ relaxamento uterino) Infiltração miometrial por sangue (útero de Couvelaire) Miométrio mal perfundido Sobredistensão uterina Cesárea prévia e atual Parto vaginal operatório Episiotomia Tempo prolongado do terceiro período Uso de ocitocina no primeiro período Atonia uterina prévia DPP Corioamnionite Embolia amniótica Níveis pressóricos maternos PREVENÇÃO - A OMS recomenda conduta ativa no momento da dequitação com uso de 10 unidades de ocitocina IM logo após a expulsão fetal. DIAGNÓSTICO - Observação e mensuração do sangramento. - Reconhecimento dos sinais e sintomas de hipovolemia, como tonturas, fraqueza, palpitações, inquietação, confusão, palidez, pele fria, sudorese, taquicardia, hipotensão, oligúria, anúria, saturação abaixo de 95%. - Definido o diagnóstico, é preciso identificar a causa e planejar a conduta a cada caso. COMPLICAÇÕES - Anemia, fadiga crônica, choque hipovolêmico, CIVD, IRA, insuficiência hepática e respiratória. - Síndrome de Sheehan: necrose hipofisária isquêmica. Causada principalmente pela atonia uterina e por DPP. Isso ocorre devido a hipóxia em função dos espasmos das artérias pituitárias, envolvendo: agalactie, amenorreia, atrofia genital, hipotireoidismo e insuficiência adrenal. Hipotonia - Atonia Uterina - Perda da eficiência da manutenção da contração miometrial. É a principal causa de hemorragia e choque hipovolêmico após o secundamento. - Uma das principais indicações de histerectomia pós- parto. Fatores de risco: miométrio mal perfundido (hipotensão), ↓ contração miometrial (leiomiomas uterinos e multiparidade), anestesia geral (↑ relaxamento uterino), sobredistensão uterina (gemelaridade, polidramnia e macrossomia), trabalho de parto prolongado ou/e com evolução muito rápida, atonia uterina em gestação prévia, corioamnionite. - Dx: sangramento vaginal que não é, necessariamente, volumoso. Útero suinvoluído acima da cicatriz umbilical, flácido e depressível.- Medidas gerais: acesso venoso calibroso de SF 0,9%, cateter vesical de demora, reserva de hemoderivados, massagem do fundo uterino com a mão esquerda associada ao toque vaginal e mão direita à procurar realizar elevação e anteversoflexão do útero (Manobra de Hamilton). - Tratamento farmacológico: Uterotônicos: promovem a contratilidade uterina. Ocitocina: tratamento de primeira linha. IV. Metilergonovina: medicamento de segunda linha. IM. Promove contração uterina generalizada e tetânica. Não deve ser usada em hipertensas ou cardiopatas. Misoprostol: agente uterotônico prostaglandínico. VO ou via retal. - Tratamento cirúrgico: indicado em casos de falhas em medidas previamente descritas. Revisão do canal de parto: obj de inspecionar o colo uterino e vagina, detectar e tratar possíveis lacerações. Sutura de B-Lynch: sutura uterina c/ fio absorvível (catgut cromado ou vicryl), que é usado em casos de atonia não responsiva aos uterotônicos em cesarianas. Vantagem de preservar a fertilidade e evitar histerectomia. Ligadura das artérias uterinas Ligadura das artérias hipogástricas: feita após a bifurcação das ilíacas Embolização seletiva das artérias uterinas Histerectomia: última opção em casos de hemorragia pós-parto de causa uterina. A histerectomia total é necessária em casos de placenta prévia, acreta ou rotura do segmento inferior. Sobredistensão uterina - É um fator de risco para atonia/hipotonia uterina. Ocorre por gestação múltipla ou polidramnia. - O toque revela útero aumentado de volume e discretamente amolecido. - Tratamento: inicialmente uterotônicos (ocitocina). Em casos de evolução para casos de hipotonia/atonia uterina, deve-se adotar as condutas citadas acima. Subinvolução uterina - Útero apresenta volume superior ao esperado. Os lóquios se mantêm vermelhos e o canal cervical entreaberto. - Deve se desconfiar de retenção de restos ovulares EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 7 - Caso não se encontre nenhuma causa específica, o tratamento é a ocitocina. Lacerações no Trajeto - É a segunda maior causa de hemorragia puerperal precoce. - A presença de sangramento persistente em pcte c/ útero contraído, deve levantar a suspeita de lesões traumáticas do canal do parto, principalmente períneo, vagina ou colo de útero. - Principais causas: episiotomia extensa, feto macrossômico, Manobra de Kristeller intempestina ou/e inadequada, parto pélvico operatório (fórcipe). - Tratamento: revisão sistemática do canal de parto, hemostasia imediata e correção das lacerações. - Deve-se explorar manualmente a cicatriz uterina para possível dx e deiscência da cicatriz ou rotura uterina pós- parto. - Medidas gerais e uso de uterotônicos são indicados para controle do estado hemodinâmico da pcte. Retenção Placentária ou de Fragmentos Placentários - Causa hemorragia devido a dificuldade de contração miometrial, gerando involução uterina e consequente impossível regeneração endometrial. Por isso ocorre perdas sanguíneas contínuas, ora escassas, ora abundantes. - A retenção da placenta ou de seus restos pode ocorrer por retenção de cotilédones avuldos, lobo sucenturiado ou acretismo placentário. - Ao exame físico há vários graus de hemorragia, útero discretamente aumentado de tamanho em relação à época do puperpério e canal cervical dilatado. - Dx: USG + exame histopatológico do material obtido (p/ excluir presença de doença trofoblástica, assim como pedir um hCG). - Prevenção: revisão sistemática e rotineira da placenta após a dequitação. - Tratamento: infusão de ocitócitos (p/ estímulo de contração miometrial), após anestesia, mediante a Manobra de Credé ou Curagem (extração manual da placenta) ou curetagem. - Manobra de Credé: mão esquerda apoiada na parede abdominal, mão direita segura o fundo de útero e corrige sua eventual anteflexão. Deve ser realizado 2-3 tentativas, em casos de insucesso, não insistir devido a risco de dequitação incompleta e retenção de cotilédones ou de membranas e inversão uterina e choque. Consiste na compressão do fundo uterino ANTES do desprendimento placentário. - Em falha dessa manobra, faz-se curetagem. Deve ser feita preferencialmente com o pcte sob narcose. A mão direita é introduzida na vagina até penetrar no útero e atingir a zona placentária, utilizando o cordão umbilical como guia. A mãe esquerda fica espalmada na parede abdominal em nível do fundo uterino. Inicia-se o descolamento pelo plano de clivagem e insinuam-se progressivamente os dedos em direção acima, até a completa separação de toda superfície placentária. O descolamento deve ser feito com cautela para evitar acidentes e complicações, como hemorragia e inversão uterina. Hematomas - Em alguns casos, a perda sanguínea pode não se exteriorizar e ficar retida na forma de hematoma. - Hematomas mais comuns: vulvoperineais, vaginais, pós- episiotomias e subperitoneais. - Observa-se tumoração de crescimento rápido, não redutível, de coloração azul ou violácea e dolorosa. Se houver infecção da coleção, ocorre febre. - O prognóstico e a conduta dependem do volume de sangue represado. - Em hematomas poucos volumosos, a conduta pode ser expectante, já que a maioria é reabsorvido. Em hematomas volumosos com compressão de órgãos vizinhos e dor intensa, indica-se abertura seguida de hemostasia do vaso sangrante, colocação de dreno e curativo compressivo. - Em confirmações diagnósticas de hematomas intracavitários, está indicado laparotomia para esvazia-lo e laqueadura de vasos sangrantes. Inversão Uterina - Invaginação do fundo uterino, em forma de dedo de luva, que pode alcançar o segmento inferior, ultrapassa-lo e chegar à vagina (inversão parcial- figura B) e surgir fora da vulva (inversão total- figura C). - Complicação rara e que ocorre pela má assistência ao secundamento, com tração exagerada do cordão umbilical ligado à placenta ainda implantada no fundo uterino. - Fatores predisponentes: cordão umbilical excessivamente espesso, placenta firmemente aderida ao útero, multiparidade. - Causas de maior expressão: hipotonia uterina, esvaziamento súbito da cavidade uterina, pressão violenta sobre o corpo da matriz relaxada, tração sobre o cordão umbilical ou sobre a placenta parcialmente aderida, ↑ da pressão abdominal, adelgaçamento patológico de paredes uterinas. - Clinicamente a inversão uterina se apresenta com dor aguda e hemorragia precoce, levando ao choque em minutos. O choque é classicamente de origem neurogênica e pode muitas vezes não ter relação com a perda sanguínea. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 8 - O primeiro sinal de inversão é o fundo uterino deprimido (figura A), com a evolução da involução, desaparece o corpo total ou parcialmente do abdômen, com posicionamento de massa uterina na vagina ou fora dela. - Condições clássicas para dx: Fuga da matriz na palpação abdominal + Choque + Hemorragia. - Tratamento: 2 acessos venosos distintos (um para perfusão de solução salina e outro para hemotransfusão) e correção manual imediata da inversão uterina, de preferência sob anestesia geral. - Caso a placenta ainda esteja aderida, deve-se retira-la e posicionar a palma da mãe no centro do fundo de útero e pressiona-lo para cima Manobra de Taxe (efetiva em 90% dos casos). - Durante essa manobra, devem ser empregados uterolíticos (betamiméticos ou sulfato de magnésio) c/ o obj de reposição do órgão na pelve materna. Após o sucesso da manobra, suspende-se esse fármaco e administra ocitocina em altas doses p/ manter o útero em sua posição. - No insucesso da manobra laparotomia (tração do fundo uterino até sua posição original utilizando pinça Allis). Esse procedimento é chamado Huntington. Ocasionalmentesuturas de tração podem ser uteis. - Após reposicionamento uterino, a perfusão de ocitocina deve ser mantida e está indicado tamponamento vaginal durante algumas horas.
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