Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 1 Tutorial 3 – mod XIV Amamentação, fisiologia da lactação Anatomia e fisiologia da mama ANATOMIA E DESENVOLVIMENTO DAS MAMAS - O desenvolvimento das glândulas mamárias nas mulheres se inicia na puberdade e só atinge plenitude caso a mulher engravide e amamente. - Crescimento da tumescência areolar como resposta à atividade ovariana na puberdade. Após ~2 anos, ocorre a menarca e o crescimento das mamas se modifica com o aumento do componente de gordura e aplainamento da aréola. - Limites anatômicos da mama adulta: 2º ou 3º arco costal em cima e 6ª ou 7ª costela embaixo. Posteriormente à glândula, estão os músculos peitorais onde o tecido conjuntivo se fixa e dá sustentação às glândulas. - A mama adulta é formada por 15-20 lobos subdividem em lóbulos alvéolos (estruturas secretoras com células que produzem o leite) desembocam em dúctulos ductos maiores ductos principais forma por dilatação o seio galactóforo, que participa na sucção das mamas pelo neonato e se exteriorizam na pele por pequenos orifícios. - Entre lóbulos e ductos, as mamas são preenchidas por tecido gorduroso e conjuntivo. Revestidos por células mioepiteliais que têm função contrátil, auxiliando na mobilização do leite dos alvéolos para os dúctulos. MAMOGÊNESE E MODIFICAÇÕES GRAVÍDICAS - Aumento do tecido glandular, aumento do volume mamário. - Progesterona diferencia as células terminais em células acinosas. - A prolactina torna essas células acinosas diferenciadas em células maduras, capazes de produzir os diferentes componentes do leite. - Desenvolvimento vascular, contribui para veias visíveis (rede de Haller). - Mudança na coloração e pigmentação das aréolas mamárias. Desenvolvimento das glândulas sebáceas do mamilo (tubérculo de Montgomery) que irão lubrificar e proteger a pele local. FISIOLOGIA DA PRODUÇÃO E EJEÇÃO DO LEITE Lactogênese - Na gestação, estrogênio e progesterona agem nas glândulas mamárias deixando-as prontas para lactar, estimulando alvéolos, ductos lactíferos, entre outros. Hormônio Lactogênico placentário, HCG e prolactina também participam do crescimento glandular na gestação. - Apesar dos níveis de prolactina estarem elevados durante a gravidez, a mulher não secreta leite graças a inibição pelo hormônio Lactogênico placentário. - Com o nascimento e a saída da placenta, os efeitos inibitórios do progestogênio e Lactogênico placentário sobre a prolactina acabam e a secreção de leite aumenta (lactogênese fase II). - Além disso, há síntese de ocitocina que atuará na ejeção (saída) do leite. - Entre o 3-4 dia pós-parto ocorre a “descida do leite” ou “apojadura”, sendo essa etapa independente da sucção do mamilo pelo bebê. Isso ocorre, pois, essa fase está sob controle hormonal, e mesmo que não haja sucção (ex: feto morto, bebês filhos de mães HIV) ela ocorrerá. - Em seguida, lactogênese fase III: manutenção da produção e ejeção do leite sob total dependência da sucção do mamilo pelo bebê e esvaziamento das mamas. Ou seja: QUANTO MAIS O LACTENTE SUGA, MAIS LEITE SERÁ PRODUZIDO. - Pico de secreção da prolactina está relacionado com o intervalo entre o parto e a primeira mamada e a frequência das mamadas consecutivas. - Quanto maior o intervalo entre o parto e a primeira sucção, menor o pico inicial e secreção de prolactina, menor produção láctea. - A secreção de leite aumenta de 100 ml/dia no início da lactação, para 600 ml/dia em média por volta do 4º dia. - A prolactina: Estimula síntese de RNA para produzir proteínas específicas do leite Induz enzimas catalisadoras Modifica a secreção de colostro para leite propriamente dito em ~72h. (Apojadura ou descida do leite, coincidindo com ingurgitamento mamário típico desse período) Lactopoese e galactocinese - Lactopoese são eventos que garantem produção e ejeção do leite. - Galactocinese é o mecanismo que descreve a excreção do leite durante a sucção das mamas pelo neonato. - Produção e ejeção controlados por arcos reflexos neurais, iniciando em terminações nervosas no complexo areolopapilar. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 2 - O estímulo leva informações por vias aferentes (T4 e T6) com liberação de ocitocina e prolactina pela hipófise. - A ejeção do leite é realizada pelo estímulo da ocitocina nas células mioepiteliais, que se contraem e causam a excreção láctea. Além disso, promove ereção da papila e compressão do seio lactóforo, colaborando para a ejeção do leite e para a involução uterina através de contrações. - O reflexo da ejeção é mais complexo, pois é mais suscetível a influência de fatores psicoemocionais e ambientais. Situações de desconforto, vergonha, ansiedade e dor inibem esse reflexo, reduzindo a quantidade de leite expelida. - Há uma substância inibitória da produção de prolactina, cuja liberação está relacionada ao eixo neuroendócrino, sujeita a modificações dependentes do estímulo emocional. Na sucção, o estímulo dos nervos diminui essa substância, permitindo secreção de prolactina. - Amamentação livre demanda. - O aumento dos intervalos entre mamadas ou sucção ineficiente acarreta estase láctea e redução do fluxo vascular. Isso destrói tecido mamário e substitui por tecido e gordura. Isso se completa após 3 meses da suspensão do aleitamento. COMPOSIÇÃO DO LEITE - É armazenado no sistema canalicular das mamas e excretado no momento da sucção. - Distinguem-se três tipos de secreção láctea: colostro, leite de transição e leite maduro. - O colostro é um fluido cremoso, amarelado, mais denso que o leite, com muita proteína e pouca gordura. - Sua excreção dura ~72h, podendo variar de 1-7d. É de fácil digestão para o RN, contendo grande quantidade de imunoglobulina e células leucocitárias e epiteliais, absorvidas pelo TGI e protegidas da digestão ao se ligarem a inibidores de enzimas. - Não existe leite fraco. O leite do início da mamada é mais ralo porque contém mais água, açúcar e fatores de proteção. A qualidade do leite não está relacionada ao tipo de alimento que a mãe come. Mamar errado faz a maioria das mulheres pensarem que o seu leite é fraco e isto não é verdade. - Após a apojadura, o leite materno aumenta qtd de carboidrato e gorduras em sua composição, com redução de proteínas. - Leite de transição entre 6-10d e até 2ª sem. Menos Ig e vit lipossolúvel. Aumenta vit hidrossolúvel, lipídio e lactose. - O leite maduro começa a ser produzido a partir da 2ª quinzena pós-parto. Mais lipídio e lactose, menos proteína. - A maior parte da gordura do leite fica no alvéolo, por isso a importância de esvaziar bem a mama. Teor de lipídeos aumenta até o 3º mês da lactação. - Lactose é o principal carboidrato presente no leite humano. Graças a prolactina, que estimula a ação de enzimas catalisadoras dessa reação, como galactosiltransferase e lactose sintetase. - Mamas tem capacidade de adaptação mediante situações fora do padrão habitual de lactação. Ex.: em multíparas, aumenta a produção de leite conforme demanda. EPIDEMIOLOGIA DO ALEITAMENTO MATERNO Prevalência do aleitamento materno - Era baixa, cresceu, mas ainda não o suficiente. - Regiões brasileiras que possuem Hospital Amigo da Criança ou políticas bem estruturadas de incentivo à amamentação tem maior prevalência de aleitamento materno. Benefícios do aleitamento materno exclusivo - A educação e o preparo de mulheres para a lactação durante o pré-natal comprovadamente contribuem com o sucesso do aleitamento, em especial entre as primíparas. - Recomendação da OMS e MS estabelecem o ideal de aleitamento exclusivo até os 6 meses de vida e complementar até 24 meses de idade ou mais. - Recomendações importantes segundo o Ministério da Saúde, OMS e SBP: Aleitamento materno exclusivo nos primeiros6 meses de vida: não sendo necessário água, chá, suco ou qualquer outro alimento durante esse período. Se for oferecido qualquer outro tipo de alimento à criança durante esse período, o desmame será iniciado. Aleitamento materno complementado de 6 meses- 2 anos de vida: A partir dos 6 meses, o leite materno como alimento único torna-se insuficiente, mas continua sendo importante (fonte de vit. C, A, proteínas, energia e complementos imunes). Não se recomenda nenhum tipo de leite (vaca, cabra, soja etc). O leite materno deve ser mantido, no mínimo, até os 2 anos de idade - Previne diarreia e infecções respiratórias agudas, além de ser responsável por um terço da diminuição da fertilidade observada nas últimas décadas, além de menor risco de CA de mama e neoplasia de ovário. - Há rápida perda de peso materno, quando na amamentação exclusiva, fato que colabora para a prevenção da obesidade e de comorbidades que com ela caminham. - Crianças que recebem leite materno adoecem menos, necessitando de menor n° de atendimentos médicos, hospitalizações e medicamentos, além de diminuir índices de abstenção dos pais no trabalho. Para o Bebê - Composição Nutricional Ideal: leite materno atende às necessidades nutricionais, metabólicas e calóricas, além de ser ideal para o sistema gastrointestinal e renal em amadurecimento. - Prevenção de Doenças: promove redução da mortalidade infantil, reduzindo, em média, 13% das mortes em crianças abaixo de 5 anos. - Diminui mortalidade por doenças respiratórias (50%), e doenças diarreicas (66%): proteção maior quando o aleitamento é exclusivo. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 3 - Reduz probabilidade de ocorrência de distúrbios hidroeletrolíticos secundários (desidratação, hiponatremia etc). - Reduz ocorrência de doenças imunoalérgicas: sibilância recorrente, asma, dermatite atópica. - Reduz ocorrência de doenças crônicas: câncer, leucemia, doença celíaca, Crohn, retocolite ulcerativa, DM, sobrepeso/obesidade, hipercolesterolemia, HAS etc. - Melhora Desenvolvimento Cognitivo - Desenvolvimento da Cavidade Oral: estimula o desenvolvimento de funções orais. O uso de mamadeiras ou chupetas eleva o palato, gerando uma cavidade nasal menor e consequente alterações em respiração nasal e no processo da fala. - Fortalecimento do vínculo afetivo mãe/bebê Para a Mãe - Prevenção de hemorragia pós-parto: o aleitamento imediatamente após o nascimento materno favorece a dequitação placentária, promove involução uterina, perda de peso e hemorragia pós-parto. - Reflexo de Fergussom: sucção do mamilo estimula a liberação de ocitocina pela hipófise anterior, hormônio esse responsável pela contração da musculatura uterina. - Método Contraceptivo: a amenorreia lactacional prolongada pelo aleitamento materno exclusivo ou predominante evita a anemia e o aparecimento precoce da ovulação, gerando maior espaçamento gestacional. Porém, a eficácia concepcional só é feita até os 6 meses após o parto, sendo o aleitamento exclusivo ou predominante e em época de amenorreia. Se houver esses 3 critérios, a eficácia de anticoncepção é de 98%. - Remineralização óssea: reduz fraturas de colo do fêmur no período pós-menopausa. - Redução do risco de câncer de mama e ovário - Proteção contra DM2: mulheres que amamentam, possuem 15% menos incidência de desenvolver DM2 para cada ano de lactação, independente de outros fatores de risco para doença. - Perda Ponderal: gasto energético com aleitamento exclusivo: 704 kcal/dia. - Economia e eficácia: leite materno é bom, barato e limpo. Contraindicações da amamentação DOENÇAS INFECCIOSAS MATERNAS QUE COLOCAM O RN EM RISCO NO ALEITAMENTO - Se o agente infeccioso for altamente virulento, interrompe-se amamentação nas primeiras 24h de tto. HIV: não amamentar HTLV Hepatites: em geral, não traz riscos, exceto na Hep C, mas deve-se conhecer qual a causa da doença para saber os riscos futuros. CMV: leite pode ser congelado a 20°C por 7d ou pasteurizado e então oferecer para o RN Herpes-vírus: não está contraindicado, a não ser que haja lesões herpéticas nas mamas. Nesse caso, interrompe-se até a resolução. Varicela: se infecção no periparto, fazer isolamento em relação ao neonato, que deverá receber Ig. O leite pode ser ordenhado e ofertado ao RN depois dele ter recebido a Ig. Sarampo: curto período de isolamento materno (72h). Leite ordenhado pode ser oferecido ao RN após recebimento de Ig. Doença de Lyme: carrapato. Tuberculose: mãe isolada. Leite pode ser ordenhado e ofertado ao RN. Depois do tto, amamentação pode ser retomada. RISCOS NUTRICIONAIS PARA O ALEITAMENTO - Contraindicações se relacionam com necessidades nutricionais específicas: Galactosemia: RN com intolerância à lactose. Pode ser leve, permitindo ainda o uso do LM ou grave. Fenilcetonúria: aleitamento artificial com leite sem fenilalanina. Doenças metabólicas maternas: lactantes com doença por excesso de cobre (Wilson), devem suspender amamentação pq o tto com penicilamina pode fazer com que esta chegue ao leite humano e RN. RISCOS DA DIETA MATERNA NA AMAMENTAÇÃO - Dieta hipocalórica não contraindica amamentação. Dieta com restrição calórica excessiva não deve ser feita no período do alimento. INIBIÇÃO DA LACTAÇÃO - Indicada quando a amamentação é proibitiva. - Primeira medida a ser instituída é o enfaixamento mamário, que deve ser realizado utilizando-se ataduras largas e elásticas, com compressão intensa sobre as mamas, mas sem restrição ou incômodo respiratório. - Essa medida é responsável por 70-80% da supressão da lactação, devendo ser mantida por 5-10d. Seu uso, aumenta a resposta às medicações. - Bromocriptina (1cp 8-21h por 10-14d) e cabergolina (2cp 0,5 dose única). Complicações da amamentação - Fatores associados a intercorrência: Ansiedade da mãe e da família. Alimentação inadequada da mãe. Doenças maternas como febre, gripe, anemia, infecções e transtornos mentais. Uso de medicamentos que podem interferir na produção do leite materno. Ausência de orientação adequada. Falta de preparação das mamas no pré-natal. Inexistência de alojamento conjunto em maternidades e hospitais. Amamentação com técnica inadequada - tempo de sucção insuficiente com consequente esvaziamento incompleto das mamas, o que impede o estímulo à produção adequada do leite. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 4 Introdução precoce da mamadeira ou alimentação mista - Seu principal efeito é o desmame precoce. Ganho inadequado de peso do RN - Para RN prematuros, o leite da mãe tem mais imunoglobulinas. Aumentar frequência das mamadas ou complementar com leite ordenhado e ofertado por meio de copinho auxilia na nutrição. - Ingestão inadequada do leite: produção insuficiente ou fracasso da criança para extrair o leite, que poderá diminuir a produção de leite. Ingurgitamento mamário - Causado pelo esvaziamento insuficiente das mamas. - A produção excessiva ou hipergalactia pode ocorrer, embora rara, causada pelo desequilíbrio entre produção e secreção de dopamina e prolactina. - Fatores de risco: técnica inadequada de esvaziamento, anomalia anatômica dos mamilos, mamas pendentes, dificuldade do RN e questões emocionais maternas. - Surge mais frequentemente no período de apojadura, entre 1-5d pós-parto, pelo início da produção do leite, ajuste da frequência, duração e demanda. (Ingurgitamento fisiológico) - Ingurgitamento mamário patológico: leite não é drenado de forma suficiente, há aumento da vascularização local com congestão e obstrução linfática - A técnica inadequada gera lesões ou fissuras mamilares, que contribuem para o surgimento de mastite. - Deve-se corrigir as falhas de técnica, amamentarem livre demanda, reduzir intervalos entre, evitar compressa ou produtos tópicos. - Em casos mais graves, pode-se prescrever sintomáticos para aliviar a dor e inflamação e até inibidores da lactação (bromocriptina ou cabergolina), esperando 12h para amamentação e o leite ordenhado nessas 12h deve ser desprezado. Fissuras - Ocorre quando a pega é inadequada, tem ingurgitamento ou com criança com boca pequena que não envolve toda a aréola. - Se a fissura for muito grande, ordenha-se o leite e suspende amamentação por 24-48h. - Além disso, outros fatores contribuem para fissuras: obstrução dos ductos lactíferos, infecções, limpeza exagerada. Causas de desmame precoce - Motivos mais frequentes estão relacionados a queixas de redução ou ausência de leite, rejeição do lactente, trabalho materno, doença materna, dores ao amamentar, problemas na mama e doença da criança. - Retorno das mães às suas atividades de trabalho ou estudo, além da crença de que o aleitamento materno não promove nutrição suficiente aos seus filhos implicam numa diminuição das taxas de aleitamento. - Além disso, as propagandas por parte de empresas do leite de vaca que se diziam maternizadas ou humanizadas desestimulam o aleitamento materno. Além disso, mulheres vaidosas com crenças vaidosas que acreditam que amamentar vai deixar o “peito caído ou com estrias”. - A diferença entre as técnicas de sucção da mama e dos bicos artificiais que possa levar à confusão de sucção e prejudicar a produção do leite. - O trauma mamilar é importante causa de desmame e sua prevenção é primordial, feita por meio de orientações sobre as técnicas de amamentação e os cuidados com os mamilos. - Mamilos planos ou invertidos podem dificultar o começo do aleitamento, mas não o impedem. - A dor e o desconforto levam a lactante a reduzir a frequência e o tempo das mamadas, gerando ingurgitamento mamário, piorando o quadro doloroso. - Outras causas tem relação com aspectos emocionais do vínculo mãe-filho. Lactantes, ao ouvirem o choro do RN ficam frustradas e ansiosas, o que pode inibir produção de ocitocina e dificultar ejeção do leite, fazendo com que as mamas ficasse ingurgitadas e dificultem a prega adequada. Se > ou = a 8: baixo risco de desmame precoce; se < 8, alto risco para desmame precoce. - O tabagismo, além de alterar produção do leite, reduz prevalência de aleitamento materno. Estratégias para evitar o desmame precoce - A sucção precoce da mama pode reduzir o risco de hemorragia pós-parto, ao liberar ocitocina, e de icterícia no RN, por aumentar motilidade GI. - Investimento em promoção educacional sobre importância da amamentação leva ao aumento dos índices de aleitamento materno. Isso ocorreu em: negras, jovens, baixo nível de educação, ... - Outro grupo de alto risco são as lactantes que tem dificuldades físicas e emocionais, como primíparas, mulheres com trabalho de parto longo ou submetidas à EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 5 cesárea, sobrepeso materno, mulher com mamilo plano ou invertido. - O desconhecimento da importância do aleitamento, a promoção inadequada de substitutos do leite e a falta de confiança materna refletem a suspensão da amamentação precocemente. Galactocele - A obstrução de um dos ductos lactíferos, idiopática ou por acúmulo e estase do leite, bloqueia a excreção de leite do ducto com formação de cisto de retenção. - Geralmente não tem infecção, mas pode ser fator que predispõe a ter. Quadro clínico - Nódulo ou cordão fibroelástico doloroso. Diagnóstico - USG demonstra estrutura cística inespecífica. Tratamento - Massagem localizada, revisão das técnicas de amamentação. - Se muito grande, pode ser feito punção aspirativa por agulha fina (agente diagnóstico e terapêutico). Hipogalactia - Hipogalactia é a produção insuficiente de leite materno. Apenas 10% das gestantes tem, de fato. - Principal manifestação é o ganho de peso insuficiente do RN, acarretando suplementação do aleitamento materno com fórmulas lácteas, elevando-se as taxas do desmame. - Se deve a fatores emocionais, associados ou não a elementos físicos da anatomia mamária. Além de fatores biológicos, como distúrbios nutricionais, técnica inadequada de amamentação, alteração anatômica mamária (traumas, cirurgias, queimaduras). Mastites - Condição inflamatória que pode ou não ser acompanhada de infecção. - Quando ocorre no período de aleitamento é chamada de mastite lactacional ou puerperal. - Se não tratado, pode evoluir para abscessos e para sepse. Isso se relaciona com maior n° de internações e tempo de hospitalização, maiores custos e até fatais. - A remoção ineficiente de leite por técnicas inadequadas é o principal fator predisponente para instalação do quadro de mastite. Isso leva a estase, ingurgitamento e lesões que permitem a colonização e infecção dos ductos lactíferos. - Principal agente é o Staphylococcus aureus. Além de estrepto do grupo A e B, E. coli, bacilos gram -. Geralmente, provém da flora nasal e cutânea materna e/ou flora oral do lactente. Incidência e fatores de risco - Varia de 2-33%, mas em geral não ultrapassa 10%. - É mais frequente nas primeiras 7sem após o parto. Cerca de 74-95% dos casos são observados nos primeiros 3meses do período de amamentação. - Recorrência é maior quando se tem história prévia. Abscessos ocorrem em 5-11% dos casos de mastite. Diagnóstico - É clínico, podendo ser complementado com exames bacteriológicos e de imagem. - Dor mamária localizada, na maioria, unilateral, junto com hiperemia e hipertermia. - Exame físico geral: febre, mialgia, anorexia, taquicardia e sinais de bacteremia ou sepse, se mais grave. - No exame das mamas: edema, infiltração e eritema mal delimitado. Presença de massa endurecida com ponto de flutuação sugere presença de abscesso. - Bacterioscopia é útil para orientar diagnóstico etiológico e tratamento. USG contribui para o diagnóstico e tratamento definitivo. Deve-se fazer MMG, se necessário, apenas depois da ausência de sinais flogísticos. Diagnóstico diferencial - Ingurgitamento mamário. Se apresentar febre, não passa de 39°C, limita-se às primeiras 24h pós-parto e ocorre principalmente nas axilas, nem sempre confirmada na medida oral. Tratamento - Medidas de suporte e ATBterapia. - Manter lactação para garantir drenagem láctea. Uso de analgésicos para sintomas, podendo ser analgésico comum, codeína ou AINEs. - ATB: Dicloxacilina, cefalexina ou clinda 6/6h, ou amoxicilina 8/8h. - Caso haja eliminação de pus pelo mamilo ou dor incontrolável, suspende-se o aleitamento usando cabergolina ou bromocriptina. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 6 - Punção com agulha grossa guiada por USG. - Numa evolução desfavorável, sinais de sepse, necrose externa, abscessos volumosos, faz-se drenagem cirúrgica. - Para abcessos superficiais, coloca-se dreno laminar tipo Penrose, exteriorizado por incisão. Para abscessos profundos, usa-se dreno tubular, com contra-abertura. Profilaxia - Profilaxia da estase do leite e de lesões mamárias. - Para mamilos planos e invertidos, faz-se os exercícios de Hoffman. Ocitocina sintética facilita a contração das células mioepiteliais que circundam os alvéolos mamários, facilitando ejeção do leite. DROGAS NA AMAMENTAÇÃO - Muitas mulheres usam medicamentos na lactação, e embora não traga tantos riscos, a associação é causa frequente de desmame precoce ou suspensão do tto. - Pctes prematuros tem imaturidade do desenvolvimento de alguns órgãos. Por exemplo, a imaturidade intestinal pode permitir passagem de substâncias onde a metabolização hepática e excreção renal ficam comprometidas. - Avaliação da concentração e do potencial efeito adverso de determinada droga no leite érealizada por meio da relação entre as concentrações no leite e no plasma maternos ou relação Leite/Plasma. É menor que 1 para a maioria das drogas. - Fármacos seguros: sem efeitos adversos ao lactente. - Fármacos moderadamente seguros: apresentam efeitos pouco adversos pouco significativos. - Fármacos pouco seguros: existe evidência de risco para o lactente. Deve-se avaliar risco x benefício. - Fármacos contraindicados: risco de efeitos adversos graves. Indica-se suspensão da droga ou do aleitamento, dependendo da necessidade do uso pela lactante. - Para reduzir possíveis efeitos adversos ainda não conhecidos, orientam-se determinados cuidados, que são necessários no uso de drogas em lactantes: Verificar se o uso da droga é realmente necessário. Escolher o medicamento mais seguro. Medir o nível sérico da droga no recém-nascido quando houver suspeita de risco. Tomar o medicamento logo após as mamadas ou antes de a criança dormir (se longos períodos). Usar a menor dose possível para o controle da doença materna pelo menor tempo necessário. Orientar os possíveis efeitos colaterais. Caso ocorram efeitos adversos na criança, orientar a suspensão da droga e não do aleitamento. A paciente deve ser orientada a procurar serviço de saúde especializado nessa eventualidade. Técnicas de amamentação Técnica de preparo das mamas - A maior dificuldade está associada às papilas planas, pseudoinvertidas e invertidas. - As papilas invertidas não protraem, mesmo com exercícios e manobras, enquanto as pseudoinvertidas podem ficar protraídas por algum tempo após manipulação ou sucção. - Exercícios de Hoffman: rotação, tração e exteriorização, que aumentarão a flexibilidade e a capacidade de exposição da papila. Não são indicados hoje por poderem induzir o parto prematuro. - Peças plásticas ou de silicone colocadas entre mamilo e sutiã podem auxiliar na medida da compressão da aréola e extrusão da papila. Técnica que visam à pega correta - Amamentação incorreta leva à insatisfação do RN, com choro e ansiedade materna, que libera ocitocina com ingurgitamento mamário, que dificulta pega do bebê, levando a um ciclo vicioso. - A primeira mamada deve ocorrer na 1ª hora pós-parto, para que o pico sérico de prolactina aconteça em sua plenitude e a secreção de ocitocina ocorra de forma apropriada. - Entre 7-10d, a frequência das mamadas se torna regular e o esvaziamento mamário mais eficiente. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 7 - Boa técnica: RN abocanha toda ou boa parte da aréola e posiciona a papila na região do palato duro, com as gengivas ficando projetadas no seio lactóforo. - Na dificuldade, a boca apreende apenas a papila, impedindo a pressão negativa e do posicionamento da aréola. Isso gera lesões mamilares, com dor para amamentar, ingurgitamento e maior obstáculo à pega. - Para garantir a técnica de amamentação adequada: Postura materna do RN apropriadas Posição da boca do neonato correta em relação ao mamilo/mama Ambiente confortável, com privacidade para lactante Cuidados de higiene para manter integridade da pele Lactente relaxa, sem curvada para frente ou para trás Polegar acima da aréola e indicador abaixo da aréola Lactente com corpo TODO voltado para a mãe RN: boca bem aberta, mento encostado na mama Sucção mais rápida no início, diminuindo a frequência progressivamente, com pausas ocasionais, irregular no fim. Fim da mamada: RN solta espontaneamente a papila ou a lactante pode tirar o complexo areolopapilar, tracionando-o com os dedos indicador e médio, ou colocar o dedo entre a boca do RN e a aréola, para desfazer a pressão negativa. Colocar lactente em posição vertical ou sentado para facilitar eructação e evitar broncoaspiração. - Recomendam-se diferentes posições para o aleitamento: Posição sentada (tradicional): abdome encosta na mãe Posição sentada inversa: corpo do RN abaixo da axila materna, ventre apoiado nas costelas da mãe. Apoia o RN no braço da mãe e a cabeça na mão. Posição deitada: mãe e RN de deitados de lado, de frente para o outro. Mãe oferece mama do lado sobre o que está deitada. - Quando a mãe não consegue amamentar, recomenda-se usar o “copinho” ou colher dosadora, onde se oferece o leite por um pequeno recipiente. - A adoção dessa medida evita a ocorrência da confusão do mamilo. Técnicas de ordenha e armazenamento do leite humano - Ordenhar o excesso de leite das mamas ingurgitadas para alívio da lactante, desprezando-o em seguida. Ordenhar e armazenar o leite em ambiente domiciliar, para ser usado em outro momento ou ordenhar para armazenar em bancos de leite para outros bebês. - Ordenha manual diminui os riscos de traumas. - Para uma boa ordenha: Higiene Massagear as mamas em movimentos circulares da base em direção ao mamilo Estimular mamilo com movimentos de exteriorização e tração suaves Apoiar uma das mãos sob a mama, retificando os ductos. A outra deve usar polegar acima e indicador abaixo da aréola e mama. Movimentos de compressão e tração até extração do leite Desprezar os primeiros jatos por poder ter bactérias, pela estase do leite Alternar as mamas até a redução da quantidade de leite extraída ou a cada 5 minutos No fim do processo, aplica um pouco do leite nas aréolas, a fim de proteger a pele contra contaminações. Armazenamento: geladeira (12h), congelador ou freezer à -3 graus (15 dias). - O leite ordenhado submetido à pasteurização (fervura) pode ser armazenada no congelador/freezer por 6 meses. - O descongelamento deve ser feito dentro da geladeira, aquecido em banho-maria, homogeneizado e oferecido à criança. Banco de leite - Centros responsáveis pela coleta, armazenamento e distribuição do leite doado. - No Brasil, existem cerca de 200 bancos de leite. - A ordenha é seguida de pasteurização e armazenamento. Indução da lactação e relactação Indução da lactação é estimular uma mulher que não passou pelo período gravídico-puerperal, usada para mães adotivas que querem amamentar seus filhos. - Uso de ACO combinados ou terapia hormonal com estrogênios e progesterona. Pode-se usar domperidona ou metoclopramida para inibir dopamina e permite produção e liberação de prolactina. - Dois meses antes da amamentação, suspende tudo e inicia manobra mecânica de ordenha ou bomba de sucção. Inicia amamentação e usa ocitocina nasal, para auxiliar na ejeção do leite. Translactação e relactação EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 8 - Estimulação mecânica das mamas. Uso de pequenos recipientes com leite, acoplados a tubos fixados no complexo areolopapilar. A sucção estimula a produção e ejeção do leite. - É usada para mães prematuras ou por aquelas que suspenderam a amamentação temporariamente. - A produção do leite ocorre entre 1-4sem e a produção de colostro é omitida, com secreção do leite de transição ou maduro. Iniciativas para estimular amamentação Mãe-canguru - Conhecido também como contato pele a pele. Tem o objetivo de efetivar a alta hospitalar precoce de RN com baixo peso, por escassez de recursos locais e morbimortalidade fetal. - Esse método aumenta os vínculos afetivos entre mãe e filho e promove o desenvolvimento neuropsicomotor do neonato. Hospital amigo da criança - Criada pela Unicef e pela OMS com a intenção de promover o aleitamento materno exclusivo e o aleitamento materno em geral. 1. Ter uma norma escrita sobre aleitamento materno, devendo ser transmitida a toda a equipe de serviço 2. Treinar toda a equipe, capacitando-a para implementar essa norma 3. Informar todas as gestantes atendidas sobre as vantagens e o manejo da amamentação 4. Ajudar as mães a iniciarem a amamentação na primeira horaapós o parto 5. Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação, mesmo se vierem a ser separadas de seus filhos 6. Não dar ao RN nenhum outro alimento ou bebida além do leite, a não ser por indicação clínica 7. Permitir que mães e bebês fiquem juntos 24h por dia 8. Encorajar a amamentação sob livre demanda 9. Não dar bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas 10. Encorajar o estabelecimento de grupos de apoio à amamentação, para os quais as mães devem ser encaminhadas por ocasião da alta hospitalar.
Compartilhar