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99 Capítulo 4 Comportamento do consumidor e segmentação de mercado Seção 1 Comportamento do consumidor O marketing procura saber quais são as necessidades de seus consumidores para poder atendê-las satisfatoriamente. Assim, entender como esses consumidores tomam decisões para comprar ajuda muito a alcançar o sucesso na empreitada de satisfazê-los. E isso nem sempre é tarefa fácil, pois são muitas as variáveis que criam motivação ou repulsa em relação à compra de produtos. Eis que entender um pouco o que se passa na cabeça das pessoas deixou de ser um sonho para os profissionais de marketing, passando a representar uma necessidade para o sucesso do exercício de suas funções. Para que o marketing seja bem sucedido, as empresas devem se conectar plenamente com seus clientes. Adotar o conceito de marketing holístico significa entendê-los — adquirir uma visão de 360 graus tanto do cotidiano como nas mudanças que ocorrem ao longo do ciclo de vida deles para assegurar que os produtos certos estão sendo comercializados para os clientes certos de maneira certa. (KOTLER; KELLER, 2013, p. 163). As relações de consumo passaram por mudanças ao longo dos tempos. Relações muito estreitas, nas quais o próprio fabricante se fazia, às vezes, de vendedor, começaram a ocorrer em larga escala, fruto da evolução dos meios de produção e de distribuição. NEVES, Janaína Baeta; CARIONI, Rodrigo. Marketing. Palhoça: UnisulVirtual, 2016. Comportamento do consumidor e segmentação do mercado. pp. 99-114. 100 Capítulo 4 Essa evolução acelerada que o mundo experimentou ao longo do século 20 trouxe à luz uma despersonalização dos contatos, fazendo com que as pessoas perdessem sua identidade e tornando-as números e estatísticas. Isso passou a ser resgatado em meados da década de 1990, quando o consumidor, imbuído de sua individualidade, passou a ver sua importância e a sucessão de esforços para conhecê-lo melhor, no período em que ficou conhecido como a Era do Consumidor. A partir daí — muito em razão da emergência de tecnologias que davam condições de realizar uma espécie de “customização em massa”, ou seja, atender a um grande número de clientes com particularidades próprias a cada um —, houve uma inversão de foco e o marketing passou a privilegiar toda e qualquer possibilidade que permitisse adentrar na cabeça e no coração dos integrantes de seus mercados. Processo decisório de compra “Ser consumidor é ser humano. Ser consumidor é alimentar-se, vestir-se, divertir-se... é viver”. (KARSAKLIAN, 2000, p. 11). As pessoas são dotadas de individualidade, mas em função do meio em que vivem e das ocupações a que se dedicam, acabam recebendo influências e perdendo um pouco dessa condição de indivíduo. A maneira como um indivíduo enxerga determinadas oportunidades pode representar uma inominável ameaça para o seu amigo, assim como alguém pode reagir favoravelmente a uma propaganda enquanto, para outro, ela pode merecer nada além da indiferença. As razões que levam as pessoas a consumirem diferem muito, em função de fatores circunstanciais e da própria construção de suas realidades subjetivas. Imagine alguém que foi criado em uma família com poucos recursos, com sérias limitações de ordem financeira, que impediam o desfrute de alguns prazeres bem básicos. A realidade da vida dessa pessoa certamente vai determinar-lhe a postura frente às relações de consumo, em razão das privações a que foi submetida. Se, ao contrário, as pessoas tiverem acesso a condições financeiras extremamente favoráveis que as permitam apropriar-se de produtos cuja necessidade nem sempre era tão premente, o comportamento dela frente ao consumo vai ser por esse passado determinado. Contudo, graças à mobilidade social, ou seja, à possibilidade de as pessoas transitarem entre diferentes classes sociais, ambos os indivíduos antes considerados podem ter semelhante comportamento de consumo, tendo chegado a eles, porém, por razões e caminhos diversos. 101 Marketing Para Karsaklian (2000), o ato de compra não surge do nada. Seu ponto de partida é a motivação, que vai conduzir a uma necessidade, a qual, por sua vez, despertará um desejo. Com base nesse desejo, surgem as preferências por determinadas formas específicas de atender à motivação inicial, preferências que estarão diretamente relacionadas ao autoconceito: o consumidor tenderá a escolher um produto que corresponde ao conceito que ele tem ou gostaria de ter de si mesmo. As empresas inteligentes, de acordo com Kotler e Keller (2013), tentam compreender plenamente o processo de decisão de compra dos seus clientes. Engel, Miniard e Blacwell (2000) apresentam um modelo de etapas para o processo de decisão de compra. Embora nem todos os consumidores passem por todas as etapas em todas as suas aquisições, podendo inclusive pularem ou inverterem algumas das etapas, a figura a seguir fornece um bom parâmetro para entendimento do assunto, pois pode captar a ampla gama de considerações que surgem quando o consumidor se vê, por exemplo, diante de uma nova compra. Figura 4.1- Processo decisório de compra do cliente final Reconhecimento de necessidade Busca Avaliação de alternativa pré-compra Compra Consumo Avaliação pós-consumo Despojamento Fonte: Adaptação de Engel, Miniard e Blacwell, 2000. Veja cada uma das etapas: 1. Reconhecimento de necessidades: surge quando o consumidor se vê privado de condições para o atendimento das suas necessidades. Pode ocorrer, por exemplo, quando ele percebe que está sem roupas para uma festa, sem comida para preparar seu jantar, quando o seu notebook está desatualizado e dando inúmeros defeitos etc. Pode ser, também, uma necessidade provocada por estímulos externos, quando uma pessoa admira 102 Capítulo 4 o carro novo de um amigo ou vê uma propaganda de férias em Fernando de Noronha na TV, o que desencadeia ideias sobre a possibilidade de fazer uma compra. Trata-se, em resumo, do despertar para um “ problema” que precisa de alternativa de solução. 2. Busca de informação: normalmente ocorre a chamada “busca interna” — ou seja, na memória, em relação a experiências passadas, dicas de amigos etc., — e a “busca externa”, que se dá por meio de consulta a familiares, revistas, catálogos, internet, visita a lojas e supermercados etc. 3. Avaliação de alternativa pré-compra: é como o consumidor processa as informações de cada marca e faz o seu julgamento final. Kotler e Keller (2013) salientam que não existe um processo único usado por todos os consumidores. Normalmente, os aspectos a serem avaliados são a marca, a loja, a quantidade, a forma de pagamento, entre outros. Por outro lado, muitas vezes os consumidores podem decidir poupar aquele recurso, comprar outro produto, ou, ainda, comprar em outra ocasião, quando certamente haverá chances de liquidações. 4. Compra: é a ação propriamente dita; ocorre normalmente em um ponto de venda físico ou virtual, na porta de casa etc. Acontece aí a transferência de posse. 5. Consumo: essa etapa, tradicionalmente, não atraía muito o interesse das empresas, cujo objetivo principal era vender. Há algumas décadas, no entanto, com o crescimento da concorrência, houve uma grande mudança em direção à satisfação e retenção do cliente, e hoje em dia é impossível esquecer dessa fase do processo decisório. Em São Paulo, na sala do cafezinho da filial da Unilever, uma das maiores empresas do mundo nos ramos de alimentação e limpeza, o pessoal do escritório tem uma televisão sintonizada o tempo todo num reality show. As estrelas são os integrantes de uma família de classe média, com destaque para a dona-de-casa em seus afazeres: lavar, passar e cozinhar. Câmeras instaladas pela Unilever na casa de uma consumidora transmitem ao vivo essa programação. Há outras residências em que o mesmo tipo de vigilância é exercido cara a cara por um funcionário do grupo Pão de Açúcar que acompanha a família do café-da-manhã ao futebolpela TV, à noite, anotando cada item consumido, toda referência a algum produto, a emissora de rádio sintonizada, qualquer movimento que se relacione com compras. Essas bisbilhotices – com o consentimento dos bisbilhotados – são 103 Marketing duas das técnicas coordenadas pelos departamentos de marketing de grandes empresas na tentativa de mapear os hábitos do consumidor, para depois ter ideias sobre como vender com maior eficiência. “Já não basta saber o que fazem ou dizem que fazem os consumidores”, explica Maristela Guimarães, professora de comportamento de compras e consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing, de São Paulo. “As grandes companhias agora estão empenhadas em descobrir o desejo íntimo do consumidor, como se entrassem em sua alma.” Analistas dos hábitos das pessoas em relação a consumo há muito concluíram que nem sempre elas conseguem definir o que desejam. Daí a importância de vigiá-las, estudá-las, para descobrir como seduzi- las. (NEGREIROS, 2003, p. 102). 6. Avaliação pós-consumo: espera-se que o consumidor fique satisfeito e que essa experiência positiva retroalimente o processo decisório de compra. Mas pode acontecer o contrário também; ou seja, o consumidor pode ficar insatisfeito, desejar devolver o produto, reclamar nas redes sociais etc. Dessa forma, o trabalho dos profissionais de marketing não acaba quando o produto é comprado. Há que se monitorar a satisfação, as ações e a utilização em relação ao produto depois do consumo. 7. Despojamento: de acordo com Kotler e Keller (2013) os profissionais de marketing devem monitorar como os compradores usam e descartam os produtos. Além disso, em muitos setores há obrigação legal de encaminhar para aterros sanitários os lixos criados ou utilizados. Algumas empresas fazem o que chamamos de “logística reversa”, ou seja, as empresas devem coletar os seus produtos após serem descartados pelos consumidores. Quem produz e vende celulares, por exemplo, deve se responsabilizar pelo recolhimento dos aparelhos descartados pelos consumidores. E, para encerrar o estudo dessa última etapa, acompanhe na Figura 4.2 como os clientes usam e descartam os produtos. 104 Capítulo 4 Figura 4.2 - Como os clientes usam ou descartam os produtos Produto Descartam temporariamente Descartam permanentemente Mantêm Alugam Emprestam Usam para servir ao propósito original Transformam para servir a um novo propósito Guardam Trocam Vendem Jogam fora Doam A ser (re)vendido Direto ao consumidor Por meio de intermediários Ao intermediário A ser usado Fonte: Kotler e Keller, 2013, p. 185. Fatores que influenciam o comportamento do consumidor Um consumidor tem suas razões para ter determinado tipo de comportamento em relação ao consumo. Muito diz respeito a aspectos relacionados à sua criação e formação, mas também há muita relevância nas posições que ocupa e no meio em que circula. Os fatores que influenciam o comportamento do consumidor podem ser divididos em três categorias, conforme mostra a Figura 4.3. Figura 4.3 – Influências sobre o comportamento do consumidor Influências sociais Influências de marketing Influências situacionais - Cultura - Subcultura - Classe social - Grupos de referência - Família - Produto - Preço - Praça (distribuição) - Promoção - Ambiente físico - Ambiente social - Tempo - Tarefa - Condições momentâneas Processo de compra do consumidor Fonte: Churchill Jr.; Peter, 2007, p. 153. 105 Marketing Veja a seguir como se apresenta cada um dos tipos de influência sobre o consumidor no momento da compra. As influências sociais se dividem em cultura, subcultura, classe social, grupos de referência e família. Acompanhe a descrição de cada uma delas: Quadro 4.1 – Influências sociais Cultura Representa um conjunto de valores e comportamentos que se espraiam por uma sociedade, representando um referencial quanto a padrões esperados de conduta. Subcultura Compreende um segmento dentro da cultura disseminada de maneira geral, tornando-se um estrato distinto e cujo somatório com outras subculturas compõem a cultura em si. Classe social Refere-se a uma hierarquização capaz de dividir uma sociedade com base em poder econômico e político, capacidade intelectual e bagagem cultural. Grupos de referência Constituem-se de pessoas que influenciam o comportamento do indivíduo por meio da convivência. Podem ser divididos em primários (amigos e família), nos quais ocorrem relações com maior intensidade, e secundários (organizações e associações), nos quais a interação não é tão frequente e vinculativa. Família Constitui-se de relações com determinado grau de intimidade, podendo ser dividida em família de orientação, formada pelos pais, e a família de procriação, composta pelo cônjuge e filhos. Fonte: Carioni, 2006, p.103. As influências de marketing são representadas pelo Composto de Marketing, ou 4 Ps (produto, preço, promoção e praça), tratando da forma como cada elemento influencia o comportamento de consumo a partir dos estímulos de marketing. 106 Capítulo 4 Quadro 4.2 – Influências de marketing Produto Tem relevância uma vez que suas características e funcionalidade sinalizarão valor ao consumidor, permitindo-lhe vislumbrar os seus benefícios e perceber a sua adequação às necessidades a serem atendidas. Preço Serve como parametrizador ao informar ao consumidor o quanto ele vai ter de abrir mão de sua renda para fazer frente àquela aquisição. Pode tornar- se um facilitador (no caso de corresponder à capacidade financeira do consumidor) ou fator restritivo (quando é superior à sua capacidade financeira ou não representa, aos olhos do consumidor, o valor por ele percebido). Promoção Depende da capacidade de influenciar positivamente o consumidor e nele despertar o desejo de consumo, por meio da utilização de recursos comunicacionais apropriados e persuasivos. Praça Diz respeito à capacidade da empresa de disponibilizar o produto na hora, local e quantidade certos e, ainda, em condições adequadas. Fonte: Carioni, 2006, p.103. As influências situacionais envolvem o ambiente físico, o ambiente social, a função, a tarefa e as condições momentâneas. 107 Marketing Quadro 4.3 – Influências situacionais Ambiente físico Diz respeito às condições em que o ponto de venda é acessado e utilizado pelo consumidor, ou seja, localização, disposição física do ambiente, atmosfera e condições de estadia. Ambiente social Revela as condições de convívio com outras pessoas a que será submetido o consumidor. Tais condições têm de ser ajustadas para o perfil do mercado que se está atendendo, o qual delimita o acesso a indivíduos com certa similaridade de expressão. Tempo Compreende a observação de aspectos relacionados ao tempo que o consumidor terá para fazer suas compras e, também, ao período de funcionamento de determinado estabelecimento. Função Diz respeito ao papel para o qual produto vai prestar-se, ou seja, a razão objetiva de consumo de algo. Condições momentâneas Influenciam o comportamento de compra por corresponderem ao estado físico, emocional e psicológico próprios ao consumidor quando da decisão de compra, influenciando significativamente na capacidade de reagir a estímulos que lhe foram e serão dirigidos. Fonte: Carioni, 2006, p.104. O estudo do comportamento do consumidor, portanto, tenta compreender os pensamentos, sentimentos e ações dos consumidores e as influências exercidas sobre eles. Cabe aos profissionais de marketing obter informações e uma dose de sensibilidade para fazer essa “leitura” e tomar decisões. 108 Capítulo 4 Seção 2 Segmentação de mercado As empresas não podem atender a todos os clientes em mercados amplos ou diversificados. Mas podem dividir tais mercados em grupos de consumidores ou segmentos com diferentes necessidades e desejos. Uma empresa precisa, então, identificar os segmentos de mercado em que poderá atender com eficácia.Essa decisão requer um profundo entendimento do comportamento do consumidor e uma análise estratégica cuidadosa. Para desenvolver os melhores planos de marketing, os gerentes precisam entender o que distingue cada segmento. Identificar e satisfazer os segmentos de mercado costumam ser a chave para o sucesso de marketing. (KOTLER; KELLER, 2013, p. 227). Para Churchill Jr. e Peter (2007), uma das histórias mais antigas sobre a necessidade de segmentação de mercado diz respeito ao início da indústria automobilística. Como foco na linha de produção em massa, Ford desenvolveu o modelo T como um carro destinado a satisfazer a todos. Ao contrário dele, Sloan Jr., da GM, pediu aos engenheiros que criassem modelos que atendessem as necessidades e gostos de diversos grupos de clientes diferentes. O aprendizado que ficou é que dificilmente um único composto de marketing é adequado para atender desejos e necessidades de todo o mercado de um determinado produto. Observa-se, então, que clientes diferentes costumam comprar em locais diferentes (em um bazar, shopping, loja de grife etc.), são estimulados por mídias e informações diversas, além de preços diferentes. Dessa forma, as empresas devem usar as informações sobre o tamanho e o perfil dos segmentos de mercado existentes e suas tendências para, com base nelas, decidir quem vai atender de forma mais lucrativa e eficaz, e traçar, assim, suas estratégias. A segmentação de mercado é a ação de identificar e classificar grupos distintos de compradores que podem exigir produtos e/ou compradores de marketing separados. Já a escolha de mercado-alvo é a seleção de um ou mais segmentos de mercado para penetrar; e posicionamento de mercado é o ato de estabelecer e comunicar os principais benefícios dos produtos ao mercado. Churchill Jr. e Peter (2007) salientam que há alguns modos básicos para uma organização servir aos mercados; veja o quadro a seguir. 109 Marketing Quadro 4.4 – Abordagens para os mercados servidos Abordagem Descrição Exemplos Marketing de massa Um único composto de marketing para todo o mercado Coca-Cola Marketing por segmentos Um único composto de marketing para um segmento de mercado Compostos de marketing separados para dois ou mais segmentos de mercado Produto de beleza para mulheres negras McDonald´s (McLanche Feliz para crianças, Big Mac para adolescentes e adultos) Marketing individual Um composto de marketing personalizado para um indivíduo ou organização Lazer personalizado para clientes assíduos dos hotéis Ritz-Carlton. Fonte: Adaptação de Churchill Jr. e Peter, 2007, p. 205. Observa-se que o marketing de massa cria maior potencial de mercado, leva a custos menores que, por sua vez, representam preços mais baixos. Já o marketing de segmento oferece uma oferta mais ajustada e normalmente cobra por isso. Entende que há diferença nos desejos, no poder de compra, nas localizações geográficas, atitudes, hábitos de compra etc. Em relação ao chamado marketing de nicho (nichos são subsegmentos), tipicamente atrai empresas menores e com poucos concorrentes. As principais características desse tipo de marketing são um conjunto específico e completo de necessidades; consumidores dispostos a pagar mais; grande potencial de tamanho, lucro e crescimento do nicho. Vantagens da segmentação de mercado São muitas as vantagens de segmentação de mercados. Dias e outros autores (2004) apresentam algumas: • Conhecendo melhor seu cliente, a empresa poderá servi-lo melhor. Quanto mais detalhado for esse conhecimento, melhor será o ajuste das variáveis de marketing; • Conhecendo bem os clientes e se eles estiverem agrupados, mais fácil será para quantificá-los; 110 Capítulo 4 • Quando se sabe quem são, onde estão e quantos são os clientes, fica mais fácil definir o tipo e a intensidade da distribuição do mercado; • Conhecendo as características dos grupos de clientes-alvo, seus hábitos e costumes, será mais fácil a empresa se comunicar com eles; • Fica mais objetiva a tarefa de pesquisar o mercado; • Fica mais fácil identificar oportunidades para novos lançamentos de produtos. Bases para segmentação de mercados De acordo com Kotler e Keller (2013) e Churchill Jr. e Peter (2007), são inúmeras as maneiras de segmentar mercados de consumo; e os profissionais de marketing podem usar diversas abordagens, combiná-las ou usar outras bases que ajudam a criar valor para os consumidores de forma lucrativa. Normalmente, são dois os grupos de variáveis: 1º grupo – Características do consumidor: a. Variáveis geográficas: países, regiões, estados, cidades, bairros, concentração da população (rural, urbana), clima (quente, frio) etc. b. Variáveis demográficas: faixa etária, tamanho da família, ciclo de vida da família, sexo, renda, ocupação, formação educacional, religião, geração, nacionalidade, classe social, raça etc. c. Variáveis psicográficas: estilos de vida (objetivos, extravagantes, intelectuais, tradicional, sofisticado, esportivo etc.), tipos de personalidade (independentes, impulsivos, atentos às mudanças, ambiciosos, autoritários, econômicos, gregários, agressivo, distante etc.); atitudes em relação ao produto/serviço (positivo, neutro, negativo). 2º grupo – Respostas dos consumidores: a. Variáveis comportamentais: ocasião de compra (normal, especial). Ex.: compra de bombons para presentear e compra de bombons para o consumo da família. Provavelmente, serão compras diferenciadas: para presentear a embalagem é mais importante, a marca etc. Podem ser benefícios esperados do produto (qualidade, rapidez, economia etc.); tipos de usuário (não usuários, usuários, usuários potenciais etc.); estágio de aptidão do comprador em relação ao produto (informados, interessados, desejosos etc.). 111 Marketing Requisitos para a segmentação eficaz Para Kotler e Armstrong (1995), há muitas maneiras para segmentar um mercado, entretanto, nem todas as segmentações são eficazes. Às vezes, a variável selecionada não é relevante para determinada compra; ou, ainda, há mercados que são poucos “segmentáveis” do ponto de vista de marketing. Para serem úteis, os segmentos de mercado devem ser: • Mensuráveis: o tamanho, o poder de compra e as características dos segmentos devem ser possíveis de serem medidos; • Substanciais: os segmentos são grandes e rentáveis o suficiente para serem atendidos? Um segmento deve ser o mais homogêneo possível para justificar a adoção de um programa de marketing sob medida. Por exemplo, não valeria a pena para um fabricante de automóveis desenvolver carros para pessoas com menos de 1,25m de altura; • Acessíveis: os segmentos podem ser eficazmente atingidos e atendidos; • Diferenciáveis: os segmentos são conceitualmente distinguíveis e respondem diferentemente a diferentes elementos do composto de marketing e a programas de marketing. Se mulheres casadas ou descasadas responderem igualmente a uma venda de casacos de pele, por exemplo, não constituem segmentos separados; • Acionáveis: programas eficazes podem ser formulados para atrair e atender aos segmentos. Seleção de segmentos de mercado Após avaliar os diferentes segmentos, a empresa deve decidir quais e quantos deles atender, considerando os seguintes aspectos (KOTLER, 1998): • Concentração em segmento único É o caso mais simples, quando a empresa seleciona um único mercado. Exemplo: Uma editora concentra seu alvo no mercado de livros-textos para as áreas de economia e administração. Neste caso: 1. Por meio de marketing concentrado, a empresa alcança uma forte posição de mercado no segmento de cujas necessidades possui maior conhecimento, e pode, com isso, obter reputação especial; 112 Capítulo 4 2. Pode desfrutar de economia de escala pela especialização em produção, distribuição e promoção; 3. Entretanto, pode envolver riscos além dos normais: um segmento específico pode não ser mais atraente; um concorrente pode “invadir” o segmentoetc. • Especialização seletiva A empresa seleciona alguns segmentos, todos devidamente atraentes e apropriados, conforme os recursos e objetivos definidos. Neste caso: 1. Pode haver pouca ou nenhuma sinergia entre os segmentos, mas cada um deles promete ser fonte de lucro; 2. Apresenta a vantagem de diversificar o risco da empresa (mesmo se um segmento tornar-se não atraente, a empresa pode continuar ganhando $ nos outros). • Especialização por produto Aqui a empresa concentra-se na fabricação de um produto vendido a diversos segmentos. Exemplo: Um fabricante de microscópios que vende a laboratórios universitários, público em geral e industriais. (A empresa fabrica microscópios diferentes para estes grupos, mas evita fabricar outros instrumentos usados por laboratórios). Neste caso: 1. A empresa pode desenvolver forte reputação na área específica do produto; 2. Haveria risco se os microscópios fossem suplantados por uma tecnologia totalmente nova. • Especialização por mercado Aqui, a empresa concentra-se em atender a muitas necessidades de um grupo específico de consumidores. Exemplo: Uma empresa que vende um sortimento de produtos para reparos domésticos: chave de fenda, martelo, prego, parafusos, furadeiras etc. Neste caso: 1. A empresa pode obter maior reputação ao especializar-se no atendimento desse grupo de clientes, tornando-se um canal para todos os novos produtos que forem lançados; 2. Há risco se esse mercado sofrer uma baixa repentina. 113 Marketing • Cobertura ampla de mercado Nesse caso, a empresa tenta atender a todos os grupos de consumidores em todos os produtos que possam necessitar. Apenas as grandes empresas podem adotar uma estratégia de cobertura ampla de mercado. Exemplos: A IBM (mercado de computadores), Volkswagen (mercado de veículos), Coca-Cola (mercado de bebidas). As grandes empresas podem cobrir um mercado amplo de duas maneiras: por meio de marketing indiferenciado ou marketing diferenciado. Veja as explicações sobre eles no quadro a seguir. Quadro 4.5 – Marketing indiferenciado x diferenciado Marketing indiferenciado Foca nas necessidades dos compradores, em vez das diferenças entre eles. Desenvolve produto e programa de marketing que atrairá um número mais amplo de compradores. Confia na distribuição e propaganda de massa. O programa de propaganda indiferenciado mantém os custos de divulgação baixos. Quando várias empresas praticam marketing indiferenciado, o resultado é uma competição intensa nos segmentos de mercado maiores e insatisfação naqueles menores. Marketing diferenciado A empresa opera em diversos segmentos de mercado e desenvolve diferentes programas para cada segmento. A General Motors faz isso quando afirma que produz um carro para cada “bolso, propósito e personalidade”. Tipicamente, marketing diferenciado cria maior volume de vendas do que marketing indiferenciado. Entretanto, também aumenta os custos do negócio. Fonte: Adaptação de Kotler, 1998. Neste capítulo você teve a oportunidade de estudar sobre o comportamento do consumidor: como age; quem e o que o influencia; como escolhe, compra e usa os produtos e serviços etc. Tendo em vista que consumidores somos todos nós (podemos ser mais ou menos consumistas, ter mais ou menos condições financeiras, mas no mundo contemporâneo no qual vivemos essa é uma atividade corriqueira), esse é um assunto relativamente fácil, pois podemos, e no caso do profissional de marketing, devemos, observar ao nosso redor e perceber as composições familiares se modificando, os valores da sociedade se transformando e novas gerações chegando. Tudo isso é palpável, sendo primordial a observação/ação diária por parte das empresas, pois significa sobrevivência no mercado. Prestando atenção nos consumidores, várias organizações vão segmentando-os e oferecendo produtos e serviços específicos, personalizados, muitas vezes até inusitados. Nessa última seção, portanto, você estudou sobre a segmentação de mercado, sua importância, as bases para segmentação e a seleção de segmentos de mercado. Enfim, o cliente mais uma vez como razão de ser das empresas e do marketing, como ator principal; não o percamos de vista jamais! Referências CARIONI, Rodrigo. Gestão de marketing I: livro didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2006. CHURCHILL JR., Gilbert A.; PETER, J. Paul. Marketing: criando valor para o cliente. São Paulo: Saraiva, 2007. DIAS, Sérgio Roberto; et al. Gestão de Marketing. Professores do Departamento de Mercadologia da FGV-EAESP e Convidados. São Paulo: Editora Saraiva, 2004. ENGEL, James F; MINIARD, Paul W.; BLACKWELL, Roger D. Comportamento do consumidor. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. KARSAKLIAN, Eliane. Comportamento do consumidor. São Paulo: Atlas, 2000. KOTLER, Philip. Administração de Marketing – análise, planejamento, implementação e controle. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 1998. KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary. Princípios de Marketing. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1995. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo - SP: Pearson Education do Brasil Ltda, 2013. NEGREIROS, Adriana. É você na fita. Revista Veja, edição 1833, 17 dez. 2003.