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Jo ão E ds on d a Si lv a T at ia ne A nt on ov z Te or ia d a C on ta bi lid ad e João Edson da Silva Tatiane Antonovz Teoria da Contabilidade Teoria da Contabilidade João Edson da Silva Tatiane Antonovz IESDE BRASIL S/A Curitiba 2016 Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501 S578t Silva, João Edson da Teoria da contabilidade / João Edson da Silva, Tatiane Antonovz. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE BRASIL S/A , 2015. 294 p.: il. ISBN 978-85-387-5415-2 1. Contabilidade. I. Título. 15-28475 CDD: 657 CDU: 657 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2016 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão IESDE Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Imagem Capa Shutterstock.com/abstract Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao aluno | 5 1. Histórico da contabilidade | 7 2. Patrimônio | 21 3. Situações líquidas patrimoniais | 37 4. Atos e fatos | 49 5. Contas | 65 6. Escrituração | 85 7. As variações do Patrimônio Líquido | 109 8. Demonstrações financeiras: Balanço Patrimonial | 131 9. Demonstrações financeiras: Demonstração do Resultado do Exercício | 151 10. Fatos que alteram compras e vendas | 165 11. Operações com mercadorias – apuração extracontábil | 181 12. Operações com mercadorias – apuração contábil | 197 13. Operações com mercadorias – custo específico e PEPS | 219 14. Operações com mercadorias – custo UEPS | 241 15. Operações com mercadorias – custo médio | 257 Gabarito | 275 Referências | 287 Carta ao aluno Este livro é resultado de muita dedicação e foi elaborado para aqueles que desejam fazer uma revisão a respeito da contabilidade básica ou desenvolver o conhecimento contábil. Serve como refe- rência e fonte de pesquisa para ajudá-lo a conhecer melhor a Ciência Contábil. Esta obra abrange, em linguagem clara e de fácil compre- ensão, os conceitos básicos de contabilidade, patrimônio, contas, escrituração, demonstrações contábeis, operações com mercadorias, além de outras informações importantes para a tomada de decisão do gestor, que podem ser fornecidas através da aplicação da Ciência Contábil, e ainda alguns exercícios práticos para que o leitor possa treinar e fixar o que foi aprendido. Espero que este trabalho contribua para a elevação do conheci- mento, agregando valor de aprendizado, e que venha a ser útil tanto na sua vida acadêmica quanto na profissional. “A ciência mais eficaz não deve ser aquela que venha abai- xar os que estão em cima, porém a que vem elevar os que estão embaixo”. (Adão Myszak) Histórico da contabilidade Introdução A seguir serão abordados os principais fatos históricos que demonstram o nascimento e a evolução da Contabilidade como Ciência. Começando nos primórdios, quando não se conhecia a escrita, porém, já se registrava o patrimônio, passando pela confir- mação do status de ciência e culminando com a evolução que deu origem ao sistema que atualmente é utilizado. 1 Teoria da Contabilidade – 8 – 1.1 Evolução histórica da contabilidade Sá (1997, p.15) cita que “a contabilidade nasceu com a civilização e jamais deixará de existir em decorrência dela, talvez por isso seus progressos quase sempre tenham coincidido com aqueles que caracterizaram os da pró- pria evolução do ser humano”. De acordo com Iudícibus e Marion (1999), na antiguidade o homem não conhecia números e muito menos a escrita, entre- tanto, com a chegada do inverno, este se preparava por um longo período, fazendo toda a provisão para o rebanho de ovelhas. Apesar de não saber exa- tamente as estações do ano, ele sabia, pelas folhas das árvores que caiam, que o inverno estava perto. Com relação ao aumento de seu rebanho, o homem utilizava pedras e um sistema rudimentar, que deu início ao registro do inven- tário e que dava ideia do seu patrimônio. Quadro 1 – Forma rudimentar de inventário Cada símbolo (pedrinha) corresponde a uma cabeça de ovelha Primeiro inverno Segundo inverno Comparação entre 2 invernos 1.º inventário 2.º inventário Acréscimo de cabeças de ovelha. (Fonte: IUDÍCIBUS; MARION, 1999. Adaptado.) Assim, com base nesse pequeno inventário, o homem podia fazer os seguintes raciocínios: 2 Trocando as ovelhas por agasalhos, seriam usadas pelo menos duas para vestir toda a família. 2 Para representar os instrumentos de caça e pesca, ele separava mais três pedrinhas. 2 E, caso ele vendesse a lã obtida, conseguiria mais quatro ovelhas para seu rebanho. – 9 – Histórico da contabilidade Assim ele conseguia fazer um raciocínio mais avançado com os itens que começavam a compor o seu patrimônio. Quadro 2 – Inventário patrimonial rústico Acréscimos do período 1.º inverno 2.º inverno Agasalhos Inst. caça/pesca Estoque de lã 1.º inventário 2.º inventário Corresponde a 2 ovelhas Corresponde a 3 ovelhas Corresponde a 4 ovelhas Total do rebanho Resultado da produção do período Total da riqueza à disposição do pastor (Fonte: IUDÍCIBUS; MARION, 1999. Adaptado.) Dessa forma, com base no inventário de todos os bens que possuía, o homem era capaz de desenvolver um relatório contábil. Quadro 3 – Relatório contábil Itens Inverno anterior Inverno atual Rebanho de ovelhas 15 ovelhas 20 ovelhas Estoque de lã – 4 ovelhas Agasalhos de lã – 2 ovelhas Instrumentos caça/pesca – 3 ovelhas Total 15 ovelhas 29 ovelhas (IUDÍCIBUS; MARION, 1999. Adaptado.) Nota-se que o acréscimo do primeiro para o segundo período foi corres- pondente a 14 ovelhas, o que pode ser considerado, num sentido econômico, como lucro. Após isso a contabilidade foi evoluindo, marcando sua passagem por importantes civilizações, como Egito, Creta, Grécia e Roma. Sá (1997) afirma que o nascimento do débito e do crédito, baseado em uma equação em que todo débito corresponde a um crédito e vice-versa, nada mais foi que o registro de um fato em sua causa e efeito. O autor afirma que o Teoria da Contabilidade – 10 – nascimento do débito e do crédito tem origem desconhecida, mas se especula que o crescimento do capitalismo, nos fins da Idade Média, bem como a apli- cação dos números arábicos à escrituração, a maior necessidade de dar relevo às contas de lucro e fazer com que estas tivessem importância até superior às con- tas de natureza creditícia, a ampliação das operações cambiais, entre outros. Destaca-se no raciocínio das partidas dobradas Luca Pacioli e a edição da Suma de aritmética, geometria, proporção e proporcionalidade, ocorrida em 1494, em Veneza. A obra era composta por 36 capítulos e dedicava um módulo especial à contabilidade. Após a divulgação do método das partidas dobradas a contabilidade se desenvolveu como ciência e ganhou cada vez mais espaço. Iudícibus e Marion (1999) afirmam que na Idade Moderna (séculos XIV a XVI), durante o Renascimento, acontecimentos no mundo das artes e da economia proporcionaram um impulso das Ciências Contábeis, sobretudo na Itália. Dessa forma, é fácil de se compreender por que a contabilidade flo- resceu em cidades como Veneza, Gênova, Florença, Pisa, entre outras. Nessas cidades fervilhavam atividades mercantis, econômicas e culturais. Ao contrário do que muitos autores difundem, Pacioli não foi o inventor do método das partidas dobradas, uma vez que a literatura contábil já estava amadurecida neste período (SÁ, 1997). A contabilidade daquela época difere um pouco da que é apresentada atualmente, pois o sistema contábil visava somente informar ao sócio a situa- ção da empresa,já que não existiam tantos interessados na situação patrimo- nial das entidades quanto hoje. Além disso, a separação do patrimônio dos sócios e da empresa não era feita como atualmente. Outro aspecto que não era explorado na época do desenvolvimento da contabilidade era o de períodos contábeis e de continui- dade das entidades, também não era necessário que o balanço fosse registrado através dos períodos na mesma moeda, era admitida a moeda que o empresá- rio achasse mais conveniente. Depois dessa fase de consolidação da contabilidade, começaram a ser desenvolvidas teorias, que nasceram de observações, que levavam a racio- cínios organizados, levando assim a uma escola científica, de pensamentos semelhantes (SÁ, 1997). – 11 – Histórico da contabilidade As principais escolas e seus representantes foram: Quadro 4 – Doutrinas contábeis Doutrina/escola/ corrente científica Precursor/ líder intelectual Alguns principais intelectuais Materialismo substancial Francesco Villa Foi base para Besta, Zappa e Masi. Personalismo Giuseppe Cerboni Giovanni Rossi, Giovanni Massa, Francesco Alberigo Bonalumi, Vincenzo Masi. Controlismo Fábio Besta Carlo Ghidiglia, Pietro DÁlvise, Vitto- rio Alfieri, Pietro Rigobon, Francesco De Gobbis. Reditualismo Eugen Schmalenbach Mallberg, Geldamcher, E.Walb, K. Mallerowicz, M.R. Lehmann, W.Rieger F Leitner, A. Hoffmann. Aziendalismo Alberto Cecche- relli, Gino Zappa Pietro Onida, Lino Azzini, Carlo Masini, G. Cudini, Aldo Amaduzzi. Patrimonialismo Vincenzo Masi Francisco D’Áuria, Alberto Are- valo, Jaime Lopes Amorim, José Maria Fernandez Pila. (Fonte: SÁ, 1997. Adaptado.) A primeira escola, conhecida como Materialismo substancial, entendia que a riqueza era “substância”, sendo caracterizada como um objeto essencial de estudo, necessitando ser observada em sua intimidade, sendo que os regis- tros são meras informações, subsídios para os estudos, não devendo confun- dir tais coisas e não se admitindo que a contabilidade limita-se a registrar e demonstrar. Neste momento nascia a necessidade de julgamento dos fatos ou fenômenos denominados “operações” (SÁ, 1997). Já o Personalismo, em sua essência, deixou evidente que competia à ciência contábil o estudo de todas as variações da riqueza em relação à azienda. Nessa época houve a preocupação com as funções administrativas e seus controles. Cerboni chegou a denominar a ciência contábil, conforme cita Sá (1997, p. 72) como a “ciência da administração aziendal”. Teoria da Contabilidade – 12 – O Controlismo, por sua vez, admitia, por meio de seu maior represen- tante, Fábio Besta, que a contabilidade tinha como objeto de seu estudo o “controle da riqueza aziendal”. Besta inicia seu trabalho identificando o que é uma ciência, o que é azienda, assim como a necessidade da existência da riqueza para que possa existir a azienda (SÁ, 1997). Ainda segundo Sá (1997), o Reditualismo desenvolveu-se principal- mente na Alemanha, embora tivesse forte influência em outros países. Os reditualistas tiveram como princípio admitir que o lucro é o que mais pre- ocupa como objeto de estudo, sendo um fenômeno básico a ser observado. Posteriormente, o Aziendalismo, mediante os conceitos apresentados por seus pensadores, admitiu que o Passivo é a explicação do Ativo, e este é o efeito ou o que resultou em razão de existir o Passivo, em resumo, o Passivo é a causa do Ativo. Assim nascia o raciocínio de que as contas são apenas meios utilizáveis para que se conheça o que aconteceu e a utilização delas pode ser feita por ciências como Contabilidade ou Estatística. Por fim, o Patrimonialismo, cujo expoente máximo era Vincenzo Masi, que defendia o patrimônio como objeto de estudo. Foi nesse contexto que nasceu também o conceito de Patrimônio Líquido. Para Sá (1997), no Brasil a escola implantada e utilizada atualmente é o Patrimonialismo. 1.2 Evolução histórica da contabilidade no Brasil Especificamente no Brasil a contabilidade dava seus primeiros passos para a organização no ano de 1808, com a publicação mediante um alvará para que os contadores usassem obrigatoriamente as partidas dobradas como método de escrituração. Já em 1850, com a promulgação do Código Comer- cial Brasileiro, torna-se obrigatória a escrituração contábil, além da elabora- ção de forma anual do balanço. A Escola Politécnica do Rio de Janeiro passou, em 1890, a oferecer as primeiras disciplinas de Direito Administrativo e Contabilidade. Já em 1902, há o surgimento da Escola de Comércio Álvares Penteado que, em 1905, passou a ter o reconhecimento do curso de guarda livros e também de perito contador. – 13 – Histórico da contabilidade Em 1946 surge a faculdade de Ciências Contábeis da USP, o que coin- cide com a criação do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Houve a promulgação da Lei 4.230, em 1964, que instituiu as princi- pais normas para elaboração e controle de orçamento, para a União, Estados, Municípios e Distrito Federal. Em 1976, o grande marco da contabilidade no Brasil foi a criação da Lei 6.404, ou Lei das Sociedades por Ações, nesse ano também houve a Criação da Comissão de Valores Mobiliários (CMV). Em 2007, a contabilidade brasi- leira passou por grandes mudanças através da promulgação da Lei 11.638, que alterou diversos dispositivos da Lei das Sociedades Anônimas e aproximou a contabilidade brasileira do modelo que vem sendo adotado mundialmente. A partir de 2007, o Brasil passou a utilizar os princípios das IFRS visando uma melhor apresentação e compreensão das normas e demonstrações contábeis. A contabilidade vem evoluindo no sentido de se tornar mais compre- ensível não somente para os contabilistas e para o fisco, mas também para o público em geral. Na atualidade o conhecimento da contabilidade torna-se necessário não somente para aqueles diretamente envolvidos com as operações contábeis, mas também para aqueles que dão suporte operacional na área. Assim, torna- -se necessário que sejam conhecidos alguns dos conceitos básicos que nor- teiam a contabilidade e que serão apresentados a seguir. 1.3 Noções gerais de contabilidade Em resumo, a contabilidade pode ser definida como a ciência respon- sável pelo estudo dos fenômenos ocorridos no patrimônio das entidades, ou seja, como ocorreu a transformação patrimonial, seja por aumento, diminui- ção ou transformação. Além disso, a contabilidade é a responsável pelo registro, classificação e demonstração dos fatos ocorridos no patrimônio das entidades, através de uma técnica conhecida como escrituração contábil, que consiste em registrar de forma ordenada tudo o que ocorre nas entidades. Teoria da Contabilidade – 14 – A contabilidade também fornece informações para análise e interpreta- ção dos fatos obtidos mediante a escrituração contábil, e possibilita que sejam evidenciadas, ou seja, conhecidas as variações através dos períodos do que houve no patrimônio. 1.3.1 Objeto de estudo da contabilidade O objeto da contabilidade se resume a uma palavra: patrimônio, que é o conjunto de bens, direitos e obrigações de determinada pessoa ou entidade. Bens são todas aquelas coisas que são capazes de atender às necessidades das pessoas físicas ou jurídicas e que podem ser mensuradas, ou seja, têm valor econômico. Por direitos pode-se entender valores que determinada entidade tem a receber de terceiros. O exemplo mais comum classificado nesse grupo é o de clientes, que são indivíduos para quem a empresa vendeu e dos quais, no futuro, terá o direito de receber. Obrigações, ou passivos exigíveis, são dívidas que a empresa assumiu com terceiros, ou seja, com pessoas alheias à entidade. Já o patrimônio líquido é a diferença entre tudo o que a empresa tem (bens), tudo o que ela tem para receber (direitos) menos as suas obrigações. Dessa forma, o que sobra, no caso de liquidação de dívidas, é o que realmente é da propriedade. No patrimônio líquido da entidade estão o Capital Social e outras contas que pertencem aos sóciosou acionistas da empresa. Sendo assim, o campo de estudo da contabilidade é o patrimônio, seja de uma pessoa física natural, que pode ser você mesmo, por exemplo, ou o patrimônio de uma entidade, que pode ser formada por uma ou mais pessoas. Pode ser considerada pessoa física toda pessoa natural que é regis- trada em cartório e que possui bens, direitos e obrigações junto ao Estado. A pessoa física responde individualmente por seus atos, e só terá fim quando decretada a sua morte. Já a pessoa jurídica é a composição, por uma ou mais pessoas físicas, de um contrato que deverá ser registrado em cartório, receita federal ou junta comercial. Os responsáveis pela pessoa jurídica são as pessoas físicas que a formaram e seu término será dado por um acordo entre essas pessoas ou por decisão judicial. No caso de constituição de pessoa jurídica, os dois tipos mais comuns são as sociedades limitadas e as sociedades anônimas, sendo que para as limitadas o documento de nascimento é o contrato social e para as anôni- mas é o estatuto social. – 15 – Histórico da contabilidade O estatuto social é o documento pelo qual são constituídas as socie- dades anônimas. No caso dessas sociedades, é feita uma assembleia, que é a reunião dos representantes, que deverão representar no mínimo metade do capital social, ou seja, o capital da empresa. Nesse documento de nascimento das sociedades anônimas deverão constar dados como: o nome, o prazo de duração, onde ficará localizada a empresa, o objeto social, ou seja, o que ela terá como atividade, seu capital social e outros dados primordiais para o nas- cimento da entidade. Já o contrato social é o documento de nascimento de uma entidade com fins lucrativos e não anônima. Esse documento não pode conter nenhum tipo de emendas, rasuras ou qualquer tipo de entrelinha. Além disso, o docu- mento deverá designar o objeto e o nome da sociedade. 1.3.2 Objetivo da contabilidade O objetivo da contabilidade nada mais é do que fornecer informações sobre como são compostas as variações do patrimônio e como elas funcio- nam. É preciso estar atento a quem é o principal usuário dessas informações e para o que elas serão utilizadas. Atualmente a contabilidade tem duas finalidades básicas: uma ligada ao planejamento, servindo de base para a análise de situações futuras, e a outra ao controle do que acontece com a instituição. 1.3.3 Usuários da contabilidade Os usuários da contabilidade podem ser agrupados em dois tipos, os internos e os externos à entidade. Como agentes internos, podem ser apresentados aqueles usuários que têm algum tipo de relação direta com a entidade e que por consequência têm facilidade de acesso às informações contábeis. Esses usuários e seus respectivos interesses são: 2 Gerentes – utilizam a informação para a tomada de decisão. 2 Funcionários – utilizam as informações da empresa para saber se receberão ou não seus salários, férias e benefícios, quando definidos em política da empresa. Teoria da Contabilidade – 16 – 2 Sócios/proprietários – estão interessados, principalmente, no lucro de suas empresas. Já os agentes externos são aqueles que não possuem uma relação direta com a entidade, mas que mesmo assim mantêm algum tipo de relaciona- mento com ela: 2 Bancos – utilizam a informação contábil para a concessão ou não de financiamentos, empréstimos e créditos em geral. 2 Concorrentes – agentes que utilizam a formação para que possam tornar-se competitivos nos mercados cada vez mais acirrados. 2 Governo – este é o principal entre os interessados, pois está sem- pre buscando informações relativas a despesas e receitas, que geram o resultado para atingir o seu objetivo, que é a tributação das entidades. 2 Fornecedores – seu principal interesse é na capacidade de paga- mento das entidades, ou seja, se ainda poderão continuar ou não vendendo a prazo e se vão continuar recebendo. 2 Clientes – apesar de não ser uma informação percebida direta- mente da contabilidade, estes têm interesse ligado ao atendimento de suas compras no prazo ou não, de como serão atendidos, de no caso de uma devolução de como isso irá ocorrer. 2 Investidores – no caso das sociedades de capital aberto o princi- pal interesse é saber como está o desempenho daquela entidade na qual já investem, para saber se mantêm o seu dinheiro em determinada empresa. No caso de investidores que ainda não investiram seu dinheiro, o seu maior interesse é saber se vale a pena colocar esse dinheiro e deixá-lo aplicado em determinada entidade, o que ela vai trazer de retorno, como estão suas pers- pectivas para o futuro. – 17 – Histórico da contabilidade Ampliando seus conhecimentos Evolução histórica da contabilidade Faculdade Machado de Assis Origem da contabilidade A contabilidade existe desde o princípio da civilização humana e durante muito tempo foi chamada “a arte da escri- turação mercantil”. O homem observou que era preciso con- trolar, administrar e preservar seus bens e que poderia, através desse controle, obter lucros e foi por meio dessa necessidade que surgiu a contabilidade. Não é descabido afirmar que a contabilidade é tão antiga quanto a origem do homo sapiens. Historiadores fazem remontar os primeiros sinais objetivos da existência contá- bil aproximadamente há 4 000 anos a.C. Entretanto, antes disso, o homem primitivo ao inventariar o número de instru- mentos de caça e pesca disponíveis, ao contar seus reba- nhos, ao contar suas ânforas de bebidas, praticava uma forma rudimentar de contabilidade. Com o uso de sua arte, o homem primitivo evidenciava a sua riqueza patrimonial, em inscrições em paredes de grutas (pin- turas) e também em pedaços de ossos. O desenho do animal ou coisa representava a natureza da utilidade; os riscos que se seguiam ao desenho denunciavam a quantidade existente. Conta Qualidade Quantidade (Desenho) (Risco) É claro que sua evolução foi relativamente lenta até o apare- cimento da moeda. Na época de troca de mercadorias os Teoria da Contabilidade – 18 – negociantes anotavam as obrigações, os direitos e os bens. Tratava-se, portanto, de um inventário físico, sem avaliação monetária. Como a preocupação com as propriedades e a riqueza é uma constante, o homem teve de ir aperfeiçoando seu instrumento de avaliação da situação patrimonial à medida que as atividades foram desenvolvendo-se em dimensão e em complexibilidade. O acompanhamento da evolução do P. L. das entidades de qualquer natureza constituiu-se no fator mais importante da evolução da disciplina contábil. Da arte da inscrição para a técnica dos registros Assim nasceram os registros contábeis; porque se quantifi- cava e evidenciava a riqueza patrimonial do indivíduo ou da família. Tais registros eram feitos em peças de argila. O “meu” e o “seu” deram, na época, origem aos registros de “débito” e “crédito”. No Egito, o papiro deu origem aos livros contábeis, utilizando- -se o sistema baseados em lógica matemática. Matematicamente: A = B Contabilmente: débito = crédito Logicamente: efeito = causa Com a invenção da escrita, desenvolver-se-ia o sistema de registros e vários estudiosos da questão acreditam que foi a escrita contábil que deu origem à escrita comum, e não o inverso. As escolas do pensamento contábil O grau de desenvolvimento da teoria contábil e suas práticas está diretamente associado, na maioria das vezes, ao grau de desenvolvimento comercial, social e institucional das socieda- des, cidades ou nações. É assim, fácil de entender, porque – 19 – Histórico da contabilidade a conta teve o seu florescer, como disciplina, nas cidades italianas de Veneza, Gênova, Florença, Pisa, e outras. Essas cidades e outras da Europa fervilhavam de atividade mercan- til, econômica e cultural a partir do século XII, até o inicio do século XVII. Elas representaram o que de mais avançado poderia existir, na época, em termos de empreendimentos comerciais e industriais. Nesse período, Luca Pacioli(1494) escreveu seu famoso Tractatus de Computis et Scripturis, que é a exposição atual da nossa contabilidade. Assim iniciou-se o período de domínio da “Escola Italianis”, em particular, e europeia, em geral, razão pela qual o Brasil foi fortemente e inicialmente influenciado pela escola italiana. A Escola Norte-Americana A partir de 1920, com a ascensão econômica e cultural do colosso norte-americano e com o surgimento das gigantescas corporações, desenvolve-se o approach norte-americano, favorecido pela ampla estrutura econômica e política, mas também por pesquisa e trabalho de vários órgãos associati- vos. Não se pode, também, esquecer que os Estados Unidos herdaram da Inglaterra uma excelente tradição no campo da auditoria, criando, lá, sólidas raízes. 2 Avanço das instituições econômicas e sociais. 2 Informações detalhadas a curto prazo. 2 Pesquisas científicas pelo governo, universidades e cor- pos associativos de contadores. 2 Órgãos contábeis atuantes etc. Apesar das diferenças de abordagem das várias escolas, reconhece-se que somente existe uma contabilidade, baseada em postulados, princípios, normas e procedimentos racional- mente deduzidos e testados pelo desafio da praticabilidade. Teoria da Contabilidade – 20 – Atividades de aplicação 1. Qual foi o primeiro registro que se tem da contabilidade? 2. Como foi considerado o nascimento do débito e do crédito? 3. Quando a contabilidade foi divulgada por Pacioli, em que ela diferia da atual? 4. Qual o conceito de contabilidade? 5. Qual o objeto de estudo da contabilidade? Patrimônio Introdução Inicialmente, para que sejam contemplados os tópicos rela- tivos ao Patrimônio, serão vistos os Princípios de Contabilidade, que são regras juntamente com as Normas Brasileiras de Conta- bilidade e que deverão ser seguidos e entendidos para o registro e reconhecimento dos elementos patrimoniais. 2 Teoria da Contabilidade – 22 – 2.1 Princípios da contabilidade Para que haja uma padronização, no Brasil existem alguns órgãos res- ponsáveis pela normatização contábil. Entre os principais está o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), responsável pela emissão de normas e procedimentos de contabilidade, de auditoria, interpretações e comunicados técnicos. Outro órgão, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), é responsável pela disciplinação do mercado de valores mobiliários nacional. Por fim, existe o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), que é o órgão responsável pela emissão de normas profissionais contábeis e normas técnicas, que servem para regulamentar os procedimentos contábeis. Assim, para a padronização da contabilidade existem os conhecidos Princípios Contábeis, definidos pela Resolução 750/93, emitida pelo CFC. Assim, utilizando como base a Resolução CFC 750/93, que foi atualizada pela Resolução CFC 1.282/2010, entre os Princípios é possível destacar: 2 O princípio da Entidade – segundo esse princípio o patrimônio deve ser reconhecido como objeto da contabilidade, e é preciso diferenciar o patrimônio de uma pessoa física do da pessoa jurídica, ou seja, a pessoa do dono da empresa e a empresa não podem se confundir. A seguinte situação ilustra o princípio da entidade: um sócio que faz o pagamento de suas contas pessoais com o dinheiro da empresa, ao fazer isso está indo contra o princípio da Entidade, pois não está reconhecendo a autonomia, ou seja, a diferença da pessoa física e da pessoa jurídica. 2 O princípio da Continuidade – esse princípio versa sobre a con- tinuidade ou não da empresa. Por esse princípio estende-se que a continuidade influencia o valor econômico dos ativos e tam- bém o vencimento dos passivos, em especial quando a extinção da empresa tem prazo determinado, previsto ou previsível. Para o entendimento desse princípio podemos utilizar como exemplo determinadas épocas em que ocorrem muitas chuvas no Brasil. Para o socorro aos necessitados, são criadas empresas, que irão durar – 23 – Patrimônio somente o tempo para terminar a obra de reconstrução do lugar, para esses casos, deve-se imaginar que as dívidas dessa empresa terão que ter prazo de vencimento influenciado por esse fato, uma vez que ninguém irá vender ou fornecer dinheiro por mais de dois anos, por exemplo, para uma empresa que tem prazo de continui- dade de somente um ano. 2 O princípio da Oportunidade – de acordo com esse princípio, determinado fato deve ser registrado no exato momento em que acontece. Outra interpretação está ligada ao registro, mesmo que tecnicamente estimável, de variações patrimoniais, isso quer dizer que ainda que somente exista a possibilidade de o lançamento ocor- rer, ele deverá ser registrado. Assim, no caso das ações judiciais, por exemplo, é preciso que seja feita a provisão do valor, ou seja, um registro mesmo que aproximado dos valores referentes a essa ação, para que o resultado da empresa não seja impacto de uma só vez. 2 O princípio do Registro pelo valor original – esse princípio versa sobre o registro dos componentes do patrimônio, sempre expressos a valor presente na moeda do país, e que deverão ser mantidos na avaliação das variações patrimoniais posteriores, inclusive aquelas que configuram agregações ou decomposições no interior da enti- dade. Da interpretação desse princípio, resulta saber que os regis- tros dos componentes patrimoniais deverão ser feitos com base nos valores de entrada, quando integrados ao patrimônio o bem, direito ou obrigação. Não se pode ter elementos agregados de forma par- cial ou integral a outros elementos patrimoniais. Enquanto o bem permanecer como parte do patrimônio o valor original de registro deverá ser mantido. Para esse princípio é possível imaginar, por exemplo, a compra de um carro e que ele sofre desvalorização com o passar do tempo, por desgaste, uso e outras condições, porém essa condição deverá ser registrada em uma conta à parte, chamada de depreciação acumu- lada, para que o bem sempre esteja registrado na contabilidade de acordo com o que determina o referido princípio. Teoria da Contabilidade – 24 – 2 O princípio da Competência – esse princípio rege a relação entre as receitas e as despesas. De acordo com ele as receitas e as despe- sas devem ser incluídas na apuração do resultado do período em que ocorrerem, e assim sendo as receitas consideram-se realizadas quando, nas transações com terceiros, estes efetuarem o pagamento ou assumirem forte compromisso de efetivá-lo, também será reco- nhecida quando da extinção parcial ou total de um passivo, qual- quer que seja o motivo, sem o desaparecimento (ao mesmo tempo) de um ativo de valor igual ou maior. Já as despesas consideram- -se incorridas quando o ativo correspondente deixar de existir, por transferência de sua propriedade a terceiro, pela diminuição ou extinção de um ativo e pelo surgimento de um passivo, sem o correspondente ativo. No que diz respeito a esse princípio é pre- ciso imaginar contas que têm seu período de competência, ou seja, são referentes a um determinado mês e deverão ser reconhecidas naquele período. Isso acontece, por exemplo, com os salários, cada mês que você trabalha seu salário é reconhecido para o ganho de receita daquele determinado mês, e geralmente (isso porque algu- mas empresas fazem o pagamento no mesmo mês) o pagamento ocorre no início do mês seguinte. Mas o que é preciso destacar é que contas como salário, energia, água, telefone, entre outras con- tas que são consumidas no mês, precisam ser reconhecidas como referentes àquele mês. 2 O princípio da Prudência – para esse princípio deverão ser ado- tados menores valores para os componentes do Ativo e maiores para os componentes do Passivo, sempre que estes apresentarem alternativas igualmente válidas para registro. Aceitar o princípio da Prudência consiste em utilizar a hipótese que resulte em um menor patrimônio líquido. 2 De acordo com as alterações propostas pela Resolução 1.282/2010 oprincípio da Atualização monetária foi revogado para que a con- tabilidade brasileira ficasse de acordo com a harmonização proposta pelas normas internacionais de contabilidade. – 25 – Patrimônio 2.2 Patrimônio O Patrimônio é o conjunto de Bens, Direitos e Obrigações de uma pes- soa física ou jurídica. Entretanto, essa apresentação ocorre de forma ordenada e exige que sejam conhecidos alguns conceitos de forma mais profunda. Os bens são todas aquelas coisas capazes de satisfazer às necessidades humanas e que podem de alguma forma ser mensuradas economicamente, ou seja, que podem ter algum valor atribuído. Imaginando uma loja de eletrodomésticos, você teria inicialmente três categorias de bens: 2 Bens de uso da loja – balcão, prateleiras, armários, entre outros utilizados para o uso da loja, ou seja, para a exploração da atividade principal, que é a venda de eletrodomésticos. 2 Bens de troca – eletrodomésticos em geral, ou seja, os produtos que formam a base da atividade da empresa. 2 Bens de consumo – as caixas que a empresa usa para vender os produtos, papéis que usa para embalar, eventuais materiais de escri- tório. Os bens de consumo estão relacionados com bens que serão consumidos, ou seja, que não são duráveis na entidade. E que outras classificações poderiam existir para os bens? Bens materiais são aqueles que possuem corpo ou que podem ser toca- dos. Englobam ainda dois outros conceitos, os de bens móveis e imóveis. Já os bens intangíveis ou imateriais são aqueles que não têm matéria, ou seja, que não podem ser tocados. São aqueles bens que não possuem um corpo. Um bom exemplo é uma determinada marca, alguns produtos têm tanta influência da marca que é só olhar a fonte da marca que já se lembra dela, outros dão até nome para o produto. Outros exemplos de bens imateriais são as patentes, que nada mais são do que registros de invenções de uma pessoa ou empresa, nesse caso a pessoa ou empresa tem o direito de explorar os benefícios advindos daquela deter- minada invenção. Os direitos são os valores que a empresa tem para receber de terceiros, geralmente alheios à empresa. Por exemplo, a empresa vende mercadoria e Teoria da Contabilidade – 26 – o cliente fica de pagar essa mercadoria no prazo de um mês, logo a empresa terá o direito de receber o valor em um mês. Nessa situação um terceiro, não envolvido diretamente com a empresa, está relacionado na situação. Outro tipo comum de direito acontece quando a empresa adianta salá- rios ou valores de viagens para funcionários, após determinado período, no caso dos salários na data de pagamento que ocorre até o quinto dia do mês posterior o funcionário terá esse valor descontado do seu salário, pois recebeu um valor da empresa que ainda não era efetivamente seu, isso quer dizer que a empresa deu ao funcionário um valor antecipado e tem o direito de descon- tar do salário do funcionário esse valor. Já no caso dos adiantamentos para viagem, a empresa “empresta” determinado valor para um funcionário viajar e quando ele retorna deve prestar contas do valor adiantado com as notas fiscais dos gastos que teve, ficando a empresa com o direito de exigir essa prestação de contas. Nas entidades é comum realizar algumas operações a prazo como, por exemplo, compra de mercadoria ou, ainda, operações que têm uma determi- nada data de vencimento e um determinado cobrador, nesse caso os forne- cedores. Ela possui ainda outras possíveis contas a pagar, como impostos em geral, salários e obrigações diversas com terceiros. Outro tipo de passivo é o patrimônio líquido, pois a empresa “deve” para os sócios o capital por eles investido na empresa. Assim, eles diferen- ciam-se das obrigações com terceiros por não terem data de vencimento e por não poderem ser “cobrados”. 2.2.1 Representação gráfica do patrimônio Na contabilidade, ficou convencionado que o lado esquerdo seria deno- minado Ativo, é o lado positivo, que engloba os bens e os direitos, e no lado esquerdo tem-se o lado do Passivo, que engloba as obrigações. Patrimônio Ativo Passivo Bens e Direitos Obrigações – 27 – Patrimônio Essa representação gráfica, que lembra um “T”, é denominada Balanço Patrimonial, e o próprio nome, que lembra balanço, pede que haja um equilí- brio. Na contabilidade é preciso que exista uma igualdade entre bens, direitos e obrigações, ou seja, o total do lado esquerdo deverá ser igual ao total do lado direito, porém, como isso é possível? É nesse ponto que surge um novo elemento na equação patrimonial denominado Patrimônio Líquido. Patrimônio Ativo Passivo Bens e Direitos Obrigações Patrimônio Líquido Esse novo grupo ficará do mesmo lado do Passivo, ou seja, das obrigações, o Patrimônio Líquido – diferença entre o ativo menos o passivo, ou seja, é o valor líquido resultante da seguinte equação: Bens + Direitos – Obrigações. Outra definição que pode ser dada ao patrimônio líquido é que este é o grupo que representa o valor referente aos acionistas, ou que a eles pertence. Para entender como funciona o Balanço Patrimonial, segue um exemplo demonstrando os conceitos vistos anteriormente: Balanço Patrimonial Ativo Passivo Bens 1.000 Obrigações 1.500 Direitos 1.500 Patrimônio Líquido Capital 1.000 Total do Ativo 2.500 Total do Passivo 2.500 No balanço patrimonial, o dinheiro “entra” pelo lado do passivo. De que forma isso ocorre? Quando os sócios abrem a empresa eles colocam o capital nela, e ele fica registrado no passivo, ou seja, sua origem foi no passivo dentro do Patrimônio Líquido na conta Capital Social, em contrapartida, o dinheiro é aplicado no ativo. O mesmo ocorre, por exemplo, com os fornecedores, pois determinada mercadoria aparecerá no ativo e o registro da entrada ficará no passivo. Assim o fluxo de origens e aplicações é o seguinte: Teoria da Contabilidade – 28 – Aplicações Ativo Passivo Origens Bens 1.000 Obrigações 1.500 Direitos 1.500 Patrimônio Líquido Capital 1.000 Total do Ativo 2.500 Total do Passivo 2.500 Assim, as origens de recursos correspondem às obrigações e podem ser divididas em dois tipos: 2 De terceiros – são recursos provenientes de entes alheios à compa- nhia, ou que não fazem parte diretamente desta. Nessa categoria estão os fornecedores, o governo (através dos impostos), financia- mentos, salários a pagar, entre outras dívidas. 2 De recursos próprios – recursos provenientes de capital dos sócios, ou do capital social, ou ainda de lucros e reservas que são valores decorrentes das atividades normais da empresa. 2.2.2 Aspectos quantitativo e qualitativo Pode-se dizer que o Balanço Patrimonial possui dois aspectos básicos relacionados aos elementos que foram apresentados; o primeiro deles é o aspecto qualitativo, que é o que define os elementos, conforme já visto, dividindo-os em bens, direitos e obrigações. Porém para saber conhecer ou mensurar o patrimônio é preciso conhecer outro aspecto, o quantitativo, que apresenta os elementos patrimoniais acompanhados dos seus devidos valores, pois somente assim é possível conhecer o patrimônio de uma enti- dade. A seguir serão conhecidos os aspectos do Ativo, Passivo e do Patri- mônio Líquido. 2.3 Ativo Para Iudícibus (2009) o ativo pode ser definido como o conjunto de bens e direitos de uma entidade, ou como a aplicação de recursos de uma deter- minada empresa. Já segundo Hendriksen e Van Breda (2007) os ativos são considerados como reservas de benefícios futuros, ou ainda como benefícios – 29 – Patrimônio econômicos futuros prováveis, obtidos ou controlados por determinada enti- dade e que são decorrentes de atividades passadas. O ativo é dividido em Ativo Circulante e Não Circulante. Dentro do Ativo Circulante, que na maioria das empresas possui essa classificação por apresentar bens e direitos realizáveis em até 360 dias, de acordo com o grau de liquidez existem quatro grupos, o pri- meiro grupo é o de Disponibilidades, e possui as seguintes contas: 2 Caixa 2 Bancos – Contamovimento 2 Aplicações financeiras de curto prazo O grupo seguinte é denominado de clientes ou créditos de curto prazo, e apresenta como principais elementos as seguintes contas: 2 Duplicatas a receber 2 Outras contas a receber 2 (–) Provisão para créditos de liquidação duvidosa Nesse grupo existe uma conta conhecida como Duplicatas descontadas (que possui saldo credor, ou seja, é uma conta retificadora do Ativo, especi- ficamente de clientes). Essa conta representa as duplicatas que foram entre- gues ao banco para antecipação de recebíveis. De acordo com as mudanças estabelecidas pela internacionalização da contabilidade, em alguns casos essa conta será considerada como Passivo Circulante, porém deve-se observar que as duas formas podem ser admitidas. O próximo grupo, de acordo com a liquidez, é o grupo de Estoques: 2 Mercadorias ou produtos acabados 2 Produtos em elaboração 2 Matéria-prima O último grupo do Circulante, por sua vez, é conhecido como Despesas antecipadas ou Despesas pagas antecipadamente, entretanto é um grupo de Ativo, e possui esse nome pois, em geral, é formado por contas que já foram pagas antecipadamente e que geraram o direito de se consumir algo, como um seguro, uma assinatura de jornal, por exemplo, e que será consumido em um determinado período, configurando-se em despesa somente após o con- sumo efetivo do direto, alguns exemplos são: Teoria da Contabilidade – 30 – 2 Seguros a vencer 2 Aluguéis pagos antecipadamente 2 Assinaturas de jornais e revistas O Ativo não circulante possui liquidez com prazo superior a 12 meses, na maioria das empresas. Dentro dele, o primeiro grupo é o Ativo realizável a longo prazo, que normalmente apresenta as seguintes contas: 2 Empréstimos a sócios 2 Empréstimos a coligadas 2 Despesas antecipadas Outro grupo do Ativo não circulante é o grupo que congrega os investi- mentos e apresenta, entre outras contas, as seguintes: 2 Aplicações em ouro 2 Ações de empresas coligadas 2 Outras participações O imobilizado por sua vez, apresenta os bens físicos, que servem para a manutenção da estrutura da empresa, para que elas possam cumprir a sua atividade, entre eles estão: 2 Veículos 2 Móveis e utensílios 2 Máquinas e equipamentos 2 Terrenos e edificações 2 Florestas Com o advento da Lei 11.638/2007 o grupo Diferido, que em sua maioria apresentava as despesas pré-operacionais da empresa e gastos com pesquisa e desenvolvimento, passou a não mais figurar na nova estrutura do Balanço Patrimonial, apesar de ainda ser apresentado naquelas empresas que ainda não amortizaram totalmente o seu saldo. – 31 – Patrimônio O grupo que passou a fazer parte do Ativo não circulante é o Intangível, que irá congregar todas aquelas contas que não possuem substância física, mas que mesmo assim podem gerar benefícios futuros para a empresa, entre eles estão: 2 Marcas e patentes 2 Softwares 2 Fundo de comércio 2 Carteira de clientes 2.4 Passivo O Passivo apresenta as obrigações com terceiros e se divide em Circulante (com exigibilidade em até 360 dias) e Não Circulante (com prazos de venci- mento superior a 360 dias). No Passivo Circulante as principais contas são: 2 Fornecedores 2 Obrigações trabalhistas 2 Impostos a recolher 2 Contas diversas a pagar O Passivo Não Circulante, por sua vez, apresenta as contas que possuem exigibilidade superior a 360 dias, entre elas: 2 Financiamentos 2 Empréstimos 2 Impostos com prazo superior a 12 meses 2 Outras dívidas de longo prazo 2.5 Patrimônio Líquido O Patrimônio Líquido é a diferença entre os valores do ativo e os do passivo, sendo apresentados os recursos próprios da empresa, representados Teoria da Contabilidade – 32 – em sua maioria pelo Capital Social. Pode-se afirmar que as principais contas que compõe o patrimônio líquido são: 2 Capital Social 2 Reservas de Capital 2 Reservas de Lucro 2 Ações em tesouraria 2 Prejuízos Acumulados Com o advento da Lei 11.638/2007 a conta de Lucros Acumulados não deverá mais apresentar saldo. Esses saldos precisam ser devidamente destina- dos de acordo com a proposta da administração, no caso das sociedades por ações. Essa destinação dos lucros poderá ser feita através do pagamento de dividendos, novos investimentos (uso) ou, então, deverá compor as contas de reservas de lucros. Ampliando seus conhecimentos Ativos intangíveis e o desempenho empresarial (PEREZ; FAMÁ , 2004) [...] Os ativos intangíveis Os ativos intangíveis, chamados por alguns de ativos invisíveis e por outros de ativos intelectuais, entre tantas outras deno- minações atuais, formam, de acordo com Hendriksen e Van Breda (1999), uma das áreas mais complexas e desafiadoras da contabilidade e, provavelmente, também das finanças empre- sariais. Parte dessa complexidade deve-se às dificuldades de identificação e definição desses ativos, mas certamente os maiores obstáculos estão nas incertezas quanto à mensura- – 33 – Patrimônio ção de seus valores e à estimação de suas vidas úteis. Ainda de acordo com Hendriksen e Van Breda (1999), a palavra intangível tem sua origem no latim tangere, que significa tocar. Manobe (1986) complementa ao afirmar que tangível origi- nou-se, também, do latim tango que significa perceptível ao toque. Entretanto, embora a própria nomenclatura sugira, os mesmos autores afirmam que a falta de forma ou existência física não é uma condição para separação entre os ativos tan- gíveis e os intangíveis. Martins (1972) é ainda mais taxativo: Se quisermos ligar a etimologia da palavra Intangível à definição dessa categoria de ativos, nada conseguiremos, a não ser con- cluir que não há tal significado etimológico no conceito contá- bil. Patentes são consideradas Ativo Intangível, mas, Prêmios de Seguros Antecipados não possuem qualquer caráter de tangibilidade maior do que aquelas, porém, não pertencem ao grupo dos Intangíveis. Na verdade, Investimentos, Duplicatas a Receber, Depósitos Bancários, representam todos eles, direitos, mas, apesar da falta de existência corpórea, são considerados tangíveis. (MARTINS, 1972, p. 53) Fica evidente que a definição de ativo intangível como aquele que não possui existência física ou que não pode ser tocado é simplista e incompleta, pois, como mencionado, uma empresa pode possuir diversos outros ativos que não podem ser toca- dos, como, por exemplo, créditos fiscais, despesas pagas antecipadamente, entre outros, que não são considerados ativos intangíveis. No entanto, para Reilly e Schweihs (1998), os ativos intangíveis devem ter um respaldo tangível, isto é, ati- vos intangíveis, como marcas, patentes ou bancos de dados, apesar de sua natureza intangível, devem estar devidamente registrados e/ou mostrar evidências físicas de sua existência. Mas como definir os ativos intangíveis? A dificuldade é tanta que Martins (1972), em sua Tese de Doutoramento, enfati- zou a dificuldade de uma definição formal para o termo. Koh- ler (In: IUDÍCIBUS, 2000) define com muita propriedade os ativos intangíveis, como sendo ativos de capital que não têm existência física e cujo valor é limitado pelos direitos e benefí- cios que sua posse confere ao proprietário. Teoria da Contabilidade – 34 – Hendriksen e Van Breda (1999, p. 387) definem ativos intan- gíveis como, [...] ativos que carecem de substância. Como tais, esses ativos devem ser reconhecidos sempre que preencherem os requisitos de reconhecimento de todo e qualquer ativo, ou seja, devem atender à definição de ativo, devem ser mensuráveis e devem ser relevantes e precisos. Já Lev (2001) define ativo intangível como um direito a bene- fícios futuros que não possui corpo físico ou financeiro, que é criado pela inovação, por práticas organizacionais e pelos recursos humanos. Ainda segundo o autor, os ativos intan- gíveis interagem com os ativos tangíveis na criação de valor corporativo e no crescimento econômico. Upton (2001) define os ativos intangíveis como recursosnão físicos, geradores de prováveis benefícios econômicos futuros para uma entidade, que foram adquiridos por meio de troca ou ainda desenvolvidos internamente baseados em custos identificáveis, que têm vida limitada, possuem valor de mer- cado próprio e que pertencem ou são controlados pela enti- dade. O autor afirma, ainda, que os ativos intangíveis podem ser todos os elementos de uma empresa que existem além dos ativos monetários e dos ativos tangíveis. Kayo (2002, p. 14) complementa, Ativos intangíveis podem ser definidos como um conjunto estruturado de conhecimentos, práticas e atitudes da empresa que, interagindo com seus ativos tangíveis, contribui para a for- mação do valor das empresas. Como base nas definições de ativos apresentadas anterior- mente, pode-se pensar os ativos intangíveis como ativos de natureza permanente, sem existência física e que, à disposi- ção e controlados pela empresa, sejam capazes de produzir benefícios futuros. São exemplos de alguns ativos intangíveis: patentes, franquias, marcas, goodwill, direitos autorais, pro- cessos secretos, licenças, softwares desenvolvidos, bancos de dados, concessões públicas, direitos de exploração e opera- ção, uma carteira fiel de clientes etc. – 35 – Patrimônio Atividades de aplicação 1. No Brasil, para elaboração e apresentação das demonstrações contá- beis, que regras deverão ser seguidas? 2. De acordo com as modificações propostas pela Resolução 1.282/2010 em relação à Resolução 750/93 qual princípio atualmente não é mais praticado no Brasil? 3. Como pode ser definido o Patrimônio do ponto de vista contábil? 4. Como funciona a origem e a aplicação de recursos no Balanço Patrimonial? 5. Quais os dois aspectos inerentes ao Balanço Patrimonial e como eles podem ser definidos? Situações líquidas patrimoniais Introdução A seguir serão vistas as representações gráficas dos estados patrimoniais que demonstram como o patrimônio das empresas pode estar configurado. Posteriormente, será abordada a formação do patrimônio das empresas, ou seja, como as movimentações alte- ram e constroem o patrimônio de uma entidade. Por fim, serão vis- tos os tópicos relativos às fontes do Patrimônio Líquido, ou seja, as formas de investimento que ocorrem nas entidades. 3 Teoria da Contabilidade – 38 – 3.1 Representação gráfica dos estados patrimoniais A situação patrimonial é como o balanço pode se apresentar, ou seja, como ele pode estar configurado. Apresentando mais bens e direitos do que obrigações, mais obrigações que bens e direitos ou, ainda, apresentando ativo e passivo iguais. A maneira mais simplificada para que sejam demonstradas as situações possíveis com relação à estrutura patrimonial é com a utilização de gráficos e figuras. Nas ilustrações a seguir, supõem-se dois pratos em uma balança, em que o prato da esquerda é o Ativo e o da direita é o Passivo. Com valores iguais para ambos, o equilíbrio estará alcançado. Mas, nor- malmente, o Ativo e o Passivo apresentam valores diferentes e esta balança virtual penderá para um dos lados. O peso (valor) que se utiliza para se alcan- çar este equilíbrio é chamado Patrimônio Líquido e, por lógica, estará no lado do menor valor. A seguir, é apresentada a primeira situação. 1.ª Situação – Ativo = Passivo → Patrimônio Líquido = 0 Figura 1 – Patrimônio líquido nulo. A P A primeira situação (situação líquida nula) revela a inexistência de riqueza própria (representada pelo Patrimônio Líquido), como, por exemplo, acontece com o indivíduo ou empresa que possui bens à sua disposição, mas tem dívida junto a terceiros de igual valor. Outra forma dessa situação ser possível é quando a empresa tem exatamente o mesmo valor de capital social e prejuízo, o que acaba fazendo com que ela fique com o Patrimônio Líquido com o valor zero. Esta é a situação patrimonial gráfica, mostrando valores iguais para Ativo (A) e Passivo (P): Ativo Passivo – 39 – Situações líquidas patrimoniais Com valores idênticos, fica fácil verificar que o Ativo e o Passivo repre- sentam o mesmo peso, fazendo com que a empresa possua um Patrimônio Líquido igual a zero. Essa situação pode ainda ser representada pela seguinte equação patrimonial: Ativo Passivo Bens Fornecedores 1.000 Caixa 1.000 Empréstimos 3.000 Bancos 1.000 Patrimônio Líquido Direitos Capital Social 1.000 Clientes 2.000 (-) Capital a integralizar (1.000) Total 4.000 Total 4.000 Nota-se no Balanço Patrimonial que a empresa possui o seu Patrimônio Líquido igual a zero, pois nessa situação o Capital Social ficou totalmente a integralizar, ou seja, não foi colocado na empresa no ato de constituição da mesma. Logo, a mesma só possui bens, direitos e obrigações com terceiros. A segunda situação (situação líquida positiva) é evidenciada na sequên- cia, onde a empresa possui um valor superior a zero representando sua riqueza própria, conforme segue: 2.ª Situação – Ativo > Passivo → Patrimônio Líquido > 0 Figura 2 – Patrimônio Líquido Positivo. A P + PL A segunda situação revela existência de riqueza própria, sendo justificada pela diferença positiva entre o Ativo (A) e o Passivo (P), tal diferença é cha- mada de Patrimônio Líquido (PL), conforme demonstra a estrutura gráfica que segue: Ativo Passivo PL Teoria da Contabilidade – 40 – Com relação à estrutura gráfica, mostrada anteriormente, é fácil identifi- car o valor a maior no lado do Ativo (A), ocasionando a criação do Patrimônio Líquido (PL). Essa situação é a mais comum e a mais desejada pelas empresas, ou seja, a existência da riqueza própria. Com a utilização da estrutura patri- monial acompanhada de valores é possível entender melhor a situação. Ativo Passivo Bens Fornecedores 1.000 Caixa 1.000 Empréstimos 1.000 Bancos 1.000 Patrimônio Líquido Direitos Capital Social 1.000 Clientes 1.000 Total 3.000 Total 3.000 Nessa situação é possível imaginar que a empresa pode pagar suas duas dívi- das com terceiros (Fornecedores e Empréstimos) e ainda irá sobrar R$1.000,00 de Patrimônio Líquido, ou seja, da parte que pertence aos sócios. A terceira situação, nem tão comum na prática entre as empresas em atividade no Brasil, demonstra a situação de falta de capitais de terceiros, fazendo uma simulação de atividades sem obrigações. Isso, teoricamente, pode ocorrer, mas é muito difícil de ocorrer na prática empresarial. 3.ª Situação – Ativo = Patrimônio Líquido → Passivo = 0 Figura 3 – Passivo Nulo. A PL A terceira situação revela a inexistência de obrigações ou dívidas, repre- sentadas pelo Passivo exigível da empresa. Logo, todo o Ativo é dos sócios, acionistas ou cotistas e não há reclamos de terceiros sobre ele. Ativo PL – 41 – Situações líquidas patrimoniais A situação mostrada anteriormente denota, tal como foi a primeira situ- ação, valores idênticos. Essa equidade apenas se difere da primeira situação pois, do lado direito, são relacionados, agora, os valores relativos à riqueza empresarial, e não obrigações ou dívidas na situação mais antiga. Um momento em que essa situação pode ocorrer é na criação da empresa, pois aí surge o Patrimônio Líquido em contrapartida do Ativo, ou seja, ainda não existem obrigações da empresa. Ativo Passivo Bens 1.000 Patrimônio Líquido 1.000 Caixa Capital Social Total 1.000 Total 1.000 Nessa situação, a empresa teve o capital inicial de R$1.000,00 totalmente integralizado em dinheiro no caixa, assim o total do Ativo ficou igual ao total do Patrimônio Líquido. O ativo também é conhecido como Patrimônio Bruto. A quarta situação a ser evidenciada é uma situação empresarial conside- rada ruim, pois mostrará uma situação gráfica em que a empresa possui um menor conjunto de bens e direitos, se comparados às obrigações, fazendo com que a empresa apresente dificuldades de pagamentos, podendo ser de longo, médio ou curto prazo. Na sequência, segue a correspondente repre- sentação comparativa. 4.ª Situação – Ativo < Passivo → Patrimônio Líquido < 0 Figura 4 – PatrimônioLíquido Negativo. A + PL P Também chamada de Patrimônio Líquido Negativo ou Passivo a desco- berto, deixa clara a ideia de que a empresa apresenta dificuldades de liquidez, ou seja, o poder de gerar recursos, pois terá muito mais obrigações a liquidar do que a possibilidade de gerar recursos financeiros em um mesmo período de tempo. Ativo Passivo PL Teoria da Contabilidade – 42 – A seguinte equação patrimonial com os devidos valores atribuídos pode exemplificar melhor tal situação: Ativo Passivo Bens Fornecedores 2.000 Caixa 1.000 Patrimônio Líquido Capital Social 1.000 Prejuízos Acumulados (2.000) Total 1.000 Total 1.000 Nessa situação, é possível notar que o valor dos Prejuízos Acumulados, que é de R$2.000,00, supera o valor total do Capital Social, de R$1.000,00, o que faz com que a empresa fique com o Passivo a Descoberto. Para finalizar, não foi considerada a situação de Ativo igual a zero, onde o Patrimônio Líquido (PL) é igual ao (P), pois é muito improvável, sendo apenas citada na situação hipotética de uma empresa que apresente prejuízos consecu- tivos, gerando um Patrimônio Líquido negativo e, posteriormente, liquidando todo o seu Ativo, ainda, sem conseguir liquidar todas as suas obrigações. 3.2 Formação do Patrimônio A seguir alguns exemplos de como funcionam as movimentações do Patrimônio e como ele passa por evoluções. Assim, a primeira situação inicial proposta é um balanço que apresenta apenas duas contas. Balanço Patrimonial Ativo Passivo Caixa 100.000 Patrimônio Líquido Capital 100.000 Total do Ativo 100.000 Total do Passivo 100.000 Aqui a empresa teve suas atividades iniciadas com dinheiro, assim R$100.000,00 de capital, que se originaram no Capital Social, captados de um ou mais sócios, foram aplicados no Ativo Caixa da empresa. Aqui é pos- – 43 – Situações líquidas patrimoniais sível entender como o fluxo de dinheiro entra pelo Passivo, nesse caso, pelo investimento dos sócios, e se aplica no Ativo, no caso, o Caixa. Na segunda operação foi feita uma compra de veículos à vista (em dinheiro) de um veículo por R$15.000,00 e uma compra de mercadorias no mesmo valor, também à vista. Balanço Patrimonial Ativo Passivo Caixa 70.000 Mercadoria 15.000 Patrimônio Líquido Veículos 15.000 Capital 100.000 Total do Ativo 100.000 Total do Passivo 100.000 Mais uma vez a igualdade foi mantida e só houve uma troca de valores entre o ativo, aqui no caso o dinheiro saiu do Caixa da empresa e foi para a compra de Mercadorias e Veículos. Agora a empresa teve uma compra de R$20.000,00 de mercadorias a prazo, o que quer dizer que ela não desembolsou dinheiro para isso, entre- tanto, seguindo o método das partidas dobradas, mesmo sendo a prazo o valor terá que ter uma contrapartida, que no caso será representada por Fornecedores. Balanço Patrimonial Ativo Passivo Caixa 70.000 Fornecedores 20.000 Mercadoria 35.000 Patrimônio Líquido Veículos 15.000 Capital 100.000 Total do Ativo 120.000 Total do Passivo 120.000 É preciso notar agora que o valor do balanço subiu para R$120.000,00 de ambos os lados, e que agora do lado direito surgiu uma obrigação com fornecedores, que foi aplicada na conta Mercadoria. Em outro momento a empresa compra um prédio, no valor de R$50.000,00 a prazo para a manutenção de suas atividades. Teoria da Contabilidade – 44 – Balanço Patrimonial Ativo Passivo Caixa 70.000 Fornecedores 20.000 Mercadoria 35.000 Financiamento 50.000 Veículos 15.000 Patrimônio Líquido Imóvel 50.000 Capital 100.000 Total do Ativo 170.000 Total do Passivo 170.000 Agora o valor total do balanço foi alterado novamente, pois a empresa aumentou o patrimônio quando comprou um imóvel, mas também aumen- tou as suas dívidas quando comprou esse imóvel a prazo. Logo, foi possível manter a igualdade dos dois lados, pois o método das partidas dobradas está sendo respeitado em todas as operações. Outra operação comum nas empre- sas é o pagamento de fornecedores. A seguir será evidenciado como fica essa operação, sendo que no referido exemplo foi pago o valor de R$10.000,00. Balanço Patrimonial Ativo Passivo Caixa 60.000 Fornecedores 10.000 Mercadoria 35.000 Contas a pagar 50.000 Veículos 15.000 Patrimônio Líquido Imóvel 50.000 Capital 100.000 Total do Ativo 160.000 Total do Passivo 160.000 Agora o valor dos dois lados diminui e isso se deve ao fato de o valor da dívida ter diminuído e, consequentemente, o valor do caixa também. Foi possível verificar que as situações patrimoniais são alteradas devido a diversos fatores e que o patrimônio das entidades é construído mediante entradas e aplicações de recursos. Nesse primeiro momento foram vistas somente situações que afetam as contas patrimoniais, ou seja, as contas de bens, direitos e obrigações, entretanto as movimentações que causam mudan- ças no patrimônio também acontecem por meio de contas de resultado. – 45 – Situações líquidas patrimoniais 3.3 Fontes do Patrimônio Líquido As fontes do Patrimônio Líquido podem ser baseadas nas seguintes origens: 2 Lucros – são os valores gerados pelas sobras de receitas em compa- ração com as despesas em determinado período e serão adicionados ao patrimônio das empresas. Esses valores podem ser considerados como fontes adicionais de financiamento da empresa. 2 Investimentos – neste sentido os investimentos são aqueles valores integralizados, ou seja, colocados na empresa pelos sócios, como, por exemplo, o capital social ou capital subscrito. O capital social pode ser advindo de investimento na forma de ações, no caso de sociedades anônimas, ou ainda na forma de cotas, no caso das socie- dades por cotas de responsabilidade limitada, que captam dinheiro por meio de seus proprietários. O capital colocado pelos sócios ou acionistas nas empresas pode receber algumas denominações nem sempre usuais e que podem ser vistas a seguir: 2 Capital autorizado – esse termo é utilizado no caso das sociedades anônimas e é relacionado com o limite previsto no estatuto social para novas subscrições de capital sem que seja feita uma alteração estatutária, pode-se dizer que funciona como uma autorização pré- via para que sejam feitas novas subscrições. 2 Capital social ou Capital subscrito – é aquele capital estabelecido no contrato social ou no estatuto (no caso das sociedades anôni- mas). Os sócios deverão subscrever, ou seja, assumir o compro- misso de efetivamente colocar o dinheiro na empresa. 2 Capital nominal ou Capital declarado – é aquele capital fixado no estatuto ou no contrato. Ele também é conhecido como capital social ou capital social subscrito. A subscrição, por sua vez, é o ato pelo qual os sócios assumem o compromisso de realizar, ou seja, de apresentar determinado valor a título de capital social em uma empresa. A subscrição está ligada à realização de capital social ou ainda de aumento de capital. 2 Capital a realizar – é a parte do capital subscrito ainda não reali- zada, pode ser conhecido também como capital a subscrever ou a integralizar. Teoria da Contabilidade – 46 – 2 Capital realizado – é o valor já subscrito e realizado pelos sócios, na forma de dinheiro ou outros bens ou créditos. 2 O capital próprio, por sua vez, representará não só um elemento, mas o grupo inteiro, ou seja, o Patrimônio Líquido. Alguns termos também se referem a capital, porém não necessariamente estão ligados a investimentos, entre eles é possível destacar: 2 Capital de terceiros ou capital alheio – é o mesmo que capital de terceiros, ou seja, o Passivo Exigível (Passivo Circulante e o Passivo Não Circulante). 2 Capital total à disposição – esse conceito engloba o capital próprio (Patrimônio Líquido) e o Capital de Terceiros (Passivo Exigível). 2 Capital aplicado – apesar de o nome estar relacionado ao capital, esse termo é relativo ao Ativo Total da empresa, até porque as ori- gens dos capitais ocorrem no Passivo e a aplicação ocorre no Ativo. O Ativo também pode ser conhecido como PatrimônioBruto. Foi possível notar que o Patrimônio é composto por basicamente duas fontes, e que elas são relacionadas aos sócios ou proprietários de determinada entidade. Também foi possível evidenciar que, de acordo com a terminologia contábil, é possível usar várias expressões que definem os investimentos. Ampliando seus conhecimentos Origens e aplicações de recursos (BRANDÃO, 2010) Após classificarmos as contas em bens, direitos, obrigações exigíveis e patrimônio líquido, passaremos a ter condições de identificar se as mesmas representam uma aplicação ou uma origem de recursos. As contas que integram o Ativo (bens e direitos) denotam por base aplicações de recursos, enquanto as contas que apa- recem no Passivo e no Patrimônio Líquido indicam por base origens de recursos. – 47 – Situações líquidas patrimoniais Para a contabilidade, não pode haver uma aplicação sem que haja uma origem respectiva. Sendo assim, sempre que houver entrada de um bem ou de um direito haverá origens respec- tivas à entrada. Da mesma forma que se houver uma saída de bens ou uma redução dos direitos deve-se justificar onde o valor deles foi aplicado. Vejamos alguns exemplos: 1) Compra de móveis e utensílios pagando 50% do valor em cheque e o restante será pago através de duplicatas em cobrança simples. Contas Classificação Variação Móveis e Utensílios Bens Aumento Aplicação Banco conta movimento Bem Redução Origem Duplicatas a pagar Obrigação Aumento Origem A pergunta a ser feita é: o que originou a compra de móveis e utensílios? Se não fosse a emissão do cheque e o aceite de duplicatas, o bem jamais seria adquirido. 2) Venda de móveis e utensílios, a prazo, com ganho. Contas Classificação Variação Móveis e Utensílios Bens Redução Origem Duplicatas a Receber Direito Aumento Aplicação Ganho (Receita) PL Aumento Origem A pergunta a ser feita é: o que originou a emissão da duplicata? A duplicata só foi emitida porque houve a venda de móveis e utensílios a prazo. O ganho representa a origem do valor da duplicata ser maior do que o valor de custo dos bens. Podemos concluir que sempre que houver aumento de Ativo Teoria da Contabilidade – 48 – haverá uma aplicação de recurso e quando ocorrer uma redu- ção no Ativo ocorrerá uma origem de recurso. Se pensarmos no Passivo, podemos afirmar que quando houver aumento do mesmo, teremos uma origem e quando ocorrer uma redução, teremos uma aplicação. Atividades de aplicação 1. Quando é revelada a inexistência da riqueza própria na empresa? 2. As seguintes equações representam que situação patrimonial? Ativo > Passivo → Patrimônio Líquido > 0 3. Qual o momento em que o ativo é igual ao Patrimônio Líquido? 4. Qual a definição de Passivo a descoberto? 5. Quais as fontes do Patrimônio Líquido? Atos e fatos Introdução Como o patrimônio se altera? Quais são os fatos que provo- cam modificações e como elas se configuram? Você já parou para pensar nisso? Para que você possa entender como os fatos fazem com que o patrimônio se altere, é preciso abordar o tópico atos administrativos e fatos contábeis. 4 Teoria da Contabilidade – 50 – 4.1 Atos administrativos Os atos administrativos são aqueles que ocorrem nas entidades e não provocam nenhum tipo de alteração no patrimônio. Entre eles estão a contra- tação de um funcionário, a movimentação de um móvel dentro da empresa, entre outros que não provocam alteração contábil, ou seja, são fatos mera- mente administrativos, sem nenhum impacto contábil. Porém existem alguns atos administrativos que no futuro irão gerar alte- rações no patrimônio, entre eles estão a contratação de seguros, que no futuro irá gerar despesas ou custos para a empresa, se for a prazo gerará um passivo e se for à vista um desembolso do caixa ou bancos. Outro exemplo é quando a empresa avaliza, ou seja, quando ela se compromete a pagar dívidas de ter- ceiros, ela pode estar arcando no futuro com uma dívida que não é dela e isso irá impactar em seu patrimônio. 4.2 Fatos contábeis As variações no patrimônio podem ocorrer basicamente de duas for- mas, sendo a primeira de forma qualitativa, que é caracterizada por alterações na composição dos elementos patrimoniais, mediante, por exemplo, o sur- gimento ou a eliminação de um bem, direito ou obrigação, mudanças nos valores patrimoniais já existentes, porém sem mudar o patrimônio líquido, ou seja, o resultado. As variações quantitativas são aquelas que irão apresen- tar mudanças no Ativo e no Passivo e também no Patrimônio Líquido das Empresas, seja para mais ou para menos, sendo assim necessário o surgimento de receitas e despesas, pois estes são elementos que alteram o patrimônio das entidades. Por fim, há a variação mista, que surgirá mediante uma variação qualitativa e uma quantitativa. Os fatos contábeis são aqueles que alteram o Patrimônio da entidade, podendo ainda alterar, ou não, o Patrimônio Líquido. Os fatos contábeis estão classificados em três tipos distintos. 2 Fatos permutativos: são aqueles que provocam mutações somente entre contas do ativo, ou do ativo e do passivo ou, ainda, do patrimô- nio líquido, porém sem provocar mudanças no patrimônio líquido, ou seja, sem impactar no resultado (as contas do PL que não são de – 51 – Atos e fatos resultado poderão ser afetadas). No caso de permutação de valores do ativo, um exemplo pode ser dado pela compra de um imóvel à vista, o dinheiro sai do caixa e vai para o imóvel, ou seja, só há a permuta, ou troca de valores entre ativos. Para melhor entendimento, veja a seguinte situação: Tabela 1 – Situação anterior ao recebimento Ativo Passivo Caixa 10.000 Contas a pagar 5.000 Clientes 5.000 Patrimônio Líquido Capital Social 5.000 Reserva de Lucros 5.000 Total 15.000 Total 15.000 Supondo que a empresa tenha recebido os R$5.000,00 de clientes, haverá uma permutação apenas entre elementos do Ativo e a situação patri- monial ficará da seguinte forma: Tabela 2 – Situação após o recebimento Ativo Passivo Caixa 15.000 Contas a pagar 5.000 Clientes 0 Patrimônio Líquido Capital Social 5.000 Reserva de Lucros 5.000 Total 15.000 Total 15.000 Note que não houve nenhuma alteração no total do balanço, mas sim no caixa, que era R$10.000,00 e passou a R$15.000,00 e que o valor de clientes de R$5.000,00 ficou em zero, ou seja, houve somente uma troca de valores entre contas. Outro exemplo de fato permutativo é aquele que ocorre entre elementos do Passivo, para exemplificar pense no seguinte fato: a empresa obteve um empréstimo e o contador na hora de classificá-lo contabilizou o valor na con- tas de Contas a pagar ao invés de classificá-lo corretamente na Conta emprés- Teoria da Contabilidade – 52 – timos, o que é extremamente necessário na contabilidade pois são duas ope- rações diferentes, uma vez que o empréstimo é uma operação financeira. A base será o seguinte balanço: Tabela 3 – Situação anterior à reclassificação Ativo Passivo Caixa 15.000 Contas a pagar 5.000 Clientes 0 Patrimônio Líquido Capital Social 5.000 Reserva de Lucros 5.000 Total 15.000 Total 15.000 Então foi verificado que dos R$5.000,00 em contas a pagar, R$2.500,00 eram referentes a um empréstimo e que deveriam ser reclassificados para tal conta. Segue a reclassificação que gerou um fato permutativo entre os ele- mentos do passivo: Tabela 4 – Situação posterior à reclassificação Ativo Passivo Caixa 15.000 Contas a pagar 2.500 Clientes 0 Empréstimo 2.500 Patrimônio Líquido Capital Social 5.000 Reserva de Lucros 5.000 Total 15.000 Total 15.000 Note que novamente não houve alteração no valor total do Balanço, somente nas contas do passivo, com a reclassificação do valor indevido que havia sido lançado na conta de Contas a pagar e que foi devidamente ajustado na conta de Empréstimos. No caso da permutação entre os elementos do Patrimônio Líquido ela pode ser ilustrada pela seguinte situação: – 53 – Atos e fatos Tabela 5 – Situação anterior à reclassificação (2) AtivoPassivo Caixa 15.000 Contas a pagar 2.500 Clientes 0 Empréstimo 2.500 Patrimônio Líquido Capital Social 5.000 Reserva de Lucros 5.000 Total 15.000 Total 15.000 Suponha que houve a incorporação dos lucros ao capital social da empresa, aumentando o seu valor de R$5.000,00 para R$10.000,00, sendo assim, a nova demonstração ficaria da seguinte forma: Tabela 6 – Situação posterior à reclassificação (2) Ativo Passivo Caixa 15.000 Contas a pagar 2.500 Clientes 0 Empréstimo 2.500 Patrimônio Líquido Capital Social 10.000 Total 15.000 Total 15.000 É possível notar que houve uma permuta somente entre os elementos do Patrimônio Líquido, ou seja, não houve nenhum tipo de modificação, só permutação. Existe também a permutação entre elementos de ativo e de passivo, e esta pode ocorrer de duas formas: 2 Aumentativo – quando existe uma compra a prazo, por exemplo, o que pode ser verificado pela seguinte situação: a empresa adquire mercadorias no valor de R$10.000,00 e irá pagar a prazo. Teoria da Contabilidade – 54 – Tabela 7 – Situação anterior à compra Ativo Passivo Caixa 15.000 Contas a pagar 2.500 Clientes 0 Empréstimo 2.500 Patrimônio Líquido Capital Social 5.000 Reserva de Lucros 5.000 Total 15.000 Total 15.000 Tabela 8 – Situação posterior à compra Ativo Passivo Caixa 15.000 Fornecedores 10.000 Clientes 0 Contas a pagar 2.500 Mercadorias 10.000 Empréstimo 2.500 Patrimônio Líquido Capital Social 5.000 Reserva de Lucros 5.000 Total 25.000 Total 25.000 Note que o balanço sofreu diversas alterações, a primeira delas no valor total, que era R$15.000,00 e passou para R$25.000,00, isso porque tanto o lado do ativo quanto o lado do passivo aumentaram devido à compra da mercadoria a prazo, o que afetou a conta Mercadorias e a conta Fornecedores em R$10.000,00. 2 Diminutivo – existem também os fatos permutativos entre ele- mentos do Ativo e do Passivo que são considerados como diminuti- vos, um exemplo pode ser ilustrado pelo pagamento de R$5.000,00 dos fornecedores com a utilização do valor em caixa. Dessa forma, segue a simulação do exemplo. – 55 – Atos e fatos Tabela 9 – Situação anterior ao pagamento Ativo Passivo Caixa 15.000 Fornecedores 10.000 Clientes 0 Contas a pagar 2.500 Mercadorias 10.000 Empréstimo 2.500 Patrimônio Líquido Capital Social 5.000 Reserva de Lucros 5.000 Total 25.000 Total 25.000 Com o pagamento de R$5.000,00 da dívida haverá uma diminuição tanto no ativo quanto no passivo. Tabela 10 – Situação posterior ao pagamento Ativo Passivo Caixa 10.000 Fornecedores 5.000 Clientes 0 Contas a pagar 2.500 Mercadorias 10.000 Empréstimo 2.500 Patrimônio Líquido Capital Social 5.000 Reserva de Lucros 5.000 Total 20.000 Total 20.000 O valor do balanço foi alterado, pois aconteceu um fato diminutivo. Isso pode ser provado mediante a observação do caixa e da conta Fornecedores, que tiveram seu valor diminuído em R$5.000,00 respeitando o método de partidas dobradas. Com relação aos fatos permutativos, foi possível ver que estes contem- plam somente contas patrimoniais, ou seja, contas de bens, direitos e obriga- ções e as movimentações que ocorrem entre um mesmo grupo ou que podem ocorrer entre grupos diferentes, mas somente como troca de valores, sem modificação patrimonial. Esse tipo de modificação ocorre nos fatos modifica- tivos ou quantitativos e será explorada a seguir. Teoria da Contabilidade – 56 – Fatos modificativos ou quantitativos são aqueles que envolvem despesas e receitas, que são elementos que aumentam ou diminuem o patrimônio das entidades pela apuração do lucro ou prejuízo. Dividem-se em fatos permuta- tivos aumentativos e diminutivos. 2 Diminutivo – veja agora um exemplo que envolve o pagamento de despesa com energia elétrica. Tabela 11 – Situação anterior ao pagamento da despesa com energia elétrica Ativo Passivo Caixa 10.000 Fornecedores 5.000 Clientes 0 Contas a pagar 2.500 Mercadorias 10.000 Empréstimo 2.500 Patrimônio Líquido Capital Social 5.000 Reserva de Lucros 5.000 Total 20.000 Total 20.000 Agora visualize o balanço após o pagamento de uma conta de energia elétrica de R$100,00 reais. Tabela 12 - Situação posterior ao pagamento da despesa com energia elétrica Ativo Passivo Caixa 9.900 Fornecedores 5.000 Clientes 0 Contas a pagar 2.500 Mercadorias 10.000 Empréstimo 2.500 Patrimônio Líquido Capital Social 5.000 Reserva de Lucros 4.900 Total 19.900 Total 19.900 – 57 – Atos e fatos Note que o valor do balanço teve uma diminuição de R$100,00, isso porque a despesa diminui o patrimônio líquido das entidades, afetando uma diminuição no patrimônio líquido. É preciso ressaltar que essa operação não ocorre diretamente no Balanço, mas sim na Demonstração do Resultado do Exercício, que é uma demonstração que será explorada posteriormente, entre- tanto impacta no Balanço e foi assim demonstrada para fins didáticos. O valor do caixa também sofreu uma diminuição, pois era R$10.000,00 e foi impac- tado negativamente em R$100,00, assim como a conta de Reserva de Lucros. 2 Aumentativo – um exemplo de fato aumentativo pode ser ilus- trado por uma venda recebida à vista, no valor de R$100,00. Tabela 13 – Situação anterior ao recebimento da receita Ativo Passivo Caixa 9.900 Fornecedores 5.000 Clientes 0 Contas a pagar 2.500 Mercadorias 10.000 Empréstimo 2.500 Patrimônio Líquido Capital Social 5.000 Reserva de Lucros 4.900 Total 19.900 Total 19.900 Agora com o recebimento da receita no valor de R$100,00 veja como ficou a situação da empresa: Tabela 14 – Situação posterior ao recebimento da receita Ativo Passivo Caixa 10.000 Fornecedores 5.000 Clientes 0 Contas a pagar 2.500 Mercadorias 10.000 Empréstimo 2.500 Patrimônio Líquido Capital Social 5.000 Reserva de Lucros 5.000 Total 20.000 Total 20.000 Teoria da Contabilidade – 58 – Note que o valor total do balanço aumentou, e que o total da reserva de lucros, bem como a conta caixa, também foram impactados positivamente, a exemplo da despesa o lançamento não ocorre diretamente no balanço, mas está assim demonstrado de forma didática, uma vez que ainda não foi visto o conceito de Demonstração de Resultado de Exercício. Os fatos modificativos ou quantitativos envolvem contas de resultado e contas patrimoniais e, consequentemente, alteram o patrimônio. Outra cate- goria de fatos que alteram o patrimônio é a dos fatos mistos, estes, por sua vez, congregam a existência de um fato permutativo e de um fato modifica- tivo ao mesmo tempo, e serão vistos de forma mais detalhada. 2 Fatos mistos – envolvem simultaneamente um fato permutativo e um modificativo, ocorrendo em um aumento no Ativo, Passivo ou Patrimônio Líquido, simultaneamente ou não. Podem ser de dois tipos: aumentativos mistos quando envolvem duas ou mais contas de patrimônio e uma de resultado (receita), como o recebi- mento com juros e diminutivos, que envolve duas ou mais contas patrimoniais e uma ou mais contas de despesa, como pagamentos com juros, por exemplo. No caso dos fatos mistos aumentativos a seguinte situação pode ilustrar melhor o exemplo: Tabela 15 – Situação anterior ao recebimento de clientes com juros Ativo Passivo Caixa 10.000 Fornecedores 5.000 Clientes 10.000 Contas a pagar 2.500 Mercadorias Empréstimo 2.500 Patrimônio Líquido Capital Social 5.000 Reserva de Lucros 5.000 Total 20.000 Total 20.000 O valor de Clientes foi recebido com atraso de alguns dias, o que gerou juros de R$500,00. Dessa forma, o novo balanço patrimonial ficará: – 59 – Atos e fatos Tabela 16 – Situação posterior ao recebimento de cliente com juros Ativo Passivo Caixa 20.500 Fornecedores 5.000 Clientes Contas a pagar 2.500 Mercadorias Empréstimo 2.500 Patrimônio Líquido Capital Social 5.000 Reserva de Lucros 5.500 Total 20.500 Total 20.500 Note que houve o aumento do caixa em R$20.500,00, sendo que R$10.000,00, foram relativos à baixa de clientes e R$500,00 foram refe- rentes aos juros gerados na operação de recebimento
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