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O Arranha-céu e o Rio de Janeiro. Fragmento de um Debate sobre 
Arquitetura, Urbanismo, Paisagem e Mercado na Enquete de O Paiz 
(1928). 
 
Resumo 
Este trabalho tem como tema a série de entrevistas “O Arranha-céu e o Rio de Janeiro”, enquete 
realizada pelo jornal O Paiz nos meses de junho e julho de 1928 cujos assuntos giram em torno 
do processo inicial de implantação desse tipo de edifício na então cidade em modernização. 
Fragmento de um debate mais amplo sobre a questão da construção em altura, ali destacada 
entre os anos de 1926 e 1937, o episódio reúne em torno de si problemas importantes para a 
época. Ao tratar do arranha-céu, os profissionais cariocas estavam discutindo, também: as 
funções da profissão do arquiteto; os problemas relativos à aceleração da urbanização; a 
emergência da disciplina urbanística; a estética e a imagem da cidade; a relação entre a paisagem 
carioca e a monumentalidade da arquitetura vertical; o desenvolvimento do mercado imobiliário; a 
avaliação dos métodos construtivos em relação às possibilidades de lucro no capital aplicado; as 
questões de higiene urbana, como ventilação e insolação etc. 
 1 
O Arranha-céu e o Rio de Janeiro. Fragmento de um Debate sobre 
Arquitetura, Urbanismo, Paisagem e Mercado na Enquete de O Paiz 
(1928). 
 
Introdução 
Este trabalho tem como tema a série de entrevistas “O Arranha-céu e o Rio de Janeiro1”, enquete 
realizada pelo jornal O Paiz nos meses de junho e julho de 1928 cujos assuntos giram em torno 
do processo inicial de implantação desse tipo de edifício na então cidade em modernização. 
Fragmento de um debate mais amplo sobre a questão da construção em altura, ali destacada 
entre os anos de 1926 e 1937, o episódio reúne em torno de si problemas importantes para a 
época. Ao tratar do arranha-céu, os profissionais cariocas2 estavam discutindo, também: as 
funções da profissão do arquiteto; os problemas relativos à aceleração da urbanização; a 
emergência da disciplina urbanística; a estética e a imagem da cidade; a relação entre a paisagem 
carioca e a monumentalidade da arquitetura vertical; o desenvolvimento do mercado imobiliário; a 
avaliação dos métodos construtivos em relação às possibilidades de lucro no capital aplicado; as 
questões de higiene urbana, como ventilação e insolação etc. 
Acreditamos que o principal fator desencadeador de tal mobilização tenha sido a construção, a 
partir de 1925, dos primeiros edifícios com gabarito acima dos seis andares, média comum na 
Avenida Rio Branco da época, sendo o principal conjunto deles o “Quarteirão Serrador”, finalizado 
exatamente em 1928. 
Apelido dado à atual Cinelândia, o referido título faz referência a Francisco Serrador3, personagem 
que idealizou e construiu o conjunto de prédios em altura que substituiu o antigo terreno do 
Convento da Ajuda. “O primeiro deles, o Cinema Capitólio, com estrutura de concreto e dez 
andares, foi calculado e construído por Emílio Baumgart, e é considerado o primeiro arranha-céu 
carioca. Seguiram-se o Hotel Itajubá, o Cinema Rex, também cálculo de Baumgart, e o Cinema 
Metropolitano, todos com estrutura de concreto e mais de quinze andares” (FICHER, 1994, p. 64). 
 
1 O título completo: “O Arranha-céu e o Rio de Janeiro. Pode a nossa cidade ter o Sky scraper? Como deve ser o 
Arranha-céu carioca?”. 
2 Boa parte dos arquitetos citados é mencionada por Lucio Costa no texto “Depoimento de um arquiteto carioca”. O 
referido trecho: “Período marcado pela atividade profissional dos arquitetos Memória e Cuchet – herdeiros do escritório 
de Heitor de Melo -, Nereu Sampaio, Ângelo Bruhns, José Cortez, Armando de Oliveira, Cipriano de Lemos, Santos 
Maia e tantos outros, inclusive Edgar P. Viana...” (COSTA, 1962, p. 186). 
3 Francisco Serrador Carbonell (Valência, 1872 - Rio de Janeiro, 1941) foi um empresário e imigrante espanhol, do ramo 
do entretenimento, proprietário de hotéis, cassinos, teatros e cinemas em várias cidades brasileiras, principalmente 
Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. Nesta cidade, obteve bastante sucesso ao iniciar a exibição cinematográfica em 
sala fixa, a “Bijou-Theatre”, aberta em 16 de Novembro de 1907 (SOUZA). No Rio, erigiu, dentre outras coisas, a atual 
Cinelândia, um conjunto de sete edifícios multifuncionais construídos entre os anos de 1925 a 1928, em área fronteiriça 
de uma praça que se tornaria verdadeira “sala de estar” da cidade modernizada. 
 2 
Caracterizando o debate no seu conjunto, podemos dizer que no período compreendido entre os 
anos de 1925 a 28, veículos como O Jornal, por exemplo, já investiam no debate, tendo esse 
publicado matérias sobre arquitetura norte-americana, ou opiniões sobre o tema dadas por 
arquitetos como Edgar Vianna, profissional formado na Universidade da Pensilvânia. 
O segundo semestre de 1928 foi outro momento rico de opiniões e distinguiu-se como 
“repercussão” do acontecimento que tomamos como central. Nesse momento, posições como a 
de José Marianno Filho, Armando de Godoy, Agache e Warchavchik foram importantes na 
composição geral do problema. 
Avançando no tempo, o debate dos arranha-céus novamente tomaria fôlego no período posterior 
ao ano de 1933, quando o noticiário se encarregou de questionar o crescimento da cidade e a 
aumentada presença da construção em concreto armado na paisagem carioca, sobretudo no 
bairro de Copacabana. 
 
A enquete de O Paiz4 
O material que examinamos em O Paiz é composto de dez edições dominicais do jornal, com 
início em 24/06/1928, sendo sua proposta dar ao assunto, já popular nas ruas e mesmo na 
imprensa, caráter mais apropriado e profissional: 
“O arranha-céu deixou de ser um sonho no Rio de Janeiro. E porque ele se 
apresenta como uma realização, a viver a vida de nossa metrópole, a participar, 
portanto, de sua beleza e de sua economia, já será tempo de indagar a que vem ele 
e se realmente pode e deve ser aceito entre nós. O debate é novo. 
Por um curioso fenômeno, sobre o arranha-céu tem falado precisamente toda a 
gente, menos os que deveriam dizer a palavra verdadeira – os arquitetos. 
Outra coisa não se fez em torno do interessante problema do que divulgar as 
opiniões, valiosas, sem dúvida, mas insuficientes do povo, dos intelectuais, 
enquanto o sky scraper, ironicamente, contrapõe o que se levanta contra ele o 
argumento por demais pesado das condivagações. 
O arranha-céu, porém, não pode ser apenas isto que o leigo assinala à primeira 
vista, a exteriorização vaidosa de uma riqueza, a febre do momento, uma 
consequência da ‘americanização’. Ele deve ser algo mais” (O PAIZ, 24/06/1928). 
Aos arquitetos, o jornal fez as seguintes perguntas: “1ª - Como justifica a existência do arranha-
céu?; 2ª - Acredita que o arranha-céu tenda a se fixar nas grandes capitais?; 3ª - Julga o arranha-
céu suscetível de receber novas manifestações de arquitetura?; 4ª - Qual o processo de 
construção que convém ao arranha-céu?; 5ª - Em que estilo deve ser tratado o arranha-céu? 6ª - 
Acha o arranha-céu compatível com o nosso ambiente?”. 
 
4 O Paiz foi o principal jornal republicado do Brasil e circulou entre os anos de 1884 e 1930. Apesar de se dizer 
independente, era um jornal aliado do Governo. Foi destruído por forças da Revolução de 1930. 
 3 
Os primeiros entrevistados foram os engenheiros-arquitetos5 Ângelo Bruhns6 e José Cortez, da 
firma Cortez & Bruhns. 
Para esses profissionais, o debate exigiria urgência, pois, segundo eles, os arranha-céus eram “o 
tipo de construção que, mais de perto, interessa ao capitalista, o comerciante, o industrial e o povo 
em geral” (ibid). Em seu texto, exibiram preocupações relativas à higiene, ventilação e iluminação 
das ruas, e ao trânsito, tanto de pedestres quanto de veículos. Deram, surpreendentemente, como 
solução do problema higiênico, a idéia das torres de sessenta metrosde Le Corbusier, instaladas 
em meio de belos parques, que não impediriam seus usuários de desfrutar do ar e da luz. A 
“mania dos edifícios altos” só havia feito piorar as condições de tráfego da cidade, que antes tinha 
seu comércio bem distribuído por toda sua superfície, mas que agora se via em um processo de 
centralização. 
Segundo eles, o arranha-céu não vingaria no Rio de Janeiro, pois o desmonte dos Morros do 
Castelo e de Santo Antônio garantiria por longo tempo terrenos suficientes para a expansão do 
centro comercial da cidade. Os arquitetos dizeram não haver necessidade dos edifícios altos em 
nenhuma parte da cidade, mas como sentissem quase que o efeito do irremediável, defenderam 
um gabarito entre cinco e sete pavimentos como solução, “econômica e urbana”, para as áreas 
centrais e de Copacabana. 
Eles são os primeiros a informar a respeito do dado (deve ter sido notícia em alguma revista de 
grande circulação, pois outros repetirão esse detalhe nas entrevistas) que, na construção 
americana organizada, três quintos do capital investido na obra eram usados para o pagamento 
da mão-de-obra, e assim concluíram que existia uma relação, não desejada, entre salários baixos 
e métodos de construção lentos. Com relação à estética do arranha-céu, falaram que deveria ser 
monumental, baseada apenas em largueza e simplicidade. 
Relatam, também, que a “vulgarização” da técnica do concreto armado havia demonstrado 
facilidades econômicas em relação às outras, como o esqueleto metálico: pela “docilidade” da 
construção, pela facilidade de transporte do material em pequenos volumes e, finalmente, por 
admitir operários menos especializados. 
O esqueleto da construção pediria, nesse tipo de edifício, mais atenção do que em outros tipos e, 
portanto, deveria ser tomado como elemento mais importante do estilo. No arranha-céu, o estilo 
 
5 Utilizaremos a referência que o jornal adotou ao descrever os profissionais. Mais do que a formação, os apostos do 
tipo arquiteto-construtor dizem respeito ao modo de registro dos profissionais perante a Prefeitura, constante no 
Regulamento de Construções de 1925 (Decreto 2.087/25). Arquiteto-construtor era o engenheiro-arquiteto ou 
engenheiro civil diplomado cujo registro lhe possibilitava projetar e construir. Arquiteto era o profissional diplomado que 
ao fazer seu registro se negava o direito de construir, podendo apenas projetar. Construtor era o profissional não 
diplomado registrado para edificar projetos cuja fiscalização competia aos arquitetos e aos arquitetos-construtores. 
(ARCHITECTURA NO BRASIL, nov. 1925, pp. 2-4). 
6 Ângelo Bruhns de Carvalho (Rio de Janeiro, 1896-1975). Formado pela ENBA em 1917. Atuante no Rio, ligado ao 
movimento neocolonial, foi responsável, ao lado de José Cortez, pelo projeto do Instituto de Educação, objeto de 
importante concurso de arquitetura em 1927. Participou da Comissão do Plano da Cidade do Rio em 1931. Foi 
presidente do Instituto Central de Arquitetos, atual IAB, entre os anos de 1932 e 1933 (LISSOVSKY & SÁ, 1996, p. 319). 
 4 
adviria da verdade construtiva. A escolha do estilo “gótico”, pela sua preponderância de linhas 
verticais, agradava aos arquitetos. 
Na mesma edição, temos a entrevista de Joseph Gire7. Em texto preparado com antecedência e 
concisão, defendeu a tipologia, pois o Rio, detentor de tantos arranha-céus naturais, seria o lugar 
mais propício no mundo a desenvolver esse tipo de construção, sendo a natureza o élan que 
tornaria essa concepção de cidade ainda mais bela. A justificativa do crescimento da cidade e do 
aumento do preço da terra seria reafirmada, desde que a multiplicação do solo em andares 
tivesse limites: o da estética geral da cidade e o de um plano que permitisse a execução de 
fachadas em todas as faces do sólido, este item indispensável e já constante nos regulamentos da 
época. 
Com relação ao estilo, falou do desejo de deixar aparente, interna e externamente, a ossatura do 
prédio, e que o progresso da técnica do concreto indicava a generalização desse sistema. A 
colaboração cada vez maior entre o arquiteto e o construtor seria outra regra do estilo a seguir. 
Em seguida, os arquitetos entrevistados seriam Lucio Costa (1902-1998) e a firma de norte-
americanos Preston & Curtis8 (idem, 01/07/1928). Começamos pelos segundos, que 
responderam a enquete de forma muito suscinta. 
Segundo aqueles profissionais, o arranha-céu significava “o reconhecimento das necessidades 
econômicas modernas”, e era elemento adequado e componente das grandes capitais financeiras 
e comerciais. Quanto à definição do tipo de estrutura, seguiam a prerrogativa: concreto nos 
prédios com até 15 pavimentos, esqueleto misto de aço e concreto naqueles com gabarito entre 
15 e 20, e estrutura de aço naqueles acima de 20 andares. O estilo deveria ser moderno (sem 
maiores definições), pois o partido dos arranha-céus não poderia aprisionar o arquiteto em traços 
históricos. 
 A entrevista de Lucio Costa, à época, sócio de Fernando Valentim, exibe uma prematura 
erudição. Vencedor de dois grandes concursos nacionais e de outras medalhas, a descrição 
pessoal que o jornal adiantou dele é exatamente o de um ser poético, “menos preocupado em 
tornar o sonho realidade, escritório bagunçado, repleto de móveis exóticos, que sequer um estilo 
seguia, muito talento". 
Para aquele arquiteto, o arranha-céu era, fatalmente, uma construção moderna que todas as 
grandes cidades teriam que acatar. Um fruto da “economia política”, na medida em que já era 
regra que nas novas metrópoles fossem formadas pequenas áreas centrais, cinta imaginária para 
 
7 Joseph Gire (1872-1933) foi um arquiteto francês, mas aqui radicado, responsável por construções em vários países, 
como Brasil, França, Alemanha e Argentina. Foi particularmente ativo no Rio, onde projetou edifícios dos mais 
importantes da cidade, alguns considerados marcos, como o Palácio Laranjeiras, o Hotel Glória, o Copacabana Palace, 
o do jornal A Noite (com Elisiário Bahiana) e outros palacetes de Carlos e Arnaldo Guinle. 
8 W. P. Preston e John P. Curtis foram arquitetos-construtores. Membros do Instituto Central de Arquitetos e do The 
American Institute of Architects. Uma de suas grandes construções no Brasil foi o Hotel Esplanada, em São Paulo. 
 5 
onde confluíam apertados negócios e decisões, cujo preço aumentado pela procura fazia seus 
terrenos multiplicarem-se andar sobre andar no original espaço vertical. 
O arranha-céu era o novo monumento, uma obra da ciência que, agora, junta à arte, retiraria a 
arquitetura do fosso em que estava desde o fim do século XVIII. “Razão, lógica, bom senso, essa 
coisa simples que sempre foi o ponto de partida de uma verdadeira arquitetura, a ciência de novo 
nos deu. O arranha-céu poderá ser uma nova expressão de arquitetura, voltando à verdade, a 
essa sempre nova fonte de beleza, a forma que se adapta ao órgão, que obedece à função...”. 
Do ponto de vista simbólico, eram eles os novos templos de uma crença moderna baseada na 
riqueza. "Os templos são os bancos, o nosso ídolo é o dinheiro, o arranha-céu a nossa catedral. 
Temos fé na riqueza... Assim, o arranha-céu deve ser considerado como a resultante desse 
estado de espírito e de progresso material...”. 
A ligação entre estilo e forma de construção parece ser um consenso já para a época. Lucio 
reafirmava a noção de que estas duas coisas não deveriam estar dissociadas, de que o estilo 
estava em função do sistema de construir, dos materiais empregados, do clima, do ambiente e da 
época. Quanto ao uso de que tipo de estrutura, se dizia adepto das construções metálicas, que 
eram mais adequadas aos “verdadeiros” arranha-céus, embora admitisse que o concreto 
oferecesse certa vantagem financeira e técnica, satisfazendo as necessidades do momento. 
Numa crítica à falta de estilo própriados norte-americanos, e a sua opção pelo ecletismo das 
decorações de estilos variados, Lucio remeteu-se à situação contrária dos europeus que, tendo 
“em casa” exemplos originais das arquiteturas passadas, recusavam a cópia daquele modo, e 
antes, davam impulso a um movimento regenerador e purificador das artes em todo o continente. 
Seria dessa investida que deveria sair o estilo dos arranha-céus. 
Quanto à aplicação do modelo no Rio, achava aceitável, sobretudo porque concordava que o 
desenvolvimento da cidade parecia o justificar, sendo pessimista apenas com sua função 
simbólica: 
“Toda arquitetura é uma questão de raça. Enquanto o nosso povo for essa coisa 
exótica que vemos pelas ruas a nossa arquitetura será, forçosamente, uma coisa 
exótica. Não é essa meia dúzia que viaja e se veste na rue de La Paix, mas essa 
multidão anônima que toma trens da Central e Leopoldina, gente de caras lívidas, 
que nos envergonha por toda a parte. O que podemos esperar em arquitetura de 
um povo assim? Tudo é função da raça. A raça sendo boa o governo é bom, será 
boa a arquitetura.” 
 6 
 
Figura 1. Quarteirão Serrador em 1930. 
Fonte: ALMA carioca. Em: http://www.almacarioca.com.br/imagem/fotos/rioantigo2/centro.htm. 
 
 
Figura 2. Copacabana em 1930. 
Fonte: ALMA carioca. Em: http://www.almacarioca.com.br/imagem/fotos/rioantigo2/copa.htm. 
http://www.almacarioca.com.br/imagem/fotos/rioantigo2/centro.htm
http://www.almacarioca.com.br/imagem/fotos/rioantigo2/copa.htm
 7 
Na semana seguinte (idem, 08/07/1928), o entrevistado foi Archimedes Memória9, que justificou 
a alternativa dos edifícios altos em função da elevação no preço das terras urbanas e de uma 
necessidade metropolitana de constituir densidades mais altas que facilitassem o encontro dos 
homens de negócios. 
Sobre o processo produtivo dos edifícios, focalizou a necessidade dos baixos custos, que 
deveriam ser conseguidos através da rapidez na execução e uso de materiais locais. Do ponto de 
vista espacial, a constante exigüidade dos terrenos obrigando, também, a plantas com alvenarias 
e estruturas cada vez mais finas, que possibilitem maior área útil nos pavimentos, outro item 
componente dos custos. 
Perguntado pelo estilo mais adequado ao arranha-céu, disse ser o vertical, o que o fez lembrar do 
gótico ou ogival, embora dissesse ser indispensável a personalização do estilo pelo sentimento 
próprio de cada artista. Não achava ele, também, que esses edifícios produzissem qualquer 
interferência na paisagem, na medida em que esta era “gigantesca”; aliás, sua presença 
acentuava a existência do homem nesse “vale onde culmina o dedo de Deus”. 
Outro entrevistado do mesmo dia foi o arquiteto-construtor Cypriano Lemos10, à época presidente 
do Instituto Central dos Arquitetos. Antes de responder às perguntas, ele observou que o que 
entendia por arranha-céus eram os edifícios altos do modelo norte-americano, projetados por 
arquitetos de renome, com materiais de alta qualidade, “de mais de 40 andares que ocupavam, 
por via de regra, todo um quarteirão”, e que esta denominação não podia se aplicar às 
construções de doze ou quinze andares que enfeavam a perspectiva da Cinelândia. 
Lemos no início se colocou contra o advento dessas construções, na medida que estas só se 
justificariam em situações de altíssima densidade e elevação do preço da terra. Ainda com 
argumentos contrários, traz à tona uma longa discussão sobre proporção e perspectiva na 
arquitetura, afirmando serem os arranha-céus “pouco confortáveis à retina do transeunte”, 
tornando muito evidente o contraste entre a grandeza da construção e a pequenez do observador. 
Ele também não os defendeu do ponto de vista da higiene. 
 
9 Arquimedes Memória (Ipu, 1893 – Rio de Janeiro, 1960) foi arquiteto-construtor, formado em 1917, e professor 
bastante ativo no Rio de Janeiro. Em 1921, por meio de concurso público, chegou à cátedra da cadeira de Composição 
de Arquitetura da ENBA, escola na qual foi diretor por duas vezes. Na depois criada Faculdade Nacional de Arquitetura 
(FNA), seria vice-diretor por duas vezes, participando sempre dos conselhos de departamento, como o de arquitetura, 
que chegou a chefiar. Como profissional, junto com Francisque Cuchet, substitui Heitor de Mello na chefia do maior e 
mais respeitado escritório do Rio, na ocasião da morte desse. Foi responsável pelo projeto do Conselho Municipal, atual 
Palácio Pedro Ernesto/ Câmara dos Vereadores, pelo Palácio Tiradentes/ Assembléia Legislativa Estadual e pelo plano 
urbanístico da Exposição do Centenário da Independência, em 1922, onde realizou obras como a restauração do antigo 
Arsenal, atual Museu Histórico Nacional, e o Palácio das Festas. É autor do Hipódromo do Jóquei Clube do Rio. Obteve 
diversos prêmios, como o de honra profissional na Exposição do IV Congresso Pan-Americano de Arquitetos em 1930, 
e os primeiros lugares nos concursos do Palácio do Governo de São Paulo e do Ministério da Educação e Saúde do Rio 
(não-realizados). Foi opositor radical de Lucio Costa e membro do Partido Integralista (AYALA, v.3, 1977, p. 135). 
10 Cypriano Lemos (1882-1939) formou-se pela Escola Especial de Obras Públicas, Construção e Indústria (acreditamos 
que a francesa) em 1924 (PINHEIRO, 2001, p. 29). Como destacado, foi presidente do Instituto Central de Arquitetos no 
biênio 1928-29, diretor do periódico Arquitetura e Urbanismo entre os anos de 1936 e 1939 e diretor-técnico do 
Patrimônio Nacional, embora não sabemos do que se trata tal instituição. 
 8 
Já no fim da entrevista, Lemos assumiu uma posição intermediária, nem a favor dos arranha-céus 
nem dos sobrados típicos. Para ele, as casas de dois e três andares eram maléficas à cidade, 
pois tornavam-na pouco densa e estendida, o que acarretava uma série de dificuldades em 
relação à instalação dos serviços públicos (viação, águas e esgotos, telefone etc.) e conseqüente 
aumento dos impostos. Sua proposta vislumbrava um centro de cidade construído com edifícios 
de sete pavimentos: 
“Este sistema é tão vantajoso, que na Europa os pequenos capitalistas se reúnem 
para construir assim... É com capitais assim reunidos, que se têm construído os 
ultra-modernos e confortáveis imóveis da velha Europa e das grandes cidades 
americanas. Por essas paragens, ninguém se lembraria, mesmo que a 
Municipalidade permitisse, de mandar fazer prédio de 6m de frente com dois ou três 
pisos, no máximo...” 
Com relação ao sistema construtivo, salientou que não podíamos ser dogmáticos em relação à 
ciência do concreto armado pois não era certo que a técnica trouxesse economia nem que 
respeitasse, à toda prova, os limites orçamentários previstos; as estruturas metálicas não 
deveriam ser descartadas. Sobre o estilo, disse apreciar o conforto, a inteligência da distribuição 
das peças, a riqueza e a propriedade dos materiais empregados. Assim, o arranha-céu deveria ter 
o estilo “utilitarista”, embora este não estivesse de acordo com a fisionomia da cidade, 
montanhosa e pitoresca. 
Na edição seguinte, o arquiteto-construtor Augusto Vasconcellos11 falou ao jornal (idem, 
15/07/1928). 
De forma geral, sua posição foi contrária ao uso indiscriminado dos edifícios altos, pois o 
enxergava condicionado a determinadas situações de terreno e economia, como no caso norte-
americano. Para ele, o arranha-céu era justificado em Nova Iorque, onde a terra era escassa, e 
por isso mesmo cara, onde o subsolo era firme e suportava as cargas gigantescas, e onde a 
indústria da construção estava preparada para fazer render os investimentos financeiros pois, 
mesmo pagando altos salários, era a rapidez dos processos construtivos a principal promotora 
dos ganhos capitalistas e dos baixos aluguéis. Assim, uma crítica era feita aos processos 
encontrados no Brasil, com mais uma comparação: enquanto que nos EUA era investido 3/5 do 
capital da obra em pagamento da força de trabalho,no Brasil esse número caía para apenas 2/5. 
Sendo mão-de-obra barata sinônima de lentidão e de má qualidade de execução. 
Perguntado sobre o problema do estilo, falou da “verdade” que o programa do edifício alto 
proclamava, na relação que deveria existir entre parte arquitetônica e parte construtiva, e da 
“função” primordial das estruturas de suporte, podendo o edifício ser tapado por peças de 
fechamento mais leves e mais rápidas de executar. 
 
11 Augusto Vasconcellos Junior (1896-?) formou-se na ENBA em 1918. Foi presidente do Instituto Central dos Arquitetos 
no biênio 1934-36 (PINHEIRO, 2001, p. 48) e participou do conselho técnico do periódico Arquitetura e Urbanismo. 
 9 
No entanto, quanto ao tema da adequação ao ambiente do Rio, se disse contrário, em virtude da 
conformação irregular da cidade, da topografia acidentadíssima, da enorme quantidade de 
terrenos ainda por ocupar, e mesmo da quantidade de prédios antigos feitos com dois ou três 
pavimentos ainda, e que poderiam receber mais dois ou três outros. Demonstrava, também, 
preocupação com a natureza da cidade ameaçada por imensas massas de concreto, 
principalmente na região praiana da Zona Sul. No Centro, a estreiteza das ruas, que por si só já 
dificultava a ventilação e a insolação, mais o problema do trânsito que já se anunciava, proibir-
nos-ia de investir nessa opção de edifício. 
Dois dias depois, (idem, 16 e 17/08/1928), O Paiz publicou a continuação da edição do dia 15, 
onde deveria ter falado Armando de Oliveira12. No texto publicado em atraso, ele continuou a 
idéia comum a alguns entrevistados de que os edifícios do tipo arranha-céu eram justificados pelo 
aumento do preço da terra e pela necessidade de adensamento de serviços e pessoas nas áreas 
centrais dos grandes centros comerciais, enfatizando o caráter das redes de sociabilidades 
(mercantis, sobretudo) estabelecidas nesses lugares. 
Com relação ao sistema construtivo, indicava o concreto pois, naquele momento, era o que mais 
dava resultados em relação à resistência, rapidez, economia e proteção contra incêndios. Para os 
edifícios muito altos, estrutura metálica. Sua idéia de estilo para o arranha-céu aparecia 
condicionada à verdade construtiva e estrutural, mas admitiu que ainda não houvesse arquitetura 
suficientemente entrosada com o advento do concreto armado. 
E o arranha-céu poderia, sim, ser indicado ao ambiente do Rio. Porque havendo necessidade, 
nada seria injustificado, sendo a necessidade uma componente mesmo da arquitetura. No 
entanto, o “verdadeiro arranha-céu”13, ainda não surgia como um imperativo. 
Seguiremos com a entrevista do arquiteto Nereu Sampaio14 (idem, 22/07/1928), recém-
empossado novo presidente do Instituto Central dos Arquitetos. 
Na concepção do arquiteto, a existência do arranha-céu era o resultado da pressão que tinham 
feito as grandes aglomerações humanas por espaços comerciais bem localizados nas áreas 
centrais das cidades, tendo em vista, também, a necessidade de ganhos cada vez maiores do 
capital imobiliário. Quanto ao estilo, era bem decidido pela verticalidade das linhas do ogival, 
porém, se dizia incapaz de dar opinião mais balizada quanto ao sistema construtivo. Preferia o 
concreto, em função da segurança oferecida nos casos de grandes incêndios, embora soubesse 
 
12 Engenheiro-arquiteto, homônimo do engenheiro e político paulistano, atuante no Rio. Foi delegado brasileiro no III 
Congresso Pan-Americano de Arquitetura realizado em Buenos Aires em 1927. 
13 Os entrevistados faziam sempre esta diferenciação entre os arranha-céus “verdadeiros”, estruturas altas como as de 
Nova Iorque e Chicago, e os arranha-céus da Cinelândia, conjunto odiado por vários profissionais. Outra curiosidade em 
relação aos prédios do Quarteirão Serrador é que os entrevistados falavam que eles não tinham sido projetados por 
arquitetos. 
14 Fernando Nereu de Sampaio (1892-?) formou-se na ENBA em 1920 (PINHEIRO, 2001, p. 23). Também foi sócio da 
Sociedade de Urbanismo e de organizações profissionais internacionais em Cuba, na Argentina e no Uruguai. 
 10 
do inconveniente dessa estrutura em relação ao melhor aproveitamento da área dos pisos. 
Quando esse fosse uma premissa incontornável, a estrutura metálica passava a ser 
imediatamente indicada. 
O arranha-céu lhe passava uma imagem positiva, pois via esse tipo de construção como símbolo 
legítimo da cidade moderna. Criticou os projetos da Cinelândia, pois achava-os acanhados, 
principalmente se comparados com as torres pensadas por Le Corbusier, lembrado como o 
grande arquiteto moderno. Sampaio defendeu o edifício alto implantado no centro da quadra, 
ocupando apenas metade do terreno, circundado por jardins elegantes. 
Na mesma edição, Nestor de Figueiredo15 também foi entrevistado. Com relação à primeira 
pergunta, o motivo da existência dos arranha-céus, ele afirmou que eram resultado de uma nova 
ordem econômica e social, na qual tudo casava bem: era a melhor aplicação para o capital ao 
mesmo tempo que um triunfo da técnica, do progresso e da engenharia. 
Quanto aos processos construtivos, ponderou que ambos os sistemas, concreto e aço, eram 
possíveis no Brasil. Relativizou o problema dos montantes de concreto avantajados pois, em 
função do preço não tão exorbitante do solo, eles não davam em prejuízo das áreas dos 
pavimentos, idéia contrária ao resto dos entrevistados. O que o preocupava em relação ao 
concreto era a falta de controle tecnológico que aquele material oferecia em relação ao aço, pois 
ele dependia do homem ao montar os traços, da pureza dos materiais a aglomerar, das condições 
atmosféricas para a cura etc. 
Por último ficaram as entrevistas de Gastão Bahiana16 e Gelabert de Lima (idem, 29/07/1928). 
O primeiro, engenheiro civil, respondeu que os arranha-céus só deveriam se confirmar nas 
grandes capitais e nos grandes núcleos de negócio, lugares onde o espaço horizontal fosse raro, 
e nunca em lugares onde a razão do empreendimento fosse apenas de acumulação financeira. 
Segundo ele, o arranha-céu deveria ser o último recurso do urbanista, forçado exatamente pela 
falta de espaço. 
Com relação ao sistema construtivo, Gastão preferia a ossatura metálica, ao invés da 
precariedade do controle de qualidade que o uso do concreto sugeria. Eram problemas eminentes 
 
15 Nestor Egídio de Figueiredo (Recife, 1893 – Rio de Janeiro, 1973). Engenheiro-arquiteto, diplomado em 1917, e 
professor. Lecionou urbanismo na pós-graduação criada na ENBA em 1932. Foi um dos fundadores do Instituto 
Brasileiro de Arquitetos (IBA), do qual seria presidente. Também foi um dos fundadores da Associação dos Artistas 
Brasileiros, sendo seu presidente, também. Fez parte da delegação de arquitetos brasileiros do III Congresso Pan-
Americanos de Arquitetos, realizado em Buenos Aires, em 1927. No V Congresso, realizado em Montevidéu, recebeu o 
grande prêmio pelo Plano de Urbanização do Recife, realizado no início dos anos de 1930, sendo este seu trabalho 
mais importante. Fez parte da Comissão Organizadora do Plano da Cidade do Rio de Janeiro, sob a chefia de Agache. 
16 Gastão da Cunha Bahiana (1874 – Rio de Janeiro, 1959). Engenheiro e professor, era tio do arquiteto Elisiário da 
Cunha Bahiana. Diplomado pela Universidade Católica de Lille, França. Ocupou a cadeira de geometria descritiva na 
ENBA por vários anos, e seu grande prestígio era associado à luta que ali travou por melhores instalações e 
vencimentos dos funcionários. Dedicou-se também à arquitetura, sendo autor das igrejas de Nossa Senhora da Paz, em 
Ipanema, e do Senhor do Bonfim, em Copacabana, ambas em estilo neogótico. Foi o primeiro presidente do Instituto 
Central dos Arquitetos, no período 1921-24. 
 11 
a construção e o enchimento das formas, o preparo do concreto, a colocação das armaduras;além disso, a construção metálica também se dava melhor em casos de reforço e modificação da 
estrutura. No entanto, admitiu duas vantagens no sistema mais arcaico: ele poderia ser iniciado 
imediatamente, logo terminassem os cálculos, e seus materiais de composição já se encontravam 
em solo nacional, caso oposto ao do aço. 
Com relação à necessidade do arranha-céu na cidade, disse não serem prioritários, pois 
acreditava que a expansão das áreas centrais decorrentes das demolições de morros, os aterros 
do litoral e o próprio crescimento dos subúrbios seriam capazes de conter a nova demanda de 
construção. O surgimento dessa superfície suportaria uma cidade com o dobro da população 
daquele ano. Quanto à economia, pôs em dúvida o real lucro que se obteria caso os edifícios não 
fossem realmente altos, pois, sendo tal altura condicionada a regras de higiene, ventilação e 
insolação, haveria uma equação entre aumento do gabarito dos edifícios, investimento em 
tecnologia, alargamento das ruas, diminuição do espaço efetivo de quadra e subida do preço da 
terra que o deixava muito temeroso quanto à validade dos motivos econômicos. 
Sua descrença continua e nem mesmo quanto ao motivo estético a tipologia podia ser justificada. 
É que não sendo a cidade plana, como Nova Iorque, o arranha-céu tornava-se um empecilho para 
a relação visual e contemplativa possível entre a parte baixa, a baía e os morros, e vice-versa. O 
arquiteto também sugeriu ser ridícula a monumentalidade advinda dessas construções humanas, 
quando comparada a dos morros do Pão-de-Açúcar e do Corcovado. 
O engenheiro-arquiteto e secretário da Associação Brasileira de Urbanismo (ABU) Gelabert de 
Lima foi outro convidado a falar. 
Fruto da superpopulação, sua descrição do fenômeno é de “solução econômica, de iniciativa 
privada, visando apenas a mais-valia da propriedade e utilizando, sem restrições, os bens 
comuns, tais como ar, luz e mais condições gerais de ambiência... Um problema mais de 
urbanismo que de arquitetura propriamente”. 
O arranha-céu deixara de satisfazer apenas à capacidade de esforços dos engenheiros, tornando-
se “uma expressão do ideal moderno, caracterizado pela metódica concentração de forças no 
intuito de maior eficiência”. A ornamentação estaria condenada em favor de uma estética 
ilustrativa da potencialidade da civilização contemporânea. Fatos que levavam ao método 
construtivo do aço: 
“material estrutural que maior resistência oferece a todos os esforços. Daí ser 
perfeitamente seguro, garantido e econômico. De fibração fina, forte e tenaz, as 
suas propriedades físicas são rigorosamente determinadas antes de seu emprego. 
Da mesma forma sua composição química é tão precisamente analisada quanto 
qualquer produto farmacêutico. Homogêneo, é o material mais resistente por 
unidade de volume. Ocupa, assim, a armadura metálica, menor espaço por unidade 
de resistência do que qualquer outro sistema de construção, resultando a mais 
econômica e dando, ademais, solução lógica e elegante”. 
 12 
Considerações finais 
O inquérito promovido por O Paiz constitui material importante, na medida em que mostra uma 
quantidade razoável de profissionais defendendo posições bastante variadas e, podemos dizer, 
até confusas, sobre o tema. 
De forma geral, o posicionamento é a favor, embora quase todos estivessem mais ou menos 
preocupados com os impactos urbanísticos (insolação, ventilação e trânsito) que as novas 
construções poderiam produzir. Aqueles que se colocaram contra, em geral, alegaram essas 
questões como fundamentais. Nesse sentido, as duas justificativas contra mais sofisticadas foram 
a de Cypriano Lemos, ao oferecer um modelo que preconizava um gabarito de sete pavimentos 
para a cidade, “à moda dos capitalistas europeus”, e a de Vasconcelos, cuja crítica, para além dos 
motivos da higiene, continha fatores de ordem produtiva - a construção dos arranha-céus exigia 
uma relação entre investimento, materiais, salários e mão-de-obra que aqui ainda vira irrealizável. 
Alguns dos entrevistados se colocaram como altamente favoráveis ao modelo (Gire, Preston & 
Curtis, Costa), embora tenha sido a justificativa desse último a mais elaborada, porque 
contemplava também uma abordagem simbólica. Tanto o francês quanto os norte-americanos 
pareceram estar muito felizes com os resultados financeiros da novidade em seus escritórios, 
apenas. 
A defesa de Lucio Costa se baseou em termos de uma “economia política”, a de que o arranha-
céu expressava uma nova monumentalidade, representativa da ciência e do capital. O estilo 
oriundo da “verdade” da técnica construtiva resultaria em uma nova expressão arquitetônica. 
Outro ponto de contato, comum a todos: a preocupação com a questão tecnológico-produtiva, 
com a racionalização e velocidade da obra, apareceu quase sempre dissociada das opções 
estilísticas pelo “moderno”, “utilitário” ou “neogótico”, caracteres que aparecerem em segundo 
plano nas entrevistas. Os profissionais que citaram as torres de Le Corbusier para falar de 
modelos urbanísticos indicaram a adoção do “ogival”, por exemplo. 
Quanto à polarização concreto versus aço, o primeiro se encaminhou rumo a tomar vantagem, 
pois mesmo os defensores do segundo estavam cientes das facilidades do canteiro artesanal e do 
pouco tempo necessário entre o fim do projeto e o começo da obra, atributo importante se 
colocado em determinadas situações de juros e aplicações. Contudo, alguns entrevistados 
estavam realmente preocupados com a inexatidão do método de concretagem, frente à 
cientificidade da montagem das estruturas métalicas. 
- 
Rever as histórias urbana e arquitetônica da cidade do Rio de Janeiro, entre os anos de 1926 e 
1937, implica, em algum ponto, reconstruir, na complexidade do debate da época, a história de 
 13 
sua verticalização. Acreditamos que os argumentos dessa afirmação estiveram presentes nesse 
trabalho, qual, na medida do possível, priorizou pelo exame de fontes primárias. 
As conseqüências da enquete podem ter sido maiores do que o simples bate-boca entre 
arquitetos e jornais rivais. O que surgia naqueles textos era um momento de aproximação maior 
do profissional arquiteto com os temas da cidade, da arquitetura, da técnica, da estética, da 
paisagem e da economia. Aparecia um profissional pronto a responder perguntas relativas a 
campos que a sociedade já lhe atribuía competência sua. O destaque dado na imprensa ao IV 
Congresso Pan-americano de Arquitetos, em 1930, pode confirmar essa idéia. 
 
 
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