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Hélio Clemente Endereço eletrónico: Clementehelio199@gmail.com Contacto telefónico: 842612445 1 Maputo, 22 de Agosto de 2022 A descoberta da Racionalidade e Desnaturalização do Homo Sapiens A degradação da magna e nobre arquitectura que suporta a existência do manancial diversificado de formas e tipologias da vida incluindo, o existir do homo sapiens, as dinâmicas cada vez mais inconsistentes que recorrentemente confundem as previsões astrológicas (a forma mais antiga de explicar os fenómenos da nobre arquitectura) ou as previsões científicas modeladas com base em leis da física (a nobre arte do homo sapiens que evidencia a sua racionalidade) têm aberto um campo de reflexão extra- científico (no sentido positivo ou comtiano do conceito), um domínio não necessariamente filosófico - pela inconsistência do método – mas que se constitui essencialmente como uma terapia de reconciliação entre o ente reflexivo e a magna arquitectura na qual faz parte. A reflexão sobre a nocividade da desnaturalização do homem é necessariamente um exercício de constante procura de respostas existenciais, constituídas pela tríade da lógica temporal da História advogada pelo historiador Francês Marc Bloch – passado, presente e futuro – ou no Moçambique hodierno, pelo filósofo de história Severino Ngoenha – de onde viemos, quem somos e para onde vamos. Neste texto, a intenção não é evidentemente dissertar entorno dessas tecnicidades, mas encontrar a raiz de um problema multidimensional que se manifesta no domínio do existir global, nacional e de cada ser (se não estar) vivente. No existir da magna arquitectura, a natureza, surgiram as civilizações humanas. Conforme diversa literatura – científica, filosófica ou religiosa - as primeiras experiências das relações entre as civilizações humanas e da nobre arquitectura foram de convivência e harmonia, evidenciadas na literatura cristã pelo paraíso do Eden e na História (ciência), pelas comunidades de caçadores e recolectores com elevada consciência (ou prática) ecológica positiva. Em todos os contextos, a “descoberta” da racionalidade ou consumo da fruta proibida, condição e momento primário da afirmação da liberdade do Homem (masculino e feminino) em relação à natureza ou Deus (ou deuses) conforme a crença. Hélio Clemente Endereço eletrónico: Clementehelio199@gmail.com Contacto telefónico: 842612445 2 Maputo, 22 de Agosto de 2022 A consequência imediata do corte do cordão umbilical entre o Homem e a magna arquitectura, condição primária da sua existência, é a conflitualidade entre ambos. Nesse guerrear com a magna e nobre arquitectura que suporta o seu breve sopro de tempo, o Homem, tem-se servido hábil e cruelmente da sua fantástica e infelizmente maliciosa racionalidade para desferir golpes irreparáveis. O aquecimento global ou a poluição dos oceanos, são as actuais bandeiras reflexivas da “vitória” do homem com relação à natureza, que durante milhões de anos afirmou- se auto-sustentável e imbatível, são resultados directos da afirmação da racionalidade sem nenhum fundamento ético ou de respeito para com a natureza. A crise climática, é entretanto, uma parte significativa, mas não única do impacto da (ir) racionalidade do Homem. Outrossim, se no primeiro momento a “descoberta” da racionalidade pelo Homem significou a desvinculação deste com a nobre arquitectura, no segundo momento, significou afirmação do homem como o ser (que nosso entender é estar) mais poderoso da natureza, fazendo jus a sua condição de criatura feita à imagem e semelhança de Deus e, portanto, um pequeno omnipresente, omnipotente e infelizmente com grave deficit na categoria de omnisciência. A prepotência humana resultante da descoberta da racionalidade, a bandeira que segundo a ciência difere o homem do resto dos animais, não afecta negativamente apenas à natureza, ou seja, a (ir) racionalidade é um veneno do qual a própria cobra que produz não é imune. Nesta senda, tem resultado em conflitos e diversas outras formas degeneradas de interacção entre as sociedades humanas e seus constituintes. A demais, o principal problema resultante tem a ver com a crise existencial. A crise existencial constitui-se como o principal problema no plano social - inclui a vida política, económica e cultural, nacional e global – quer dizer, o não saber donde vem – enquanto comunidade ou pessoa -, quem é – igualmente no plano comunitário e individual – e para onde vai – nas mesmas categorias mencionadas – resulta em graves Hélio Clemente Endereço eletrónico: Clementehelio199@gmail.com Contacto telefónico: 842612445 3 Maputo, 22 de Agosto de 2022 conflitos e experiências de vida menos alegres (considerando a felicidade como estado impossível ao género humano). Esta reflexão sobre a crise existencial, procura advogar que o corte do cordão umbilical entre o Homem e a natureza, resultou no progressivo afastamento do primeiro - Homem – da natureza e por extensão, das suas regras mais importantes em especial a regra da finitude das coisas. Isto é, o Homem desaprendeu que tudo que há na natureza tem um começo e fim e nada é infinito, incluindo conforme tem-se evidenciado os próprios recursos naturais. Sobre este aspecto, a História mostra que as sociedades humanas mais remotas, lidavam mais naturalmente com as finitudes. Eventos como a morte, o colapso de grandes construções, o passar de uma estação para outra e a escassez de certos recursos de subsistência em algumas épocas do ano, eram encarados com mais naturalidade e isso não significa ausência do apego, mas sim elevada consciência dos ciclos naturais das coisas. Por sua vez, as sociedades humanas hodiernas, por tão distantes e estranhas que estão em relação aos ciclos e especificidades da natureza, têm graves problemas para lidar com as fatalidades e com os fins, absolutamente conhecidos. Deste problema, resultam as diversas perturbações mentais e emocionais que se tornaram as verdadeiras pandemias letais do presente século. Reflexões e práticas terapêuticas dessa natureza, revelam-se condição sin qua non para a manutenção de formas de existir saudáveis e melhor proveito do breve parente ou sopro de tempo que em Moçambique espera-se ao nascer que ronde os 55 anos. Desta feita, incentiva-se uma reaproximação, reconciliação entre o filho pródigo (o Homem) e a mãe natureza.
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