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Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 1 INTRODUÇÃO E EPIDEMIOLOGIA O traumatismo é uma lesão produzida por ação violenta, de natureza física (ex. arma de fogo) ou química (ex. queimadura), externa ao organismo, sendo o politraumatizado o paciente que tem múltiplos traumatismos. • Fechados: 75% dos casos. Quando não há uma lesão de continuidade cutânea. ❖ Eventos de trânsito → 70%. ❖ Quedas → 20%. • Penetrantes: 15%. Quando há lesão de continuidade. ❖ FPAF (ferimentos por asmas de fogo) → 60%. ❖ FAB (ferimento por arma branca) → 35%. DISTRIBUIÇÃO TRIMODAL Em relação as causas de mortes por trauma, a distribuição é trimodal (3 picos): • 1º pico: mortes que ocorrem imediatamente após o trauma. Nessas situações, a assistência em saúde não traduz a diminuição dessas mortes, sendo necessário, evitar que o agente causador do trauma aconteça. Exemplos: acidentes automobilísticos. • 2º pico: mortes que acontecem após o trauma. Nessas situações, a assistência ao atendimento inicial é decisiva. Nesse momento, a capacitação técnica e a qualificação são pontos importantes. • 3º pico: mortes que acontece dias depois. Relacionadas a assistência que o indivíduo recebe no internamento/tratamento da patologia de base e definitivo. Exige uma demanda de especialistas e estrutura física. Quando há um pico de óbitos nesse momento, demonstra que a qualidade de assistência hospitalar é ruim. MODELO ATLS Preparação, triagem, avaliação primária (ABCDE), avaliação secundária e tratamento definitivo. • Abordagem inovadora ao trauma: ❖ Tratar primeiro a maior ameaça a vida. ❖ A falta de diagnóstico definitivo não deve impedir a aplicação do tratamento indicado. ❖ A história detalhada não é essencial para a avaliação do politraumatizado. ❖ Trabalho em equipe → ABCDE. PREPARAÇÃO • Estabelecer comunicação com unidade: a equipe necessita ser informada do tipo de incidente para que, a partir daí, se prepare em relação aos recursos humanos e insumos para prestar o atendimento. TRIAGEM • Definição das prioridades de atendimento e escolha da unidade hospitalar para remoção. A triagem determina a prioridade nos atendimentos. O paciente menos grave (maior chance de sobrevida) é o que deve ser priorizado, independente da idade. Lembrete: O ideal seria 2 equipes para atender 2 pacientes (1 pra cada). Quando há múltiplas vítimas (5 ou mais), tem uma organização dividida por zona. IMPORTANTE • Vítimas em massa: O número de vítimas e a gravidade das lesões excedem a capacidade de atendimento do pessoal e/ou hospital → Serão atendidos primeiramente os pacientes com maior chance de sobrevida; • Múltiplas vítimas: O número de vítimas e a gravidade das lesões não excedem a capacidade de atendimento do pessoal e/ou hospital → Serão atendidos primeiramente os pacientes com risco iminente de vida. ATENDIMENTO AO POLITRAUMATIZADO Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 2 AVALIAÇÃO PRIMÁRIA (ABCDE) • Medidas auxiliares (ex. passagem de sondas e drenos, monitorização) a avaliação primária e reanimação (terapia necessária). • Sistematização: avaliação da perviedade da via aérea, avaliação do aparelho respiratório, o combate ao choque e tratamento da hemorragia, a avaliação neurológica e a exposição completa. Feita de forma simultânea e várias vezes durante o atendimento. A primeira coisa a ser feita na avaliação primária é perguntar o nome do paciente, pois ao responder essa pergunta, traduz que ele está com a via aérea pérvia, o padrão ventilatório normal, boa oxigenação e status neurológico preservado. XABCDE • X → Exsanguíneo: é a adoção de medidas que combatem a hemorragia. • A → Abertura das vias aéreas: avaliar perviedade. Lembrete: a via aérea é formada pelas fossas nasais, faringe, laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos e alvéolos. • B → Ventilação e respiração: é o exame físico do aparelho respiratório: inspeção, palpação, percussão e ausculta. Faz o diagnóstico das patologias torácicas que são agregadoras de morte no trauma, como por exemplo, pneumotórax hipertensivo, hemotórax maciço, pneumotórax aberto e tórax instável. • C → Circulação com controle de hemorragia: combate a hemorragia (procura da localização) e identificação do choque. Lembrete: o choque mais prevalente no trauma é o hipovolêmico do tipo hemorrágico. Os outros choques, como por exemplo, o neurogênico, não agregam morte no momento inicial. • D → Exames neurológicos (disfunção). • E → Exposição e controle da hipotermia: identificar outros agravos. A – VIA AÉREA E COLUNA CERVICAL • Manter a perviedade. • Aspirar via aérea com aspirador rígido. • Fornecer oxigênio com máscara não reinalante: garante a ventilação máxima possível. • Se necessário, realizar manobras (elevação da região cervical) de prevenção da queda da língua. ❖ Jaw-Trust: elevação através do ângulo mandibular ❖ Chin-Lift: elevação através do mento. • Cânula de Guedel: mantém a língua na posição anatômica. São numeradas de 1 a 7. Para saber o tamanho a ser utilizado, é necessário fazer uma medida entre a narina e o ângulo da mandíbula. A forma de coloca-la é com a sua extremidade apontando para o nariz, girando 180º quando dentro da boca. Se após as medidas iniciais o paciente ainda estiver com a saturação baixa e com o nível de consciência comprometido, será necessário definir se vai deixá-lo com suporte de oxigênio ou se vai garantir a via aérea (intubação endotraqueal, cricotireoidostomia, traqueostomia). • Nível de consciência alterado. • Dor e/ou sensibilidade na linha média cervical ou dorso. • Sinais neurológicos focais. • Deformidades anatômicas da coluna, Todo paciente politraumatizado tem um risco eminente de trauma raquimedular e, como o principal sítio do TRM é a coluna cervical, preconiza-se a utilização de um colar cervical para imobilizar/estabilizar a coluna cervical do paciente. B – VENTILAÇÃO – EXAME FÍSICO DO TÓRAX É o exame físico do aparelho respiratório: Inspeção, palpação, percussão e ausculta. • Diagnosticar: Pneumotórax (percussão e assimetria torácica), hemotórax – derrame pleural (abolimento dos murmúrios vesiculares e Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 3 som de macicez à percussão), tamponamento cardíaco, contusão pulmonar, contusão cardíaca, ruptura de vasos, lesão de diafragma, lesão de esôfago. O objetivo é diagnosticar as principais patologias torácicas que podem levar o paciente a morte. • 4 condições que não podem sair da sala de emergência sem diagnóstico e conduta: 1. Pneumotórax hipertensivo: toracocentese de alívio → drenagem de tórax em selo d´água. 2. Hemotórax maciço. 3. Pneumotórax aberto: curativo em três pontas → drenagem em selo d´água. 4. Tórax instável/Contusão pulmonar. Nesse momento, além da avaliação, entram as medidas de ressuscitação, como por exemplo, a passagem do dreno de tórax. Importante: ar, pus e sangue (pneumotórax, empiema e hemotórax) precisam sair do espaço pleural, portanto deve ser feito drenagem em selo d`água. C – CIRCULAÇÃO/CONTROLE DE HEMORRAGIAS • Identificação precoce do choque: ❖ Expressão clínica da falência circulatória aguda que resulta na oferta insuficiente de oxigênio para os tecidos. Existem 4 tipos de choque: hipovolêmico, cardiogênico, distributivo (choque medular) e obstrutivo. O mais frequente no trauma é o hipovolêmico do tipo hemorrágico. Importante: diferença da hemorragia da letra X para a hemorragia da letra C do ABCDE: ▪ X → Controle da hemorragia externa (contenção de sangramento visível). ▪ C → Controle da sequela do sangramento. Identificar o sangramento (avaliação do pulso, nível de consciência e cor da pele) → Parar o sangramento (estancar/tratar) → reporvolume (soro). • Onde sangra? Mnemônico: sangue no chão (teoricamente já combatido na letra X) e nos 4 locais (locais mais comuns do trauma: tórax, abdome – realizar USG FAST, caso o paciente esteja em um hospital), retroperitônio e pelve). CHOQUE HEMORRÁGICO: 1. Fazer o diagnóstico. 2. Classificar o choque. 3. Repor volemia: 2 acessos calibrosos (1. Periférico; 2. Intraósseo; 3. Central), com jelco 14-16. 1 litro de infusão rápida soro ringer lactato (osmolaridade semelhante à plasmática) ou soro fisiológico aquecido. 4. Avaliar a resposta a reposição inicial: se necessário, fazer mais 1 litro de soro. Se após 2L o paciente ainda não responder, fazer hemoderivados. 1 litro → Reavaliação → 1 litro → Hemoderivados. D – AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA • Avaliação pupilar. ❖ Isocóricas: Normais e do mesmo tamanho. ❖ Miótica: menores. ❖ Midriática: maiores. ❖ Anisocórica: quando uma das pupilas está tendo uma resposta diferente da outra. ❖ Não fotorreagente: não responde ao estímulo fotomotor. • Escala de Coma de Glasgow: ❖ Avalia o status neurológico. ❖ Resposta verbal, resposta motora e abertura ocular. ❖ Quanto menor o número/classificação na escala de Glasgow, pior. ❖ Reatividade pupilar: diminui pontos na escala. • Lateralidade. E – EXPOSIÇÃO E CONTROLE AMBIENTAL • Exposição do paciente → buscar outras lesões. Beatriz Machado de Almeida Internato – 10º semestre 4 • Prevenir hipotermia: isolante térmico (papel laminado com a parte refletora voltada para o paciente). MEDIDAS AUXILIARES • Sondas. • Monitorização multiparamétrica: pressão arterial, frequência cardíaca, frequência respiratória e saturação periférica de O2. • Reavaliação contínua. MNEMÔNICO MIST ❖ Mecanismo: o que aconteceu? O que o paciente teve? Como estão as pupilas? ❖ Injúrias encontradas e suspeitas → Considerar a transferência. Na hora que a estabilidade do paciente for garantida, ele vai ser transferido. Atendimento pré-hospitalar, UPA → hospital de maior porte (exemplo. HGE). ❖ Sinais e sintomas: o que foi visto? ❖ Tratamentos: o que foi feito? AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA Após a estabilização do quadro e o paciente já estar fora de risco iminente, realiza-se a avaliação secundária, que compreende: • História clínica: ❖ A → Alergias. ❖ M → Medicamentos: uso habitual. ❖ P → Passado médico. ❖ L → Líquidos e alimentos: noção em relação ao jejum em casos de necessidade de cirurgia. ❖ A → Ambiente e eventos: mecânica do trauma, magnitude e lesão esperada de acordo com isso. • Exame físico: cabeça e pescoço, maxilofacial, coluna vertebral, tórax, abdômen e períneo. • Medidas auxiliares: TC, RNM, EDA, broncoscopia, USG FAST. TRATAMENTO FINAL A sistematização para o tratamento final perpassa as seguintes etapas: preparo → triagem das vítimas → ABCDE (medidas de reanimação e medidas auxiliares – intubação, drenagem torácica, monitorização). Paciente estável → transferência → avaliação secundária (coleta de história clínica ampla e exame físico completo + medidas auxiliares) → diagnóstico → tratamento definitivo.
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