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1 1 Clínica cirúrgica | 5º semestre | Débora Sousa | 09/05/2022 CONDUTA INICIAL: ▪ Preparação ▪ Triagem ▪ Avaliação primária (ABCDE) ▪ Reanimação ▪ Medidas auxiliares à controle de VA e reanimação ▪ Considerar a necessidade de transferência do doente ▪ Avaliação secundária e história ▪ Reavaliação e monitoração contínua após reanimação ▪ Tratamento definitivo CHOQUE Alteração circulatória em que há má perfusão generalizada → comprometimento da oxigenação e nutrição tecidual. Em um cenário de trauma, qualquer paciente taquicárdico e com a pele fria ao toque deve ser considerado portador de choque! Segundo a 10ª edição do ATLS, considera-se taquicardia: Adultos: FC > 100 batimentos por minuto. Adolescentes: FC > 120 batimentos por minuto. Pré-escolares: FC > 140 batimentos por minuto. Crianças de até 1 ano: FC > 160 batimentos por minuto. Divide-se em: CHOQUE NÃO HEMORRÁGICO Considerar sempre que houver estigmas de trauma acima do nível do diafragma → caso haja ferimento, nada impede que seja hemorrágico! TRAUMA: 6 CAUSAS CHOQUE NEUROGÊNICO: há lesão medular cervical ou torácica alta (acima de T7). Causa: redução do tônus simpático → vasodilatação → hipotensão. Clínica: hipotensão, associada à vasodilatação cutânea, sem taquicardia compensatória. Pode estar associado a hipovolemia → manejo inicial inclui adm de volume → vasopressor caso não haja melhora CHOQUE SÉPTICO: secundário à liberação de substâncias pró-inflamatórias com efeito vasodilatador. Causa incomum de choque nas vítimas de trauma | acontece basicamente em duas situações: 1. Presença de infecção pregressa, já instalada no momento da lesão traumática; 2. Ferimentos penetrantes abdominais, em que há contaminação da cavidade peritoneal, com algumas horas de evolução Clínica: hipotensão associada à taquicardia. Vasodilatação cutânea com pressão de pulso Choque séptico + Choque neurogênico → causas de CHOQUE DISTRIBUTIVO nos casos de trauma! TAMPONAMENTO CARDÍACO: restrição do enchimento cardíaco secundária ao acúmulo de sangue no saco pericárdico → + comum em ferimentos penetrantes, podendo ocorrer nos traumas torácicos contusos. 2 2 Clínica cirúrgica | 5º semestre | Débora Sousa | 09/05/2022 Clínica: tríade de Beck (hipofonese de bulhas cardíacas, turgência jugular e hipotensão) → completa na minoria dos casos. Tratamento: toracotomia de emergência. Instabilidade hemodinâmica e s/ acesso a toracotomia → pericardiocentese. PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO: decorre do aumento da pressão dentro da cavidade pleural → insuficiência respiratória e/ou quadro de choque do tipo obstrutivo Pressão intrapleural → deslocamento das estruturas mediastinais → distorção dos vasos da base do coração (princ. veia cava sup e inf) → retorno venoso ao coração → pré-carga → pós- carga. Atelectasia do pulmão acometido → quadro de colapso ventilatório. | importante do retorno venoso ao coração → colapso circulatório. Tratamento: descompressão torácica digital ou toracocentese com agulha no 5º espaço intercostal → drenagem torácica tubular em selo d’água imediata Pneumotórax hipertensivo + Tamponamento cardíaco → causas do CHOQUE OBSTRUTIVO no cenário do trauma! CONTUSÃO MIOCÁRDICA: geralmente secundária a um impacto de alta energia sobre a região anterior do tórax. Clínica: pode variar desde arritmia cardíaca até choque refratário. INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM): causa incomum de choque nas vítimas de trauma. Podendo acontecer em 3 situações: 1. Lesão traumática direta das coronárias → promovendo a isquemia do músculo cardíaco; 2. Uso de cocaína → FC e promove vasoconstrição coronariana → desequilíbrio entre a demanda e o aporte sanguíneo do miocárdio → infarto; 3. Pacientes coronariopatas (especialmente idosos) → suprimento sanguíneo miocárdico esperado não acompanha demanda cardíaca, secundária ao trauma → desequilíbrio entre demanda e perfusão → necrose miocárdica. IAM + Contusão miocárdica → causas do CHOQUE CARDIOGÊNICO! CHOQUE HEMORRÁGICO Considerar sempre que os ferimentos estão isolados abaixo do diafragma. Todos os politraumatizados apresentam, em algum grau, hipovolemia → lesões múltiplas associadas com hemorragia. É essencial investigar se existem focos de hemorragia externa, além de pesquisar os 5 focos principais de sangramento interno. 3 3 Clínica cirúrgica | 5º semestre | Débora Sousa | 09/05/2022 FOCOS DE HEMORRAGIA EXTERNA: identificar → tratar c/ compressão direta do ferimento → torniquete como última opção. FOCOS DE HEMORRAGIA INTERNA: + difícil identificar visualmente CAVIDADE ABDOMINAL: pode represar grande nº de sangue → FAST ou lavado peritoneal diagnostico. Caso haja estigmas de trauma contuso associados à hipotensão, sem outros focos de sangramento prováveis OU Hipotensão associada a ferimentos penetrantes que ultrapassam a fáscia anterior da parede abdominal → autorizada laparotomia exploratória! RETROPERITÔNIO: pode represar grande nº de sangue → FAST e lavado não são elucidativos → avaliar se tem equimose na região dos flancos. TÓRAX: pode represar grande nº de sangue PELVE: pode levar a grandes sangramentos, c/ depleção de quase toda volemia do pcte → controle de sangramento pélvico: imobilização dos ossos da pelve. OSSOS LONGOS: grandes fontes de sangramento oculto → redução da fratura e imobilização c/ aplicação de tala ou splint de tração. APLICAÇÃO CLÍNICA: AVALIA-SE 3 ELEMENTOS P/ DIAGNÓSTICO RÁPIDO: 1. Pulso: pulso central (carotídeo ou femoral) rápido e filiforme → quadro de choque; 2. Perfusão cutânea: pele pálida ou acinzentada, fria e sudoreica → típico dos pacientes em comprometimento hemodinâmico; 3. Nível de consciência: choque → redução da perfusão cerebral → alteração do nível de consciência. Em um cenário de trauma, qualquer paciente taquicárdico e com a pele fria ao toque deve ser considerado portador de choque. Taquicardia, palidez cutânea e redução da pressão de pulso: sinais precoces do choque hipovolêmico. Hipotensão e a alteração do nível de consciência: sinais tardios. PRESSÃO DE PULSO = pressão sistólica – pressão diastólica. Vasoconstrição e o da resistência vascular periférica → PA diastólica → pressão de pulso (valores menores que 30mmHg podem indicar baixo índice cardíaco) CLASSIFICAÇÃO DA PERDA VOLÊMICA ATLS 10ªed 4 4 Clínica cirúrgica | 5º semestre | Débora Sousa | 16/05/2022 Conduta geral: diagnosticar e conter os focos de hemorragia e repor volemia (fase C do ATLS) Classe I e as vezes II: hipotensão permissiva (PAS entre 80 e 90mmHg) -> máximo 90min Classe III: protocolo de transfusão maciça (1 concentrado - 1 de plaquetas p/ 1 de hemácias p/ 1 de plasma fresco) Classe IV: se repor só cristaloide: baixa hemoglobina, fibrinogênio, plaquetas e proteínas -> acidose metabólica persistente, hipotermia progressiva e coagulopatia refratária (tríade letal do trauma) Quando se faz tentativa de reposição volêmica e precisa avaliar o paciente, 2 parâmetros são extremamente importantes: PA e Hg PADRÕES DE RESPOSTA À REPOSIÇÃO VOLÊMICA INICIAL MUDANÇAS DO ATLS: IOT de sequência rápida → agora chama-se IOT assistida por drogas Recomenda-se uso de videolaringoscopia p/ IOT Lesão da arvore traqueobrônquica e tórax instável: considerados ameaçadores à vida ECG (Glasgow): resposta motora à pressão e não à dor. Pressão deve ser realizada nas regiões supraorbitária ou ungueal O novo ATLS passa a adotar a regra Canadense para a retirada do colar cervical: paciente consciente, glasgow = 15 e sem dor, já pode tirar o colar cervical; Laparoscopia: tem que criar pneumoperitôneo | trauma contuso não se faz, pois, ao fazer o pneumoperitoneo, os vasos colabam e depoisque desfaz os vasos voltam e o sangramento permanece -> há acobertamento de sangramento e passa despercebido PROTOCOLO DE TRANSFUSÃO MACIÇA: transfusão de grande volume de hemocomponentes em um curto período de tempo num paciente com hemorragia severa ou incontrolável Definida como 10 U de concentrado de hemácias em 24 horas ou 4 unidades em 1 hora. A regra de reposição 3:1 (perdidos/reposto) passar a ser 1:1:1, orientando a transfusão precoce → Substituição de > 50% da volemia total em 3 horas Indicado nas seguintes situações: 1. Choque hemorrágico classe IV; 2. Choque hemorrágico classes II ou III com resposta transitória ou sem resposta à reposição volêmica inicial; 3. ABC Score maior ou igual a 2 pontos. https://pebmed.com.br/escala-de-coma-de-glasgow-o-que-mudou-e-pode-revolucionar-a-avaliacao-de-tce/ 5 5 Clínica cirúrgica | 5º semestre | Débora Sousa | 16/05/2022 ABC SCORE Trauma penetrante em tronco (tórax ou abdome) 1 ponto FAST positivo 1 ponto PA sistólica igual ou abaixo de 90 1 ponto FC = ou > 120 1 ponto 2 ou mais pontos já indicam necessidade de transfusão maciça. Os profissionais devem fazer uso do tromboelastograma para guiar a transfusão e uso do ácido tranexâmico TRÍADE LETAL DO TRAUMA: Coagulopatia refratária |acidose metabólica persistente| hipotermia progressiva TROMBOELASTOGRAFIA: exame complexo, que avalia propriedades viscoelásticas do coágulo, desde sua formação até sua destruição Testes viscoelásticos como a tromboelastografia e tromboelastometria rotacional permitem a rápida detecção da coagulopatia e orientam a terapia de forma individualizada, alvo dirigida com drogas hemostáticas específicas. FAST O protocolo FAST (Focused Assessment With Sonography in Trauma) se baseia na procura de líquido livre na cavidade abdominal e no pericárdio, mais precisamente em 4 janelas, e. Busca, de maneira rápida, elucidar se há presença de líquido livre na cavidade, indicando possível lesão de órgão alvo e talvez explicando um quadro de hipotensão apresentado pelo doente ou mesmo se há presença de tamponamento. 4 janelas: janela hepatorrenal (espaço de Morrison), janela pélvica/retrovesical, janela esplenorrenal e a janela subxifóide (pericárdica). Se realizar o protocolo estendido, a janela pulmonar também deverá ser pesquisada, bilateralmente. Realizado de 3 a 5 minutos! Janela hepatorrenal (espaço de Morrison) 1ª janela a ser procurada. É possível a visualização do fígado e do rim, assim como o espaço entre ambos, chamado de espaço de Morrison, sendo considerado como um dos primeiros locais onde ocorrerá o acúmulo de líquido livre na cavidade abdominal. Imagem normal e, por fim, alterada: O líquido acumulado no espaço de Morrison e o derrame pleural são anecóicos. CASO CLÍNICO 1 Paciente 23 anos, masculino, trazido pelo CBM em protocolo de trauma e vítima da colisão moto X automóvel, apresentando agitação psicomotora, fratura exposta em perna direita, deformidade de punho esquerdo, taquicardia e taquidispneia. PA de admissão de 80 X 50mmHg. 6 6 Clínica cirúrgica | 5º semestre | Débora Sousa | 16/05/2022 EF: taquidispneico com respiração, taquicárdico, palidez cutânea (2+/4+), acrocianose. Abdome flácido, doloroso à palpação profunda com evidente irritação peritoneal Fratura exposta + fratura fechada ECG: AO 3 / RV 4 / RM 5 E-FAST: Discussão: Choque classe III -> transfusão maciça Solicitar acesso venoso, avaliar vias aéreas (IOT), fast (drenagem de pericárdio), stop the bleed, E-fast: espaço de Monrison -> CC Se depois de tudo isso ele ainda estiver descompensando -> vasopressores (ideal: noradrenalina) Paciente politransfundido: ácido tranexâmico p/ controlar coagulopatia (1g no início e 1g de 8h/8h) CASO CLÍNICO 2 Paciente 37 anos, sexo feminino, trazida por terceiros vítima de agressão por arma branca em face e em pescoço, admitida em taquidispneia importante, taquicardia, acrocianose e intensa agitação psicomotora. PA de admissão de 90 X 60mmhg. EF: taquidispneica, taquicardica, acrocianose. Agitação psicomotora importante. Sangramento ativo e profuso por lesões cervicais (3), fuga aérea cervical, enfisema subcutâneo que se estende da região interdigastrica Até linha maxilar. Exposição de hioide e de cartilagem tireoide. ECG: AO 2 /rv 3 / RM 5 Discussão: 1º estabilizar via aérea -> acesso venoso -> cristaloide e depois já entra com concentrado (quando chegar) no pcte -> CC Comprime p/ garantir que não sangre tanto + CASO CLÍNICO 3 Paciente 40 anos, masculino, trazido por terceiros após agressão por arma de fogo. Admitido em palidez cutânea acentuada, pele fria e pegajosa, obnubilado e em bradicardia. PA de admissão de 40 X 10mmHg Discussão: Choque IV franco: acesso calibroso -> garantir via aérea -> protocolo de transfusão maciça após cristaloide CASO CLÍNICO 4 Paciente 18 anos, masculino, vítima de queda de moto durante exibições amadoras, apresentando quando de tetraparesia, obnubilação, pele fria e pegajosa, sudorese profusa, taquidispneia RX: Discussão: Sinais de choque medular e neurogênico 7 7 Clínica cirúrgica | 5º semestre | Débora Sousa | 16/05/2022 E-fast: s/ alteração Conduta: corticoide em pulsoterapia + acesso p/ manter perfusão (cristaloide) -> droga vasoativa p/ repor pressão Injúria secundária: citotóxica -> acidose, hipotermia, hiponatremia -> piora edema medular/ (pode ficar c/ hipernatremia – p/ melhorar edema) -> fica cefalo-aclive 30º (cabeça elevada diminui o inchaço) Referências principais: Estratégia MED – Curso Extensivo 2022. Trauma: Choque. ATLS 10ed
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