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Legalização aborto 3 trimestre

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2
Disciplina: Direito Constitucional II 
Docente: Prof. Catiane Sell 
Data: 02/06/2022
Acadêmicos: Ana Carolina, Charlene Welter, Keony Oliveira, Tatiane Cardozo Ricardo da Costa e Rudi Soares. 
 	
INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GESTAÇÃO NO TERCEIRO TRIMESTRE
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO....................................3
2. FUNDAMENTAÇÃO LEGAL..............4
3. DECISÃO DO STF..............................5
4. DOUTRINA..........................................7
5. JURISPRUDÊNCIA.............................10
6. DADOS................................................16
7. CONCLUSÃO......................................19
8. BIBLIOGRAFIA...................................20
1. Introdução
A presente pesquisa busca elucidar a grande polêmica a cerca do tema do aborto, hoje, criminalizado no Brasil;
Os estudos aqui apresentados foram baseados no em tudo que a Constituição expressa sobre a proibição do aborto, bem como, doutrinas e jurisprudências para que se possa ter a correta percepção de acordo com as várias vertentes que envolvem o tema;
Aqueles que defendem a legalização do aborto no Brasil o fazem sob uma perspectiva constitucional, de acordo com todos os artigos e garantias fundamentais. Em contra partida aqueles que são contra a legalização do aborto no Brasil hoje, mantém uma perspectiva religiosa de modo a defender o direito à vida, considerada já desde o momento da concepção;
Como podemos observar, são dois os âmbitos a serem analisados nesta pesquisa, o constitucional e o religioso e um não pode ser tratado com menos significância que o outro levando em conta que ambos são fundamentais para a sociedade brasileira;
Assim sendo e deixando nossa opinião neutra a respeito da legalização ou não do aborto, segue nossa pesquisa sobre a Interrupção Voluntária da Gestação no Terceiro Trimestre;
2. Fundamentação Legal 
Para nossa correta compreensão sobre a Interrupção Voluntária da Gestação no Terceiro Trimestre, vamos primeiro entender o como a nossa Constituição Federal de 1988 dispôs os seus artigos acerca do tema.
Quando falamos em interromper voluntariamente uma gestação, sem que exista má formação fetal por exemplo, entendemos que existe ali uma violação ao direito à vida, ainda que falando de uma vida humana intrauterina.
O caput do artigo 5 da Constituição Federal de 1988 expressa a inviolabilidade do direito à vida:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida (...)”
Em conjunção, o caput do artigo 2 do Código Civil também garante os direitos do nascituro desde a sua concepção:
 “A personalidade civil começa com o nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.”
E ainda, nos artigos 124, 125 e 126 do Código Penal também encontramos a proteção ao bem jurídico, vida:
Art. 124 “Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque”
Art. 125 “Provocar aborto, sem o consentimento da gestante”
Art. 126 “Provocar aborto com o consentimento da gestante”
3. Decisão do STF
No segundo semestre de 2016, logo após o recesso de julho, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) reuniu-se para julgar mais um dos inúmeros habeas corpus impetrados e que tramitam nas instâncias de deliberação dessa corte judicial (duas turmas e Plenário). À primeira vista, era apenas mais um caso, entre muitos, em que pacientes pedem a revogação de prisão preventiva para responder à ação penal em liberdade. Os pacientes já eram réus em processo penal instaurado com fundamento nos arts. 288 e 126 do Código Penal, em concurso material por quatro vezes. Tratava-se, então, de verificar se estavam presentes os supostos fáticos do art. 312 do Código de Processo Penal que fundamentam a prisão cautelar. A rigor, no plano mais imediato, estava-se ante um caso de jurisdição ordinária: analisar fatos e decidir com base em normas infraconstitucionais.
Ao final do julgamento, foi concedida a ordem pedida não somente com fundamento na ausência dos elementos que justificam a prisão preventiva, mas também com o fundamento de que, em interpretação conforme a Constituição, é inconstitucional a incidência dos arts. 124 e 126 do Código Penal nos casos de interrupção voluntária de gestação no primeiro trimestre. Pela primeira vez, o Supremo Tribunal Federal, por meio de uma de suas instâncias e em controle incidental de constitucionalidade, adotou a tese, já assentada em alguns países por meio de decisão judicial e em outros por meio de lei, de que a criminalização do aborto voluntário no primeiro trimestre viola direitos fundamentais da mulher.
O objetivo da criminalização do aborto é a proteção da vida do feto. No entanto, segundo o ministro Luís Roberto Barroso, deve-se verificar se as restrições aos direitos fundamentais das mulheres (anteriormente citados), no caso do primeiro trimestre de desenvolvimento da gravidez, com o objetivo de proteção da vida do feto, resistem ao exame de proporcionalidade. Esse exame é composto pelo teste de adequação, teste de necessidade e teste de proporcionalidade em sentido estrito. Para o ministro, a resposta é negativa. No exame de adequação, verifica-se se a restrição contribui, empiricamente, para o alcance do fim pretendido. A partir de estudos internacionais, o ministro Luís Roberto Barroso conclui que os índices de aborto são praticamente os mesmos em países em que a prática é ilegal e em países em que a prática é legal. Logo, a criminalização não reduz o cometimento de abortos. 
“Ao contrário, enquanto a taxa anual de abortos em países onde o procedimento pode ser realizado legalmente é de 34 a cada 1 mil mulheres em idade reprodutiva, nos países em que o aborto é criminalizado, a taxa sobe para 37 a cada 1 mil mulheres”, afirma o ministro apoiando-se em informações do Guttmacher Institute (2016). A criminalização afeta os abortos seguros, tendo pouco impacto sobre os abortos inseguros. Assim, não coíbe de forma adequada e eficaz a prática do aborto. Logo, a criminalização não é eficaz, ao menos na medida esperada ou desejável, para proteger o direito à vida do feto. Considerando que a criminalização do aborto voluntário no primeiro trimestre da gravidez é uma grave intervenção em diversos direitos fundamentais da mulher e que essa criminalização do aborto promove um grau reduzido de proteção aos direitos do feto (porque não causa a redução dos índices de abortos), o ministro conclui que as desvantagens da criminalização são em maior número e mais expressivas que as vantagens. Os custos superam os benefícios. Assim, a criminalização também não é aprovada no exame da proporcionalidade em sentido estrito, também chamado de ponderação de bens. 
Barroso destacou que em países desenvolvidos e democráticos, como Estados Unidos, Portugal, França, Itália, Canadá e Alemanha, a interrupção da gravidez no primeiro trimestre não é considerada crime. “É dominante no mundo democrático e desenvolvido a percepção de que a criminalização da interrupção voluntária da gestação atinge gravemente diversos direitos fundamentais da mulher, com reflexos visíveis sobre a dignidade humana”, ressaltou. “Durante esse período (da gravidez), o córtex cerebral – que permite que o feto desenvolva sentimentos e racionalidade – ainda não foi formado nem há qualquer potencialidade de vida fora do útero materno.” O ministro do Supremo ainda elencou uma série de direitos fundamentais que seriam incompatíveis com a criminalização do aborto até o terceiro mês de gestação: os direitos sexuais e reprodutivos da mulher; a integridade física e psíquica da gestante; e a igualdade da mulher, “já que homens não engravidam e, portanto, a equiparação plena de gênero depende de se respeitar a vontade da mulher nessa matéria”. Atualmente, o Código Penal Brasileiro prevê que o aborto não é crime em caso de estupro ou de risco de vida da gestante. Oentendimento de Barroso, Rosa e Fachin foi o de que os artigos que tipificam o crime de aborto não deveriam incidir sobre a interrupção da gestação feita até o terceiro mês, já que a criminalização nesse caso violaria direitos fundamentais da mulher.
4. Doutrina 
Para fomentar nossa pesquisa traremos o ponto de vista de dois doutrinadores para que possamos ter maior embasamento e compreensão sobre o assunto.
Flavio Martins nos traz que segundo a Corte Interamericana dos Direitos Humanos o início da proteção a vida é desde de a concepção, isto é, a fecundação do óvulo pelo espermatozóide ou por nidação, que também pode ser chamado de implantação (a implantação do óvulo fecundado no útero materno), como podemos observar: 	
 
Embora o assunto seja polêmico, a Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre isso decidiu. No caso “Artavia Murillo e outros (‘fecundação in vitro’) vs. Costa Rica”230, cuja sentença foi prolatada em 28 de novembro de 2012, a Corte Interamericana de Direitos Humanos decidiu que “somente quando se cumpre o segundo estágio do desenvolvimento embrionário (a nidação ou implantação) é que se permite entender que houve a concepção” (Martins, 2022, p.349)
 
Para esclarecer a razão central de nosso trabalho, procuramos também entender o porquê exatamente até o terceiro mês de gestação a interrupção é aceita, o autor explica que:
Segundo a “teoria da atividade neural”, a vida só começaria no momento em que a crista neural se faz presente no feto. Segundo médicos e cientistas, a partir do terceiro mês de gestação, o feto começa a criar “alças” sensório-motoras, criando-se conexões (sinapses) entre os neurônios. (Martins, 2022, p.353)
 
Para o autor é mais que valido que seja observado os direitos humanos conforme o pacto de São José da Costa Rica, entretanto, não se deveria também deixar de lado outros princípios no âmbito da proteção não menos importantes, como por exemplo, os valores fundamentais como a dignidade da gestante, permitindo a prática do aborto.
Anteriormente em nosso trabalho pudemos observar a decisão do Supremo Tribunal Federal, Tavares diz que não cabe a eles a função de descriminalizar o aborto desta maneira, uma vez que esse processo deveria ser realizado pelo legislador que representa a opinião popular, pois foi eleito de forma democrática.
Assim, com a devida vênia, entendemos que não cabe ao Supremo Tribunal Federal a decisão política de descriminalizar o aborto dessa maneira, ainda que se utilizando de princípios de status constitucional, como proporcionalidade, dignidade da pessoa humana etc. É possível descriminalizar o aborto, seja integralmente (como em alguns países), seja até o terceiro mês de gestação (como no Uruguai). Todavia, cabe ao Congresso Nacional, eleito democraticamente, tomar essa decisão, e não ao Supremo Tribunal Federal. O Supremo Tribunal Federal deveria aprender com experiências estrangeiras, como a dos Estados Unidos. Muitas vezes, quando a Suprema Corte quer proferir uma decisão contra majoritária, ainda que tomada de boas intenções, muitas vezes não atenta ao fato de que a reação conservadora em sentido contrário pode ser tão intensa, tão profunda, que pode prejudicar as pessoas que o Supremo pensava inicialmente em proteger. Caso o Supremo decida permitir o aborto até o terceiro mês de gestação, podemos esperar uma reação profunda social e institucional em sentido contrário, até mesmo uma Emenda Constitucional, tornando ainda mais excepcional a prática do aborto e quiçá até suprimindo algumas hipóteses de aborto legal hoje existentes. (Martins, 2022, p.353)
	
Pedro Lenza nos traz outra perspectiva sobre o tema, abordando como o direito à vida não é absoluto, uma vez que podemos observar nos termos do art. 84, XIX (art. 5.º, XLVII, “a”), onde se é permitido pena de morte salvo em caso de guerra declarada, além é claro das interpretações já fixadas para interrupção da gravidez de feto com anencefalia e pesquisa com células-tronco embrionárias.
Neste sentido Lenza explica que foi estabelecido então causas especiais de exclusão de ilicitude (aborto legal), são elas:
■ aborto necessário ou terapêutico (art. 128, I): não se pune o aborto praticado por médico se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
■ aborto sentimental ou humanitário (art. 128, II): não se pune o aborto praticado por médico se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. (Lenza, 2021, p.570)
Acerca do que já entendemos até agora podemos observar também que em nosso Código Penal não faz nenhuma distinção em relação ao momento da gestão para caracterização do delito, apenas comprovada a gravidez e o momento da interrupção, nos termos dos arts. 124 a 126 da CP.
Assim como vimos anteriormente neste trabalho e como o doutrinador Tavares citou, após quase 80 anos o STF realiza a interpretação de que a criminalização da interrupção voluntária da gestação efetivada no terceiro trimestre, viola como cita Lenza (2021), “diversos direitos fundamentais da mulher, bem como o princípio da proporcionalidade”.
Assim o doutrinador nos traz que por maioria da 1ª Turma do SFT, entende-se no tocante aos direitos fundamentais a criminalização ser incompatível com:
■ direitos sexuais e reprodutivos da mulher: “que não pode ser obrigada pelo Estado a manter uma gestação indesejada”;
■ autonomia da mulher: “que deve conservar o direito de fazer suas escolhas existenciais”;
■ integridade física e psíquica da gestante: “que é quem sofre, no seu corpo e no seu psiquismo, os efeitos da gravidez; e a igualdade da mulher, já que homens não engravidam e, portanto, a equiparação plena de gênero depende de se respeitar a vontade da mulher nessa matéria”. (Lenza, 2021, p.570)
E em relação do princípio da proporcionalidade:
■ medida de duvidosa adequação para proteger o bem jurídico que pretende tutelar (vida do nascituro): “por não produzir impacto relevante sobre o número de abortos praticados no país, apenas impedindo que sejam feitos de modo seguro”;
■ meios mais eficazes e menos lesivos do que a criminalização para que o Estado evite a ocorrência dos abortos: no caso o Min. Barroso destaca a educação sexual, a distribuição de contraceptivos e o amparo à mulher que deseja ter o filho mas se encontra em condições adversas;
■ desproporcionalidade em sentido estrito da medida: “por gerar custos sociais (problemas de saúde pública e mortes) superiores aos seus benefícios”. (Lenza, 2021, p.570)
		
Também se pode observar no substancioso voto da Min Rosa Weber, onde coloca-se em pauta não só o direito à privacidade da mulher, como também a saúde da mesma e a importância para com o direito da mulher e em sua autonomia, liberdade e igualdade. E o voto do Min Barroso que nos traz os impactos da criminalização sobre as mulheres pobres que não tem condições para médicos e clínicas privadas, e com a falta da assistência do serviço público 	de saúde acabam por obter por outros meios que podem lhe fadar a morte. 
Assim como o Min Barroso visualiza que necessita criar mecanismos para não banalizar a ação, “o aborto é uma prática que se deve procurar evitar, pelas complexidades físicas, psíquicas e morais que envolve. Por isso mesmo, é papel do Estado e da sociedade atuar nesse sentido, mediante oferta de educação sexual, distribuição de meios contraceptivos e amparo à mulher que deseje ter o filho e se encontre em circunstâncias adversas. Portanto, ao se afirmar aqui a incompatibilidade da criminalização com a Constituição, não se está a fazer a defesa da disseminação do procedimento. Pelo contrário, o que se pretende é que ele seja raro e seguro” (HC 124.306, fls. 13 do acórdão).
Ainda que todos esses aspectos foram observados, a interrupção voluntária da gestação no primeiro trimestre não deixou de ser considerada crime no direito brasileiro, esses votos foram apenas fundamentos para a concessão de habeas corpus e não tem caráter vinculante.
5. Jurisprudência 
Direito processual penal. Habeas corpus. Prisãopreventiva. Ausência dos requisitos para sua decretação. Inconstitucionalidade da incidência do tipo penal do aborto no caso de interrupção voluntária da gestação no primeiro trimestre. Ordem concedida de ofício. 1. O habeas corpus não é cabível na hipótese. Todavia, é o caso de concessão da ordem de ofício, para o fim de desconstituir a prisão preventiva, com base em duas ordens de fundamentos. 2. Em primeiro lugar, não estão presentes os requisitos que legitimam a prisão cautelar, a saber: risco para a ordem pública, a ordem econômica, a instrução criminal ou a aplicação da lei penal (CPP, art. 312). Os acusados são primários e com bons antecedentes, têm trabalho e residência fixa, têm comparecido aos atos de instrução e cumprirão pena em regime aberto, na hipótese de condenação. 3. Em segundo lugar, é preciso conferir interpretação conforme a Constituição aos próprios arts. 124 a 126 do Código Penal – que tipificam o crime de aborto – para excluir do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. A criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher, bem como o princípio da proporcionalidade. 4. A criminalização é incompatível com os seguintes direitos fundamentais: os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, que não pode ser obrigada pelo Estado a manter uma gestação indesejada; a autonomia da mulher, que deve conservar o direito de fazer suas escolhas existenciais; a integridade física e psíquica da gestante, que é quem sofre, no seu corpo e no seu psiquismo, os efeitos da gravidez; e a igualdade da mulher, já que homens não engravidam e, portanto, a equiparação plena de gênero depende de se respeitar a vontade da mulher nessa matéria. 5. A tudo isto se acrescenta o impacto da criminalização sobre as mulheres pobres. É que o tratamento como crime, dado pela lei penal brasileira, impede que estas mulheres, que não têm acesso a médicos e clínicas privadas, recorram ao sistema público de saúde para se submeterem aos procedimentos cabíveis. Como conseqüência multiplica-se os casos de automutilação, lesões graves e óbitos. 6. A tipificação penal viola, também, o princípio da proporcionalidade por motivos que se cumulam: (i) ela constitui medida de duvidosa adequação para proteger o bem jurídico que pretende tutelar (vida do nascituro), por não produzir impacto relevante sobre o número de abortos praticados no país, apenas impedindo que sejam feitos de modo seguro; (ii) é possível que o Estado evite a ocorrência de abortos por meios mais eficazes e menos lesivos do que a criminalização, tais como educação sexual, distribuição de contraceptivos e amparo à mulher que deseja ter o filho, mas se encontra em condições adversas; (iii) a medida é desproporcional em sentido estrito, por gerar custos sociais (problemas de saúde pública e mortes) superiores aos seus benefícios. 7. Anote-se, por derradeiro, que praticamente nenhum país democrático e desenvolvido do mundo trata a interrupção da gestação durante o primeiro trimestre como crime, aí incluídos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Canadá, França, Itália, Espanha, Portugal, Holanda e Austrália. 8. Deferimento da ordem de ofício, para afastar a prisão preventiva dos pacientes, estendendo-se a decisão aos corréus.
(HC 124306, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 29/11/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-052 DIVULG 16-03-2017 PUBLIC 17-03-2017)
Decisão
Vistos etc. 1. Trata-se de embargos de declaração interpostos pelo Instituto de Defesa da Vida e da Família (petição n. 37851/2018), com fundamento normativo nos arts. 1.022 e 1.023 do Código de Processo Civil, alegando omissão na decisão monocrática de habilitação dos atores externos e estrutura da metodologia da audiência pública, convocada por esta Ministra Relatora, para coletar informações e argumentos necessários para a adequada e legítima deliberação acerca da controvérsia constitucional da descriminalização da interrupção voluntária da gravidez, nas 12 (doze) primeiras semanas. 2. Argumenta, de início, violação do princípio da publicidade, em razão de potencial omissão na explicitação do nome de todos os candidatos inscritos a participar da audiência pública, na qualidade de expositor, bem como na individualização das pessoas que encaminharam e-mail em manifestação à escolha de atores externos específicos, que apresentam representatividade e conhecimento técnico especializado sobre a matéria em discussão na audiência. Assevera que, da análise dos pedidos feitos para ingresso no feito, na condição de amicus curiae, apenas oito pedidos são de entidades não-governamentais, associações civis ou institutos contrários à descriminalização. Nada obstante, a decisão de escolha dos candidatos a participar da audiência pública indica o deferimento de apenas três peticionários contra a descriminalização, sendo que, de outro lado, foram aceitos 17 (dezessete) indicados com posição favorável à tese da descriminalização da interrupção voluntária da gestação. 2.1 Nesse contexto argumentativo, defende erro material da decisão embargada, afirmando que "no caso da escolha dos expositores, é claro que houve o esquecimento da publicação. As partes precisam tomar conhecimento das indicações e de quem as fez para ajudar na escolha dos expositores", em observância ao princípio da publicidade. Desse modo, compete, inclusive, à Corte concessão de prazo para a impugnação das indicações feitas. 3. Sustenta violação da paridade e igualdade de tratamento entre as partes, nos termos do que prescrevem os arts. 7º e 139 do CPC, ao argumento de que a igualdade deve ser observada em todo complexo de atos processuais, ou seja, no desenvolvimento da relação jurídica processual como um todo, o que inclui audiências e perícias. A propósito, articula erro material na distribuição de tempo entre os expositores, na medida em que a relação de expositores apresenta 3 (três) favoráveis à improcedência da ação e 17 favoráveis à procedência da ação. 3.1 À vista desta situação, pede a revisão dos tempos concedidos para os expositores das partes e a fixação de tempo igual para os dois lados, a favor e contra a descriminalização do aborto, dividindo-se o tempo entre os expositores selecionados para cada lado. 4. Defende a tese de inobservância do fundamento da soberania, que estrutura a formação da República Federativa do Brasil, conforme art. 1º da Constituição Federal. Para tanto, afirma que a admissão de organizações internacionais na formação do debate sobre a questão da descriminalização da interrupção voluntária da gravidez negligencia a soberania brasileira e a análise da matéria a partir, estritamente, de informações dadas pelo Ministério da Saúde. Ainda, apontam a incidência do art. 17 do Decreto-Lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942, e do art. 21 do CPC, para justificar a alegação de que leis, sentenças e quaisquer outros atos estrangeiros não têm validade no Brasil, para a jurisdição brasileira. Quanto ao ponto, alega erro material na decisão, o qual deve ser corrigido, por meio da exclusão dos estrangeiros cujo pedido para participar da audiência pública foi objeto de deferimento, e, de outro lado, com a inclusão na relação jurídico-processual do Ministério da Saúde e do Ministério do Planejamento. 4.1 Nesse sentido, pede: "III.1 determinar o exame de todos os nomes indicados, para conhecer sua origem e apurar as interferências estrangeiras nos autos; III.2 ordenar a exclusão de todas as entidades ou expositores estrangeiros; III.3 intimar os Ministérios do Planejamento e da Fazenda para integrarem a lide e calcularem os danos econômicos futuros em eventual decisão pró- aborto." 5. Com relação às regras estabelecidas na decisão de convocação da audiência pública, como a representatividade do expositor, o conhecimento técnico e a pluralidade, assevera o embargante que cumpriu com todos os requisitos, motivos pelo qual deveria ter sido habilitado como expositor. Em face desse cenário, contestaque houve deferimento de outros habilitados que não cumpriram os critérios fixados, tampouco indicaram expositor, cuja nomeação ficara para momento futuro. Nessa toada, explicita: "temos nesse grupo seis entidades que foram autorizadas, ao arrepio das regras fixadas, a indicar seis expositores () A contradição entre as determinações é patente. Ao mesmo tempo que são impostas regras e requisitos, autoriza-se quebra delas por razões desconhecidas" . 5.1 Ao argumento, portanto, de contradição na admissão dos expositores a serem indicados no futuro, pede: "VI.1 habilitar a embargante e deferir a exposição de seu indicado, e V.2 determinar a inabilitação das seis entidades acima mencionadas, impedindo, assim, que indiquem, no futuro, os expositores". 6. Requer, ante as alegações de omissões, contradições e erros materiais, sejam atribuídos efeitos modificativos aos presentes embargos de declaração, intimando-se as partes contrárias a se manifestarem, em observância ao direito fundamental ao contraditório, como previsto nos arts. 1.022 e 1.023 do CPC. 7. Pede, ainda, "na forma e obediência aos artigos 37 da CF e 11 do CPC, suprimir omissão, determinando a formação de um encartado ou volume, com as transcrições e ou cópias das indicações feitas através do e-mail adpf442@stf.jus.br, para que as partes tomem conhecimento de todas delas". É o relatório. Decido. 8. O instituto da audiência pública foi regulamentado, de início, e tem seu fundamento de validade, na ordem constitucional brasileira, no art. 58, § 2º, II, da CRFB, o qual prescreve a possibilidade de convocação de audiência pública para ouvir entidades da sociedade civil, por parte das comissões que integram o desenho institucional e funcional do Congresso Nacional e suas respectivas Casas. A razão subjacente a esta regra constitucional reside na ordem normativa de tutela da participação e pluralização das deliberações sobre questões políticas controversas com a sociedade civil, técnica que, ao mesmo tempo, assegura um processo de contestação pública efetivo, na medida em que fomenta ampla construção de argumentos e abordagens sobre o problema e controvérsia posta. Ainda, essa deliberação política externa agrega legitimidade no perfil da democracia representativa. 9. O contexto constitucional da audiência pública, como afirmado, por certo, influenciou a necessidade de redesenho institucional do exercício da jurisdição constitucional, no sentido da previsão dessa técnica processual para este espaço de tomada de decisão coletiva. As razões normativas que justificam a audiência pública na Constituição Federal são válidas e pertinentes para o espaço jurisdicional. Ou seja, explicam-se por fundamentos de pluralização da deliberação, legitimidade da jurisdição constitucional e coleta de informações e argumentos especializados, por ausência de capacidade institucional do Supremo Tribunal Federal para a adequada discussão de questões técnicas, com reflexos em outros campos do conhecimento. Por meio de tal instituto de deliberação externa (referente ao diálogo pré-decisional), estima-se promover o enriquecimento do debate jurídico-constitucional, mediante o aporte de novos argumentos, pontos de vista, possibilidades interpretativas e informações fáticas e técnicas, o que acentua o respaldo social e democrático da jurisdição constitucional exercida por esta Corte 
(MENDES, Conrado Hübner. Constitutional Courts and Deliberative Democracy. Oxford: Oxford University Press, 2013; GODOY, Miguel Gualano de. Devolver a Constituição ao Povo: Crítica à Supremacia Judicial e Diálogos Institucionais. São Paulo: Fórum, 2017). 10. No espaço, portanto, da atividade de controle jurisdicional de constitucionalidade, foi previsto o desenho processual da audiência pública, conforme o art. 9º, § 1º, da Lei n. 9.868/99: "Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de notória insuficiência das informações existentes nos autos, poderá o relator requisitar informações adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão, ou fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e autoridade para esclarecer questões de fato". No mesmo sentido, o art. 6º, §§ 1º e 2º, da Lei nº 9.882/1999. 11. O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, ao regulamentar a audiência pública, por meio de normas internas de procedimento, prescreve a necessidade de participação equilibrada de participantes que apresentem teses distintas, como técnica necessária para assegurar o contraditório, seleção de pessoas que tenham capacidade e legitimidade técnica para contribuir com as discussões acerca da questão jurídica controversa. Com relação aos critérios de escolha dos habilitados a participarem da audiência, a legislação não impõe critérios rígidos, mas sim vetores de procedimento, de modo a garantir uma paridade nas manifestações, em conformidade com a representatividade adequada, pluralidade na composição geral. 12. Os arts. 13, XVII, e 21, XVI, preveem a possibilidade de o Ministro Relator da ação convocar audiência pública para ouvir pessoas com experiência e autoridade em determinada matéria para esclarecer questões ou circunstâncias de fato com repercussão ou interesse público. Mais especificamente, o poder do Ministro relator da ação está delimitado no art. 154, parágrafo único, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. Essa atuação monocrática por parte do Ministro Relator se justifica, sem que tal procedimento implique afronta ao protocolo do julgamento em colegiado, por se tratar de poder de direção e instrução do processo. De acordo com a legislação processual (art. 932 do CPC), a direção do processo e a atividade instrutória, no espaço de órgãos coletivo, como os tribunais, deve ser conduzida pelo juiz relator da causa. A função do relator, aqui, é de preparador do julgamento colegiado, não se relacionando com a função decisória monocrática. A escolha por este desenho institucional, portanto, privilegia o valor da celeridade e eficiência na condução do procedimento, sem prejuízo da atuação institucional do órgão jurisdicional. 13. Assim, por se tratar de ato afeto ao Ministro Relator, a legislação processual e regimental atribuem à decisão o caráter da irrecorribilidade. A irrecorribilidade de decisões específicas se legitima, no sistema, por se tratar a audiência pública, assim como o instituto do amicus curiae, de técnicas de participação e diálogo externo com outros atores, por determinação da Suprema Corte, de modo que não há falar em direito público subjetivo do ator externo interessado em contribuir com o diálogo jurisdicional. 14. Na decisão de convocação de audiência pública, os critérios indicados como vetores para a escolha dos atores externos foram justamente no sentido da representatividade adequada, pluralidade e conhecimento técnica sobre a questão controversa, as quais devem ser abordadas pelos diversos habilitados, a partir das variadas perspectivas que o tema se apresenta. 15. A habilitação dos atores externos foi realizada com fundamento nesses critérios e em observância à norma regimental, de modo a atender a composição plural e paritária. Ademais, cumpre assinalar que na habilitação levou-se em consideração também a participação de pessoas, instituições ou entidades que contribuíssem com o fornecimento de conhecimentos técnicos, motivo pelo qual não há uma perspectiva dual na composição. 16. No caso, as razões recursais, apesar da alegação de vícios decisórios aptos a ensejar o cabimento dos embargos de declaração, único recurso cabível, em razão da sua finalidade no sistema processual, de correção de erros de justificação, não subsistem no mérito. A invocada omissão, por ausência de análise do pedido de inscrição a participar da audiência pública, não procede, porquanto o pedido foi ponderado em face dos demais, apenas não deferido. Acrescento que os demais pedidos igualmente questionam o mérito do procedimento e da composição formatada, de modo que nãotêm procedência na via processual eleita. 17. Ante o exposto, forte no art. 1.024, § 2º, do CPC, no art. 6º, §§ 1º e 2º, da Lei nº 9.882/1999, e no art. 21, incisos XVII e XVIII, conheço dos embargos de declaração e, no mérito, rejeito-os Intime-se. Brasília, 28 de junho de 2018. Ministra Rosa Weber Relatora
Referências Legislativas
· LEG-FED CF ANO-1988 ART-00058 PAR-00002 INC-00002 CF-1988 CONSTITUIÇÃO FEDERAL
· LEG-FED LEI-013105 ANO-2015 ART-00007 ART-00139 ART-00932 ART-01022 ART-01023 ART-01024 PAR-00002 CPC-2015 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
· LEG-FED DEL-004657 ANO-1942 ART-00017 LINDB-1942 LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LICC-1942 LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL)
· LEG-FED LEI-009868 ANO-1999 ART-00006 PAR-00001 PAR-00002 ART-00009 PAR-00001 LEI ORDINÁRIA
· LEG-FED RGI ANO-1980 ART-00021 INC-00017 INC-00018 ART-00154 PAR- ÚNICO RISTF-1980 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Observações
27/05/2019 Legislação feita por:(VRL)
Detalhes da Jurisprudência
Processo
ED ADPF 0002062-31.2017.1.00.0000 DF - DISTRITO FEDERAL 0002062-31.2017.1.00.0000
Partes
REQTE.(S) PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (P-SOL), INTDO.(A/S) PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Publicação
DJe-153 01/08/2018
Julgamento
28 de Junho de 2018
Relator
Min. ROSA WEBER
Documentos do processo
Decisão
STF - 01/08/2018
Decisão
STJ - 03/11/2009
 
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6. Dados 
Independentemente, de qualquer posicionamento quanto ao tema do aborto, é fatídico que ao ser crime resulta nas mortes de milhares de mulheres às redondezas do mundo. Ainda assim, determinados países, que optaram por descriminalizar tal
conduta, puderam empiricamente observar alterações nos números relacionados direta ou indiretamente ao tema. Para entender como a legalização mudou o contexto.
Quanto ao cenário global, podemos ver dados levantados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segunda ela, 73,3 milhões de abortos ocorreram entre 2015 e 2019, sendo eles seguros ou inseguros, legais ou ilegais. Tais dados são mais alarmantes quando se observa, especificamente, o continente africano e sul-americano; porque três em cada quatro abortos são feitos irregularmente, o que demonstra quão grave está a situação do hemisfério sul do planeta Terra (onde se encontram a maioria dos países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos). 
Somado a isso, também conforme a OMS, o preço da criminalização do aborto custa caro, tanto no mérito financeiro quanto relacionado à vida das mulheres que se submetem a isso. Mensalmente, são contabilizados cerca de 584.000 ( quinhentos e oitenta e quatro mil) mulheres são conduzidas aos hospitais em virtude das complicações geradas pela clandestinidade dos abortos nos países não legalizados. O tratamento das pacientes desse contexto dentro do sistema de saúde tem um custo de R$2.637.865.300 (dois bilhões e seiscentos e trinta e sete milhões e oitocentos e sessenta e cinco mil e trezentos reais) anualmente. Além do mais, entre cinco e treze por cento das mortes maternas são atribuídas aos procedimentos de interrupção de gravidez clandestina. 
Tais números são muito alarmantes. A forma de resolução indicada pela OMS para evitar tudo isso é justamente: educação sexual, uso de anticoncepcionais eficazes, fornecimento de aborto induzido seguro e legal e atendimento oportuno a complicações. Não somente a legalização resolve, pois de modo duradouro são as políticas públicas de investimentos em planejamento familiar e saúde reprodutiva que vão impactar socialmente.
Quanto aos Estados Unidos da América (EUA), a liberação ocorreu em 1973. Logo após, gerou um aumento de abortos realizados seguidos de uma estabilidade. Contudo, a partir do fim da década de 1980 sobreveio um declínio acentuado e constante. Um levantamento de dados mostrou que dezessete casos ocorriam a cada 1.000 mulheres em 1973; já, em 2016, a taxa caiu para quatro a cada 1.000 mulheres. Ao mesmo tempo, o índice de gravidez de mulheres com idade inferior aos vinte anos teve queda constante, bem como o aumento de gestações entre mulheres de idade igual ou superior a trinta anos. Isso indica o combate do fenômeno da gravidez na adolescência e estímulo ao planejamento de vida familiar.
Quanto à França, a autorização para o aborto veio ao país em 1975, não totalmente, mas para a gestação até a 12ª semana. Também foi visto uma queda, mas não tão acentuada como nos EUA. Cerca de vinte a cada 1.000 mulheres abortaram em 1976, decaindo para dezesseis a cada 1.000 mulheres em 2019. Além disso, outros dados mostraram uma disparidade relevante sobre o uso de contraceptivos das mulheres entre a fase anterior e posterior à legalização do aborto na França. Segundo o instituto, cerca de vinte por cento das francesas entre a faixa etária de dezoito a quarenta e quatro anos não utilizavam sequer um único modo de contraceptivo na fase pré legalização no ano de 1973. Contudo, três anos após a nova lei, em 1978, essa taxa obteve um declive para sete por cento, chegando a dois por cento em 2013.
Quanto ao Uruguai, por ter sido recente a legalização governamental, passou pela etapa de aumento no número de casos seguido por estabilidade. Por exemplo, entre 2013 e 2014, aumentou vinte por cento, enquanto que em 2017 foi de um por cento. Provavelmente, seguirá com redução do número de casos com o passar do tempo. Importa para que isso aconteça, que métodos contraceptivos, dentre outras medidas públicas, sejam levados a sério pelo estado, para que assim possam surtir duradouros e eficientes efeitos. Além disso, outro estudo mostra o índice de mortalidade materna, que, em 2000, era cerca de quarenta por cento relacionadas a abortos inseguros, ilegais e irregulares. Todavia, devido ao rumo do país, na última década caiu para oito por cento. É possível constatar que o número de abortos legais aumenta, justamente, porque os ilegais começam a zerar. Portanto, isso não configura um aumento deliberado, mas sim uma realocação relativa ao aborto que já existia.
Em Portugal, houve uma consequência observada também nos outros países europeus e EUA, o aumento dos casos de necessidade de aborto após a legalização, seguido de estabilidade e um declínio constante. No ano de 2008, quando ocorreu uma grande crise no mundo, o total de abortos, executados por opção da mulher, foi de 18.024, enquanto que no ano de 2017, essa taxa reduziu para 14.899. Após a legalização do aborto neste país, foi contabilizado apenas 2 mortes por conta do procedimento, sendo que uma delas foi por complicação médica. Todavia, o fenômeno que mais chamou atenção sobre o aspecto da legalização do aborto, evidente neste país de Portugal, foi uma estatística em 2018, quando pode se observar que o total de abortos no país reduziu para cerca de quatro por cento, enquanto que houve um aumento de cerca de vinte e oito por cento no número de brasileiras que realizaram o procedimento no local. Nesse período, foram registrados muitos procedimentos de interrupção da gravidez do grupo de mulheres pertencentes a nacionalidade brasileira; tal fenômeno tornou as brasileiras o grupo estrangeiro que mais realizou abortos em um país europeu. Isso, é claro, sem contar com outras nacionalidades independentes de Portugal, mas também colonizadas por eles, que fizeram o mesmo que as brasileiras. Isso indica que o Brasil, carece de uma política pública com a respeito a esse sentido.
7. Conclusão
Apesar da não criminalização da interrupção da gestação nas primeiras 12 semanas, ainda temos uma grande resistência pela maior parte da sociedade, com a aceitação do assunto. Pois a maioria entende que tal atitude fere os princípios religiosos, morais e costumes.
Devido à complexidade do assunto e a ideia de que tal açãoé totalmente ilegal, o acesso as informações sobre o procedimento, faz com que mais de 90% dessas mulheres acabem recorrendo a meios clandestinos para realizar os abortos. Infelizmente esse tem sido o motivo da morte de muitas mulheres. No Brasil encontramos casos como estes em todas as regiões, porém o maior número é norte e nordeste, sendo a maioria indígenas, negras e jovens de classe baixa.
Também observamos que uma a cada cinco mulheres com idade de até 40 anos já realizou aborto. Nesse sentido fica claro que esse é um problema de saúde pública, por isso se faz necessário que se amplie as campanhas de divulgação do assunto, desde os métodos preventivos, apoios psicológicos e até mesmo os locais onde essas mulheres possam procurar ajuda para tratar do assunto, de forma digna e segura. Ainda podemos identificar que elas também encontram dificuldades e tem medo de realizar o primeiro atendimento após o aborto, devido sofrerem maus tratos e desprezo pelos demais.
Com isso vemos a necessidade de a sociedade entender que aqueles que defendem o direito ao aborto, não são contra a vida, mas sim a não criminalização da mulher que opte em decidir pelo seu próprio corpo. Então cabe ao Estado garantir políticas públicas e leis para que todas as mulheres tenham seus direitos protegidos e garantidos.
8. Bibliografia 
LENZA, Pedro. Direito Constitucional-Esquematizado. Saraiva Educação SA, 2021.
MARTINS, Flávio. Curso de direito constitucional. Saraiva Educação SA, 2022.
https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/espacojuridico/article/view/16270/14147
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/527826/noticia.html?sequence=1&isAllowed=y
https://teste.gizmodo.uol.com.br/quais-numeros-mudam-legalizacao-aborto/
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/08/20/sus-fez-809-mil-procedimentos-apos-abortos-malsucedidos-e-1024-interrupcoes-de-gravidez-previstas-em-lei-no-1o-semestre-de-2020.ghtm

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