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Unidade 4
Livro Didático Digital
Rodrigo Gonçalves
Tópicos Avançados 
da Teoria Literária
Diretor Executivo 
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial 
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico 
TIAGO DA ROCHA
Autor
RODRIGO GONÇALVES
O AUTOR
Rodrigo Gonçalves
Olá. Meu nome é Rodrigo Gonçalves. Sou graduado em Letras já 
há quase 20 anos, com uma experiência técnico-profissional na área de 
ensino de língua e literatura. Já ministrei aulas para diversos públicos, do 
infantil ao infanto-juvenil, tendo passagens por cursinhos e Educação para 
Jovens e Adultos. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha 
experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. 
Por isso fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de 
autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase 
de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez 
que:
INTRODUÇÃO:
para o início do 
desenvolvimento de 
uma nova compe-
tência;
DEFINIÇÃO:
houver necessidade 
de se apresentar um 
novo conceito;
NOTA:
quando forem 
necessários obser-
vações ou comple-
mentações para o 
seu conhecimento;
IMPORTANTE:
as observações 
escritas tiveram que 
ser priorizadas para 
você;
EXPLICANDO 
MELHOR: 
algo precisa ser 
melhor explicado ou 
detalhado;
VOCÊ SABIA?
curiosidades e 
indagações lúdicas 
sobre o tema em 
estudo, se forem 
necessárias;
SAIBA MAIS: 
textos, referências 
bibliográficas e links 
para aprofundamen-
to do seu conheci-
mento;
REFLITA:
se houver a neces-
sidade de chamar a 
atenção sobre algo 
a ser refletido ou dis-
cutido sobre;
ACESSE: 
se for preciso aces-
sar um ou mais sites 
para fazer download, 
assistir vídeos, ler 
textos, ouvir podcast;
RESUMINDO:
quando for preciso 
se fazer um resumo 
acumulativo das últi-
mas abordagens;
ATIVIDADES: 
quando alguma 
atividade de au-
toaprendizagem for 
aplicada;
TESTANDO:
quando o desen-
volvimento de uma 
competência for 
concluído e questões 
forem explicadas;
SUMÁRIO
O Narrador ...................................................................................................... 10
Antes de Tudo um Exercício ................................................................................................... 10
Análise do Discurso Narrativo .............................................................................................. 13
O Tempo ..........................................................................................................20
O Espaço .........................................................................................................29
Os Personagens ...........................................................................................40
Tópicos Avançados da Teoria Literária 7
LIVRO DIDÁTICO DIGITAL
UNIDADE
04
Tópicos Avançados da Teoria Literária8
INTRODUÇÃO
Nesta unidade, nossa última, vamos iniciar nossa despedida 
dessecando quatro elementos da narrativa, são eles: o Narrador, o Tempo, 
o Espaço e os Personagens. Embora, tenhamos flertado sobre esses 
conceitos durante todas as nossas unidades, aqui vamos estudar pontos 
específicos desses elementos. Propositalmente, eles foram deixados por 
último, posto que são os que os leitores tendem a se afeiçoar primeiro. São 
esses elementos que irão fazer com que uma narrativa literária cada vez 
mais seja um texto singularizado, são os detalhes constantes que farão do 
enredo do autor cada vez mais rico e complexo. Entendeu? Ao longo desta 
unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
Tópicos Avançados da Teoria Literária 9
OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso propósito é auxiliar 
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o 
término desta etapa de estudos:
1. Compreender o que é um narrador e sua importância na trama.
2. Entender as concepções modernas de tempo na narrativa.
3. Identificar, usando o conceito de cronótopo, as relações e definições 
de tempo e espaço.
4. Estudar a importância dos personagens, suas características e 
algumas de suas categorizações.
Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? 
Ao trabalho! 
Tópicos Avançados da Teoria Literária10
O Narrador
INTRODUÇÃO
Ao término deste capítulo você será capaz de entender 
como funciona um narrador no texto literário. Isso será 
fundamental para o exercício de sua profissão. As pessoas 
que tentaram fazer uma interpretação textual sem a devida 
instrução tiveram problemas para ministrar suas aulas e 
para fazer críticas literárias consistentes. E aí, motivado para 
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!
Antes de Tudo um Exercício
Antes de iniciar de fato nossos primeiros estudos deste capítulo, 
gostaria de propor a ti, aluno, um exercício: tente recordar sua vida antes 
da leitura ou no início de seu ingresso nela.
Quando ouvíamos as histórias contadas pelos nossos pais ou 
pessoas mais velhas, iniciávamos um contato sensorial e de intimidade 
com aqueles que nos transmitiam suas narrativas.
Quando crianças, regularmente tomamos os adultos como 
referências e, por intermédio deles, queremos buscar todo um 
conhecimento que parece ser infindável.
Ouvíamos as histórias narradas pelos adultos, personificando seus 
conteúdos na figura humana ali presente. Para nós, naqueles instantes, o 
cérebro infante creditava a autoria daquelas histórias aos adultos, posto 
serem eles as figuram palpáveis do teor de todo aquele conteúdo literário.
REFLITA
Basta lembrarmos de situações em que era muito comum 
a pergunta: “— quem te contou isso, menino (a)?”. A criança 
responde: “— Foi vovó!”. Aqui o “foi vovó!” não quer dizer 
somente a origem de onde se escutou o texto narrado, 
mas, muitas vezes, quando crianças, atribuímos a autoria 
da propriedade intelectual a quem nos contou a história. 
Tópicos Avançados da Teoria Literária 11
Isso é muito importante, pois, em termos de narrador, reside 
um conceito literário profundo. Até antes da década de 70, os estudos 
literários apontavam para um tipo de corrente em que a voz do narrador 
se confundia com a voz do autor, porém, com o avanço dos estudos, hoje 
podemos constatar que o narrador é um elemento.
Dessa forma, Luís Miguel Cardoso (2003) afirma que:
O narrador é considerado como o agente, integrado no texto, 
que é responsável pela narração dos acontecimentos do 
mundo ficcional, sendo, por este motivo, distinto do autor 
empírico e mesmo das personagens desse mundo ficcional, 
pela amplitude narrativa. (CARDOSO, 2003, p. 57)
EXPLICANDO MELHOR
Explicamos da seguinte maneira: nem sempre o autor, por 
meio de suas vias artísticas é aquilo o que escreve, embora 
possamos ter as duas coisas juntas, autor e narrador, 
operando sobre as mesmas falas e mesmos temas, isso não 
quer dizer que o autor tenha um posicionamento e esteja 
necessariamente inserido como o narrador. O narrador é 
apenas um instrumento de condução da história. 
Exemplo
O narrador pode ser cristão e em sua obra literária ser um narrador 
ateu, ou ele pode ser homem, mas ser um narrador mulher, isso não há 
óbice nenhum. 
Para melhor entendermos essa relação, é preciso compreender o 
eu-lírico do texto.
Este termo, “eu-lírico”, apesar de ser usualmente empregado 
quando se trata de estudos sobre poemas, é muito abrangente e pode 
ser usado nas prosas também, sem nenhum impedimento.
Podemos afirmar que o eu-lírico é a voz pela qual fala o texto, nesse 
sentido, nem sempre essa voz equivale à voz do autor, pois, se assim 
fosse, estaríamos ceifando os limites poéticos. 
Tópicos Avançados da Teoria Literária12
Um dos grandes nomes que demonstram isso bem é o músico e 
compositor Chico Buarque de Hollanda, especialmente na canção “Olhos 
nos olhos”, que inicialmente fora gravada por Maria Bethânia (1976) no 
registro constante no disco Pássaro Proibido. Leia e observe os detalhes,mas, caso possa, escute-a para melhor compreender a carga a dramática: 
Olhos nos olhos
Quando você me deixou, meu bem 
Me disse pra ser feliz e passar bem 
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci 
Mas depois, como era de costume, obedeci
Quando você me quiser rever 
Já vai me encontrar refeita, pode crer 
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz 
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando 
Me pego cantando 
Sem mas nem porque 
E tantas águas rolaram 
Quantos homens me amaram 
Bem mais e melhor que você
Quando talvez precisar de mim 
‘Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim 
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz 
Quero ver como suporta me ver tão feliz
EXPLICANDO MELHOR
A música fala de uma mulher que se sente abandonada 
após um relacionamento, porém, ela toma para si forças 
para superar o rompimento do enlace, afirmando que irá 
se recompor de suas lástimas e seguir sua vida sem o 
companheiro. Note que a bela canção fora composta por 
um homem, mas seu eu-lírico é feminino.
Tópicos Avançados da Teoria Literária 13
Quando ouvimos uma voz feminina, tomamos para si a carga 
dramática e o eu-lírico feminino nessa situação.
Mas lembramos, nessa música em especial, o autor é um homem. 
Então, podemos afirmar que, em princípio, o narrador não é o autor, mas é 
o autor quem faz as vezes de narrador, ou seja, de um contador.
Análise do Discurso Narrativo 
Assim que tivemos a evolução do entendimento de narrador, 
estudiosos de vários lugares iniciaram uma celeuma com a finalidade de 
individualizá-lo e categorizá-lo.
Quando estamos no colegial, é comum analisarmos o narrador 
de duas perspectivas, duas nomenclaturas. A primeira é quando se 
encontra o narrador num estado de primeira pessoa do singular ou plural 
e a segunda é quando o narrador está na terceira pessoa do singular ou 
plural. Embora não estejam totalmente erradas, os estudos acadêmicos 
apontam para certa limitação destes conceitos, motivos pelos quais 
tendemos a expandir essas questões.
Para analisar melhor, precisamos ter como ponto de referência 
a posição do narrador. É comum pensarmos, quando crianças ou não 
engajados na leitura, que o narrador em primeira pessoa do singular é 
sempre o protagonista, porém, este é um campo de visão limitado e um 
tanto preliminar sobre o tema em comento.
DEFINIÇÃO
Os estudiosos como Gérard Genette (1995), um dos 
maiores expoentes nesse assunto, em O discurso 
da narrativa, estabelece conceitos contemporâneos 
atribuindo o nome de “narrador intradiegético” para aquele 
que é simultaneamente narrador e personagem na trama. 
Este, por sua vez, se subdivide em homodiegético e 
heterodiegético. Note que o prefixo “intra-” quer dizer que 
está dentro, inserido na história.
Tópicos Avançados da Teoria Literária14
O narrador homodiegético é aquele que é personagem e narrador 
da sua própria história. O narrador aqui, geralmente, é um personagem 
ativo na história. 
Se o narrador é heterodiegético, quer dizer que ele é um 
personagem-narrador, porém, não é um personagem ativo. É um 
figurante, um coadjuvante ou qualquer personagem sem muita expressão 
na história que está a narrar. 
Noutra banda, há o “narrador extradiegético”, o qual posiciona, por 
sua vez, de forma exterior à narrativa. Esse tipo é facilmente identificado, 
pois, frequentemente, faz registos regulares sem intervir no enredo, 
apenas e tão somente narrando os eventos.
NOTA
Há quem ainda postule uma terceira categoria, a do 
“narrador autodiegético”, deliberado por Carlos Reis (1996, 
P. 118) como “[...] a entidade responsável por uma situação 
ou atitude narrativa específica: aquela em que o narrador 
da história relata as suas próprias experiências como 
personagem central da história”. 
Fundamentado nos dizeres de Aristóteles e Platão, o já mencionado 
Genette firma neste arcabouço que devemos focar no narrador tal como 
ele se afixa na obra. Nesse sentido, ele nos propõe a fazer o que chamou 
de “focalização do narrador”. 
A focalização está para o conhecimento que o narrador apresenta 
acerca da história, comparando com o conhecimento ao que o personagem 
apresenta ter. Nesse sentido, Genette recomenda que a focalização “[...] 
nem sempre se aplica ao conjunto de uma obra, portanto, mas antes a 
um segmento narrativo determinado, que pode ser muitíssimo breve” 
(GENETTE, 1995, p. 189).
Trata-se, portanto, de um ponto importante, pois o narrador pode 
ser elencado em outros níveis, além de ser de primeira pessoa ou de 
terceira pessoa. Tudo irá depender da obra.
Tópicos Avançados da Teoria Literária 15
EXPLICANDO MELHOR
Como exercício, proponho a leitura de um trecho de 
Memórias Póstumas e Brás Cubas, já comentado em outras 
unidades, do autor Machado de Assis. Leia:
Que me conste, ainda ninguém relatou o seu próprio delírio; 
faço-o eu, e a ciência mo agradecerá. Se o leitor não é dado 
à contemplação destes fenômenos mentais, pode saltar o 
capítulo; vá direito à narração. Mas, por menos curioso que 
seja, sempre lhe digo que é interessante saber o que se 
passou na minha cabeça durante uns vinte a trinta minutos.
Primeiramente, tomei a figura de um barbeiro chinês, bojudo, 
destro, escanhoando um mandarim, que me pagava o trabalho 
com beliscões e confeitos: caprichos de mandarim.
Logo depois, senti-me transformado na Suma Teológica 
de São Tomás, impressa num volume, e encadernada em 
marroquim, com fechos de prata e estampas; ideia esta que 
me deu ao corpo a mais completa imobilidade; e ainda agora 
me lembra que, sendo as minhas mãos os fechos do livro, e 
cruzando-as eu sobre o ventre, alguém as descruzava (Virgília 
decerto), porque a atitude lhe dava a imagem de um defunto.
Ultimamente, restituído à forma humana, vi chegar um 
hipopótamo, que me arrebatou. Deixei-me ir, calado, não sei 
se por medo ou confiança; mas, dentro em pouco, a carreira 
de tal modo se tornou vertiginosa, que me atrevi a interrogá-
lo, e com alguma arte lhe disse que a viagem me parecia sem 
destino. (ASSIS, 1997, p. 25 )
Como já bem dissemos, nessa obra o narrador está morto e conta ao 
leitor as memórias de sua vida. Aqui, portanto, o narrador é um personagem 
predominantemente intradiegético na modalidade homodiegético.
Tópicos Avançados da Teoria Literária16
EXPLICANDO MELHOR
Continuemos o exercício usando agora um trecho da obra 
Lendas do Sul, de João Simões Lopes Neto:
Era eu que cuidava dos altares e ajudava a missa dos santos 
padres da igreja de S. Tomé, do lado ao poente do grande rio 
Uruguai. Sabia bem acender os círios, feitos com a cera virgem 
das abelheiras da serra; e bem balançar o turíbulo, fazendo 
ondear a fumaça cheirosa do rito; e bem tocar a santos, na 
quina do altar, dois degraus abaixo, à direita do padre; e dizia 
as palavras do missal; e nos dias de festa sabia repicar o sino; 
e bater as horas, e dobrar a finados... Eu era o sacristão.
Um dia na hora do mormaço, todo o povo estava nas sombras, 
sesteando; nem voz grossa de homem, nem cantoria das 
moças, nem choro de crianças: tudo sesteava. O sol faiscava 
nos pedregulhos lustrosos, e a luz parecia que tremia, 
peneirada, no ar parado, sem uma viração.
Foi nessa hora que eu saí da igreja, pela portinha da sacristia, 
levando no corpo a frescura da sombra benta, levando na 
roupa o cheiro da fumaça piedosa. E saí sem pensar em nada, 
nem de bem nem de mal; fui andando, como levado...
Todo o povo sesteava, por isso ninguém viu. (LOPES NETO, 
1976, p. 26)
Agora, temos uma outra modalidade de narrador, o qual 
notavelmente não participa dos feitos, sendo uma mera testemunha dos 
fatos, diferente do anterior, está na modalidade extradiegético.
Outras classificações de narrador caberão dentro Genette. Por 
exemplo, há quem goste de classificar como “narrador personagem”, 
“narrador onisciente” e “narrador observador”.
Só a título de informação, o “narrador onisciente”, também 
chamado de onipresente, seráaquele narrador que tudo conhece, não 
Tópicos Avançados da Teoria Literária 17
só os detalhes da trama, como também os pensamentos mais íntimos 
dos personagens. Esse será o tipo de narrador que frequentemente se 
apresenta em terceira pessoa. Ele se subdivide em “onisciente intruso”, 
pois, além de narrar a história, pode criticar personagens e até inserir 
juízos de valor. É muito comum na obra de Machado de Assis:
Mas já são muitas ideias, — são ideias demais; em todo caso 
são ideias de cachorro, poeira de ideias, — menos ainda 
que poeira, explicará o leitor. Mas a verdade é que este olho 
que se abre de quando em quando para fixar o espaço, tão 
expressivamente, parece traduzir alguma coisa, que brilha lá 
dentro, lá muito ao fundo de outra coisa que não sei como 
diga, para exprimir uma parte canina, que não é a cauda nem 
as orelhas. Pobre língua humana!
Afinal adormece. Então as imagens da vida brincam nele, em 
sonho, vagas, recentes, farrapo daqui remendo dali. Quando 
acorda, esqueceu o mal; tem em si uma expressão, que não 
digo seja melancolia, para não agravar o leitor. Diz-se de uma 
paisagem que é melancólica, mas não se diz igual coisa de 
um cão. A razão não pode ser outra senão que a melancolia 
da paisagem está em nós mesmos, enquanto que atribuí-la 
ao cão é deixá-la fora de nós. Seja o que for, é alguma coisa 
que não a alegria de há pouco; mas venha um assobio do 
cozinheiro, ou um gesto do senhor, e lá vai tudo embora, os 
olhos brilham, o prazer arregaça-lhe o focinho, e as pernas 
voam que parecem asas. (ASSIS, 1957, p. 53)
DEFINIÇÃO
O “narrador onisciente neutro” tem esse nome por se opor 
a ao intruso anteriormente falado, ele narra tudo, sabe de 
tudo, porém, não faz intervenções:
Depois de casado viveu dois ou três anos da fortuna da mulher, 
comendo bem, levantando-se tarde, fumando em grandes 
cachimbos de porcelana, só voltando para casa à noite, depois 
Tópicos Avançados da Teoria Literária18
do espetáculo, e frequentando os cafés. O sogro morreu e 
deixou pouca coisa; ele indignou-se com isso, montou uma 
fábrica, perdeu nela algum dinheiro e retirou-se para o campo, 
onde pretendeu desforrar-se. Mas, como não entendia mais 
de agricultura do que de chitas, e porque montava os cavalos 
em vez de os pôr a trabalhar, bebia sidra às garrafas em vez 
de a vender em barris, comia as melhores aves da capoeira 
e engraxava as botas de caçar com o toucinho dos porcos, 
não tardou a aperceber-se de que mais valia abandonar toda 
a especulação. (FLAUBERT, 1973, p. 3)
DEFINIÇÃO
O “narrador onisciente múltiplo” será aquele em que 
podemos observar opiniões e visões diferentes sobre os 
fatos. Ele irá influenciar o leitor para que este venha a tomar 
alguma posição ou juízo de valor. Faz uso frequente do 
discurso indireto livre:
Realmente para eles era bem pequeno, mas afirmavam que 
era grande - e marchavam, meio confiados, meio inquietos. 
Olharam os meninos, que olhavam os montes distantes, onde 
havia seres misteriosos. Em que estariam pensando? zumbiu 
Sinha Vitória.
Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma objeção. Menino é 
bicho miúdo, não pensa. Mas Sinha Vitória renovou a pergunta 
- e a certeza do marido abalou-se. Ela devia ter razão. Tinha 
sempre razão. Agora desejava saber que iriam fazer os filhos 
quando crescessem. (RAMOS, 2005, p. 123)
DEFINIÇÃO
O “narrador observador” é aquele que se atém a narrar os 
fatos sem participar como personagem na história. 
Tópicos Avançados da Teoria Literária 19
“Narrador personagem” é, portanto, aquele que faz as vezes de 
narrador e personagem regularmente na história.
RESUMINDO
O narrador, embora frequentemente confundido com 
o autor, atualmente é entendido como um instrumento 
da narrativa à serviço da obra literária para que possa 
impulsioná-la. Conquanto tenha várias formas de se 
catalogar os narradores, no contexto hodierno, as 
formas acadêmicas admitidas são em intradiegético e 
extradiegético, uma vez que essas categorizações abarcam 
muitas outras conhecidas.
Tópicos Avançados da Teoria Literária20
O Tempo
INTRODUÇÃO
Neste capítulo, iremos nos aprofundar nos conceitos de 
tempo formulados por Bakhtin e aplicados na Literatura. 
Entenderemos o tempo de uma forma mais ampla e 
relativa tal qual a física moderna assim o entende. Então? 
Vamos lá?.
No nosso curso, ou seja, no transcorrer de nossas unidades, fomos 
flertando vagarosamente com as noções de tempo. 
A forma como o tempo é usado pelo autor de uma obra literária é, 
sem dúvidas, um dos elementos mais integrantes das narrativas. Isso é 
constatado em Bakhtin (2003) quando este afirma que existe uma relação 
entre o autor e o leitor, o que concretiza uma das coisas mais fabulosas 
na organização psíquica humana, haja vista que nessa relação reside uma 
formação psicológica por meio de signos sociais. 
EXPLICANDO MELHOR
Quando um leitor se propõe a imergir no universo de uma 
obra, ele não somente sem atém aos conteúdos textuais, 
mas, cada vez mais, vai alcançando a obra literária na 
sua dimensão mais abrangente. Segundo Bakhtin (2003), 
essa dimensão revela formas para organizar a experiência 
estética e moral no tempo e no espaço. 
Compreender as relações entre tempo-espaço aplicados na 
literatura é abarcar também as formas de disposição dos processos 
psicológicos em sua característica contextual e situacional. Em seus 
estudos, Amorim (2006) se ateve nessa composição de significados 
historicamente instalados que conjecturam na relação entre tempo e 
espaço, chamando-os de “cronótopo”. 
Tópicos Avançados da Teoria Literária 21
Aqui neste capítulo, trataremos somente da faceta temporal da 
teoria do cronótopo, falando da faceta espacial em um outro capítulo 
específico.
Por tais razões, esse será o nosso assunto e nele nos prenderemos agora.
NOTA
É importante destacar que o conceito de cronótopo já 
existia, e era usado vastamente na física, mas foi Bakhtin 
quem primeiro aplicou esses conceitos na Literatura.
Bakhtin, analogamente, aplicou o conceito de “evento” usado 
pelos físicos relativistas para inferir uma análise acerca do tempo 
enquanto dimensão do espaço. Portanto, o cronótopo significa a relação 
indissociável entre tempo e espaço na vida humana, formando uma 
dimensão constitutiva das narrativas e definindo os rumos da trama 
literária que levará o leitor a uma ligação intratextual e extratextual. Assim, 
será criada uma conexão entre o texto e seu tempo.
Exemplo
A fim de entendermos melhor essa situação, vamos usar o exemplo 
aplicado por Bakhtin, pegando por base uma trama romântica grega. 
Nesse tipo de enredo é comum ocorrer algum acontecido que 
interrompe um relacionamento, separando os enamorados. Geralmente, 
a donzela é raptada para outro reino o que faz com que o guerreiro tenha 
que percorrer desafios até recuperá-la.
Nesse tipo de trama, obviamente, existe a passagem de tempo, 
porém, ela não fica tão definida, pois não é considerada a distância até o 
outro reino, nem o tempo despendido para o translado dessa distância, 
ficando a experiência de tempo e de espaço de alguma forma prejudicada. 
Por isso, frequentemente, iremos sentir que o foco narrativo está pautado 
nas experiências dessas jornadas e não pela experiência do personagem 
sobre o tempo e o espaço, ou seja, o personagem não sofre com o tempo 
e espaço. Muitas vezes, veremos que a velhice chega.
Tópicos Avançados da Teoria Literária22
Isso é mais perceptível quando, hoje, assistimos a um filme. 
Suponhamos que um personagem tenha que sair de Campina Grande, 
no estado da Paraíba, para Salvador, na Bahia. Na vida real, de carro, 
seria uma viagem de um dia inteiro. Num filme, como o tempo deve ser 
encurtado para um faixa de público, vemos a passagem de uma cidade 
para outra em alguns quadros. Ou seja, o que se vai fazer em Salvador é 
mais importante do que o percurso até a mesma cidade. 
REFLITA
Se você reparar, isso é muito comumnas experiências mais 
curtas. Nos três livros da saga O Senhor dos Anéis, clássico 
romance épico da língua inglesa, toda a travessia de tempo 
no enredo durou por volta de um ano, do início do chamado 
da aventura até o término dela. Já nas telas, foram feitos 
três filmes, que deixam uma sensação mais curta de tempo 
transcorrido, como se toda trama tivesse sido em poucos 
meses ou poucos dias, exatamente por causa dos filmes 
todos contabilizarem cerca de 10 horas ao todo.
Isso demonstra toda relatividade do tempo no conceito de 
cronótopo aplicado à Literatura. Se formos levar outras considerações 
de tempo para o leitor, podemos observar outros critérios. Conquanto 
na obra a aventura tenha descrito o tempo por volta de um ano, quem 
acompanhou a publicação dos livros pode ter lido e ter tido a experiência 
de tempo real, já que a diferença de publicação do primeiro livro para 
o último teve mais ou menos um ano; porém, se você iniciou a leitura e 
parou no decorrer dos anos, sua experiência temporal será diferente.
Assim como é diferente a experiência de escrita do autor. É comum 
os autores iniciarem uma obra, parar e recomeçar indefinidas vezes até 
a data de publicação final. O leitor certamente nota as mudanças de 
estética do momento em que o livro foi iniciado até sua publicação, pois o 
autor foi inserindo suas novas experiências na rota de planejamento. Isso 
é muito comum. 
Tópicos Avançados da Teoria Literária 23
Exemplo
Por exemplo, o clássico do romantismo brasileiro de 1844, A 
Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, era publicado nas páginas 
das folhas semanais do Jornal do Comercio. Seu sucesso fez com que 
houvesse mais capítulos do que esperado, sem falar que há relatos que o 
autor sofreu bastante influência de cartas dos fãs pedindo que o enredo 
fosse encaminhado de acordo como eles queriam.
Isso mostra que existe um diálogo indireto, mas concreto, entre o 
leitor e o autor. E nos ensina que o tempo cronológico pode ser expresso 
ou implícito. O autor pode omitir o tempo para deixar que a criatividade 
do leitor diga em qual tempo se passam os eventos, ou pode deixar claro, 
no transcorrer das páginas, para usar como recurso por algum motivo 
relevante.
O tempo é assim, uma questão de manifestação.
Numa poesia concreta, por exemplo, o tempo não é transmitido 
para o leitor, porém, a poesia é marcada pelo tempo porque é uma 
manifestação artística que tem um pouco mais de 60 anos, isso faz com 
que tenhamos a reflexão de que ela é uma novidade aos nossos olhos. 
Diferente de quando lemos uma poesia lírica que irá soar, muitas vezes, 
como uma coisa velha.
Da mesma forma, se lermos uma obra literária como a própria 
A Moreninha, se tivermos acesso a obra, na variante em que ela foi 
inicialmente escrita, poderemos ter a sensação de velha. No entanto, 
tivermos acesso a uma versão com alguma adequação linguística, a obra 
terá se atualizado, ganhando uma sensação de novidade.
REFLITA
Note, é a mesma obra, o que mudou foi apenas a variante 
da língua.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Manuel_de_Macedo
Tópicos Avançados da Teoria Literária24
Com isso, podemos entender que o tempo cronológico de uma 
obra é algo maior do que a manifestação do tempo do nosso calendário 
ou do relógio.
Com essas conclusões, Macêdo e Vieira (2015) afirmam que:
Assim, os marcadores para visualizar o tempo são convenções 
dialógicas e não arbitrariedades orgânicas; ou seja, o tempo 
passa para o corpo, mas a experiência de passagem de tempo 
é um ato de produção de sentidos discursivos; construída e 
vivida discursivamente. (MACÊDO; VIEIRA, 2015, p. 124)
Nessa esteira, não podemos negar a existência de um tempo 
psicológico, cujo exemplo inaugural são as Confissões, de Santo 
Agostinho, nascendo, assim, um dos primeiros romances autobiográficos.
REFLITA
Isso nos coloca numa nova questão temporal, teriam 
os romances biográficos e os autobiográficos o mesmo 
tratamento temporal?
No romance biográfico existe um personagem, um “Eu” como 
elemento central, além disso, reside aqui um narrador e o autor que não 
são a mesma pessoa; e mais, um narrador e um protagonista que não são 
necessariamente a mesma pessoa. Ou seja, é um autor, que se configura 
num tipo de narrador que trará elementos de uma história de uma 
pessoa, um “Eu”. Portanto, uma noção do tempo pautada pelo discorrer 
do narrador, e não necessariamente do “eu”.
Isso diverge de um romance autobiográfico, pois pressupõe que 
o “Eu”, o narrador e o autor possam ser até a mesma pessoa. Reside 
aqui uma espécie de intimidade, uma experiência diferenciada sobre o 
outro. Diferentemente do primeiro gênero, o leitor realmente é colocado 
na esfera íntima dos pensamentos do “Eu”, sendo, logo, uma narração 
intradiegética.
Tópicos Avançados da Teoria Literária 25
Leia o trecho a seguir:
Detesto ainda agora essa gente depravada e corrupta, mas 
amo-a também para corrigi-la e ensinar-lhe a dar preferência 
à doutrina que aprendem mais do que ao dinheiro, e para que 
te apreciem, meu Deus, mais a ti do que à própria doutrina, a ti 
que és a verdade, a abundância de felicidade segura e de paz 
puríssima. (AGOSTINHO, 1987, p. 132)
Ou seja, a pendência entre biografia e autobiografia está na forma 
de conceber um sujeito em “si mesmo”.
Neste arcabouço, precisamos dizer que, em termos de narrativa 
literária, sobretudo no que tange ao tratamento do tempo, devemos 
aqui ter alguma cautela, pois o autor não pode trabalhar referenciais 
temporais inexistentes, ou pelo menos inexplicáveis a tal ponto que seja 
incompreensível.
Existem determinadas leis sobre o tempo e elas devem ser 
respeitadas. O ser humano, por exemplo, é capaz de, por meio de seus 
conhecimentos de mundo, identificar novos espaços, novas formas, pois 
sua mente irá procurar referenciais já vistos ou sabidos para imaginar e 
compreender o que o autor descreve. Porém, o tempo funciona diferente, 
pois nossos olhos alcançam uma gama de eventos temporais, e precisam 
de referenciais sólidos para que o leitor consiga compreender o que se 
pede.
Isso se dá porque, como tempo é algo relativo, nosso cérebro 
precisa nutrir-se de algumas informações simples para nos dar alguma 
noção sobre o tempo, por isso ele faz uso dos cinco sentidos.
EXPLICANDO MELHOR
Para entender melhor, vamos exemplificar com uma 
situação: se formos mantidos num quarto escuro por muito 
tempo, nosso cérebro começa a perder suas noções de 
tempo de forma tão plena, que se torna impossível saber 
quantas horas ou dias se passaram.
Tópicos Avançados da Teoria Literária26
Um outro exemplo: algumas pessoas costumam despertar de 
manhã ao ouvirem o barulho na cozinha dos pais fazendo o café da 
manhã. Embora o barulho faça uma pessoa despertar de imediato, no dia 
em que aquela pessoa que cozinha logo cedo perde a hora, a outra não 
desperta. Ou seja, o cérebro habituou-se em despertar com o barulho da 
cozinha. Também, depois de alguns dias com o despertador disparando 
na mesma hora, há quem passa a acordar habitualmente nas mesmas 
horas, mesmo sem o despertador. Isso se dá porque o cérebro é treinado 
para isso. São noções do tempo que, de certa forma, fogem do controle 
cronológico e começam a entrar na esfera do controle psicológico.
REFLITA
Todos esses exemplos foram aqui demonstrados para que 
você, aluno, entenda que o tempo deve ser descrito com 
referenciais terrenos ou similares. Nada impede que num 
conto de ficção científica o tempo seja demonstrado em 
mais horas do que as 24 h conhecidas. Mas necessitamos 
que a nossa métrica de horas terrenas sejam um parâmetro.
Dessa forma, o autor, por intermédio de seu narrador, irá levar sua 
narratividade organizando uma diferenciação de fenômenos, asseverando 
sentimentos com o apoio temporal, constituindo uma nova experiência de 
mundo levando o leitor para uma experiência de si.
Os fenômenos naturais formam, no leitor, uma experiência defronteira temporal. Ao dizer que os eventos começam a ser narrados no 
raiar do dia e terminados no cair da noite, inicia-se um processo, no leitor, 
de delimitação temporal, embora abstrata, mas com solidez suficiente 
para que ele entenda toda a ambientação. 
Entretanto, os fenômenos naturais não são os únicos marcadores 
do tempo, apenas são uma única modalidade entre várias. O tempo 
pode ser marcado pela ordem psicológica, como vimos, assim como por 
elementos linguísticos dos mais variados, sendo responsáveis por dar 
aporte ao leitor para limitar as fronteiras temporais.
Tópicos Avançados da Teoria Literária 27
Leia atentamente o texto abaixo:
Nunca amei ninguém. O mais que tenho amado são sensações 
minhas – estados da visualidade consciente, impressões 
da audição desperta, perfumes que são uma maneira de a 
humildade do mundo externo falar comigo, dizer-me coisas 
do passado (tão fácil de lembrar pelos cheiros) -, isto é, de 
me darem mais realidade, mais emoção, que o simples pão 
a cozer lá dentro na padaria funda, como naquela tarde 
longínqua em que vinha do enterro do meu tio que me amara 
tanto e havia em mim vagamente a ternura de um alívio, não 
sei bem do quê [...] É esta a minha moral, a minha alma ou o eu: 
Transeunte de tudo – até de minha própria alma, não pertenço 
a nada, não desejo nada, não sou nada – centro abstracto [sic] 
de sensações impessoais, espelho caído sentiente [sic] virado 
para a variedade do mundo. Com isto, não sei se sou feliz ou 
infeliz, nem me importa. (PESSOA, 2006, p. 218)
EXPLICANDO MELHOR
Aqui, observamos um resgate de uma recordação 
compondo, além do espaço, o tempo. Vê-se que o autor-
personagem nos coloca os sentimentos sobre um desenho 
de um lugar, isso fica nítido em vários momentos como em 
“na tarde longínqua em que vinha do enterro do meu tio”. 
Mas ao dizer “nunca amei ninguém”, o narrador colocou um 
limite temporal usando o pretérito perfeito do verbo amar. 
Aqui, o tempo não está cravado como um evento temporal 
físico, externo, mas como um evento temporal interno, 
psicológico.
Essa associação entre interno-externo reflete, portanto, uma 
dicotomia. Do lado externo, deparamo-nos com as representações 
temporais absorvidas pelo indivíduo por meio de seus conhecimentos de 
mundo; do lado interno, encontramos uma realidade testemunhada nas 
palavras do personagem, representando, de tal modo, uma extensão de 
sua experiência interna construída dialogicamente com o leitor.
Tópicos Avançados da Teoria Literária28
Sendo assim, a realidade externa e interna são variantes mútuas do 
tempo, as quais criam no leitor uma sensação que ele pode trafegar num 
mundo material de eventos naturais, num mundo imaterial, numa jornada 
em si mesmo, dialogando com o narrador. 
RESUMINDO
Logo, na caracterização do cronótopo sugerida por Bakhtin, 
estabelecem-se reflexões acerca dos elementos que 
extrapolam o universo literário formal, desenvolvendo uma 
demanda que carece de uma análise de dois vetores, quais 
sejam, intratextuais e extratextuais. Reforçamos que o texto 
é uma manifestação cultural e, como tal, é visto nas esferas 
discursiva, social e histórica.
Levando-se em conta que a obra literária é uma construção fictícia, 
ela funciona como uma poderosa de metáfora para a vida real.
O tempo, sendo objeto de grande relatividade, precisa ser regido 
por leis físicas conhecidas pelo homem dentro de seus conhecimentos de 
mundo. Sendo assim, é impossível para nós extrapolarmos as leis físicas 
do tempo, podendo incorrer o autor num forte pecado, que é deixar sua 
obra incompreensível.
O tempo, então, guarda duas manifestações, a psicológica e a 
cronológica, que vivem em mutualismo, sem necessidade de uma excluir 
a outra.
Destarte, as orientações aqui constituídas revelam mais do que 
nunca a necessidade de organização das experiências formadas na 
narratividade pelo do cronótopo, fazendo-se claro, como um girassol 
ao sol, que a discursividade tão demostrada por Bakhtin deve traduzir 
uma experiência paralela da realidade. Os constructos teóricos sobre 
cronótopo, como veremos a frente, não são exclusivos do tempo, mas 
também do espaço, assunto este que iremos abordar mais a fundo no 
próximo capítulo.
Tópicos Avançados da Teoria Literária 29
O Espaço
INTRODUÇÃO
Neste capítulo trataremos em específico do espaço, suas 
características e como regularmente ele é apresentado na 
Literatura acadêmica. Também vamos entender os motivos 
de ele manter uma relação indissociável com o tempo, 
objeto do capítulo anterior. .
Agora que identificamos alguns apontamentos possíveis e relações 
viventes entre o tempo e a obra narrativa, resta-nos, portanto, fazer 
imperativas considerações sobre o cronótopo em sua vertente espacial. 
Considerando então o tempo como algo relativo, que está num plano 
intratextual e extratextual, aqui, quando trataremos de espaço não será 
tão diferente.
EXPLICANDO MELHOR
Para seguirmos, precisamos quebrar um paradigma. Muitas 
vezes, quando estamos nas cadeiras escolares, é comum 
que alguns professores apontem que existam três grandes 
gêneros textuais, a narração, a descrição e a dissertação. 
Na verdade, isso é uma imprecisão técnica.
Enquanto um gênero textual é, em poucas linhas, um formato 
textual que limita uma tendência de texto para um determinado fim social. 
Porém, a narração, a descrição e a dissertação são formatos 
textuais que servem para discorrer determinados circunstâncias. Hoje, são 
chamados de tipos textuais.
Um tipo textual segue uma vertente de entendimento mais aberta, 
pois irá ser um instrumento estrutural que irá conduzir um discurso. De 
um ponto de vista estruturante, a narração, a descrição e a dissertação 
guardam mais afinidades que diferenças. Isso pode ser bem avaliado 
Tópicos Avançados da Teoria Literária30
quando nos debruçamos num romance, por exemplo, e constatamos que 
é comum termos elementos dos três tipos textuais.
Nesse sentido, uma narração, descrição e dissertação não formam 
um gênero, pois elas não formam por si só um texto direcionado para um 
grupo textual. Eles são instrumentos de uma instalação de um discurso.
EXPLICANDO MELHOR
Para que fique ainda mais claro, miremo-nos no gênero 
textual carta, por exemplo: é comum narramos eventos 
pretéritos (narração), fazermos descrição de pessoas 
(descrição) e lançarmos alguma opinião (dissertação).
Nesta esteira, tipos textuais são os principais instrumentos para 
descrever um cronotópo numa obra literária. 
Veja o trecho abaixo:
Ficara sentada à mesa a ler o Diário de Notícias, no seu 
roupão de manhã de fazenda preta, bordado a sutache, com 
largos botões de madrepérola; o cabelo louro um pouco 
desmanchado, com um tom seco do calor do travesseiro, 
enrolava-se, torcido no alto da cabeça pequenina, de perfil 
bonito; a sua pele tinha a brancura tenra e láctea das louras; 
com o cotovelo encostado à mesa acariciava a orelha, e, no 
movimento lento e suave dos seus dedos, dois anéis de rubis 
miudinhos davam cintilações escarlates. (QUEIROZ, 1994, p. 11)
No texto de Eça de Queiroz, descreve-se: uma moça bela, cedo da 
manhã, em seus trajes, seu penteado e a posição em que se encontrava. 
O espaço, aqui, é demonstrado por intermédio da descrição.
Embora o espaço seja para nós dissociado, para fins acadêmicos, 
do tempo, no plano prático, eles estão mutuamente aglutinados. Isso fica 
bem demonstrado no enxerto acima, pois além de ser possível definir o 
lugar onde se passa a ação, as condições temporais estão lá expostas. 
Note que a descrição da mulher não veio dissociada de tempo, que era 
de manhã.
Tópicos Avançados da Teoria Literária 31
Portanto, podemos dizer que os eventos são marcados por estados 
numa camada temporal, inevitavelmente, eles ocorrem numa camada 
espacial, em algum lugar. Dessa forma, podemos concluir que, em uma 
narrativa, que o espaço é o elemento ilustrativo, visível, já o tempo é, 
muitasvezes, invisível.
DEFINIÇÃO
Nesse sentido, enquanto para Cardoso (2001, p. 40) “[...] o 
espaço é também aspecto intrínseco do texto narrativo, 
visto que nele se situam os eventos e os personagens”, 
Gancho, não se contentando com essa assertiva, amplia 
esse dizeres afirmando:
O espaço tem como funções principais situar as ações dos 
personagens e estabelecer com eles uma interação, quer 
influenciando suas atitudes, pensamentos ou emoções, 
quer sofrendo eventuais transformações provocadas pelos 
personagens.
Assim como os personagens, o espaço pode ser caracterizado 
mais detalhadamente em textos descritivos, ou as referências 
espaciais podem estar diluídas na narração. De qualquer 
maneira é possível identificar-lhe as características, por 
exemplo, espaço fechado ou aberto, espaço urbano ou rural, 
e assim por diante. (GANCHO, 2004, p. 23)
Porém, mesmo diante disso, Cardoso (2001) assevera que é 
impossível espelhar qualquer espaço em sua integralidade em uma obra, 
visto que muitos detalhes eventualmente seriam esquecidos. Mesmo 
assim, estamos diante de uma obra poética em que apenas o que é dito 
é relevante para a obra, e o que é omitido foi propositalmente assim feito, 
por não ter relevância.
Destarte, espaço é a ambientação visível que nos é entregue pelo 
narrador. Nos termos de Cardoso (2001), vemos que ele tem uma vastidão 
semântica, pois:
Tópicos Avançados da Teoria Literária32
[...] espaço não se restringe a uma localização identificável no 
mapa, pois, ao elemento físico, articula o social, com suas 
características, tais como tradições, usos, costumes, valores 
morais, artísticos e sentimentais, aspecto econômico e político 
articulados ao contexto histórico que os modificou e continua 
a modificá-los. (CARDOSO, 2001, p. 40)
Alguns autores vão, inclusive, caracterizar espaço e ambiente como 
algo diferente. Gancho (2004) afirma que:
O termo espaço, de um modo geral, só dá conta do lugar físico 
onde ocorrem os fatos da história; para designar um “lugar” 
psicológico, social, econômico etc., empregamos o termo 
ambiente. (GANCHO, 2004, p. 23)
EXPLICANDO MELHOR
Embora esse debate seja, de certa forma, irrelevante, parece-
nos sensato manter, ao menos pela finalidade didática, uma 
separação ideológica entre espaço e ambiente. Teríamos, 
assim, uma separação desse elemento do cronótopo 
operando em duas frentes, uma interna e outra externa, 
assim como fizemos quando tratamos do tempo.
Os elementos externos do espaço seriam tudo que os olhos do leitor 
alcançam, ou tudo que o narrador permite que o leitor veja. Ao descrever 
uma sala, por exemplo, o narrador estaria demonstrando fisicamente as 
paisagens relevantes para a construção de um cenário.
Já em sede interna, o leitor iria se debruçar em outras características 
socioculturais direcionadas pelo cenário construído. Imaginemos uma 
narrativa em que um imigrante, ao chegar em terra firme após dias numa 
embarcação, recai num ponto de comércio. Lá, ele irá observar as vestes 
das pessoas, as coisas novas ali nunca vistas, iria observar os costumes, 
as línguas faladas, as moedas trocadas, enfim, toda essa sensação não 
topográfica, mas geográfica suficiente, que irá nutrir a curiosidade do 
personagem e, por sua vez, do leitor a querer conhecer mais daquela 
região. Isso é, portanto, a ambientação.
Tópicos Avançados da Teoria Literária 33
IMPORTANTE
Esses processos funcionam de forma simultânea, assim 
como a relação tempo e espaço, tornando-os indissociáveis.
Vejamos, se o espaço de uma narrativa é deliberado como sendo o 
lugar onde se passa a ação, assim, todos eventos que ali se passam têm 
uma duração de tempo. O local, portanto, só é relevante porque há nele 
alguma intervenção, caso contrário ele não seria narrado. Desse modo, 
todos os estados ali transformados sofreram uma intervenção temporal. 
Imagine você, em sua casa, assistindo sua caneta caindo da mesa 
de estudos em direção ao chão, veremos a mesa, seus outros materiais, 
a trajetória, o piso e o entorno de tudo isso, criamos a sensação de tempo 
transcorrido durante esta ação. O tempo, aqui invisível, preenche o espaço 
que é a matéria visível. 
Assim como o tempo é cronológico e psicológico, o espaço, por ser 
preenchido por ele, irá permitir estas duas modalidades de percepção: 
“Há um espaço físico (externo) e outro psicológico (interno) no texto. O 
espaço físico é o ambiente em que o conflito se desenrola” (GANCHO, 
2004, p. 23).
Para além do espaço e do ambiente, alguns autores irão caracterizar 
o cronótopo espacial por outras formas, incluindo o que chamam de clima:
É o espaço carregado de características socioeconômicas, 
morais, psicológicas, em que vivem os personagens. Neste 
sentido, ambiente é um conceito que aproxima tempo e 
espaço, pois é a confluência destes dois referenciais, acrescido 
de um clima. (GANCHO, 2004, p. 23, grifo do autor)
IMPORTANTE
Alguns autores entendem por clima “[...] o conjunto de 
determinantes que cercam os personagens, que poderiam 
ser resumidas às seguintes condições: socioeconômicas; 
morais; religiosas; psicológicas” (GANCHO, 2004, p. 24).
Tópicos Avançados da Teoria Literária34
Nessa corrente, o ambiente é uma formação entre o espaço e 
o clima entornados pelo tempo. Exatamente por entenderem que o 
ambiente não é precisamente um componente estruturante ativo para a 
narrativa, sendo, desse modo, um componente de apoio, um resultado da 
“mútua permeabilidade” de espaço e tempo.
EXPLICANDO MELHOR
Para entendermos os dizeres até que proferidos, proponho 
um exercício narrativo. Numa situação hipotética, 
imaginemos uma narrativa em que um candidato a prefeito 
de uma cidade interiorana da década 50 inicia seu discurso 
num sol de céu limpo ao meio-dia, ele trajava vestes típicas 
daquela época. Usava um terno e gravata em tons sóbrios 
de verde, que combinavam com seu chapéu panamá 
bege. Ele inicia seu discurso à frente do microfone para 
uma plateia com cerca de cem pessoas. Porém, conforme 
as palavras iriam sendo proferidas, as pessoas iam se 
afastando do comércio ali perto para ouvir aquele homem 
falar. Diziam, enquanto ele discursava, que era um homem 
do povo, entretanto, nem todos os presentes entendiam as 
palavras ali pronunciadas. 
Quase todos eram agricultores, sem escolaridade em sua maioria. 
Estavam do lado ao candidato: sua esposa, com quem ele tivera três 
filhos varões, contudo, diziam que o filho do meio era proveniente de 
uma relação extraconjugal com bancário da única instituição financeira 
daquela cidade; e seus confrades de partido. Num momento de exaltação, 
o candidato leva a mão ao microfone, e dele toma uma descarga elétrica 
o que faz com que ele morra instantaneamente. 
Todos ali presentes ficaram sem entender o que ocorrera. 
Perguntavam para si o porquê de um homem tão bom orador ter 
interrompido sua dicção. A mulher, sua esposa, gritava consternadamente, 
seus amigos ficaram perturbados, foi quando José do Pastor Miguel, que 
era metido a consertar as coisas, ofício que estava aprendendo com seu 
tio, foi observar a razão daquilo, e, cuidadosamente seguindo a fiação, 
descobriu que o fio do microfone teria sido manipulado de forma criminosa.
Tópicos Avançados da Teoria Literária 35
EXPLICANDO MELHOR
Como é de costume, existe a inserção dos personagens 
em todo início de narrativa, aparentemente o candidato 
até onde se mostra, é o personagem principal. O tempo 
está caracterizado de várias formas, como em “sol de céu 
limpo ao meio-dia” e “Porém, conforme as palavras iriam 
sendo proferidas, as pessoas iam se afastando do comércio 
ali perto para ouvir aquele homem falar”. O espaço é 
caracterizado pelo lugar, aparentemente público, próximo 
ao comércio. O clima é caracterizado pelo burburinho dos 
comentários daqueles que ouviam o discurso como em: 
“Diziam, enquanto ele discursava, que era um homem do 
povo, entretanto nem todos os presentes entendiam as 
palavrasali pronunciadas. Quase todos eram agricultores 
sem escolaridade em sua maioria”. Todos os outros 
elementos podem ser entendidos como ambiente. Alguns 
outros elementos narrativos, como o que foi falado sobre 
mulher, filhos e possível relacionamento extraconjugal, 
apenas servem para entregar detalhes que futuramente 
poderiam ser explorados. 
O ambiente é a confluência mútua entre o tempo e o espaço, será 
dele a responsabilidade, na obra, de estabelecer as personagens nas 
condições em que vivem, não só apresentando traços do tempo, espaço, 
mas do grupo social e cultural em que estão insertas.
Além disso, é no ambiente que podemos ver as projeções dos 
conflitos jazidos pelas personagens. Dessa forma, é nele que iremos ter 
um reflexo das características das personalidades das personagens ou 
dos acontecimentos que sucedem.
Também não é incomum vermos o ambiente apresentar hostilidade 
e ele mesmo ser o centro do conflito com as personagens, fazendo 
oposição a estas, sendo o ambiente o antagonista ou rival.
Tópicos Avançados da Teoria Literária36
NOTA
Nas unidades passadas falamos da versão recente do 
filme Robcop. Lembram-se que falamos que o sistema 
era o antagonista? Pois bem, é sobre esse fenômeno que 
estamos falando.
EXPLICANDO MELHOR
Num enredo de aventura, o herói precisa achar o tônico 
místico que irá salvar sua dama que fora envenenada 
acidentalmente. O tônico está num castelo, num reino 
longínquo e sombrio. A edificação em tela é feita de 
inúmeras armadilhas e labirintos, além disso, dentro dela 
circulam os espíritos malignos dos que tentaram adquirir o 
artefato mágico e não conseguiram. 
Na descrição acima de um possível enredo, toda a ambientação será 
a antagonista do herói. Note, não falamos aqui que houve um antagonista 
personificado. Toda a situação imposta faz oposição, porém, é de se poder 
imaginar que será na ambientação do castelo onde o herói irá enfrentar 
seus desafios. O tempo cronológico entre o fato gerador até o castelo 
torna-se irrelevante, deixando para o leitor imaginar e complementar 
as lacunas. Uma vez que o espaço e o clima entre o fato gerador ficam 
prejudicados por não terem descrição do narrador, fica a critério do leitor 
imaginá-los. Ou seja, o ambiente foi prejudicado.
Mas uma coisa interessante disso tudo, é que, hoje, vivemos numa 
era muito visual, em que filmes, séries e telenovelas habitualmente são 
vistas, embora possamos afirmar que em nível intratextual o cronótopo 
resta-se prejudicado, já que muitos detalhes foram omitidos pelo autor, 
em nível extratextual, o cronótopo restou-se suficiente, haja vista que o 
leitor irá complementar as lacunas espaço-temporais com seu imaginário 
ou conhecimento de mundo.
Tópicos Avançados da Teoria Literária 37
IMPORTANTE
Desse modo, o ambiente pode ser preenchido pelos 
conhecimentos de mundo ou ser totalmente imaginário, o 
que não irá comprometer o corpo do texto, ou seja, o tema 
do enredo. 
Isso se dá, muitas vezes, porque o leitor irá se imaginar como 
cocriador da história, mesmo que não seja ele quem a conduz. Isso nos 
faz voltar ao sistema de significante e significado de Saussure.
É comum, quando lemos uma obra, tentar prever os próximos 
passos da trama, uma vez que já estamos habituados a certos níveis de 
previsibilidade. 
Exemplo
Por exemplo, é comum numa narrativa de história em quadrinhos 
termos dois finais elementares que partem da premissa que o super-
herói irá vencer o embate final. Assim, ao término da história, ou o vilão 
morrerá ao final, ou fugirá para retornar numa possibilidade de vingança. 
Todos que leem uma história desse tipo já aguardam regularmente esse 
final. Esse ato de aguardar o final, esperar o que irá acontecer, está para 
a esfera do significante, e a concretização do final está para o significado.
Por estarmos cada dia mais com a conduta visual mais ativa, isso 
dá ao leitor um olhar de câmera, e o faz ser indiretamente um narrador, 
construindo com o autor uma história, na medida em que as lacunas do 
cronótopo irão sendo preenchidas.
A “espacialização do tempo” ou a “temporalização do espaço” 
empreendidas pela câmera há mais de cem anos permitem 
que hoje, nas narrativas contemporâneas, as realidades 
ficcionalmente representadas não sejam únicas, mas plurais, 
incluindo “mundos possíveis” no tempo e no espaço — como 
fizeram Borges e Calvino, maravilhosamente —, construídos 
pela memória, pelo sonho ou pelo desejo (daí seu parentesco 
com o fantástico e a ficção científica). (PELLEGRINI, 2003, p. 24)
Tópicos Avançados da Teoria Literária38
REFLITA
Ainda sobre o ambiente, podemos apontar que esse 
elemento pode fornecer indícios para o fluxo do enredo 
ou até mesmo para o final dele. Isso é mais comum em 
narrativas policiais/investigativas, ou ainda, de suspense ou 
de terror. O ambiente irá fornecer pistas para o desfecho de 
forma que só alguns leitores mais proficientes irão detectar 
esses elementos singulares.
É claro que quanto mais pobre narrativamente o texto, mais pobre 
será o ambiente. Isso se dá geralmente em narrativas breves, transmitindo 
um enredo impreciso em questões de tempo e espaço. 
É claro que, apesar de a riqueza de detalhes ser algo extremamente 
necessário para uma construção narrativa, é verdade que para os leitores 
da era digital essa prática descritiva não seja tão relevante.
EXPLICANDO MELHOR
Em nossa prática em sala de aula, por exemplo, notamos 
que embora os filmes inspirados em histórias em quadrinhos 
sejam um sucesso atual nos cinemas, percebemos que 
poucos são os espectadores que vão para as bancas 
adquirirem os exemplares, e os que o fazem, contrastam os 
aspectos narrativos e audiovisuais querendo, em princípio, a 
sensação do texto transmitido nos cinemas nas páginas da 
revista. Isso não se dá de forma inversa. Em regra, o público 
de quadrinhos tem a curiosidade de ter uma experiência 
melhorada da que tinha nas revistas, uma vez que com o 
audiovisual aflorado nas telas de cinema, os movimentos 
e sons ganham mais contorno, mais forma. Isso ocorre 
justamente porque a ambientação no cinema é mais real 
que os traços do quadrinho.
Tópicos Avançados da Teoria Literária 39
Nas narrativas curtas, como um conto, por exemplo, podemos 
observar que apenas poucos traços temporais e espaciais são delineados; 
já em um romance, a passagem temporal e as transições espaciais são 
mais bem elaboradas.
RESUMINDO
Assim como o tempo, o espaço permite uma compreensão 
intratextual e extratextual. Ele é definido por uma relação 
geográfica e outra social. Tempo e espaço são indissociáveis 
e sua conjunção é chamada de ambiente por alguns 
autores e, por outros, o ambiente será composto pelas 
características socioambientais do espaço.
Tópicos Avançados da Teoria Literária40
Os Personagens
INTRODUÇÃO
Aqui, neste último capítulo, iremos nos despedir tratando 
os últimos elementos da narrativa, os personagens nas 
histórias ficcionais, trazendo toda sua importância e suas 
categorizações acadêmicas..
Como se sabe, para a consolidação de um texto narrativo são 
imperativos elementos como, espaço, tempo, enredo, entre outros. Esses 
são, academicamente falando, denominados de elementos da narrativa. 
Como já se pode perceber, o personagem é um ser fictício, 
construído para ser uma representação narrativa da atividade humana.
Nesse sentido, temos:
A construção de personagens obedece a determinadas leis, 
cujas pistas só o texto pode fornecer. Se nos dispusermos 
a verificar o processo de construção de personagens de 
um determinado texto e, posteriormente, por comparação, 
chegarmos as linhas mestras que deflagram esse processo no 
conjunto da obra do autor, ou num conjunto de obras de vários 
autores, temos que ter em mente que essa apreensão é ditada 
pelos instrumentos fornecidos pela análise, pela perspectiva 
crítica e pelas teorias utilizadas pelo analista. (BRAIT, 1987, p. 68)
Neste arcabouço, para Brait (1987),o personagem deve ser 
qualificado a partir de sua afinidade com o narrador, pois, para ela, o 
personagem pode aparecer no texto como o ser que vive a história. Para 
entendermos seus dizeres, devemos fazer uma reflexão, voltando aos 
conceitos de narrador anteriormente propostos nesta unidade.
Tópicos Avançados da Teoria Literária 41
NOTA
Independente da forma adotada pelo autor, o narrador é 
o elemento narrativo que vai mostrar inteira intimidade 
com enredo, ele é quem tudo sabe. Como já vimos, ele 
acompanha e conhece a história dos personagens. No caso 
de um narrador intradiegético, independentemente de ser 
homodiegético ou heterodiegético, ele é um personagem, 
é inserido no enredo, pouco ou muito participa da ação. 
Para tal, ele necessita de uma intimidade com aquilo que 
se e narra, e mais, só sabe da história pois teve acesso a 
ela ou porque a viveu, ou porque um outro personagem 
o contou. Isso faz com que o primeiro personagem que 
mereça ser analisado neste capítulo seja exatamente o 
narrador-personagem.
Esse narrador é a câmera que falávamos no capítulo anterior, ele 
é quem porta o olhar de quem participa da trama. Diferente do narrador 
extradiegético, que apenas posiciona a câmera e registra os eventos 
somente mantendo-se contando a ação.
[...] a condução da narrativa por um narrador em primeira pessoa 
implica, necessariamente, a sua condição de personagem 
envolvida com os ―acontecimento que estão sendo narrados. 
Por esse processo, os recursos selecionados pelo escritor 
para descrever, definir, construir os seres fictícios que dão a 
impressão de vida chegam diretamente ao leitor através de 
uma personagem. (BRAIT, 1987, p. 60)
Portanto, o narrador intradiegético é o que vive as ações que ocorrem 
na narrativa e, ao mesmo tempo, é aquele que nos descreve a história, 
apresentando os fatos que incidem pouco a pouco no transcorrer das 
linhas e ao passo que vive os sentimentos com intensidade e propriedade.
Esse é um personagem que poucos atentam. Muitos estudiosos 
o estudam como narrador, mas poucos o olham como personagem, o 
que é um erro, pois independente de qual forma ele possa vir a ter na 
narrativa, é ele quem tem a visão mais próxima de todos os eventos.
Tópicos Avançados da Teoria Literária42
De forma geral, o personagem é tradicionalmente o elemento da 
narrativa que permite mais alegorias. São investidos de bichos, homens 
ou até coisas. São definidos no enredo pelo que dizem ou fazem. São 
marcados pelo exame e ações que têm, e estão suscetíveis ao alvitre do 
narrador e dos outros personagens.
VOCÊ SABIA?
Na antiguidade clássica, os personagens geralmente 
gozavam de uma única personalidade, de um único 
destino, de uma única faceta. Embora esse ideário ainda 
persista, ele é pueril comparado as narrativas modernas que 
apresentam personagens cada vez mais multifacetados.
Isso posto, podemos ir à frente e verificar que a marcha do 
romance moderno (do século XVIII ao começo do século XX) 
foi no rumo de uma complicação crescente da psicologia 
das personagens, dentro da inevitável simplificação técnica 
imposta pela necessidade de caracterização. 1) como seres 
íntegros e facilmente delimitáveis, marcados duma vez por 
todas com certos traços que os caracterizam; 2) como seres 
complicados, que não se esgotam nos traços característicos, 
mas têm certos poços profundos, de onde pode jorrar a cada 
instante o desconhecido e o mistério. (CANDIDO, 1995, p. 9)
Por ter havido uma mudança de arquétipo dos personagens, os 
estudiosos passaram a dividi-los em dois grandes grupos: os “personagens 
de costumes” e os “personagens de natureza”.
Os personagens de costumes se habituam a ser muito divertidos e 
ganham tratamento superficial, ao passo que os personagens de natureza 
são aqueles em que podemos imergir em seus sentimentos, são mais 
densos e requerem uma caracterização mais robusta.
Tópicos Avançados da Teoria Literária 43
DEFINIÇÃO
Analisando de forma mais acurada, Candido (1995) assim 
afirma sobre “personagens de costumes”:
As “personagens de costumes” são, portanto, apresentadas por 
meio de traços distintivos, fortemente escolhidos e marcados; 
por meio, em suma, de tudo aquilo que os distingue vistos de 
fora. Estes traços são fixados de uma vez para sempre, e cada 
vez que a personagem surge na ação, basta invocar um deles. 
Como se vê, é o processo fundamental da caricatura, e de fato 
ele teve o seu apogeu, e tem ainda a sua eficácia máxima, 
na caracterização de personagens cômicos, pitorescos, 
invariavelmente sentimentais ou acentuadamente trágicos. 
Personagens, em suma, dominados com exclusividade por 
uma característica invariável e desde logo revelada. (CANDIDO, 
1995, p. 57)
DEFINIÇÃO
Com a mesma presteza, Candido (1995) pondera sobre 
“personagens de natureza”:
As “personagens de natureza” são apresentadas, além dos 
traços superficiais, pelo seu modo íntimo de ser, e isto impede 
que tenham a regularidade dos outros. Não são imediatamente 
identificáveis, e o autor precisa, a cada mudança do seu 
modo de ser, lançar mão de uma caracterização diferente, 
geralmente analítica, não pitoresca. Traduzindo em linguagem 
atual a terminologia setecentista de Johnson, pode-se dizer 
que o romancista “de costumes” vê o homem pelo seu 
comportamento em sociedade, pelo tecido das suas relações 
Tópicos Avançados da Teoria Literária44
e pela visão normal que temos do próximo. Já o romancista 
de “natureza” o vê à luz da sua existência profunda, que não 
se patenteia à observação corrente, nem se explica pelo 
mecanismo das relações. (CANDIDO, 1995, p. 57)
Há quem traga outra dicotomia dentro da caracterização dos 
personagens. Neste arcabouço, existem os personagens planos, esses 
são mais monótonos aos dias de hoje, por serem instituídos de uma única 
ideia ou qualidade.
A partir do momento em que passam a ter mais ideias, vão ganhando 
mais contornos, portanto, são chamados de personagens esféricos.
Ante a essas tentativas de caracterização, isso nos levará a 
uma antecipação de nossas conclusões, pois passamos a notar que o 
personagem cada vez mais aparenta que está vivo ou que é como um 
ser vivo. Coadunando com o que vimos na primeira unidade, na qual 
trouxemos à baila o jargão aristotélico “a arte imita a vida”. Embora toda 
narrativa seja uma imitação da realidade, é com os personagens que o 
público terá sua maior afeição.
Forster (1974) brilhantemente exemplifica essa questão:
Se a personagem de um romance é, exatamente, como a 
rainha Vitória, (não parecida, mas exatamente igual), então 
ela é realmente a rainha Vitória, e o romance, ou todas as 
suas partes que se referem a esta personagem, se torna 
uma monografia. Ora, uma monografia é história, baseada em 
provas. Um romance é baseado em provas, mais ou menos x; 
a quantidade desconhecida é o temperamento do romancista, 
e ela modifica o efeito das provas, transformando-o, por vezes, 
inteiramente. (FORSTER, 1974, p. 44)
Todavia é extremante imperativo dizermos que os personagens 
aqui ditos são fictícios, ou seja, produzem alguma verossimilhança com 
a realidade. Contudo, de forma curiosa, Mauriac (1952) irá propor uma 
classificação dos personagens pelo grau de verossimilhança deles. 
Todavia, seu trabalho limitou-se aos personagens de romance, mas 
merecem aqui sua menção honrosa.
Tópicos Avançados da Teoria Literária 45
DEFINIÇÃO
São elas:
 • Disfarce leve do romancista – em poucas palavras, 
é a categoria que o autor minimamente recobriu de 
elemento fictício o personagem.
 • Cópia fiel de pessoas reais – aqui, como o nome já diz, 
não houve retoques fictícios, esses personagens são 
comuns em romances retratistas.
 • Inventadas – são as personagens realmente fictícias, 
criadas a partir de elementos humanos.
Com isso, Mauriac (1952) nos coloca um impasse, pois o que seria 
realidade, ficção ou cópia da realidade?
Embora possa parecer uma questãoparadoxal, Candido (1995) se 
mostra bem resoluto em muitas de suas falas quanto a isso, como em:
A personagem é um ser fictício, — expressão que soa como 
paradoxo. De fato, como pode uma ficção ser? Como pode 
existir o que não existe? No entanto, a criação literária repousa 
sobre este paradoxo, e o problema da verossimilhança no 
romance depende desta possibilidade de um ser fictício, 
isto é, algo que, sendo uma criação da fantasia, comunica 
a impressão da mais lídima verdade existencial. Podemos 
dizer, portanto, que o romance se baseia, antes de mais nada, 
num certo tipo de relação entre o ser vivo e o ser fictício, 
manifestada através da personagem, que é a concretização 
deste. (CANDIDO, 1995, p. 62)
Nesse sentido, ao transpormos uma personagem com relativa 
fidelidade, ela se torna uma prospecção do escritor na obra literária, de 
forma que ela incorpora a sua vivência, aos seus sentimentos. Porém, 
há personagens transpostas de modelos anteriores, feitas de arquétipos 
anteriormente pré-moldados ou já preconcebidos, dos quais o autor foi 
buscar como modelo. 
Tópicos Avançados da Teoria Literária46
Por fim, existem personagens construídas em torno de um modelo, 
nesse caso, a partir das vivências e movimentos criativos, o autor cria uma 
personalidade, dando vida a um personagem original, inédito.
Difere, ainda, de personagens construídas a partir de um modelo 
real, aqui inspirado por um único arquétipo, uma pessoa real, o autor irá 
criar um enredo e nele propor um ideário fictício. Pode acontecer que, ao 
invés de ser um único arquétipo, o autor resolva iniciar a construção de 
um personagem a partir de um eixo geral e preenchê-lo com modelos 
secundários, ou ainda fragmentar vários arquétipos em um personagem 
sem deixar um sobressalente.
EXPLICANDO MELHOR
Para entender melhor nossos dizeres, vamos produzir um 
exercício prático. Vamos tomar por base uma narrativa do 
pré-renascimento e, hipoteticamente, vamos construir 
um personagem da região da Escandinávia, o que se 
convencionou a chamar de Viking. O Autor tem as seguintes 
possibilidades de construção desse personagem:
1. Numa esfera normal, o nosso Viking seria alto, provavelmente de 
cabelos longos, tatuagens, austero e impiedoso.
2. Havia muitos Vikings famosos, então, o autor poderia construir um 
personagem a partir de uma coletânea de informações desses Vikings 
em comento.
3. O autor também poderia construir um personagem Viking de acordo 
com relatos de histórias do que ouvira de seres humanos reais, isso 
poderia levá-lo a ter alguma deturpação da concepção, mas ainda 
assim, poderia fazer um personagem fictício baseado num ser 
humano real.
4. O autor poderia construir um personagem por meio de moldes 
padronizados de um Viking a partir de costumes, mas não 
necessariamente com base numa pessoa ou pessoas escandinavas 
específicas.
Tópicos Avançados da Teoria Literária 47
5. O autor poderia ter um molde dominante, o que se tem como um 
homem Viking médio, não sendo um herói de guerra, apenas um 
guerreiro padrão, e dele criar um personagem. 
6. O autor poderia coletar amostras, e delas extrair comportamentos 
padrões e secundários e tomar duas decisões. Ou caracterizar o seu 
personagem com todos esses elementos.
7. Ou escolher as características mais preponderantes para fazer o seu 
personagem.
Por fim, mesmo após essas decisões em sua coleta de dados, se 
o autor entender que houve perecimento ou lacunas, ele pode ainda 
preenchê-las criando outros traços.
DEFINIÇÃO
Drácula é um exemplo de como essas eleições conseguem 
caracterizar um personagem. Não há relatos precisos sobre 
a figura real, mas os mitos foram criados sobre o príncipe 
romeno Vlad III Dracul. Ele era um guerreiro destemido e 
extremamente cruel com seus oponentes, aplicando penas 
severíssimas, daí sua fama de sanguinário. Fundamentado 
nas lendas que contavam acerca do romeno, associado 
a fama do Castelo de Bran, na Transilvânia, construído 
em 1211, Bram Stoker criou um personagem, o Drácula, e 
inaugurou um novo tipo de romance, um gênero de terror 
em 1897. 
De lá para cá, muitos adotaram o personagem de Bram Stoker como 
padrão, a imagem que hoje temos associada no imaginário coletivo só 
começou a ser moldada graças aos filmes de terror que surgiram após 1920.
Do terror, Drácula já foi adaptado para aventuras, comédias, 
romances românticos, e muitos outros gêneros. Além do mais, também 
foi fonte de inspiração para personagens fictícios inverossímeis, como o 
Batman. 
Tópicos Avançados da Teoria Literária48
Isso mostra o quanto um personagem, mesmo criado a partir de 
uma figura real, permite uma gama imensa de possibilidades, sendo capaz 
de atravessar gerações. Tal aspecto nos faz trazer uma nova conclusão 
antecipadamente, ou seja, que a natureza da personagem irá depender 
da concepção da qual se presta a obra, bem como das intenções do autor.
EXPLICANDO MELHOR
Voltando ao exemplo do Drácula. Uma obra de terror, 
em regra, não terá alívios cômicos, nesse sentido, todos 
os personagens serão cobertos de sobriedade. Numa 
obra cômica, os estereótipos são jocosos, a ponto de 
que, muitas vezes, até as personagens sérias têm seus 
momentos divertidos. Numa trama de aventura, em regra, 
todos as características dos personagens são elevadas para 
favorecer algum ponto da aventura, é comum nesse tipo 
de enredo personagens com sede por novas descobertas, 
com conhecimento elevado em história e dominando 
algum tipo de luta marcial.
Isso faz com que cada personagem ali colocado tenha alguma 
razão. Por isso, vamos revisar como os personagens se posicionam no 
enredo.
O protagonista é aquele que terá o papel principal. Todos os eventos 
irão se passar em torno dele, geralmente ele está do início ao fim na obra, 
embora isso não seja uma regra. 
O protagonista, geralmente, aparece como o herói. Entre outras 
grandes características, esse tipo de protagonista sempre vai ter algum 
tipo de superioridade sobre uma coletividade, mostra-se como o mais 
bonito, o mais bravo guerreiro, o líder respeitável.
Hodiernamente, tem ficado muito comum um protagonista como 
anti-herói. Neste caso, ele não é uma figura opositora ao herói na trama. 
O anti-herói é uma oposição ao ideário de herói. Enquanto um herói 
transmite senso de nobreza, o anti-herói apresenta características iguais 
ou inferiores às de seu grupo. Será o beberrão, um preguiçoso, um 
Tópicos Avançados da Teoria Literária 49
medroso, enfim, características negativas àquelas do herói. Porém, ele irá 
responder o chamado para aventura e irá cumpri-la da mesma forma que 
um herói.
O antagonista, por seu turno, é o personagem que se opõe ao 
protagonista, atrapalhando toda ação deste, impedindo que ele cumpra 
sua missão, atrapalha agindo diametralmente em oposição às missões do 
protagonista. 
Esses são os principais, porém, como vimos na unidade 01, existem 
outros tantos personagens importantes.
RESUMINDO
Mais vale, das lições aqui tomadas, é que, embora tenham 
algum grau de ficção, os personagens sempre serão 
reflexo de algum atributo, sejam eles físicas, psicológicas, 
sociais, ideológicas ou morais. Podendo ter somente um 
desses atributos, como os personagens planos, ou todos 
os atributos, como os esféricos.
Tópicos Avançados da Teoria Literária50
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Rodrigo Gonçalves
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