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POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS EM SAÚDE
TEMA 3: O SUS E SEUS PRINCIPAIS CAMINHOS NORMATIVOS
A BASE DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
A Constituição reforça, em um de seus parágrafos, que todo poder emana do povo e que a população exerce esse poder diretamente e por meio de governantes eleitos democraticamente, tendo como alguns de seus objetivos:
· Erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades sociais;
· Construir uma sociedade justa e livre;
· Promover o bem de todos sem nenhum tipo de exclusão.
“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.” CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988.
O texto constitucional referente à saúde universal é originário da 8ª Conferência Nacional de Saúde de 1986, a primeira conferência que teve participação popular, pensando em mudanças significativas no sistema vigente. 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
No art. 200 do texto constitucional diz respeito ás atribuições do SUS:
· Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos.
· Executar ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador.
· Ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde.
· Participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico.
· Incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico.
· Fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e água para consumo humano.
· Participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos.
· Colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o trabalho.
LEI N. 8.080 DE 1990 (LEI ORGÂNICA DA SAÚDE)
Essa lei institui o SUS e aponta a competência de cada esfera de governo no SUS, ou seja, o sistema funciona de maneira descentralizada, rompendo com a lógica federal centralizadora de períodos anteriores, dando atribuições e autonomia a estados e municípios.
· Traz a organização do sistema, com o SUS acontecendo em uma direção única, partindo da atenção primária até a atenção terciária.
· Detalha melhor o funcionamento e a participação complementar dos serviços privados de assistência à saúde. 
· Traz questões de recursos humanos necessárias no sistema.
· Aborda questões de recursos financeiros, gestão financeira, planejamento e de orçamento.
Essa lei traz princípios doutrinários e organizativos para o funcionamento do SUS. Os princípios doutrinários são: universalidade, equidade e integralidade. Os princípios organizativos são: descentralização, participação e controle social, resolutividade, regionalização e hierarquização.
Princípios Doutrinários
· UNIVERSALIDADE - Esse princípio busca garantir o acesso de todos que tenham necessidade de fazer uso do SUS, independentemente de sexo, raça, classe econômica, profissão ou qualquer outra particularidade.
· EQUIDADE - Em equidade não é possível a presença de preconceitos ou privilégios, pois reconhecemos que vivemos em um país de dimensão continental, com diversas culturas, questões regionais e sociais. Para representar a equidade e sua importância no SUS, poderíamos usar mais exemplos como: população em situação de rua, população privada de liberdade no sistema prisional, mulheres, população negra, entre outros.
· INTEGRALIDADE - Esse princípio traz a importância de se olhar o sujeito como um todo, acolhendo suas necessidades específicas, olhando além da doença, incluindo todas as suas dimensões de existência, utilizando ações de promoção, prevenção e recuperação em saúde.
Princípios Organizativos
· REGIONALIZAÇÃO - As ações e serviços de saúde devem compor uma região de saúde, com organização por níveis de complexidade, delimitados geograficamente, definindo a população que será atendida. A região de saúde precisa de características comuns de transporte, de cultura, ou seja, precisam ter realidades semelhantes e com funcionamento compartilhado. O acesso inicial é feito por meio da Atenção Básica ou Atenção Primária que, a partir de um acompanhamento no cotidiano do território, consegue responder a muitas questões. As situações que precisam de níveis mais específicos de cuidado e intervenção serão direcionadas, a partir da atenção primária, para serviços de maior complexidade.
· HIERARQUIZAÇÃO - A organização dos serviços em redes deve ser feita de maneira hierarquizada a fim de fazer um diagnóstico mais aprimorado dos problemas e das questões de saúde de uma região e assim traçar as ações necessárias de prevenção, promoção e recuperação de saúde para aquele local
· RESOLUTIVIDADE - Em qualquer nível de complexidade que as pessoas necessitem, é preciso que o atendimento em saúde seja resolutivo, capaz de resolver a questão.
· DESCENTRALIZAÇÃO - Tem relação direta com a regionalização. As três esferas de governo — federal, estadual e municipal — terão competências e responsabilidades em relação a ações e serviços de saúde, tanto no sentido administrativo quanto no sentido financeiro.
· CONTROLE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL - Para que o SUS atue conforme os interesses e as necessidades populares, é preciso que a população ocupe entidades representativas, como os conselhos de saúde, existentes nas três esferas (federal, estadual e municipal) e participe de conferências de saúde também nas três esferas, formulando e fiscalizando a execução das políticas de saúde.
LEI N. 8.142 DE 1990
Aborda a questão da participação da comunidade e do controle social no SUS e as questões de transferências intergovernamentais. Determina que as conferências de saúde precisam ter participação representativa de diversos segmentos sociais, ocorrendo a cada quatro anos nas três esferas de governo, as quais vão se reunir a cada quatro anos para avaliar a situação de saúde e propor novas diretrizes para a formulação das políticas públicas de saúde. Essa lei também traz detalhes sobre o funcionamento e a composição dos conselhos de saúde:
CITAÇÃO
“Deve ter caráter permanente e deliberativo, com a seguinte composição nos três níveis de gestão: 50% dos usuários, 25% de gestores e prestadores de serviço e 25 % de profissionais de saúde. Os conselhos de saúde devem atuar na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde em cada instância correspondente, incluindo aspectos econômicos e financeiros. As decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo.” LEI n. 8.142, 1990
O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é o principal dispositivo de cuidado em saúde mental do SUS e existe em todo o país com o intuito de cuidar em liberdade, longe de muros de hospitais psiquiátricos, de pessoas com transtornos mentais severos, articulando seu trabalho com diversos outros dispositivos da cidade.
AS NORMAS OPERACIONAIS BÁSICAS (NOBS)
E AS NORMAS OPERACIONAIS DE ATENÇÃO À SAÚDE (NOAS)
Foram publicadas as Normas Operacionais Básicas (NOBs) e as Normas Operacionais de Atenção à Saúde (NOAs), com a presença dos três níveis de governo, buscando formalização e regularização nessa articulação interfederativa. No nível federal, o órgão responsável por gerir é o Ministério da Saúde; no nível estadual, temos as secretarias estaduais de saúde e no nível municipal temos as secretarias municipais de saúde. Os gestores de cada esfera reúnem-se em espaços chamados Comissão Intergestores Bipartite (CIB), com participação do estado e municípios e Comissão Intergestores Tripartite (CIT), com a presença dos níveis federal, estadual e municipal.
Voltando às normas publicadas:
1991 - Foi publicada a Norma Operacional Básica do SUS 01/91 (NOB/SUS 01/91), instituindo: 
- o pagamento por produção de serviços
- equiparando prestadores públicos e privados na compra evenda de serviços. 
Mesmo sendo um fato negativo para o SUS, os municípios apoiaram essa NOB, pois assim receberiam recursos diretamente do nível federal, o que fragilizava o papel dos estados no processo.
1992 - a segunda dessas normas, a NOB 01/92, mantendo o pagamento por produção de serviços, com exceção das internações hospitalares.
1993 - Tivemos a NOB/SUS 01/93, que trazia o tema: "A municipalização é o caminho", com fortalecimento da gestão municipal no sistema, instituindo as seguintes formas de gestão municipal e estadual: incipiente, parcial e semiplena. Os municípios que antes eram pouco atuantes foram habilitados como gestores e, nesse momento, surgem as Comissões Intergestores Bipartite e Tripartite.
1996 - Publicada a NOB/SUS 01/96,
 - Fortaleceu a descentralização, inovando nas condições de gestão dos municípios e estados, definindo competências e responsabilidades.
 - Criação do Piso da Atenção Básica (PAB), ampliando o acesso à atenção primária a partir do financiamento global per capita
 - Consolidou o Programa da Saúde da Família.
2001 - Temos a publicação da NOAS 01/01
- Deu maiores responsabilidades aos municípios na Atenção Básica. 
- Define o processo de regionalização da assistência por meio do Plano Diretor de Regionalização (PDR), um instrumento para organizar o processo de regionalização, pensando na garantia de acesso próximo às residências dos usuários. O Plano Diretor de Investimento (PDI) também vem como instrumento para desenvolver estratégias de investimentos, com o intuito de ofertar assistência em todos os níveis de complexidade. A Atenção Básica ganha força com a NOAS/2001, a partir de ações mais claras. Nesse momento temos também valorização e estímulo aos municípios para trabalharem conjuntamente, trazendo a questão de referência e contrarreferência e propostas de ações de média e alta complexidade.
2002 - Foi publicada a NOAS/SUS 01/02, que fortalece a gestão estadual a partir de acordos relativos aos serviços de média e alta complexidade e do mecanismo de acompanhamento dos recursos federais para assistência da saúde. 
PACTO PELA SAÚDE (PORTARIA N.º 399 22/02/2006)
O Pacto era composto por três partes: Pacto pela vida, Pacto em defesa do SUS e Pacto de gestão do SUS.
· PACTO PELA VIDA - Esta parte trazia um conjunto de compromissos e prioridades definidos pelos três entes gestores (triparte) a partir da análise da situação de saúde da população. Trazia metas nacionais, estaduais e municipais, com objetivos e prioridades, buscando resultados.
A) Ações para contribuir com a redução da mortalidade por câncer de colo de útero e de mama;
B) Atenção integral para a população idosa, por meio da implementação da Política Nacional de Saúde da População Idosa;
C) Focar no cuidado dentro do SUS voltado para as doenças emergentes e endemias, como dengue e hanseníase, buscando fortalecer as respostas a essas questões;
D) Diminuir a mortalidade materna e infantil;
E) Fortalecer e qualificar a Estratégia de Saúde da Família na Atenção Básica;
F) Estimular e fortalecer a promoção da saúde por meio da implantação da Política Nacional de Promoção da Saúde, pensando em ações que estimulassem um estilo de vida saudável para a população.
· PACTO EM DEFESA DO SUS Determina as responsabilidades de cada ente federado, com gestão solidária e compartilhada no SUS, com fortalecimento da descentralização, incentivando a organização dos sistemas a partir da territorialização da saúde, trazendo as regiões de saúde e instituindo Colegiados de Gestão Regional.
São eles: o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (composto por secretários estaduais de saúde) e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS).
PACTO DE GESTÃO DO SUS - Engloba ações articuladas entre os três níveis de gestão para qualificação do SUS, fortalecendo os princípios basilares. Visa dar apoio à mobilização social, objetivando a garantia de saúde como um direito.
DECRETO N. 7.508/2011
Em 28 de junho de 2011, foi pulicado o Decreto n. 7.508, que veio regulamentar a Lei n. 8.080/1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde (SUS), o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa. O Decreto n. 7.508/2011 reforça a importância da articulação interfederativa, ou seja, que os três entes sejam autônomos, dividindo e compartilhando ações no SUS. É muito importante que as ações, ainda muito centradas no Ministério da Saúde, cedam espaço para os outros dois entes. Esclarecendo pontos tão importantes, o Decreto n. 7.508/2011 trouxe mais transparência à gestão do SUS, mais segurança jurídica nas relações interfederativas (entre os entes federal, estadual e municipal) e controle social mais efetivo, com participação da sociedade, em uma perspectiva de gestão compartilhada. A questão da regionalização fica mais evidente e valorizada nesse decreto, definindo região de saúde como:
CITAÇÃO
“Espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde”. DECRETO n. 7.508, 2011

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