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CAPÍTULO 1 – O SURGIMENTO DAS CÉLULAS: COMO A QUÍMICA E A BIOLOGIA PODEM EXPLICAR? Ana Paula Felizatti / Nícolas í Murcia / Vinicius Canato Santana Introdução Você já se questionou de onde viemos e como viemos? Já se perguntou como a vida surgiu? Dentre as teorias existentes, as teorias evolucionistas do surgimento da vida são as mais aceitas na contemporaneidade para explicar as questões que dizem respeito às inúmeras dúvidas sobre o início da vida em suas mais diversas formas. Você já parou para observar o quão diversa a vida se apresenta? Há uma infinidade de formas de vida, desde as mais simples, formadas por uma única célula, até as mais complexas, como nós, os seres humanos, pluricelulares e altamente organizados. Mas, como foi possível o surgimento dos seres mais simples e como se deu a formação dos seres mais complexos? A premissa base mais aceita no meio científico é respaldada na formação da sopa primordial ou sopa orgânica. Trata-se de uma teoria que alia conhecimentos químicos e biológicos para explicar como uma sopa orgânica, contendo inicialmente átomos e moléculas simples, foi capaz de originar todas as formas de vida. A teoria se fortaleceu com a observação in vitro de tal acontecimento, com a formação de aminoácidos, blocos estruturais das proteínas, que são as macromoléculas mais abundantes nos seres vivos (JUNQUEIRA, 2012). Neste capítulo, veremos com mais detalhes sobre a formação da vida do ponto de vista químico e biológico. Assim, poderemos compreender como ligações químicas entre átomos e moléculas simples, foram responsáveis pela estruturação de moléculas orgânicas com enorme importância biológica no contexto do surgimento da vida. 1.1 Química dos organismos vivos A química é uma ciência exata muito atrelada à formação da vida. Há milhões de anos, elementos químicos se agruparam por meio de ligações químicas em um processo gradual e complexo e deram origem à moléculas orgânicas precursoras das formas de vida mais simples. Essas formas simples, eventualmente, passaram por processos evolutivos que deram origem a rotas bioquímicas que possibilitaram a evolução para formas mais complexas. Mas tudo começou com elementos químicos simples. Não é incrível? Nesta sessão, iremos explorar os conceitos da química no contexto dos organismos vivos e surgimento da vida. 1.1.1 Composição química das células Você certamente já ouviu dizer que somos feitos majoritariamente por água, não é mesmo? Essa premissa é absolutamente correta, visto que somos formados por células, e elas têm, em sua composição, a água como elemento mais abundante. Mas, antes de iniciar seus estudos sobre a composição química das células, assista ao vídeo especialmente desenvolvido para esta seção. Além da água, outros elementos estão presentes na célula, entre compostos orgânicos e inorgânicos. A composição química das células segue o padrão aproximado ilustrado pelo objeto a seguir. É interessante notarmos que as células são a unidade funcional mais básica dos seres vivos, e têm características em comum tanto nos seres mais simples como nos mais complexos. Nesta seção, iremos conhecer e compreender a importância desses elementos comuns em quase todas as células. 1.1.2 Átomos, moléculas e íons. Os organismos vivos são compostos por somente uma pequena seleção dos 92 elementos químicos que ocorrem naturalmente (ilustrados na tabela periódica dos elementos), sendo que apenas quatro deles – carbono (C), hidrogênio (H), nitrogênio (N) e oxigênio (O) – representam 95% do peso de um organismo e formam algumas moléculas importantes em nossas células, como água, proteínas, carboidratos, lipídios e DNA. Os átomos desses elementos são ligados um ao outro por ligações químicas, formando moléculas. Mas, você sabe o que são átomos e moléculas? Conhece qual a diferença entre eles? Química A química pode ser definida como o estudo da matéria e das transformações que ela sofre. Matéria Matéria é tudo aquilo que ocupa espaço e possui massa. Estados da matéria Toda matéria, pelo menos em princípio, pode existir em três estados: sólido, líquido e gasoso. Vamos agora conhecer um breve relato histórico sobre a química e os estudos que a transformaram nessa ciência importante e imprescindível para a manutenção da vida humana. Uma molécula é um agregado de, pelo menos, dois átomos ligados em um arranjo definido por forças químicas (também chamadas de ligações químicas). Uma molécula pode possuir átomos do mesmo elemento ou átomos de dois ou mais elementos unidos. A partir do tipo e número de átomos que uma molécula possui, podemos escrever sua fórmula molecular. Confira alguns exemplos: Dióxido de Carbono (CO2) Possui dois átomos de oxigênio e um de carbono. Metano (CH4) Possui um átomo de carbono e quatro de hidrogênio. As moléculas que têm carbono na sua composição são chamadas de moléculas orgânicas, e aquelas que não têm são chamadas de inorgânicas. Posteriormente, iremos abordar as principais moléculas orgânicas, suas características e funções. Como dito anteriormente, dois átomos permanecem unidos por ligações químicas para formar moléculas. Dois tipos de ligações químicas são muito importantes para a compreensão da química da vida: ligações covalentes e não covalentes. Ligação covalente é a ligação em que há compartilhamento de elétrons entre átomos; essas ligações tendem a ser mais fortes. Graficamente são mostradas como um (–) entre dois átomos, e podem ser ligações simples, duplas ou triplas. Dentre as ligações não covalentes, se destacam as ligações de hidrogênio e as ligações iônicas. Esse é um tipo de ligação química em que não há compartilhamento de elétrons. A ligação é baseada na atração eletrostática entre átomos, como a ligação que ocorre entre Na+ e Cl- na formação do sal de cozinha. Por fim, um íon é um átomo ou grupo de átomos que tem uma carga positiva ou negativa. Um ânion é um íon com carga negativa, em virtude de um aumento do número de elétrons, e um cátion, um íon com carga positiva, devido à perda de um ou mais elétrons. O cloreto de sódio (NaCl), o sal de cozinha, é denominado um composto iônico, pois é formado por cátions e aníons (Na+ e Cl-). Dando sequência aos seus estudos sobre o surgimento das células, veremos sobre de outro elemento químico muito importante: a água. 1.1.3 A Água A água representa cerca de 70% do peso nos organismos. As teorias evolutivas celebram que a formação da vida como conhecemos atualmente é resultado das características dos ambientes aquosos primordiais. As características físico-químicas da água explicam por que a vida pode ter se estabelecido inicialmente em ambientes aquosos. Para conhecer mais sobre a água: O ponto de ebulição, fusão e vaporização da água é maior na água do que em outros solventes devido à grande coesão interna entre os átomos de hidrogênio e oxigênio da molécula. A molécula de água possui dois dipolos elétricos, gerando uma ligação de hidrogênio (VOET, 2013). Essa ligação é mais fraca que uma ligação covalente, permitindo que a água interaja com diversas moléculas, solubilizando-as. Graças a essa propriedade, a água é conhecida como solvente universal. Compostos que se dissolvem bem na água são chamados de hidrofílicos. Aqueles que não se dissolvem, chamados de hidrofóbicos. Além de solvente, a água também é importante para o processo de tamponamento celular, garantindo a dissociação de moléculas de hidrogênio e hidroxilas para manutenção do pH celular. Adicionalmente, a água também tem papel reagente, podendo participar ativamente de reações químicas, como condensações, hidrólise e oxidorredução. Os seres vivos são adaptados a ambientes aquosos e a grande maioria das reações bioquímicas ocorrem em ambiente aquoso, dentro das células, nocitosol. Até mesmo as macromoléculas que repelem água se organizam em estruturas hidrofóbicas de dobramento essenciais para sua estabilidade, e sem a presença de água para induzir a repulsão, essa estrutura de dobramento não seria possível. Assim, a água é essencial para manutenção da vida, visto que sem ela, não ocorrem as reações necessárias para manutenção celular. 1.1.4 Ácidos e Bases Um dos tipos de reação química mais simples, e que tem grande importância para as células, ocorre quando uma molécula que possui alguma ligação covalente altamente polar entre um hidrogênio e outro átomo se dissolve em água. Quando uma molécula polar fica rodeada por moléculas de água, o próton (H+) é atraído pela carga parcialmente negativa do átomo de oxigênio de uma molécula de água adjacente. Esse próton pode se dissociar facilmente do seu parceiro original e se associar ao átomo de oxigênio de uma molécula de água, gerando um íon hidrônio (H3O+) (ALBERTS, 2017). Sendo assim, as moléculas que liberam prótons quando dissolvidas em água, formando, assim, H3O+, são denominadas ácido. Já a base é o oposto de ácido: é definida como qualquer molécula capaz de aceitar um próton de uma molécula de água. O interior das células também é mantido próximo da neutralidade pela presença de ácidos e bases fracos (tampões), que podem liberar ou receber prótons próximos do pH 7, o que mantém o ambiente celular relativamente constante sob uma grande variedade de condições. 1.1.5 Moléculas orgânicas As moléculas orgânicas são aquelas que têm carbono como parte estrutural. O carbono é um elemento versátil, capaz de realizar diferente tipos de ligações covalentes – simples, duplas, triplas – com diferentes elementos químicos, como oxigênio, hidrogênio e nitrogênio, formando a estrutura básica das biomoléculas. Para compreender a química das células, devemos compreender a química dos elementos. Clique nos itens abaixo e conheça mais sobre o carbono. O carbono é o elemento primordial para formação dos compostos orgânicos que garantem sobrevivência celular. A capacidade de formação de ligações do carbono reflete os diferentes tipos de biomoléculas. O carbono representa mais de 50% do peso seco total das células, explicitando a organização dos seres vivos em torno deste elemento. O carbono pode fazer até quatro ligações simples a partir de seu núcleo. A estrutura d quatro ligações remete a um tetraedro, com ligações nos quatro vértices. O carbono também realiza ligações duplas e triplas, por meio do compartilhamento de par de elétrons, sendo dois pares compartilhados nas ligações duplas e três pares nas ligações triplas. A versatilidade das ligações resulta em um universo muito amplo e diverso de grupos químicos funcionais formados, que têm extrema importância para a dinâmica celular d seres vivos. Veja abaixo alguns exemplos de moléculas orgânicas (aminoácido alanina e glicose) e de como o átomo de carbono pode ser ligar a diversos outros átomos. Há centenas ou até milhares de biomoléculas nas células. Essas biomoléculas foram sendo conservadas ao longo dos processos evolutivos, participando ativamente das vias metabólicas essenciais dos seres vivos. As principais biomoléculas, ou macromoléculas, presentes nas células são os carboidratos, lipídios, proteínas/enzimas e os ácidos nucleicos. Para conhecer mais sobre elas, clique nas abas a seguir. Proteínas As proteínas compreendem a segunda classe de elementos mais abundantes nas células. Elas são mediadores de praticamente todas as reações celulares. São polímeros, ou seja, a junção de monômeros de estruturas mais simples. Chamadas de aminoácidos. Que se polimerizam para formar uma estrutura complexa. Portanto, são polímeros de aminoácidos com funções diversas, incluindo função catalítica (enzimas), estrutural, transporte intracelular e extracelular, sinalizadores, entre outras. A ligação dos aminoácidos ocorre por meio de uma ligação peptídica, formando um polímero proteico através de ligações covalentes. Como resultado, são obtidas moléculas proteicas biologicamente ativas com funções diversas nas células, que possuem milhares de proteínas em seu interior. Carboidratos Os carboidratos são estruturas formadas essencialmente por carbono, hidrogeno e oxigênio. O exemplo mais simples de carboidrato é a molécula de glicose. Os carboidratos podem ser simples (monossacarídeos) ou complexos (polissacarídeos) e são classificados popularmente como açúcares. São importantes como reserva energética, estrutural, sinalização entre proteínas e outras macromoléculas, além de terem outras funções essenciais. Lipídios Os lipídios são moléculas derivadas de hidrocarbonetos, ou seja, estruturas formadas primordialmente por carbono e hidrogênio. São insolúveis em agua e são elementos importantes para manutenção estrutural da célula, visto que estão presentes na membrana plasmática como barreira seletiva e de proteção juntamente com agregados proteicos. As principais funções dos lipídios nas células são reserva energética, manutenção da estrutura e estrutural. Ácidos Nucléicos Os nucleotídeos são os constituintes dos ácidos nucleicos, DNA e RNA. Cada nucleotídeo apresenta três elementos principais em sua estrutura: Uma base nitrogenada: são quatro: Adenina, Citosina, Guanina e Timina; Uma pentose; Um grupo fosfato. A polimerização dos nucleotídeos origina os ácidos nucleicos: RNA ou DNA e ocorre por ligações do tipo fosfodiéster entre dois nucleotídeos. A distinção entre RNA e DNA ocorre pela presença de pentoses (açucares de cinco carbonos) diferentes, e a substituição da base timina, por uma base chamada uracila. A estrutura dos ácidos nucleicos é helicoidal em dupla-hélice, com bases complementares (pares de base) ligadas por pontes de hidrogênio, e foi proposta por Watson e Crick. Nas próximas sessões, você estudará mais detalhes sobre as macromoléculas essenciais. Este e outros temas serão abordados para que a compressão da importância delas nas células seja esclarecida e melhor fixada. Vamos continuar explorando a maquinaria celular? 1.2 Origem da vida e teoria celular Como a vida começou? A explicação da origem da vida para as ciências biológicas tem um marco muito importante: a descoberta das células! Mas, antes dar continuidade aos seus estudos sobre a origem da vida e teoria celular, assista ao vídeo especialmente desenvolvido para esta seção. As células foram descobertas pelo cientista inglês Robert Hooke, no século XVII, com o auxílio de um microscópio rudimentar. Hooke observou, pela primeira vez, uma estrutura de cortiça vegetal. Ele foi capaz de identificar pequenos compartimentos que nomeou de célula, pela origem latina “cella”, compartimento fechado, ao observar as divisões referentes as paredes celulares. Anos depois, cientistas foram capazes de observar o núcleo, com microscópios melhores. Desde o século XIX, os cientistas sabem que todos os seres vivos são formados por células, e descobertas foram sendo realizadas para construir teorias que possam explicar a origem das células e início da vida (JUNQUEIRA, 2012). 1.2.1 Origem da vida: teorias e o elo com surgimento celular O processo evolutivo que originou as primeiras células começou na Terra, há aproximadamente quatro bilhões de anos. Naquela época, a atmosfera provavelmente continha vapor d’água, amônia, metano, hidrogênio, sulfeto de hidrogênio e gás carbônico. Para que o surgimento da vida fosse possível, como você estudou na seção anterior, há milhões de anos, surgiram ligações entre elementos químicos da atmosfera primitiva. Esses elementos deram origem às moléculas que permitiram o surgimento das formas mais básicas de vida. Essas ligações foram resultado de descargas energéticas que desencadearem desequilíbrio eletrônico.Esses elementos, por sua vez, se associaram em uma sopa orgânica, gerando moléculas como os ácidos nucleicos e os aminoácidos (JUNQUEIRA, 2012). Eventualmente, após o surgimento dessas moléculas essenciais, as células surgiram. Com o surgimento das células, surgiram os primeiros organismos vivos. Mas como as células surgiram? E como surgiram diferentes tipos de células? Vamos descobrir? 1.2.2 A primeira célula seria composta por RNA autoreplicativo! A formação espontânea de moléculas orgânicas foi demonstrada experimentalmente pela primeira vez na década de 1950. Na ocasião, Stanley L. Miller e Harold C. Urey demonstraram que a descarga de faíscas elétricas em uma mistura de H2, CH4 e NH3 na presença de água, levou à formação de uma variedade de moléculas orgânicas, incluindo vários aminoácidos (JUNQUEIRA, 2012). A hipótese mais aceita atualmente é a de que fitas de RNA se formaram e foram englobados em membranas lipídicas, dando origem às protocélulas (células primitivas). Esse RNA foi capaz de se autoduplicar, proporcionando a divisão das células primitivas. Um passo crítico no entendimento da evolução molecular foi alcançado no início dos anos 1980, quando foi descoberto que o RNA é capaz de catalisar uma série de reações químicas, incluindo a polimerização de nucleotídeos. Consequentemente, acredita-se que o RNA tenha sido o sistema genético inicial, e acredita-se que um estágio inicial da evolução química tenha sido baseado em moléculas de RNA autorreplicativas (que possuem a capacidade de duplicar-se a partir de uma molécula molde, formando cópias de si mesmas). Esse foi um período de evolução conhecido como o mundo do RNA. As interações ordenadas entre o RNA evoluíram para o código genético atual e o DNA acabou substituindo o RNA como material genético (COOPER, 2000). Apesar de a teoria da origem da primeira célula ainda ter lacunas, ela é a mais bem aceita no meio científico, atualmente. Agora, conheça mais sobre a organização inicial de um RNA autorreplicante no interior de uma bicamada fosfolipídica de uma célula primitiva, observando a figura a seguir. Acompanhe, na sequência, como ocorreu o surgimentos dos primeiros organismos. Para tanto, clique nos itens abaixo. Primeiros organismos Os primeiros organismos eram heterotróficos (incapaz de produzir o próprio alimento e q se nutre de outros seres vivos) anaeróbicos (não utilizavam oxigênio em seu metabolismo devido à ausência de oxigênio na atmosfera terrestre). Autotrofia Com o passar do tempo, esses organismos passam a apresentar alterações genéticas que possibilitam a autotrofia, como observado nas algas azuis. Fotossíntese Surge então, a capacidade de realizar fotossíntese nesses organismos, alterando a atmosfe primitiva pela geração de oxigênio (JUNQUEIRA, 2012). Organismos aeróbicos A partir dessa alteração, organismos aeróbicos surgem, e a vida, que até então ocorria e ambiente aquoso, passa a ser possível no ambiente terrestre. Procariontes e Unicelulares Os primeiros organismos são classificados como procariontes (material genético n protegido por núcleo) e unicelulares. Supõe-se que o passo seguinte no processo evolutivo foi o surgimento das células eucariontes (com material genético protegido por envoltório ou núcleo). Tudo indica que as células eucariontes, caracterizadas por seu elaborado sistema de membranas internas, tenham se originado a partir de procariontes, por invaginações da membrana plasmática. Essa hipótese é apoiada pela observação de que as membranas intracelulares se assemelham à membrana plasmática. A invaginação da membrana foi fundamental para a evolução das células eucariontes, pois formou diversos compartimentos intracelulares, ou organelas, como o núcleo, retículo endoplasmático, endossomos, lisossomos e aparelho de Golgi, que são organelas (microrregiões) com composições e atividades funcionais específicas (JUNQUEIRA, 2012). Por fim, há evidências sugestivas de que as organelas envolvidas nas transformações energéticas, cloroplastos e mitocôndrias, originaram-se de bactérias que foram incorporadas e se estabeleceram como simbiontes no interior das células eucariontes hospedeiras, criando um relacionamento mutuamente benéfico e que se tornou irreversível com o passar dos anos. A figura a seguir apresenta a teoria da Endossimbiose. Perceba que na imagem A podemos visualizar o processo de invaginação da membrana plasmática que deu origem ao envelope nuclear e possibilitou que as células evoluíssem de procariotos para eucariotos. Já na imagem B, observe a internalização de uma célula aeróbia, capaz de realizar fosforilação oxidativa, que posteriormente evoluiu para as nossas mitocôndrias. 1.2.3 Células Procariontes Vimos que as células procariontes são mais simples e menores do que as células eucariontes. Para conhecer as principais características dessas células, cujo material genético não protegido por núcleo, clique nas abas abaixo (ALBERTS,2017). Ausência de núcleo Ausência de núcleo (carioteca). A carioteca é uma membrana que envolve o DNA, compartimentalizando essa região. Estruturas funcionais Não apresentam organelas citoplasmáticas, que são estruturas funcionais limitadas por membranas. DNA circular Seu DNA é cíclico, diferente dos eucariotos que possuem DNA linear (com extremidades livres). As células procariontes não são capazes de se associar formando tecidos: uma única célula procarionte dá origem a um organismo procarionte, isto é, um organismo unicelular. Podem ter formas diversas, dentre elas coco (forma esférica) e bacilo (forma de bastão) e a reprodução ocorre de forma assexuada, por fissão binária (ALBERTS, 2017). A célula procarionte mais estudada é uma bactéria chamada de Escherichia coli, e, assim como, ela há milhares de outras espécies de bactérias. Uma célula procarionte possui o material genético não compartimentalizado, polissacarídeos formando uma cápsula protetora, parede celular e fosfolipídios formando a membrana celular, flagelos para locomoção (em alguns organismos), citoplasma e ribossomos (JUNQUEIRA, 2012). Podemos observar a estrutura da célula procariótica e seus componentes na parte A. 1.2.4 Células eucariontes As células eucariontes são mais complexas e organizadas quando comparadas às procariontes. Possuem organelas celulares e um núcleo bem definido e compartimentalizado. São capazes de se associar e formar tecidos. Além disso, essas células podem estar presentes em organismos unicelulares, como leveduras e parasitas, ou pluricelulares, como plantas e animais. Dentre as organelas mais importantes estão os ribossomos, lisossomos, peroxissomos, mitocôndrias, complexo de Golgi e retículo endoplasmático rugoso e liso (JUNQUEIRA, 2012). A presença de organelas permite a ocorrência de reações bioquímicas mais complexas, possibilitando o surgimento de funções que permitiram a evolução das espécies. Agora, convidamos você a explorar algumas organelas celulares. Para tanto, observe os itens que compõem cada uma delas e conheça suas funções, segundo Junqueira (2013). 1.2.5 Aspectos comuns em procariontes e eucariontes. Como pudemos estudar nesta seção, ainda há muitas lacunas para a compreensão da origem da vida. Todavia, temos fortes indícios teóricos sobre esse assunto, como a hipótese da sopa orgânica, o surgimento de RNA e protocélulas e o eventual surgimento de procariontes, muito importantes na formação das células eucariontes, de acordo com a teoria da Endossimbiose. Assim, podemos compreender as semelhanças entre todas as células, independentemente de sua origem e classificação. O próximo ponto é conhecer algumas funções comuns a todos os tipos celulares (ALBERTS, 2017). Para tanto, clique nas abas a seguir. O DNA é a molécula da vida Todas as células vivas da Terra armazenamsuas informações hereditárias na forma de moléculas de DNA de fita dupla. Assim, é possível inserir um pedaço de DNA de uma célula humana em uma bactéria. Bem como, também é possível inserir um pedaço de DNA bacteriano em uma célula humana. As informações, nas duas situações, serão lidas, interpretadas e copiadas com sucesso. Hereditariedade As células replicam sua informação genética da mesma forma, a partir de um molde, para garantir a hereditariedade. Ou seja, as células liberam uma fita simples do seu material genético como molde no processo de replicação, que servirá de base para a produção de novas moléculas de DNA ou RNA que serão transmitidas para as outras células, via sexuada ou assexuada. Transcrição de RNA A produção de proteínas em todas as células é baseada na transcrição de RNA, que é o intermediário da informação genética. Todas as células utilizam as proteínas como catalisadores de suas reações e produzem essas proteínas da mesma maneira, por meio dos processos de transcrição e tradução. Sendo assim, podemos concluir que, apesar da distinção entre as células, várias característica essenciais, pincipalmente voltadas para transmissão de informação genética, são idênticas, fortalecendo a hipótese de que todas as células têm um ancestral em comum. 1.3 Aminoácidos, proteínas e enzimas: estruturas e função. As proteínas estão presentes e formam muitos componentes do nosso organismo. Elas representam aproximadamente 40% do peso seco do nosso corpo e estão presentes em nossas unhas, cabelos, pele, ossos, músculos, e até no sangue. Além de desempenharem uma função estrutural, há uma classe de proteínas especial, chamadas de enzimas, que aceleram reações químicas em nosso organismo. Na sequência, antes de aprofundar em seus estudos sobre os aminoácidos, proteínas e enzimas, assista ao vídeo especialmente desenvolvido para esta seção. Todas as proteínas têm uma coisa em comum: são formadas pelos mesmos blocos de montagem – os aminoácidos. Nesta seção, iremos explorar características importantes dessas moléculas. 1.3.1 Aminoácidos. Você viu em seus estudos que as proteínas são importantes biomoléculas presentes em nossas células. Todas as proteínas são formadas por aminoácidos, unidos por uma ligação peptídica. A estrutura básica dos aminoácidos é composta por um átomo de carbono central (C), ligado à um grupo ácido carboxílico (COOH), um grupamento amina (NH2) e uma cadeia lateral “R”. A cadeira lateral R é diferente para cada um dos 20 aminoácidos encontrados nas proteínas, e confere propriedades bioquímicas diferentes para cada um deles (ALBERTS, 2017). Os aminoácidos podem ser nomeados de três formas diferentes. Clique nos itens a seguir e confira quais são elas. A primeira delas, é o nome por extenso, como por exemplo “Glicina” ou “Glycine”, do inglês. A segunda forma, é o código de três letras, que utiliza as três primeiras letras do termo e inglês. Continuando o exemplo da glicina, o código de três letras são as iniciais “GLY”. Por fim, há o código de uma letra, onde apenas uma letra, que pode ser a letra inicial ou não associada a determinado aminoácido. No caso da glicina, temos a letra “G” (ALBERTS ,2017). A figura a seguir apresenta a lista com todas as nomenclaturas para os 20 aminoácidos principais, assim como suas estruturas químicas. Atente-se para os grupamentos laterais e as diferenças entre eles, que conferem características aos diferentes aminoácidos em relação a: solubilidade em água (hidrofobicidade), tamanho da molécula, presença de carga, entre outras característica físico-químicas que influenciam diretamente o meio biológico. Em pH neutro, todos os aminoácidos estão em sua forma ionizada (carregada). As propriedades das cadeias laterais influenciam diretamente nas proteínas que serão formadas, e por isso, é muito importante compreendermos porquê essas cadeias são tão importantes. A capacidade de repulsão ou atração de moléculas de água, por exemplo, influenciam no dobramento das proteínas para a sua forma biologicamente ativa. Portanto, caso ocorra alguma troca de um aminoácido hidrofóbico por um hidrofílico, por exemplo, a conformação dessa proteína pode ser alterada, resultando em sua inativação (ALBERTS, 2017). Caso esta proteína seja associada a uma função vital, a célula poderá morrer, e, consequentemente, também morrerá o organismo vivo que carrega essa mutação. Diversas doenças têm base na mutação da trinca codificadora de aminoácidos (chamada de códon), que pode sofrer alterações que resultam na troca de um aminoácido por outro. Nem todos os aminoácidos são produzidos pelos organismos e precisam ser adquiridos via alimentação. Nos seres humanos, os aminoácidos produzidos por nós são chamados de não essenciais ou naturais, ao passo que os que precisamos obter por vias exógenas (alimentação) são os essenciais. Para conhecer a importância dos aminoácidos para a saúde humana, clique nas setas a seguir. Além da formação de proteínas, os aminoácidos desempenham outras funções nas células, como por exemplo em reações de reparo muscular, resistência física e resposta imunológica. Por isso, uma alimentação equilibrada para adequação dos níveis de aminoácidos é de extrema importância. Por meio da alimentação, consumimos proteínas complexas, formadas por muitos aminoácidos e pela ação de enzimas digestivas. Essas proteínas são totalmente degradadas e os aminoácidos, absorvidos individualmente. Para formação das proteínas, um processo que ocorre no interior das células, os aminoácidos são direcionados aos ribossomos. Nessa organela, eles são unidos, por ligações peptídicas, que irão formam a estrutura proteica. O processo de síntese proteica será abordado melhor na próxima unidade. A ligação peptídica ocorre entre o grupo carboxila de um aminoácido e o grupo amina de outro, com a liberação de uma molécula de água. A molécula resultante da ligação entre dois aminoácidos é chamada de dipeptídeo, e para aquelas oriundas da ligação de alguns aminoácidos, damos o nome de oligopeptídeo (a maioria dos peptídeos apresentam até 30 aminoácidos). Quando muitos aminoácidos se unem, damos o nome de polipeptídeos. Aos polipetídeos com função biológica damos o nome de proteínas. Os peptídeos apresentam funções importantes para as células, podendo atuar como hormônios, sinalizadores, antibióticos, entre outros (MARZZOCO, 2015). Confira, na figura abaixo, uma representação de ligação peptídica entre dois aminoácidos. Perceba que a ligação peptídica ocorre entre a hidroxila (OH) presente no Carbono de um aminoácido e o Hidrogênio ligado ao Nitrogênio de outro aminoácido. Dessa reação ocorre a liberação de uma molécula de água. 1.3.2 Proteínas As proteínas são as “engrenagens celulares”. São elas que regulam e possibilitam reações químicas, participam de processos estruturais, de proteção e manutenção basal e vital dos organismos vivos. Geralmente, são formadas pela união de mais de 50 aminoácidos, podendo variar amplamente em conformação e número de aminoácidos. A distribuição de aminoácidos depende da informação genética e conformação associada àquela proteína. Usualmente, todos os 20 aminoácidos principais estão presentes, em proporções variadas. As proteínas têm níveis de estruturação distintos. A estrutura primária engloba a sequência de aminoácidos per se, representada em um único plano, resultante das ligações peptídicas. Veja, na figura a seguir, o nível de organização secundário e terciário das proteínas. Perceba que, além das ligações peptídicas, ocorrem interações entre os próprios aminoácidos. Essas interações fazem com que a cadeia de aminoácidos “dobre-se” sobre si mesma. Dependendo como essas interações ocorrem, formam-se estruturas características chamadas de alfa hélice e folha beta.No nível quaternário, mais complexo, ocorre a interação entre cadeias peptídicas distintas, podendo gerar proteínas com mais de uma subunidade. Nem todas as proteínas possuem esse nível de organização. Nos últimos níveis, a representação ocorre tridimensionalmente como ilustrado pela molécula de hemoglobina a seguir (MARZZOCO, 2015). Perceba, na imagem, que é possível visualizar quatro cadeias, duas alfa e duas beta representadas em amarelo e vermelho. O grupamento heme contendo ferro, ao qual se liga o oxigênio, está representado em verde. O enovelamento das proteínas ocorre em busca da conformação energeticamente mais favorável, ou seja, com menor energia livre. Cada proteína tem uma conformação espacial característica e definida. É importante compreendermos que as estruturas não são fixas, e podem ser alteradas de acordo com o meio e a necessidade celular. Estados transitórios às vezes fazem parte do mecanismo funcional dessas proteínas. A classificação das proteínas pode ser de acordo com sua forma, sendo então classificadas como globulares ou fibrosas. Para conhecer sobre elas, conforme Marzzoco (2015). Proteínas globulares Apresentam forma enovelada, próxima a uma forma esférica. A classe das proteínas globulares é composta por proteínas solúveis que desempenham funções no citosol principalmente. Proteínas fibrosas Possui forma alongada e tem função estrutural. Um exemplo de proteína fibrosa, é a queratina, responsável pela rigidez das unhas, e o colágeno, importante componente da matriz extracelular dos tecidos. 1.3.3 Enzimas As enzimas são proteínas com ação catalisadora ou catalítica. Mas o que é uma ação catalítica? É uma ação que resulta no favorecimento de uma reação química, pela diminuição da energia necessária para que ela ocorra. Diversas reações químicas ocorrem em nosso organismo o tempo todo e a manutenção da vida celular depende de dois fatores (MARZZOCO, 2015). Para conhecê-los, na tabela: Velocidade As reações químicas devem ocorrer em uma velocidade adequada, para que não haja falta nem excesso de certas substâncias em nosso organismo. Especificidade As reações químicas precisam ser altamente específicas, para que produtos definidos sejam produzidos, pois eles são fundamentais para a vida. O primeiro passo da reação enzimática é a ligação ao substrato por meio do seu sítio ativo (porção da enzima o qual se liga ao substrato). A catálise se inicia com o reconhecimento do substrato pela enzima, formando um estado de transição enzima-substrato, que é energeticamente mais favorável a formação dos produtos. Após a ação da enzima, forma-se o produto, que agora é energeticamente estável. É importante entendermos que a enzima faz parte da reação, mas não é modificada durante o processo. A ligação ao substrato é altamente específica, e a reação chega a ser acelerada por fatores, que, às vezes, ficam na casa de milhares! Há um sistema alfa numérico bastante complexo, o qual organiza a nomenclatura das enzimas, de acordo com sua ação, substrato e produto gerado. Por exemplo, a enzima que catalisa a oxidação do etanol por NAD+ é designada álcool: NAD+: oxirredutase e tem o número de classificação EC 1.1.1.1 (EC de Enzyme Comission). Porém, o que prevalece no cotidiano é o nome usual da enzima, nesse caso a enzima é conhecida como álcool desidrogenase. Na terminologia usual, o nome é dado indicando o substrato, seguido de outra palavra terminada em “ase”, que especifica o tipo de reação que a enzima catalisa (MARZZOCO, 2015). As enzimas são classificadas em seis grupos, de acordo com o tipo de reação que catalisam (HARVEY, 2015). Para saber mais sobre elas, clique nos itens abaixo. Oxirredutases Fazem oxidação-redução de moléculas. Transferases Fazem transferências de grupos. Hidrolases Catalisam a quebra de ligações pela adição de água. Liases Adicionam grupos em moléculas que possuem dupla ligação. Isomerases Rearranjos intramoleculares. Ligases Condensação de duas moléculas, consumindo ATP. Há enzimas que necessitam de cofatores para exercer sua função catalítica. Esses cofatores, se associam aos sítios ativos das enzimas e podem ser íons metálicos ou moléculas orgânicas, de complexidade variada, que recebem o nome de coenzimas. Íons metálicos como Zn2+, Fe2+, Cu2+, Mg+, Mn+, e algumas vitaminas são importantes coenzimas. As vitaminas são compostos orgânicos sintetizados por plantas ou microrganismos, indispensáveis ao crescimento e às funções normais dos animais superiores e são requeridos na dieta em pequenas quantidades (microgramas ou miligramas diários). As vitaminas são classificadas como lipossolúveis (vitaminas A, D, E K) e hidrossolúveis, que incluem a vitamina C e as vitaminas do complexo B. Essas são coenzimas importantes para muitas enzimas que participam de vias metabólicas para produção de energia e uma ingestão inadequada pode levar a sérias complicações como anemia, fadiga e perda de memória (HARVEY, 2015). A atividade enzimática pode ser diminuída, também, pela ação de substâncias, genericamente chamadas de inibidores. Esses inibidores podem ser irreversíveis ou reversíveis. Estes, por sua vez, são classificados em competitivos e não competitivos (quando competem ou não com o substrato pelo sítio ativo da enzima). Algumas dessas substâncias são constituintes normais das células, outras são estranhas aos organismos (como alguns compostos organofosforados presentes em pesticidas, e fármacos, como a aspirina e penicilina). Os inibidores enzimáticos encontrados nas células que cumprem um papel regulador importante são designados reguladores alostéricos. Como esses inibidores são produzidos pelas próprias células, a variação de sua concentração é um recurso largamente empregado por elas no controle da velocidade das reações (MARZZOCO, 2015). 1.4 Carboidratos e lipídios: estrutura e função 1.4.1 Carboidratos A fórmula geral dos carboidratos é dada por (CH2O)n. Perceba que seu nome está diretamente ligado à sua fórmula química (hidrato de carbono), embora alguns carboidratos fujam à essa regra. Os carboidratos estão presentes em nossa alimentação, e muitos conferem sabor doce aos alimentos como glicose, frutose e sacarose e são chamados de açúcares ou sacarídeos. Os carboidratos podem ser classificados quanto ao número de suas unidades componentes em monossacarídeos e oligossacarídeos e polissacarídeos. Os monossacarídeos são o tipo mais simples de carboidratos, formados por apenas uma molécula. Podem ser nomeados de acordo com o número de carbonos presentes em sua estrutura: em trioses (3C), tetroses (4C), pentoses (5C) e hexoses (6C). Os monossacarídeos são classificados de acordo com o grupo funcional que possuem, em cetoses e aldoses, que contêm grupo funcional do tipo cetona ou aldeído, respectivamente (MARZZOCO, 2015). Veja na próxima figura a estrutura linear de monossacarídeos com diferentes números de carbonos e grupos funcionais. Em soluções aquosas, como o citosol, os monossacarídeos com mais de quatro carbonos apresentam estrutura cíclica. Por exemplo, as moléculas de glicose e frutose são monossacarídeos com seis carbonos, chamadas de hexoses e adquirem a estrutura cíclica em meio aquoso. Em geral, as formas cíclicas prevalecem nas células. Para a molécula de glicose, por exemplo, apenas 1% permanece na forma aberta (HARVEY, 2015). Os oligossacarídeos são polímeros de monossacarídeos, ligados por ligações glicosídicas. As ligações glicosídicas são ligações covalentes que ocorrem entre dois monossacarídeos, por meio da interação entre duas hidroxilas, com liberação de uma molécula de água. Agora, observe na figura a seguir, uma ligação glicosídica alfa-1,4, em outros termos, uma ligação glicosídica entre o carbono 1 de um monossacarídeo e o carbono 4de outro monossacarídeo. Os oligossacarídeos com maior função biológica são os dissacarídeos (união de dois monossacarídeos). Entre os dissacarídeos, os mais comuns são consequência da ligação entre glicose e frutose, gerando a sacarose (componente do açúcar de mesa); glicose e galactose, gerando, por sua vez, a lactose (o açúcar presente no leite). Você sabia que a junção de centenas de monossacarídeos dá origem aos polissacarídeos? Eles são moléculas de reserva nos seres vivos, como o glicogênio nos animais e o amido nos vegetais. Os polissacarídeos podem ainda ter função estrutural, como a quitina e a celulose nas plantas. Para saber mais sobre o tema. Fator chave A ligação glicosídica é um fator chave para a formação estrutural desses carboidratos complexos, que exercem as funções primordiais de armazenamento e estrutura, além de diversas outras, como sinalização celular. Adição de moléculas A adição de moléculas, para formação das estruturas lineares longas é possível, pela presença das extremidades redutoras que possibilitam a adição e remoção de novas moléculas de glicose e alongamento ou diminuição da estrutura (MARZZOCO, 2015). A figura a seguir apresenta uma estrutura de carboidratos. Observe que os destaques em verde são as unidades formadoras. Em azul, temos as unidades de ramificação. E, por sua vez, em vermelho, estão as unidades redutoras, pelas quais é possível fazer a adição ou remoção de unidades. As funções principais dos polissacarídeos são de armazenamento e estrutural. Além disso, são fonte principal para o metabolismo energético das células. As moléculas mais simples, como a glicose, são o combustível celular e base de rotas bioquímicas complexas que necessitam de energia ou precursores gerados na via da glicólise. Para ampliar seus conhecimentos sobre a glicose. Principal carboidrato A glicose é o principal carboidrato obtido pela alimentação nos seres humanos, que é baseada essencialmente na ingestão de amido (polissacarídeo de glicose), sacarose (dissacarídeo de glicose) e lactose (dissacarídeo de glicose e galactose). Vias metabólicas Essa glicose é, então, clivada e utilizada pelas vias metabólicas, garantindo a sobrevivência das células. (MARZZOCO,2015). Você sabe por que os seres humanos não digerem a celulose, presente na alface e na rúcula? Mesmo sendo um polissacarídeo de glicose, assim como o amido (presente na batata e no arroz), os seres humanos não conseguem digeri-la para obter moléculas de açúcar isoladas e utilizar para produzir energia! Na celulose, as unidades de glicose são polimerizadas por ligações glicosídicas entre os carbonos 1 (com configuração β) e 4: ligações β-1,4. Os seres humanos não possuem a enzima digestiva necessária para a quebra desta ligação específica, e, portanto, a celulose proveniente dos vegetais que ingerimos não é digerida em nosso trato gastrointestinal, sendo considerada uma fibra dietética (HARVEY, 2015). A glicose é um carboidrato chave para a sobrevivência humana. Ela é o combustível básico das funções neurológicas e, sem ela, o cérebro pode entrar em colapso. Por isso, períodos longos de jejum ou atividade física muito intensa sem reposição energética podem causar danos ao cérebro. Toda a maquinaria celular é sustentada pela via da glicólise e outras rotas alternativas, que geram energia, sob a forma de calor e ATP. 1.4.2 Lipídios O termo lipídio, conhecido como gordura ou óleo em nosso cotidiano, muitas vezes é tachado como vilão da nossa dieta. Porém, essas moléculas são importantes fontes de energia para nosso organismo. Isto porque os lipídios participam da estrutura das nossas membranas plasmáticas e servem como precursores para a síntese de vitaminas e hormônios. Os lipídios formam um grupo de moléculas bastante diverso e possuem a característica de serem pouco solúveis em água. Fazem parte desse grupo de moléculas os ácidos graxos e os esteroides (como por exemplo, o colesterol). Vamos conhecer um pouco mais sobre essas moléculas? Ácidos graxos Os ácidos graxos geralmente são compostos por uma cadeia carbônica longa, com número par de átomos de carbono e sem ramificações, podendo ser saturada (conter apenas ligações simples entre os átomos de carbono) ou conter uma ou mais instaurações (ligações duplas) ao longo da cadeia. Ácidos graxos saturados Os compostos que contém apenas ligações simples são chamado de ácidos graxos saturados. Monoinsaturados e poli-insaturados Já aqueles que contém apenas uma ligação dupla são chamados de monoinsaturados e duas ou mais ligações duplas poli- insaturados (RODWELL, 2017). Agora, confira, na figura a seguir, a estrutura molecular e tridimensional de dois ácidos graxos. Analisado a estrutura da molécula, perceba que em uma das extremidades temos uma carboxila (COO-) e na outra extremidade um CH3. Em uma das nomenclaturas utilizadas para identificar as ligações químicas das moléculas de ácidos graxos, o carbono da extremidade CH3 é identificado como carbono de número 1 ou também chamado de carbono ômega (ω). Ao representar a fórmula geral de um ácido graxo, identificamos em primeiro lugar o número de carbonos totais da molécula, em seguida (separado por dois pontos), o número de ligações duplas que ela possui. Por fim, indicamos a posição da primeira ligação dupla presente na cadeia. Lembre-se de que o primeiro carbono da cadeia extremidade CH3 é chamado de ômega, e, se a primeira ligação dupla está no segundo carbono, ela será chamada de ômega-2, se estiver no 6 carbono, ômega-6. (MARZZOCO, 2015). Para ampliar sua compreensão sobre o tema, vamos tomar como exemplo o ácido oleico, apresentado anteriormente; veja: 18:1 ω-9 Observe que esse ácido graxo possui 18 carbonos e uma ligação dupla em sua estrutura. A ligação dupla está no carbono número nove. Como vimos, os ácidos graxos poli-insaturados chamados de ômega-3 são aqueles que possuem uma ligação dupla entre o terceiro e quarto carbono da cadeia (numerado a partir do carbono 1, ou carbono ômega). Pode haver mais duplas ligações ao longo da cadeia, porém, apenas uma é identificada. Alimentos como peixes (atum, salmão e sardinha) e azeite de oliva são fontes destes ácidos graxos. Lembrando que o EPA é o ácido eicosapentaenoico. Há o DHA é o ácido docosaexaenoico. E, por sua vez, o ALA é o ácido alfa-linolênico; são ácidos graxos do tipo ômega-3, que trazem inúmeros benéficos à saúde. O último é encontrado no azeite extra virgem, e os dois primeiros, em peixes como salmão e sardinha. À temperatura ambiente, os ácidos graxos podem apresentar consistência diferentes. Ácidos graxos saturados com mais de 14 carbonos são sólidos e, se possuírem pelo menos uma dupla ligação, são líquidos. O grau de fluidez das membranas biológicas depende, então, do tipo de ácido graxo presente nos seus lipídios estruturais. A diversidade lipídica é espécie-dependente, sendo que alguns só são produzidos por vegetais, outros apenas por microrganismos e outros apenas por mamíferos, por exemplo. Sendo assim, o consumo de diferentes formas de ácidos graxos é o ideal para a manutenção da saúde humana (RODWELL, 2017). Os ácidos graxos livres são pouco encontrados nos organismos vivos e mais frequentemente estão ligados a uma molécula de glicerol (um tipo de álcool) formando os triglicerídeos ou triacilgliceróis. Tecido adiposo Nos vertebrados, os triacilgliceróis são estocados no tecido adiposo, localizado no espaço subcutâneo e visceral. Esse tecido atua também como isolante térmico e na proteção contra os choques mecânicos. Reserva de energia Os triacilgliceróis são os lipídios mais abundantes na natureza, atuam como reserva de energia e são formados por três moléculas de ácidos graxos esterificadas (ligadas) a uma molécula de glicerol Gorduras animais Os ácidos graxospodem ser iguais ou diferentes entre si. Os triacilgliceróis das gorduras animais são ricos em ácidos graxos saturados, o que atribui a esses lipídios uma consistência sólida à temperatura ambiente. Óleos vegetais Os ácidos graxos de origem vegetal, ricos em ácidos graxos insaturados, são líquidos. Os óleos vegetais que são utilizados para a fabricação de margarinas passam por um processo de hidrogenação, que reduz parte de suas duplas ligações e os torna sólidos à temperatura ambiente (MARZZOCO, 2015). Acompanhe, na sequência, uma representação de um triacilglicerol formado pela ligação de um glicerol e três ácidos graxos. Outro tipo de lipídio com importante função biológica são os fosfolipídios. Eles são compostos de maneira semelhante aos triacilgliceróis, porém, possuem apenas duas cadeias de ácidos graxos ligados à molécula de glicerol. Na terceira posição do glicerol, liga-se um grupo fosfato, que ainda pode se ligar a outras moléculas. Essa configuração molecular confere aos fosfolipídios um caráter anfipático. Isso significa que uma porção da molécula é hidrofílica ou polar (cabeça de fosfato), e a outra é hidrofóbica ou apolar (cauda de ácidos graxos) (RODWELL, 2017). Na estrutura do fosfolipídeo observe uma porção hidrofóbica (caudas de ácidos graxos) e uma hidrofílica (grupamento fosfato ligado ao glicerol). Além dos ácidos graxo, triglicerídeos e fosfolipídios há uma outra classe de lipídios importantes, chamada de esteroides. Os esteroides possuem uma conformação bastante diferente dos ácidos graxos, que são cadeias carbônicas lineares. Essa classe de lipídios apresenta um núcleo tetracíclico característico em sua estrutura. O principal representante desse grupo é o colesterol. O colesterol é o esteroide mais abundante nos tecidos animais. É capaz de servir de precursor para síntese de todos os outros esteroides, que incluem hormônios esteroides (hormônios sexuais e do córtex das glândulas suprarrenais), sais biliares e vitamina D (MARZZOCO, 2015). Por fim, o colesterol apresenta uma função estrutural importante, compondo a membrana plasmática das células. Os triacilgliceróis e as moléculas de colesterol provenientes da dieta, e mesmo aquelas produzidas por via endógena, viajam na corrente sanguínea em partículas chamadas de lipoproteínas. São agregados moleculares solúveis formados por um núcleo central hidrofóbico de triglicerídeos e ésteres de colesterol (colesterol ligado a um ácido graxo). Esse núcleo é envolto por uma cada de fosfolipídios e proteínas chamadas de apoproteínas. Essa partícula se torna solúvel em água devido à cabeça do fosfolipídio ser hidrofílica. Dependendo do tamanho e composição (quantidade de lipídios e proteínas) dessas Lipoproteínas elas são chamadas de Lipoproteínas de alta (HDL), baixa (LDL) e muito baixa (VLDL) densidade além dos quilomícrons (RODWELL, 2015). Na sequência, observe a representação de lipoproteínas de alta e baixa densidade (HDL e LDL) transportadoras de colesterol e triglicerídeos na corrente sanguínea. Graças às lipoproteínas é possível transportar moléculas de ácidos graxos e colesterol por todo organismo para que eles possam desempenhar suas funções energética, estrutural, de sinalização e precursora de hormônios nos diferentes órgãos. Sendo assim, podemos entender os lipídios e carboidratos não somente como moléculas provenientes da nossa dieta que nos fornecem energia, mas também como importantes constituintes estruturais das nossas células. Eles são essenciais para a manutenção da vida celular e, por consequência, de todo nosso organismo. Síntese Concluímos o primeiro capítulo sobre Evolução das células e composição química dos organismos. Agora você já conhece as células e as macromoléculas fundamentais para a vida. Espero que você tenha compreendido e aproveitado as informações. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: Descrever como a vida surgiu na terra; Conceituar átomos e moléculas essenciais para a vida; Relacionar a forma das proteínas com sua composição de aminoácidos; Descrever carboidratos e lipídios com funções biológicas relevantes; Relacionar as moléculas a condições fisiológicas e patológicas que ocorrem em nosso organismo.
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