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47 DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR Objetivos • Compreender conceitos importantes sobre doenças alimentares. • Conhecer os principais alimentos e agentes etiológicos envolvidos nas doenças alimentares. • Compreender as diferenças entre os diversos agentes etiológicos causadores de doenças (infecciosos e intoxicativos). Conteúdos • Conceitos importantes nas DTAs. • Principais agentes patogênicos. • Cuidados e condutas na preservação dos alimentos. Orientações para estudo da unidade Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir: 1) Não se limite apenas a este conteúdo; busque outras informações em sites confiáveis e/ou nas referências bibliográficas apresentadas ao final de cada unidade. Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engajamento pessoal é um fator determinante para o seu crescimento intelectual. 2) Busque identificar e compreender os principais conceitos relacionados às DTAs apresentados. Eles serão de extrema importância para a sequência dos estudos. 3) Ao final da unidade, procure pontuar os principais aspectos relacionados aos microrganismos estudados. Montar uma tabela que contenha os UNIDADE 2 48 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR principais microrganismos e suas característica mais importantes forma um painel que facilita a compreensão. 49© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR 1. INTRODUÇÃO Quando falamos de controle higiênico sanitário dos alimentos, um tema em especial deve ser sempre lembrado: as doenças de origem alimentar. Os surtos causados por elas ainda são alvo de preocupação de órgãos de saúde no Brasil e em todo o mundo. Apesar dos avanços tecnológicos na área e do acesso a informações que auxiliam no esclarecimento do assunto, os números registrados de doenças alimentares continuam crescendo. Por isso, esse tema é tão relevante e merece ser bem estudado. Nesta unidade, aprenderemos o conceito de Doenças de Origem Alimentar (ou Doenças Transmitidas por Alimentos – DTA) e as diferenças entre os principais conceitos relacionados a elas, entre eles, toxinoses, toxinfecção alimentar e intoxicações químicas e infecções, bem como começaremos a discutir as possíveis condutas que previnem essas doenças transmitidas por alimentos. Na Unidade 1, conhecemos quais são os microrganismos e como funcionam seu metabolismo. Agora estudaremos os principais agentes patogênicos causadores de Doenças Transmitidas por Alimentos e também faremos uma introdução ao assunto da próxima unidade, que são as condutas para a preservação dos alimentos. 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma sucinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelos estudos do Conteúdo Digital Integrador. 50 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR 2.1. CONCEITOS IMPORTANTES SOBRE DTA Nas últimas décadas, o hábito alimentar do brasileiro tem sofrido diversas alterações, em grande parte por mudanças nas estruturas familiares e também pela rotina extenuante de trabalho. É cada vez mais comum as pessoas optarem pela alimentação fora de casa, por ser mais rápida e prática. Esse fenômeno alavancou o setor alimentício no país, que hoje já apresenta grande representatividade na economia nacional. Com isso, surgiu a preocupação dos órgãos competentes em fiscalizar essas atividades, na tentativa de garantir o controle higiênico-sanitário dessas produções, garantindo, assim, um alimento seguro para o consumidor final. Mas, afinal, o que é considerado um alimento seguro? Para Forsythe (2013), este é um termo difícil de definir, pois acredita ser um termo relativo, que associa um nível aceitável de risco com uma determinada população ou subgrupo específico. Apesar de serem pontos relevantes e que devem ser analisados, podemos considerar que um alimento seguro é aquele que não apresenta risco de causar danos à saúde do consumidor. Para isso, é necessário ter um controle de todas as etapas do processo produtivo desse alimento, desde a obtenção da matéria-prima até o fornecimento do produto final. A verdade é que lidar com problemas de segurança alimentar é um grande desafio, pois, além das mudanças de estilo de vida que ocorrem com o passar do tempo, os agentes causadores de doenças também mudam, permitindo o surgimento de patógenos antes desconhecidos. As doenças relacionadas à alimentação são comuns e têm se mostrado cada vez mais frequentes no país, apesar dos 51© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR recursos técnicos disponíveis, como as Boas Práticas e o Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (assuntos que serão abordados nas Unidades 3 e 4 respectivamente). Assim, torna-se necessário um estudo mais aprofundado sobre as doenças transmitidas pelos alimentos (SILVA JUNIOR, 2014). Na literatura, encontramos diversas denominações em siglas para as doenças de origem alimentar, dentre elas DVA (Doenças Veiculadas por Alimentos), DTA (Doenças Transmitidas por Alimentos) e ETA (Enfermidades Transmitidas por Alimentos). Todas são corretas e transmitem a mesma ideia, e o uso de cada uma varia de autor para autor. Segundo Silva Junior (2014, p. 53), pode-se dizer que: Doenças transmitidas por alimentos (DTA’s) são todas as ocorrências clínicas consequentes da ingestão de alimentos que possam estar contaminados com microrganismos patogênicos (infecciosos, toxinogênicos ou infestantes), substâncias químicas, objetos lesivos ou que contenham em sua constituição estruturas naturalmente tóxicas, ou seja, são doenças consequentes da ingestão de perigos biológicos, químicos ou físicos presentes nos alimentos. Para entendermos melhor essa definição, é preciso que fiquem claros alguns conceitos básicos. De forma simplificada, de acordo com a interpretação clássica, pode-se agrupar as DTAs em duas grandes categorias: • Infecções: são causadas pela ingestão de microrganismos patogênicos. Os sintomas advêm do desenvolvimento e multiplicação dos agentes ou da produção de toxinas por eles. As infecções podem se manifestar de duas formas: invasiva ou não invasiva (normalmente uma prevalece à outra). Na forma invasiva, o microrganismo penetra e invade a mucosa intestinal do hospedeiro, 52 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR causando diarreia com sangue e pus, dores abdominais, desidratação e febre. Já na forma não invasiva, os microrganismos conhecidos como toxigênicos (toxinfecção) liberam suas toxinas na luz intestinal. Nesses casos, a diarreia é mais intensa, mas sem sangue, com febre mais discreta e a desidratação também é comum (SILVA JUNIOR, 2014) • Intoxicações: são causadas pelo consumo de alimentos contaminados por toxinas provenientes da multiplicação dos microrganismos patogênicos. Os sintomas mais comuns são o vômito (por uma provável ação da toxina no sistema nervoso central) e a diarreia (por uma provável ação da toxina na permeabilidade vascular). Ainda nas infecções, existem aquelas do tipo não bacterianas, que estão associadas à intoxicação por metais pesados, fungos (presença de micotoxinas), animais tóxicos (presença de aminas biogênicas), agrotóxicos, entre outros (SILVA JUNIOR, 2014). Fonte: Silva Junior (2014, p. 55). 53© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR Além da interpretação clássica, há também uma nova interpretação, utilizada a partir de 1994. Nela são destacados os seguintes conceitos: toxinose, intoxicação química, infecção e infestação. 1) Toxinose: ingestão direta de toxinas bacterianas já presentes nos alimentos, decorrente da multiplicação de bactérias. Os sintomas apresentados variam de acordo com a toxina ingerida e surgem de formarápida, entre 1 e 4 horas (ASSIS, 2011; SILVA JUNIOR, 2014). 2) Intoxicação química: ocorre pela ingestão de substâncias químicas e é dividida nas seguintes categorias: • De origem: ingestão de substâncias tóxicas existentes naturalmente nos alimentos, como as cianotoxinas encontradas nas algas, a edrotoxina, típica do baiacu, a solanima, presente nas batatas e o ácido cianídrico (ou cianeto), encontada na mandioca-brava (ASSIS, 2011; SILVA JUNIOR, 2014). • Produzida: ingestão de substâncias tóxicas produzidas por fungos (micotoxinas) e organismos psicrotóficos (aminas vasopressoras alergênicas) (SILVA JUNIOR, 2014). • Adicionada: ingestão de substâncias químicas, como agrotóxicos, pesticidas, raticidas, antibióticos (mau uso nas plantações e criações de animais), ou ainda de substâncias inorgânicas, como chumbo e mercúrio. Essas substâncias não são inativadas pelo calor, ou seja, mesmo passando pelo processo de cocção, elas permanecem no alimento (ASSIS, 2011; SILVA JUNIOR, 2014). 54 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR 3) Infecção: ingestão de microrganismos que se multipli- cam no organismo, produzindo toxinas ou invadindo a mucosa intestinal. Seu período de incubação demora de 12 a 18 horas. Pode ser dividida em: não invasiva, por produção ou liberação de toxinas no intestino; in- vasiva celular (destruição de células locais) ou invasiva sistêmica (agressão e penetração pelo epitélio intes- tinal, caindo na circulação sanguínea) (SILVA JUNIOR, 2014). 4) Infestação: parasitoses com ação intestinal. Fonte: Silva Junior (2014, p. 56) 2.2. PRINCIPAIS AGENTES PATOGÊNICOS De acordo com dados da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Sáude (SVS/MS), entre 1997 e 2014, 55© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR foram notificados 7.170 casos de surtos de doenças alimentares (tema que será aprofundado na Unidade 4), acometendo mais de 120.000 pessoas. Nos casos identificados, as bactérias foram os maiores agentes causadores, seguidas pelos vírus, agentes químicos e protozoários. Para combater o avanço desses números, é importante que medidas preventivas sejam tomadas, mas, para isso, é necessário conhecer primeiro os principais agentes patogênicos, seus mecanismos de ação e quais os alimentos mais susceptíveis à ocorrência dos surtos, para então traçar uma estratégia de combate a essas doenças. Vamos começar falando das principais causadoras de DTAs. As leituras indicadas no Tópico 3.1 tratam dos principais agentes patogênicos. Neste momento, você deve realizar es- sas leituras para aprofundar o tema abordado. Bactérias Como afirmado anteriormente, as bactérias são o agente causador responsável pelo maior número de doenças alimentares. Vejamos, então, as bactérias mais destacadas nessa área. Bacillus cereus O agente é um bacilo Gram-positivo, aeróbio facultativo, flagelado formador de esporos e produtor de uma exo- enterotoxina (GERMANO; GERMANO, 2008; ASSIS, 2011). Encontra-se com frequência no solo, água, cereais e grãos, 56 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR hortaliças (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). Há dois tipos de doenças causadas pelo B. Cereus: a diarreica e a emética (FORSYTHE, 2013). Na síndrome diarreica, produz toxinas durante a multiplicação no intestino delgado, que é inativada a 56°C por 30 minutos. Seu tempo de incubação varia de 8 a 24 horas e seus principais sintomas, que persistem por aproximadamente 24 horas, são diarreia aquosa, cólicas e dores abdominais, náuseas e raramente vômitos (FORSYTHE, 2013; SILVA JUNIOR, 2014). Está associada a produtos cárneos, pescados, hortaliças, leite e derivados, sopas, molhos, ervas secas e especiarias (GERMANO; GERMANO, 2008). Já na síndrome emética, as toxinas são preformadas nos alimentos e resistentes ao calor (126°C por 90 minutos). Seu tempo de incubação varia entre 0,5 e 6 horas após o consumo do alimento contaminado. Seus sintomas principais, que duram menos de 24 horas, são náuseas, vômitos, cólicas abdominais e raramente diarreia (FORSYTHE, 2013; SILVA JUNIOR, 2014). Os surtos costumam estar relacionados a produtos à base de arroz e produtos amiláceos (FORSYTHE, 2013; GERMANO, 2008). O arroz possui esporos que resistem ao processo de cocção e germinam durante o armazenamento, se conservados em temperatura entre 10 e 50°C. O posterior reaquecimento não é capaz de inativar as toxinas formadas (GERMANO; GERMANO, 2008). São indicadas como medidas de controle: controle de temperatura no tratamento térmico e sobretudo no armazenamento (que deve ocorrer abaixo de 4°C ou acima de 60°C. A estocagem abaixo de 10°C inibe a proliferação B. Cereus (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008). 57© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR Campylobacter sp São duas as espécies causadoras: C. coli e C. jejuni, esta última sendo responsável por aproximadamente 90% dos casos. São bacilos Gram-negativos, flagelados, espiralados, não formam esporos e têm temperatura ótima de proliferação de 42 a 43°C e não se multiplicam em temperaturas menores que 30°C. São encontradas no trato gastrointestinal bovino, caprino, suíno e de aves, sendo o frango a maior fonte (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008; ASSIS, 2011). O C. jejuni é o principal causador de enterocolite no Brasil e sua transmissão se dá por contato direto com animais contaminados e indiretamente pela ingestão de água, produtos cárneos e leite cru ou não pasteurizado de forma suficiente (GERMANO; GERMANO, 2008). A bactéria adere à mucosa intestinal, onde se multiplica e produz uma enterotoxina citotóxica (GERMANO; GERMANO, 2008). Seu tempo de incubação é de 2 a 5 dias, podendo chegar até 10, e seus sintomas são semelhantes aos da gripe, tem duração de 1 semana, e caracteriza-se por diarreia, náusea, vômito e febre (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008). As medidas de controle incluem: tratamento térmico, controle de qualidade da água para abastecimento, prevenção de contaminação cruzada (higienização correta de superfícies, utensílios e equipamentos), processos higiênicos de abate e boas práticas de higiene pessoal. Clostridium botulinum É um bacilo Gram-positivo, anaeróbio estrito, formador de esporos ovais. O botulismo é uma intoxicação alimentar grave, de evolução aguda, causada pela ingestão de neurotoxina 58 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR preformada. O microrganismo é encontrado em toda a natureza, incluindo solo, água, mamíferos, peixes, aves, frutas e vegetais crus (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008). O botulismo clássico ocorre pela ingestão de alimentos já contaminados pela toxina. Seu tempo de encubação varia entre 12 e 76 horas. A toxina é absorvida pelo intestino, cai na corrente sanguínea e atinge o sistema nervoso central. Ao atingir o sistema neuromuscular, causa paralisia muscular. Além disso, também são sintomas: fraqueza, fadiga, vertigem, náuseas, vômitos, falhas respiratórias, secura na boca, dificuldade para deglutir e falar, sem febre, podendo levar à morte (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). O botulismo está associado a produtos embutidos (salsicha, salame, presunto) ou enlatados, principalmente conservas caseiras, devido a procedimentos inadequados na sua preparação (esterilização insuficiente e pH acima de 4,6). (GERMANO; GERMANO, 2008). Esporos são encontrados em carnes, laticínios, mel, vegetais e peixes (ASSIS, 2011). As toxinas são termolábeis e podem ser inativadas em de 10 a 30 minutos a 80°C ou em 10 minutos a 100°C (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). Há ainda o botulismo infantil, que ocorre em crianças menores de 12 meses de idade devido ao consumo de esporos, que germinam dentro do trato gastrointestinalda criança, dando origem a células vegetativas que produzem a toxina. Tal fato ocorre devido à imaturidade da microbiota intestinal da criança, que é incapaz de impedir o crescimento da bactéria. O mel é o alimento mais associado a esse quadro (GERMANO; GERMANO, 2008). 59© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR Entre as principais medidas de controle, temos: adoção de procedimentos eficazes no combate à germinação, multiplicação e produção das toxinas (processamento térmico, controle de pH, tempo e temperatura) (GERMANO; GERMANO, 2008; ASSIS, 2011); preferência por conservas industrias ao invés das caseiras; conservação dos alimentos em temperatura de refrigeração ou congelamento (a multiplicação se dá entre 3 e 50°C), além de processos de salga, visando diminuir a atividade de água (GERMANO; GERMANO, 2008). Clostridium perfringens É um bacilo Gram-positivo, não flagelado, anaeróbico, eventualmente aerotolerante e formador de esporos. É agrupado em cinco tipos (de A a E), dependendo do tipo de exotoxina produzida. Os tipos A, C e D são patogênicos para o homem (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008). Está amplamente distribuído no ambiente (terra e água), no intestino do homem e em animais, hortaliças e temperos (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). As enterotoxinas A e C são responsáveis pelo quadro agudo de diarreia. A cepa tipo A é mais comum e também é responsável pela gangrena gasosa. O tipo C é responsável pela enterite necrótica, doença grave que pode ser fatal, porém é mais rara (GERMANO; GERMANO, 2008). Seu período de incubação varia entre 8 e 22 horas e seu sintomas mais comuns são dor abdominal, náusea e diarreia aguda, sem febre (FORSYTHE, 2013; SILVA JUNIOR, 2014). A infecção é causada pela ingestão de células vegetativas, que sobrevivem ao pH ácido do estômago e atingem o intestino, onde se desenvolvem, esporulam e liberam a toxina (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008). 60 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR A principal via de transmissão se dá pelo consumo de alimentos contaminados por fezes ou sujidades do solo (GERMANO; GERMANO, 2008). A contaminação ocorre pelas mãos dos manipuladores, matéria-prima, superfícies de trabalho e contaminação cruzada (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). Os alimentos mais envolvidos são carnes e produtos cárneos, aves, molhos de carne, feijões e legumes cozidos (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). A multiplicação do C. perfringens ocorre entre 12 e 50°C e a inativação, a 100°C por 20 minutos (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). As medidas principais de controle envolvem resfriamento rápido dos alimentos cozidos, atingir temperatura mínima de 70°C no reaquecimento e conservação dos alimentos acima de 60°C ou abaixo de 4°C (GERMANO; GERMANO, 2008). Escherechia coli A E. coli é uma bactéria Gram-negativa, não esporulada, membro da família Enterobacteriaceae, gênero com apenas uma espécie, e suas cepas são divididas de acordo com os sintomas clínicos e com os mecanismos de patogenicidade (FORSYTHE, 2013). É encontrada nos intestinos dos animais e do homem, no solo, água de rios e lagos (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). Apenas algumas cepas são capazes de provocar doença nos homens. As principais classes causadoras de gastroenterites no homem são: 1) Enteropatogênica (Epec): causa diarreia sanguinolenta em recém-nascidos e lactentes; causa vômitos, febre e 61© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR diarreia aquosa contendo muco, mas não sangue para todos os outros indivíduos que adquirirem a doença. A bactéria coloniza o intestino, invade a mucosa causando a lesão e perda das microvilosidades das células epiteliais. Seu tempo de incubação é de 12 a 72 horas. Os principais alimentos envolvidos nos surtos são a carne bovina e de frango cruas, alimentos contaminados por fezes ou água contaminada (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). 2) Enterotoxigênica (Etec): conhecida como diarreia dos viajantes, causa diarreia aquosa com aparência de água de arroz e produz febre baixa. O tempo de incubação varia entre 8 e 72 horas. Alimentos contaminados por esgoto ou manipuladores infectados são as principais fontes de patógenos (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). 3) Enteroinvasiva (Eiec): acomete jovens e adultos, causa febre e diarreia contendo muco e sangue. Seu tempo de incubação varia entre 12 e 72 horas. Os alimentos mais envolvidos na Eiec são os contaminados por fezes humanas ou água contaminada, carne de hambúrguer e leite não pasteurizado (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). 4) Enterohemorrágica (Ehec): acomete com gravidade principalmente crianças e idosos. O quadro de colite hemorrágica caracteriza-se por diarreia sanguinolenta profusa, dor abdominal intensa e vômitos, pode ou não ocorrer febre. O tempo de incubação varia entre 12 e 72 horas, mas os primeiros sintomas costumam aparecer após 4 dias da ingestão. Hambúrguer malcozido ou 62 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR cru ou leite cru são os principais alimentos envolvidos nas contaminações (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). Sua temperatura ótima é de 37°C, sobrevive até 9 meses a –20°C e resiste até 68°C (GERMANO; GERMANO, 2008). As principais vias de contaminação são os alimentos de origem animal e vegetal, quando consumidos cru ou malcozidos, além do consumo de água não tratada. Há também a contaminação cruzada entre alimentos cru e cozidos e por má higiene do manipulador (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). A presença de E. coli é indicativa de contaminação fecal (presença de coliformes fecais). Por isso, uma das medidas de controle envolve a adoção de Boas Práticas de Produção, principalmente no que diz respeito à higiene do manipulador. A prevenção e controle passam também pela higiene do abate e ordenha, pasteurização de produtos lácteos; higiene de instalação e equipamentos; tratamento térmico adequado e resfriamento rápido dos alimentos (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). Listeria monocytogenes É um bacilo Gram-positivo, não forma esporos, aeróbio facultativo e não possui flagelos. Multiplica-se à temperatura de refrigeração e congelamento (entre 2,5 e –44°C). São menos sensíveis ao calor e a pasteurização já é suficiente para destruir o organismo (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008). As listérias são encontradas no ambiente: solo, água, esgoto, vegetais em putrefação, silagem e ração animal. Acometem 63© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR diversas espécies animais, além do próprio homem, aves e alguns pescados (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). O agente penetra no organismo, preferencialmente em indivíduos com o sistema imune debilitado, atinge o trato gastrintestinal aderindo e invadindo a mucosa e, em seguida, é fagocitado por macrófagos (GERMANO; GERMANO, 2008). O período de incubação é variável, de um dia até três semanas (FORSYTHE, 2013). Os sintomas iniciais são semelhantes aos da gripe e também cólica, diarreia, febre, calafrio, dor de cabeça, mal- estar e prostração (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). Pode levar ao aborto, nascimento de feto natimorto ou prematura quando a mulher é infectada no segundo ou terceiro semestre de gravidez (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008). Entre os principais alimentos envolvidos, podemos destacar os produtos lácteos, leite cru, sorvetes, queijos, produtos cárneos e peixes crus ou mal-cozidos, vegetais (rabanete, batata, pepino, repolho e alface) (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). A contaminação pode ser tanto de natureza ambiental quanto proveniente das própriasinstalações agroindustriais. Neste caso, a contaminação é facilitada, pois a bactéria possui grande capacidade de sobrevivência no solo, piso e ralos, superfícies, água e alimentos, causando grande preocupação para a indústria. Por isso, as práticas de controle de segurança e qualidade dos alimentos são muito importantes (Boas práticas de fabricação e sistema APPCC (GERMANO; GERMANO, 2008). Além disso, é preciso correto tratamento térmico, refrigeração, armazenamento e reaquecimento adequados, além de evitar 64 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR contaminação cruzada e produtos de alto risco (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008). Salmonella sp As infecções causadas pelas bactérias do gênero Salmonella são uma importante DTA no mundo todo, com significativa morbidade, mortalidade e perdas econômicas (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008). São bacilos Gram-negativos, não formadores de esporos, anaeróbios facultativos, móveis em sua maioria (presença de flagelos petríquios). Fermenta a glicose, produzindo ácido e gás. Sua temperatura ótima para multiplicação é de 37°C. Podem ser destruídas a 60°C, por de 15 a 20 minutos (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008). Seus reservatórios estão, em sua maioria, no trato gastrointestinal das aves, de mamíferos silvestres e domésticos. Também são encontradas no intestino humano, em rações animais, gema de ovos, hortaliças plantadas em ambiente com esterco animal ou humano (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). A transmissão se dá pelo ciclo fecal oral, em que o homem consome alimentos (de origem animal ou vegetal) contaminados por fezes e água (GERMANO; GERMANO, 2008). A contaminação se dá pelo cozimento inadequado de alimentos contaminados; contaminação da gema do ovo pela galinha infectada, além da contaminação cruzada entre alimentos crus contaminados e alimentos prontos para o consumo (SILVA JUNIOR, 2014). Os alimentos mais envolvidos são aqueles com alto teor de umidade e alta porcentagem de proteína (aves, carnes, ovos, 65© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR produtos lácteos). Verduras e frutas podem ser contaminados durante o plantio (uso de adubo e água contaminado com fezes). Peixes e frutos do mar, molhos e temperos de saladas, cacau e coco são outros exemplos de alimentos que podem ser contaminados pela bactéria (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). As espécies de salmonelas penetram no epitélio, provocando inflamações no intestino. Distintos tipos de salmonela geram diferentes doenças. De maneira geral, as doenças causada pela salmonela têm como sintomas cólicas abdominais, náuseas, vômitos, diarreia, calafrios, com ou sem febre. Possuem período de incubação de 8 a 22 horas e o quadro clínico pode persistir por um ou dois dias (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). O caso mais grave de salmonelose é aquele causado pela S. typhi, causadora da febre tifoide, forma mais grave da doença, que causa risco de vida (mortalidade próxima a 10%). Seus sintomas tópicos são febre alta, disenteria (fezes com muco, pus e sangue), letargia, hipotensão, septicemia. Seu período de incubação é de 7 a 28 dias (FORSYTHE, 2013; SILVA JUNIOR, 2014). As melhores maneiras de realizar o controle da doença são: tratamento de água e esgoto; higiene pessoal adequada, pasteurização do leite; manipulação adequada dos alimentos; adotar técnicas que evitem contaminação cruzada; tratamento dos animais enfermos e cuidados na prescrição de antibióticos (em humanos) para reduzir a ocorrência de cepas resistentes (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008). 66 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR Shigella sp São bacilos Gram-negativos, anaeróbios facultativos, altamente contagiosos e colonizam o trato gastrointestinal. É uma patologia restrita à espécie humana. A Shigella sp desenvolve- se normalmente entre 6,1 e 47,1°C e é destruída facilmente em temperaturas acima de 65°C. Está bem adaptada ao homem, que é seu principal reservatório na natureza (intestino e mãos). Também é encontrada em água contaminada por esgoto humano e em hortaliças contaminadas. A maioria dos casos de shigelose resulta da ingestão de alimentos ou água contaminados. Saladas, vegetais crus, leite e produtos lácteos, hambúrguer, galinha, peixe e frutos do mar, produtos de panificação também são considerados alimentos potencialmente perigosos (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). A doença instala-se após a bactéria aderir e penetrar nas células da mucosa do intestino grosso (cólon). A multiplicação atinge células vizinhas, resultando em lesões ulcerativas, que acarretam presença de sangue e muco nas fezes da vítima. Pode haver produção de endotoxina durante a multiplicação bacteriana, com o desenvolvimento de quadro febril (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008). O período de incubação varia entre 12 e 72 horas e o quadro clínico dura de 4 a 7 dias. Após a remissão da doença, a eliminação do agente nas fezes pode persistir por até duas semanas (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). Por ser uma doença restrita ao humano, as medidas de controle envolvem a prática de higiene (pessoal, na manipulação dos alimentos e no ambiente) e saneamento básico (GERMANO; GERMANO, 2008). 67© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR Staphylococcus aureus Bactéria esférica (cocos), Gram-positiva, anaeróbia facultativa, ocorre em pares, cadeias curtas ou agrupadas em cachos. Algumas cepas produzem enterotoxinas, que são divididas em 6 tipos: A, B, C1, C2, D e E, sendo que a maioria dos surtos ocorre devido às toxinas A e D. São habitantes usuais da pele, membranas mucosas, trato respiratório superior, cabelo, nariz, boca, mãos e intestino humano. Por isso manipuladores são grandes fontes de contaminação, levando a vigilância sanitária a considerar o S. aureus como um dos mais frequentes causadores de DTAs, embora os surtos possam ser causados por contaminação de equipamentos e superfícies. A espécie S. aureus é responsável por inúmeros casos de infecções no ambiente hospitalar (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). É a mais resistente bactéria formadora de esporos. Multiplica-se entre 7 e 48°C, com temperatura ótima de 37°C. Morre em dois minutos a 65,5°C (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). As intoxicações humanas são causadas pela ingestão de enterotoxinas produzidas nos alimentos que foram contaminados no contato com o manipulador infectado. Os alimentos que costumam estar relacionados aos surtos incluem carne e frango cozidos, presunto, ovos, batatas, leite e derivados, tortas e doces recheados com cremes. De forma geral, todo alimento que necessita de grande manipulação durante o preparo e não tenha a temperatura de conservação controlada pode vir a ser um potencial alimento contaminante (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). 68 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR O período médio de incubação é de 1 a 6 horas, com início rápido e agudo dos sintomas, que são: vômitos, náuseas, diarreia, cólicas, porém sem febre, que duram de 2 a 3 dias (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). Evitar a contaminação do alimento, por meio de treinamento dos manipuladores, e conservá-lo em baixas temperaturas são medidas essenciais para controle da proliferação bacteriana (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008). Vibrio cholerae São bacilos Gram-negativos, curvados ou retos, móveis, anaeróbios facultativos e sensíveis à temperatura de cocção. São frequentemente isolados de água de estuário, sendo, portanto, associados a peixes e frutos do mar (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008). A mais importante espécie é o V. cholerae,agente causador da cólera. A doença é estritamente humana e está diretamente associada às más condições de saneamento ambiental. Além do homem, encontra-se também na água, em hortaliças e pescados contaminados, principalmente em ostras e mexilhões (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). O período de incubação varia de 1 a 4 dias, com uma média de 48 horas. Cresce rapidamente em alimentos alcalinos, úmidos e em temperatura ambiente. No intestino delgado, a bactéria adere-se à mucosa e produz uma exotoxina, que causa sintomas como diarreia líquida, distúrbio eletrolítico, desidratação, cólicas abdominais e febre, podendo causar vômitos e fezes com muco e sangue. Os sintomas podem durar até sete dias (FORSYTHE, 2013; GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). 69© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR Medidas de controle estão sempre ligadas às boas práticas de fabricação (evitar contaminação cruzada, higiene dos manipuladores) e ao saneamento básico. O uso de água tratada ou fervida deve ser estimulado, tanto para consumo quanto para a produção dos alimentos (ASSIS, 2011; GERMANO; GERMANO, 2008). Yersinia enterocolitica É um bacilo pequeno e Gram-negativo, anaeróbio facultativo, sua temperatura ótima de multiplicação varia entre 30 e 37°C, porém multiplica-se bem em temperaturas de refrigeração (entre 0 e 10°C). É encontrada no intestino de diferentes animais, mas principalmente em suínos, leites, frutas e vegetais, além da água e solo. Resiste a condições adversas de estocagem, podendo sobreviver em carnes a –16°C por diversos meses (ASSIS, 2011; GERMANO; GERMANO, 2008; FORSYTHE, 2013). A infecção ocorre por invasão da mucosa intestinal, produzindo reação inflamatória no local, causando diarreia, vômito, dores abdominais e febre. Caso se espalhe para outros órgãos, pode causar meningite, pneumonia, problemas renais, ferimentos e articulações. O período médio de incubação é de 24 a 48 horas, com sintomas permanecendo por mais de uma semana (ASSIS, 2011; GERMANO, 2008; FORSYTHE, 2013). Melhorias nas práticas de abate, higienização e estocagem adequadas são algumas das medidas para controle da doença. Por se desenvolverem bem em temperaturas de refrigeração, armazenar em baixas temperaturas pode não ser uma boa opção, a menos que sejam adicionados conservantes aos alimentos. Por 70 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR fim, o treinamento dos manipuladores pode ter efeito positivo no combate ao patógeno. Vírus As viroses têm incidência pouco conhecida quando falamos em alimentos. Os vírus intestinais (ou enterovírus), quando em condições insatisfatórias, podem ser encontrados em alimento, porém não são capazes de se replicar nesse meio. De forma geral, a água é uma das mais importantes vias de transmissão de enterovírus para o homem (GERMANO; GERMANO, 2008). Esse assunto também fará parte do nosso Conteúdo Digital Integrador (Tópico 3. 1). Hepatite A (HAV) Pertence ao grupo dos enterovírus e sua transmissão ocorre pelo ciclo fecal-oral (manipulador contamina o alimento com as mãos sem higienização, uso de água contaminada em frutas, verduras e legumes), mas também pode ser transmitido por contágio (pessoa a pessoa). Possui período médio de incubação de 30 dias, podendo variar de 15 a 45, dependendo da quantidade de partículas virais ingeridas. Em um primeiro momento, os sintomas são de mal-estar, fadiga, febre, perda de apetite e náuseas, e posteriormente evoluem para dor abdominal, vômitos e fezes com cor mais clara que o normal e icterícia. Pratos à base de moluscos e saladas mistas com carnes, aves ou peixes são as principais vias de transmissão, mas também há risco de transmissão pelo consumo de sanduíches, frutas e verduras cruas. Apresenta níveis variados de resistência a desinfetantes (é sensível aos clorados) e ao calor, porém é 71© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR inativado durante a cocção ao atingir a temperatura de 100°C (GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). Hepatite E (HEV) Possui características semelhantes ao da HAV (tempo de incubação e sintomas), exceto pela icterícia. É o principal agente nas hepatites não A e não B transmitidas pela via intestinal (ASSIS, 2011; GERMANO; GERMANO, 2008). Ocorre com maior frequência em áreas menos favorecidas ao redor do mundo que sofrem com a falta de saneamento básico (GERMANO; GERMANO, 2008). Rotavírus Pertence à família do Reovírus e sua principal via de transmissão é a fecal-oral. A infecção pode ser disseminada com facilidade pelas mãos dos manipuladores, por contato com utensílios e superfícies contaminadas. Os surtos estão, na maioria das vezes, relacionados à água contaminada; consequentemente, seu uso em frutas, verduras e legumes é fator de risco para o consumo desses alimentos quando crus. Alimentos de origem marinha também podem sofrer contaminação. Seu período de incubação é de 2 dias e os sintomas mais comuns são vômitos nos primeiros dias, diarreia aquosa, dores abdominais e febre. Em casos mais graves de diarreia e alto grau de desidratação, pode levar ao óbito de crianças (principalmente entre 6 meses e 2 anos) e idosos. Em adultos, está associada a uma forma mais branda de infecção que ocorre por elevada quantidade de inóculos ou por baixa imunidade do indivíduo exposto. São inativados pela cocção (ASSIS, 2011; GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). 72 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR Norovírus Pertence à família Caliciviridae e sua transmissão ocorre pelo ciclo fecal-oral, pelo consumo de vegetais crus e alimentos marinhos (mariscos e ostras) e, principalmente, pela água. Possui de 1 a 2 dias de tempo de incubação, provoca manifestações digestivas como náuseas, vômito, diarreia e gastralgia, que desaparecem após 3 dias, porém as partículas virais podem ainda ser expelidas por 2 semanas ou mais. É inativado pela cocção (ASSIS, 2011; GERMANO; GERMANO, 2008; SILVA JUNIOR, 2014). Parasitas Mesmo que em menor parcela, esses organismos também são responsáveis pelo surgimento de algumas DTAs. Entre os principais agentes, podemos citar: Giardia lambia, Entamoeba histolytica, Taenia solium, Taenia saginata, Ascaris lumbricoides. Esses tópicos serão mais bem abordados no Conteúdo Digital Integrador desta unidade (Tópico 3. 1). 2.3. CUIDADOS E CONDUTAS NA PRESERVAÇÃO DOS ALIMEN- TOS Quando pensamos na preservação dos alimentos, podemos cometer o erro de pensar em condutas e cuidados apenas quando o alimento já está pronto para o consumo, seja ele produzido na indústria, restaurantes comerciais ou corporativos, em hospitais ou até mesmo na cozinha da sua casa! Se pensarmos assim, estamos ignorando o fato de que, para o alimento chegar ao consumidor final, ele passou por toda uma cadeia produtiva, que fica completamente esquecida se pensarmos dessa maneira mais simplista. Sendo assim, qual é a forma correta de se agir? 73© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR A cadeia produtiva inicia-se na escolha da sua matéria- prima e, consequentemente, na seleção de seus fornecedores. Isso é uma garantia de que seu produto tem procedência desde a origem, seja ela animal ou vegetal (lembrando o que acabamos de ver, muitos alimentos sofrem contaminação ainda no cultivo ou na criação, por isso essa etapa é tão importante). A próxima etapa é o transporte. De que maneira esse alimento vai chegar até você? Todo o cuidado na escolha de um produto de qualidade pode se perder, caso o transporte seja feito de maneira inadequada. Após o transporte, chegou o momento do recebimento, seguido pelo armazenamento. Quais os cuidados preciso ter ao receber esse alimento? A que devo prestar atenção? Depois disso, qual a melhor maneira de armazenar esseproduto, garantindo assim sua qualidade até o momento de seu uso? No momento de pré-preparo e preparo, qual a maneira correta de higienizar e manusear esse produto? Já com o produto final pronto, quais devem ser minhas ações? O que será feito com ele? Já será servido ou será armazenado e servido mais tarde? Ou ainda, será transportado e servido em outro lugar? Além disso, precisamos pensar também em outros pontos ainda não citados, mas que também são importantes durante a produção, como a higiene dos alimentos, dos manipuladores, do ambiente... Todas essas perguntas e questionamento devem ser feitos durante todo esse processo. Para garantir que tudo seja realizado de forma correta e segura, as Unidade Produtoras de Refeições devem utilizar como norteadores todas as legislações sanitárias 74 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR vigente no país. Quais são essas leis e de que maneira devem ser aplicadas são os assuntos abordados com mais detalhes na próxima unidade. Vídeo complementar –––––––––––––––––––––––––––––––– Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar. • Para assistir ao vídeo, pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Videoaula, localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso (Graduação), a categoria (Disciplinar) e a Disciplina (higiene e controle de qualidade – Complementar 3). • Para assistir ao vídeo, pelo seu CD, clique no Botão – Vídeos Complementares, e selecione: Vídeo Complementar 2. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição necessária e indispensável para você compreender integralmente os conteúdos apresentados nesta unidade. 3.1. PRINCIPAIS AGENTES PATOGÊNICOS Quando falamos de doenças transmitidas por alimentos, é inevitável que o maior foco seja dedicado às bactérias, afinal são as maiores causadoras de DTAs. Nesta unidade, já exploramos esse assunto, além de tratar superficialmente das doenças causadas pelos vírus. Convidamos você a aprofundar esse tema com a leitura dos textos sugeridos a seguir. Além disso, indicamos também neste item algumas leituras para conhecimento de outras DTAs causadas por protozoários e helmintos, assuntos que não foram aprofundados nesta unidade, mas que merecem atenção, pois ainda são realidade em nosso país. Boa leitura! 75© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR • GERMANO, P. M. L.; GERMANO, M. I. S. Higiene e vigilância sanitária de alimentos: qualidade das matérias-primas, doenças transmitidas por alimentos, treinamentos de recursos humano. 4. ed. rev. ampl. Barueri: Manole, 2011. (Biblioteca Virtual Pearson). Acesso em: 3 jan. 2018. • COELHO, A. et al. Deteção de norovírus e vírus da hepatite A em géneros alimentícios. Observações – Boletim Epidemiológico, Lisboa, n. especial 8, 2016. Disponível em: <http:// repositorio.insa.pt/bitstream/10400.18/4131/3/ observacoesNEspecia8-2016_artigo10.pdf> Acesso em: 2 abr. 2018. • LUZ, I. S.; MIAGOSTOVICH, M. P. Norovírus em alimentos. Visa em debate, Rio de Janeiro, v. 5, n. 3, p. 100-115, 2017. Disponível em: <https://visaemdebate.incqs. fiocruz.br/index.php/visaemdebate/article/view/928>. Acesso em: 2 abr. 2018. • SILVA, M. P.; LAVINAS, F. C. Virose alimentar: microbiologia das principais doenças de origem alimentar transmitidas por vírus. Saúde & Ambiente em Revista, Duque de Caxias, v. 5, n. 1, p. 33-43, jan./jun. 2010. Disponível em: <http://publicacoes.unigranrio. br/index.php/sare/article/view/953/686>. Acesso em: 2 abr. 2018. • PETROVICK, D. F. Giardia duodenalis. Monografia (Graduação em Medicina Veterinária) – Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017. Disponível em: <http://www.lume. ufrgs.br/handle/10183/170545>. Acesso em: 2 abr. 2018. 76 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR • ANDRADE, E. C.; LEITE, I. C. G.; RODRIGUES, V. O.; CESCA, M. G. Parasitoses intestinais: uma revisão sobre seus aspectos sociais, epidemiológicos, clínicos e terapêuticos. Disponível em: <https://aps.ufjf. emnuvens.com.br/aps/article/view/736/319>. Acesso em: 2 jan. 2018. • CHAVES, A. C. P.; SEIXAS FILHO, J. T.; DANTAS, M. M. L. Revisão do mecanismo fisiopatológico da amebíase. Augustus, Rio de Janeiro, v. 14, n. 29, fev. 2010. Disponível em: <http://apl.unisuam.edu.br/augustus/ pdf/ed29/rev_augustus_ed29_07.pdf>. Acesso em: 2 abr. 2018. • MARTINS, G. R.; TAKO, K. V. Neurocisticercose: uma revisão bibliográfica. Revista Uningá, Maringá, n. 16, p. 175-182, abr./jun. 2008. Disponível em: <http://revista. uninga.br/index.php/uninga/article/view/681/329>. Acesso em: 2 abr. 2018. • CUNHA, L. F.; AMICHI, K. R. Relação entre a ocorrência de enteroparasitoses e práticas de higiene de manipuladores de alimentos: revisão da literatura. Saúde e Pesquisa, Maringá, v. 7, n. 1, p. 147-157, jan./abr. 2014. Disponível em: <http://periodicos.unicesumar. edu.br/index.php/saudpesq/article/view/2634/2196>. Acesso em: 2 abr. 2018. 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estudados para sanar as suas dúvidas. 77© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR 1) Quanto aos agentes virais causadores de infecções alimentares assinale a alternativa incorreta: a) A Hepatite A (vírus A) tem como principais fontes as fezes do homem e água contaminada com fezes. b) Os vírus entéricos rotavirus não são inativados na cocção e podem ser transmitidos por contágio. c) Os vírus entéricos rotavirus são inativados na cocção e podem ser transmitidos por contágio. d) A hepatite A (vírus A) apresenta-se em alimentos envolvidos numa provável doença de origem alimentar: mariscos, frutas e verduras cruas, aves ou peixes. e) Os vírus entéricos rotavirus são inativados na cocção e não podem ser transmitidos por contágio. 2) Por meio do processamento adequado do tomate, podem ser originados inúmeros produtos, alguns dos quais são de elevado consumo no Brasil. A partir do tomate quebrado, pode-se obter tomate seco, suco, purê, polpa concentrada, extrato, ketchup, molhos culinários diversos e tomate em pó. No caso do processo produtivo do tomate, a qualidade final do produto e a vida útil podem ser melhoradas com a utilização da desidratação osmótica e de antioxidantes. A desidratação osmótica do tomate refere- se à alteração de qual elemento? a) pH. b) Barreira biológica. c) Atividade de água. d) Atmosfera gasosa. e) Potencial de oxidorredução. 3) O micro-organismo que pode ser letal para indivíduos com câncer, Aids, transplantados, e que tem como característica se multiplicar em temperatura entre 0 e 44°C em pH entre 4,5 e 8, presente em 64% dos alimentos refrigerados e comum em produtos lácteos e cárneos mal cozidos é o seguinte: a) Salmonella sp. b) Clostridium botulinun. c) Listeria monocitogenes. d) Campylobacter jejuni. e) Bacillus cereus. 78 © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR Gabarito Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas: 1) b. 2) c. 3) c. 5. CONSIDERAÇÕES Chegamos ao final de mais uma unidade! Começamos a unidade pontuando alguns conceitos importantes para o entendimento das Doenças Transmitidas por Alimentos, as DTAs. Depois, conhecemos alguns dos principais agentes patogênicos (quais são, como agem, que alimentos podem ser suas fontes), com foco principalmente nas bactérias, maiores causadoras de DTAs. Por fim, demos início à discussão sobre condutas e cuidados na conservação dos alimentos, assunto que será retomado na próxima unidade. Ao final, é importante quefiquem claros os conceitos e agentes patogênicos envolvidos nas DTAs, pois só por meio do conhecimento no assunto é possível estabelecer metas e estratégias para a prevenção. 6. E-REFERÊNCIA BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Surto de Doenças Transmitidas por Alimentos no Brasil. Brasília, 2014. Disponível em: <http:// 79© HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS UNIDADE 2 – DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2014/maio/29/Apresentacao-Surtos- DTA-2014>. Acesso em: 02 jan. 2018. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, L. Alimentos seguros: ferramentas para gestão e controle da produção e distribuição. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2011. FORSYTHE, S. J. Microbiologia da segurança dos alimentos. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. GERMANO, P. M. L.; GERMANO, M. I. S. Higiene e vigilância sanitária de alimentos: qualidade das matérias-primas, doenças transmitidas por alimentos, treinamentos de recursos humano. 3. ed. rev. ampl. Barueri: Manole, 2008. SILVA JUNIOR, E. A. Manual de controle higiênico sanitário em serviços de alimentação. 7. ed. São Paulo: Varela, 2014. © HIGIENE E CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS
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