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Sutura Contínua

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Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I 
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Suturas Contínuas 
 
As suturas contínuas são de execução muito mais rápida e propiciam que a tensão sobre a ferida 
seja distribuída igualmente em toda a ferida. Esses pontos são mais isquemiantes e estenosantes, sendo, 
portanto, mais hemostáticos, devendo-se tomar cuidado e conhecer bem a função que este tipo de 
sutura terá no cenário em questão. Entretanto, as suturas contínuas utilizam maior quantidade de fio 
e, assim, propiciam uma maior reação tecidual. Dessa forma, fios absorvíveis ou não-absorvíveis 
sintéticos monofilamentares (Polipropileno ou Mononylon) são os mais escolhidos (pequena reação 
tecidual e menor capilaridade, o que dificulta a infecção). Além disso, a rotura de uma única passada 
do fio na ferida é capaz de provocar a deiscência total. Hematomas e abscessos que venham a ocorrer 
podem comprometer toda a sutura. Sendo assim, em ferimentos em que há suspeita de evolução para 
essas complicações, é comum realizar suturas contínuas interrompidas. Essa técnica é indicada para 
feridas com baixo risco de infecção e com bordas que se alinham facilmente. Devido à forma 
helicoidal, as suturas contínuas têm uma tendência de reduzir a microcirculação das bordas das feridas. 
Este fato prolonga a fase destrutiva da cicatrização, aumentando a formação de edema. 
O tipo de tecido em que a sutura será realizada é de essencial conhecimento do cirurgião. 
Somente assim, é possível escolher o tipo de ponto correto, se será uma sutura contínua ou descontínua, 
e o tipo de fio que será utilizado. 
 
7.1 Princípios Básicos 
Este tópico já foi abordado no capítulo de Suturas Descontínuas, mas é válido relembrar alguns 
pontos: 
• A sutura ideal busca promover o perfeito confrontamento anatômico aliado ao melhor 
aspecto funcional e estético possível. 
• A aproximação das bordas dos tecidos, quando livre de infecção e outros corpos estranhos, 
é essencial para cicatrização ideal. 
• O uso de pinças com dente e sem dente deve ser avaliado em cada situação. Em geral, as 
sem dente são utilizadas em tecidos mais delicados e friáveis enquanto as com dente são 
utilizadas em tecidos mais resistentes. 
• A angulação da mão, passando da posição de pronação à supinação, realizando um 
movimento giratório ao introduzir a agulha com o porta-agulha, é essencial. 
• Tomar igual quantidade de tecido em distância da borda e em profundidade de ambos os 
lados. 
• A eversão da borda da ferida com a pinça ajuda a visualizar o local em que a agulha será 
inserida, permitindo com maior facilidade a passagem do fio. 
 
 Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I 
 
 
• Tracionar o fio com a mão e evitar tocar na agulha (além de deselegante, aumenta o risco 
de acidentes). 
• A tensão do nó deverá ser suficiente para aproximação correta das bordas (não deve ficar 
demasiadamente tensionado, nem frouxo). 
• Não posicionar o nó sobre o leito da ferida para que não atrapalhe a cicatrização (deve ser 
posicionado, preferencialmente, na borda distal da ferida). 
• O movimento deve começar de distal para proximal e da direita para esquerda (exceção da 
sutura em bolsa, quando começamos de proximal). 
• O excesso de fio após a realização dos três semi-nós deve ser seccionado com a tesoura 
Mayo, utilizando-se a curva em profundidade/cavidade e a reta em superfície. 
 
7.1.1 Realização do Nó com porta agulha 
Apesar de já ter sido explicado no capítulo anterior, a técnica será relembrada aqui. O nó com 
porta agulha é formado por três semi-nós: 
1 – Contenção; 2 – Fixação; 3 – Segurança. 
Para ser antideslizante, o nó com porta agulha deve ser feito enrolando o fio para o lado oposto 
ao anterior e tracionando-o também para o lado oposto: 
1. Enrolar o fio que contém o lado agulhado (atentando para não pegar na agulha) duas vezes 
para frente no porta-agulha. 
2. Enrolar o fio que contém o lado agulhado uma vez para o lado oposto ao primeiro (no caso, 
para trás). 
3. Enrolar o fio que contém o lado agulhado mais uma vez para frente. 
4. Prender com o porta-agulha a extremidade mais curta do fio (extremidade não agulhada). 
5. Tracionar o lado agulhado do fio em direção ao lado oposto, mas mantendo o porta-agulha 
próximo ao ponto. 
 
7.2 Suturas Contínuas 
Trata-se de um procedimento estéril, portanto, deve-se calçar as luvas apropriadas. 
 
7.2.1 Chuleio Simples 
• Apresenta-se como uma sequência de pontos simples. A direção da alça pode ser transversal 
ou oblíqua. São executadas da direita para a esquerda, sendo que a agulha sempre entra pelo 
mesmo lábio da ferida e sai pelo outro. Em caso de suturas muito longas, pode-se optar por 
dividir a suturas em setores separados por nós esparsos. 
• É de fácil e rápida execução, aplicada em bordas não muitos espessas e pouco separadas, sendo 
muito usada em sutura de vasos por ser bastante hemostática. Tem aplicação também em 
peritônio, músculos, aponeurose e tela subcutânea. 
 
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Passo-a-passo 
1. Com a agulha devidamente fixada ao porta-agulha, deve-se introduzi-la na borda distal da 
ferida no sentido distal-proximal (a borda deve ser pinçada com a pinça de dissecção para 
facilitar a visualização e a passagem da agulha). 
2. Após passar a borda distal, fixar novamente a agulha ao porta-agulha, procedendo para a borda 
proximal, de modo a completar um ponto simples. 
3. Observar a quantidade suficiente de fio para realizar o nó, evitando desperdício. 
4. Deve-se realizar o nó com o porta-agulha, finalizando o primeiro ponto simples. Entretanto, o 
fio não deve ser cortado. 
5. Realizar uma sequência de pontos simples no decorrer do ferimento, mas sem realizar os nós, 
configurando uma sutura contínua. 
6. No último ponto a ser dado, deve-se inicialmente folgar o fio da última passada, o que formará 
uma alça e em seguida realizar os três semi-nós com o porta-agulha fixando-o nessa alça, uma 
vez que não existirá outra ponta (como ocorre normalmente), formando uma "pseudo-roseta". 
7. Posteriormente, cortar os fios com tesoura Mayo (curva em cavidade e reta em superfície). 
 
7.2.2 Chuleio Ancorado 
• É uma variação do chuleio simples na qual o fio passa externamente por dentro da alça 
anterior, ancorando antes de ser tracionado. É uma sutura mais hemostática e, por conseguinte, 
mais isquemiante que a anterior. Dessa forma, deve-se ter cuidado com a tensão utilizada a 
fim de evitar necrose. Tem aplicabilidade principalmente na cirurgia gastronterológica. 
• Pode ser feito ancorando sucessivamente na alça anterior a cada ponto, sendo chamado chuleio 
ancorado “festonado”. Quando realizado ancorando o ponto apenas a cada quatro ou cinco 
passadas, é chamado de “ponto passado”. 
Figura 7.1 Chuleio Simples 
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Passo-a-passo 
1. Com a agulha devidamente fixada ao porta-agulha, deve-se introduzi-la na borda distal da 
ferida no sentido distal-proximal (a borda deve ser pinçada com a pinça de dissecção para 
facilitar a visualização e a passagem da agulha). Em seguida, passar para a borda distal, de 
modo a completar um ponto simples (mesmo início do chuleio simples). 
2. Realizar o nó com o porta-agulha, finalizando o primeiro ponto simples sem cortar o fio. 
3. Proceder para o próximo ponto simples ao lado do anterior. Após passar a agulha pelas bordas 
distais e proximais, deve-se passar o fio agulhado por dentro da alça formada conforme a 
figura 7.2. Para facilitar a passagem do fio agulhado pela alça anterior, não se deve tracionar 
o fio assim que passar pela borda proximal. Ou então, deve-se folgar a alça com o auxílio de 
uma pinça. 
4. Um auxiliar é útil durante a realização desse ponto para tracionar a alça de fio facilitando e 
permitindo
uma melhor ancoragem. 
5. Percorrer toda a ferida realizando chuleio ancorado, sempre passando o fio agulhado por 
dentro da alça anterior. 
6. No último ponto, não realizar ancoragem. Deve-se inicialmente folgar o fio da última passada, 
o que formará uma alça e em seguida realizar os três semi-nós com o porta-agulha fixando-o 
nessa alça, uma vez que não existirá outra ponta (como ocorre normalmente), formando uma 
"pseudo-roseta". 
7. Posteriormente cortar os fios com tesoura Mayo (curva em cavidade e reta em superfície). 
 
7.2.3 Sutura Intradérmica 
• Sequência de pontos simples realizados de forma longitudinal, alternados nas bordas da pele, 
resultando em excelente confrontamento anatômico. 
Figura 7.2 Chuleio Ancorado 
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• Como a sutura fica no interior da derme, a cicatriz é altamente estética. Para que este resultado 
seja respeitado, a sutura não deve ser feita em tecidos de tensão muito elevada (por exemplo, 
pele com cicatriz anterior). 
• O subcutâneo e os tecidos mais profundos devem ser suturados em planos separados para 
eliminar espaços mortos e diminuir a tensão nas bordas, devendo-se ter cuidado para que sejam 
colocados na mesma altura. 
• Esse tipo de ponto evita que haja marcas na sutura. Os fios devem ser retirados entre 1 e 2 
semanas. 
 
Passo-a-passo 
1. Com a agulha devidamente fixada ao porta-agulha, deve-se introduzi-la em um extremo da 
ferida (em torno de 5 mm do vértice e saindo com a agulha na derme média de seu vértice). 
2. Colocar uma pinça hemostática pequena reta (reparo) na extremidade não agulhada do fio. 
3. Iniciar a sequência de pontos intradérmicos. O primeiro inicia-se distalmente, próximo ao 
vértice da ferida, e a agulha é passada de forma horizontal, exatamente entre a derme média e 
a alta (o ponto deve ser dado exatamente na transição, que é visualizada em boa parte dos 
ferimentos, conforme a figura 7.4). 
4. O segundo ponto será dado proximal (oposto ao anterior), tendo início na mesma linha em que 
o ponto anterior terminou. A sutura intradérmica segue o mesmo padrão por todo o ferimento. 
A agulha deve transfixar entre a derme média e a alta, correndo horizontalmente. 
5. Os pontos subsequentes seguem o mesmo padrão, sendo o próximo oposto ao anterior, tendo 
início na mesma linha de término. 
6. Ao terminar os pontos intradérmicos, a saída da agulha se dá pelo outro vértice da ferida, 
semelhante ao início da sutura, mas com a agulha saindo de dentro para fora da ferida. 
7. É recomendado que o cirurgião teste o ponto tentando “correr” o fio na ferida, segurando-o 
pelas extremidades. 
 
Figura 7.3 Sutura Intradérmica 
 Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I 
 
8. Retirar o reparo inicial e realizar o nó com o porta agulha formando a roseta. Para a formação 
da mesma, o princípio do nó com o porta agulha é o mesmo já ensinado. Entretanto, deve-se 
prender a extremidade de fio agulhado mais próxima da ferida com o porta agulha, 
tracionando-o. Ou seja: ao invés de prender o porta agulha em uma extremidade livre do fio, 
prendemos ao próprio fio tracionado, formando a dita roseta. 
9. Realizar o mesmo procedimento para formação da roseta na extremidade final. 
10. O aspecto da sutura deve ser o mostrado na figura 7.5 
11. Cortar o excesso de fio com tesoura Mayo (curva para cavidade e reta para superfície). 
 
 
 
 
7.2.4 Sutura em Bolsa 
• É uma sutura circular invaginante, muito utilizada em apendicectomias e gastrectomias. 
Também tem utilização na fixação de drenos. 
• Realizada em forma de círculo e depois o fio é tracionado para que o orifício seja ocluído. 
 
 
 
 
 
Figura 7.8 Sutura em Bolsa 
Figura 7.4 Transfixação da agulha 
 
Figura 7.5 Aspecto final da sutura intradérmica 
 
 Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I 
 
Passo-a-passo 
1. A sutura pode ser iniciada de diversas formas, a depender da situação. A mais comum é a que 
inicia de modo que as extremidades do fio fiquem voltadas para o cirurgião, facilitando a 
execução do nó. Dessa forma, o ponto deve ser iniciado com a agulha invertida. 
2. Com a agulha devidamente fixada ao porta-agulha e então invertida, deve-se introduzi-la em 
um dos lados da área “circular” do tecido a ser suturado, no sentido horário ou anti-horário. 
3. Fixar a extremidade sem agulha do fio com uma pinça hemostática pequena reta (reparo). 
4. Deve-se executar os pontos pegando quantidade suficiente de tecido para que no final, ao 
tracionar o fio, a invaginação (formação da bolsa) seja efetiva. 
5. Quando houver necessidade, deve-se inverter a agulha novamente para continuar a sutura. 
6. Ao terminar todas as passadas do fio, as extremidades do fio ficarão voltadas para o cirurgião. 
A agulha deve ser seccionada e o reparo deve ser retirado para realização dos nós, dessa vez, 
com a técnica manual. 
7. Realizar o nó cirúrgico manual, com os três semi-nós já conhecidos. 
8. Cortar o excesso de fio com tesoura Mayo (curva para cavidade e reta para superfície). 
 
7.3 Retirada dos Pontos 
A retirada das suturas contínuas segue o mesmo princípio das suturas descontínuas. Quando são 
retiradas, o fio que estava do lado de fora da ferida durante todo o tempo de recuperação não pode 
entrar em contato com o lado de dentro da ferida, justamente para evitar contaminação. 
Para retirar a sutura, utiliza-se, basicamente, uma tesoura de Spencer e uma pinça de dissecção 
atraumática. 
 
7.3.1 Chuleio Simples e Ancorado 
Passo-a-passo 
1. Com a pinça de dissecção atraumática deve-se folgar o ponto com cuidado para que este não 
se rompa. 
2. Deve-se posicionar a tesoura de Spencer bem embaixo do ponto, cortando as alças de fio 
completamente rente à pele no local de entrada da agulha (no local onde a agulha passou 
primeiro). 
3. Ao cortar bem rente à pele no local de entrada da agulha em todas as passadas, deve-se puxar 
com a pinça do outro lado. 
 
7.3.2 Sutura Intradérmica 
Passo-a-passo 
1. Com a pinça de dissecção atraumática deve-se folgar o ponto de uma das duas extremidades 
com a roseta com cuidado para que este não se rompa. 
2. Cortar com a tesoura de Spencer bem embaixo de um dos pontos. 
3. Puxar o ponto pela outra extremidade. 
 Monitoria de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental I 
 
7.3.3 Sutura em Bolsa 
Passo-a-passo 
1. Com a pinça de dissecção atraumática deve-se folgar o ponto com cuidado para que este não 
se rompa. 
2. Deve-se posicionar a tesoura de Spencer bem embaixo dos pontos, rente à pele, cortando em 
todas as posições ímpares ou pares. Ao cortar bem rente ao ponto em cada alça, deve-se puxar 
com a pinça do outro lado. 
 
Referências 
1. Marques, RG. Técnica Operatória e Cirurgia Experimental. Guanabara Koogan; 2005. 
2. Goffi, FS. Técnica Cirúrgica: bases anatômicas, fisiopatológicas e técnicas da cirurgia. 4ª 
edição. São Paulo: Atheneu; 2007. 
3. Massaia, IFDS; Pinheiro, KMK; Saraiva, MD; Dinis, VG; Marrochi, LCR; Oliveira, RB. 
Procedimentos do Internato à Residência Médica. São Paulo: Atheneu; 2012. 
4. Armstrong DG; Meyr AJ. Basic principles of wound management. UpToDate. 2015. [Acesso 
em 27 de Junho de 2015]. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/basic-
principles-of-wound-
management?source=search_result&search=Basic+principles+of+wound+management&sele
ctedTitle=1~150 
5. Lemos D. Closure of skin wounds with sutures. UpToDate. 2015. [Capturado 27 de Junho de 
2015]. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/closure-of-skin-wounds-with-
sutures?source=search_result&search=Closure+of+skin+wounds+with+sutures&selectedTitl
e=1~150

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