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GABRIEL GALEAZZI 1 GLAUCOMA INTRODUÇÃO É uma neuropatia óptica (afeta o nervo óptico) de etiologia multifatorial, caracterizada pela degeneração progressiva das células ganglionares da retina e alterações características do nervo óptico (afilamento progressivo da rima nervosa e AUMENTO DA RELAÇÃO ESCAVAÇÃO/DISCO), com PERDA DE CAMPO VISUAL. Na maioria das vezes vem acompanhado do AUMENTO DA PRESSÃO INTRAOCULAR 2ª Principal causa de cegueira no mundo e Principal causa de cegueira irreversível DINÂMICA DA PRESSÃO INTRAOCULAR (PIO) Humor aquoso Manutenção da pressão intraocular = equilíbrio entre produção e drenagem Vias de drenagem Via convencional (rota trabecular): 90% do escoamento do humor aquoso Via alternativa (rota úveo-escleral): filtração dos 10% restantes Bloqueio da drenagem do humor aquoso → Aumento da PIO FATORES DE RISCO Pressão Intraocular (PIO>21mmHg) Idade avançada Etnia Afrodescendentes → Glaucoma primário de ângulo aberto Asiáticos/Esquimós→Glaucoma de ângulo fechado Espessura corneana central fina História familiar positiva Gênero (Mulher = ↑Risco) Olhos míopes Olhos hipermetropes (Olhos menores com câmara anterior mais estreita) Doenças vasculares (HAS, Doenças cardiovasculares, Diabetes e Condições vasmoespásticas) Corticoides TRIAGEM E DIAGNÓSTICO Triagem populacional: mais efetiva quando focada em populações de risco Exames de triagem Tonometria (medida da pressão intraocular – PIO) PIO normal = 11-21mmHg PIO>21mmHg → Fator de risco Glaucoma não é sinônimo de PIO alta Estudo da morfologia da papila óptica (fundoscopia) Identifica escavações do nervo óptico → Escavações grandes são suspeitas de lesão glaucomatosa Estudo do campo visual (perimetria) Exame padrão-ouro para detectar o dano funcional do glaucoma e monitoramento A PERDA DE CAMPO VISUAL NO GLAUCOMA, INICIALMENTE, É PERIFÉRICA (PACIENTE VAI PERDENDO A VISÃO “DE FORA PARA DENTRO”) Gonioscopia Avaliação do ângulo iridocorneano, realizada com auxílio da lâmpada de fenda e lentes especiais Exame fundamental para avaliação e classificação do glaucoma de ângulo aberto e do de ângulo fechado A Classificação de Shaffer gradua a abertura do ângulo (0 = mais fechado e 4=mais aberto) GLAUCOMA PRIMÁRIO DE ÂNGULO ABERTO (GPAA) Tipo mais comum de glaucoma, responsável por 90% dos casos Patogênese: Drenagem do humor inadequada, ao passo que a produção pelo corpo ciliar é normal CARACTERÍSTICAS Ângulo Aberto Lesão glaucomatosa do nervo óptico, observada ao exame de fundo de olho PIO alta (em determinado estágio da doença) Lesão no campo visual (à medida que o glaucoma progride, podendo não aparecer em estágios iniciais da doença) Início da fase adulta MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Assintomático nas fases iniciais da doença → Perda visual é assimétrica e começa na periferia Déficit visual em fase avançada do glaucoma TRATAMENTO Objetivo: Redução da PIO → Estabilização da doença e evitar sua progressão TRATAMENTO FARMACOLÓGICO INICIAL Betabloqueadores Diminuem a produção de humor aquoso Maleato de TImolol Parassimpaticomiméticos (mióticos ou colinérgicos) Aumenta o escoamento do humor aquoso Pilocarpina Agonistas alfa-adrenérgicos Diminuem a produção do humor aquoso e aumentam a drenagem pela via uveoescleral Tartarato de Brimonidina Inibidores da anidrase carbônica Diminuem a síntese de humor aquoso Brinzolamida; Dorzolamida Análogos das prostaglandinas e prostamidas Aumenta a drenagem do humor aquoso pela via uveoescleral Latanoprosta; Bimatoprosta GABRIEL GALEAZZI 2 TRATAMENTO CIRÚRGICO Indicações Refratariedade ou intolerância ao tratamento farmacológico Paciente não deseja usar ou tem dificuldade para adesão ao tratamento farmacológico Tipos de Cirurgias Trabeculoplastia a laser Trabeculectomia cirúrgica GLAUCOMA PRIMÁRIO DE ÂNGULO FECHADO (GPAF) É uma emergência oftalmológica → Se não tratado rapidamente, leva à perda visual irreversível, parcial ou total, em questão de horas Patogênese: fechamento súbito e total do ângulo de filtração → Elevação da pressão intraocular de forma rápida → Lesão agressiva do nervo óptico Fatores precipitantes Situações que geram midríase ocular (estresse emocional, situações de meia-luz e uso de colírios midriáticos) Medicações sistêmicas (derivados da sulfa, agonistas beta-adrenérgicos, anticolinérgicos, anti- histamínicos, antidepressivos tricíclicos, hidroclorotiazida e topiramato) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Dor ocular intensa Turvação visual e presença de halos coloridos ao redor das luzes Cefaleia hemicraniana ipsilateral Sintomas sistêmicos (náuseas e vômitos) Hiperemia conjuntival Pupilas em meia midríase, não fotorreagentes ou pouco fotorreagentes PIO>40mmHg Câmara anterior rasa e presença de flare no humor aquoso Edema de córnea Ângulo ocluível no olho contralateral TRATAMENTO PARA CRISE AGUDA Objetivo: Controle da pressão intraocular, abertura do ângulo e controle da inflamação SISTÊMICO Manitol 20% IV Agente hiperosmolar que desidrata o vítreo, diminuindo o volume na câmara posterior e reduzindo de imediato a PIO Acetazolamida VO 250mg de 6/6h (pode usar dose de ataque de 500mg) Inibidor da anidrase carbônica, agindo na diminuição direta da produção do humor aquoso TÓPICO Pilocarpina 2% colírio Agente miótico que aumenta a abertura do ângulo iridocorneano Maleato de timolol 0,5% colírio Betabloqueador que age diminuindo a produção de humor aquoso Colírio de corticoesteróide (prednisolona ou dexametasona) Reduz a inflamação ocular ADJUVANTE Analgésicos sistêmicos, em caso de dor refratária Antieméticos, para controle das náuseas e vômitos Estimular o paciente a ficar em decúbito dorsal, com o objetivo de deslocar posteriormente o cristalino sob a influência da gravidade TRATAMENTO DEFINITIVO Sempre indicado após 2-7 dias do abortamento da crise Iridotomia a YAG laser O olho não acometido também deve ser tratado após uma crise, dada a elevada chance desse olho apresentar uma crise nos próximos anos GLAUCOMA SECUNDÁRIO Qualquer caso de glaucoma em que outra doença contribui para aumento da PIO, resultando em dano do nervo óptico e perda de visão Etiologia: de trauma ocular, inflamação, tumor, uso de medicamentos oculares ou sistêmicos, casos avançados de catarata ou diabetes GLAUCOMA SECUNDÁRIO AO ESTEROIDES Ocorre mais frequentemente em associação com terapia esteroide tópica, periocular ou intravítrea Mecanismo: redução da drenagem do humor aquoso pela malha trabecular pigmentada Fatores de risco: Pacientes que já possuem glaucoma primário de ângulo aberto; História familiar positiva; Trauma ocular; Diabetes; Negros; Altos míopes Esteroides tópicos: geram o aumento da PIO relacionado com a sua potência → Dexametasona > Fluorometalona GLAUCOMA NEOVASCULAR Decorrente de uma neoformação vascular do segmento anterior, quase sempre associada à alguma doença do polo posterior Fisiopatologia: Isquemia intensa → Síntese de fatores de crescimento (principal é o VEGF – fator de crescimento endotelial vascular), na tentativa de revascularização → Neovascularização da retina e do segmento anterior (rubeose iridis) → Neovascularização do ângulo da câmara anterior prejudica a drenagem de humor aquoso → Aumento da pressão intraocular Principais causas: oclusão isquêmica da veia central da retina (acomete mais comumente pacientes hipertensos) e a diabetes mellitus (retinopatia diabética proliferativa) Tratamento: medicações tópicas para controle da PIO; fotocoagulação panretiniana GABRIEL GALEAZZI 3 GLAUCOMA CONGÊNITO PRIMÁRIO É uma importante causade cegueira irreversível e ambliopia na infância, devendo ser diagnosticado precocemente Fisiopatologia: desenvolvimento incorreto do sistema de drenagem do olho antes do nascimento (disgenesia angular) Classificação Glaucoma congênito verdadeiro: PIO aumenta durante a vida intrauterina Glaucoma infantil: Manifestação antes do terceiro ano de vida Glaucoma juvenil (menos comum): Manifestação após o terceiro ano de vida MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Tríade do Glaucoma congênito Edema de córnea: geralmente é o primeiro sinal percebido pelos pais Buftalmo (aumento do tamanho do globo ocular): ocorre quando o glaucoma se instala antes dos 3 anos de vida, causando problemas estéticos e provocando miopia secundária Estrias de Haab: linhas horizontais curvilíneas na córnea, causadas por rupturas da membrana de Descemet (secundárias ao edema corneano) TRATAMENTO Sempre cirúrgico! Deve ser realizado o mais rápido possível, evitando-se ultrapassar o primeiro ano de vida Goniotomia: indicada quando existe transparência suficiente da córnea possibilitando visualização do ângulo Trabeculectomia: indicada caso a opacificação da córnea impeça a visualização do ângulo ou quando várias goniotomias falharam
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