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MODERNISMO BRASILEIRO Terceira Fase I

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MODERNISMO – TERCEIRO TEMPO (1945 ao final do século XX) 
Fim da Segunda Grande Guerra, a Europa dá início ao processo de reconstrução 
diante das ruínas e destroços humanos e políticos. Agora o que vigora é a Guerra Fria 
disseminando p iminente risco de uma hecatombe nuclear. O mundo ficou dividido em dois 
blocos: de um lado o capitalista, encabeçado pelos E.U.A. e o outro socialista, sob o 
comando da antiga URSS. O Brasil fica do lado dos norte-americanos, contra a expansão 
do comunismo. 
O cenário político tinha sofrido mudanças. Vargas sobe novamente ao poder, mas era 
pressionado pelos militares a se afastar, em consequência, em 1954 ele comete suicídio. 
Desse modo, foram convocadas eleições diretas. 
Surge no cenário da política brasileira a figura de Juscelino Kubitschek, eleito 
presidente. A construção de Brasília, no planalto central do país, foi o símbolo de seu 
governo, a nova capital foi inaugurada em abril de 1960, superando prazos recordes às 
custas de muito sacrifício humano 
O crescimento industrial desencadeou um crescimento urbano equivalente, por isso 
comprometeu a estrutura dos grandes centros como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de 
Janeiro. Houve grande deslocamento das massas humanas do campo para a cidade, à 
procura de oportunidades. O cenário cultural reflete esse quadro de mudanças. No cinema 
surgem as chanchadas da Companhia Atlântida e no teatro se dá a criação do TBC. 
Tornam-se famosos atores populares como Oscarito, Grande Otelo, Dercy Gonçalves, 
Tônia Carreiro, Fernanda Montenegro, Paulo Autran, só para mencionar alguns. 
Companhia Vera Cruz, criada em 1949, produzia o chamado cinema “sério”, “O 
Cangaceiro”,dirigido por Lima Barreto, com diálogos escritos pela escritora Rachel de 
Queiroz, ganha prêmio de melhor filme de aventura e trilha sonora no Festival de Cannes. 
Foi período de grande produção cinematográfica no Brasil. 
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A música ganha espaço com as rádios, surgiam novos ídolos: Emilinha Borba, Cauby 
Peixoto, Marlene e Ângela Maria. Porém logo esse cenário mudou porque em 1950 o 
jornalista Assis Chateaubriand trouxe para o Brasil a televisão, que se revelou uma máquina 
de fazer astros instantâneos, modificou irreversivelmente o perfil da produção cultural 
brasileira. 
Discute-se um consenso em relação às linhas fundamentais que separam o 
Modernismo do Pós-Modernismo. O surgimento do Pós-Modernismo parece que foi 
desencadeado com o fim da Segunda Guerra Mundial. 
Começam a desmoronar certos conceitos de classe social, de ideologia, de direita e 
esquerda, de arte, de Estado de bem-estar, afetados pelas duas guerras mundiais. O Pós-
Modernismo é fruto da ruptura de algumas certezas e definições que sustentavam conceitos 
do campo social, político, econômico, estético etc. 
No mundo contemporâneo, que realmente entra em questão é a realização pessoal. 
A busca do bem-estar coletivo é colocado em segundo plano em detrimento do desejo 
de alcançar o sucesso a qualquer custo. O indivíduo reina absoluto no centro da sociedade. 
Muitos são os caminhos estéticos trilhados no Pós-Modernismo. A “matéria” ganha 
destaque no mundo contemporâneo. As coisas podem ser tocadas, cheiradas, fazem 
barulho, refletem luz, projetam sombras. Eis porque hoje muitas exposições artísticas há o 
ato de interação, o apreciador interage com a arte em exposição. Nessas últimas décadas 
o teatro tem buscado construir espetáculos em que o espectador faça parte do evento, nos 
anos 90, a peça “o Livro de Jó, foi encenado dentro de um hospital desativado, lá o público 
acompanhava o desenrolar das cenas caminhando pelas câmaras, junto com os atores. 
A maior consciência da materialidade das obras de arte permite que os artistas 
explorem diferentes possibilidades de criação e interação com o público. A arte se alia à 
mídia e busca atingir o grande público. 
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Nesse contexto, os poetas passam a privilegiar o trabalho com a materialidade do 
texto poético (sons, ritmos, rimas, disposição do verso na página etc.). Algumas formas 
fixas e alguns modelos poéticos “clássicos” foram retomados. Com isso, os escritores 
esperavam definir de modo mais claro os limites que separavam o poético, fundamentado 
no trabalho com a forma, do não poético, associado ao mero registro do elemento prosaico 
do cotidiano. 
Ocorre uma crescente individualização de uma sociedade voltada para o acúmulo de 
bens e para o consumo, estimulados pelos veículos de comunicação de massa. Fazia-se 
necessário incorporar à poesia a ideia de multiplicidade, de materialidade e de 
fragmentação da sociedade pós-moderna. 
O contexto de agitação política por que passava o país no início dos anos 1940 
animava a discussão intelectual e estimulava o contato entre os artistas. Em 1941, alguns 
poetas ainda desconhecidos, como João Cabral de Melo Neto e Lêdo Ivo, despontaram em 
um congresso de poesia realizado em Recife. Em 1942, foi a vez de Fortaleza acolher o 1o 
Congresso de Poesia do Ceará. Foi fundada, no ano seguinte, a seção cearense da 
Associação Brasileira de Escritores, confirmando o alargamento dos horizontes literários. 
A circulação da poesia que começava a ser escrita deu-se de duas formas: em revistas 
literárias, como Clã e Revista Brasileira de Poesia (editada pelo Clube de Poesia de São 
Paulo) ou em edições particulares, muitas vezes financiadas pelo autor ou por sua família. 
Esse foi o caso, por exemplo, de João Cabral de Melo Neto, cujo primeiro livro, Pedra do 
sono, foi publicado por seu pai, depois de saber dos elogios que Murilo Mendes dirigira ao 
filho em texto do Jornal do Brasil. 
Grande parte dos autores permanece, até hoje, pouco lida e desconhecida dos 
brasileiros. Entretanto o nome de João Cabral ganhou grande destaque, é possível 
encontrar alguns comentários sobre o impacto de seus primeiros poemas. 
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A reação inicial do público aos primeiros poemas de João Cabral foi de choque. A 
secura da sua linguagem e o rigor na composição provocaram o estranhamento dos 
leitores, que, de modo geral, o acusavam de ser um poeta sem alma, muito frio, racional, 
que fazia poemas sem coração, medidos a fita métrica. 
Quando o reconhecimento da crítica chegou, a admiração do público também veio, 
estimulada por matérias em jornais e revistas que o celebravam como um dos maiores 
poetas brasileiros da atualidade. 
O cuidado formal define o projeto literário dos poetas de 1945, este pode ser percebido 
na preocupação em escolher a palavra exata, muitas vezes desdobrada em metáforas que 
ampliam o sentido do poema para campos semânticos inesperados. 
Duas tendências polarizaram a poesia brasileira pós-1945: de um lado, o formalismo 
da geração de 45; de outro, a permanência da temática social em Ferreira Gullar. 
Ferreira Gullar dedicou-se à poesia de caráter social, principalmente em função da 
urgência de posicionamento e reação diante do golpe de 1964. Embora sua obra vá bem 
além desse engajamento, seu nome está relacionado à arte participativa, entendida como 
instrumento de atuação política explícita e de expressão ideológica de compreensão 
imediata. 
Ele participou do movimento concretista e ajudou a fundar o Neoconcretismo. Mas o 
poeta maranhense se destacou ao encontrar um tom próprio para sua produção poética, 
abandonando o experimentalismo formal que marcou esses movimentos. 
Ampliar os sentidos do poema é a busca que marca a primeira produção de Ferreira 
Gullar, entre os anos de 1940 e 1950. Sobretudo a partir dos anos 1960, o discurso 
politizado, marxista, ganhaforça e dá um caráter mais engajado à obra poética desse autor. 
Depois do golpe militar de 1964, que instalou a ditadura no Brasil, as liberdades individuais 
ficaram comprometidas em nome da “ordem” e da luta contra a “subversão”. A inquietação 
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pessoal de Ferreira Gullar com os rumos políticos do país aparece em Dentro da noite 
veloz, livro publicado em 1975. O poeta procura o equilíbrio entre a expressão dos 
sentimentos subjetivos (manifestação de suas angústias e temores) e a comunicação de 
uma visão de mundo. Por trás de um tom coloquial e de imagens aparentemente simples, 
a identidade é construída entre os planos individual, social e político. 
Construir sua identidade como “homem comum” significa, para o eu lírico, conhecer-
se semelhante a tantos outros homens que compartilham de um destino como o seu, 
enfrentam as mesmas forças opressoras (o imperialismo, o latifúndio, a miséria). Significa 
também irmanar-se a todos os seus semelhantes e, junto com eles, criar condições para 
resistir: formar uma muralha que combata a exploração, ainda que ela seja feita de “corpos 
de sonho e margaridas”. “Pretendo que a poesia tenha a virtude de, em meio ao sofrimento 
e ao desamparo, acender uma luz qualquer, uma luz que não nos é dada, que não desce 
dos céus, mas que nasce das mãos e do espírito dos homens”, afirma Ferreira Gullar na 
abertura de um de seus livros. Nessa perspectiva, a poesia aparece como uma afirmação 
da força da humanidade para resistir às pressões sociais, econômicas e políticas que 
trazem sofrimento e desamparo ao ser humano. 
João Cabral de Melo Neto: João Cabral definiu a essência de sua poética: investir 
na forma, construindo poemas palavra por palavra, como um operário constrói uma parede, 
tijolo por tijolo. Reafirma uma arte feita de forma planejada, indica o racionalismo da poesia 
desse autor. Pretendia estabelecer o primado da lucidez na abordagem do mundo, 
mostrando os objetos em sua pureza conceitual, desprovida de qualquer tom subjetivo ou 
de carga emocional. 
O poeta revelou desde cedo que sua preocupação ia além da forma. Sua concepção 
da construção poética – que lhe fez merecedor do apelido de poeta engenheiro – incluía a 
sensibilidade à flor da pele, com os olhos atentos voltados para o mundo à sua volta 
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Morte e vida Severina: O poema recria a cena bíblica do nascimento de Cristo, 
representado pelo nascimento do filho de um carpinteiro pernambucano. A cena se situa 
em um manguezal da cidade de Recife. Severino, o protagonista, é um nordestino que sai 
do interior do sertão em direção ao litoral, procurando possibilidades para sobreviver em 
melhores condições. Na sua fala inicial, percebe-se o drama da personagem. Incapaz de 
encontrar características pessoais ou sociais que o diferenciem de tantos outros retirantes, 
Severino torna-se um símbolo do drama vivido nas regiões assoladas pela seca. Veja o 
trecho a seguir. 
Severino se apresenta aos leitores/espectadores. Fugindo da seca, Severino busca a 
vida. Porém, trava, ao longo de sua jornada, uma sucessão de encontros com a morte. 
É sugerido que a seca é apenas um dos fatores a expulsá-lo de seu ambiente. A 
exploração do latifúndio e a batalha desigual que ele trava contra os grandes proprietários 
acabam também por fazer dele uma vítima: seja com a morte, seja com o abandono do 
lugar. O trecho traz a nota do humor amargo, ácido, que está presente na linguagem da 
peça, na ironia da situação do lavrador que, morto, recebe finalmente a terra pela qual tanto 
lutou. O embate entre a vida buscada e a morte encontrada continua até mesmo no destino 
final do retirante, a cidade do Recife. Ao descobrir que as perspectivas de vida, ali, são 
igualmente nulas, Severino oscila entre manter-se vivo e entregar-se à morte. 
No momento em que faz essa pergunta a José, um carpinteiro com quem conversava 
no cais do rio Capiberibe, é interrompido por uma mulher, que vem avisar José do 
nascimento do filho. Naquele momento, compreende que a própria vida deu a resposta que 
procurava: mesmo sofrida, difícil, a vida merece ser vivida. 
A arquitetura dos poemas 
As palavras estão sempre dispostas em uma organização rigorosa e constroem uma 
série de imagens que transformam o poema em “máquina” que produz significados. A 
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reflexão sobre o fazer poético é o principal tema do autor. São frequentes em sua obra os 
metapoemas, ou seja, poemas que falam sobre a composição poética. 
O Concretismo 
A publicação, em 1952, da revista Noigandres trouxe à cena literária brasileira uma 
proposta radical de experimentação com a forma. Os paulistas Décio Pignatari, Haroldo de 
Campos e Augusto de Campos propunham incorporar à poesia os signos da sociedade 
moderna, aliando a exploração de aspectos formais e a observação crítica da realidade. O 
Concretismo, como ficou conhecido o movimento, determinava uma ruptura radical com o 
lirismo. A poesia intimista deveria ser substituída pela concretude das palavras, utilizadas 
no seu aspecto verbi-voco-visual (semântico, sonoro e visual). 
Se a poesia moderna nasceu para defender a bandeira da libertação de todas as 
imposições formais, a poesia concreta veio para combater a exclusividade do verso. 
Pretendia promover a expansão dos sentidos da poesia, incorporando o signo visual como 
elemento carregado de significado, que interage com as palavras, criando novos sentidos 
e multiplicando as possibilidades de leitura. 
Entre os recursos utilizados para realizar esse projeto, destacam-se a valorização da 
disposição gráfica das palavras, o uso da elipse e a exploração do espaço da página como 
elemento de composição do poema. Esse tipo de perspectiva adotado na criação literária 
convida o leitor a refazer o caminho percorrido pelo poeta no momento de composição do 
texto, enfrentando o desafio de descobrir os muitos sentidos e leituras contidos no poema. 
Os três concretistas 
No primeiro plano do movimento concretista estavam três jovens paulistas: Décio 
Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Amigos desde o fim da década de 
1940, quando Décio e Haroldo faziam Direito na faculdade do Largo de São Francisco, em 
São Paulo, encontravam-se todos os sábados para discutir música erudita contemporânea, 
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falar sobre as inovações do cinema e das artes plásticas e ler poesia moderna. Queriam 
entender, em todas as suas faces, as manifestações artísticas da modernidade. 
BIBLIOGRAFIA 
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira, São Paulo, Cultrix, 2002. 
CAMPOS, Augusto de. Revistas re-vistas: os antropófagos. In: Edição fac-similar. São 
Paulo: Abril Cultural / Metal Leve, 1975. 
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2004.http://www.seliganessahistoria.com.br/

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