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Larissa Dantas da Silva OSTEOARTROSE ➔ Também chamada de osteoartrite, é uma doença degenerativa das articulações sinoviais (diartroses). ➔ Caracterizada clinicamente por dor e limitação funcional (“insuficiência articular”). ➔ Radiologicamente pela presença de osteófitos, redução do espaço articular e esclerose do osso subcondral (parte do osso recoberta pela cartilagem). ➔ Histopatologicamente pela perda da integridade da cartilagem articular – elemento alvo desse processo mórbido. ➔ Não é uma consequência normal do envelhecimento, e sim uma doença que depende da interação de fatores genéticos, biomecânicos e metabólicos. ➔ Mais prevalente das reumatopatias. ➔ É importante no aspecto econômico por ser a maior causa específica de dias de trabalho perdidos e pelo alto custo de seu tratamento (uso crônico de AINEs e analgésicos). ➔ Pelo aspecto clínico isoladamente, a prevalência na população geral é de 3,5% e 10% nos maiores de 60 anos. Ressalta-se que isso é motivo de confusão na literatura, pois a grande maioria dos indivíduos com critérios radiológicos para a OA não apresenta sintomas clínicos! A visualização de osteófitos típicos numa articulação característica já é suficiente para definir a OA, sob o ponto de vista epidemiológico. FATORES DE RISCO ➔ Fatores relacionados ao próprio paciente: - Idade: é o fator de risco mais importante; o grau de atividade metabólica da cartilagem articular diminui progressivamente com o passar do tempo. No idoso, o turnover da matriz cartilaginosa se encontra reduzido e os condrócitos já não respondem com a mesma eficiência aos estímulos mecânicos, o que justifica uma cartilagem mais fina, com maior propensão ao desgaste e lesão do osso subjacente. - Sexo: mulheres idosas possuem risco desproporcionalmente aumentado de OA em todas as articulações! Acredita-se que a deficiência de hormônios sexuais após a menopausa seja o principal fator contribuinte. - Predisposição genética: parece ser significativa somente em algumas articulações. Por exemplo: cerca de 50% dos casos de OA de quadril são “familiares”, enquanto na OA dos joelhos o fator genético é menos importante, presente em apenas 30%. - Obesidade: aumenta o risco de OA das mãos. Acredita-se que o acúmulo de gordura corporal esteja relacionado à maior circulação de algum fator metabólico que predisponha à OA. No caso da OA dos joelhos, a obesidade é o principal fator de risco, basicamente por exercer ação mecânica direta! Larissa Dantas da Silva De um modo geral, pacientes obesos têm mais OA que os não obesos, além do que a intensidade dos sintomas tende a ser maior nos primeiros. - Trauma e Patologias prévias ortopédicas ou não ortopédicas: o desalinhamento anatômico da articulação (ex.: rotura de menisco, ligamento, cápsula, fratura óssea com incongruência das superfícies articulares), por levar a um desequilíbrio de forças mecânicas intra-articulares (com sobrecarga focal sobre a cartilagem), é um importantíssimo fator na gênese da OA. Certas doenças metabólicas sistêmicas, como a ocronose e a hemocromatose (deposição nas cartilagens de ácido homogentísico e ferro, respectivamente) também favorecem o surgimento de OA por interferirem no turnover da matriz cartilaginosa. Osteoporose e tabagismo apresentam correlação negativa. ➔ Fatores relacionados à atividade profissional e/ou esportiva: - Aqueles que sobrecarregam determinadas articulações também aumentam o risco. Assim se explica a maior prevalência de OA em homens em relação às mulheres, quando analisamos as faixas etárias abaixo dos 45 anos. No caso dos joelhos, atividades repetitivas de flexão são as mais incriminadas (agachar, ajoelhar, subir escadas). A rotura de menisco e a meniscectomia são fatores de risco para a OA de joelho em homens de meia-idade. PATOLOGIA ➔ Alterações da cartilagem - Perda progressiva da cartilagem articular. - Alterações facilmente percebidas através de artroscopia ou analisando-se o corte longitudinal de uma peça anatômica. - Nas fases iniciais, percebe-se uma irregularidade da superfície cartilaginosa, que chamamos de fibrilação. Larissa Dantas da Silva - Com o avanço do processo, surgem fendas e erosões na cartilagem articular, tipicamente com distribuição focal (áreas com sobrecarga de peso); elas evoluem para o desnudamento do osso subcondral, que aparece como uma superfície branca e polida, semelhante ao marfim (eburnação). - Ao corte da peça anatômica, observa-se redução da espessura da camada cartilaginosa, que pode desaparecer por completo em certos locais. A cartilagem possui alterações em sua composição, tornando-se mais hidratada e com menor quantidade de proteoglicanas (condromalácia). Na sua porção mais superficial há perda de condrócitos, enquanto na zona mais profunda, adjacente ao osso, existem focos de regeneração celular. ➔ Alterações do osso subcondral - A injúria microtraumática permanente ao osso subcondral estimula os osteoblastos a sintetizar matriz óssea, justificando o achado da esclerose óssea. - Algumas regiões do osso desnudo, por absorverem as altas pressões do espaço articular, sofrem necrose provocando a formação de cistos subcondrais. - Os osteófitos já podem ser formados desde as fases iniciais da OA, pelo processo de regeneração cartilaginosa, que se encontra acentuado na doença, porém, predominando em regiões não expostas a altas pressões (bordos das cartilagens). ➔ Sinovite: - O termo “osteoartrite” pode ser utilizado no lugar de “osteoartrose” justamente pela existência de sinovite em casos avançados. Contudo, a inflamação da sinóvia na OA não é tão acentuada como nas artrites inflamatórias. - Acredita-se que seja decorrente à liberação de múltiplos fragmentos ósseos e cartilaginosos que se desprendem de uma superfície articular altamente degenerada. Esses fragmentos eventualmente são visualizados na artroscopia. - Casos avançados também se acompanham por formação de cristais microscópicos de fosfato e pirofosfato de cálcio dentro do líquido sinovial. Acredita-se que tais cristais, por induzirem a liberação de enzimas proteolíticas e citocinas, participem no processo inflamatório crônico que acompanha a OA “terminal”. PATOGÊNESE ➔ Classificamos a osteoartrose como primária ou idiopática (de causa desconhecida) – que possui alguns padrões articulares clássicos e representa o grupo mais frequente – e secundária (indivíduo jovem com sítio atípico), causada por trauma, malformações anatômicas, doenças congênitas (ex.: Legg-Perthes), osteonecrose, endocrinopatias (hipotireoidismo, acromegalia) e distúrbios metabólicos (ex.: hemocromatose, doença de Wilson, ocronose). Larissa Dantas da Silva ➔ Fisiologicamente, o balanço entre síntese e degradação da matriz cartilaginosa é mantido na medida em que a atividade dessas proteinases é regulada por inibidores fisiológicos locais, tais como o TIMP (Inibidor Tecidual de Metaloproteinases). ➔ Na osteoartrose, por sua vez, o balanço é NEGATIVO: a degradação é maior do que a síntese. Além disso, na tentativa de reparar o dano, os condrócitos sintetizam macromoléculas diferentes (ex.: colágeno tipo X), inadequadas para a composição do tecido cartilaginoso normal. Uma série de citocinas produzidas pelas células da sinóvia contribui para esse desequilíbrio, especialmente interleucina-1 e TNF-alfa (mediadores pró-inflamatórios), capazes de inibir a síntese de proteoglicanas e estimular a ação das metaloproteinases. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ➔ Como vimos, a maioria dos pacientes com sinais radiológicos de OA não apresenta sintomas. O motivo é que as fases iniciais da doença (onde se encontra um grande número desses indivíduos) são caracterizadas por lesão restrita à cartilagem articular, um tecido insensível à dor. Ademais, a intensidade dos sintomas não possui relação direta com o grau de OA na radiografia!!! ➔ As articulações mais acometidas pela OA são a primeira metatarsofalangeana (“hálux valgo”), as interapofisárias (coluna vertebral), Interfalangeanas Distais (IFD) e Proximais (IFP), carpometacarpianado primeiro quirodáctilo (polegar), os joelhos e o quadril. Outras articulações também podem ser envolvidas, como os cotovelos. ➔ A OA geralmente costuma respeitar determinados padrões de acometimento articular: ➔ O principal sintoma da OA é a dor articular, precipitada ou piorada pelo uso da articulação. A dor começa segundos ou minutos após o início do movimento, podendo permanecer por horas após o repouso. Tem um caráter tipo “aperto” ou “constricção”. Eventualmente é desencadeada pelo próprio peso do corpo sobre a junta. Com o tempo, até cerca de 50% dos pacientes passam a referir dor em repouso e 30% apresentam dor noturna que pode dificultar o sono. - instabilidade articular, levando ao estiramento de ligamentos e da cápsula articular, ambas estruturas muito sensíveis à dor; Larissa Dantas da Silva - pressão intra óssea elevada, principalmente na placa subcondral, secundária à inflamação (vista na RNM como edema de medula óssea); - sinovite; - dor muscular; - síndromes periarticulares secundárias – bursite, tenossinovite. ➔ Além da dor, o paciente pode se queixar de rigidez articular desencadeada pelo repouso. Ao contrário da rigidez matinal típica das artrites inflamatórias (que persistem > 1h), a rigidez matinal da OA não dura mais do que 30min (geralmente apenas alguns minutos). ➔ Queixas de “insegurança” e instabilidade articular também são frequentes. Muitos pacientes passam a, literalmente, ter medo de deambular! Outros referem perda da amplitude de movimento da articulação acometida, sendo impedidos de realizar determinadas tarefas (ex.: amarrar o sapato, no caso da OA de quadril). Em fases avançadas, pode haver limitação funcional grave e incapacitante, sendo necessário o tratamento cirúrgico. ➔ A fraqueza e atrofia dos músculos periarticulares são achados comuns, explicados pelo desuso da articulação. Essa fraqueza contribui para a dor da OA, por aumentar a instabilidade articular, forçando os ligamentos e tendões. ➔ O exame físico do paciente revela dados sugestivos. A articulação acometida tipicamente apresenta um ligeiro aumento de volume, de consistência firme, com pontos dolorosos periarticulares. Normalmente, não há sinais de derrame articular. A movimentação passiva pode ser dolorosa e apresentar crepitações audíveis ou palpáveis. Nos casos mais avançados, é comum a presença de deformidade articular. Também ocorre limitação do movimento passivo independente da dor. Sinais francos de instabilidade articular podem ser observados. ➔ Eventualmente, o paciente possui evidências de sinovite leve a moderada, com muita dor à movimentação, edema, aumento da temperatura e discreto derrame articular. Denominamos esses casos “OA inflamatória”. ➔ Dois importantes sinais podem ser facilmente percebidos no paciente com OA das mãos. Os nódulos de Heberden consistem numa expansão firme de osso recoberto de cartilagem, que se torna proeminente sobre o dorso das articulações interfalangeanas distais. Os nódulos de Bouchard são aumentos semelhantes aos de Heberden, porém localizados sobre as articulações interfalangeanas proximais. Esses nódulos são, na verdade, osteófitos palpáveis, quase patognomônicos de OA (especialmente os de Heberden). Larissa Dantas da Silva ACHADOS RADIOLÓGICOS E DIAGNÓSTICO ➔ O diagnóstico da OA é feito através da história, exame clínico e exame radiológico. Larissa Dantas da Silva O encontro de alguns desses achados associados a um quadro clínico compatível sugere fortemente o diagnóstico da OA! ➔ A gravidade da OA também pode ser estimada pelos sinais radiológicos. Uma redução muito acentuada ou perda do espaço articular e a presença de cistos subcondrais (decorrentes de necrose focal do osso) são sinais de OA grave. O colapso do osso subcondral é um evento terminal. ➔ Outros exames de imagem podem auxiliar na avaliação do paciente com OA. A tomografia computadorizada é superior à radiografia convencional na avaliação da articulação do ombro. A ressonância nuclear magnética é o exame de escolha para o diagnóstico de várias condições associadas à OA: rotura de menisco, rotura do ligamento cruzado, osteonecrose, lesão do manguito rotador do ombro, etc. Este exame também pode nos fornecer dados sobre a composição da cartilagem articular. ➔ Exame do líquido sinovial: o derrame articular da OA é do tipo não inflamatório, com menos de 2.000 leucócitos por mm3, predominando as células mononucleares, com glicose normal. ➔ Exame de sangue: as provas de atividade inflamatória (hemograma, VHS, proteína C reativa) estão caracteristicamente normais na OA, bem como o FAN e o fator reumatoide. TRATAMENTO ➔ O tratamento é basicamente sintomático, visando aliviar a dor e melhorar a função articular. ➔ Não farmacológica: - Em casos de OA leve a moderada deve ser a única terapia prescrita. - Estratégias que visam uma diminuição na sobrecarga articular através da redução ponderal, uso de bengalas, andadores e a utilização de calçados acolchoados ou palmilhas especializadas. - Na OA de joelho, o uso de fitas adesivas ou joelheiras fenestradas para realinhamento da articulação pode diminuir a velocidade de evolução da doença. - A perda de peso, mesmo de poucos quilos, tem um impacto extremamente favorável em retardar o aparecimento da dor e melhorar a já existente. Larissa Dantas da Silva - Os exercícios físicos devem ser prescritos no intuito de melhorar o condicionamento físico, reforçar a musculatura periarticular e ampliar a mobilidade da articulação acometida. - A fisioterapia motora tem papel crucial. - A aplicação de frio ou calor local pode elevar o limiar de dor e reduzir a espasticidade muscular. - Períodos de repouso programados ao longo do dia também são fundamentais. - Para alívio da dor, pode-se lançar mão da Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea (TENS) e da acupuntura. ➔ Farmacológico: - Estão indicadas na OA com sintomatologia grave, ou nos casos refratários à terapia não farmacológica. - O paracetamol ou acetaminofeno (tylenol) é a droga de escolha para o controle da dor na OA sem sinais inflamatórios, sendo a primeira droga a ser prescrita na grande maioria dos pacientes com OA. Deve ser prescrito na dose de 1 g VO 6/6h. - Analgésicos opióides, como o tramadol e a codeína, têm seu espaço no tratamento da dor na osteoartrose. Seu uso é reservado aos pacientes com dor intensa, refratária à analgesia com analgésicos comuns e AINE. - O creme de capsaicina a 0,025% traz algum alívio. - Os AINEs estão indicados nos casos de dor refratária ao paracetamol ou nos casos de OA inflamatória (edema articular, dor noturna, rigidez matinal por mais de 30 min). - Corticoides intra-articulares podem ser utilizados nos casos refratários de dor - monoarticular, trazendo alívio por 4-6 semanas. Tem como efeito teórico indesejável a diminuição da capacidade de regeneração da cartilagem articular. Por isso, as injeções de esteroides de depósito devem ter no mínimo periodicidade trimestral. - Derivados do Ácido Hialurônico (“Regenerador Articular”): injeções intra-articulares semanais (total de cinco) de derivados do ácido hialurônico (hialuronato de sódio) têm sido indicadas em certos casos de OA grave de joelho. - A colchicina pode ser tentada em pacientes com OA inflamatória refratária a outros fármacos. ➔ Medidas intervencionistas: - Em casos refratários de OA de joelho ou ombro, a lavagem articular com soro fisiológico e consequente remoção de debris pode trazer alívio sintomático por alguns meses. - A remoção de fragmentos de cartilagem por artroscopia pode prevenir a rigidez articular e eliminar a dor, especialmente em pacientes com predominância de sintomas mecânicos. - A artroplastia total da articulação, com colocação de uma prótese articular, é reservada para pacientes com osteoartrose grave que possuem, apesar da terapêutica otimizada, dor refratária e incapacidade funcional. ARTRITE REUMATÓIDE Larissa Dantas da Silva ➔ É uma doença inflamatória crônica, relativamente comum, que afeta homens e mulheres de todas as idades.➔ Sua apresentação clínica é caracterizada pelo envolvimento das articulações, num processo insidioso que frequentemente resulta em deformidades. ➔ Seu curso é tipicamente intermitente, marcado por períodos de remissão e atividade, mas sempre seguindo um processo contínuo de lesão tecidual. ➔ O marco da doença é a sinovite crônica levando à formação de erosões ósseas e à deformidade articular. EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO ➔ No Brasil, estima-se que atualmente existam cerca de 2 milhões de portadores. ➔ Pesquisas recentes sugerem que a incidência de AR vem diminuindo nos últimos anos, mas as razões para tal fato ainda são obscuras. ➔ A doença predomina na faixa etária entre 25-55 anos, e a preferência, assim como acontece em outras moléstias autoimunes, é pelo sexo feminino (proporção de 3:1). Após os 65 anos a diferença de incidência entre os sexos diminui. ➔ O tabagismo é considerado um dos fatores de risco mais bem estabelecidos para AR, inclusive se associando à ocorrência de doença “soropositiva”. ➔ Outros fatores de risco são a exposição ocupacional à sílica, ao asbesto e à madeira. ➔ História de AR num parente de 1º grau acarreta uma chance 2-10 vezes maior de desenvolver a doença do que a população geral. PATOGÊNESE ➔ A lesão histológica básica da AR, que inicia todos os eventos destrutivos articulares, é a inflamação das membranas sinoviais, conhecida como Sinovite. ➔ O elemento fundamental é a proliferação inflamatória da membrana sinovial (sinovite). O tecido inflamatório sinovial em proliferação é chamado de “Pannus”. Larissa Dantas da Silva ➔ O pannus é uma espécie de “manto” que recobre as estruturas intra-articulares e que, por estar cronicamente inflamado, lesa por contiguidade os tecidos vizinhos, no caso a cartilagem articular e o tecido ósseo subjacente. ➔ A destruição final da cartilagem, dos ossos, dos ligamentos e dos tendões resulta, entre outros fatores, da produção local de enzimas proteolíticas, como é o caso da colagenase secretada na interface entre o pannus e a cartilagem. ➔ Linfócitos T CD4 + hiperestimulados migram para a sinóvia e atraem e ativam macrófagos e linfócitos B. Ocorre produção desordenada de citocinas, com destaque para o TNF-alfa. Tais substâncias respondem pela autoperpetuação do processo inflamatório sinovial e estimulam a proliferação das células sinoviais, levando a uma expansão progressiva do pannus. Obs: a AR regride na imunodepressão avançada pelo HIV!! ➔ Os linfócitos B se transformam em plasmócitos, células capazes de secretar anticorpos. Assim, o paciente apresenta uma ativação policlonal das células B, podendo produzir uma série de autoanticorpos. Um dos mais encontrados é o Fator Reumatoide. ➔ As quimiocinas, ou fatores quimiotáticos, entre eles o leucotrieno B4 e componentes do sistema complemento (C3a, C5a), atraem neutrófilos. Esses leucócitos polimorfonucleares se concentram principalmente no líquido sinovial! QUADRO CLÍNICO ➔ A artrite reumatoide costuma se instalar de maneira insidiosa, com queixas intermitentes de dor e rigidez articular, muitas vezes acompanhadas de sintomas constitucionais, como fadiga, mal-estar, anorexia e mialgia. ➔ Com a evolução do quadro (semanas a meses), a doença geralmente assume a sua forma clássica, caracterizada por artrite simétrica de pequenas articulações das mãos e dos punhos. Os pés também podem ser acometidos, principalmente as metatarsofalangianas. OBS:no caso de acometimento das interfalangianas distais, deve-se pensar em diagnósticos alternativos, como artrite psoriásica ou osteoartrite!! ➔ Alguns pacientes abrem o quadro com acometimento de uma única articulação, de pequena intensidade, curta duração e com mínimas sequelas articulares (a chamada artrite indiferenciada). Por outro lado, há aqueles que experimentam um quadro fulminante de poliartrite em grandes e pequenas articulações, evoluindo rapidamente com sequelas irreversíveis, às vezes com manifestações extra-articulares. ➔ Qualquer que seja o quadro inicial da AR, à medida em que o processo patológico evolui, o paciente apresenta uma deterioração crescente da função das articulações envolvidas. As atividades mais simples da vida diária vão se tornando dificultosas, e o indivíduo acaba por ter seus hábitos alterados, não raro, sobrevindo depressão e perda ponderal. Condições associadas ➔ A AR parece ser – assim como o LES – um fator de risco cardiovascular independente (isto é, aumenta o risco mesmo após o controle de fatores tradicionais como HAS, DM, tabagismo, etc.)! Tanto é assim que o aumento de marcadores de inflamação sistêmica parece ser diretamente proporcional ao risco cardiovascular desses indivíduos. ➔ Cerca de 30 a 50% dos pacientes com AR desenvolve osteoporose, o que é particularmente importante considerando o maior risco de queda e fratura de quadril secundário às dificuldades de locomoção impostas pela doença. Larissa Dantas da Silva ➔ Existe uma maior incidência de linfoma em portadores de AR, com destaque para o linfoma difuso de grandes células B. Manifestações articulares ➔ A dor articular é o principal sintoma da AR, e o aumento do volume articular seu principal sinal. ➔ A origem da dor está na cápsula articular, que possui fibras nociceptivas sensíveis ao estresse mecânico. Por este motivo, o paciente tende a manter as articulações em flexão, já que isso aumenta sua capacidade volumétrica e reduz a distensão da cápsula. ➔ O aumento de volume é devido ao acúmulo de líquido sinovial + hipertrofia da sinóvia + espessamento da cápsula. ➔ Rigidez articular, principalmente pela manhã (após o período de inatividade noturna), que melhora com os movimentos, é outra manifestação típica da AR. Em geral, quanto maior a duração da rigidez, maior a intensidade do processo inflamatório. ➔ O calor local pode ser evidente, especialmente em grandes articulações como o joelho. ➔ Mãos: - Tumefação das interfalangianas proximais, que ocorre caracteristicamente de forma simétrica. - Desvio ulnar dos dedos, ao mesmo tempo em que se desenvolvem subluxações e proeminências ósseas. Larissa Dantas da Silva ➔ Punho: - O comprometimento simétrico dos punhos deve ser esperado na imensa maioria dos pacientes com AR, podendo haver prejuízo tanto dos movimentos de flexão quanto de extensão. - A hipertrofia sinovial pode determinar a compressão do nervo mediano contra o ligamento transverso do carpo, originando a famosa síndrome do túnel do carpo. ➔ Joelhos: - Derrames articulares podem ser identificados pela compressão da patela (sinal da tecla), realizada com o paciente em decúbito dorsal e joelho estendido. - A percepção de “flutuação” patelar confirma a existência de líquido sinovial em excesso. - Eventualmente, a membrana sinovial da região poplítea desenvolve uma espécie de bolsa, que pode invadir os planos musculares da panturrilha, dissecando suas fáscias. É o famoso cisto de Baker que, clinicamente, Larissa Dantas da Silva pode simular uma trombose venosa profunda, principalmente quando roto, devido à dor e edema local. ➔ Pés: - A subluxação plantar da cabeça dos metatarsos resulta em dor para caminhar e dificuldade com os calçados. Com frequência, as proeminências ósseas que assim se formam culminam em erosões plantares por traumatismo de repetição. ➔ Coluna cervical: - O envolvimento cervical pela AR é potencialmente muito grave, podendo inclusive levar a óbito. - A subluxação atlantoaxial (C1 sobre C2) atualmente é encontrada em menos de 10% dos casos. ➔ Cotovelos: - Contraturas em flexão dos cotovelos (posição antálgica). - Mais raramente, pode haver encarceramento dos nervos ulnar e radial, determinando mononeuropatias periféricas de tipo “compressivo”. ➔ Ombros: - Além de dor e limitação funcional, podem surgir grandes cistos sinoviais. Larissa Dantas da Silva Manifestações extra-articulares ➔ São geralmente observadas em indivíduos que possuem altos títulos de fator reumatóide e anti-CCP. Larissa Dantas da Silva DIAGNÓSTICO Com seis ou mais pontos um pacientejá pode ser classificado como portador de AR. ➔ A positividade do FR em indivíduos com quadro clínico sugestivo fortalece o diagnóstico de AR, além de possuir valor prognóstico: existe correlação direta entre os títulos de fator reumatoide e a presença de manifestações extra-articulares. ➔ O anti-CCP possui a mesma sensibilidade do FR (cerca de 70-80%), porém, sua grande vantagem é uma elevada especificidade (95%). Quadros iniciais de artrite indiferenciada têm chance maior de serem diagnosticados como AR na vigência de um anti-CCP positivo, principalmente se em altos títulos. ➔ Outros autoanticorpos podem ser encontrados em pacientes com AR, como o FAN (30%) e o ANCA. ➔ A VHS aumenta na AR em atividade. Outros reagentes de fase aguda, como a proteína C reativa e a ceruloplasmina, também se encontram elevados. O acompanhamento seriado da proteína C reativa e/ou da VHS é útil como marcador de atividade da doença. Larissa Dantas da Silva ➔ A eletroforese de proteínas revela aumento das frações alfa-2-globulina presente nos estados inflamatórios em geral, e gamaglobulina, que reflete uma estimulação antigênica inespecífica e policlonal. ➔ Uma anemia de doença crônica costuma ser observada, e sua gravidade também é proporcional à atividade de doença. ➔ Outros achados comuns são trombocitose e leucocitose. Artrocentese ➔ A análise do líquido sinovial geralmente revela aspecto turvo, com viscosidade reduzida, aumento de proteínas e concentração normal ou baixa de glicose. ➔ A leucometria varia entre 5.000 a 50.000/μL, com predomínio de polimorfonucleares (ao contrário da osteoartrite, onde geralmente se tem < 2.000 leucócitos/μL). ➔ A pesquisa de FR e anti-CCP costuma ser positiva no líquido sinovial. A artrocentese não é essencial para o diagnóstico de AR, mas pode ser útil em casos selecionados para descartar artrite séptica e artropatia induzida por cristais. Avaliação radiológica ➔ No início do quadro, as radiografias simples revelam apenas aumento de volume de partes moles e derrame articular (aumento do espaço sinovial). ➔ Com o progredir da doença aparecem outros achados, embora nenhum seja específico de AR. ➔ Em semanas já se pode observar osteopenia justa articular. Alguns meses depois aparecem perda da cartilagem articular (diminuição do espaço sinovial), cistos subcondrais e erosões ósseas marginais. Anquiloses e subluxações são típicas dos quadros mais avançados. ➔ A radiografia ajuda: (1) a estimar a extensão da doença; (2) a monitorar o efeito do tratamento; e (3) a avaliar a necessidade de cirurgia em casos selecionados. Larissa Dantas da Silva TRATAMENTO ➔ O objetivo a ser buscado no tratamento da AR é colocar a doença em remissão,ou, caso isso não seja factível, deixá-la pelo menos no menor grau de atividade possível. ➔ O tratamento deve ser “precoce” e “agressivo”; ➔ Deve ser reavaliado a intervalos curtos (ex.: a cada 3-5 semanas), reajustando as medicações conforme necessário; ➔ Deve ser individualizado, buscando a melhor resposta para determinado paciente com o menor custo e toxicidade. ➔ O paciente e seus familiares devem ser esclarecidos sobre a natureza crônica e incapacitante da doença. Um acompanhamento multidisciplinar é recomendável, sendo a avaliação psicológica extremamente importante devido à presença frequente de comorbidades psiquiátricas. ➔ O repouso articular durante os surtos agudos da doença! ➔ A fisioterapia é muito importante, e se baseia na realização de exercícios isométricos e dinâmicos (para fortalecer a musculatura periarticular), além de exercícios de relaxamento, para manter o condicionamento físico, a postura corporal e o arco de movimento das articulações. ➔ Todos os portadores de AR devem receber as vacinas antipneumocócica (a cada cinco anos) e anti-influenza (anualmente). Tratamento farmacológico ➔ Os AINEs são drogas adjuvantes no tratamento sintomático da AR, promovendo analgesia e desinflamação imediata do tecido osteoarticular. ➔ Glicocorticóides em doses “baixas” a “intermediárias” (prednisona ≤ 7,5 mg/dia, ou > 7,5 e ≤ 30 mg/dia, respectivamente) fornecem rápido alívio sintomático na maioria dos pacientes, sendo considerados úteis como “ponte” até o início de ação das DARMDs. Também são úteis, por curtos períodos, para o controle dos surtos agudos de atividade da doença (os chamados flares) em pacientes que já vinham em uso de uma DARMD. A longo prazo, essas doses de glicocorticóides também são capazes de retardar a progressão das erosões ósseas! ➔ O grupo das DARMDs “convencionais” inclui substâncias quimicamente distintas, que apresentam em comum a propriedade de atrasar ou evitar a progressão das lesões estruturais induzidas pela AR. Diversas drogas fazem parte deste grupo, porém, a DARMD de primeira escolha é o Metotrexate (MTX). As DARMDs convencionais possuem efeitos anti-inflamatórios e analgésicos diretos Larissa Dantas da Silva mínimos, e demoram de 6 a 12 semanas para alcançar seu benefício terapêutico. ➔ As DARMDs “biológicas”, proteínas recombinantes (sintetizadas por engenharia genética), capazes de neutralizar citocinas solúveis específicas ou seus receptores. ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL A AJI difere da artrite reumatóide em adultos nos seguintes aspectos: (1) a oligoartrite é mais comum, (2) a doença sistêmica é mais frequente, (3) articulações grandes são afetadas com mais frequência do que pequenas articulações, (4) os nódulos reumatoides e o fator reumatóide geralmente estão ausentes e (5) soropositividade para anticorpo antinuclear (ANA) é comum. A Artrite Idiopática Juvenil (AIJ), previamente chamada de artrite reumatóide juvenil ou artrite crônica da infância, refere-se a um grupo de doenças caracterizadas por artrite Larissa Dantas da Silva crônica (> ou = a 6 semanas) que ocorrem em crianças e adolescentes até os 16 anos. A principal manifestação clínica é a artrite, caracterizada por dor, inchaço e aumento de temperatura de uma ou mais articulações. A dor pode ser mínima ou inexistente. A causa exata da AIJ não é conhecida. Uma hipótese é que a artrite possa ser desencadeada em crianças geneticamente predispostas após estresse psicológico, alteração hormonal, trauma articular, infecção viral ou bacteriana. Existem três tipos mais comuns: AIJ oligoarticular, AIJ poliarticular e AIJ sistêmica. Outros dois tipos menos frequentes são a artrite psoriásica e a artrite relacionada à entesite: ➔ Oligoarticular: Larissa Dantas da Silva - São acometidas até quatro articulações, sendo os joelhos e os tornozelos as mais frequentes. - Crianças com este tipo de doença devem fazer avaliações oftalmológicas constantes, pois os olhos podem ser acometidos por inflamação (uveíte), que geralmente não apresenta sinais externos ou queixas pela criança. Podem ocorrer complicações como glaucoma, catarata e até mesmo diminuição da visão. Daí a importância da detecção precoce por meio de exames oftalmológicos periódicos (biomicroscopia) e acompanhamento regular a cada quatro meses. A uveíte pode aparecer antes, simultaneamente ou anos depois da artrite. - A maioria da oligoartrite pode ter cura, mas o tratamento deve ser feito para cessar a inflamação articular que leva a dor, deformidades e comprometimento do crescimento do membro acometido. ➔ Poliarticular: - No tipo poliarticular, cinco ou mais articulações são envolvidas, com destaque para os joelhos, tornozelos, quadris, punhos, cotovelos e as pequenas articulações das mãos e dos pés. - Esses pacientes podem apresentar Fator Reumatoide positivo, o que se associa a um quadro clínico muito semelhante ao da artrite reumatoide do adulto. ➔ Sistêmica: - O tipo sistêmico caracteriza-se pela presença de artrite associada à febre alta em um ou dois picos diários (= 39º C) e duração > que duas semanas, manchas vermelho/ rosáceas na pele, gânglios (ínguas), serosite (inflamação da pleura e do pericárdio com dor no peito e dificuldade para respirar) e aumento de fígado e baço ao exame clínico. A criança fica muito abatida no momento da febre.➔ Psoriásica: - A criança manifesta artrite e tem lesões de psoríase ou artrite e história familiar de psoríase. ➔ Entesite: - Crianças maiores, principalmente meninos, podem apresentar artrite em poucas articulações, e inflamação em enteses (pontos de inserção de tendão, ligamentos no osso), como no calcanhar, em torno da patela (joelho). Não há exame que faça o diagnóstico de AIJ.O diagnóstico é clínico e baseia-se na presença de artrite em uma ou mais articulações com duração acima de seis semanas. Conforme o tipo, a criança pode manifestar febre alta principalmente à tarde por período maior que duas semanas. É importante definir que não há outra causa para a artrite como infecção. Além da dor, a criança mostra limitação de movimento e inchaço articular. Há uma certa dificuldade na movimentação ao acordar (rigidez matinal), fraqueza ou incapacidade na mobilização das articulações. Larissa Dantas da Silva O objetivo do tratamento é controlar a dor, evitar deformidades, promover o crescimento adequado da criança e o seu bem-estar. Devido aos avanços no tratamento, muitos pacientes podem entrar em remissão (controle total da doença). Deve ser individualizado e envolve educação sobre a doença, controle da inflamação e da dor por meio do uso de medicamentos e prevenção de deformidades. A reabilitação (fisioterapia) é muito importante desde as fases iniciais da doença e em alguns casos pode ser necessário o acompanhamento psicológico. Cada tipo de Artrite Idiopática Juvenil tem um tratamento específico e o esquema terapêutico pode variar de um paciente para o outro, de acordo com as suas manifestações clínicas. Os medicamentos utilizados inicialmente são os antiinflamatórios não-hormonais, como o naproxeno e ibuprofeno, úteis no alívio da dor. Quando a inflamação persiste, são empregadas as drogas antirreumáticas modificadoras da doença, ou de base. São introduzidas o quanto antes com o objetivo de controlar e, até mesmo, cessar a inflamação, melhorando a evolução da doença. Os mais utilizados são a sulfassalazina, o metotrexato e a leflunomida.
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