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PSICOMOTRICIDADE PROF.A MA. CAROLINE POTTKER Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-reitor: Prof. Me. Ney Stival Gestão Educacional: Prof.a Ma. Daniela Ferreira Correa PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Felipe Veiga da Fonseca Letícia Toniete Izeppe Bisconcim Luana Ramos Rocha Produção Audiovisual: Eudes Wilter Pitta Paião Márcio Alexandre Júnior Lara Marcus Vinicius Pellegrini Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Kamila Ayumi Costa Yoshimura Fotos: Shutterstock © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Só- crates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande res- ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a socie- dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conheci- mento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivên- cia no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de quali- dade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mer- cado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR UNIDADE 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................5 1. CONCEITO DE PSICOMOTRICIDADE ...................................................................................................................6 2. HISTÓRICO DA PSICOMOTRICIDADE .................................................................................................................8 2.1 HISTÓRIA DO CORPO ..........................................................................................................................................9 2.2 HISTÓRIA DA PSICOMOTRICIDADE .................................................................................................................9 2.3 HISTÓRIA DA PSICOMOTRICIDADE NO BRASIL ............................................................................................ 11 3. HENRI ALEXANDRE WALLON E SUAS CONTRIBUIÇÕES À PSICOMOTRICIDADE .......................................12 3.1 O DESENVOLVIMENTO INFANTIL NA PERSPECTIVA WALLONIANA ............................................................12 3.2 AS FASES DO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ...........................................................................................15 4. PSICOMOTRICIDADE FUNCIONAL X PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL ....................................................18 CONCEITO E HISTÓRIA DA PSICOMOTRICIDADE E AS DIFERENTES ABORDAGENS PSICOMOTORAS PROF.A MA. CAROLINE POTTKER ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PSICOMOTRICIDADE 4WWW.UNINGA.BR 4.1 CONCEITOS FUNCIONAIS .................................................................................................................................18 4.2 CONCEITOS RELACIONAIS ...............................................................................................................................19 4.3 CARACTERÍSTICAS DA PSICOMOTRICIDADE FUNCIONAL ...........................................................................19 5. PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL ...................................................................................................................21 5.1 OBJETO DE ESTUDO DA PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL ........................................................................21 5.2 A FORMAÇÃO DO PSICOMOTRICISTA RELACIONAL .....................................................................................22 5.3 APLICAÇÃO E ÁREAS DE ATUAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL ..............................................22 5.3.1 PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL NO CONTEXTO CLÍNICO ....................................................................22 5.3.2 PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL NO CONTEXTO ORGANIZACIONAL ..................................................23 5.3.3 PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR .................................................................23 5WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Nesta Unidade intitulada de Conceito e História da Psicomotricidade e as diferentes abordagens psicomotoras procuramos abordar, inicialmente, o conceito de psicomotricidade. Na sequência apresentamos brevemente a história da psicomotricidade no mundo e no Brasil. Além disso, tratamos da teoria do desenvolvimento humano de Henri Wallon, introduzindo sobre a concepção de desenvolvimento infantil e suas fases e suas contribuições para a psicomotricidade. Por � m, dissertamos sobre as abordagens psicomotoras: funcional e relacional, apresentando suas semelhanças e diferenças. 6WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1. CONCEITO DE PSICOMOTRICIDADE Historicamente, no século XIX, o termo “psicomotricidade” aparece a partir do discurso médico, neurológico, para nomear as zonas do córtex cerebral, situadas mais além das regiões motoras (FALCÃO; BARRETO, 2009). Há diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja lesionado ou sem que a lesão esteja claramente localizada. São descobertos distúrbios da atividade gestual, da atividade práxica (ação). Portanto, o “esquema anátomo-clínico” que determinava para cada sintoma sua correspondente lesão focal já não podia explicar alguns fenômenos patológicos. Segundo Falcão e Barreto (2009), pela primeira vez, em 1870, foi usado o termo Psicomotricidade. Figura 1 – Dupré. Fonte: Psicologia (2019). A Psicomotricidade no Brasil foi norteada pela escola francesa. Em 1909, Dupré, neuropsiquiatra, a� rma a independência da debilidade motora, antecedente do sintoma psicomotor, de um possível correlato neurológico. Em 1925, Henry Wallon, médico psicólogo, ocupa-se do movimento humano como instrumento na construção do psiquismo. Esta diferença permite a Wallon relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos do indivíduo, e discursar sobre o tônus e o relaxamento. Em 1935, Edouard Guilmain, neurologista, desenvolve um exame psicomotor para � ns de diagnóstico, de indicação da terapêutica e de prognóstico. Em 1947, Julian de Ajuriaguerra, psiquiatra, delimita, com clareza, os transtornos psicomotores que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico (FALCÃO; BARRETO, 2009). No Brasil, segundo Falcão e Barreto (2009), Antonio Branco Lefévre buscou, junto as obras de Ajuriaguerra e Ozeretski, in� uenciado por sua formação em Paris, a organização da primeira escala de avaliação neuromotora para crianças brasileiras. Dra. Helena Antipo� , assistente de Claparéde, em Genebra, no Institut Jean-Jacques Rosseau e auxiliar de Binet e Simon, em Paris, da escola experimental “La Maison de Paris”, trouxe ao Brasil sua experiência em de� ciência mental. Em 1972, a argentina Dra. Dalila de Costallat, estagiária do Dr. Ajuriaguerra e da Dra. Soubiran, em Paris, é convidada a falar, em Brasília, às autoridades do Ministério daEducação, sobre seus trabalhos em de� ciência mental e inicia contatos e trocas permanentes com a Dra. Antipo� , no Brasil (FALCÃO; BARRETO, 2009). 7WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Em 1977, é fundado o GAE, Grupo de Atividades Especializadas, de acordo com Falcão e Barreto (2009), que promoveu, a partir de 1980, vários encontros nacionais e latino-americanos. O 1° Encontro Nacional de Psicomotricidade foi realizado em 1979. O GAE é responsável pela parte clínica. O ISPE, Instituto Superior de Psicomotricidade e Educação, destinado à formação de pro� ssionais em psicomotricidade, e se dedica ao ensino de aplicações da psicomotricidade em áreas de saúde e educação. A SBP – Sociedade Brasileira de Psicomotricidade –, entidade de caráter cientí� co- cultural sem � ns lucrativos, foi fundada em 19 de abril de 1980, com o intuito de lutar pela regulamentação da pro� ssão, unir os pro� ssionais da psicomotricidade e contribuir para o progresso da ciência, promovendo congressos, encontros cientí� cos, cursos, entre outros. No discurso da SBP, a psicomotricidade não é a soma da psicologia com a motricidade, ela tem valor em si. Para o psicomotricista, o conceito de unidade ultrapassa a ligação entre psico e soma. O indivíduo é visto dentro de uma globalidade e não num conjunto de suas inclinações (SBP, 2019). Psicomotricidade é uma neurociência que transforma o pensamento em ato motor harmônico. É a sintonia � na que coordena e organiza as ações gerenciadas pelo cérebro e as manifesta em conhecimento e aprendizado Psicomotricidade é a manifestação corporal do invisível de maneira visível. É a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas (SBP, 1999, s/p). Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma “concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização” (SBP, 2019, s/p). A Psicomotricidade se conceitua como ciência da Saúde e da Educação, pois indiferente das diversas escolas, psicológicas, condutistas, evolutistas, genéticas, etc. ela visa a representação e a expressão motora, através da utilização psíquica e mental do indivíduo (AJURIAGUERRA apud ISPE-GAE, 2007, p. 37). A Psicomotricidade é a otimização corporal dos potenciais neuro, psicocognitivo funcionais, sujeitos as leis de desenvolvimento e maturação, manifestados pela dimensão simbólica corporal própria, original e especial do ser humano (LOUREIRO apud ISPE-GAE, 2007, p. 45). A psicomotricidade, para Fonseca (2008), não é exclusiva de um novo método ou de uma “escola” ou de uma “corrente” de pensamento, nem constitui uma técnica, um processo, mas visa � ns educativos pelo emprego do movimento humano (ibidem, 2001). Motricidade: por de� nição conceitual é a propriedade que têm certas células nervosas de determinar a contração muscular. Psico (Gr Psyquê): vem representar a alma, espírito, intelecto. Psicomotricidade: condição de um estado de coisas corpo / mente. Visão global de um indivíduo, onde a base de atuação está no conhecimento desta fusão (ibidem, 2004, p. 5). O termo motricidade é mais utilizado pela área da educação física no âmbito da perspectiva do treinamento esportivo, ligado à coordenação motora, como qualidade física, sendo interpretado de forma diferente da perspectiva da Psicomotricidade. 8WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Também há uma área do conhecimento que trata a motricidade como um dos seus objetos teóricos e práticos de estudo: é a da Ciência da Motricidade Humana – CMH – ou Cineantropologia, articulada com um corpo epistemológico próprio e que enfoca a motricidade sob um paradigma diferente do da Psicomotricidade. Para Oliveira, o movimento é um suporte que ajuda a criança adquirir o conhecimento do mundo que a rodeia através de seu corpo, de suas percepções e sensações (ibidem, 2001). A psicomotricidade se propõe a permitir ao homem “sentir-se bem na sua pele”, permitir que se assuma como realidade corporal, possibilitando-lhe a livre expressão de seu ser. O indivíduo não é feito de uma só vez, mas se constrói, paulatinamente, através da interação com o meio e de suas próprias realizações e a psicomotricidade desempenha aí um papel fundamental (ibidem, 2001). Psicomotricista, segundo a SBP (2019), é o pro� ssional da área de saúde e educação que pesquisa, ajuda, previne e cuida do Homem na aquisição, no desenvolvimento e nos distúrbios da integração soma-psíquica. Suas áreas de atuação segundo a SBP são: Educação, Clínica (Reeducação, Terapia), Consultoria e Supervisão (ibidem, 2019). Psicomotricidade em diferentes contextos e em diferentes faixas etárias, como em escolas, clínicas de reabilitação, academias, hospitais e outros (NETO, 2002). Pro� ssionais de medicina (pediatria, psiquiatria, neurologia e reabilitação infantil); psicologia (psicologia evolutiva, do esporte e especial); educação física e pedagogia (ensino regular e fundamental); � sioterapia e fonoaudiologia. A clientela atendida pelo psicomotricista: crianças em fase de desenvolvimento; bebês de alto risco; crianças com di� culdades/atrasos no desenvolvimento global; pessoas portadoras de necessidades especiais: de� ciências sensoriais, motoras, mentais e psíquicas; pessoas que apresentam distúrbios sensoriais, perceptivos, motores e relacionais em consequência de lesões neurológicas; família e a 3ª idade (SBP, 2019). O mercado de trabalho do psicomotricista: segundo a SBP (2019), consiste em creches; escolas; escolas especiais; clínicas multidisciplinares; consultórios; clínicas geriátricas; postos de saúde; hospitais; empresas. Apesar de já há vários anos, no Brasil, haver cursos de graduação e pós-graduação latu senso em psicomotricidade, reconhecidos pelo MEC, a Psicomotricidade ainda não é uma pro� ssão regulamentada. “No Brasil, tramitamos com um projeto de legalização da pro� ssão do psicomotricista na Assembléia Nacional desde 1996” (ISPE-GAE, 2007, p. 50), “A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade [...] tem como objetivo maior a busca pela legalização do projeto que regulamenta a pro� ssão” (SBP, 2019, s/p). 2. HISTÓRICO DA PSICOMOTRICIDADE O corpo humano sempre foi valorizado, desde a Antiguidade, através do culto excessivo do esplendor físico, cultivando músculos bem desenvolvidos, considerados sinal de masculinidade. Devemos levar em conta que a palavra corpo provém, por um lado, do sânscrito garbhas, que signi� ca embrião, e, por outro lado, do grego karpós, que quer dizer fruto, semente, envoltura, e, por último, do latim corpus, que signi� ca tecido de membros, envoltura da alma, embrião do espírito. 9WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 2.1 História do Corpo O homem grego sabia, dar ao corpo, um lugar de eleição, nos estádios ou nos lugares de culto, no mármore ou nas cores. Para Platão, o primeiro elemento da educação do espírito e do corpo está em alimentá-lo e mexê-lo a cada momento, e já a� rmava haver uma separação distinta entre corpo e alma. Para Aristóteles, o corpo é matéria moldada pela alma. A alma é que põe o corpo em movimento, sendo ela a forma do corpo (FALCÃO; BARRETO, 2009). No século XVIII, Descartes (apud LEVIN, 2019, p. 22) estabelece “princípios fundamentais” a partir dos quais se acentua a dicotomia: o corpo, “que é apenas uma coisa externa que nãopensa”, e a alma, substância pensante, por excelência, que “não participa de nada daquilo que pertence ao corpo”. No século XIX, de acordo com Falcão e Barreto (2009), com o desenvolvimento e as descobertas da neuro� siologia, é possível constatar que há diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja lesionado ou sem que a lesão esteja localizada claramente. 2.2 História da Psicomotricidade É Dupré, neurologista francês, que, em 1907, a partir de seus estudos clínicos, de� ne a síndrome da debilidade motora, composta de sincinesias (movimentos involuntários que acompanham uma ação), paratonias (incapacidade para relaxar voluntariamente uma musculatura) e inabilidades, sem que lhes sejam atribuídos danos ou lesão extrapiramidal (FALCÃO; BARRETO, 2009). Evidenciando o paralelismo psicomotor, ou seja, a associação estreita entre o desenvolvimento da psicomotricidade, inteligência e afetividade. Henry Wallon (1879-1962), médico, psicólogo e pedagogo, é, provavelmente, o grande pioneiro da psicomotricidade, vista como campo cientí� co. Wallon diz que “o movimento é a única expressão e o primeiro instrumento do psiquismo”. O movimento (ação), pensamento e linguagem são unidades inseparáveis. O movimento é o pensamento em ato, e o pensamento é o movimento sem ato. Em 1935, Edouard Guilman (1901-1983) inicia a prática psicomotora, que estabelece, por meio de diferentes técnicas provenientes da neuropsiquiatria infantil, a reeducação psicomotora, que são exercícios para reeducar a atividade tônica, a atividade de relação e controle motor. Piaget (1896-1980) descreve a importância do período sensório-motor e da motricidade, principalmente antes da aquisição da linguagem, no desenvolvimento da inteligência. A inteligência, portanto, é uma adaptação ao meio ambiente. Para que isso possa ocorrer, é necessário, inicialmente, a manipulação dos objetos do meio, com a modi� cação dos re� exos primários. Em 1947-1948, Ajuriaguerra, em seu Manual de Psiquiatria Infantil, delimita com clareza os transtornos psicomotores “que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico”. É nesta oscilação que se situam os transtornos propriamente psicomotores. Na década de 70, os trabalhos na educação psicomotora, por Le Boulch, que desde 1966, em seu livro A Educação pelo Movimento, tinham como objetivo inicial sensibilizar os professores do primeiro grau, quanto ao problema da educação psicomotora na escola. 10WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 2 – Livro Le Boulch. Fonte: Livraria Traça (2019). Somaram-se a estes os trabalhos de L. Pick, P. Vayer, André Lapierre, Bernard Auconturier, Defontaine, J. C. Coste e outros que percebiam, nesse momento, a educação psicomotora, enquanto maneira original de ajudar a criança inadaptada a desenvolver suas potencialidades e ter acesso ao mundo escolar (FALCÃO; BARRETO, 2009). Para Levin (2019), as contribuições da psicanálise passam a integrar os interesses teóricos e metodológicos da psicomotricidade. Sendo assim, a psicomotricidade incorpora em suas construções teóricas vários conceitos psicanalíticos, tais como inconsciente, transferência, imagem corporal, sublimação e outros, formando um esboço de uma teoria psicanalítica de psicomotricidade. Le Camus, em 1986, comenta a permissão de Ajuriaguerra, a� rmando os grandes eixos de psicomotricidade dos tempos modernos: coordenação estático-dinâmica eóculo-manual; organização espacial e temporal da gestualidade instrumental; estrutura do esquema corporal, a� rmação da lateralidade e domínio tônico (FALCÃO; BARRETO, 2009). Década de 80, os mesmos autores argumentam que o conceito uma motricidade em relação, enfoca do olhar do psicomotricista, não mais voltado ao plano motor, mas direcionado a um corpo em movimento. Sendo assim, não se trata mais de uma reeducação, mas de uma terapia psicomotora, que se ocupa, observa e opera num corpo em movimento que se desloca e que constrói a realidade, à medida que se emociona e cuja emoção manifesta-se tonicamente. Na década 90, o percurso da psicomotricidade é marcado profundamente pela teoria da psicanálise, situada num sujeito desejante com seu corpo em movimento (FALCÃO; BARRETO, 2009). O psicomotricista leva em consideração não mais a relação empática, mas a relação transferencial, dando ênfase não mais à manifestação expressiva, mas simbólica, delineando-se, assim, o campo da clínica psicomotora. Sobre a Clínica Psicomotora. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/118446/ cabral_fm_tcc_prud.pdf?sequence=1>. 11WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 2.3 História da Psicomotricidade no Brasil Conforme Falcão e Barreto (2009), a história da psicomotricidade, no país, nasceu na década de 1950, quando Gruspun, psiquiatra da infância, e Lefévre, neurologista, enfatizaram o movimento para os processos terapêuticos da criança excepcional, caracterizando distúrbios psiconeurológicos. Gruspun mencionava atividades psicomotoras indicadas no tratamento de distúrbios de aprendizagem. De acordo com a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP, 2019), em Porto Alegre/ RS, foi criado o serviço de Educação Especial, dentro da Secretaria de Educação do Estado, dirigido por Rosat, psicóloga, inserindo no atendimento a Ortopedia mental e a Educação Física para os excepcionais. Em 1951, no Rio de Janeiro/RJ, foi criado o primeiro curso de formação de professores para de� cientes auditivos, em que eram incentivadas as atividades de Educação Física com jogos, dramatizações, mímica, rítmica e dança. Glorinha Bentannuller (1951) tentava inovar a educação do de� ciente visual, associando o movimento e a expressão corporal à voz, e na de� ciência mental, exercícios de motricidade no esquema de reeducação psicomotora. Lúcia Bentes (1960) introduziu exercícios de motricidade aos logopedistas, visando a orientação espacial, o ritmo e a coordenação motora. Mais tarde foi introduzida a cadeia da psicomotricidade na Faculdade de Logopedia da Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ, por Maria Amélia Machado. Esses pro� ssionais recebiam a formação em psicomotricidade pelas escolas francesas e, posteriormente, argentinas. Considera-se que a partir de 1968 foi realmente difundida a psicomotricidade no Brasil, através de cursos e cadeiras de psicomotricidade em universidades de diversos estados brasileiros. A princípio, a psicomotricidade foi introduzida nas escolas especializadas como um recurso pedagógico, que visava corrigir distúrbios e preencher lacunas de desenvolvimento das crianças excepcionais (FALCÃO; BARRETO, 2009). A Educação Especial foi o elo de surgimento e ligação da psicomotricidade na Europa e no Brasil. Em 1970, a primeira formação acontece no Rio de Janeiro, com a vinda, da França, de Mademoiselle Ramain � iers e Germain Farjado. Em 19 de abril de 1980, de acordo com Falcão e Barreto (2009), é fundada a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, tendo como presidente Beatriz do Rego Saboya, com a participação de Francoise Desobeau, tendo conseguido, ser integrada à Sociedade Internacional de Psicomotricidade, que era sediada em Paris/França. Já em 1982, a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP) organiza seu primeiro congresso no Rio de Janeiro (FALCÃO; BARRETO, 2009). Em 1983, acontece o curso de Pós-Graduação em Psicomotricidade, na Universidade Estácio de Sá e no Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação IBMR, ambos na cidade do Rio de Janeiro. Em julho de 1984, no mesmo instituto IBMR, foi aberto o curso de formação de psicomotricista, com duração de quatro anos, em nível de graduação, hoje já aprovado pelo MEC. A evolução da Psicomotricidade Brasileira se deu como na França. Iniciou-secom a reeducação psicomotora, mais tarde a educação, terapia e clínica psicomotora. 12WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 3. HENRI ALEXANDRE WALLON E SUAS CONTRIBUIÇÕES À PSICOMOTRICIDADE Henri Wallon foi um médico, psicólogo e � lósofo francês, que nasceu em 1879 e faleceu em 1962. Wallon, como militante, participou de debates referente à educação, em que tecia críticas severas à educação tradicional, chegando a propor uma reestruturação do sistema de ensino na França. Henri Wallon (1879-1962) dedicou-se ao estudo do psiquismo humano, situando-o numa perspectiva genética. Acreditava que só o conhecimento da gênese dos aspectos que constituem o psiquismo permite uma compreensão e explicação mais objetivas de seus mecanismos e relações mútuas, evitando o equívoco de tomar a conduta do adulto por uma simplicidade essencial e primitiva. A Psicologia da Criança é um dos principais ramos do estudo psicogenético do homem, pois é na infância que se localiza a gênese da maior parte dos processos psíquicos; este é um dos motivos do interesse de Wallon pelo desenvolvimento infantil. Como um grande teórico, ele se dedicou a estudar a psicogênese da pessoa, isto é, estudar a gênese dos processos que constituem o psiquismo humano. Por meio do estudo da criança, concentrou seus estudos nas fases iniciais da infância, a intenção é compreender como vai se embricando, articulando a complexidade de campos e fatores que constituem o psiquismo humano, tendo ressalvado seu limite, que é estudar o campo da consciência (LA TAILLE, 1992). O projeto de sua psicogenética é o estudo da pessoa completa, considerada em suas relações com o meio (contextuada) e em seus diversos domínios (integrada). Wallon estuda a criança em seus domínios afetivo, cognitivo e motor, procurando mostrar quais são, nos diferentes momentos do desenvolvimento, os vínculos entre cada um e suas implicações com o todo, representados pela personalidade. 3.1 O Desenvolvimento Infantil na Perspectiva Walloniana Para Wallon, o movimento é a única forma de expressão e o primeiro instrumento do psiquismo (FONSECA, 2008). Partindo dessa premissa e com base no desenvolvimento neurológico de recém-nascidos e na evolução psicomotora da criança, Wallon a� rma que: [...] o movimento não é um puro deslocamento no espaço nem uma adição pura e simples de contradições musculares; o movimento tem um signi� cado de relação e de interação afetiva com o mundo exterior, pois é a expressão material, concreta e corporal de uma dialética e subjetivo-afetivo que projeta a criança no contexto da sociogênese (FONSECA, 2008, p. 17). Para Wallon (1979, p. 74) “o órgão do movimento sob todas as formas é a musculatura estriada” e esta apresenta duas funções: a função cinética e a função tônica. A função cinética caracteriza-se pelo estiramento e encurtamento das � bras musculares e possibilita o movimento propriamente dito. A função tônica é caracterizada pela variação do nível de tensão da musculatura para a manutenção do equilíbrio corporal e constitui as atitudes, ou seja, as reações posturais. Mesmo numa atividade cinética (o movimento propriamente dito), a musculatura depende da função tônica e esta é necessária para manter a postura corporal. 13WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA [...] a função tónica, que mantém no músculo um certo nível de tensão, variável com as condições � siológicas próprias do sujeito ou com as di� culdades do acto em vias de execução. É o tônus que permite manter os músculos na forma que lhes deu o movimento, no caso de este vir a interromper-se. Acompanha o movimento para suportar o seu esforço na medida das resistências encontradas, mas pode dissociar-se dele e transformá-lo numa atitude estável, ou seja, em imobilidade (WALLON, 1979, p. 74-75). Assim, a função tônica regula o equilíbrio corporal, no movimento ou na imobilidade, mas é a expressão de emoções, sua principal � nalidade. As emoções sempre vêm acompanhadas de uma mímica facial e corporal, traduzidas em atitudes que têm signi� cados especí� cos, conforme a cultura a que pertencem. Portanto, as atitudes estão relacionadas, por um lado, com a acomodação ou mobilização da criança no seu processo de adaptação ao meio e, por outro lado, com a sua vida afetiva. Por serem expressivas, possuem um caráter altamente contagioso e mobilizador do meio humano (GALVÃO, 2002). Todavia, “todo este aparelho funcional está longe de se encontrar em estado operacional desde o nascimento. Os seus componentes aparecerão cada um na sua altura, e permitirão então à criança modi� car as suas relações com o meio” (WALLON, 1979, p. 75). Mahoney (2004, p. 14) a� rma que “o desenvolvimento da criança se constitui no encontro, no entrelaçamento de suas condições de existência cotidiana, encravada em uma dada sociedade, numa dada cultura, numa dada época”. Figura 3 – Relação mãe-bebê. Fonte: Revista Na Mochila (2019). Wallon ressalta que a criança, já no início do seu desenvolvimento, estabelece uma relação de comunicação com o meio (Figura 3), através da seleção de movimentos do corpo, que garantem a sua aproximação com o outro e a satisfação de suas necessidades. Portanto, na fase inicial do desenvolvimento infantil, os movimentos do corpo se apresentam como instrumentos expressivos de bem-estar e mal-estar (MAHONEY, 2004). Sobre a função cinética e a função tônica. Disponível em: <http://coralx.ufsm.br/revce/ceesp/2000/02/a6.htm>. 14WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Conforme o desenvolvimento avança, a relação da criança com o meio facilita a discriminação das formas de se comunicar, sendo que o andar e a fala desencadeiam um salto qualitativo no desenvolvimento da pequena infância, possibilitando uma maior autonomia e independência na investigação do espaço e dos objetos que nele se encontram. Os objetos e a organização do espaço constituem, nesse momento, uma oportunidade ou ocasião de movimentação e exploração do corpo e, essa constatação, propicia estudos e discussões pedagógicas sobre o material educativo no processo do desenvolvimento da criança pequena. Nesse processo, a fala acompanhada do andar possibilita, ainda, à criança, o ingresso no mundo dos símbolos. Wallon (1942) enfatiza que é na idade de 2 a 3 anos que a criança conquista a dimensão simbólica do pensamento e isto lhe dará condições de apropriar-se do conhecimento cultural acumulado, historicamente, pelo meio social. A capacidade de simbolização se inicia quando a criança começa a imitar o que vê ao redor e a expressar o seu pensamento por ideomovimentos – pensamento apoiado em gestos –, o que lhe possibilita ultrapassar os limites sensório-motores do comportamento. O gesto é capaz de tornar presente o objeto e substituí-lo, ou seja, pelos gestos a criança simula uma situação de utilização do objeto sem tê-lo, de fato, presente; trata-se de um ato sem o objeto real. [...] Essa atividade que o faz-de-conta se faz presente consiste, portanto, na descoberta e no exercício do desdobramento da realidade, pressupondo o início da representação. [...] O desdobramento da realidade só será possível, no entanto, quando houver a subordinação da atividade sensório-motora à representação. Nesse momento, assiste-se ao início da organização do pensamento; a criança é capaz de dar signi� cação ao símbolo e ao signo, ou seja, encontrar para um objeto sua representação e para a representação um signo (COSTA, 2000, p. 35). Entretanto, para a criança constituir a imagem e representá-la é preciso, antes, conhecer e estabelecer relações corporais com o objeto e/ou a situação que serão representados. A imitação, para Wallon, “é, ao mesmo tempo,participação e desdobramento do ato, contradição que anuncia o nascimento da representação e revela sua importância para o desenvolvimento psicológico da criança” (COSTA, 2000, p. 34). Segundo Galvão (2002, p. 72), “para Wallon, a imitação é uma forma de atividade que revela, de maneira incontestável, as origens motoras do ato mental”. A capacidade de simbolizar se amplia quando a criança articula a aquisição da fala à manipulação de diferentes objetos e/ou vivências corporais de situações diferenciadas, sendo a linguagem o instrumento que vai elaborar e organizar a expressividade da criança no mundo dos símbolos. Assim, o corpo, como um conjunto de dimensões física, afetiva, histórica e social, assume um papel fundamental no processo de constituição da criança pequena como sujeito cultural. Na idade de 3 a 6 anos, o domínio de praxias culturais (alimentar-se sozinha, amarrar os sapatos, escovar os dentes etc.) pode propiciar o aperfeiçoamento da expressividade infantil e, consequentemente, uma autonomia na movimentação do corpo. Ao tornar-se capaz de distinguir os objetos, de identi� car a sua cor, a sua forma, as suas dimensões e as suas próprias qualidades táteis e olfativas, a criança desenvolve, cada vez mais, a dependência em experimentar modelos de movimentos do seu meio sociocultural. Portanto, os movimentos do corpo, tão importantes no desenvolvimento físico-motor infantil, também constituem uma linguagem que se constrói no processo histórico-cultural do meio, no qual a criança se encontra. 15WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Assim, na idade de 3 a 6 anos, os gestos instrumentais (praxias) sofrem um processo de especialização. Segundo Galvão (2002), é um processo estreitamente vinculado ao ambiente cultural. Em síntese, os progressos da linguagem oral, da representação (verbal e não verbal) e o aperfeiçoamento de movimentos do corpo constituem condições para a elaboração da expressividade infantil, ou seja, de uma linguagem corporal. 3.2 As Fases do Desenvolvimento da Criança De acordo com Galvão (2002), Wallon pensa o desenvolvimento da criança composto de 5 estágios, em que fases de predominância afetiva e cognitiva vão se sucedendo. 1) Estágio impulsivo-emocional (do nascimento ao primeiro ano de vida): a predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas, as quais intermediam sua relação com o mundo físico. A emoção, nesse período, é o principal instrumento de interação da criança com o meio, visto que necessita de um outro para prover suas necessidades. Nesse período o interesse da criança está voltado para as pessoas. O recém-nascido é incapaz de, autonomamente, prover suas necessidades de sobrevivência e de segurança mais elementares, possui uma inadaptação motora. O meio social envolvente terá de interpretar e dar signi� cado aos seus sinais e, assim, produzir respostas motoras relacionais que o satisfaçam. Nesse momento é essencial a díade mãe-bebê. Será através da motricidade da mãe que o bebê irá formar a sua motricidade do eu. O bebê irá progredir de uma diferenciação corporal para uma identidade de si, a partir das interações motoras com os adultos, que acabam por modelar o seu eu, consubstanciando a formação de uma consciência individual, que vai emergindo de uma consciência social e coletiva. Segundo Wallon (2007, p. 120), este estágio afetivo ou emocional “orienta suas primeiras intenções para os outros e coloca em primeiro plano nele a sociabilidade”. A impulsividade vai se transformando em expressividade e forma de comunicação com o outro, começa-se a estabelecer as relações entre suas manifestações e as reações do meio humano. Assim, de acordo com Wallon (2007, p. 15) até o desenvolvimento da linguagem, a motricidade é “a característica existencial e essencial da criança, é a resposta preferencial e prioritária às suas necessidades básicas e aos seus estados emocionais e relacionais”. 2) Estágio sensório-motor e projetivo (de 1 a 3 anos): esse estágio se constitui da exploração do mundo físico buscando, assim, a construção da realidade através das relações cognitivas com o meio, inteligência prática e simbólica. A aquisição da marcha e da preensão dão à criança maior autonomia na manipulação de objetos e na exploração dos espaços. A criança manipula o objeto, manipulando a si própria, tornando o objeto parte intrínseca do seu corpo e do seu ser total. Nesse período ocorre também a maturação para a exploração sensório-motora da realidade, estando o pensamento voltado para o ato motor. Por isso, o termo projetivo refere-se ao fato de a ação do pensamento utilizar-se de gestos para se exteriorizar. O ato mental “projeta- se” em atos motores. Com base na motricidade global e � na e na linguagem, uma oromotricidade, dão a oportunidade para a criança se projetar no mundo dos símbolos. O pensamento da criança, inicialmente, é vago, necessitando dos gestos para se exteriorizar. Os gestos são instrumentos não-verbais e vão servir para veicular suas ideias e ações. O gesto precede a palavra. 16WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Para Wallon (2007, p. 122): A persistência deste estágio pode ser observada nas histórias da criança, nas quais seus gestos distribuem ao redor dela as presenças ou as circunstâncias que ela quer evocar, e em seus jogos, nos quais ela transforma objetos quaisquer que ela � nge manejar. Muitas vezes até o objeto falta totalmente e subsiste apenas o gesto. Outro aspecto do desenvolvimento neste estágio refere-se à relação da criança com sua imagem corporal. O reconhecimento de sua imagem re� etida no espelho, a criança percebe que sua imagem pertence ao plano da sua representação mental. Wallon, nesta fase, dá importância à imitação para novas aprendizagens. Para Fonseca (2008), ao imitar os modelos sociais, a criança incube-se corporalmente e constrói imagens mentais contextualizadas, recria-os e modi� ca-os através da interiorização das elaborações exteriores sensório-motoras. A criança, então, passa a ser capaz, com a aquisição da linguagem, de dar signi� cação ao símbolo e ao signo. A palavra assume o gesto. De uma linguagem corporal, a criança passa a uma linguagem falada e, assim, a linguagem passa a ser o instrumento do pensamento, a ferramenta por excelência de sua atividade mental. 3) Estágio do personalismo (de 3 a 6 anos): esse período é constituído pela construção da consciência de si mediante as interações sociais e pelo retorno das relações afetivas. Nesse período, a criança demanda afeto devido sua personalidade ainda não estar totalmente diferenciada. A construção da consciência de si pela interação social (é a diferenciação psíquica da criança em relação ao outro) necessita de manifestação expressiva (espaço e permissão para a ação). A criança já se autodenomina “eu”/“mim”. O que também marca esse estagio são 3 fases no seu comportamento. • Oposição: a criança precisa se opor ao outro para demarcar seu espaço, em busca da a� rmação de si. Há uma combinação de momentos de confronto e negativismo (Figura 4). A posse de objetos e brinquedos esboça o desejo de propriedade e pode ilustrar o sentimento de competição e de disputa. • Sedução: criança sente necessidade de ser admirada, há uma necessidade também de aprovação e exibição. • Identi� cação: criança busca incorporar o outro, imitando-o. As pessoas que admira ou os heróis das suas fantasias são modelos a suplantar, pois deseja apoderar-se das suas qualidades e atributos. Figura 4 – Criança birrenta. Fonte: Mirian Marques Psicoterapia (2011). 17WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA A motricidade deixa de ser explicada por uma simples condutamotora concreta, para ser imaginada e concebida por meio de processos mentais e procedimentos representacionais que tem suporte na imagem corporal. 4) Estágio categorial (de 6 a 11 anos): nesse período ocorre a ampliação da capacidade de abstração mental, a consolidação da função simbólica e da diferenciação da personalidade, estando a criança voltada para o conhecimento e conquista do mundo exterior. A dimensão cognitiva é predominante, nesse período, devido à relação com o meio. A criança torna-se mais atenta e mais autodisciplinada, mais inibida em termos motores, seus movimentos tornam-se mais regulados e precisos. Os progressos intelectuais dirigem o interesse da criança para as coisas, para o conhecimento e conquista do mundo exterior. Este estágio caracteriza-se pela formação de novas estruturas mentais, que se dividem em duas etapas: dos 6 aos 9 anos, pensamento pré-categorial, e dos 9 aos 11 anos, o pensamento categorial. O primeiro caracteriza-se por um processo sincrético, e o segundo, por um processo discursivo. O pensamento sincrético baseia-se na relação dos contrastes, de parentesco, de identi� cação, diferenciação e oposição, como exemplo, grande-pequeno, branco-preto. No pensamento categorial reduz-se o sincretismo e emerge um sistema de relações, com novos planos de discriminação e de regulação, sendo possível nomear, agrupar, comparar, categorizar, analisar, de� nir e classi� car objetos ou acontecimentos. 5) Estágio da adolescência (a partir de 11 anos): este período, marcado por transformações corporais/hormonais e psicológicas, é predominantemente afetivo e repleto de con� itos internos e externos. Nesse estágio ocorre a reestruturação do esquema corporal, a autoa� rmação e a estruturação da sexualidade. Os estágios do desenvolvimento humano não se encerram com a adolescência. Os estudos de Wallon se con� guram em um valioso recurso deixado à educação escolar, referente ao desenvolvimento infantil e para a identi� cação de comportamentos destoantes do processo de evolução e de adaptação ao meio. A escola, de posse desses conhecimentos, poderá organizar atividades pedagógicas de acordo com a etapa de desenvolvimento da criança, sem esperar dela algo que ela não consiga realizar. A escola, entendida como um ambiente social que promove e desenvolve a integração social, virá a corroborar com a integração das funções da afetividade, do movimento e da cognição no desenvolvimento da criança. Henri Wallon, Coleção Grande Educadores. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=BgLiZLAa4hA>. 18WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 4. PSICOMOTRICIDADE FUNCIONAL X PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL A Educação Psicomotora vem com a � nalidade de ocupar os espaços educativos com grupos de crianças. Os psicomotricistas perceberam que esta vertente poderia se constituir no processo inicial da educação da criança, justamente por compreender o período da infância como aquele que constitui e alicerça as bases emocionais e afetivas do ser humano. A Educação Psicomotora, atualmente, se divide em dois eixos: a Psicomotricidade Funcional e a Psicomotricidade Relacional. Negrine (1995, p. 74) de� ne o aspecto que diferencia as duas práticas, elucidando-nos que “[...] o ponto fundamental da passagem da Psicomotricidade Funcional à Relacional é a utilização do jogo (brincar da criança) como elemento pedagógico”. Le Boulch (1992) explica que a Educação Psicomotora é formadora de uma base indispensável a toda criança, pois tem como objetivo assegurar o desenvolvimento funcional. Negrine (2002) compreende a Educação Psicomotora como o meio lúdico-educativo para a criança expressar-se por intermédio do jogo, do exercício e da comunicação entre crianças por intermédio da expressividade motriz. A Psicomotricidade Funcional se refere à parte motora, que se refere a procedimentos funcionais realizados através de exercícios repetidos, que ajudam a eliminar possíveis descompassos nas atividades motoras. A Psicomotricidade Relacional leva em conta a parte afetiva, em que a criança se expressa de forma espontânea e tem um caráter preventivo, ajuda a criança no desenvolvimento cognitivo e no aprendizado. Jogo pedagógico. 4.1 Conceitos Funcionais Coordenação motora global: a capacidade de incorporar atividades que incluem duas ou mais capacidades e padrões motores. Tônus: para que o nosso corpo execute uma ação é necessário que haja tensão adequada em um grupo de músculos e que outro grupo de músculos relaxe. É o que chamamos de tônus muscular. Para executar um movimento precisamos ter controle sobre o tônus. Postura: para que o corpo assuma uma posição desejada é necessário ter equilíbrio postural. Equilíbrio: posição estável de um corpo, sem oscilações ou desvios. Respiração: a educação corporal é imprescindível para haver uma boa respiração. Esquema corporal: é uma construção mental que a criança realiza gradualmente, de acordo com o uso que faz de seu corpo. Lateralidade: é a capacidade de controlar os dois lados do corpo juntos ou separadamente. Relaxamento: é um método de condicionamento psico� siológico, que leva a alterações físicas e emocionais, levando a criança a vivenciar uma sensação de calma, redução de fadiga. Orientação e Estruturação Espaço-Temporal: é a orientação e a estruturação da tomada de consciência de si, dos objetos e dos outro num tempo e num espaço em relação ao mundo. Ritmo: um movimento controlado ou calculado que se produz pela ordenação de elementos diferentes. 19WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 4.2 Conceitos Relacionais A comunicação facilita receber a informação e transmiti-la através da expressão corporal. Ela tem que ser estabelecida, pois o corpo fala numa comunicação verbal e não verbal. É através da comunicação que se aprende, que se escuta e dá signi� cado. A expressão exercita as emoções, oferece e favorece o processo educativo para a criança se relacionar consigo mesma e com os outros através das ações que ela mesma cria pela sua imagem corporal. A afetividade, para o desenvolvimento psicomotor, é fator contribuinte. A afetividade facilita e contribui com as funções intelectuais. O limite não tem que ser imposto, deve ser conduzido corretamente, mostrando que a criança tem deveres e responsabilidades. Mas não se pode direcionar o limite apenas quando pensamos em disciplina – disciplina de subordinação. A disciplina na psicomotricidade é a do toque humano, o contato com o corpo, as sensações, a intenção, as noções espaciais e temporais. O princípio fundamental da corporeidade baseia-se no corpo como presença do ser humano no mundo. Corpo na relação com o outro, com o mundo. A agressividade é decorrente de não conseguir alcançar aquilo que desejamos e, para � rmarmos nossa personalidade, assumimos o papel dominante. Canalizar ou reprimir a agressividade pode levar a criança a um estado de elaborá-la ou de introversão e compulsão. O desenho é um meio para se trabalhar a agressividade, trabalhar o simbólico. 4.3 Características da Psicomotricidade Funcional Exercícios funcionais como forma de proporcionar a aquisição de certas competências e habilidades motrizes. Serve-se de métodos diretivos para atingir seus � ns. Repetição de técnicas psicomotoras funcionais que permitem a organização e reorganização psicomotora do sujeito através dos conceitos psicomotores. A relação que o psicomotricista tem com a criança é de comando, é uma intervenção no corpo de uma forma mecânica, tem uma programação. A psicomotricidade funcional se sustenta em diagnósticos do per� l psicomotriz e na prescrição de exercícios para sanar possíveis descompassos do desenvolvimento motriz. A estratégia pedagógica baseia-sena repetição de exercícios funcionais, que são estereótipos criados e classi� cados constituindo as famílias de exercícios: exercícios de equilíbrios estáticos e dinâmicos, exercícios de coordenação, exercícios de � exibilidade, e exercícios de agilidade e destreza. O desenvolvimento da sessão de psicomotricidade funcional é estruturado de forma que o aluno imite os modelos de exercícios pré-programados, que são propostos pelo professor. “[...] a criança não tem escolha, todas ao mesmo tempo devem realizar os exercícios que são propostos” (NEGRINE, 2002, p. 117). O professor utiliza-se de métodos diretivos, tornando seu aluno dependente de suas ações. Não dando espaço para que a criança realize atividades que permitam explorar o mundo simbólico, impedindo a exteriorização de sua expressividade motriz. Le Boulch (1992) comenta que a educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na escola elementar, ponto de partida de todas as aprendizagens pré-escolares e escolares. Lapierre (2002, p. 85) a� rma que a educação psicomotora “é uma ação psicopedagógica que utiliza os meios de educação física, com a � nalidade de normalizar ou melhorar o comportamento do indivíduo”. 20WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA LAPIERRE, A.; LAPIERRE, A. Trad. PEREIRA, M. E. O Adulto Diante da Criança de 0 a 3 anos – Psicomotricidade Relacional e Formação da Personalidade. Curitiba: UFPR: CIAR., 2002. Picq e Vayer (1988) sugerem que se investiguem as técnicas mais e� cazes para obter uma melhora progressiva no comportamento geral da criança. Explicam que, após a análise dos problemas encontrados, a psicomotricidade funcional tem a � nalidade de educar, sistematicamente, as diferentes condutas motoras, permitindo, assim, uma maior integração escolar e social. Em suas primeiras obras sobre a psicomotricidade funcional, Lapierre (2002, p. 9) assegura que a “[...] organização espaço grá� ca, necessária para a aquisição da leitura e da escrita, necessitava da prévia organização do espaço de modo geral e inicialmente corporal”. Com isso, determina como objeto de sua prática crianças com algum grau de di� culdade de aprendizagem (disléxicos, disgrá� cos, agitados), traçando o per� l psicomotor da criança e depois apresentando tabelas de exercícios com o objetivo de sanar os problemas. Quadro 1 – Per� l psicomotor da criança e exercícios com o objetivo de sanar os problemas. Fonte: adaptado de Lapierre (2002). 21WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 5. PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL A Psicomotricidade Relacional foi criada pelo francês André Lapierre, na década de 70, vindo para o Brasil em 1982, durante o primeiro Congresso organizado pela Sociedade Brasileira de Terapia Psicomotora. Ele se refere à Psicomotricidade Relacional, acreditando que o corpo não é essencialmente cognição, mas também o lugar de toda sensibilidade, afetividade, emoção, da relação consigo e com o outro. É visto como lugar de prazer, de desejo, de frustração e de angústia. Lugar de lembranças de todas as emoções positivas e negativas vividas pela criança em relação com os outros, particularmente, com as � guras parentais. “O meu caminho conduziu-me àquilo que chamei de ‘psicomotricidade relacional’, colocando a ênfase sobre a primazia da relação com o outro, com seus conteúdos projetivos, simbólicos e fantasmáticos” (LAPIERRE, 2002, p. 171). Enfatizando a importância da comunicação corporal, pelas relações psicofísicas e socioemocionais do sujeito. É uma pratica que permite que a criança, o jovem e o adulto a expressão e superação de con� itos relacionais, interferindo de forma clara, preventiva e terapeuticamente, sobre o processo de desenvolvimento cognitivo, psicomotor e socioemocional, na medida em que estão diretamente vinculados a fatores psicoafetivos relacionais. De� ne-se, dessa forma, como um método de trabalho que proporciona um espaço de legitimação dos desejos e dos sentimentos, no qual o indivíduo pode se mostrar na sua inteireza, com seu medos, desejos, fantasias e ambivalências, na relação consigo mesmo, com o outro e com o meio, potencializando o desenvolvimento global, a aprendizagem, o equilíbrio da personalidade, facilitando as relações afetivas e sociais. Introduz, em sua prática, o jogo espontâneo em que o corpo participa em todas as dimensões, privilegiando a comunicação não-verbal, em que, através de situações lúdicas e dinâmicas, joga com o corpo em movimento, buscando induzir situações nas quais sejam expressos atos desencadeados por sentimentos, que somente mais tarde traduzirão em termos conscientes, as emoções em que se originaram, ou seja, num primeiro momento de forma impulsiva e inconsciente, para depois chegar ao consciente. 5.1 Objeto de Estudo da Psicomotricidade Relacional Objeto de estudo da Psicomotricidade Relacional é o ser humano, criança, adolescente ou adulto. Pretende compreender os diversos níveis de comunicação corporal estabelecida a partir do jogo espontâneo, para daí proporcionar os meios de decodi� cação das nuances expressas nas relações, levando em consideração seu desenvolvimento psicomotor e sócio-histórico, com a � nalidade de atender às necessidades de seres em formação, nos aspectos psíquicos, motores e emocionais que, em conjunto, in� uem diretamente na construção e desenvolvimento da personalidade. 22WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 5.2 A Formação do Psicomotricista Relacional Ser Psicomotricista Relacional é, pois, desenvolver um modo de ser que envolve um processo de autoconhecimento e conhecimento do outro. Esse processo não termina jamais, pois, como pessoas, vamos nos modi� cando, conhecendo e reconhecendo ao longo de nossa vida. O Psicomotricista Relacional é, portanto, uma pessoa aberta e respeitadora, que busca a compreensão do Ser, que se coloca à escuta e à comunicação com o outro, aberto a novas experiências e conhecimentos que possam enriquecer sua vivência pessoal e pro� ssional. A experiência pro� ssional e a divulgação da Psicomotricidade Relacional no Brasil, por Leopoldo Viera, levaram-no à elaboração de uma estrutura curricular, reconhecida por André e Anne Lapierre, que contempla três aspectos indispensáveis e indissociáveis para a formação de novos psicomotricistas relacionais. São elas: • Formação Teórica: disciplinas especí� cas com aprofundamento nos conteúdos psicoafetivos, bioantropológicos e psiconeurológicos. • Formação Pro� ssional: com estágios e prática pro� ssional supervisionada. • Formação Pessoal: um processo de autoconhecimento, por meio de ações espontâneas, que proporcionam o acesso às motivações inconscientes, priorizando o comportamento e a comunicação não-verbal. 5.3 Aplicação e Áreas de Atuação da Psicomotricidade Rela- cional 5.3.1 Psicomotricidade relacional no contexto clínico Objetivo é compreender e trabalhar no nível da terapia psicomotora, as desordens relativas ao desenvolvimento da criança nas esferas motoras, relacionais, afetivas e cognitivas, tendo como referência o enquadre psicodinâmico da motricidade infantil. Promove, ainda, a expressão da criança em sua plenitude, recriando um espaço para vivências de aspecto afetivo que permeiam a evolução da personalidade e a inserção social. Favorece o processo de interação, desenvolvendo a capacidade relacional, numa descoberta de uma comunicação afetiva, em que a autenticidade e o respeito sejam parâmetros para o projeto de vida. O trabalho em contexto clínico traz procedimentos especí� cos desse atendimento, entre eles a entrevista inicial com pais, sessões iniciais com o participante, com o � m de diagnóstico, o encontro com outros pro�ssionais ou instituições que trabalham com a criança ou o adolescente, apresentação aos pais do plano de trabalho e as sessões, propriamente ditas. 23WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 5 – Psicomotricidade relacional clínica. Fonte: Kyrius (2019). 5.3.2 Psicomotricidade relacional no contexto organizacional O trabalho centra-se, essencialmente, sobre a relação, isto é, sobre a observação e análise do que se passa quando pessoas entram em comunicação com outras pessoas. Nos dias atuais, a qualidade de comunicação está cada vez mais mediatizada por uma dinâmica relacional, mais ou menos saudável, em que qualquer falha ou ruído provoca interferências signi� cativas no desenvolvimento de qualidades pessoais, essenciais ao acesso do conhecimento e ao sucesso em todos os empreendimentos, tanto pessoais do trabalhador quanto da empresa enquanto organização. 5.3.3 Psicomotricidade relacional no contexto escolar É promover o desenvolvimento integral das crianças, envolvendo os aspectos: cognitivo, social, psicoafetivo e psicomotor. Nesse sentido, para a Psicomotricidade Relacional a aprendizagem e o desenvolvimento se produzem pelas formas de relação afetiva com o outro, de acordo com as possibilidades e limites de cada um, em comum acordo. Pretende promover a expressão de professores e crianças em sua plenitude, recriando uma escola em que se abre o espaço para vivências de aspectos afetivos, que permeiam a evolução da personalidade e a inserção social. A Psicomotricidade Relacional na escola enfatiza a comunicação humana e comportamentos afetivo-emocionais indispensáveis à conquista do conhecimento e ao bem- estar pessoal e social com função preventiva. Trabalhar as relações sociais no cotidiano escolar na perspectiva da Psicomotricidade Relacional consiste em viver e instigar a aprendizagem, na qual o afeto, a ação (corpo e movimento) e o respeito à singularidade estão inseridos, baseando-se no desejo e não somente na lógica do dever. Desta forma, professor e aluno solidi� cam relações de con� ança e segurança necessárias ao investimento em possibilidades de descobrir e ampliar conhecimentos. Assumindo, assim, a coautoria na construção do saber, fazendo valer o papel social da educação e con� rmando a a� rmação de André Lapierre: “o desejo de aprender é um componente secundário do desejo de agir, do desejo de SER”. 2424WWW.UNINGA.BR UNIDADE 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................26 1. CONCEITOS FUNCIONAIS ...................................................................................................................................27 1.1 COORDENAÇÃO MOTORA GLOBAL ...................................................................................................................27 1.1.1 MOTRICIDADE FINA ........................................................................................................................................27 1.1.2 MOTRICIDADE GLOBAL .................................................................................................................................. 28 1.2 ESQUEMA CORPORAL ...................................................................................................................................... 30 1.2.1 ETAPAS - ESQUEMA CORPORAL .................................................................................................................. 30 1.2.1.1 PRIMEIRA ETAPA: CORPO VIVIDO (ATÉ 3 ANOS DE IDADE) ................................................................... 30 1.2.1.2 SEGUNDA ETAPA: CORPO PERCEBIDO OU DESCOBERTO (3 A 7 ANOS) ...............................................31 1.2.1.3 TERCEIRA ETAPA: CORPO REPRESENTADO (7 A 12 ANOS).....................................................................31 1.3 LATERALIDADE ...................................................................................................................................................31 ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR PROF.A MA. CAROLINE POTTKER ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: PSICOMOTRICIDADE 25WWW.UNINGA.BR 1.4 ORGANIZAÇÃO ESPACIAL ..................................................................................................................................33 1.5 ORGANIZAÇÃO TEMPORAL .............................................................................................................................. 35 2. CONCEITOS RELACIONAIS .................................................................................................................................37 2.1 EXPRESSÃO ....................................................................................................................................................... 38 2.2 COMUNICAÇÃO ................................................................................................................................................. 38 2.3 AFETIVIDADE ..................................................................................................................................................... 38 2.4 AGRESSIVIDADE ............................................................................................................................................... 39 2.5 LIMITES ............................................................................................................................................................. 40 26WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Esta Unidade será dividida em dois conceitos. Iniciamos apresentando o primeiro, referente aos funcionais, entre eles: coordenação motora global, esquema corporal, lateralidade, orientação especial e orientação temporal. Em cada um destes conceitos serão apresentadas suas concepções, atividades a serem realizadas e algumas di� culdade que a criança possa ter ao não desenvolver corretamente alguns dos conceitos. O segundo conceito diz respeito aos conceitos relacionais, entre estes estão a expressão, a comunicação, a afetividade, a agressividade e os limites. Abordaremos, de forma breve, como a psicomotricidade, a partir destes conceitos, se desenvolvida por meio do corpo, se expressa, se comunica com os outros corpos, revelando sua personalidade mais agressiva ou mais afetiva, que entrelaça na personalidade dos outros, pelo movimento desse corpo. 27WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1. CONCEITOS FUNCIONAIS 1.1 Coordenação Motora Global 1.1.1 Motricidade fina Motricidade Fina “é uma atividade de movimento espacialmente pequena, que requer um emprego de força mínima, mas grande precisão ou velocidade ou ambos, sendo executada principalmente pelas mãos e dedos, às vezes também pelos pés” (MEINEL, 1984, p. 154). A coordenação � na, segundo Balbé et al. (2009), diz respeito à habilidade e destreza manual ou pedal, constituindo-se como um aspecto particular na coordenação global. Habilidades motoras � nas requerem a capacidade de controlar os músculos pequenos do corpo, a � m de atingir a execução bem-sucedida da habilidade (MAGILL, 1984). Conforme Can� eld (1981) citado por Balbé et al. (2009), a motricidade � na envolve a coordenação óculo- manual e requer um alto grau de precisão no movimento para o desempenho da habilidade especí� ca, num grande nível de realização. Podemos citar como exemplo da necessidade desta habilidade na realização de tarefas como escrever, tocar piano, trabalhar em relógios etc. A coordenação viso-manual representa a atividade mais frequente utilizada pelo homem, pois atua para inúmeras atividades,como pegar ou lançar objetos, escrever, desenhar, pintar etc. (ROSA NETO, 1996). Velasco (1996, p. 107) citado por Balbé et al. (2009) destaca que “a interação com pequenos objetos exige da criança os movimentos de preensão e pinça que representam a base para o desenvolvimento da coordenação motora � na”. Esta coordenação também pode ser chamada de óculo-manual. É muito importante para atividade de escrita. Entre as atividades para desenvolver a motricidade � na estão: recortar, perfurar, colar, encaixar etc. Para o desenvolvimento da escrita, Oliveira (1997) descreve que é necessário: maturação geral do sistema nervoso, desenvolvimento psicomotor geral em relação à tonicidade e à coordenação dos movimentos e desenvolvimento da motricidade � na do desenvolvimento dos dedos da mão. Além da coordenação do ato de sentar, postura correta para os movimentos grá� cos, dissociação de movimentos e controlar a pressão grá� ca sobre o lápis, maior destreza e, consequentemente, velocidade, são aspectos essenciais para o movimento da escrita. Além de uma lateralidade bem de� nida. O desenho e gra� smo são preparatórios para a atividade de escrita (OLIVEIRA, 1997). Ao desenvolver a habilidade de pegar o lápis de forma correta, é preciso uma aquisição de destreza manual. En� m, a escrita é uma conjunção entre uma atividade visual de identi� cação do modelo caligrá� co e uma atividade motora de realização do mesmo. Sobre movimento de preensão em: DESENVOLVIMENTO NORMAL DA PREENSÃO. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/jhgd/article/view/38136/40869>. 28WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 1 – Formas de segurar o lápis para escrita. Fonte: Oliveira (1997). 1.1.2 Motricidade global Segundo Batistella (1997), a motricidade global tem como objetivo a realização e a automação dos movimentos globais complexos, que se desenrolam num certo período de tempo e que exigem a atividade conjunta de vários grupos musculares. A motricidade global envolve movimentos que envolvem grandes grupos musculares em ação simultânea, com vistas à execução de movimentos voluntários mais ou menos complexos (BALBÉ, et al., 2009). Dessa forma, as capacidades motoras globais são caracterizadas por envolver a grande musculatura como base principal de movimento. No desempenho de habilidades motoras globais, a precisão do movimento não é tão importante para a execução da habilidade, como nos casos das habilidades motoras � nas. Embora a precisão não seja um componente importante nesta tarefa, a coordenação perfeita na realização deste movimento é imprescindível ao desenvolvimento hábil desta tarefa (MAGILL, 1984 apud BALBÉ et al., 2009). 29WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA A coordenação global e as experimentações feitas pela criança levam a adquirir a dissociação do movimento, levando-a a ter condições de realizar diversos movimentos simultaneamente, sendo que cada um destes movimentos pode ser realizado com membros diferentes sem perder a unidade do gesto (OLIVEIRA, 1997). Por exemplo: dirigir e tocar piano. Atividades que podem ser realizadas: andar; saltar; correr, pular, atirar, rolar, lançar, arrastar etc. A conduta motora de coordenação motora global é concretizada através da maturação, motora e neurológica da criança. Para isto ocorrer haverá um re� namento das sensações e percepções, visual, auditiva, sinestésica, tátil e principalmente proprioceptiva, através da solicitação motora que as atividades infantis requerem (VELASCO, 1996 apud BALBÉ et al., 2009). Postura, equilíbrio e tônus estão associados com a coordenação motora. Postura é a posição espacial do corpo. O Equilíbrio é a posição estável de um corpo e o Tônus é a resistência de um músculo a distensão. Estão relacionados entre si e com a coordenação. A coordenação motora depende do equilíbrio postural do indivíduo. Através do movimento, o indivíduo procura seu eixo corporal, vai se adaptando e procurando um equilíbrio. O indivíduo precisa dominar cada postura para dominar a ação pretendida e a cada modi� cação de postura o tônus se modi� ca para ajustar a nova postura. O equilíbrio é a base primordial de toda ação diferenciada dos membros superiores. Quanto mais defeituoso é o movimento, mais energia consome, tal gasto energético poderia ser canalizado para outros trabalhos neuromusculares. Nesta luta constante, ainda que inconsciente, contra o desequilíbrio resulta uma fatiga corporal, mental e espiritual, aumentando o nível de stress, ansiedade e angustia do indivíduo (BALBÉ, et al., 2009). A postura, de acordo com os mesmos autores, é a atividade re� exa do corpo com respeito ao espaço. O equilíbrio é considerado como o estado de um corpo quando distintas e encontradas forças, que atuam sobre ele, se compensam e se anulam mutuamente. Desde o ponto de vista biológico, a possibilidade de manter posturas, posições e atitudes indica a existência de equilíbrio. O equilíbrio tônico postural do sujeito, seu gesto, seu modo de respirar, sua atitude etc., são o re� exo de seu comportamento, porém ao mesmo tempo de suas di� culdades e de seus bloqueios. Para voltar a encontrar seu estado de equilíbrio biopsicossocial, é necessário liberar os pontos de maior tensão muscular (couraças musculares), isto é, o conjunto de reações tônicas de defesa integradas a atitude corporal. No plano da organização neuropsicológica, se pode dizer que o equilíbrio tônico postural constitui o modelo de autorregulação do comportamento (ROSA NETO, 1996 apud BALBÉ et al., 2009). Asher (1975) considera que as variações da postura estão associadas a períodos de crescimento, aparecendo como uma resposta aos problemas de equilíbrio que costumam ocorrer segundo as mudanças nas proporções corporais e seus segmentos. Conforme Rosa Neto (1996) citado por Balbé et al. (2009), a postura inadequada está associada a uma excessiva tensão que favorece um maior trabalho neuromuscular, di� cultando a transmissão e informações dos impulsos nervosos. 30WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1.2 Esquema Corporal A imagem do corpo representa uma forma de equilíbrio. Em um contexto de relações mútuas do organismo e do meio é onde se organiza a imagem do corpo como núcleo central da personalidade (ROSA NETO, 1996 apud BALBÉ et al., 2009). O esquema corporal é um elemento básico indispensável para a formação da personalidade da criança. É a representação relativamente global, cientí� ca e diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo (WALLON, 1975). A criança percebe-se e percebe os seres e as coisas que a cercam em função de sua pessoa. Sua personalidade se desenvolverá a uma progressiva tomada de consciência de seu corpo, de seu ser, de suas possibilidades de agir e transformar o mundo à sua volta. Ela se sentirá bem na medida em que seu corpo lhe obedece, em que o conhece bem, em que o utiliza não só para movimentar-se, mas também para agir (PEREIRA, 2002 apud BALBÉ et al., 2009). As atividades tônicas, que estão relacionadas à atitude, postura e a atividade cinética, orientadas para o mundo exterior. Essas duas orientações da atividade motriz (tônica e cinética), com a incessante reciprocidade das atitudes, da sensibilidade e da acomodação perceptiva e mental, correspondem aos aspectos fundamentais da função muscular, que deve assegurar a relação com o mundo exterior graças aos deslocamentos e movimentos do corpo (mobilidade) e assegurar a conservação do equilíbrio corporal, infraestrutura de toda ação diferenciada (tono). A função tônica se apresenta em um plano � siológico, em dois aspectos: o tono de repouso o estado de tensão permanente do músculo que se conserva, inclusive duranteo sono; o tono de atitude, ordenado e harmonizado pelo jogo complexo dos re� exos da atitude, sendo estes mesmos resultado das sensações proprioceptivas e da soma dos estímulos provenientes do mundo exterior (ROSA NETO, 1996 apud BALBÉ et al., 2009). A imagem corporal como resultado complexo de toda a atividade cinética, sendo a imagem do corpo a síntese de todas as mensagens, de todos os estímulos e de todas as ações que permitam a criança se diferenciar do mundo exterior, e de fazer do “EU” o sujeito de sua própria existência. O esquema corporal pode ser de� nido no plano educativo, como a chave de toda organização da personalidade (PEREIRA, 2002). Segundo Bueno (1999), o esquema e a imagem corporal são dois conceitos diferentes, enquanto a imagem corporal é a impressão que a pessoa tem de si mesmo, o esquema corporal é o conhecimento intelectual das partes do corpo e de suas funções. O Esquema Corporal está relacionado com o equilíbrio, coordenação viso-motora, posição dos movimentos, posição no espaço, linguagem. O corpo é um ponto de referência para a criança desenvolver o cognitivo, alfabetização, conceitos de espaço (embaixo, ao lado, frente), ela visualiza esses conceitos em si e depois nos objetos, inibição voluntária (atenção), dominar a escrita. 1.2.1 Etapas - esquema corporal 1.2.1.1 Primeira etapa: corpo vivido (até 3 anos de idade) O bebê sente o meio como sendo parte dele. Amadurecimento do Sistema nervoso, passa a se diferenciar do meio. Experiência vivida pela criança, pela exploração do meio, por sua atividade investigadora e incessante. No � nal já começa a ter imagem do corpo, pois o “eu” torna- se uni� cado e individualizado. 31WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1.2.1.2 Segunda etapa: corpo percebido ou descoberto (3 a 7 anos) Maturação da função de interiorização (possibilidade de deslocar sua atenção do meio ambiente para seu corpo próprio, a � m de levar a tomada de consciência). Ajuda a desenvolver uma percepção centrada em seu próprio corpo. Passa do ajustamento espontâneo para o controlado, domínio do corpo, aumentando a coordenação dentro de um tempo e espaço. Representação mental dos elementos do espaço. Corpo como ponto de referência para situar objetos no espaço e tempo. O nível do comportamento motor e intelectual estão submetidos a percepção num espaço em parte representado, mas ainda centralizado sobre o próprio corpo. 1.2.1.3 Terceira etapa: corpo representado (7 a 12 anos) Estruturação do esquema corporal, com as noções do todo e das partes do seu corpo, conhece as posições e consegue movimentar-se corretamente no meio com controle e domínio. Sua imagem do corpo passa a ser antecipatória, permitindo efetuar e programar mentalmente as ações em pensamento. Passa a percepção de um espaço orientado em torno do seu próprio corpo à descentralização, a representação mental de um espaço orientado no qual o corpo está situado como objeto. De acordo com Oliveira (1997), o esquema corporal apresenta algumas di� culdades para o desenvolvimento da criança: • Não tem consciência do seu corpo, não controlam o corpo, respiração, equilíbrio, coordenação (de� ciente). • Conhecimento pobre do corpo. • Di� culdade de locomoção (orientação espaço-tempo). • Lentidão na execução de movimentos – abotoar, andar de bicicleta, jogar bola • Confusão com as coordenadas do espaço: direita/esquerda; frente/trás. • Di� culdade na escrita: obedecer aos limites da folha, vírgulas, pontos, armar contas. • • Di� culdade para perceber as diferenças de letras (p e b; b e d; p e q) e palavras (porco e corpo), numerais (42 e 24). 1.3 Lateralidade O corpo humano está caracterizado pela presença de partes anatômicas pares e globalmente simétricas. Esta simetria anatômica se redobra, não obstante, por uma assimetria funcional, no sentido de que certas atividades só intervêm numa das partes. Por exemplo, escrevemos com uma só mão; os centros de linguagem se situam, na maioria das pessoas, no hemisfério esquerdo. Esquema corporal de crianças com difi culdade de aprendizagem. Disponível em: <https://www.redalyc.org/html/2823/282321834002/>. 32WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA A lateralidade é a preferência da utilização de uma das partes simétricas do corpo: mão, olho, ouvido, perna; a lateralização cortical é a especialidade de um dos dois hemisférios enquanto ao tratamento da informação sensorial ou enquanto ao controle de certas funções (OLIVEIRA, 1997 apud BALBÉ et al., 2009). A lateralidade está em função de um predomínio que outorga a um dos dois hemisférios a iniciativa da organização do ato motor, que desembocará na aprendizagem e a consolidação das praxias. Esta atitude funcional, suporte da intencionalidade, se desenvolve de forma fundamental no momento da atividade de investigação, ao largo da qual a criança vai enfrentar-se com seu meio. A ação educativa fundamental para colocar a criança nas melhores condições para aceder a uma lateralidade de� nida, respeitando fatores genéticos e ambientais, é permitir-lhe organizar suas atividades motoras (ROSA NETO, 1996 apud BALBÉ et al., 2009). Segundo Pereira (2002) citado por Balbé et al. (2009), a de� nição de uma das partes do corpo só ocorre por volta dos sete anos de idade, antes disso, devem-se estimular ambos os lados, para que a criança possa descobrir por si só, qual o seu lado de preferência. A preferência pelo uso de uma das mãos geralmente se evidencia aos três anos. Para Bueno (1999), a predominância se faz em função do hemisfério cerebral. Os movimentos preferenciais podem ser: destro ou sinistro. Para isso, deve-se observar os 3 níveis: mão, olho e pé. Lado dominante apresenta mais força muscular, mais precisão e rapidez. Os dois lados funcionam de forma complementar. Na evolução da lateralidade, podemos observar: 1° mês - bebê não apresenta dominância. 4°e 5° mês - não consegue segurar dois objetos ao mesmo tempo nas mãos. Segurar de um lado só pode indicar que será seu lado dominante. A partir de um ano de idade começa a se evidenciar, mas com 5 e 7 anos tem a dominância determinada. A Lateralidade não pode ser imposta, é natural, conforme a imagem proprioceptiva (capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo) que ela tem do seu corpo e a preferência pelo uso de suas mãos. Noções de dominância lateral: lateralidade homogênea – destra ou canhota; lateralidade cruzada – destra da mão, canhota do pé, olho e ouvido; ambidestra – hábil dos dois lados. A diferença entre a lateralidade e o conhecimento da criança de D e E: lateralidade, é a dominância de um lado a nível de força e precisão, e outro é apenas o domínio dos termos. Exercícios práticos a realizar: jogo da amarelinha; cruzar as instruções; controlar uma bola com os pés; jogos para reconhecimento de D/E etc. Figura 2 – Atividades para desenvolver lateralidade. Fonte: Universo Especial (2019). 33WWW.UNINGA.BR PS IC OM OT RI CI DA DE | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA A lateralidade também apresenta algumas di� culdades no desenvolvimento da criança: a) Di� culdade em aprender a direção grá� ca. b) Di� culdade em aprender os conceitos D/E. c)Comprometimento na leitura e escrita. Ritmo da escrita mais lento, escrita ilegível e especular (espelhada). d) Má postura – esforço para escrever. e) Di� culdade de coordenação � na. f) Di� culdade de Discriminação visual: b, d, p, q. g) Afetiva: baixa autoestima. h) Gagueira. i) Aparecimento das sincinesias. J) Di� culdade de Estruturação espacial. 1.4 Organização Espacial É a consciência da situação das coisas entre si. É a possibilidade para a pessoa organizar- se perante o mundo que a cerca, de organizar as coisas entre
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