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Psicologia da educação: Origem e campos de atuação SST Vizacre; Ana Paula Psicologia da educação: Origem e campos de atuação / Ana Paula Vizacre nº de p. : 10 Copyright © 2019. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Psicologia da educação: Origem e campos de atuação 3 Apresentação Nesta unidade, conheceremos a origem e os campos da Psicologia da Educação no Brasil e no mundo, suas correntes teóricas e sua história de atuação no Brasil. Dessa maneira, ampliaremos a compreensão de modo integrado sobre as áreas da Psicologia e da Educação, as quais visam colaborar para a reflexão sobre as práticas educativas. Dessa maneira, as transformações e contribuições da Psicologia da Educação no âmbito institucional, com olhar voltado ao educando no seu processo de aprendizagem (e não mais na educação bancária, em que o professor era o detentor do saber) influenciaram fortemente o modo de ensinar. A origem da Psicologia da Educação O interesse educacional surgiu devido aos problemas e desafios desse campo de atuação, que esteve sempre presente nas discussões de áreas como a Filosofia, Psicologia, assim como na Educação, no final do século XIX. Pesquisas sobre a mente humana Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: A imagem retrata um cérebro humano dividido entre os hemisférios esquerdo e direito. No hemisfério esquerdo, há a representação gráfica de símbolos associados à ciência. No hemisfério direito, há a representação gráfica de símbolos associados à cultura. 4 Nesse contexto, outras áreas como a Psicologia Educacional ou da Educação se tornaram extensão desse campo de estudo. As ideias iniciais acerca do que se configurava a Psicologia da Educação eram controversas, de modo que alguns pesquisadores compreendiam que a Psicologia da Educação não se configurava como uma área ou disciplina, ou seja, não constituía um campo específico de conhecimento, sendo considerado somente um campo de aplicação da Psicologia. No entanto, outros pesquisadores consideravam que a Psicologia da Educação se relacionava com a aplicação da Psicologia e dos seus conhecimentos para a resolução de problemas relacionados aos fenômenos educativos (COLL; PALÁCIOS; MARCHESI, 1996). Na década de 1950, ocorreram mudanças em torno das contradições entre pesquisadores acerca da definição da área da Psicologia da Educação. Finalmente, na década de 1970, atribuiu-se a essa área o caráter multidisciplinar, que se configura presente até os dias atuais. Assim, tal área é considerada basicamente como a Psicologia aplicada à Educação, entendida como os conhecimentos da Psicologia à serviço da educação. Entenda mais sobre a origem da Psicologia da Educação no texto “ A educação e as transformações na sociedade”, acessando o link:https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/a- educacao-as-transformacoes-na-sociedade.htm Saiba mais Esse é um campo em constante evolução e que tem contribuído para o melhor entendimento dos assuntos educacionais relacionados à mente humana e à aprendizagem, caracterizando-se como uma área de investigação dos problemas e fenômenos educacionais, com base no entendimento psicológico (GAMEZ, 2013). Ao longo dos últimos anos, as teorias psicológicas têm constituído o fundamento científico da Psicologia Educacional. https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/a-educacao-as-transformacoes-na-sociedade.htm https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/a-educacao-as-transformacoes-na-sociedade.htm 5 História da Psicologia da Educação no Brasil A história da Psicologia da Educação ainda é muito recente no Brasil, obtendo destaque no início da década de 1920, na implantação do movimento da Escola Nova, que ocorreu em alguns estados brasileiros (GOULART, 2010). Essa época foi marcada pelo desenvolvimento do capitalismo e modernização industrial, o que causou muitas mudanças nas relações sociais e na maneira de viver das pessoas. A busca pelo preparo da mão de obra para atender às indústrias fez com que houvesse o crescimento do ingresso das crianças na escola. De acordo com Goulart (2010), a psicologia da educação, na sua fase de implantação, integrou os currículos das escolas normais, e foi a base “científica” do novo modelo de ensino primário. Segundo a autora, “o objetivo da psicologia da educação era formar o professor capaz de conhecer a personalidade da criança e orientar sua aprendizagem” (GOULART, 2010, p. 179). O Brasil recebeu, nas décadas de 1930 e 1940, a influência da psicologia europeia, quando a psicometria (área da psicologia que atua na medição ou de métodos quantitativos para os processos psíquicos) se desenvolveu nos laboratórios de psicologia experimental. Goulart (2010) explica que houve abuso na utilização dos testes, pois eles se prestavam à divisão normal-anormal. Para ela, “este uso abusivo dos testes tornava a psicologia uma ciência capaz de explicar as diferenças individuais de aptidão, camuflando as desigualdades sociais ao apresentá-las como dificuldades psicológicas” (GOULART, 2010, p. 180). O Brasil foi influenciado também por Jean Piaget por meio de professores que faziam cursos de especialização na Europa. As ideias de Piaget eram contrárias ao método de testes. 6 Entenda mais sobre a História da Psicologia da Educação no Brasil com o texto “Psicologia e educação no Brasil: uma análise histórica”, acessando o link: https://pedagogiafadba.files.wordpress.com/2013/03/ psicologia-e-educacao-no-brasil-uma-analise-historica.pdf Saiba mais O movimento de implementação da Escola Nova ocorreu no período de 1925 a 1950, porém o período de Ditadura Civil-Militar no Brasil (1930-1945) impossibilitou a continuidade das reflexões e ações em torno do processo de aprendizagem, relacionando-o às relações sociais, fazendo da educação um instrumento de consolidação e legitimação dos ideais da classe dominante (GOULART, 2010). Após 15 anos de ditadura, com o retorno da democracia, o Brasil teve a educação gratuita garantida para todos. Houve nesse período o envio de professores aos Estados Unidos para aperfeiçoamento, por meio de acordos entre os governos brasileiro e estadunidense que proporcionou um novo impulso à psicologia da educação. Segundo Goulart (2010), na década de 1980, houve um redespertar do interesse pela teoria de Piaget, como uma influência dos Estados Unidos que estavam utilizando a teoria há dez anos. Na mesma época, a psicanálise deixou de ser vista apenas como uma forma de psicoterapia e passou a ser encarada como referencial para reflexão sobre diversos problemas, inclusive sobre educação. Passou-se a considerar que a criança pudesse ter problemas emocionais surgidos do interior de sua família e não apenas problemas cognitivos que interferiam na sua aprendizagem. Goulart (2010) afirma que os trabalhos do soviético Lev Vygotsky passaram, na década de 1980, a serem divulgados. Sua teoria fica conhecida como Psicologia Histórico-Cultural e sua premissa é a de que os fenômenos psicológicos têm caráter social. O desenvolvimento humano, segundo Vygotsky, não é um mero acúmulo, mas é transformado em função dos contextos culturais e históricos nos quais vivemos. https://pedagogiafadba.files.wordpress.com/2013/03/psicologia-e-educacao-no-brasil-uma-analise-historica.pdf https://pedagogiafadba.files.wordpress.com/2013/03/psicologia-e-educacao-no-brasil-uma-analise-historica.pdf 7 Psicologia da Educação na atualidade Tanamachi (2000) aponta que o trabalho do psicólogo educacional se ampliou somente a partir da década de 1990, o que propiciou reflexões mais críticas a respeito da formação e atuação desse profissional. As áreas da Psicologia e da Educação passaram a tentar compreender o desenvolvimento humano, ultrapassando as ideias reducionistas das dificuldades de aprendizagem e comportamento, bem como ampliando o diálogo para ambientes além da escola como, por exemplo, espaços comunitários, núcleos e associações.Crianças em ambiente escolar Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: A imagem retrata o ambiente de uma sala de aula, com dois estudantes à frente (um menino e uma menina) e dois estudantes atrás (duas meninas). Uma das meninas está em pé observando uma folha que a professora está segurando. A psicologia da educação pode ajudar na criação de condições para que os professores e profissionais da educação compreendam e estejam atentos aos fatores que influenciam no desenvolvimento acadêmico e psicossocial de seus alunos, tornando-os protagonistas do seu próprio processo de aprendizagem. Maluf e Cruces (2008) afirmam que, nos anos 2000, a Psicologia Educacional emergiu e se consolidou com uma nova literatura para área, após as crises enfrentadas nos anos anteriores, abordando relatos de experiências bem- sucedidos, assim como o desenvolvimento de pesquisas teóricas que apontam 8 para as novas possibilidades de formação e atuação do psicólogo escolar. Para as autoras, a “nova Psicologia Educacional está-se fazendo presente mais na prática do que no discurso” (MALUF; CRUCES, 2008, p. 94). Entenda mais sobre a Psicologia da Educação na atualidade no artigo “Psicologia escolar: cenários atuais”, acessando o link: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/ view/9075/7475 Saiba mais A Psicologia da Educação teve grande influência dos conhecimentos trazidos pela Psicologia, configurando-se uma área na qual convergem os interesses e questionamentos sobre a aprendizagem, bem como os problemas e desafios que envolvem o espaço educativo e/ou escolar. Alguns pesquisadores que destinaram seus estudos para o desenvolvimento humano e aspectos relacionados à educação e/ou os problemas psicológicos ligados a essa área são: B. F. Skinner (Behaviorismo Radical), Freud (Psicanálise), Jean Piaget, Henri Wallon e Lev Vygotsky. Para esses pesquisadores, o conhecimento é gerado por meio de uma interação do sujeito com o local em que vive, com base em estruturas existentes em ambos. Nessa teoria, o ser humano não é visto como um sujeito passivo, mas, ao contrário, assume um papel ativo e utiliza suas significações para aprender e se desenvolver. Por meio dessas ideias advindas da Psicologia, esses pesquisadores conduziram seus estudos para o desenvolvimento humano e infantil, assim como a aprendizagem, e influenciaram a Psicologia da educação. https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/9075/7475 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/9075/7475 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/9075/7475 9 Fechamento Chegamos ao final de mais uma unidade referente aos nossos estudos sobre a Psicologia da Educação. Essa área teve sua origem com base nos estudos da Psicologia científica, contextualizando a história nas primeiras fases sendo, portanto, considerada uma área recente. Com influência de outros países, a Psicologia da Educação teve início no Brasil mais precisamente na década de 1920 com a implantação da Escola Nova, assim como em décadas posteriores, com a forte influência das ideias de Jean Piaget disseminadas na Europa. Assim, compreendemos que a Psicologia da Educação pode contribuir para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças de forma integral, dialogando com contexto educacional, auxiliando na criação de condições para que professores e profissionais da educação compreendam fatores que influenciam no desenvolvimento acadêmico e psicossocial de seus alunos. 10 Referências COLL, C.; PALÁCIOS, J.; MARCHESI, Á. (org.). Desenvolvimento psicológico e Educação: Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. v. 2. GAMEZ, L. Psicologia da Educação. Rio de Janeiro: LTC, 2013. GOULART, I. B. Psicologia da educação: fundamentos teóricos: aplicações à prática pedagógica. 16. ed. Petrópolis: Vozes, 2010. MALUF, M. R.; CRUCES, A. V. V. Psicologia educacional na contemporaneidade. Boletim Academia Paulista de Psicologia, v. 28, n, 1, p. 87-99, 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/bapp/v28n1/v28n1a11.pdf. Acesso em: 5 fev. 2017. TANAMACHI, E. de R. Mediações teórico-práticas de uma visão crítica em psicologia escolar. In: TANAMACHI, E. R.; PROENÇA, M.; ROCHA, M. L. (org.). Psicologia e educação: desafios teórico-práticos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000. p. 73- 103. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/bapp/v28n1/v28n1a11.pdf