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LISTA DE LITERATURA – Iª GERAÇÃO MODERNISTA 01. Leia o poema. Estrada Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho, Interessa mais que uma avenida urbana. Nas cidades todas as pessoas se parecem. Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente. Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma. Cada criatura é única. Até os cães. Estes cães da roça parecem homens de negócios: Andam sempre preocupados. E quanta gente vem e vai! E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar: Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso. Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos, Que a vida passa! que a vida passa! E que a mocidade vai acabar. BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967. A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos do cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para A) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à cidade. B) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente inércia da vida rural. C) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua juventude. D) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança. E) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte. 02. A discussão sobre gramática na classe está "quente". Será que os brasileiros sabem gramática? A professora de Português propõe para debate o seguinte texto: (0,15) PRA MIM BRINCAR Não há nada mais gostoso do que o mim sujeito de verbo no infinito. Pra mim brincar. As cariocas que não sabem gramática falam assim. Todos os brasileiros deviam de querer falar como as cariocas que não sabem gramática. - As palavras mais feias da língua portuguesa são quiçá, alhures e miúde. (BANDEIRA, Manuel. "Seleta em prosa e verso". Org: Emanuel de Moraes. 4Žed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1986. Pág.19) Com a orientação da professora e após o debate sobre o texto de Manuel Bandeira, os alunos chegaram à seguinte conclusão: A) Uma das propostas mais ousadas do Modernismo foi a busca da identidade do povo brasileiro e o registro, no texto literário, da diversidade das falas brasileiras. B) Apesar de os modernistas registrarem as falas regionais do Brasil, ainda foram preconceituosos em relação às cariocas. C) A tradição dos valores portugueses foi a pauta temática do movimento modernista. D) Manuel Bandeira e os modernistas brasileiros exaltaram em seus textos o primitivismo da nação brasileira. E) Manuel Bandeira considera a diversidade dos falares brasileiros uma agressão à Língua Portuguesa. 03. Leia os poemas. I. Manuel Bandeira (...) A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros Vinha da boca do povo na língua errada do povo Língua certa do povo Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil Ao passo que nós O que fazemos É macaquear A sintaxe lusíada (...) II. Oswald de Andrade Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português A ideia comum aos dois textos consiste na A) contradição entre a língua concebida e a que se realiza nos poemas. B) crítica ao linguajar popular e debochado do povo brasileiro. C) aceitação dos valores da cultura europeia, particularmente a portuguesa. D) proposta de uma língua nacional que esteja próxima da expressão lusíada. E) busca de uma identidade nacional, negando-se a cultura europeia. 04. Leia o texto. O nome da rapsódia é só Macunaíma, mas não é só Macunaíma. Mario de Andrade quis dizer alguma coisa do seu protagonista e acrescentou ao título um atributo paradoxal: O herói sem nenhum caráter. O nome, Macunaíma, centro da rapsódia. O epíteto, herói. A diferença está na cauda de cada proposição: no começo, sem nenhum caráter; no fim, de nossa gente. O que se pode inferir é a presença viva, no autor, de duas motivações tão fortes que se converteram em molas da composição da obra: a) por um lado, o desejo de contar e cantar episódios em torno de uma figura lendária que o fascinara pelos mais diversos motivos e que trazia em si os atributos do herói, entendido no senso mais lato possível de um ser entre humano e mítico, que desempenha certos papéis, vai em busca de um bem essencial, arrosta perigos, sofre mudanças extraordinárias, enfim, vence ou malogra. b) por outro lado, o desejo não menos imperioso de pensar o povo brasileiro, nossa gente, percorrendo as trilhas cruzadas ou superpostas da sua existência selvagem, colonial e moderna, à procura de uma identidade que, de tão plural que é, beira a surpresa e a indeterminação; daí ser o herói sem nenhum caráter. Compreender Macunaíma é sondar ambas as motivações: a de narrar, que é lúdica e estética; a de interpretar, que é histórica e ideológica. BOSI. A. Situação de Macunaíma. In: ANDRADE. M. Macunaíma. São Paulo: Scipione Cultural, 1997 (adaptado). Com base no fragmento acima do crítico literário Alfredo Bosi é possível inferir que o Macunaíma de Mário de Andrade A) centra-se na figura de um herói mitológico, capaz de proezas mágicas, cujo contato com o real serve apenas para aceder a realidades sobrehumanas, longe do mundo desumanizador que caracteriza o Brasil da década de 20 do século passado. B) postula um retorno a um Brasil onde predominavam culturas rurais e populares, vivendo em idílio com uma natureza selvagem e acolhedora. C) na efervescente década de 20 do século passado, em que a literatura brasileira procurava pensar o Brasil com base nas mudanças profundas por que passava a nação, é um romance lúdico à moda romântica, não contaminado pelo clima político-ideológico que dominou a obra de seus contemporâneos. D) constrói um conceito de identidade brasileira e interamericana que põe em cena diversas tradições (europeia, negra e indígena, popular e erudita, arcaica e moderna), cujo herói “sem nenhum caráter” não pode ser reduzido a um nacionalismo romântico redutor e xenófobo. E) utiliza-se do recurso da diversidade linguística e folclórica com o fim de ironizar o caos cultural que a influência das vanguardas europeias, mal digeridas por aqui, deixou na literatura do período, alvo da crítica de Mário em seu livro de poemas Paulicéia desvairada. 05. Leia o fragmento. Esta gramática, pois que gramática implica no seu conceito o conjunto de normas com que torna consciente a organização de uma ou mais falas, esta gramática parece estar em contradição com o meu sentimento. É certo que não tive jamais a pretensão de criar a Fala Brasileira. Não tem contradição. Só quis mostrar que o meu trabalho não foi leviano, foi sério. Se cada um fizer também das observações e estudos pessoais a sua gramatiquinha muito que isso facilitará pra daqui a uns cinquenta anos se salientar normais gerais, não só da fala oral transitória e vaga, porém da expressão literária impressa, isto é, da estilização erudita da linguagem oral. Essa estilização é que determina a cultura civilizada sob o ponto de vista expressivo. Linguístico. ANDRADE, Mário. Apud PINTO, E. P. A gramatiquinha de Mário de Andrade: texto e contexto. São Paulo: Duas Cidades: Secretaria de Estado da Cultura, 1990 (adaptado). O fragmento é baseado nos originais de Mário de Andrade destinados à elaboração da sua Gramatiquinha. Muitos rascunhos do autor foram compilados, com base nos quais depreende- se do pensamento de Mário de Andrade que ele A) demonstra estar de acordo com os ideais da gramática normativa. B) é destituído da pretensão de representar uma linguagem próxima do falar.C) dá preferência à linguagem literária ao caracterizá-la como estilização erudita da linguagem oral. D) reconhece a importância do registro do português do Brasil ao buscar sistematizar a língua na sua expressão oral e literária. E) reflete a respeito dos métodos de elaboração das gramáticas, para que ele se torne mais sério, o que fica claro na sugestão de que cada um se dedique a estudos pessoais. 06. Leia o poema. O trovador Sentimentos em mim do asperamente dos homens das primeiras eras... As primaveras do sarcasmo intermitentemente no meu coração arlequinal... Intermitentemente... Outras vezes é um doente, um frio na minha alma doente como um longo som redondo... Cantabona! Cantabona! Dlorom... Sou um tupi tangendo um alaúde! ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de Mário de Andrade. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005. Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário de Andrade. Em O trovador, esse aspecto é A) abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal” que, evocando o carnaval, remete à brasilidade. B) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade em suas viagens e pesquisas folclóricas. C) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9). D) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade. E) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens das primeiras eras” para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas. 07. Leia o poema. Vício na fala Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mió Para pior pió Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhados. (Oswald de Andrade) Sobre o poema de Oswald de Andrade, julgue as seguintes proposições: I. O poema de Oswald de Andrade volta-se contra o preconceito linguístico e nos chama a atenção para a necessidade de uma espécie de ética linguística pautada na diferença entre as línguas, nesse caso em uma única língua. II. O poema critica a maneira de falar do povo brasileiro, sobretudo das classes incultas que desconhecem o nível formal da língua. III. Para ele, os falantes que dizem “mio”, “mió”, “pió”, “teia”, “teiado”, de certa forma, constroem um “telhado”, ou seja, criam novas formas de pronúncia que se sobressaem, em muitos casos, à norma culta. IV. A palavra “vício”, encontrada no título do poema, denota certo preconceito linguístico do autor, que julga a norma culta superior ao coloquialismo presente na fala das pessoas menos esclarecidas. A) Todas estão corretas. B) I e III estão corretas. C) I, III e IV estão corretas. D) II e IV estão corretas. E) I, II e III estão corretas. 08. Leia os excertos seguintes e analise as afirmativas. "ALGAZARRA A fala dos bichos é comprida e fácil: miados soltos na campina; águias hidráulicas nas pontes; na cozinha a hidra espia medrosas as cabeças; enguias engolem sete redes saturam de lombrigas o pomar; (...)" (Ana Cristina Cesar, "26 poetas hoje") "BUCÓLICA Agora vamos correr o pomar antigo Bicos aéreos de patos selvagens Tetas verdes entre folhas E uma passarinhada nos vaia (...)" (Oswald de Andrade, "Pau-Brasil") I. Os textos possuem características vanguardistas, uma vez que criam situações e espaços surreais, compondo um pomar em que os encanamentos se transformam em "lombrigas" e as frutas em "tetas verdes". II. Embora modernos, esses poemas são representantes do Arcadismo, porque ambos trabalham com elementos da natureza, colocando o homem em contato direto com ela. Tal procedimento é verificável em toda a literatura ocidental. III. No poema de Ana Cristina Cesar, a "algazarra" do título, que está ligada a uma grande fantasia, se estabelece a partir dos versos "águias/hidráulicas" e se estende até o último verso. IV. A "algazarra" também pode ser verificada nos jogos sonoros das palavras, que geram ambiguidade de sentido, como na palavra "águias", que pode ser "águas", e no verso "enguias engolem", em que "engolem" repercute nas primeiras letras de "enguias". Estão corretas: A) Apenas I e II. B) Apenas II e III. C) Apenas III e IV. D) I, II e IV. E) I, III e IV. 09. Leia o poema. Brasil O Zé Pereira chegou de caravela E preguntou pro guarani da mata virgem - Sois cristão? - Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte Teterê tetê Quizá Quizá Quecê! Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu! O negro zonzo saído da fornalha Tomou a palavra e respondeu - Sim pela graça de Deus - Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum! E fizeram o Carnaval (Oswald de Andrade) Este texto apresenta uma versão humorística da formação do Brasil, mostrando-a como uma junção de elementos diferentes. Considerando-se esse aspecto, é correto afirmar que a visão apresentada pelo texto é A) ambígua, pois tanto aponta o caráter desconjuntado da formação nacional, quanto parece sugerir que esse processo, apesar de tudo, acaba bem. B) inovadora, pois mostra que as três raças formadoras – portugueses, negros e índios – pouco contribuíram para a formação da identidade brasileira. C) moralizante, na medida em que aponta a precariedade da formação cristã do Brasil como causa da predominância de elementos primitivos e pagãos. D) preconceituosa, pois critica tanto índios quanto negros, representando de modo positivo apenas o elemento europeu, vindo com as caravelas. E) negativa, pois retrata a formação do Brasil como incoerente e defeituosa, resultando em anarquia e falta de seriedade. 10. Leia o texto a seguir. O que diz o vento (07/10/1991) Para o Brasil chegar afinal ao Primeiro Mundo só falta vulcão. Uns abalozinhos já têm havido por aí, e cada vez mais frequentes. Agora passa por Itu esse vendaval, com tantas vítimas e tantos prejuízos a lastimar. Alguns jornais não tiveram dúvida: ciclone. Ou tornado, quem sabe. Shelley que me desculpe, mas vento me dá nos nervos. Desarruma a gente por dentro. Mas, em matéria de vento, poeta tem imunidades. Manuel Bandeira associou à canção do vento a canção da sua vida. O vento varria as luzes, as músicas, os aromas. E a sua vida ficava cada vez mais cheia de aromas, de estrelas, de cânticos. Fúria dos elementos, símbolo da instabilidade, o vento é ao mesmo tempo sopro de vida. Uma aragem acompanha sempre os anjos. E foi o vento que fez descer sobre os apóstolos as línguas de fogo do Espírito Santo. Destruidor e salvador, com o vento renasce a vida, diz a “Ode to the West Wind”, de Shelley. No inverno só um poeta romântico entrevê o início da primavera. Divindade para os gregos, o vento inquieta porque sacode a apatia e a estagnação. Com esse poder de levar embora, suponhamos que uma lufada varresse o Brasil, como na canção do Manuel Bandeira. Que é que esse vento benfazejo devia levar embora? Todo mundo sabe o mundo de males que nos oprime nesta hora. Deviam ser varridos para sempre. Se vento leva e traz, se vento é mudança, não custa acreditar que, passada a tempestade, vem a bonança. E com ela, o sopro renovador — garante o poeta. A casa destelhada, a destruição já começou. Vem aí a reconstrução. Otto Lara Resende, Bom dia para nascer: crônicas publicadas na Folha de S. Paulo. São Paulo: Cia. das Letras, 2011. Adaptado. No texto “O que diz o vento (07/10/1991)” o autor, por meio de um procedimento intertextual, cita um poema de Manuel Bandeira, cuja primeira estrofe é: O vento varria as folhas, / O vento varria os frutos, / O vento varria as flores…E a minha vida ficava / Cada vez mais cheia / De frutos, de flores, de folhas. a) A ambivalência atribuída ao vento na crônica de Otto L. Resende também se aplica ao poema de Bandeira, tendo em vista os versos citados? Justifique sua resposta. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ b) Pode-se identificar nos versos acima o emprego de algum recurso expressivo de caráter sonoro com finalidade mimética? Explique. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________
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