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Educação - Jogos e Brincadeiras Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.a Me. Silvana Silva Buchini Bomtorin Revisão Textual: Prof.a Esp. Vera Lídia de Sá Cicaroni Brincadeiras, Jogos Sensoriais e Motores • Introdução; • Um Olhar para Cultura; • Estimulação das Áreas do Conhecimento - Jogando, Brincando com ou Sem Brinquedo; • Os Tipos de Jogos, Brinquedos e Brincadeiras e as Áreas de Estimulação do Conhecimento; • A Evolução da Imagem do Corpo dos 3 aos 6 Anos; • O Educador e a Criança - Um Jogo de Aprendizagem Recíproca. • Abordar o tema como recursos de intervenção pedagógica voltada para o desenvolvimento humano, especialmente para a maturação cerebral e funções, processos cognitivos básicos. OBJETIVO DE APRENDIZADO Brincadeiras, Jogos Sensoriais e Motores Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Brincadeiras, Jogos Sensoriais e Motores Contextualização Para o momento de contextualização, sugerimos que assista a um trecho ou, se possível, à integra do filme A guerra do fogo. Observe o desenvolvimento sensó- rio-motor e a importância das brincadeiras para a evolução humana. A Guerra do fogo (Trailer): https://youtu.be/gZ0Uvjo4B2M Ex pl or Faça uma reflexão crítica. 8 9 Introdução Nesta unidade, faremos uma reflexão para compreender as brincadeiras, brin- quedos e jogos sensoriais e motores como recursos de intervenção pedagógica voltada para o desenvolvimento humano, especialmente para a maturação cerebral e funções, processos cognitivos básicos. A infância é a fase mais importante da vida, na qual ocorrem várias descobertas em relação ao mundo que, para a criança, é desconhecido. Desde que está sendo gerado, o bebê, ao tomar consciência de cada parte de seu corpo em desenvolvi- mento no ventre da mãe, inicia a exploração sinestésica, ou seja, explora a vida pelos sentidos, pelo olfato, tato, paladar, audição e visão. O jogo de sensações produzidas por seu corpo em desenvolvimento, pelo cor- po da mãe e por algumas percepções externas torna-se a primeira brincadeira da criança, segundo Piaget brincadeira semiótica (1995), que, ao nascer e reconhecer esses mesmos estímulos, encontra, ainda, um desafio maior, já que passa a ser um ser social, independente da sociedade da qual possa vir a fazer parte. Mauss afirma: Portanto, são mais que temas, mais que elementos de instituições, mais que instituições complexas, mais que sistemas de instituições, divididos, por exemplo, em religião, direito, economia etc. São “todos”, sistemas sociais inteiros cujo funcionamento tentamos descrever. Vimos socieda- des no estado dinâmico ou fisiológico. Não as estudamos como se esti- véssemos imóveis, num estado estático ou cadavérico, e muito menos as decompusemos e dissecamos em regras de direito, em mito sem valores e preços. Foi considerando o conjunto que pudemos perceber o essencial, o movimento do todo, o aspecto vivo, o instante fugaz em que a sociedade toma, em que os homens tomam consciência sentimental de si mesmos e de sua situação frente a outrem. Há, nessa observação concreta da vida social, o meio de descobrir fatos novos que apenas começamos a entrever. Em nossa opinião a mais urgente e frutífera do que esse estudo dos fatos sociais. (MAUSS,1999, p.310) Para o autor Le Boulch, baseado nas teorias de Piaget, a educação pscicomotora pode contribuir para estes dois campos funcionais: assimilação e acomodação. A assimilação é a integração do exterior às estruturas próprias do sujeito. A acomodação é a transformação das estruturas próprias em função das variáveis do meio exterior. O que nós chamamos de ajustamento é o aspec- to que toma a acomodação logo que dá resposta motora às solicitações do meio. A organização perceptiva representa um dos aspectos do processo de assimilação quando se dá a tomada de informação a partir dos receptores sensoriais. (LE BOULCH, 2001, p.28) 9 UNIDADE Brincadeiras, Jogos Sensoriais e Motores Para Le Boulch (2001), a criança, unicamente pela sua bagagem hereditária e pelas suas características de reação com o mundo - e depois na adolescência, é de- pendente do meio humano em que a natureza a tenha colocado. Desde o nascimento, a criança vai adquirindo conhecimentos sobre o mundo através de suas próprias ações realizadas e, assim, constrói, aos poucos, sua personalidade por meio das relações sociais com o mundo ao seu redor. Dessa forma, as atividades psicomotoras devem ser utilizadas desde os anos iniciais. Assim podemos perceber que, mes- mo antes do nascimento, a criança já está sendo influenciada pela cultura. Um Olhar para Cultura O conceito de cultura tem sido um dos objetos de estudo das mais diferentes áreas do conhecimento. Recorrendo ao conceito criado por Tylor, no século XIX: A cultura ou civilização, num sentido etnográfico alargado, é aquele tudo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e quaisquer outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade. (TYLOR, 1975, p. 29) Ainda, o mesmo autor divide cultura entre cultura não material - crenças. normas e valores - e cultura material - tecnologia (TYLOR, 1975). Como podemos perceber, o jogo, o brinquedo e a brincadeira, para a criança, muito dependerão da relação que a mãe tem com seu corpo, com a gestação, a amamentação, o acolhimento do parceiro ou parceira e do grau de hierarquização que ela terá na educação da criança na sociedade em que vive, portanto do ethos a que ambas pertencem. Segundo Geertz: Os símbolos sagrados funcionam para sintetizar o ethos de um povo, as formas, o caráter e a qualidade de sua vida, seu estilo e disposições morais e estéticas, sua visão de mundo, o quadro que fazem, do que são, suas ideias mais abrangentes sobre a ordem. (GEERTZ, 1989) Você, que está buscando se aprofundar no processo pedagógico, deve ampliar sua reflexão sobre cultura, criar o hábito de investigar o ambiente e o públicocom o qual irá trabalhar, assim como investigar qual a relação que você tem com a cultura da qual faz parte e, neste caso, qual o conceito que você tem sobre jogo, brinqwuedo e brin- cadeira. A mesma brincadeira ou brinquedo recebe os mais variados nomes, depen- dendo da região que pesquisamos, porém os fundamentos básicos são os mesmos. Figura 1 Fonte: Getty Images 10 11 As crianças apresentam um desenvolvimento que nos possibilita investigar e pes- quisar o aspecto sensório-motor nas mais diferentes culturas, como aponta Rabuske: Todos os homens têm a mesma natureza, tanto na dimensão espiritual quanto na dimensão corporal. Não há raça superior; pelo menos não há evidência biológica que pudesse fornecer uma razão para o preconceito racial (2008, p.56). No Brasil, com uma cultura repleta de tantas facetas e ethos, de um sincretismo pouco entendido, de uma moral e pensamento ainda submetidos à eugenia de uma educação do medo, do domínio do pecado, ainda é muito complicado trabalhar com o ato de brincar, com a brincadeira e com o jogo, resquícios da história, como vimos na anteriormente. Hoje em dia, quantas vezes ainda escutamos a frase: “cabeça vazia oficina do diabo”?! Ex pl or O desenvolvimento global da criança, portanto, dependerá das experiências nas mais diferentes áreas do conhecimento que di- zem respeito ao ser humano e que abrangem os aspectos: motor, físico, intelectual, sensorial, perceptivo, psicológico e da linguagem. Como podemos perceber, na imagem a seguir, a criança transfere para os objetos o afeto que recebe e, nele, se aconchega. Nas próximas unida- des, nos aprofundaremos mais nes- sas questões. As descobertas positivas interferem na evolução psicomotora da criança. A aco- modação do comportamento, de maneira significativa, fará com que ela tenha mais confiança em si mesma e explore o mundo ao seu redor. Assim, aos 3 anos, a criança manifesta um bem-estar motor global, per- mitindo-lhe explodir na atividade sensório-motora. Este desempenho ga- rante-lhe uma certa influência sobre o meio. Esta intuição motora eficaz encontrar-se-á em outro nível, quando possa programar uma resposta a partir de uma representação mental e não reagindo a uma situação de forma espontânea, ou seja, ela deverá escolher a forma de agir. (LE BOULCH, 2001, p.102) Figura 2 Fonte: Getty Images 11 UNIDADE Brincadeiras, Jogos Sensoriais e Motores Dessa forma, a criança necessita de um ambiente acolhedor; a princípio, da família ou grupo que a espera e que, nem sempre, é a que temos como idealiza- ção nos modelos em que fomos culturalmente criados. Se revisitarmos a história da humanidade, poderemos verificar que a família não se desestruturou, mas que, dependendo do rumo da própria história, elabora outras estruturas. Assim se reorganiza, cria e recria outros valores e, como vimos, como em um jogo semiótico, cria outros signos, símbolos e significados. Estimulação das Áreas do Conhecimento – Jogando, Brincando com ou Sem Brinquedo Para que a criança possa desenvolver- se integralmente na área do conhecimento, como pesquisadores precisarão ter um pensamento interdisciplinar, ou seja, olhar a mesma criança nas mais possibilidades em que ela virá adquirir esse mesmo conheci- mento, entre eles a: a inteligência, a linguagem, o sensorial, o sócio-motor, o perceptivo e a coordenação motora. O pesquisador precisará ter um pensamento interdisciplinar, ou seja, olhar a mesma criança nas mais diversas possibilidades que ela terá de adquirir um mesmo conhecimento e as quais envolvem a inteligência, a linguagem, os aspec- tos sensorial, sócio-motor, perceptivo e a coordenação motora para que ela possa se desenvolver integralmente na área do conhecimento (LEGARDA e MIKETTA, 2012). Legarta e Mikketa (2012), classificam a partir de estudos de Piaget, Le Boulch, as áreas socioafetivas, de linguagem, cognitiva e motora. A partir do nascimento, a criança, até o primeiro ano de vida, fará suas maio- res descobertas sensório-motoras e iniciará o controle dos movimentos voluntários, por meio de estímulos visuais e auditivos, aguçando sua memória e desenvolvendo, nesse sentido, suas habilidades de mo- tricidade ampla, ou seja, posturais, no que se refere ao esforço para utilizar a bipedia e, em seguida, a locomoção, e também a motricidade fina, isto é, a uti- lização das mãos. Para isso é necessário que as destrezas céfalo-cauldal e próxi- mo-distal amadureçam e se fortaleçam (Legarda e Miketta, 2012). A resolu- ção de problemas trará, em seguida, a apropriação da linguagem verbal (oral e escrita) no que se refere às habilidades cognitivas e socioafetivas; habilidades e competências cada vez mais aprimora- das pela percepção. Figura 3Fonte: Getty Images 12 13 Os Tipos de Jogos, Brinquedos e Brincadeiras e as Áreas de Estimulação do Conhecimento A atividade pedagógica e os jogos, brinquedos e brincadeiras estão ligados, como pudemos perceber. De acordo com Kishimoto (2009), o brinquedo difere do jogo, isso porque o brinquedo supõe uma relação com a criança e uma determinação quanto ao uso, ou seja, a ausência de regras que organizam sua utilização; Conforme o tempo passa, a criança toma conhecimento de si por meio de diver- sos ajustes que irão transformá-la num ser completo intelectual, social e moralmente. O conhecimento é internalizado de dentro para fora, ou seja, a criança expressa seu senso prévio das coisas para o meio transformar. Categorias de Brincadeiras Kishimoto (2009) destaca algumas categorias de brincadeiras: • Brincadeiras tradicionais infantis, brincadeiras de cooperação e brincadeiras de construção; • Brincadeiras tradicionais infantis, brincadeiras de faz-de-conta e brincadeiras de construção; • Brincadeiras populares, brincadeiras de cooperação e brincadeiras de construção; • Brincadeiras regionais infantis, brincadeiras de cooperação e brincadeiras de construção; • Brincadeiras tradicionais infantis, brincadeiras de emancipação e brincadeiras de construção. Ao analisarmos as categorias de brincadeiras na educação, podemos observar que, segundo a autora, elas buscam investigar a construção cognitiva da criança ou o desenvolvimento global. Tipos de Brinquedo e Brincadeira A criatividade facilita a comunicação e a livre expressão. Ser criativo auxilia a canalizar tensões, conflitos e ansiedades; equilibra a relação consigo mesmo e com os demais, além de fortalecer o autoconceito, reforçando positivamente a imagem corporal de si e do outro. Para Kishimoto (2009), não basta apenas ressaltar al- gumas modalidades de brincadeiras presentes na educação infantil, mas é preciso também pesquisar seu uso com fins pedagógicos e a relevância desse instrumento para situações complexas de ensino e aprendizagem e do desenvolvimento infantil. Segundo a mesma autora, na estimulação das áreas do conhecimento, o brinquedo permite uma ação intencional, construção de representações mentais e sensório-moto- ras (KISHIMOTO, 2009). 13 UNIDADE Brincadeiras, Jogos Sensoriais e Motores Ainda a mesma autora define as categorias de brincadeiras (KISHIMOTO,2009. p.38,39 e 40): • Brincadeiras tradicionais infantis; • Brincadeiras de faz-de-conta; • Brincadeiras de construção. Na fase dos 3 aos 6 anos de idade, o desenvolvi- mento motor deve ser estimulado de forma natural, ou seja, livre de pressões, por meio de jogos e expressão livre (LE BOULCH, 2001). Se isso não ocorrer, o indivíduo terá dificuldades de convívio e relacionamento com as outras pessoas e, por con- sequência, terá problemas em relação ao seu cará- ter. Podemos perceber, portanto, a necessidade do desenvolvimento sensório-cognitivo da criança, por meio da construção das categorias de brincadeira a que se refere Kishimoto e da utilização. SegundoLe Boulch: Uma das características principais de gestos, movimentos e atitudes da criança de escola maternal é sua espontaneidade e naturalidade. Toda manifestação contrária, inibição, rigidez, tensões desnecessárias, inco- ordenação, arritmia, sincinesias, são expressões de dificuldades que a criança apresenta na organização de sua personalidade. (LE BOULCH, 2001, p.88) O bem-estar corporal, que adquiriu em etapas anteriores, permite à criança ser mais confiante e chegar a um objetivo determinado sem dificuldades. Para pros- seguir com seu desenvolvimento, ela depende do afeto e de que as experiências vivenciadas com sucesso sejam reconhecidas pelo adulto. As situações do cotidiano, como alimentar-se, escovar os dentes após as refeições e vestir-se, ajudam a melhorar a coordenação motora da criança e tornam-na mais independente, isto é, capaz de fazer as coisas sozinhas e de cuidar de si mesma. A Evolução da Imagem do Corpo dos 3 aos 6 Anos A criança começa a ter noção de seu próprio corpo através da imagem de ou- tras pessoas, como, por exemplo, a de sua mãe. Ela cria imagens e possibilidades de interagir com as outras pessoas a partir da percepção e da visão que tem de si mesma, o que anteriormente só era possível por meio das atividades motoras. Figura 4 Fonte: Getty Images 14 15 “Introjetando a imagem de outra pessoa e, em primeiro lugar, a imagem do corpo materno é que a criança adquire o conhecimento de seu ‘corpo próprio’ ”. (LE BOULCH, 2001, p.96) A partir dos 3 anos, a criança desenvolve a sua personalidade e aprende que a sua personalidade é diferente da dos outros indivíduos. Seu objetivo principal será o de defini-la como própria, porque é um ser que possui identidade e características diferentes no que se refere a aspectos físicos e sociais. A tendência agora não é mais de assimilar os sentimentos e atitudes de outra pessoa, mas, sim, de preferência, de opor-se para afirmar sua per- sonalidade nascente. ( LE BOULCH, 2001, p.97) Quando a criança consegue definir a sua personalidade, ela passa a ser menos egocêntrica em relação ao outro e também ao mundo que a cerca, ou seja, deixa de ser alguém centrado no seu próprio eu e adquire maturidade para lidar com suas frustrações de maneira saudável. Colocando-se sucessivamente como pessoa ativa e como companheiro, bus- cará ensaiar os dois aspectos complementares necessários à constituição de um Ego equilibrado. (LE BOULCH, 2001, p.97) A atitude narcisista da criança ocorre, na maioria das vezes, pelo fato de ela não se sentir aceita ou não ser reconhecida pelos adultos. Em primeiro lugar, deve-se ter um diálogo com ela e fazê-la sentir que é importante e que faz parte de um todo, ou seja, está integrada no coletivo. A necessidade de reconhecer-se e se fazer reconhecer vai, às vezes, ser substituída por aquela de ser aprovado e apreciado, e as reações de gentileza vão invadir os comportamentos da criança. Em outro mo- mento, as exigências e os caprichos serão para ela os meios de ex- pressar os sentimentos de independência através dos quais ela quer afirmar-se. (LE BOULCH, 2001, p.97) A criança apresenta-se, muitas vezes, egocêntrica e sente a necessidade de ser ouvida e reconhecida pelo adulto, por isso expressa-se através de gestos e atitudes que satisfaçam seus desejos de acordo com suas conveniências. Isso desperta a ausência de necessidade de explicar aquilo que diz por ter certeza de que é compre- endida. Os jogos e brincadeiras são importantes e imprescindíveis na construção das relações da criança com a sociedade, com a família e com ela mesma. Segundo Vânia Dohme, há quatro propriedades do jogo: 1) É livre, não está ligado à noção de dever; obrigatoriedade. 2) É uma evasão da vida real para uma atividade temporária com orien- tação própria. Tem uma finalidade autônoma e se realiza tendo em vista uma satisfação que consiste nessa própria realização. 15 UNIDADE Brincadeiras, Jogos Sensoriais e Motores 3) Tem uma limitação de tempo e de espaço e é jogado até o fim dentro desses limites. 4) Tem regras próprias, o que significa uma ordem rígida. (2003,p.16) O jogo é uma maneira pela qual a criança aprende as regras e raciocina de forma lógica por meio da concentração, recriando um novo conceito ou reafirmando o conceito já concebido. Esse conceito será percebido no seu modo de se relacionar tanto com as pessoas como com seu corpo, sua postura, suas escolhas futuras, seu modo de se vestir e de enfrentar a vida. Nas práticas pedagógicas que envolvem o desenvolvimento da psicomotricidade, muitas vezes, a criança poderá apresentar expressões de afetividade, com ensejo de demonstrar seus desejos simbolicamente e as diversas maneiras de se relacionar com o mundo, e também poderá apresentar agressividade, se suas opiniões não forem percebidas e nem ouvidas. Para Vasconcelos (2003), podemos classificar os jogos em: • Jogos ou atividades artísticas: » Envolvem competências artísticas: » Artes plásticas: recorte e colagem, desenho, pintura, dobraduras entre outros; » Teatro: jogos dramáticos, fantoches, teatro de sombras entre outros; » Música: canto, instrumentos de sucata, coral entre outros. • Jogos expressivos: » Envolvem competências corporais: mímica, dança e expressão corporal, entre outros. • Jogos de sensibilidade: » Envolvem competências ligadas à sensibilidade: relaxamento, jogos de aguçamento dos sentidos entre outros. • Jogos recreativos e brincadeiras: » Jogos individuais ou em grupo que fazem parte de nosso cotidiano: Brincadeiras de roda, pega-pega, amarelinha, entre outros. • Jogos desportivos: » Jogos individuais ou coletivos: futebol, queimada, vôlei, basquete entre outros. Ao transitar da fase egocêntrica para a formal, a criança passa a desenvolver sua própria identidade; manifesta seus interesses, que partem do mundo concreto para o abstrato; consegue realizar novas ações com a ajuda dos adultos, o que estimulará o raciocínio lógico e seu senso crítico; e começa mostrar suas preferências, por isso seria importante que ela pudesse conhecer um repertório de atividades. 16 17 Dessa forma, a infância, para ter garantida sua elaboração de autonomia, deveria ter outro direito além do não-trabalho, para que, assim, pudesse, por meio de ati- vidades bem trabalhadas e vivendo um bem-estar geral, desenvolver seus aspectos físicos, psicológicos e sociais de forma adequada. Portanto, através das atividades psicomotoras e da união das habilidades de correr e andar, falar, ter noções musicais, a criança adquire atenção e concentração, desen- volve a lateralidade e o equilíbrio e supera suas limitações. A partir dos 5 aos 7 anos, as crianças podem praticar exercícios relacionados a atividades global, como, por exemplo, atividades de percepção e de tomada de consciência do próprio corpo (LE BOULCH, 2001). O Educador e a Criança - Um Jogo de Aprendizagem Recíproca Como vimos, trabalhar com jogos, brinquedos e brincadeiras na educação é muito mais que aplicar regras e conhecer as fases do desenvolvimento da criança. É conhecer cultura, diferentes culturas, subculturas; é revisitar valores e estabelecer novos conceitos. Não devemos esquecer que mais que por palavras, ensinamos pelos gestos, pelo olhar. A criança observa a intervenção de quem a estimula e percebe a sutileza do afastamento do adulto no momento da acomodação dos conflitos. A escolha dos materiais e brinquedos também deve ser pensada seguindo o Projeto Pedagógico da Escola e esses materiais devem ser apresentados com clareza para os pais. O espaço físico, o arquitetônico, o entorno da escola e o público que a escola pretende atender deve estar sempre em pauta nas discus- sões pedagógicas. A criança precisa poder interagir com os brinquedos e comas brin- cadeiras; não pode ser um mero expectador de um mundo fantásti- co cujos objetos, muitas vezes, não pode tocar nem passar tempo su- ficiente com eles para explorá-los, desmontá-los e, quem sabe, dar-lhes outra forma. Figura 5 Fonte: Getty Images 17 UNIDADE Brincadeiras, Jogos Sensoriais e Motores Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Estimulação Precoce. Inteligência Emocional e Cognitiva LEGARDA, María Del Carmen Ordóñez; MIKETTA, Alfredo Tinajero. Estimulação Precoce. Inteligência Emocional e Cognitiva. Grupo Cultural, 2012. Jogos de Todo o Mundo. Mais de 100 jogos individuais e de grupo RIPOLL, Oriol; CURTO, Rosa María. Jogos de Todo o Mundo. Mais de 100 jogos individuais e de grupo. São Paulo: Ciranda Cultural, 2012. Filmes As Aventuras de PI Sugerimos que você assista ao filme As Aventuras de Pi. É um drama-aventura, dirigido por Ang Lee, com Surai Sama, Irrfan Khan, Adil Hussainmais. Quando se preparar para assistir ao filme, faça como criança quando não conhece a brincadeira: olhe os detalhes, não perca nada, não faça pré-julgamentos e não perca nenhum elemento do jogo. https://youtu.be/dF-MF4pk3mM 18 19 Referências DOHME, Vânia. Atividades Lúdicas na Educação. O caminho de tijolos amarelos do aprendizado. 4ª edição. Editora: Vozes, Petrópolis, 2003. FREITAS, Marcos Cezar de (Org.). História social da infância no Brasil. 3ª ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2001. GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro, 1989. LE BOULCH, J. O Desenvolvimento Psicomotor. Do nascimento até os 6 anos. A psicocinética na idade pré-escolar. 7ª edição. 2ª reimpressão. Editora: Arimed. 2001. LEGARDA, María Del Carmen Ordóñez; MIKETTA, Alfredo Tinajero. Estimula- ção Precoce. Inteligência Emocional e Cognitiva. São Paulo: Grupo Cultural.2012. MAUSS , M. Sociologia e antropologia. São Paulo, Cosac&Naify [edição france- sa: Mauss , M. (1999), Sociologie e anthropologie. 8 ed. Paris, PUF], 2003. TYLOR, E. B. (1975, or. 1871): “La ciencia de la cultura”, In: KAHN, J.S. (comp.): El concepto de cultura: textos fundamentales. Barcelona: Anagrama, pp. 29-46. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a Educação. São Paulo: CORTEZ, 2009. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O Jogo e a Educação Infantil. Série A Pré – Escola Brasileira. 1ª edição. Editora: Pioneira, 1994. RIPOLL, Oriol; CURTO, Rosa María. Jogos de Todo o Mundo. Mais de 100 jogos individuais e de grupo. São Paulo: Ciranda Cultural, 2012. VASCONCELOS, Paulo A.C. O jogo e Piaget. São Paulo: Suplegraf, 2003. 19
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