Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIABEU CURSO: PSICOLOGIA DISCIPLINA: TEORIA E PRÁTICA EM PSICOLOGIA CLÍNICA 2 – GESTALT PROFESSORA: CARLA DO EIRADO CONSCIENTIZAÇÃO CORPORAL SENSIBILIDADE E CONSCIÊNCIA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO (Resenha) Alunos – 7º período: Denilson Costa Menezes – 62010045 Rone Machado da Costa - 62010070 Rio de Janeiro Setembro de 2022 A leitura e a respectiva reflexão acerca do texto: “Conscientização corporal: Sensibilidade e consciência no mundo contemporâneo”, de Maria Helena Imbassaí (2003), evidencia alguns aspectos desafiadores aos seus leitores. Num mundo pós- moderno, será possível se viver em plenitude com um corpo saudável? Para se res- ponder a esse questionamento, bem longe de se pretender produzir um reducionismo conceitual do artigo, destaca-se aqui, desse modo, uma profunda e contundente de- núncia a respeito de uma indústria de ideologia escravocrata do corpo, bem como de se perceber, inclusive, a partir de uma cultura de dessensibilização corporal, o adoe- cimento do indivíduo, além de, em última instância, se refletir sobre a proposta da autora por um novo paradigma de relacionamento com o corpo. Há, de fato, no texto de Imbassaí (2003), uma evidente denúncia da exploração mercadológica do corpo humano. O trabalho, base do sustento familiar, além de pre- encher todo o tempo da pessoa, exige, cada vez mais, um dispêndio de força física, motora, psíquica ocasionando uma ruptura na relação dele consigo e com o mundo. Frederick S. Perls (2002, p. 87) afirma que o mundo industrializado muda tão rapida- mente que o ser humano não consegue se adaptar, logo, o resultado é um organismo sem equilíbrio necessário à sua restauração. A ideologia escravocrata, por meio do trabalho, produz pessoas assim: sempre exaustas e desequilibradas. A precariedade dos meios de transportes evidencia uma estratégia de esgotamento do corpo; condu- ções públicas lotadas, horários imprecisos, longas distâncias da casa para o local onde se trabalha. Sem mencionar, nessa equação, os baixíssimos salários e condi- ções precárias de trabalho. Outro fator para aumentar esse desequilíbrio é, a priori, o próprio fantasma do desemprego, elemento que assombra e ronda as famílias. Durante a trajetória da vida em sociedade, a cultura sempre foi o instrumento mais simples na construção de crenças invisíveis e quase indestrutíveis. No que tange à questão do corpo, isso também não é diferente. Apesar do esgotamento, ao fim de um trabalho extenuante, o período de descanso de muitos trabalhadores medianos é marcado pelo ostracismo, sedentarismos; suas atividades de lazer se resumem, em diversos episódios, ao uso abusivo do álcool e coisas similares. As belas e lindas propagandas das drogas (retiradas em parte da TV) proporcionam o engajamento do corpo já sofrido a um processo de adoecimento psicofisiológico e social reiterado. Por esse viés, entende-se o artigo de Ray Moynihan1 (2010), no qual ele acusa a indústria 1 Ray Moynihan – professor da Universidade de Newcastle, Austrália, e jornalista de saúde. farmacêutica de criar doenças, a fim de vender remédios. Medicalização é tratar o paciente com remédios, quando o problema é de outra ordem (DALGALARRONDO, 2019) e isso é uma violação e menosprezo à vida. Não se discute as razões do ado- ecimento para além do conceito médico (SILVA, C. E.; OLIVEIRA, C. S.; ALVIM, M. B., 2014); simplesmente, o tratamento dos sintomas é mais importante (e lucrativo) do que se aprofundar a reflexão sobre o porquê da sociedade se tornar refém das drogas sancionadas pelo Estado. Imbassaí (2003) apresenta outra questão muito relevante, o cerne de seu ar- tigo: a dessensibilização do corpo e, a posteriori, uma nova proposta de relaciona- mento com esse corpo. A dessensibilização é o resultado de se perder gradualmente a capacidade de se sentir, de se perceber; as sensações, antes naturais, agora, de forma sutil, desapareceram (IBIDEM, 2003). E o mais grave e alarmante – a coisa se tornou normatizada, ou seja, faz parte institucional da cultural contemporânea. Pode- se pensar em um dos itens do modelo de tratamento psiquiátrico pré-reforma antima- nicomial: doses cavalares de entorpecentes (vulgo, remédios) para transformar os corpos rebeldes em dóceis e susceptíveis a qualquer ordenamento social, sem o risco de uma declarada rebelião sociocultural. É importante ressaltar o seguinte: a autora afirma não ser a conscientização corporal uma psicologia, mas sim um trabalho de autorregulação muscular e organização postural, além de ter como objetivo a reativa- ção dos órgãos sensórios (IMBASSAÍ, 2003). O acesso a uma resposta crítica quanto ao questionamento acerca da possibi- lidade de se viver plenamente com um corpo saudável, perpassa, portanto, por uma mudança de paradigma sociocultural. Imerso na cultura fomentada por um neolibera- lismo desenfreado e sem mediação estatal decente, as classes medianas da socie- dade não se desfarão desse invólucro. No entanto, essa dificuldade não minimiza a importância de se propagar e de se reconstruir um caminho distinto daquele pelo qual o corpo foi vilipendiado e orientado a uma estrutura neoescravocrata. Logo, alguém precisaria nadar contra a correnteza e, nesse desafio, por vezes conturbado, Maria Helena Imbassaí é uma das nadadoras que se opõem ao status quo contemporâneo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos transtornos men- tais. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. IMBASSAÍ, Maria Helena. Conscientização corporal: sensibilidade e consciência no mundo contemporâneo. In: CALAZANS, Julieta; CASTILHO, Jacyan; GOMES, Si- mone. Dança e Educação em movimento. São Paulo: Editora Cortez, 2003. MOYNIHAN, Ray. Indústria é acusada de criar doença para vender remédio. Associ- ação Paranaense de Psiquiatria, 2010. Disponível em: https://psiquiatria- pr.org.br/news-appsiq_det.php?blog=4584. Acesso em: 25 de set 2022. PERLS, Frederick S. Ego, fome e agressão: uma revisão da teoria e do método de Freud. São Paulo: Summus, 2002. SILVA, C. E.; OLIVEIRA, C. S.; ALVIM, M. B. Diálogos entre a Gestalt-Terapia e a dança: corpo, expressão e sentido. Rev. Ciênc. Ext. v.10, n.3, p.41-55, 2014.
Compartilhar