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Capítulos 1 ao 7 Capítulo 1 MAT ERIA L EXE MPL AR 1 Olá, aluno! Bem-vindo ao estudo para o Exame de Ordem. Preparamos todo esse material para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade, garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente. Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins de entender como a Banca costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal, queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento, pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo sempre! Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a estrutura do PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto com a leitura de jurisprudência selecionada. E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para a gente! Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina. Faça bom uso do seu PDF Ad Verum! Bons estudos mailto:pdfadverum@cers.com.br 2 Abordaremos os assuntos da disciplina de Direito Empresarial da seguinte forma: RECORRÊNCIA Como dito, sabemos que estudar de forma direcionada, com base nos assuntos objetivamente mais recorrentes, é essencial. Afinal, uma separação planejada pode fazer toda diferença. Pensando nisso, através de estudo realizado pelo nosso setor de inteligência com base nas últimas provas, trouxemos os temas mais abordados nessa disciplina! Do Direito de Empresa 21% Da Sociedade 7% Da Recuperação Judicial, Extrajudicial e da Falência do Empresário e da Sociedade Empresária 36% Dos Títulos de Crédito 21% Dos Contratos Empresariais 7% Da Propriedade Industrial 7% DIREITO EMPRESARIAL Do Direito de Empresa Da Sociedade Da Recuperação Judicial, Extrajudicial e da Falência do Empresário e da Sociedade Empresária Dos Títulos de Crédito Dos Contratos Empresariais Da Propriedade Industrial 3 CAPÍTULOS Capítulo 1 – Teoria Geral do Direito Empresarial Capítulo 2 – Regime Jurídico da Atividade Empresarial Capítulo 3 – Direito Societário Capítulo 4 – Crise da Atividade Empresarial Capítulo 5 – Títulos de Crédito Capítulo 6 – Contratos Empresariais Capítulo 7 – Propriedade Industrial 4 SUMÁRIO DIREITO EMPRESARIAL, Capítulo 1 .................................................................................................................................. 6 1. Teoria Geral do Direito Empresarial ....................................................................................................................... 7 1.1 Evolução Histórica do Direito Empresarial ............................................................................................................. 7 1.2 Conceito de empresa ................................................................................................................................................... 10 1.2.1 Empresa como atividade ............................................................................................................................................ 11 1.2.2 Economicidade ............................................................................................................................................................... 12 1.2.3 Organização .................................................................................................................................................................... 12 1.2.4 Profissionalismo ............................................................................................................................................................. 14 1.2.5 Objetivo Específico........................................................................................................................................................ 15 1.3 Fixação de Regime Jurídico ....................................................................................................................................... 15 1.4 O Empresário .................................................................................................................................................................. 16 1.4.1 Conceito e Espécies ...................................................................................................................................................... 16 1.4.2 Caracterização................................................................................................................................................................. 18 1.4.3 Empresário Rural............................................................................................................................................................ 22 1.4.4 Empresário Casado ....................................................................................................................................................... 23 1.5 Dos requisitos de regularidade ................................................................................................................................ 25 1.5.1 Da Inscrição ..................................................................................................................................................................... 25 1.5.2 Da capacidade ................................................................................................................................................................ 25 1.5.3 Ausência de impedimento legal .............................................................................................................................. 28 1.6 Da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) .................................................................... 29 1.7 Microempreendedor Individual, Microempresa e Empresa de Pequeno Porte...................................... 32 1.8 Estabelecimento empresarial..................................................................................................................................... 32 1.8.1 Trespasse .......................................................................................................................................................................... 36 1.8.2 Eficácia do trespasse .................................................................................................................................................... 37 1.8.3 Responsabilidade do adquirente e do alienante ............................................................................................... 38 1.8.4 Sub-rogação nos contratos de exploração .......................................................................................................... 42 5 1.8.5 Aviamento ........................................................................................................................................................................ 43 1.8.6 Ponto comercial ............................................................................................................................................................. 44 1.8.7 Ação Renovatória ..........................................................................................................................................................45 QUADRO SINÓTICO ............................................................................................................................................................. 48 QUESTÕES COMENTADAS ............................................................................................................................................... 49 GABARITO ................................................................................................................................................................................... 61 LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................................................. 65 JURISPRUDÊNCIA ..................................................................................................................................................................... 67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................................................................ 73 6 E ai, OABeiro! Tudo certinho? A apostila de número 01 do nosso curso de Direito Empresarial tratará sobre Teoria do Direito Empresarial, matéria que é extremamente cobrada no Exame de Ordem ao decorrer desses anos! De acordo com a nossa equipe de inteligência, esse assunto esteve presente 9 VEZES nos últimos 3 anos, sendo considerado um assunto de altíssima relevância. Assim, é imprescindível que você dedique um tempo para estudar este conteúdo com calma e responda as questões que tratam sobre o referido tema, ok? Aqui, a banca costuma seguir o seu padrão: Apresentar um caso hipotético, pelo qual a resposta é respaldada na legislação vigente. Por isso, recomendamos a leitura atenta da letra seca da lei e entendimentos jurisprudenciais, e sempre em companhia de alguma doutrina à sua escolha. Lembre-se: A resolução de questões é a chave para a aprovação! Vamos juntos! 7 DIREITO EMPRESARIAL Capítulo 1 1. Teoria Geral do Direito Empresarial Neste capítulo, estudaremos a Teoria Geral do Direito Empresarial, tema de grande valia para a compreensão de toda a matéria de Direito Empresarial, além de ser composto por assuntos de alta incidência nos últimos concursos para Carreiras Jurídicas. Estabelecer uma “teoria geral” é um exercício que objetiva permitir que o estudioso conheça a dimensão da matéria e seus conceitos basilares. Para fazê-lo em sede do Direito Empresarial, é importante introduzir que se trata de ramo do direito privado que regula a atividade econômica exercida de modo organizado e aqueles que a exercem com proficiência. 1.1 Evolução Histórica do Direito Empresarial Há um campo específico da Ciência Jurídica estruturado com base na concepção atual de “empresa”. Essa noção, por sua vez, surgiu a partir da evolução dos critérios utilizados para definição do objeto do Direito Empresarial. O desenvolvimento histórico desse ramo jurídico é tão relevante que até mesmo a sua denominação acompanhou o progresso de seus institutos. Tanto assim que superou a designação Direito Comercial, antes utilizada para indicar o conjunto de normas, princípios e práticas aplicáveis às relações entre aqueles que desempenhavam certa atividade econômica: o comércio. Pois bem, em um determinado período histórico inexistiu, sequer, nomenclatura para designar o conjunto de práticas mercantis utilizadas pelos “cônsules” da Idade Média para a solução de litígios. Dessa constatação, extraem-se dois aspectos elementares da primeira fase 8 evolutiva do Direito Empresarial: a consuetudinariedade de suas normas e a atuação do “Juízo Consular”. Daí se depreendem as seguintes características desse momento evolutivo inicial do Direito de Empresa: a) costumeiro, em que os usos e costumes geralmente observados pelos mercadores constituíam a sua principal fonte; b) internacional, uma vez que os usos e costumes mercantis eram aplicados geralmente em toda a Europa, nas grandes feiras; e c) corporativo, pois suas normas eram aplicadas pelo tribunal das corporações (juízo consular) no julgamento das controvérsias existentes entre os seus próprios membros. O Direito Comercial é, nesse momento, um direito de classe. Percebe-se, assim, que um conjunto de usos e costumes foi esboçado em benefício, tão somente, da figura do comerciante. Por esta razão, essa incipiente fase foi considerada como subjetivista. O cônsul era um comerciante ou um mestre artesão (dono de uma corporação de ofício) que, em razão de sua maior experiência, dominava melhor os costumes mercantis. Por isso, era ele quem decidia os dissídios entre mercadores, aplicando tais práticas, tendo-se em vista a inexistência de normas codificadas. Em um segundo momento, logo após a Revolução Francesa, buscou-se a sistematização das normas consuetudinárias em um único diploma legal. O marco histórico dessa segunda fase do Direito Empresarial foi a edição do Código Comercial Francês de 1807, geralmente, associado à figura Napoleão Bonaparte. Nessa etapa, passou a ser considerado como objeto do Direito Comercial todo e qualquer ato enumerado, taxativamente, como mercancia. Daí falar-se na Teoria dos Atos de Comércio. Por não se centralizar mais sobre a figura do comerciante, tal teoria imprimiu uma feição objetivista a essa fase. Sendo assim, pode-se dizer que essa segunda fase foi marcada pelas seguintes características: a) clara separação entre Direito Comercial e Direito Civil como ramos autônomos e independentes; b) especificidade do direito comercial, sendo que o próprio ato do comércio caracterizava a profissão dos comerciantes; c) caracterização do Direito Comercial 9 pelo objeto (comércio) e não pelo sujeito (comerciante); d) monopólio da jurisdição pelo Estado devido à perda da força das corporações de ofício. Todavia, também o método de delimitação da matéria comercial proposto pela Teoria dos Atos de Comércio se mostrou insuficiente, vez que não alcançava outros setores da economia, tais como a indústria e a prestação de serviços. Diante disso, surgiu, na Itália, nova proposta para estabelecer o alcance do ramo do direito privado ora examinado, a qual foi marcada como terceira fase evolutiva do Direito Empresarial. A Teoria da Empresa, recepcionada pelo Código Civil Italiano de 1942 e com grande aceitação por diversos ordenamentos jurídicos, trouxe parâmetros bem mais sofisticados. Conforme mencionado acima, os novos critérios provocaram, inclusive, a mudança da terminologia utilizada para designar o setor do saber jurídico ao qual se aplicavam. Sendo assim, de Direito Comercial passou-se à denominação Direito Empresarial. André Luiz Ramos Santa-Cruz, inspirado nas lições de Waldirio Bulgarelli, assim compara as duas teorias: Para a teoria da empresa, o direito comercial não se limita a regular apenas as relações jurídicas em que ocorra a prática de um determinado ato definido em lei como ato de comércio (mercancia). A teoria da empresa faz com que o direito comercial não se ocupe apenas com alguns atos, mas com uma forma específica de exercer uma atividade econômica: a forma empresarial.1 O foco passou, então, para o exercício de atividade econômica, sob a modalidade de empresa. Isso se dá sempre que é organizada de acordo com os parâmetros eleitos pe la lei como identificadores da atividade empresarial. Daí porque essa fase foi considerada subjetivista moderna. 1 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 37 e 38. 10 1.2 Conceito de empresa Como vimos, a fase da teoria da empresa, também conhecida como sistema italiano, teve como ápice o Códice Civile (Código Civil Italiano) de 1942, que pretendeu unificar o direito privado da Itália.As três fases históricas descritas no tópico anterior espelharam-se no Brasil, o que pode ser constatado no fluxograma abaixo, o qual demonstra a evolução dessas teorias conforme seus respectivos marcos legais no direito pátrio. A teoria da empresa acarretou uma ampliação da abrangência do Direito Comercial (agora Direito Empresarial). Tratando-se do sistema utilizado pelo Código Civil de 2002, com esta teoria , surgem as ideias de empresa e de empresário. Contam com a proteção das normas de direito empresarial aqueles que praticarem empresa (atividade econômica, exercida profissionalmente e organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços). O art. 966 do Código Civil definiu o empresário a partir do conceito de empresa, considerando-a como atividade dotada das seguintes características: economicidade, profissionalismo, organização e finalidade de produção ou circulação de bens ou serviços. É Fase Subjetivista Comerciante Fase Objetivista Atos de Comércio (mercancia) Fase Subjetivista (Moderna) Empresário Regulamento 737 de 1850 “Considera-se Mercancia”... Tribunais de Comércio Código Comercial de 1850 Código Civil de 2002 11 importante mencionar que, embora o dispositivo não tenha contemplado a especulação, essa também pode ser considerada uma atividade de natureza empresarial, muito embora, muitas vezes, não repercuta na produção ou circulação de qualquer bem ou serviço. O quadro abaixo representa os aspectos essenciais para que uma atividade seja caracterizada como empresária: Conforme a mesma norma, a priori, estão excluídas da noção de empresa as atividades intelectuais de natureza artística, científica ou literária. Mas, por ora, não convém adentrar as nuances do parágrafo único daquela norma (art. 966. CC), posto que serão melhor abordadas posteriormente. 1.2.1 Empresa como atividade A natureza jurídica da empresa é de atividade, porquanto consiste em um conjunto coordenado de atos voltados à obtenção de um resultado comum. Logo, empresa não é sujeito nem objeto de direitos. Logo, do ponto de vista jurídico, há uma impropriedade terminológica existente em expressões como “tenho uma empresa” ou vou na empresa. Empresa = Atividade Econômica Organizada Profissional Industrial, Comercial ou de Prestação de Serviços 12 1.2.2 Economicidade Econômica é aquela atividade que tem como fim precípuo a distribuição de lucros ou a geração de valor. No caso do empresário individual, o lucro se destina a acrescer o próprio patrimônio. Nas sociedades empresárias, o fim da atividade é a distribuição de lucros aos sócios. Contudo, a ausência da finalidade lucrativa não descaracteriza uma atividade como empresária caso ela se destine à circulação de riqueza ou à prestação de serviço remunerado. É o caso, por exemplo, de uma sociedade empresária criada para objetivos filantrópicos, mas que, para alcança-los, precisa angariar recursos comercializando bens ou cobrando por serviços prestados. Nas palavras de André Luiz Ramos Santa Cruz Ao destacarmos a expressão atividade econômica, por sua vez, queremos enfatizar que empresa é uma atividade exercida com intuito lucrativo. Afinal, conforme veremos, é característica intrínseca das relações empresariais a onerosidade. Mas não é só à ideia de lucro que a expressão atividade econômica remete. Ela indica também que o empresário, sobretudo em função do intuito lucrativo de sua atividade, é aquele que assume os seus riscos técnicos e econômicos. Entenda-se a ideia de lucro aqui como utilidade. É lucrativa a atividade que produz uma utilidade, e não somente aquela que se traduz em dinheiro. De qualquer forma, o critério de economicidade é essencial. A atividade deve produzir o suficiente para, pelo menos, remunerar os fatores da produção e, dentre eles, o capital investido, de molde a assegurar, por si mesma, a sua sobrevivência.2 1.2.3 Organização Vimos que, sob a égide do atual Código Civil Brasileiro, a empresa é tida como atividade, cuja marca essencial é a obtenção de lucros com o oferecimento ao mercado de bens ou serviços, gerados mediante a organização dos fatores de produção (força de trabalho/mão de obra, matéria-prima, capital e tecnologia).3 2 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 37 e 38. 3 MELLO FRANCO, Vera Helena. Manual de direito comercial. 2. ed. São Paulo: RT, 2004. p. 51. v. 1. Resume bem a professora da USP: “a ideia de organização, assim, deve ser entendida em sentido amplo, de molde a considerar 13 Asquini dividia a expressão empresa em quatro perfis. Em um perfil subjetivo, empresa seria sinônimo de empresário. Em um perfil funcional, empresa seria a atividade (utilizado pela teoria da empresa). Em um perfil objetivo, empresa seria sinônimo de patrimônio aziendal ou estabelecimento. Por fim, em um perfil corporativo, empresa é instituição, na medida em que reúne pessoas com propósitos comuns (empresário e empregados). 4 Saliente-se que, conforme entendimento majoritário, o Código Civil de 2002 não unificou o direito privado, mas apenas o direito dos contratos e das obrigações. O Direito Empresarial permanece autônomo, apesar de o Código Comercial ter sido derrogado pelo referido diploma (revogado parcialmente, já que a parte sobre comércio marítimo permanece vigente). A atividade dos empresários pode ser vista como a de articular (organizar) os fatores de produção, que, no sistema capitalista, são quatro: capital, mão-de-obra, insumo e tecnologia. Estruturar a produção ou circulação de bens ou serviços significa reunir os recursos financeiros (capital), humanos (mão-de-obra), materiais (insumo) e tecnológicos que viabilizem oferece- los ao mercado consumidor com preços e qualidade competitivos. Organização é a reunião desses quatro fatores de produção, assim descritos por Fábio Ulhoa Coelho: Mão-de-obra: é um fato de produção que envolve o auxílio de prepostos do empresário para a consecução de sua atividade, devendo, necessariamente, ser um trabalho alheio, seja por contrato de trabalho, seja por prestação de serviço etc. Ex.: Uma pessoa faz, embrulha e vende trufas com habitualidade e finalidade lucrativa, mas se não possuir mão de obra contratada não poderá ser considerada empresária, e sim apenas sociedade simples. Insumos (matéria-prima): correspondem aos bens articulados pela empresa; Capital: é o montante em dinheiro necessário ao desenvolvimento da atividade; Tecnologia: faz compor a ideia de que o empresário detém as informações necessárias ao desenvolvimento da atividade a que se propôs explorar. ‘organizada’ toda atividade realizada de modo profissional, isto é, que não seja extemporânea ou improvisada, destinada à colocação de bens ou serviços no mercado”. 4 ASQUINI, Alberto. Perfis da Empresa. Tradução de Fábio Konder Comparato. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 35, n. 104, p.109-126, out./dez. 1996. 14 Segundo o supracitado autor, a ausência de qualquer um dos quatro fatores descaracteriza a organização e, consequentemente, a pessoa jurídica como sociedade empresária ou Empresa Individual de Responsabilidade limitada e a pessoa física como empresário individual5. André Luiz Ramos é contrário a esse posicionamento, tendo em vista que a automatização permite a inobservância do requisito da “mão de obra contratada”, sem descaracterizar, em sua essência, a figura do empresário6. Para ele, estará caracterizada a organização se a atividade fim tiver de ser exercida com a colaboração de terceiros ou mediante recursos de terceiros (pessoas ou bens).Assim, uma lavanderia totalmente computadorizada poderia ser considerada uma atividade empresarial. Pode-se citar também o caso dos empresários virtuais, que, muitas vezes, atuam completamente sozinhos, resumindo- se sua atividade à intermediação de produtos ou serviços por meio da internet. 1.2.4 Profissionalismo O caráter profissional da atividade remete à ideia de exercício com qualificação técnica e aprimoramento, muito embora, em vários casos, não seja necessária uma formação específica para desempenho da empresa. Evidente, pois, que, desse somatório de elementos organizados para exercício da atividade empresária exsurge a ideia de habitualidade na prática desta função, podendo-se afirmar que somente a atividade praticada com certa constância pode ser reconhecida como de natureza profissional (REsp 1.539.154 de 25/11/2015). Se o exercício da atividade econômica se dá de forma esporádica, por exemplo, seu promovente não será considerado empresário, não sendo abrangido, portanto, pelo regime jurídico empresarial. Em síntese, “importa que a atividade corresponda a um constante repetir- se, não podendo tratar-se da realização de um negócio ocasional de compra e venda ou de mediação”. 5 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 13-14. 6 123. 15 1.2.5 Objetivo Específico Por fim, a produção ou circulação de bens ou serviços demonstra a abrangência da teoria da empresa, em contraposição à antiga teoria dos atos de comércio, a qual, como visto, restringia o âmbito de incidência do regime jurídico comercial a determinadas atividades econômicas elencadas na lei. Para a teoria da empresa, em contrapartida, qualquer atividade econômica poderá, em princípio, submeter-se ao regime jurídico empresarial, bastando que seja exercida profissionalmente, de forma organizada e com intuito lucrativo. Sendo assim, a expressão produção ou circulação de bens ou de serviços deixa claro que nenhuma atividade econômica está excluída, em princípio, do âmbito de incidência do direito empresarial. Além de denotar a abrangência da teoria da empresa, a expressão em análise também nos permite concluir que só restará caracterizada a empresa quando a produção ou circulação de bens ou serviços destinar-se ao mercado, e não ao consumo próprio. 1.3 Fixação de Regime Jurídico É imperioso enfatizar quais são os desdobramentos da caracterização da atividade de um sujeito de direitos como empresária, pois dela decorre sua submissão ao conjunto de regras e princípios do Direito de Empresa (regime jurídico empresarial). Logo, diretrizes e preceitos civilistas incompatíveis com o regramento empresarialista cederão espaço àquelas que disciplinam a matéria com maior especificidade. Sob essa perspectiva, cabe apontar os seguintes efeitos práticos, já os comparando com as atividades não empresariais, as quais se submetem ao regime jurídico civil: REGIME CARACTERÍSTICAS PRÓRIA Civil Subordinação dos atos ao registro civil Sujeição ao procedimento de insolvência civil Impossibilidade de se valer da recuperação (extra) judicial; 16 Ilegitimidade para ação renovatória da locação empresarial; Empresarial Subordinação dos atos ao registro empresarial Sujeição ao procedimento de execução concursal (falência); Possibilidade de se valer da recuperação (extra) judicial; Legitimidade para ação renovatória da locação empresarial; Percebe-se, assim, que a noção de empresa é o principal alicerce de todo o conteúdo didático da disciplina de Direito Empresarial, pois permite a apreensão de seus institutos jurídicos peculiares, notadamente, as figuras do empresário e do estabelecimento empresarial. Em razão disso, é recorrentemente cobrada nas provas de concurso, conforme se pode verificar na parte de exercícios deste material. 1.4 O Empresário 1.4.1 Conceito e Espécies O Código Civil de 2002, em seu art. 966, caput, nos traz o conceito de empresário como sendo aquele que exerce, profissionalmente, atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. A essa atividade exercida se dá o nome de “empresa”. Esse conceito legal será mais bem detalhado a seguir. Por enquanto, é importante mencionar que a expressão “empresário” pode ser concebida em sentido amplo para abarcar o empresário pessoa física (empresário individual) e o empresário pessoa jurídica (sociedade empresária ou empresa individual de responsabilidade limitada - EIRELI). Em sentido estrito, empresário é a pessoa física que exerce empresa, ou seja, o empresário individual. 17 Empresário (em sentido amplo)7 Empresário Individual (ou empresário em sentido estrito) Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) Sociedade Empresária Pessoa Física que exerce atividade econômica organizada, conforme o art. 966 do CC. Pessoa Jurídica INDIVIDUAL exercente de atividade econômica organizada de acordo com o art. 966 do CC. Pessoa Jurídica, formada, em regra, por PLURALIDADE de membros (sócios), cujo objeto social se destina ao exercício de atividade empresária (art. 966 do CC) * Exceção: sociedade limitada com sócio único Mesmo sendo pessoa física, terá CNPJ. Pode ser simples ou empresária. Atualmente, a sociedade limitada poderá ser unipessoal Saliente-se que a própria sociedade é quem é empresária, e não os seus sócios. Isso porque é ela que organiza, sob sua titularidade, ou seja, em seu nome a atividade de produção ou circulação de bens ou serviços. Assim, sócio de sociedade empresária não é considerado empresário, mas sim um empreendedor, quando, além de ter aportado capital, também colabora com seus serviços na organização da atividade (ex. sócio diretor) ou mero investidor, caso não participe da condução dos negócios. Em se tratando do empresário individual, trata-se de pessoa natural que exerce empresa, tendo responsabilidade direta e ilimitada (todo o seu patrimônio responde por todas as obrigações, tenha ou não relação com o exercício da atividade). A doutrina entende que o 7 Questão 8 18 empresário individual deve responder primeiro com os bens afetados à exploração da empresa e, apenas subsidiariamente, com os bens não afetados. Nesse sentido: Enunciado 5 da I Jornada de Direito Comercial: Quanto às obrigações decorrentes de sua atividade, o empresário individual tipificado no art. 966 do Código Civil responderá primeiramente com os bens vinculados à exploração de sua atividade econômica, nos termos do art. 1.024 do Código Civil. Consigne-se que o fato de ser pessoa natural não impede que o empresário individual seja inserido no Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas - CNPJ para fins tributários. Assim, por mais estranho que pareça, um empresário individual terá um número de CNPJ para poder identificar os negócios praticados que se relacionam ao exercício da atividade empresária. 1.4.2 Caracterização Conforme mencionado anteriormente, o Código Civil Brasileiro de 2002 recepcionou a Teoria da Empresa e, por isso, adotou o conceito jurídico indeterminado de empresário em seu artigo 966. No entanto, a precisa interpretação desse dispositivo legal requer análise em diferentes etapas, técnica hermenêutica denominada de “Exegese Quadripartite”8. Essa técnica hermenêutica se concentra nos seguintes pontos relevantes , sintetizado pelo fluxograma abaixo em quatro estágios interpretativos: 8 PARENTONI, Leonardo Netto et alii. Análise quadripartite do artigo 966 do Código Civil de 2002. Jornal da Faculdade de Direito da UFMG (O Sino do Samuel). Belo Horizonte, Ano X, n. 78, p. 3, out. 2004. 19 Uma vez visualizadastais etapas, cabe detalhá-las da seguinte forma: 1ª parte: O caput dispõe que, em regra, as atividades industriais, comerciais e de prestação de serviços são empresariais. A contrario sensu, valendo-se da ideia de exclusão, não estando presentes os elementos da atividade empresária (atividade econômica, exercida de forma profissional e organizada e direcionada à produção ou à circulação de bens ou serviços), a atividade exercida será civil. 2ª parte: São exceções aquelas decorrentes de “profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística”, previstas no parágrafo único, ainda que com o concurso de auxiliares. 3ª parte: A parte final do parágrafo único considera empresariais atividades que, embora decorrentes de profissão intelectual, contenham elemento de empresa, situação que se configura quando a atividade intelectiva for absorvida pela organização dos fatores de produção, sendo apenas mais um dos elementos da empresa, ou seja, constitui apenas uma das etapas do Art. 966, caput • Regra (caput): • Atividade empresarial (indústria, comércio, serviços) Art. 966, p.u., 1a • Exceção (p. u., 1ª parte): • Atividade intelectual científica, artística e literária Art. 966, p.u., 2a • Limites da exceção ou “exceção da exceção! (p.u., parte final): • "Elemento de Empresa” Situações Especiais • Tratamento legal diferenciado (outros dispositivos legais) • Ex. (art. 1.089, CC/02): cooperativas (sempre civis) e S/As (sempre empresárias) 20 processo de produção ou circulação de mercadorias ou serviços. Sendo assim, apenas o exercício das atividades exclusivamente intelectuais está excluído do conceito previsto no caput do art. 966. Isso porque a presença do “elemento de empresa” redireciona a esse preceito a caracterização da atividade, determinando-a como empresária. Em outras palavras, “elemento de empresa” é conceito legal indeterminado que, uma vez verificado, remete a atividade intelectual à regra do caput, categorizando-a como atividade empresária. Ei OABeiro, é importante dar uma lida no texto dos enunciados 193, 194 e 195 das Jornadas de Direito Civil do CJF, que, respectivamente estabelecem: “o exercício das atividades de natureza exclusivamente intelectual está excluído do conceito de empresa”; “os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores de produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida”; e “a expressão ‘elemento de empresa’ demanda interpretação econômica, devendo ser analisada sob a égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos fatores da organização empresarial”. 4ª parte: Por disposição legal específica, algumas atividades, ainda que insertas nas hipóteses do caput ou do parágrafo único, devem sujeitar-se a regime jurídico especial. São exemplos: a) cooperativa (art. 4º e 18, § 6º, da Lei nº 5.764/1971); b) sociedade anônima (art. 1.089, CC/02). A primeira jamais poderá praticar atividades empresariais por expressa disposição da legislação especial enquanto a segunda sempre praticará atividades empresarias, qualquer que seja seu objeto social. Apesar de registradas na Junta Comercial (art. 18 da Lei nº 5.764/71), as 21 Cooperativas são sempre sociedades simples, exercendo atividade civil por força de lei (art. 982 do CC/02). Sendo assim, não importa se uma cooperativa de produtores rurais pratica a mesma atividade que uma indústria dedicada ao agronegócio, porque ela sempre será considerada não empresária. Por outro lado, uma sociedade anônima sempre será considerada empresária, ainda que tenha como fim social atividade relacionada com a prática de atos filantrópicos. Infere-se, então, que a natureza intelectual, seja ela artística, científica ou literária, geralmente, impede o enquadramento como empresário daquele que a pratica. No entanto, Fábio Ulhoa Coelho invoca exceção que confirma a regra: Há uma exceção, prevista no mesmo dispositivo legal, em que o profissional intelectual se enquadra no conceito de empresário. Trata-se da hipótese em que o exercício da profissão constitui elemento de empresa. Para compreender o conceito legal, convém partir de um exemplo. Imagine o médico pediatra recém-formado, atendendo seus primeiros clientes no consultório. Já contrata pelo menos uma secretária, mas se encontra na condição geral dos profissionais intelectuais: não é empresário, mesmo que conte com o auxílio de colaboradores. Nesta fase, os pais buscam seus serviços em razão, basicamente, de sua competência como médico. Imagine, porém, que, passando o tempo, este profissional amplie seu consultório, contratando, além de mais pessoal de apoio (secretária, atendente, copeira etc.), também enfermeiros e outros médicos. Não chama mais o local de atendimento de consultório, mas de clínica. Nesta fase de transição, os clientes ainda procuram aqueles serviços de medicina pediátrica, em razão da confiança que depositam no trabalho daquele médico, titular da clínica. Mas a clientela se amplia e já há, entre os pacientes, quem nunca foi atendido diretamente pelo titular, nem o conhece. Numa fase seguinte, cresce mais ainda aquela unidade de serviços. Não se chama mais clínica, e sim hospital pediátrico. Entre os muitos funcionários, além dos médicos, enfermeiros e atendentes, há contador, advogado, nutricionista, administrador hospitalar, seguranças, motoristas e outros. Ninguém mais procura os serviços ali oferecidos em razão do trabalho pessoal do médico que os organiza. Sua individualidade se perdeu na organização empresarial. Neste momento, aquele profissional intelectual tornou-se elemento de empresa. Mesmo que continue clinicando, sua maior contribuição para a prestação dos serviços naquele hospital pediátrico é a de organizador dos fatores de produção. Foge, 22 então, da condição geral dos profissionais intelectuais e deve ser considerado, juridicamente, empresário.9 Outro exemplo seria o do cartunista Maurício Ricardo, que, até pouco tempo produzia charges eletrônicas para a Rede Globo de Televisão. No início de sua carreira, as produzia de modo basicamente “artesanal”, e, mesmo tendo colaboradores, não poderia ser considerado empresário, pois, em sua organização profissional, preponderava o caráter artístico de sua atividade intelectual. Contudo, ao contratar diversos colaboradores e produzir conteúdos para diversos clientes (ex. sítio eletrônico da UOL, programa Big Brother da Globo), teve o caráter artístico de seu trabalho “dissolvido” em meio a diversos outros componentes da atividade empresarial. Daí porque, nessa última situação, a produção de charges tornou-se tão somente um dos elementos de atividade empresária de muito maior vulto. Um último exemplo seria o de uma sociedade que presta serviços publicitários, que consistem na consultoria e elaboração de estratégias de marketing, estudos de mercado, criação de logotipos e slogans, não é empresária, porque esses serviços são de natureza exclusivamente intelectual. Por outro lado, caso a mesma sociedade, além de prestar os serviços mencionados, comercialize cartazes, folders, materiais publicitários e espaços em outdoors, será empresária, por associar elementos de empresa a seus serviços de natureza intelectual. Além de denotar a abrangência da teoria da empresa, a expressão em análise também nos permite concluir que só restará caracterizada a empresa quando a produção ou circulação de bens ou serviços destinar-se ao mercado, e não ao consumo próprio. 1.1.1 Empresário Rural O empresário rural tem a faculdade de se registrar ou não perante o Registro Público de Empresas Mercantis. Se não for registrado, não é considerado empresário, exercendo atividade civil. Se optar pelo registro na Junta Comercial, equiparar-se-á a empresário para todos os fins(art. 971 do CC/02). Este registro terá natureza jurídica constitutiva, sendo exceção à regra de que o registro do empresário na Junta Comercial tem natureza meramente declaratória (uma vez que, via de regra, considera-se empresário em razão da atividade exercida, e não em 9 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial : direito de empresa.23. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. pp. 36-40. 23 decorrência de registro). O empresário rural só pode pedir recuperação e falir se for registrado, já que são institutos restritos aos exercentes de empresa. 1.1.2 Empresário Casado Duas situações que envolvem o casamento assumem grande relevância para o Direito Empresarial, são elas: 1. A da possibilidade de cônjuges contratarem sociedade entre si ou com terceiros; e 2. A do empresário casado e os reflexos na outorga conjugal para determinados atos. O art. 977 do CC/02 faculta aos cônjuges contratarem sociedade entre si ou com terceiros, desde que não estejam casados sob o regime de comunhão universal de bens ou no de separação obrigatória. Essa regra é relevante para o estudo de sociedades empresárias. Estabelece ser possível que marido e mulher figurem como sócios na mesma sociedade, desde que não sejam casados na comunhão universal ou separação obrigatória de bens. Há dispensa de outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus reais os imóveis da empresa. No que tange ao instituto do empresário individual, importante analisar o art. 978 do CC/02, que estabelece que “o empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real”. Essa regra abrange tão somente o empresário individual, já que, em se tratando de sociedade empresária, a titular da empresa é a própria sociedade. No entanto, por indicar condição não prevista na lei, causa certa polêmica o seguinte enunciado da II Jornada de Direito Comercial da CJF: Enunciado 58 da I Jornada de Direito Comercial: O empresário individual casado é o destinatário da norma do art. 978 do CCB e não depende da outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus real o imóvel utilizado no exercício da empresa, desde que exista prévia averbação de autorização conjugal à conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, com a consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no registro público de empresas mercantis. 24 A corrente majoritária entende que o art. 978 é especial em relação ao art. 1.647, I, do CC/02, podendo o empresário individual casado, sem necessidade de outorga conjugal, em qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real. Uma segunda corrente entende que deveria ser feita uma averbação no Cartório de Registro de Imóveis e na Junta Comercial afetando o bem ao exercício da atividade, autorizando a sua alienação ou que seja posto ônus real. Importante consignar que os pactos e declarações antenupciais do empresário serão arquivados e averbados no Registro Civil e no Registro Público de Empresas Mercantis (art. 979 do CC/02) 10 e que eventual decretação ou homologação da separação judicial do empresário ou reconciliação não poderá ser oposta a terceiro antes de arquivado e averbado no Registro Público de Empresas Mercantis (art. 980 do CC/02). Vejamos como esse assunto foi cobrado: (XXII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Fagundes e Pilar são noivos e pretendem se casar adotando o regime de separação de bens mediante celebração de pacto antenupcial. Fagundes é empresário individual e titular do estabelecimento Borracharia Dona Inês Ltda. ME. Celebrado o pacto antenupcial entre os nubentes, o advogado contratado por Fagundes providenciará o arquivamento e a averbação do documento A) no Registro Público de Empresas Mercantis e a publicação na imprensa oficial. B) no Registro Público de Empresas Mercantis e no Registro Civil de Pessoas Naturais. C) no Registro Civil de Pessoas Naturais e a publicação na imprensa oficial . D) no Registro Público de Empresas Mercantis e no Registro Civil de Títulos e Documentos. 10 Vide questão 07 25 Observação: A questão acima citada e seu respectivo comentário encontram-se na bateria de questões ao final dessa apostila, ok? 😊 Além disso, a terminação “ME”, presente na questão, não é mais utilizada atualmente 1.2 Dos requisitos de regularidade 1.2.1 Da Inscrição A inscrição do empresário antes do início de sua atividade é obrigatória (art. 967 do CC/02). Para a maioria da doutrina, conforme será melhor especificado em sede de análise dos Registro Públicos, esse ato tem natureza declaratória. O registro das sociedades empresárias, por sua vez, assumirá natureza constitutiva A inscrição deve ser feita mediante requerimento que contenha: o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; a firma, com a respectiva assinatura autógrafa que poderá ser substituída pela assinatura autenticada com certificação digital ou meio equivalente que comprove a sua autenticidade; o capital; o objeto e a sede da empresa, conforme art. 968 do CC/02. A inscrição será tomada por termo no livro próprio do Registro Público de Empresas Mercantis, e obedecerá a número de ordem contínuo para todos os empresários inscritos. À margem da inscrição, e com as mesmas formalidades, serão averbadas quaisquer modificações nela ocorrentes. 1.2.2 Da capacidade 11O art. 972 do CC/02 exige que para o exercício da atividade de empresário a pessoa natural esteja em pleno gozo da capacidade civil (os que não forem incapazes) e não seja legalmente impedido (falido não reabilitado, magistrados, membros do MP, militares da ativa, etc.). Tem-se, portanto, os requisitos para que a pessoa física exerça atividade econômica como empresário individual: a capacidade civil e a ausência de impedimentos legais. 11 Vide questão 09 26 No que tange à capacidade civil, a regra é que o incapaz não pode ser empresário individual, ressalvadas duas situações: a da incapacidade superveniente e do sujeito incapaz que herda a atividade empresarial. Assim, há idade mínima para iniciar a atividade como empresário individual (16 anos, sendo o exercício da empresa causa de emancipação nos termos do art. 5º, parágrafo único, inciso V, do Código Civil). Não há, contudo, idade mínima para dar continuidade a uma empresa anteriormente iniciada por seus pais (que faleceram) ou pelo autor da herança, devendo o menor ser representado ou assistido (princípio da preservação da empresa) (art. 974 do CC/02). No mesmo sentido, pode o empresário continuar a empresa por ele exercida enquanto capaz no caso de incapacidade superveniente. Em tais hipóteses, será necessária autorização judicial, após exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros (art. 974, §1º, do CC/02). A prova da emancipação e da autorização do incapaz e a de eventual revogação desta serão INSCRITAS ou AVERBADAS NO REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS. O uso da nova firma caberá, conforme o caso, ao gerente; ou ao representante do incapaz; ou a este, quando puder ser autorizado (art. 976 do CC/02) Como forma de proteção ao incapaz, não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que ele já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo da empresa, devendo tais fatos constar do alvará que conceder a autorização (art. 974, §2º,do CC/02). Não se exige idade mínima para ser sócio ou titular de EIRELI (por analogia às sociedades limitadas), mas este sócio menor deverá integralizar todo o capital, não poderá ser administrador e deve estar assistido ou representado. 27 IDADE MÍNIMA EMPRESÁRIO INDIVIDUAL Dezesseis anos para iniciar (causa de emancipação). Não há idade mínima para continuar. Deve estar representado ou assistido SÓCIO TITULAR DE EIRELI Não há idade mínima. O menor deve estar representado ou assistido, não pode ser administrador, todo o capital da sociedade deve ser integralizado. Se o menor for emancipado, tem plena capacidade de ser sócio. No que tange aos sujeitos legalmente impedidos de exercer empresa, trata-se de situação em que os sujeitos exercem função ou possuem condição incompatível com a atividade empresarial. Para conhecer esses impedimentos, é necessário conhecer algumas legislações específicas. Certas pessoas, como membros do MP e magistrados, não podem ser empresários individuais, mas podem ser sócias de sociedade empresária, desde que não exerçam administração. Se exercerem, apesar da proibição, serão responsabilizados pelas obrigações. No mesmo sentido, as pessoas impedidas de ser empresários podem ser titulares de EIRELI, desde que não a administrem. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas (art. 973 do CC/02). Consigne-se que, acaso incapaz o sujeito, e seu o representante ou assistente for pessoa que, por disposição de lei, não puder exercer atividade de empresário, deve ser nomeado, com a aprovação do juiz, um ou mais gerentes. Por exemplo, caso um menor de 16 anos herde a empresa antes exercida por seus pais e o seu tutor seja impedido de exercer empresa (por ser ele um Promotor de Justiça, por exemplo), ele deverá, com aprovação do juiz, nomear gerente. Do mesmo modo, será nomeado gerente em todos os casos em que o juiz entender ser conveniente. Contudo, a aprovação do juiz não exime o representante ou assistente do menor ou do interdito da responsabilidade pelos atos dos gerentes nomeados (art. 975 do CC/02). 28 1.2.3 Ausência de impedimento legal Há alguns casos previstos expressamente em lei que proíbem a pessoa de exercer atividade empresarial. É preciso atentar para o fato de que a proibição é para o exercício de empresa, não sendo vedado, pois, que alguns impedidos sejam sócios de sociedades empresárias, uma vez que, nesse caso, quem exerce a atividade empresarial é a própria pessoa jurídica, e não seus sócios. Em suma: os impedimentos se dirigem aos empresários individuais, e não aos sócios de sociedades empresárias. Assim, são impedidos de exercer atividade de empresa como empresários individuais: Membros do Ministério Público, da Magistratura, Servidores militares da ativa das Forças Armadas e das Polícias Militares para exercer o comércio individual ou particular de sociedade comercial, salvo se acionista ou quotista, obstada a função de administrador; Empresários falidos, enquanto não forem reabilitados (Lei de Falências, art. 195); Leiloeiros (o art. 36, do Decreto nº 21.891/32 proíbe os leiloeiros de exercerem a empresa direta ou indiretamente, bem como constituir sociedade empresária, sob pena de destituição); Corretores (art. 20, da Lei 6.530/78); Despachantes aduaneiros (art. 10, inciso I, do Decreto nº 646/92); Cônsules, nos seus distritos, salvo os não-remunerados (Decreto nº 4.868/82, art. 11 e Decreto 3.529/89, art. 82); Médicos, para o exercício simultâneo da farmácia, drogaria ou laboratórios farmacêuticos e os farmacêuticos, para o exercício simultâneo da medicina (Decreto nº 19.606/31 c/c Decreto 20.877/31 e Lei 5.991/73). Segundo o STJ, para ter farmácia, o médico teria que pedir desligamento do Conselho de Medicina (REsp 796.560/AL); 29 Pessoas condenadas a pena que vede, ainda que temporariamente o acesso a cargos públicos, ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação (art. 1.011, §1º, CC); Servidores públicos civis da ativa (Lei 1.711/52) e servidores federais (Lei 8112/90, art. 117, X, inclusive Ministros de Estado e ocupantes de cargos públicos comissionados em geral). Aqui é importante observar que o funcionário público pode participar como sócio cotista, comanditário ou acionista, sendo obstada a função de administrador; Devedores do INSS (art. 95, §2º, da Lei nº 8.212/91). Destaque-se que o Código Civil estabelece, em seu art. 973, que “a pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas”. Portanto, as obrigações contraídas por um “empresário” impedido não são nulas. Ao contrário, elas terão plena validade em relação a terceiros de boa-fé que com ele contratarem. 1.3 Da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) A EIRELI não é uma sociedade, mas sim pessoa jurídica de direito privado diversa (art. 44, VI, do CC/02). No Direito Brasileiro, as únicas sociedades unipessoais existentes são a Sociedade Unipessoal de Advogado e a Subsidiária Integral da Sociedade Anônima. A EIRELI não é sociedade. A EIRELI será constituída por uma única pessoa, física ou jurídica (Instrução Normativa nº 38/2017 do Departamento de Registro Empresarial e Integração - DREI), titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior 30 salário-mínimo vigente no País. A pessoa natural que constituir EIRELI, contudo, somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade.12 O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI" após a firma ou a denominação social. A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária em um único sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração. Em regra, uma sociedade se dissolve quando ocorrer a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de 180 dias. Não ocorrerá a dissolução, contudo, se o sócio remanescente requerer a transformação para empresário individual ou para EIRELI. Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada constituída para a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional. Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas. A limitação da responsabilidade daquele que exerce atividade econômica por meio de EIRELI foi reafirmada pela Lei da Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019), publicada em 30/04/2019, que incluiu o §7º ao art. 980-A do CC/02, em determinação de que “somente o patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da empresa individual de responsabilidade limitada, hipótese em que não se confundirá, em qualquer situação, com o patrimônio do titular que a constitui, ressalvados os casos de fraude”. Importante consignar que dispositivo de redação semelhante foi vetado anteriormente (§4º do art. 980-A do CC/02), sob o argumento de que se aplicariam as regras das sociedades limitadas, inclusive quanto à separação do patrimônio. . 31 EIRELI titularizada por incapaz No dia 8 de março de 2019, a Instrução Normativa 55 do Departamento Nacional de RegistroEmpresarial e Integração - DREI foi publicada no Diário Oficial da União - DOU. Essa instrução altera o manual de registro da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI para permitir que incapaz seja titular dessa modalidade de pessoa jurídica, desde que representado/assistido e sem exercer a administração, que deve ficar a cargo de terceiro. Perceba que essa norma tudo tem a ver com o §3º do art. 974 do CC/02,13 pois estabelece as mesmas exigências impostas para que o incapaz participe de sociedade. Portanto, equipara o titular da EIRELI a um sócio meramente investidor, muito embora, na EIRELI, ele não ocupe jamais essa posição, mas, tão somente, de proprietário/titular. Pessoa Jurídica como titular de EIRELI O novo manual instituído pelo Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI), por meio da publicação da Instrução Normativa n. 38, em 3 de março de 2017, prevê, expressamente, em seu item 1.2.59, a possibilidade de pessoa jurídica, nacional ou estrangeira, ser titular de EIRELI. O novo Manual de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada passou a vigorar em todo o território brasileiro a partir do dia 2 de maio de 2017, respeitados os 60 dias de vacatio legis. 13 Vide questão 03 32 1.4 Microempreendedor Individual, Microempresa e Empresa de Pequeno Porte Não só o empresário e o sócio podem ser classificados, mas também a empresa. Essa, para efeitos tributários, pode ser categorizada de acordo com o fluxo financeiro que gera. Tem- se, então, as seguintes qualificações: Microempresa: para o empresário individual ou as sociedades empresárias (exceto a anônima) que percebam receita bruta anual de R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) Empresa de Pequeno Porte: para o empresário individual ou as sociedades empresárias (exceto a anônima) que percebam receita bruta anual de R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais) (conforme alteração determinada pela LC 155/2016 sobre a LC 123/2006). Microempreendedor Individual: é uma espécie particular de pequena empresa na qual pode se enquadrar, tão somente, o empresário individual que não exceda a receita bruta anual de R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais), cf. § 1º do art. 18- A da LC 123/06. 1.5 Estabelecimento empresarial Também chamado de estabelecimento comercial, fundo de comércio ou azienda (artigos 1.142 ao 1.149 do CC). Estabelecimento é todo complexo de bens organizado para exercício da empresa, pelo empresário ou por sociedade empresária, sendo imprescindível para o exercício da atividade empresarial. Só fazem parte do estabelecimento os bens que estão diretamente relacionados à atividade empresarial. Assim sendo, o estabelecimento não se confunde com a empresa, uma vez que esta, conforme visto, corresponde a uma atividade. Da mesma forma, o estabelecimento não se confunde com o empresário, já que este é uma pessoa física ou jurídica que explora essa atividade empresarial e é o titular dos direitos e obrigações dela decorrentes. Mas, embora estabelecimento, empresa e empresário sejam noções que não se confundem, são conceitos que se inter-relacionam, podendo-se dizer, pois, que o 33 estabelecimento, como complexo de bens usado pelo empresário no exercício de sua atividade econômica, representa a projeção patrimonial da empresa ou o organismo técnico-econômico mediante o qual o empresário atua. Bens corpóreos ou materiais: móveis, utensílios, mercadoria, maquinários, o próprio imóvel, veículos e todos os demais bens que o empresário utiliza para o bom desenvolvimento e organização de sua atividade econômica. Obs.: Bem imóvel não é o estabelecimento, mas sim elemento integrante do estabelecimento. Isso porque estabelecimento é diferente de patrimônio; Bens incorpóreos ou imateriais: compreendem, principalmente, os bens industriais (registro de desenho industrial, marca registrada, patente de invenção, de modelo de utilidade, nome empresarial e título de estabelecimento) e o ponto (local ao qual a atividade econômica é explorada). O enunciado 7 da I Jornada de Direito Comercial apresenta interessante exemplo de bem incorpóreo que compõe o estabelecimento empresarial. Enunciado 7, CJF: O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para todos os fins de direito. Estabelecimento não é sujeito de direito, mas objeto de direito. Sujeito de direito é o empresário individual ou a sociedade empresária. É objeto unitário de direito (art. 1.143, CC). Por isso o empresário pode vender, arrendar ou dar em usufruto o estabelecimento, pois trata-se simplesmente de um objeto. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. O estabelecimento comercial tem natureza jurídica de universalidade de fato, sendo composto de bens, direitos e interesses, materiais e imateriais, necessários, úteis e efetivamente aplicados ao exercício da empresa. 34 A reunião de bens do estabelecimento decorre da vontade do empresário ou da sociedade empresária, e não da vontade da lei. Logo, trata-se de uma universalidade de fato. O estabelecimento como universalidade de fato constitui um conjunto de bens materiais e imateriais que serve ao exercício de atividades econômicas. Universalidade de direito é aquele conjunto de bens que são reunidos por vontade da lei. Exemplo: herança e massa falida. Não se trata o estabelecimento empresarial, portanto, de unidade complexa de bens destinados a um fim determinado em lei (universitas juris), mas de um conjunto de bens com finalidade vinculada do seu dono, que é o empresário (universitas rerum ou facti). A doutrina brasileira majoritária, seguindo mais uma vez as ideias suscitadas pela doutrina italiana, sempre considerou o estabelecimento empresarial uma universalidade de fato, uma vez que os elementos que o compõem formam uma coisa unitária exclusivamente em razão da destinação que o empresário lhes dá, e não em virtude de disposição legal. Ao se afirmar que o estabelecimento empresarial não é sujeito de direito, o que se pretende afastar é a noção de personalização desse complexo de bens, presente em a lgumas proposições da segunda metade do século XIX, principalmente na Alemanha, que procuravam criar um conceito legal capaz de justificar a relativa autonomia entre a empresa e o empresário. Falava-se na tese da empresa em si. A tentativa de personalização do estabelecimento, contudo, não logrou êxito, inclusive no direito brasileiro. Segundo o disposto na legislação brasileira, é um equívoco considerar o estabelecimento empresarial uma pessoa jurídica. Sujeito de direito é a sociedade empresária, que, reunindo os bens necessários ou úteis ao desenvolvimento da empresa, organiza um complexo de características dinâmicas próprias. A ela, e não ao estabelecimento empresarial, imputam-se as obrigações e asseguram-se os direitos relacionados com a empresa. No âmbito do direito privado, cujos princípios gerais, à luz do art. 109 do CTN, são informadores para a definição dos institutos de direito tributário, a filial é uma espécie de estabelecimento empresarial, fazendo parte do acervo patrimonial de uma única pessoa jurídica, partilhando dos mesmos sócios, contrato social e firma ou denominação da matriz. Nessa condição, consiste, conforme doutrina majoritária, em uma universalidade de fato, não ostentando personalidade jurídica própria, não sendo sujeito de direitos, tampouco uma pessoa 35 distinta da sociedade empresária. Cuida-se de um instrumento de que se utiliza o empresário ou sóciopara exercer suas atividades (REsp 1.355.812/RS). Imaginemos a seguinte situação prática: no acervo patrimonial de determinada padaria há dois imóveis. O primeiro é sede da sociedade empresária, enquanto o segundo, localizado em outra unidade da federação, encontra-se alugado. Os valores recebidos a título de aluguéis desse segundo imóvel são aplicados no ativo patrimonial da referida sociedade empresária. Nessa situação, é correto afirmar que o imóvel alugado não faz parte do estabelecimento empresarial da mencionada pessoa jurídica. Ora, aquele imóvel faz parte do patrimônio da padaria, mas não integra o estabelecimento. A padaria possui um patrimônio e dentro dele há um estabelecimento. Isso porque só faz parte do estabelecimento os bens que estão diretamente relacionados à atividade empresarial. Assim, estabelecimento é diferente de patrimônio. O estabelecimento integra o patrimônio, mas não significa que o estabelecimento é o patrimônio. PATRIMÔNIO = estabelecimento + outros bens não relacionados diretamente a atividade empresarial O estabelecimento empresarial não compreende os débitos da empresa. Os débitos fazem parte do patrimônio da empresa e não do estabelecimento comercial. Sendo o estabelecimento uma universalidade de fato, ou seja, um complexo de bens organizado pelo empresário, ele não compreende os contratos, os créditos e as dívidas, por representarem matéria de direito. Eis mais uma distinção que pode ser feita, portanto, entre estabelecimento e patrimônio, uma vez que este, ao contrário daquele, compreende até mesmo as relações jurídicas – direitos e obrigações – do seu titular. 36 1.5.1 Trespasse Trespasse é o nome que se dá para o contrato de compra e venda de estabelecimento empresarial. O trespasse não se confunde com a cessão de cotas. Na cessão de cotas, não existe transferência da titularidade do estabelecimento, mas, tão somente, a transferência das cotas sociais. É alteração apenas do quadro societário. Na transferência da participação societária, o estabelecimento empresarial não muda de titular. Tanto antes como após a transação, o estabelecimento pertencia e continua a pertencer à sociedade empresária, à mesma pessoa jurídica, que apenas tem a sua composição de sócios alterada. Na cessão de cotas ou alienação de controle, o objeto da venda é a participação societária, ou seja, as cotas ou as ações, conforme a espécie societária. Trespasse implica a transferência do conjunto de bens organizados pelo alienante ao adquirente, de modo que este possa prosseguir com a exploração da atividade empresarial. TRESPASSE CESSÃO DE COTAS Provoca a transferência da titularidade do estabelecimento. Não ocorre a transferência da titularidade estabelecimento, mas sim a modificação do quadro social (alteração dos sócios). Para que o trespasse produza seus efeitos entre o alienante e o adquirente, não é necessário nenhum tipo de publicidade. Porém, para que o contrato de trespasse produza efeitos perante terceiros, é preciso que haja averbação na junta comercial, bem como publicação na imprensa oficial. Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial. O art. 1.144 CC estabelece que para o contrato de trespasse produzir efeitos perante terceiros, será preciso: 37 Averbação do contrato na Junta Comercial; Publicação na imprensa oficial. Os prazos para a averbação ou publicação são indeterminados, cabendo ao interesse das partes do contrato a publicidade imediata, levando em consideração a desoneração de responsabilidades e efetividade da execução de direitos ou créditos. 1.5.2 Eficácia do trespasse A eficácia do trespasse é garantida pelos bens que permanecem com o devedor, que devem ser suficientes para saldar sua dívida. Caso não sejam, deve-se observar a regra do art. 1.145, que estabelece o PAGAMENTO DE TODOS OS CREDORES ou AUTORIZAÇÃO DE TODOS OS CREDORES. É feita uma notificação dos credores, para que se manifestem, no prazo de 30 dias, dizendo se são contra ou a favor do trespasse. O silêncio, aqui, é entendido como consentimento. Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.14 A Súmula 451 do STJ autoriza a penhora da sede do estabelecimento comercial. Porém, esta medida é excepcional, devendo ocorrer apenas em caso de não se encontrar outros bens para penhora. Súmula 451, STJ: É legítima a penhora da sede do estabelecimento comercial. Segundo definiu o STJ em sede de recurso repetitivo, a penhora de imóvel no qual se localiza o estabelecimento da empresa é excepcionalmente permitida quando inexistentes outros bens passíveis de penhora e desde que não seja servil à residência da família (REsp 1.114.767/RS, Rel. Ministro Luiz Fux, Corte Especial, julgado em 02/12/2009, DJe 04/02/2010). O art. 862 do novo CPC prevê que, “quando a penhora recair em estabelecimento comercial, industrial ou agrícola [leia-se, genericamente, estabelecimento empresarial] (...), o juiz 14 Questão 06 38 nomeará administrador-depositário, determinando-lhe que apresente em 10 (dez) dias o plano de administração”. Apresentado o referido plano, o juiz ouvirá as partes e decidirá (§1º). O §2º, porém, prevê que “é lícito às partes ajustar a forma de administração e escolher o depositário, hipótese em que o juiz homologará por despacho a indicação”. Corroborando o entendimento jurisprudencial do STJ, no sentido de que a penhora de estabelecimento empresarial é medida excepcional, o art. 865 do novo CPC determina o seguinte: “a penhora de que trata esta subseção somente será determinada se não houver outro meio eficaz para a efetivação do crédito”. A violação do art. 1.145 do CC enseja ato de falência. O credor pode requerer a falência do empresário que venda bens sem respeitar o art. 1.145 do CC (sem o consentimento de todos os credores ou não permanecendo com bens suficientes para solver seu passivo), pois esse ato é considerado como ato de falência, conforme previsto no art. 94, III, “c” da Lei 11.101/05. 1.5.3 Responsabilidade do adquirente e do alienante O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados. Mas atenção: a regra do art. 1.146 não se aplica para as dívidas trabalhistas ou tributárias15. Com relação às dívidas trabalhistas, aplica-se a regra da sucessão trabalhista, prevista nos arts. 10, 448 e 448-A, da CLT. A responsabilidade pelas dívidas trabalhistas recairá exclusivamente sobre o adquirente. O alienante só terá responsabilidade solidária se o trespasse houver sido fraudulento (com base no Código Civil). Já no que toca às dívidas tributárias, aplica-se a regra do art. 133, do CTN. Assim, em se tratando de dívidas tributárias ou de dívidas trabalhistas, não se aplica o disposto no art. 1.146 do Código Civil, uma vez que a sucessão tributária e a sucessão trabalhista possuem regimes jurídicos próprios, previstos em legislação específica (arts. 133 do CTN e 448 da CLT, respectivamente). Exceção: não haverá sucessão trabalhista quando o trespasse decorrer de recuperação judicial ou falência (arts. 60 e 141 da Lei 11.101/2005). Quando se tratar de compra realizada no 15 Vide Questão 02 39 processo de falência ou recuperação judicial (por meio de leilão), o adquirentedo estabelecimento não responde pela falência ou pelas dívidas tributárias, trabalhistas ou decorrentes de acidente de trabalho, nos termos do art. 141, II da Lei 11.101/05. O alienante (devedor primitivo) continua solidariamente obrigado, mas apenas no prazo de um ano, desde que a dívida esteja regularmente contabilizada. Caso se trate de dívida vencida, conta-se um ano da DATA DA PUBLICAÇÃO NA IMPRENSA OFICIAL; Caso se trate de dívida vincenda, conta-se um ano a partir da DATA DO VENCIMENTO. Enunciado 233, CJF: Art. 1.142: A sistemática do contrato de trespasse delineada pelo Código Civil nos arts. 1.142 e ss., especialmente seus efeitos obrigacionais, aplica-se somente quando o conjunto de bens transferidos importar a transmissão da funcionalidade do estabelecimento empresarial. Ou seja, essa sistemática, sobretudo para efeitos obrigacionais, só se aplica quando o conjunto de bens transferidos importar a transmissão da funcionalidade do estabelecimento empresarial. Justificou-se tal posicionamento sob a alegação de que, para se falar em trespasse de estabelecimento, é necessário que haja transferência de elementos suficientes à preservação de sua finalidade como tal, ou seja, a universalidade adquirida deve ser idônea a operar como estabelecimento, ainda que tenham sido decotados alguns de seus elementos originais. Difere da situação de transferência de participação em sociedade (transferência de cotas), onde a responsabilidade do sócio que transferiu perdura por um prazo de 2 anos. Isso porque o art. 1.003 do CC preconiza que o cedente responde solidariamente com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio, até 2 anos depois de averbada a modificação do contrato. 40 1.2. Concorrência Antes do CC, não havia nenhuma referência legal que impedisse a concorrência. Portanto, o que acontecia, na prática empresarial, era a confecção de um contrato, onde se inseria uma cláusula chamada “cláusula de não-restabelecimento”. Hoje, a cláusula de não-restabelecimento está prevista no art. 1.147 do CC. Assim, a cláusula de não-restabelecimento está implícita aos contratos de trespasse, na forma do art. 1.147 do CC, de modo que se faz necessária cláusula expressa a fim de que seja possível a concorrência. O contrato de trespasse irá definir sobre a possibilidade de concorrência do alienante do estabelecimento. Na omissão do contrato de trespasse, aplica-se a regra do art. 1.147 do CC. Ou seja, não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos 5 anos subsequentes à transferência. A cláusula de não restabelecimento fixada por prazo indeterminado é considerada abusiva. Segundo o STJ, as partes não podem prever que a cláusula de “não restabelecimento” será por prazo indeterminado. O ordenamento jurídico pátrio, salvo expressas exceções, não aceita que cláusulas que limitem ou vedem direitos sejam estabelecidas por prazo indeterminado (REsp 680.815/PR, Min. Raul Araújo, j. 20/03/2014 – inf. 554). 41 É possível que seja ampliado, mas ele não pode ser fixado em prazo indeterminado e, no caso concreto, é possível que tal ampliação seja considerada abusiva se ampliar demais a restrição. Nesse sentido: Enunciado 490, CJF: A ampliação do prazo de 5 anos de proibição de concorrência pelo alienante ao adquirente do estabelecimento, ainda que convencionada no exercício da autonomia da vontade, pode ser revista judicialmente, se abusiva. Ainda de acordo com o STJ, é válida a cláusula contratual de não concorrência, desde que limitada espacial e temporalmente. Isso porque esse tipo de cláusula protege a concorrência e os efeitos danosos decorrentes de potencial desvio de clientela, sendo esses valores jurídicos reconhecidos constitucionalmente (REsp 1.203.109/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 6/5/2015 – Inf. 561). O limite geográfico dessa limitação deve ser definido casualmente em função da natureza do comércio. Deve-se analisar se o eventual restabelecimento do alienante configura, de fato, concorrência ao adquirente. O elemento teleológico da norma referida não é a proibição do restabelecimento do alienante, e sim a proibição da concorrência desleal ao adquirente. Assim, quando a relação estabelecida entre as partes for eminentemente comercial, a cláusula que estabeleça dever de abstenção de contratação com sociedade empresária concorrente pode sim irradiar efeitos após a extinção do contrato, desde que por um prazo certo e em determinado lugar específico (limitada temporária e espacialmente). Ex.: João resolveu montar um quiosque no shopping para vender celulares, cartões pré- pagos etc. Para isso, ele fez um contrato com a operadora de celular “XXX” por meio da qual ele somente iria vender os produtos e serviços dessa operadora e, em troca, ela ofereceria a ele preços diferenciados, consultoria e treinamento para abrir a loja. No contrato assinado com a operadora, havia uma cláusula dizendo que João estava proibido, por 6 meses após a extinção do contrato, de contratar com qualquer empresa concorrente naquela cidade. Essa cláusula de não concorrência é válida. No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição prevista persistirá durante o prazo do contrato (art. 1.147, parágrafo único). 42 1.5.4 Sub-rogação nos contratos de exploração É preciso entender que o contrato de trespasse não garante a clientela, que é mera situação de fato. A clientela não é elemento integrante do estabelecimento empresarial. Por conta disso, a fim de que a clientela se mantenha, o trespasse gera a sub-rogação automática do adquirente nos contratos estipulados para a exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal. Havendo justa causa, os terceiros podem rescindir o contrato em 90 dias, contados da publicação da transferência. Assim dispõe o art. 1.148: Art. 1.148. Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-rogação do adquirente nos contratos estipulados para exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros rescindir o contrato em 90 dias a contar da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a responsabilidade do alienante. O art. 1.148 do CC traz uma regra importante: o adquirente terá a garantia que todos os contratados de exploração do estabelecimento continuarão em vigor. A jurisprudência e o Enunciado 234 do CJF entendem que nos contratos de trespasse ocorre a sub-rogação automática de todos os contratos, exceto o contrato de locação, em respeito ao art. 13 da Lei de Inquilinato (Lei 8.245/91). Enunciado 234, CJF: Art. 1.148: Quando do trespasse do estabelecimento empresarial, o contrato de locação do respectivo ponto não se transmite automaticamente ao adquirente. Fica cancelado o enunciado nº 64. A Lei de Locação (art. 13) prevê a anuência por escrito do locador do imóvel objeto da transferência do contrato de locação. O STJ entende que o contrato de locação, fugindo a regra do art. 1.148, não é transferido automaticamente, dependendo da anuência do locador. STJ: Transferência do fundo de comércio. Trespasse. Efeitos: continuidade do processo produtivo; manutenção dos postos de trabalho; circulação de ativos econômicos. Contrato de locação. Locador. Avaliação de características individuais do futuro inquilino. Capacidade financeira e idoneidade moral. Inspeção extensível, também, ao eventual prestador da garantia fidejussória. Natureza pessoal do contrato de locação. 43 Desenvolvimento econômico. Aspectos necessários: proteção ao direito de propriedade e a segurança jurídica. Afigura-se destemperado o entendimento de que o art. 13 da Lei do Inquilinato não tenha aplicação às locações comerciais, pois, prevalecendo este posicionamento, o proprietário do imóvelestaria ao alvedrio do inquilino, já que segundo a conveniência deste, o locador se veria compelido a honrar o ajustado com pessoa diversa daquela constante do instrumento, que não rara as vezes, não possuirá as qualidades essenciais exigidas pelo dono do bem locado (capacidade financeira e idoneidade moral) para o cumprir o avençado. Liberdade de contratar. As pessoas em geral possuem plena liberdade na escolha da parte com quem irão assumir obrigações e, em contrapartida, gozar de direitos, sendo vedada qualquer disposição que obrigue o sujeito a contratar contra a sua vontade. Aluguéis. Fonte de renda única ou complementar para inúmeros cidadãos. Necessidade de proteção especial pelo ordenamento jurídico (REsp 1.202.077/MS, rel. Ministro Vasco Della Giustina – desembargador convocado do TJ/RS – DJe 10/03/2011). A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá efeito em relação aos respectivos devedores, desde o momento da publicação da transferência, mas o devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente (art. 1.149 do CC). 1.5.5 Aviamento Aviamento é nome dado pelo mercado ao valor agregado pela articulação dos bens que compõem o estabelecimento, na exploração de uma atividade econômica. Desta forma, aviamento não é integrante do estabelecimento, mas sim um ATRIBUTO seu. Em outras palavras, aviamento, ou goodwill of trade, é o potencial de lucratividade. O aviamento é justamente a aptidão para gerar lucro do estabelecimento. Quanto mais eficiente for a organização dos elementos do estabelecimento, mais aviado será o estabelecimento. Trata-se de um atributo do estabelecimento empresarial, resultado do conjunto e vários fatores de ordem material ou imaterial que lhe conferem capacidade ou aptidão de gerar lucros. Cada estabelecimento possui um aviamento maior ou menor. Diz-se que o aviamento é pessoal ou subjetivo quando a capacidade de gerar lucros resulta substancialmente de qualidades do titular da empresa; será real ou objetivo se decorrente da qualidade do estabelecimento empresarial. 44 A clientela é resultante do aviamento, e este existe graças a ela – um decorre do outro. Ambos, por não serem considerados bens, não estão sujeitos a uma proteção direta, nos moldes do que ocorre com o patrimônio material ou imaterial da empresa. Se liga, OABeiro! Clientela não se confunde com freguesia!! CLIENTELA FREGUESIA Conjunto de pessoas que mantém com o empresário ou sociedade empresária relações jurídicas constantes; Conjunto de pessoas que passam em frente ao ponto do negócio, em razão da sua localização estratégica. 1.5.6 Ponto comercial É um bem incorpóreo que integra o estabelecimento empresarial. Ponto comercial é o local onde o empresário realiza sua atividade empresarial. O ponto é muito importante para o estabelecimento comercial, daí porque goza de proteção legal. Essa proteção se dá através da chamada ação renovatória. Quando o empresário se estabelece em um ponto alugado e permanece naquele local um determinado tempo, ele faz investimentos para ganhar o respeito dos consumidores, passar a ser conhecido e a adquirir, consequentemente, uma clientela fiel. Por essa razão, o regime jurídico-empresarial reconhece a esse empresário o chamado direito de inerência ao ponto, consubstanciado na prerrogativa de permanecer naquele local mesmo na hipótese de o locador não pretender mais a renovação do contrato locatício. 45 1.5.7 Ação Renovatória A ação renovatória tem por objetivo a renovação compulsória do contrato de locação empresarial. A ação está prevista na Lei nº 8.245/91, nos artigos 51 a 55. Nas locações destinadas ao comércio, o locatário terá direito a renovação compulsória do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente: Requisito formal: o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado; Requisito temporal: prazo mínimo de 5 anos de relação contratual contínua. O prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos deve ser de 5 anos; Requisito material: o locatário esteja explorando seu comércio, NO MESMO RAMO, pelo prazo mínimo e ininterrupto de 3 anos. O direito assegurado neste artigo poderá ser exercido pelos cessionários ou sucessores da locação. A lei não está protegendo o locador, nem o locatário, mas sim o ponto comercial. Faltando um dos requisitos, não há como se ajuizar a ação renovatória. Presentes todos os requisitos da ação renovatória, poderá ela ser ajuizada, pois o empresário passa a ter o intitulado direito de inerência ao ponto. Imaginemos a seguinte situação: empresário tinha realizado um contrato de locação por cinco anos, de modo que nos três primeiros anos possuía uma padaria no ponto e, nos últimos dois, uma farmácia. Pode ele ajuizar a renovatória? Não, porque não permaneceu na mesma atividade nos últimos três anos do contrato. A propositura da referida ação renovatória, segundo o disposto no art. 51, §5º, da Lei 8.245/1991, deve ser feita “no interregno de um ano, no máximo, até seis meses, no mínimo, anteriores à data da finalização do prazo do contrato em vigor”. Dizendo de outra forma, a ação renovatória deve ser ajuizada nos seis primeiros meses do último ano do contrato de aluguel. Sendo assim, faltando um ano para o término do contrato, deve o empresário locatário, se pretender permanecer no ponto, procurar o locador para iniciar as tratativas acerca da renovação da relação contratual. Caso o locador demonstre o interesse de retomar o ponto, não 46 renovando o contrato, cabe ao locatário tomar as providências necessárias ao ajuizamento da ação renovatória, sob pena de ver decair o seu o direito à renovação compulsória da relação locatícia. Destaque-se que a legislação admite a propositura de ação renovatória nos contratos de locação de espaços em shopping centers. Nesse caso, previu a lei que não cabe alegar, para a retomada do imóvel, a necessidade do bem para uso próprio, nem para transferência de estabelecimento empresarial existente há mais de um ano cuja maioria do capital seja de sua titularidade ou de seu cônjuge, ascendente ou descendente (art. 52, §2º, da Lei 8.245/1991). Diga-se ainda que, em tese, não é abusiva a previsão, em normas gerais de empreendimento de shopping center ("estatuto"), da denominada "cláusula de raio", segundo a qual o locatário de um espaço comercial se obriga – perante o locador – a não exercer atividade similar à praticada no imóvel objeto da locação em outro estabelecimento situado a um determinado raio de distância contado a partir de certo ponto do terreno do shopping center (STJ, REsp 1.535.727/RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 10/5/2016 – inf. 585). No caso de sublocação do imóvel, a ação renovatória é de competência exclusiva do sublocatário já que esta ação, como dito, se propõe a proteger o ponto comercial (art. 51, §1º). 47 O teto de receita bruta (faturamento) para enquadramento no Simples Nacional foi majorado de R$ 3.600.000,00 para R$4.800.000,00 (Empresa de Pequeno Porte). O Microempreendedor Individual (MEI) passa de um limite de R$ 60 mil para R$ 81 mil por ano, uma média mensal de R$ 6,75mil, e a Empresa de Pequeno Porte (EPP) passa de R$ 3,6 milhões para R$ 4,8 milhões anuais, média mensal de R$ 400mil. Mas, cuidado! Persiste um “sublimite” para cálculo de ICMS e ISS. As EPPs que ultrapassarem o valor anterior, de R$ 3,6 milhões de faturamento, terão o ICMS e o ISS calculados fora da tabela do Simples Nacional, conforme regras estabelecidas pela lei complementar 155/2016. 48 QUADRO SINÓTICO QUADRO ASSOCIATIVO (classificações de três diferentes ramos do Direito) DIREITO CIVIL Pessoa (art. 1º, CC/02) DIREITO EMPRESARIAL Empresário (art. 966, CC/02) DIREITO TRIBUTÁRIOEmpresa/Atividade (art. 3º, LCP 123/06) Pessoa Física Empresário Individual Microempresa (ME) R.B.A. até R$ 360.000,00 ou Empresa de Pequeno Porte (EPP) R.B.A. até R$ 4.800.000,00 Pessoa Jurídica Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) Sociedades Empresárias (ex. Ltda) * Exceto as sociedades por ações Enquadramento possível somente para o Empresário Individual => * Microempreendedor Individual (MEI) (ou “pequeno empresário”) R.B.A. até R$ 81.000,00 Requisitos: ME + Pessoa Física 49 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (OAB – XXVII EOU | 2018): Roberto desligou-se de seu emprego e decidiu investir na construção de uma hospedagem do tipo pousada no terreno que possuía em Matinhos. Roberto contratou um arquiteto para mobiliar a pousada, fez cursos de hotelaria e, com os ensinamentos recebidos, contratou empregados e os treinou. Ele também contratou um desenvolvedor de sites de Internet e um profissional de marketing para divulgar sua pousada. Desde então, Roberto dedica-se exclusivamente à pousada, e os resultados são promissores. A pousada está sempre cheia de hóspedes, renovando suas estratégias de fidelização; em breve, será ampliada em sua capacidade. Considerando a descrição da atividade econômica explorada por Roberto, assinale a afirmativa correta. A) A atividade não pode ser considerada empresa em razão da falta tanto de profissionalismo de seu titular quanto de produção de bens. B) A atividade não pode ser considerada empresa em razão de a prestação de serviços não ser um ato de empresa. C) A atividade pode ser considerada empresa, mas seu titular somente será empresário a partir do registro na Junta Comercial. D) A atividade pode ser considerada empresa e seu titular, empresário, independentemente de registro na Junta Comercial. Comentários: A questão versa, essencialmente, sobre os elementos característicos do empresário, associados à obrigação de registro a esse imposta. 50 Para responder à questão, é importante lembrar que os requisitos para a configuração do empresário são extraídos do conceito apresentado no art. 966 do CC: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”. Assim, presentes os elementos constitutivos (exercício de atividade econômica; profissionalidade; organização dos fatores de produção; produção e/ou circulação de bens e serviços), a pessoa será considerada empresária. O registro na Junta Comercial, por si só, não constitui o empresário. Trata-se de obrigação do empresário, prevista no art. 967 do CC, de observância exigida para a sua regularidade. Desse modo, uma vez preenchidos os requisitos extraídos do art. 966 do CC, a pessoa é considerada empresária, independentemente de seu registro na Junta Comercial. Contudo, para a sua regularidade, exige-se o devido registro. A partir dos elementos jurídicos trazidos, passa-se a analisar as assertivas. Alternativa A: INCORRETA Não apenas aqueles que exploram atividade de produção de bens exercem empresa. Também são considerados atos de empresa a circulação de bens, bem como a prestação de serviços, sendo incorreta a assertiva em análise. Além disso, outro erro da alternativa é a afirmação de que Roberto não desenvolve atividade com profissionalismo. Ao contrário do afirmado, o enunciado narrou a profissionalidade, demonstrando a habitualidade no exercício da atividade, além de outros elementos necessário ao enquadramento de Roberto como empresário. Alternativa B: INCORRETA Conforme se extrai do art. 966 do CC, a prestação de serviço é considerada ato de empresa, sim, tornando errada a alternativa ora avaliada. Alternativa C: INCORRETA 51 O registro na Junta Comercial não é requisito para o enquadramento da pessoa como empresário. Trata-se de obrigação empresária, prevista no art. 967 do CC, exigida para a regularidade do empresário. Contudo, não tem caráter constitutivo. Assim, a alternativa em exame está errada. Alternativa D: CORRETA Conforme explicado, Roberto preenche os elementos necessários para a sua configuração como empresário. Assim, será considerado empresário, independentemente de registro na Junta Comercial. Esse registro é requisito de regularidade do empresário, e não constitutivo. Questão 2 (XXXI EXAME DE ORDEM – FGV - 2020) As sociedades empresárias Y e J celebraram contrato tendo por objeto a alienação do estabelecimento da primeira, situado em Antônio Dias/MG. Na data da assinatura do contrato, dentre outros débitos regularmente contabilizados, constava uma nota promissória vencida havia três meses no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais). O contrato não tem nenhuma cláusula quanto à existência de solidariedade entre as partes, tanto pelos débitos vencidos quanto pelos vincendos. Sabendo-se que, em 15/10/2018, após averbação na Junta Comercial competente, houve publicação do contrato na imprensa oficial e, tomando por base comparativa o dia 15/01/2020, o alienante A) responderá pelo débito vencido com o adquirente por não terem decorrido cinco anos da publicação do contrato na imprensa oficial. b) não responderá pelo débito vencido com o adquirente em razão de não ter sido estipulada tal solidariedade no contrato. C) responderá pelo débito vencido com o adquirente até a ocorrência da prescrição relativa à cobrança da nota promissória. D) não responderá pelo débito vencido com o adquirente diante do decurso de mais de 1 (um) ano da publicação do contrato na imprensa oficial. 52 Comentários: Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento. Questão 3 (XXIX EXAME DE ORDEM – FGV - 2019) Álvares Florence tem um filho relativamente incapaz e consulta você, como advogado(a), para saber da possibilidade de transferir para o filho parte das quotas que possui na sociedade empresária Redenção da Serra Alimentos Ltda., cujo capital social se encontra integralizado. Apoiado na disposição do Código Civil sobre o assunto, você respondeu que A) é permitido o ingresso do relativamente incapaz na sociedade, bastando que esteja assistido por seu pai no instrumento de alteração contratual. B) não é permitida a participação de menor, absoluta ou relativamente incapaz, em sociedade, exceto nos tipos de sociedades por ações. C) não é permitida a participação de incapaz em sociedade, mesmo que esteja representado ou assistido, salvo se a transmissão das quotas se der em razão de sucessão causa mortis. D) é permitido o ingresso do relativamente incapaz na sociedade, desde que esteja assistido no instrumento de alteração contratual, devendo constar a vedação do exercício da administração da sociedade por ele. Comentários: Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança. § 1 Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser 53 revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros. § 2 Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que conceder a autorização. § 3 O Registro Público de Empresas Mercantis a cargodas Juntas Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os seguintes pressupostos: I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade; II – o capital social deve ser totalmente integralizado; III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser representado por seus representantes legais. Questão 4 (XXIX EXAME DE ORDEM – FGV - 2019) Luzia Betim pretende iniciar uma sociedade empresária em nome próprio. Para tanto, procura assessoria jurídica quanto à necessidade de inscrição no Registro Empresarial para regularidade de exercício da empresa. Na condição de consultor(a), você responderá que a inscrição do empresário individual é A) dispensada até o primeiro ano de início da atividade, sendo obrigatória a partir de então. B) obrigatória antes do início da atividade. C) dispensada, caso haja opção pelo enquadramento como microempreendedor individual. D) obrigatória, se não houver enquadramento como microempresa ou empresa de pequeno porte. Comentários: 54 Art.967,CC. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade. Questão 5 (XXVI EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) Cruz Machado pretende iniciar o exercício individual de empresa e adotar como firma, exclusivamente, o nome pelo qual é conhecido pela população de sua cidade – “Monsenhor”. De acordo com as informações acima e as regras legais de formação de nome empresarial para o empresário individual, assinale a afirmativa correta. A) A pretensão de Cruz Machado é possível, pois o empresário individual pode escolher livremente a formação de sua firma. B) A pretensão de Cruz Machado não é possível, pois o empresário individual deve adotar denominação indicativa do objeto social como espécie de nome empresarial. C) A pretensão de Cruz Machado não é possível, pois o empresário individual opera sob firma constituída por seu nome, completo ou abreviado. D) A pretensão de Cruz Machado é possível, pois o empresário individual pode substituir seu nome civil por uma designação mais precisa de sua pessoa. Comentários: Art. 1156 C.C: O Empresário opera sob firma constituída por seu nome, completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser, designação mais precisa da sua pessoa ou do gênero de atividade. 55 Questão 6 (XXV EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) O empresário individual José de Freitas alienou seu estabelecimento a outro empresário mediante os termos de um contrato escrito, averbado à margem de sua inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis, publicado na imprensa oficial, mas não lhe restaram bens suficientes para solver o seu passivo. Em relação à alienação do estabelecimento empresarial nessas condições, sua eficácia depende A) da quitação prévia dos créditos trabalhistas e fiscais vencidos no ano anterior ao da alienação do estabelecimento. B) do pagamento a todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação. C) da quitação ou anuência prévia dos credores com garantia real e, quanto aos demais credores, da notificação da transferência com antecedência de, no mínimo, sessenta dias. D) do consentimento expresso de todos os credores quirografários ou da consignação prévia das importâncias que lhes são devidas. Comentários: CC “Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação Questão 7 (XXII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Fagundes e Pilar são noivos e pretendem se casar adotando o regime de separação de bens mediante celebração de pacto antenupcial. Fagundes é empresário individual e titular do estabelecimento Borracharia Dona Inês Ltda. ME. Celebrado 56 o pacto antenupcial entre os nubentes, o advogado contratado por Fagundes providenciará o arquivamento e a averbação do documento A) no Registro Público de Empresas Mercantis e a publicação na imprensa oficial. B) no Registro Público de Empresas Mercantis e no Registro Civil de Pessoas Naturais. C) no Registro Civil de Pessoas Naturais e a publicação na imprensa oficial. D) no Registro Público de Empresas Mercantis e no Registro Civil de Títulos e Documentos. Comentário: CC. Art. 979. Além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público de Empresas Mercantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade. Questão 8 (XX EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) O engenheiro agrônomo Zacarias é proprietário de quatro fazendas onde ele realiza, em nome próprio, a exploração de culturas de soja e milho, bem como criação intensiva de gado. A atividade em todas as fazendas é voltada para exportação, com emprego intenso de tecnologia e insumos de alto custo. Zacarias não está registrado na Junta Comercial. Com base nessas informações, é correto afirmar que A) Zacarias, por exercer empresa em caráter profissional, é considerado empresário independentemente de ter ou não registro na Junta Comercial. B) Zacarias, mesmo que exerça uma empresa, não será considerado empresário pelo fato de não ter realizado seu registro na Junta Comercial. C) Zacarias não pode ser registrado como empresário, porque, sendo engenheiro agrônomo, exerce profissão intelectual de natureza científica, com auxílio de colaboradores. 57 D) Zacarias é um empresário de fato, por não ter realizado seu registro na Junta Comercial antes do início de sua atividade, descumprindo obrigação legal. Comentários: CC Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade. Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes. Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. Questão 9 (XX EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) Maria, empresária individual, teve sua interdição decretada pelo juiz a pedido de seu pai, José, em razão de causa permanente que a impede de exprimir sua vontade para os atos da vida civil. Sabendo-se que José, servidor público federal na ativa, foi nomeado curador de Maria, assinale a afirmativa correta. 58 A) É possível a concessão de autorização judicial para o prosseguimento da empresa de Mar ia; porém, diante do impedimento de José para exercer atividade de empresário, este nomeará, com a aprovação do juiz, um ou mais gerentes. B) A interdição de Maria por incapacidade traz como efeito imediato a extinção da empresa, cabendo a José, na condição de pai e curador, promover a liquidação do estabelecimento. C) É possível a concessãode autorização judicial para o prosseguimento da empresa de Maria antes exercida por ela enquanto capaz, devendo seu pai, José, como curador e representante, assumir o exercício da empresa. D) Poderá ser concedida autorização judicial para o prosseguimento da empresa de Maria, porém ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que Maria já possuía ao tempo da interdição, tanto os afetados quanto os estranhos ao acervo daquela. Comentários: CC: Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos. Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança. § 2o Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que conceder a autorização. Art. 975. Se o representante ou assistente do incapaz for pessoa que, por disposição de lei, não puder exercer atividade de empresário, nomeará, com a aprovação do juiz, um ou mais gerentes. 59 Estatuto dos servidores públicos federais (Lei nº 8.112): Art. 117. Ao servidor é proibido: X - participar de gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário; Parágrafo único. A vedação de que trata o inciso X do caput deste artigo não se aplica nos seguintes casos: I - participação nos conselhos de administração e fiscal de empresas ou entidades em que a União detenha, direta ou indiretamente, participação no capital social ou em sociedade cooperativa constituída para prestar serviços a seus membros; e II - gozo de licença para o trato de interesses particulares, na forma do art. 91 desta Lei, observada a legislação sobre conflito de interesses. Questão 10 (XIX EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) Servidor da Junta Comercial verificou que o requerimento de alteração contratual de uma sociedade limitada com vinte e dois sócios e sede no município de Solidão não foi assinado pelo administrador, mas por mandatário da sociedade, com poderes específicos. O requerimento foi instruído com uma nova versão do contrato social desacompanhada da ata da deliberação que a aprovou. O referido servidor determinou que fosse sanada a pretensa irregularidade. Com base nessas informações, assinale a afirmativa correta. 60 A) O servidor não agiu corretamente porque cumpre à autoridade competente, antes de efetivar o registro, fiscalizar apenas a observância das formalidades extrínsecas ao ato, e não formalidades intrínsecas relativas aos documentos apresentados; portanto, a alteração deveria ser arquivada. B) O servidor agiu corretamente porque cumpre à autoridade competente, antes de efetivar o registro, fiscalizar a observância das prescrições legais concernentes ao ato ou aos documentos apresentados; havendo irregularidades, deve ser notificado o requerente para saná-las. C) O servidor não agiu corretamente porque as irregularidades apresentadas no enunciado são insanáveis por se referirem a requisitos substanciais e de validade do documento, bem como de representação da pessoa jurídica. D) O servidor agiu corretamente porque somente o administrador, como órgão da pessoa jurídica, tem legitimidade para pleitear o arquivamento da alteração contratual; havendo irregularidades, deve ser notificado o requerente para saná-las Comentários: Art. 1.153, caput e parágrafo único, do Código Civil. Art. 1.153. Cumpre à autoridade competente, antes de efetivar o registro, verificar a autenticidade e a legitimidade do signatário do requerimento, bem como fiscalizar a observância das prescrições legais concernentes ao ato ou aos documentos apresentados. Parágrafo único. Das irregularidades encontradas deve ser notificado o requerente, que, se for o caso, poderá saná-las, obedecendo às formalidades da lei. 61 GABARITO Questão 1 - D Questão 2 - D Questão 3 - D Questão 4 - B Questão 5 - C Questão 6 - B Questão 7 - B Questão 8 - B Questão 9 - A Questão 10 - B 62 QUESTÃO DESAFIO Qual o conceito de empresário previsto no Código Civil? Responda em até 5 linhas 63 GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO De acordo com o CC, considera-se empresário aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, nos termos do art. 966, excluído o profissional intelectual, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta: Organização Organização, nos ensinamentos do referido doutrinador, significa que: “empresário é aquele que articula os fatores de produção (capital, mão de obra, insumos e tecnologia)". Profissional Consoante o disposto no artigo 966 do Código Civil: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”. Nos ensinamentos de André Luiz Santa Cruz Ramos (Direito Empresarial Esquematizado, 2012, 2ª ed., p. 37 e 38): “Da primeira expressão destacada pode-se extrair o seguinte: só será empresário aquele que exercer determinada atividade econômica de forma profissional, ou seja, que fizer do exercício daquela atividade a sua profissão habitual.” Desse modo, quem exercer determinada atividade econômica de forma esporádica não será considerado empresário. Atividade Econômica Ainda, acerca desse elemento enuncia o referido doutrinador: “Ao destacarmos a expressão atividade econômica, por sua vez, queremos enfatizar que a empresa é uma atividade exercida com intuito lucrativo”. Produção ou circulação de bens ou serviços Por fim, em relação a este último elemento, pode-se dizer que denota que qualquer atividade pode, em tese, ser caracterizada como empresária, desde que presente os demais elementos acima mencionados. Sobre esse tema, o referido doutrinador enuncia que: “Por fim, a última expressão demonstra a abrangência da teoria da empresa, em contraposição à antiga teoria dos 64 atos de comércio, a qual, como visto, restringia o âmbito de incidência do regime jurídico comercial a determinadas atividades econômicas elencadas na lei”. 65 LEGISLAÇÃO COMPILADA Teoria Geral do Direito Empresarial: CC/02: arts. 966-980-A Empresário Enunciado 58, CJF O empresário individual casado é o destinatário da norma do art. 978 do CCB e não depende da outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus real o imóvel utilizado no exercício da empresa, desde que exista prévia averbação de autorização conjugal à conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, com a consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no registro público de empresas mercantis. Enunciado 195, CJF Art. 966: A expressão “elemento de empresa” demanda interpretação econômica, devendo ser analisada sob a égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos fatores da organização empresarial. Enunciado 197, CJF A pessoa natural, maior de 16 e menor de 18 anos, é reputada empresário regular se satisfizer os requisitos dos arts. 966 e 967; todavia, não tem direito a concordata preventiva, por não exercer regularmente a atividade por mais de dois anos. Enunciado 203, CJF O exercício de empresa por empresário incapaz, representado ou assistido, somente é possível nos casos de incapacidade superveniente ou incapacidade do sucessor na sucessão por morte. Enunciado 204, CJF 66 Art. 977: A proibiçãode sociedade entre pessoas casadas sob o regime da comunhão universal ou da separação obrigatória só atinge as sociedades constituídas após a vigência do Código Civil de 2002. Enunciado 205, CJF Art. 977: Adotar as seguintes interpretações ao art. 977: (1) a vedação à participação de cônjuges casados nas condições previstas no artigo refere-se unicamente a uma mesma sociedade; (2) o artigo abrange tanto a participação originária (na constituição da sociedade) quanto a derivada, isto é, fica vedado o ingresso de sócio casado em sociedade de que já participa o outro cônjuge. Enunciado 198, CJF A inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito delineador de sua regularidade, e não da sua caracterização. Enunciado 199, CJF A inscrição do empresário na Junta Comercial não é requisito para a sua caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal providência. O empresário irregular reúne os requisitos do art. 966, sujeitando-se às normas do Código Civil e da legislação comercial, salvo naquilo em que forem incompatíveis com a sua condição ou diante de expressa disposição em contrário. Enunciado 202, CJF O registro do empresário ou sociedade rural na Junta Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico empresarial. É inaplicável esse regime ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção. 67 JURISPRUDÊNCIA Sociedade Empresária STJ, 1ª Turma. REsp 1358410/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão. julgado em 04/08/2016. Mesmo diante de contrato locatício celebrado entre o sócio e o empreendedor (locador) de shopping center, há legitimidade ativa concorrente do sócio (pessoa física) e da sociedade (pessoa jurídica) para pleitear indenização causada por danos ao estabelecimento situado em shopping center. Em um contrato de shopping center, a sociedade empresária tem legitimidade ativa "ad causam", em concorrência com o locatário - pessoa física -, para demandar o empreendedor nas causas em que houver interesses relativos ao estabelecimento empresarial, desde que, no contrato firmado entre as partes, haja a expressa destinação do espaço para a realização das atividades empresariais da sociedade da qual faça parte. STJ, 1ª Turma. REsp 1.227.240/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão. julgado em 09/06/2015. De acordo com o Código Civil, as sociedades podem ser de duas categorias: simples e empresárias. Ambas exploram atividade econômica e objetivam o lucro. A diferença entre elas reside no fato de a sociedade simples explorar atividade não empresarial, tais como as atividades intelectuais, enquanto a sociedade empresária explora atividade econômica empresarial, marcada pela organização dos fatores de produção (art. 982, CC). A sociedade simples é formada por pessoas que exercem profissão do gênero intelectual, tendo como espécie a natureza científica, literária ou artística, e mesmo que conte com a colaboração de auxiliares, o exercício da profissão não constituirá elemento de empresa (III Jornada de Direito Civil, Enunciados n. 68 193, 194 e 195). As sociedades de advogados são sociedades simples marcadas pela inexistência de organização dos fatores de produção para o desenvolvimento da atividade a que se propõem. Os sócios, advogados, ainda que objetivem lucro, utilizem-se de estrutura complexa e contem com colaboradores nunca revestirão caráter empresarial, tendo em vista a existência de expressa vedação legal (arts. 15 a 17, Lei n. 8.906/1994). Impossível que sejam levados em consideração , em processo de dissolução de sociedade simples, elementos típicos de sociedade empresária, tais como bens incorpóreos, como a clientela e seu respectivo valor econômico e a estrutura do escritório. STJ. REsp 1682989/ RS 2017/0144466-0. T2. Rel Min. Herman Benjamin. DJ 19/09/2017, DJP 09/10/2017 AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. EMPRESÁRIO INDIVIDUAL. REDIRECIONAMENTO. 1. A controvérsia cinge-se à responsabilidade patrimonial do empresário individual e as formalidades legais para sua inclusão no polo passivo de execução de débito da firma da qual era titular. 2. O acórdão recorrido entendeu que o empresário individual atua em nome próprio, respondendo com seu patrimônio pessoal pelas obrigações assumidas no exercício de suas atividades profissionais, sem as limitações de responsabilidade aplicáveis às sociedades empresárias e demais pessoas jurídicas. 3. A jurisprudência do STJ já fixou o entendimento de que "a empresa individual é mera ficção jurídica que permite à pessoa natural atuar no mercado com vantagens próprias da pessoa jurídica, sem que a titularidade implique distinção patrimonial entre o empresário individual e a pessoa natural titular da firma individual" (REsp 1.355.000/SP, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 20/10/2016, DJe 10/11/2016) e de que "o empresário individual responde pelas obrigações adquiridas pela pessoa jurídica, de modo que não há distinção entre pessoa física e jurídica, para os fins de direito, inclusive no tange ao patrimônio de ambos" (AREsp 508.190, Rel. Min. Marco Buzzi, Publicação em 4/5/2017). 4. Sendo assim, o empresário individual responde pela dívida da firma, sem necessidade de instauração do procedimento de desconsideração da personalidade jurídica (art. 50 do CC/2002 e arts. 133 e 137 do CPC/2015), por ausência de separação patrimonial que justifique esse rito. 5. O entendimento adotado pelo Tribunal de origem guarda consonância com a jurisprudência do STJ, o que já seria suficiente para se rejeitar a pretensão recursal com 69 base na Súmula 83/STJ. O referido verbete sumular aplica-se aos recursos interpostos tanto pela alínea "a" quanto pela alínea "c" do permissivo constitucional. Nesse sentido: REsp 1.186.889/DF, Segunda Turma, Relator Ministro Castro Meira, DJe de 2.6.2010. 6. Não obstante isso, não se constata o preenchimento dos requisitos legais e regimentais para a propositura do Recurso Especial pela alínea "c" do art. 105 da CF. 7. A apontada divergência deve ser comprovada, cabendo a quem recorre demonstrar as circunstâncias que identificam ou assemelham os casos confrontados, com a indicação da similitude fática e jurídica entre eles. 8. In casu, o recorrente não se desincumbiu do ônus de demonstrar que os casos comparados tratam da mesma situação fática: empresário individual. Ao revés, limitou-se a transcrever ementas e trechos que versam sobre sociedade empresarial cuja diferença em relação ao caso dos autos foi suficientemente explanada neste julgado. 9. Recurso Especial não conhecido.) Direitos Fundamentais As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios podem requisitar diretamente das instituições financeiras informações sobre as movimentações bancárias dos contribuintes. Esta possibilidade encontra-se prevista no art. 6º da LC 105/2001, que foi considerada constitucional pelo STF. Isso porque esta previsão não se caracteriza como "quebra" de sigilo bancário, ocorrendo apenas a “transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco. STF. Plenário. RE 603616/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/11/2015 (repercussão geral) (Info 806). A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas “a posteriori”, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos atos praticados. 70 STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 31/8/2016 (Info 837) É inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. "Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diversodo autorizado ou sem aviso de sua classificação: Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a suspensão da programação da emissora por até dois dias." O Estado não pode determinar que os programas somente possam ser exibidos em determinados horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado pelo texto constitucional por configurar censura. O Poder Público pode apenas recomendar os horários adequados. A classificação dos programas é indicativa (e não obrigatória). Mandado de Segurança STF. RMS 32487, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 07/11/2017 O termo inicial para a formalização de mandado de segurança pressupõe a ciência do impetrante, nos termos dos artigos 3º e 26 da Lei nº 9.784/1999, quando o ato impugnado surgir no âmbito de processo administrativo do qual seja parte. MANDADO DE SEGURANÇA – DILAÇÃO PROBATÓRIA – PRESCINDIBILIDADE. Instruído o processo com documentos suficientes ao exame da pretensão veiculada na petição inicial, descabe suscitar a inadequação da via mandamental. STJ. AgInt no RMS 42.563/MG, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/05/2017, DJe 29/05/2017 PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA. INOBSERVÂNCIA DO PISO SALARIAL ESTABELECIDO EM LEI FEDERAL. MANDADO DE SEGURANÇA. ILEGITIMIDADE PASSIVA. TEORIA DA 71 ENCAMPAÇÃO. APLICABILIDADE. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. In casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 2015. II - A jurisprudência desta Corte firmou entendimento segundo o qual, a aplicação da teoria da encampação, que mitiga a indicação errônea da autoridade coatora em mandado de segurança, tem lugar quando presentes os seguintes requisitos: (i) vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou as informações e aquela que determinou a prática do ato; (ii) manifestação sobre o mérito nas informações prestadas, e; (iii) ausência de modificação na competência constitucionalmente estabelecida. III - In casu, observo ser cabível a aplicação da teoria da encampação, porquanto: (i) existe vínculo hierárquico entre a autoridade apontada no mandamus e aquela que seria legitimada a figurar no polo passivo (Governador do Estado e Secretário Estadual de Planejamento e Gestão); (ii) a autoridade Impetrada, em suas informações, manifestou-se sobre o mérito do mandamus (fl. 111e), e; (iii) conforme o art. 106, I, c, da Constituição do Estado de Minas Gerais, não há modificação da competência do Tribunal de Justiça. IV - O Agravante não apresenta, no agravo, argumentos suficientes para desconstituir a decisão recorrida. V - Agravo Interno improvido. STF. MS 25097, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 28/03/2017 Mandado de Segurança. 2. Ato do TCU. Suposta cumulação indevida de proventos. Suspensão dos pagamentos. 3. Decadência. Verificação de impetração do mandamus em data posterior ao prazo de 120 dias da ciência do ato impugnado. Superação. Medida liminar concedida há mais de doze anos. Preservação da segurança jurídica. Precedentes do STF. 4. Cumulação de proventos e pensões. Cargos públicos inacumuláveis em atividade. Regimes civil e militar. Concessão anterior à Emenda Constitucional 20/1998. Possibilidade. Precedentes. 5. Segurança concedida. 72 ESTUDO COMPLEMENTAR Simulado OAB com relatório de desempenho Faça um simulado completo da prova com relatório de desempenho para saber como está indo! Lembre-se, você tem direito a 4 simulados no curso de PDF, que estão disponíveis na sua área do aluno. Basta clicar no ícone ao lado para entrar na plataforma estudeadverum.com.br. App OABeiros Baixe o app OABeiros e fique por dentro das melhores dicas e dos melhores conteúdos para a OAB! Por lá você não só tem acesso a simulados gratuitos de 1ª e 2ª fase como também tem um Vade Mecum online completo, dicas curtas dos professores e aulas completas sobre assuntos chave para a prova! Para fazer o download em seu celular, basta clicar no ícone ao lado. https://estudeadverum.com.br/login https://play.google.com/store/apps/details?id=com.eduardokraus.OABeiros&hl=en_US 73 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2017. MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2017. PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora JusPodivm, 2017. PENANTE JR, Francisco. LAURINDO, Felipe. Prática empresarial. Recife: Armador, 2016. SANTA CRUZ, André. Direito Empresarial – Vol. Único. São Paulo: Editora JusPodivm, 2019 Capítulo 2 MAT ERIA L EXE MPL AR 1 SUMÁRIO CAPÍTULOS .............................................................................................................. Error! Bookmark not defined. DIREITO EMPRESARIAL .................................................................................................................................................... 2 2. Regime Jurídico da Atividade Empresarial ..................................................................................................... 3 2.1 Nome Empresarial ........................................................................................................................................... 3 2.1.1 SINREM ........................................................................................................................................................... 6 2.1.2 Atos de registro ............................................................................................................................................... 9 2.1.3 Escrituração .................................................................................................................................................. 14 QUADRO SINÓTICO ....................................................................................................................................................... 34 QUESTÕES COMENTADAS .......................................................................................................................................... 36 GABARITO ........................................................................................................................................................................... 43 LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 46 JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................................................ 47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 54 2 E ai, OABeiro! Tudo certinho? A apostila de número 02 do nosso curso de Direito Empresarial tratará sobre Regime Jurídico da atividade empresária, matéria que é comumente cobrada no Exame de Ordem ao decorrer desses anos! De acordo com a nossa equipe de inteligência, esse assunto esteve presente 4 VEZES nos últimos 3 anos, sendo considerado um assunto de alta relevância. Assim, é imprescindível que você dedique um tempo para estudar este conteúdo com calma eresponda as questões que tratam sobre o referido tema, ok? Aqui, a banca costuma seguir o seu padrão: Apresentar um caso hipotético, pelo qual a resposta é respaldada na legislação vigente. Por isso, recomendamos a leitura atenta da letra seca da lei e entendimentos jurisprudenciais, e sempre em companhia de alguma doutrina à sua escolha. Lembre-se: A resolução de questões é a chave para a aprovação! Vamos juntos! 3 DIREITO EMPRESARIAL Capítulo 2 2. Regime Jurídico da Atividade Empresarial Neste capítulo, estudaremos o Regime Jurídico da Atividade Empresarial com enfoque nos temas registro empresarial, nome empresarial e prepostos do empresário, por se mostrarem de maior incidência nas provas de concursos. 2.1 Registro Empresarial Conforme previsão, o Registro Público de Empresas Mercantis é exercido em todo o território nacional, de forma sistêmica, por órgãos federais, estaduais e distrital e detém as seguintes finalidades1: I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos a registro na forma desta lei; II - cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter atualizadas as informações pertinentes; III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu cancelamento. A inscrição na Junta Comercial antes de iniciar a atividade é obrigação legal imposta a todo e qualquer empresário (empresário individual ou sociedade empresária), sob pena de começar a exercer a empresa irregularmente2 Tal obrigação decorre do comando do art. 967 do Código Civil: 1 Vide questão 9. 2 Vide questão 8. 4 Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade3. Recorde-se que, para o empresário comum, o registro é mera condição de regularidade. Nessa linha, o enunciado 199 do CJF, conferindo interpretação ao art. 967 do CC, determina que “a inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito delineador de sua regularidade, e não de sua caracterização”. Ou seja, se o empresário não fizer o registro, ele não deixa de ser empresário, mas será considerado empresário irregular, sofrendo, por isso, algumas consequências (por exemplo: a impossibilidade de requerer recuperação judicial). Contudo, quanto ao ruralista, tal registro é indispensável para que se caracterize como empresário, pois a lei permite que, mesmo que pratique atividade nos moldes do art. 966 do CC, opte por não aderir ao regime jurídico empresarial, não efetivando seu registro na Junta Comercial. O empresário rural é a pessoa física ou jurídica que exerce atividade agrária, seja ela agrícola, pecuária, agroindustrial ou extrativa (vegetal ou mineral), procurando conjugar, de forma racional, organizada e econômica, os fatores terra, trabalho e capital. Nessa linha, tem-se o art. 971 do Código Civil: Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. Diante desse contexto, forçoso é concluir que, para o rurícola, o registro empresarial é facultativo e constitutivo, como pode ser inferido do seguinte enunciado do CJF: Enunciado 202, CJF: Arts. 971 e 984: O registro do empresário ou sociedade rural na Junta Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico empresarial. É inaplicável esse regime ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção. Retornando-se ao art. 967, pode dizer-se que ele não adota o sistema subjetivo de direito comercial ou empresarial, tal como na primeira fase evolutiva desse ramo do direito. 3 Vide questão 01 5 Nesta, para ser comerciante, era necessário o registro nas corporações de ofício, instituições que criavam regras aplicáveis somente aos que nelas estavam escritos. Conforme o regramento atual, a ausência do registro não subtrai o sujeito do regime empresarial, mas somente o submete às sanções decorrentes do descumprimento da norma. O empresário não registrado é um empresário irregular. Nesse sentido, tem-se o seguinte enunciado do CJF: Enunciado 198, CJF: Art. 967: A inscrição do empresário na Junta Comercial não é requisito para a sua caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal providência. O empresário irregular reúne os requisitos do art. 966, sujeitando-se às normas do Código Civil e da legislação comercial, salvo naquilo em que forem incompatíveis com a sua condição ou diante de expressa disposição em contrário. A obrigatoriedade do registro deflui do art. 969 do Código Civil: Art. 969. O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também inscrevê-la, com a prova da inscrição originária. Parágrafo único. Em qualquer caso, a constituição do estabelecimento secundário deverá ser averbada no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede. Pode-se definir filial, juridicamente, como a sociedade empresária que atua sob a direção e administração de outra, chamada de matriz, mas mantém sua personalidade jurídica e o seu patrimônio, bem como preserva sua autonomia diante da lei e do público. Agência, por sua vez, pode ser conceituada como empresa especializada em prestação de serviços que atua especificamente como intermediária. E sucursal, por fim, é o ponto de negócio acessório e distinto do ponto principal, responsável por tratar dos negócios deste e a ele subordinado administrativamente4. Observe-se, contudo, que o Superior Tribunal de Justiça inclui no conceito de filial o estabelecimento empresarial que não constitui sede dos negócios: Verifica-se, portanto, que a filial, na condição de espécie de estabelecimento, é um bem, um instrumento, uma universalidade de fato que integra o patrimônio da sociedade empresária e não uma pessoa distinta desta. Destarte, a discriminação do patrimônio da 4 Vide questão 8. 6 empresa, mediante a criação de filiais, não afasta a unidade patrimonial da pessoa jurídica, que, na condição de devedora, deve responder com todo o ativo do patrimônio social por suas dívidas, à luz de regra de direito processual prevista no art. 591 do Código de Processo Civil, segundo a qual “o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei”. (STJ, 2ª Turma, AgRgREsp 1544571/SC, Relator: Ministro Mauro Campbell Marques, julgado em 6/10/2015, DJe 16/10/2015.) O tema do estabelecimento e de suas respectivas filiais, sucursais ou agências também é relevante para se saber qual é o domicílio do empresário individual e da sociedade empresária, visto que será o local indicado em seus atos constitutivos, quando do registro na Junta Comercial. Observe-se, no entanto, que o Código de Processo Civil de 2015 estabelece como foro competente quanto às obrigações que a pessoa jurídica contraiu, o lugar onde se acha sua agência ou sucursal (art. 53, III, b). O Código Civil, por sua vez, em seu art. 75, §1º, estabelece que, “tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados”. Nessa mesma linha, o texto da súmula 363 do STF ao considerar que a pessoa jurídica de direito privado, gênero do qual a sociedade empresária é espécie, “pode ser demandadano domicílio da agência, ou estabelecimento, em que se praticou o ato”. Nesse sentido é também a norma do art. 75, §1º, do Código Civil. 2.1.1 SINREM SINREM é o Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis e foi instituído pela Lei nº 8.934/94 (art. 3º). Destina-se ao registro público de serviços mercantis, sendo que esse sistema é composto por dois órgãos: Departamento de Registro Empresarial e Integração ou DREI (antigo DNRC). Junta Comercial (órgão estadual e executor); O Departamento Nacional de Registro de Comércio (DNRC) foi extinto pelo Decreto 8.001/2013, que criou o Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI). Tem natureza jurídica de órgão federal vinculado ao Ministério da Economia, encarregado de normatizar e fiscalizar os atos de registro. 7 A Junta Comercial é responsável pela execução e administração dos atos de registro. Sua natureza jurídica é de autarquia estadual, integrante da estrutura administrativa dos Estados- membros. Cada unidade federativa possui uma Junta Comercial, segundo disposição constante do art. 5º da lei. Por fazerem parte da estrutura administrativa dos Estados, mas, ao mesmo tempo, sujeitarem-se, no plano técnico, às normas e diretrizes baixadas pelo DREI, diz-se que as juntas comerciais têm subordinação hierárquica híbrida. Sendo assim, somente a Junta Comercial do Distrito Federal se submete, tanto técnica como administrativamente, ao DREI, conforme preceitua o art. 6º, parágrafo único, da Lei 8.934/1994. Sobre a subordinação hierárquica híbrida das Juntas Comerciais, André Luiz Santa Cruz Ramos explica: Em razão desse caráter híbrido de subordinação das Juntas Comerciais (ao Estado-membro respectivo e ao DREI), o Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento de que há uma divisão de competência para apreciar ações judiciais em que a Junta Comercial seja parte. Tratando-se de matéria administrativa, a competência para processar e julgar as ações em que a Junta figure num dos polos da demanda é da Justiça comum estadual. Em contrapartida, em se tratando de matéria técnica, relativa ao registro de empresa, a competência passa a ser da Justiça Federal, em virtude do interesse na causa do DREI, conforme preceitua o art. 109, inciso I, da Constituição Federal. Assim, se no processo se discute, por exemplo, o reajuste de servidores da Junta Comercial, a competência será da Justiça Estadual, porque nesse caso a lide versa sobre matéria eminentemente administrativa. Porém, se a Junta Comercial indeferir o pedido de arquivamento de contrato social de uma determinada sociedade limitada, com base numa Instrução Normativa do DREI, e essa sociedade resolver impetrar mandado de segurança contra tal decisão, deverá fazê-lo perante a Justiça Federal, porque, nesse caso, a Junta agiu sob orientação de um ente federal, o DREI5. 5 Vide questão 4. 8 Contudo, o autor supramencionado assinala que o próprio STJ alterou esse posicionamento, passando a entender que a Justiça Federal é competente para julgar os processos em que figura como parte a Junta Comercial somente nos casos em que se discute a lisura do ato praticado pela Junta ou nos casos de mandado de segurança impetrado contra ato de seu presidente. (REsp 678.405/RJ, 3.ª Turma, Rel. Min. Castro Filho, j. 16.03.2006, DJ 10.04.2006, p. 179). Dessa forma, quando se tratar de demanda que envolva somente questões particulares, como conflitos societários, a competência será da Justiça Estadual, ainda que no processo esteja sendo discutido um ato ou registro praticado pela Junta Comercial. Muito embora tenha sido investido nas funções de órgão central disciplinador, fiscalizador e supervisor do registro de empresas, o DREI não dispõe de instrumentos de intervenção nas Ministério da Economia SINREM DREI Junta ComercialSubordinação técnica Estado-Membro Vinculação Órgãos 9 Juntas comerciais, caso não adotem suas diretrizes ou deixem de acatar recomendações de correção. A lei estabelece, apenas, que o DREI pode representar às autoridades competentes as irregularidades que identificar (ex. Governador, Ministério Público Estadual etc). 2.1.2 Atos de registro Quanto aos atos de registro, podemos resumi-los nos seguintes: Autenticação: se relaciona à escrituração do empresário (livros), sendo condição de regularidade desses documentos. Assim, um livro comercial deve ser levado à Junta Comercial para autenticação e, neste ato, terá todos os requisitos extrínsecos que devem ser observados na escrituração. Conforme o art. 39 da Lei 8.934/1994, “as juntas comerciais autenticarão: I – os instrumentos de escrituração das empresas mercantis e dos agentes auxiliares do comércio; II – as cópias dos documentos assentados”. Contudo, não se pode olvidar o que se encontra previsto nos arts. 39-A e 39-B, inseridos pela Lei Complementar 147/2014: “a autenticação dos documentos de empresas de qualquer porte realizada por meio de sistemas públicos eletrônicos dispensa qualquer outra” (art. 39-A); e “a comprovação da autenticação de documentos e da autoria de que trata esta Lei poderá ser realizada por meio eletrônico, na forma do regulamento” (art. 39-B). Matrícula: relaciona-se aos auxiliares do comércio tais como leiloeiros, tradutores públicos, trapicheiros etc. Consiste em uma condição para que eles possam exercer, regularmente, tais atividades paracomerciais. Arquivamento: se refere aos atos de constituição (registro em sentido estrito), modificação e extinção (averbação, para tudo que vem depois da constituição); correspondem, por sua vez, ao registro dos empresários individuais, sociedades empresárias e cooperativas. 6 No que se refere ao arquivamento, alguns pontos merecem ser esclarecidos. 6 Vide questão 5. 10 De acordo com o art. 32, inciso II, da Lei 8.934/1994, estão sujeitos ao arquivamento: Os documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas; Os atos relativos a consórcio e grupo de sociedade de que trata a Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976; Os atos concernentes a empresas mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil; As declarações de microempresa; Atos ou documentos que, por determinação legal, sejam atribuídos ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins ou daqueles que possam interessar ao empresário e às empresas mercantis. O art. 35 da referida Lei, por sua vez, enuncia uma série de atos que não devem se sujeitar ao arquivamento: I - os documentos que não obedecerem às prescrições legais ou regulamentares ou que contiverem matéria contrária aos bons costumes ou à ordem pública, bem como os que colidirem com o respectivo estatuto ou contrato não modificado anteriormente; II - os documentos de constituição ou alteração de empresas mercantis de qualquer espécie ou modalidade em que figure como titular ou administrador pessoa que esteja condenada pela prática de crime cuja pena vede o acesso à atividade mercantil; III - os atos constitutivos de empresas mercantis que, além das cláusulas exigidas em lei, não designarem o respectivo capital, bem como a declaração precisa de seu objeto, cuja indicação no nome empresarial é facultativa; IV - a prorrogação do contrato social, depois de findo o prazo nele fixado; V - os atos de empresas mercantis com nome idêntico ou semelhante a outro já existente; VI - a alteração contratual, por deliberação majoritária do capital social, quando houver cláusula restritiva; VII - os contratos sociais ou suas alterações em que haja incorporação de imóveis à sociedade, por instrumento particular, quando do instrumento não constar: a) a descriçãoe identificação do imóvel, sua área, dados relativos à sua titulação, bem como o número da matrícula no registro imobiliário; b) a outorga uxória ou marital, quando necessária; VIII - os contratos ou estatutos de sociedades mercantis, ainda não aprovados pelo Governo, nos casos em que for necessária essa aprovação, bem como as posteriores alterações, antes de igualmente aprovadas. 11 Parágrafo único. A junta não dará andamento a qualquer documento de alteração de firmas individuais ou sociedades, sem que dos respectivos requerimentos e instrumentos conste o Número de Identificação de Registro de Empresas (Nire). No que diz respeito às sociedades cooperativas, durante muito tempo, houve polêmica sobre onde deveriam ser registradas. Se, por um lado, o Código Civil as considera como sociedade simples (art. 982, parágrafo único), o que atrairia a competência do Oficial de Registro de Pessoas Jurídicas (art. 1.150), a lei específica dessas instituições determina que seu registro ocorra na Junta Comercial (art. 18 da Lei 5.764/1971). Nesse sentido, o art. 1.093 do CC estipula que “a sociedade cooperativa reger-se-á pelo disposto no presente Capítulo, ressalvada a legislação especial”. O enunciado 69 do CJF, por sua vez, consolida a interpretação daquele preceito legal da seguinte forma: “as sociedades cooperativas são sociedades simples sujeitas à inscrição nas juntas comerciais”. O empresário individual arquiva na Junta Comercial sua declaração de que exerce atividade nos moldes do art. 966. Por este motivo se diz que seu registro tem natureza declaratória. Excepciona-se, contudo, o rurícola que, como visto, se constitui como empresário mediante o registro na Junta Comercial. Por outro lado, o registro da sociedade empresária ou da EIRELI têm natureza constitutiva, haja vista a criação da pessoa jurídica por meio do registro (art. 45, CC). Observe, entretanto, que, tanto no caso do empresário individual como no caso da sociedade empresária, o ato sujeito a registro deverá ter o visto de advogado (art. 1º, § 2º da Lei 8.934/1994), salvo no caso de microempresa ou empresa de pequeno porte (art. 9º, § 2º da LC 123/2006). É importante mencionar que, segundo o art. 1.154 do Código Civil, o ato sujeito a registro não pode ser oposto a terceiros antes do cumprimento das formalidades exigidas, salvo se houver prova de que o terceiro o conhecia. Conforme André Luiz Santa cruz Ramos: A norma é plenamente justificável, e possui outros dispositivos correlatos, que representam verdadeiro desdobramento do seu conteúdo normativo (por exemplo, arts. 1.015, parágrafo único, II, e 1.174, ambos do Código Civil). 12 Com efeito, se as Juntas Comerciais são o órgão de registro público dos empresários e das sociedades empresárias, sua função precípua é tornar públicos os atos desses agentes econômicos, a fim de se tornarem conhecidos de terceiros e a eles poderem ser opostos. A ausência do registro provoca, dentre outros efeitos, a ilegitimidade ativa para pedido de falência de terceiro e pedido de recuperação judicial. Nesse diapasão, vale destacar que, muito embora possa ter sua falência requerida, a sociedade empresária que, irregularmente, não mantém registro, não pode pedir a falência alheia. Isso porque o art. 97, § 1º, da Lei 11.101/2005 (Lei de Falências) exige que o credor empresário comprove a regularidade de suas atividades, por meio da apresentação de certidão do Registro Público de Empresas, para que possa requerer a falência do devedor. Interessante notar que o art. 105 da Lei 11.101/2005 admite que uma sociedade empresária não registrada faça o pedido de autofalência, bastando que prove, por outros documentos, quem são os seus sócios, com os respectivos endereços e relação de bens pessoais. Outras implicações da falta de registro consistem na impossibilidade de se inscrever no cadastro nacional de pessoas jurídicas (CNPJ), de obter certidão negativa de débitos tributários e, por consequência, de participar de licitação. No que tange à sociedade ou à EIRELI, o mais grave efeito da ausência de registro diz respeito ao regime da responsabilidade de seus integrantes, que será ilimitada. E isso em virtude de, em tais situações, aplicar-se o regramento das sociedades em comum (arts. 986 a 990 do CC). Conforme o art. 36 da Lei 8.934/1994, “os documentos referidos no inciso II do art. 32 deverão ser apresentados a arquivamento na junta, dentro de 30 (trinta) dias contados de sua assinatura, a cuja data retroagirão os efeitos do arquivamento; fora desse prazo, o arquivamento só terá eficácia a partir do despacho que o conceder”. O Código Civil dispõe no mesmo sentido em seu art. 1.151, §§ 1.º e 2.º, preceituando, no § 3.º, que “as pessoas obrigadas a requerer o registro responderão por perdas e danos, em caso de omissão ou demora”. Daí se conclui a relevância de que, por exemplo, uma alteração de contrato social seja levada a registro na Junta Comercial dentro de 30 (trinta) contados da sua efetiva realização. Se 13 isso não ocorrer, tal alteração contratual só será considerada eficaz perante terceiros após o deferimento do registro. Por outro lado, se o registro for feito no prazo legal, a alteração do contrato retroagirá seus efeitos desde a data em que foi decidida pelos sócios. Em síntese, “se o ato é levado a registro dentro do prazo legal de trinta dias, o registro opera efeitos ex tunc, retroagindo à data da sua efetiva realização. Em contrapartida, se o ato é levado a registro fora do prazo legal de trinta dias, produz efeitos ex nunc, ou seja, só se torna eficaz a partir do seu deferimento”. O art. 1.151 afasta qualquer dúvida a respeito dessa conclusão: Art. 1.151. O registro dos atos sujeitos à formalidade exigida no artigo antecedente será requerido pela pessoa obrigada em lei, e, no caso de omissão ou demora, pelo sócio ou qualquer interessado. § 1º Os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no prazo de trinta dias, contado da lavratura dos atos respectivos. § 2º Requerido além do prazo previsto neste artigo, o registro somente produzirá efeito a partir da data de sua concessão. Nesse sentido, a Ministra Nancy Andrighi decidiu pela concessão de efeitos retroativos para alteração de quadro societário, cuja data da confecção e assinatura do respectivo acordo ocorreu antes do registro, mas este foi efetivado dentro dos 30 (trinta) dias seguintes (REsp 1.381.719 – BA). Em síntese, podemos ilustrar os efeitos retroativos dos registros com o seguinte esquema: Data da Elaboração Dentro de 30 dias Registro Registro Após 30 dias Com efeito retroativo (ex tunc) sem efeito Retroativo (ex nunc) 14 O art. 37 da Lei 8.934/1994 relaciona os documentos que devem instruir os pedidos de arquivamento de atos constitutivos e suas respectivas alterações. O seu parágrafo único, por sua vez, determina que, além daqueles que o artigo expressamente elenca, nenhum outro documento será exigido das firmas individuais e sociedades referidas nas alíneas a, b e d do inciso II do art. 32”. Na mesma esteira, o Decreto 1.800/1996, que regulamentou a Lei 8.934/1994, deixa claro em seu art. 34, parágrafo único, que outros documentos só podem ser exigidos se houver “expressa determinação legal”. Ocorre que, costuma ser comum a exigência de apresentação de certidão de regularidade fiscal por decretos estaduais, que sequer possuem leis estaduais respectivas. Em face disso, o Superior Tribunal de Justiça tem decretado, reiteradamente, a ilegalidade destes decretos, considerando ilegítima a referida exigência, por considera-la incompatível com o princípio constitucional da livre-iniciativa. 2.1.3 Escrituração Escriturar significa registrar ou anotar as contas de uma atividade empresarial. Consiste em lançar nos livros (instrumentos de escrituração) adequados,com base em documento hábil, as operações que o empresário realiza no desenvolvimento de suas atividades e os reflexos que delas decorrem. Em primeiro lugar, é importante estabelecer a distinção entre livro obrigatório e facultativo, pois a falta de escrituração deste último não constitui ilegalidade ao passo que isso ocorrerá no caso de omissão do dever de escriturar quanto ao primeiro. Obrigatório: é aquele que sua escrituração é imposta ao empresário e que a sua ausência traz consequência sancionadora. Pode ser comum ou especial. O livro obrigatório especial só é exigível de alguns empresários, como é o caso do livro de registo de duplicata para aqueles que emitem essa espécie de título. O livro obrigatório comum está previsto no art. 1.180, CC, sendo que seu único exemplo é o livro diário, que pode ser substituído por fichas, no caso de ser adotada escrituração mecanizada ou eletrônica7. 7 Vide questão 3. 15 Facultativo: é aquele que tem para o empresário uma função de controle de seus negócios, de modo que sua falta não importa em irregularidade ou lhe gera qualquer tipo de sanção. São exemplos o livro caixa, livro razão, livro conta-corrente, estoque, dentre outros. É importante salientar que o Código Civil de 2002 admitiu a escrituração eletrônica: Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica. Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico. Os livros, antes do seu uso, devem, necessariamente, ser autenticados pela Junta Comercial (Art. 1181 do CC/02), mas somente podem ser autenticados os livros do empresário regular (p.u. do art. 1181 do CC/02). 16 Se liga, OABeiro! O art. 1179, §2º dispensa da escrituração o pequeno empresário mencionado no art. 970. Cuidado! Nas provas falam em microempresa e empresa de pequeno porte. Não é a mesma coisa. De acordo com a doutrina e a jurisprudência, o “pequeno empresário” é, tão somente, o microempreendedor individual (MEI). Recorde a figura do Microempreendedor Individual a partir da tabela abaixo: Microempresa (ME) Empresa de Pequeno Porte (EPP) Pequeno empresário (MEI) Empresário Individual Sociedade Empresária Sociedade Simples EIRELI Empresário Individual Sociedade Empresária Sociedade Simples EIRELI APENAS empresário individual (pessoa física). Logo, pessoa jurídica não pode ser pequeno empresário. Não é um tipo de empresário. Não é um tipo de empresário. Não é um tipo de empresário. É uma classificação que se dá para aqueles tipos de empresários. Trata-se de um mero enquadramento. Logo, não é um novo tipo de empresa. É uma classificação que se dá para aqueles tipos de empresários. Trata-se de um mero enquadramento. Logo, não é um novo tipo de empresa. É uma classificação que se dá para um tipo de empresário. Trata-se de um mero enquadramento. Logo, não é um novo tipo de empresa. A classificação se dá para fins fiscais e outras vantagens. A classificação se dá para fins de benefícios fiscais e outras vantagens. Na prática, é o conhecido Micro empreendedor individual (MEI). Receita Bruta anual inferior a R$ 360.000,000. Receita Bruta anual superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 4.800.000,000. Receita Bruta anual igual ou inferior a R$ 60.000,00. 17 Não está dispensado da escrituração dos livros. Não está dispensado da escrituração dos livros. Somente o MEI está dispensado da escrituração dos livros. Os requisitos intrínsecos da escrituração são observados quando ela é feita em idioma e moeda corrente nacionais e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as margens. Por outro lado, os requisitos extrínsecos, concernentes à segurança dos livros, referem-se à sua autenticação pela Junta Comercial. Tais requisitos são essências para determinação da eficácia probatória dos livros empresariais. O art. 417 do CPC/2015 preceitua que “os livros empresariais provam contra o seu autor, sendo lícito ao empresário, todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos”. Conforme o referido comando legal, a eficácia probatória do livro empresarial contra o empresário independe de sua correta escrituração. Isso significa que consubstancia presunção relativa (juris tantum) contra o empresário. Nada impede, contudo, que o empresário demonstre, por outros meios de prova, que os lançamentos constantes da escrituração que lhe é desfavorável não correspondem à verdade. Em contrapartida, para que os livros provem a favor do empresário, é preciso que estejam regularmente escriturados, conforme impõe o art. 418 do CPC/2015: “os livros empresariais, que preencham os requisitos exigidos por lei, provam também a favor do seu autor no litígio entre empresas”. Embora não estejam elencados como títulos executivos, o que, em tese, autorizaria o acesso à via executiva, quando devidamente escriturados, terão valor probatório em uma ação ordinária de conhecimento, inclusive, no caso de ação monitória. 18 O art. 419 do CPC/2015 esclarece que a escrituração contábil é indivisível e, se dos seus lançamentos uma parte for favorável a seu autor e outra desfavorável, ambas serão consideradas em conjunto, como unidade. Como último tema relevante para a escrituração empresarial, tem-se o sigilo empresarial, o qual deve ser compreendido a partir de certas premissas. Em primeiro lugar, convém ter em mente que o princípio da sigilosidade da escrituração orienta a atividade empresarial e significa que as informações contidas nos livros são relevantes e confidenciais (art. 1.190, CC). Seu escopo é inibir a concorrência desleal, de modo que nenhuma autoridade pode determinar a apresentação dos livros do empresário, salvo os casos previstos em lei. Nessa orientação, o art. 1.190 do CC dispõe que: Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei. Percebe-se, assim, que a exibição dos livros empresariais poderá ser determinada, judicialmente e em certos casos previstos em lei. Além disso, existem situações que se permite que o magistrado determine, de ofício, a exibição dos livros empresariais e outros em que isso somente poderá ocorrer: EXIBIÇÃO INTEGRAL (art. 417, CPC c/c art. 1.191, caput, CC) EXIBIÇÃO PARCIAL (art. 418, CPC c/c art. 1.191, § 1º, CC) Possível somente me certos casos, como, por exemplo, sucessão, falência, sociedade ou comunhão de interesses e administração ou gestão à conta de outrem Cabível em qualquer ação judicial. Somente por requerimento da parte De ofício ou mediante requerimento 19 No caso de sociedade anônima, a norma aplicável é a seguinte: Art. 105. A exibição por inteiro dos livros da companhia pode ser ordenada judicialmente sempre que, a requerimento de acionistas que representem, pelo menos, 5% (cinco por cento) do capital social, sejam apontados atos violadores da lei ou do estatuto, ou haja fundada suspeita de graves irregularidades praticadas por qualquer dos órgãos da companhia. Importante ressaltar que, em todo e qualquer caso de ordem judicial para exibição dos livros empresariais deverá estar presente o interesse de agir (súmula 260, STF), o qual se afigura, por exemplo, quando houver pertinência quanto às transaçõesentre as partes. Convém pontuar que o fato de um livro não ser obrigatório não exime o empresário de apresenta-lo às autoridades fiscais. Se, mesmo não sendo obrigado, ele o escriturou a consequência é que deverá disponibilizá-lo. Nesse sentido, a súmula 439 do Supremo Tribunal Federal enuncia que “estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer livros comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da investigação.” Na mesma linha, o art. 1.193 determina que o sigilo empresarial não pode ser oposto às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos das respectivas leis especiais 20 A prova resultante dos livros e fichas não é bastante nos casos em que a lei exige escritura pública, ou escrito particular revestido de requisitos especiais, visto que pode ser ilidida pela comprovação da falsidade ou inexatidão dos lançamentos. Sobre a escrituração dos livros empresariais, convém apresentar três consequências que se relacionam à: Ausência de escrituração: além da inviabilidade de utilizar os livros como forma de prova, o empresário, sociedade empresária ou EIRELI que tiver sua falência decretada, a concessão de recuperação judicial ou homologação de plano de recuperação extrajudicial (art. 178 da Lei nº 11.101/2005) praticará crime falimentar, o que aplica tão somente em relação aos livros obrigatórios (comuns ou especiais). Ausência de apresentação: O art. 104, II da Lei 11.101/05 determina que, após decretada a falência, o empresário deposite os livros obrigatórios em cartório, que serão entregues ao administrador judicial. A não apresentação pode gerar o crime de desobediência, previsto no art. 104, parágrafo único. Da mesma maneira, quando a apresentação for obrigatória (ex. inventário), o juiz poderá determinar a busca e apreensão do livro. Além disso, os fatos narrados que estão diretamente relacionados à prova do livro não apresentado serão reputados como verdadeiros. Obviamente, essa presunção é relativa, pois o parágrafo único do art. 1192 estabelece que esse tipo de presunção ficta pode ser elidida por prova documental em contrário. (art. 1192, caput, CC). 21 Falsificação dos livros comerciais: esse ato importa em crime de falsificação de documento público (art. 297, §2º, CP), vez que os livros comerciais são equiparados a documentos públicos. É caso de falsificação de documento público por equiparação.8 2.2 Nome Empresarial 2.2.1 Conceito e função Na lição de Dylson Doria (1995:110), o nome comercial é aquele “adotado pela pessoa física ou jurídica para o exercício do comércio e por cujo meio se identifica”. Sob a mesma perspectiva, o Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890, ao conceitua-lo, enfatizou seu caráter funcional, considerando-o “o nome sob o qual o comerciante ou sociedade exerce o comércio e assina-se nos atos a ele referentes”. Em sentido semelhante, o Código Civil, em seu art. 1.155, assim definiu nome comercial: “considera-se nome empresarial a firma ou a denominação adotada, de conformidade com este Capítulo, para o exercício de empresa”. A doutrina indica duas importantes funções para o nome empresarial. A primeira, considerada como subjetiva, tem por fim identificar e individualizar o sujeito. A segunda, chamada de objetiva, se relaciona à capacidade de garantir fama, renome, reputação. 2.2.2 Natureza Jurídica do Nome Empresarial Ricardo Negrão explica que o nome empresarial e suas subespécies, dentre elas as firmas e as denominações, não integram o estabelecimento empresarial, sendo, antes, atributos pessoais do empresário ou da sociedade empresária. Diante disso, o autor conclui que “sua função primordial é a identificação pessoal do titular, seja ele constituído sob a forma coletiva ou individual”. No entanto, o nome empresarial possui, além da qualidade de identificação de uma pessoa, outra, de natureza patrimonial, o que leva os doutrinadores a divergirem sobre sua natureza. 8 Vide questão 10. 22 Para uma primeira corrente, ele seria um direito de propriedade industrial9. Esse entendimento é incompatível com o ordenamento jurídico brasileiro, pois, no atual estágio de desenvolvimento doutrinário e legislativo, o nome não pode ser considerado direito de propriedade industrial, vez que este consiste em propriedade imaterial e se constitui coisa incorpórea, como ocorre com as marcas, patentes e desenhos industriais, que, após sua criação intelectual, ganham força de direito autônomo ao da personalidade de seu criador. O nome empresarial, por sua vez, não dispõe dessa autonomia em razão de sua indissociabilidade da figura humana que o detém. É o que ocorre, por exemplo, com as firmas, “constituídas de nomes pessoais do empresário ou dos sócios da sociedade empresária, e, ainda, porque não pode ser alienado mesmo quando se tratar de sua forma denominativa, não vinculada a nomes pessoais (art. 1.164 do Código Civil).” (NEGRÃO, 2018:156). Segundo outra corrente doutrinária e jurisprudencial, o nome empresarial tem natureza de direito pessoal. Para defender esse posicionamento, Karin Grau-Kuntz (1993:63) afirma que o sistema do direito brasileiro concede personalidade a todas as pessoas jurídicas e considera, como condição para sua concessão, a adoção do nome empresarial, impedindo que ele seja objeto de cessão ou transferência, o que faz dele objeto de um direito pessoal. Como um dos grandes expoentes do direito empresarial brasileiro que se afilia a este entendimento, tem-se Carvalho de Mendonça (2000, 2:175-176): O nome do comerciante não é propriedade. Pode, é certo, constituir uma riqueza se a casa comercial adquiriu fama e crédito, graças ao trabalho, à inteligência e à probidade do seu fundador, mas isso está longe de constituí-lo em coisa, em objeto de comércio. Ele não tem valor patrimonial, inestimabilis rest est e assim: a) não figura no ativo do balanço da casa comercial; é inalienável e intransmissível, porque é inerente à pessoa e não pode ser considerado distintamente desta, pelo que não pode ser objeto de contrato, nem pode ser legado, doado, ou cedido; b) não é suscetível de penhora em execução; c) não entra na falência, nem a massa creditória dele dispõe; d) não pode constituir quota social; e) não é desapropriável. Ainda mais o nome é imprescritível (Clovis, Código Civil, 2ª edição, v. 1. p. 424). Pelo fato de ser a firma comercial exclusiva de quem a inscreveu 9 Nesse sentido, Spencer Vampré (1922:180): “o nome comercial constitui uma verdadeira propriedade industrial, e cria relações jurídicas, análogas às das marcas de fábrica, das patentes de invenção, e da propriedade literária, artística, ou industrial. (...) Daí se segue que o nome:a) é suscetível de apreciação monetária, pois a indicação do estabelecimento, pela notoriedade, honradez, e boa escolha dos artigos, exerce decisiva influência na massa das populações; b) é sujeito a danificação, quando, por exemplo, um concorrente o usurpa, ou, ainda, o difama. A lesão, que daí decorre, não recai sobre a personalidade, mas sobre o estabelecimento, sobre o conjunto de coisas, que o compõem, inclusive o seu crédito e reputação; c) pode ser alienado, isoladamente, ou com o estabelecimento a que foi aposto; d) adquire-se pelo uso legítimo, e se perde pelo desuso” 23 no registro não se conclui constituir objeto de propriedade. O direito de quem inscreveu a firma é meramente pessoal. É direito pessoal absoluto, diz-nos Clovis Bevilacqua. O exclusivismo é instituído em benefício do comércio para evitar fraudes e, portanto, no interesse público. É a concorrência desleal que se procura combater. A terceira e última corrente doutrinária que pretende explicar a natureza jurídica do nome empresarialo considera como direito pessoal derivado da concorrência desleal, qualificando-o a partir de sua utilidade. Nessa linha, Gabriel Leonardos (1994:45) verifica que tal instituto não constitui propriedade autônoma, tal como ocorre com a marca ou a patente, mas, a despeito disso, incorpora-se ao fundo do comércio da empresa, com todas as consequências decorrentes. Tanto assim, que tem como finalidade “proteger os investimentos feitos para se formar a reputação de um nome, a par de proteger os consumidores que se habituaram a associar uma determinada qualidade a um dado nome”. Em face das três correntes apresentadas, a que mais se conforma com o direito brasileiro é aquela que o considera como direito pessoal. Isso porque, o próprio texto constitucional o erige à classe dos direitos individuais, de criação intelectual (art. 5º, XXIX da CRFB). E isso, a despeito de ser tutelado contra a concorrência desleal, o que se faz visando ao interesse social e ao desenvolvimento tecnológico e econômico do país. Ricardo Negrão apresenta relevante distinção entre o nome empresarial, a marca, o título de estabelecimento e a insígnia (NEGRÃO, 2018:158). Segundo o magistério do autor (...) o nome é atributo da personalidade, por meio do qual o empresário exerce sua atividade; a marca é sinal distintivo de um produto ou de um serviço; título de estabelecimento é a designação de um objeto de direito – o estabelecimento empresarial; e insígnia é um sinal, emblema, formado por figuras, desenhos, símbolos, conjugados ou não a expressões nominativas. Esta e o título do estabelecimento têm em comum sua idêntica destinação: designar o estabelecimento do empresário; na forma, contudo, diferem: a insígnia utiliza a forma emblemática, e o título, a nominativa. (...) A confusão muitas vezes se estabelece em virtude da possibilidade de utilização do núcleo de um nome empresarial como marca ou título de estabelecimento. (...) A natureza jurídica de cada um desses elementos é distinta: a primeira – marca – tem caráter de propriedade imaterial, protegida mediante registro no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, e, como tal, integra o estabelecimento empresarial; o segundo – título de estabelecimento – é direito intelectual, amparado contra uso indevido, sem necessidade de qualquer registro; e o último é nome empresarial, atributo do empresário ou da sociedade empresária, regido pelas disposições dos arts. 1.155 a 1.168 do Código Civil de 2002. 24 Valendo-se de exemplo oferecido pelo autor, é possível utilizar a expressão linguística “Brinquedo Asteroide” como marca de produtos fabricados no estabelecimento industrial “Fábrica de Brinquedos Asteroide”. Considerando que este, por sua vez, pertença ao empresário “José Asteroide & Cia. Ltda.”, tem-se que o núcleo “Asteróide” é o nome civil de uma pessoal natural, que foi utilizado para compor os três elementos distintivos do exercício da empresa. Por outro lado, imagine que a sociedade empresária “Icecream S/A” possua como proteção de seus produtos as marcas para sorvete “Tutti Geli” e para bolo “Gostogel”. Nesse caso, nada impede que, na cidade de Campinas, seu estabelecimento use o título (fantasia) “Casa do Sorvete d’Itália” e a insígnia formada por essas palavras e pela figura de um sorvete, na forma da torre que tornou famosa a cidade de Pisa. Por outro lado, imagine que a sociedade empresária “Icecream S/A” possua como proteção de seus produtos as marcas para sorvete “Tutti Geli” e para bolo “Gostogel”. Nesse caso, nada impede que, na cidade de Campinas, seu estabelecimento use o título (fantasia) “Casa do Sorvete d’Itália” e a insígnia formada por essas palavras e pela figura de um sorvete, na forma da torre que tornou famosa a cidade de Pisa. 2.2.3 Características do nome empresarial O art. 34 da Lei 8934/94 permite deduzir dois princípios norteadores do nome empresarial: Inalienável: não há como transferir a propriedade do nome empresarial, objetivamente, o nome empresarial não pode ser objeto de alienação (art. 1164, caput, CC). No entanto, é possível que o adquirente do estabelecimento comercial continue 25 usando o antigo nome empresarial do alienante, precedido do seu e com a qualificação do sucessor, desde que o contrato de trespasse permita (art. 1.164, p.u., CC). Anote-se, contudo, que pode ser alienado o título de estabelecimento, também chamado de apelido, nome de fantasia ou nome da placa. Se Gomes e Silva Ltda é o nome da pessoa jurídica proprietária de um posto gasolina, ele mas o termo “Posto Fazendão”, seu nome fantasia, pode. Imprescritível: aquele que for lesado pelo uso indevido do nome empresarial pode, a qualquer tempo, ajuizar ação para anular a inscrição de nome empresarial feita com violação da lei ou do contrato (art. 1.167, CC). Conforme a jurisprudência, antes de se determinar a anulação do nome empresarial, deve ser dada a oportunidade, geralmente no prazo de 30 (trinta) dia, para que o réu modifique o nome. 2.2.4 Princípios O art. 34 da Lei 8934/94 permite deduzir dois princípios norteadores do nome empresarial: Princípio a veracidade: também chamado de autenticidade, impõe que a firma individual ou social seja composta a partir do nome do empresário, da EIRELI ou dos sócios respectivamente. Por isso, na firma social, é obrigatória a presença de nome de sócio que compõe a sociedade, não se admitindo nome fictício ou de pessoa que não fizer parte da sociedade. Outra consequência desse princípio está na necessidade de que seja retirado da firma social o nome de sócio que venha a falecer, for excluído ou se retirar da sociedade (art. 1.165, CC). Por outro lado, a denominação não deve conter nome de sócio, salvo para homenagear, como forma de honraria, esteja ele vivo ou morto. É o que ocorre, por exemplo na sociedade anônima, porque, ainda que conste o nome do fundador, acionista ou pessoa. Por último, um dos mais relevantes efeitos do princípio da veracidade reside no fato de que a omissão da palavra limitada torna os sócios responsáveis solidários e ilimitados10. 10 Vide questão 7. 26 Princípio da novidade: significa que não poderão coexistir, na mesma unidade federativa, dois nomes empresariais e idênticos ou semelhantes, prevalecendo aquele já protegido pelo prévio arquivamento. Aqui dentro há ainda ao princípio da especificidade, pois o caráter inovador do nome alcança, em regra, apenas o ramo da atividade exercida pelo empresário. Ou seja, podem coexistir nomes, desde que em atividades diferentes, como é o caso da denominação “Primavera”, que pode ser imobiliária, seguradora, transportadora, floricultura etc. Outro exemplo seria a denominação “Churrascaria Garfo de Ouro” para um churrascaria, o que não impede, em tese, que uma empresa que venda talheres e pratos funcione com o nome “Garfo de Ouro Presentes”. Conforme o Superior Tribunal de Justiça que havendo a mudança do nome empresarial, é necessária nova procuração aos advogados da sociedade. 2.2.5 Extensão da proteção do nome empresarial O princípio da especialidade deve ser considerado para se determinar o titular do direito de uso exclusivo do nome empresarial. Tanto assim que o Código Civil procurou solucionar os conflitos gerados pelas colidências entre titulares de nomes empresariais, cujas atividades são distintas, exigindo o acréscimo do objeto na constituição da denominação adotada pelas sociedades limitadas, anônimas e em comandita por ações (arts. 1.158, § 2º, 1.160 e 1.161). No que tange à firma individual, o Código tornou facultativa a inclusão do objeto ou gênero de atividade (art. 1.156), omitindo-se em relação às firmas sociais. A jurisprudência, por outro lado, é no sentido de garantir a proteção dos nomes empresariais nos limites de sua atividade, isto é, do objeto social, cujadesignação se torna obrigatória para as denominações. Dessa forma, conclui-se que a proteção do nome empresarial não é absoluta (erga omnes), de modo a impedir o uso dele para qualquer empreendimento. Aplica-se, na verdade, o princípio da especialidade, concedendo-se tutela relativa, porquanto limitada ao ramo de atividade do seu titular. 27 Em caso de exercício de atividade idêntica por titular de nome empresarial e detentor de direito de marca, o Superior Tribunal de Justiça tem se orientado por dois critérios, a especificidade e a novidade (ou precedência do registro). Assim, na hipótese de colidência entre empresários de um mesmo ramo, impõe-se atentar primeiramente à anterioridade de cada um dos registros, prevalecendo o princípio da novidade (REsp: 262643 SP). Por outro lado, no que diz respeito ao nome de domínio, salvo hipótese de usurpação de direito de marca ou nome empresarial, a anterioridade do registro destes não assegura, por si só, o direito de exigir a abstenção de uso do nome de domínio na rede mundial de computadores (internet) por aquele que ostenta direitos acerca do mesmo signo distintivo. Isso porque, “no Brasil, o registro de nomes de domínio é regido pelo princípio "First Come, First Served ", segundo o qual é concedido o domínio ao primeiro requerente que satisfizer as exigências para o registro” (REsp 658.789/RS). À luz do princípio da novidade, o art. 61 do Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890, determina que “toda firma nova deverá se distinguir de qualquer outra que exista inscrita no registro do lugar”, mas restringe a proteção dos nomes ao âmbito de atuação do órgão de registro. Essa é a posição encontrada no Decreto n. 1.800/96, que regulamentou a Lei de Registro de Empresas Mercantis (Lei n. 8.934/94) e circunscreveu a proteção à unidade federativa de jurisdição da Junta Comercial na qual se procedeu ao arquivamento respectivo (Decreto n. 1.800/96, art. 61). Permite-se, contudo, que tal proteção seja estendida a outras unidades a pedido do interessado, desde que observada instrução normativa do Departamento de Registro Empresarial e Integração. Essa proteção absoluta dentro dos limites da unidade federativa é reconhecida pelo STJ (REsp nº 1673450) e se encontra prevista no art. 1.166 do Código Civil de 2002, o qual dispõe que “inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado”. O parágrafo único desse mesmo dispositivo também consigna a possibilidade de extensão a todo o território nacional, se registrado na forma da lei especial. 28 2.2.6 Espécies de nome empresarial O quadro abaixo permite visualizar os dois tipos de nome empresarial (NEGRÃO, 2018:160): NOME EMPRESARIAL DESCRIÇÃO Firma Individual “É o nome adotado pelo empresário e pela empresa individual de responsabilidade limitada no exercício de suas atividades, mediante o qual se identificam no mundo empresarial, sendo composto pelo nome civil (do empresário individual ou do titular da empresa) completo ou abreviado, acrescido ou não de designação precisa de sua pessoa ou do gênero de sua atividade. Na empresa individual de responsabilidade limitada exige-se, ainda, a inclusão, após o nome escolhido, da expressão ‘EIRELI’”. Firma Social “É o nome adotado pela sociedade empresária para o exercício de sua atividade, pelo qual se identifica no mundo empresarial, sendo composto pelos nomes civis ou partes destes, de um, alguns ou todos os sócios da sociedade, sendo exigidos, em sua formação, acréscimos de expressões indicadoras da espécie societária (limitada ou comandita por ações) e/ou da existência de sócios que não deram nome à sociedade (e companhia), por extenso ou abreviadamente.” Denominação “É o nome adotado pela empresa individual de responsabilidade limitada e pela sociedade empresária para o exercício de suas atividades, pelo qual essas pessoas jurídicas se identificam no mundo empresarial; no primeiro caso é formado por expressão linguística que contenha o objeto social e deve ser acrescida da expressão EIRELI ou, quando se tratar de sociedade, do tipo societário escolhido. Observamos, quanto à empresa individual de responsabilidade limitada, que a autorização decorre do disposto no § 1º do art. 980-A do Código Civil, reforçando àquele com que ela contratar a ciência de que a responsabilidade patrimonial de seu parceiro negocial limita-se ao capital registrado.” 29 O quadro acima permite extrair as seguintes conclusões a respeito da aplicação e da composição dos nomes empresariais: Firma individual: Aplicação: Empresário Individual Composição (art. 1.156): nome civil do empresário (completo ou abreviado), podendo ser acrescentado o ramo da atividade ou designação mais precisa de sua pessoa (facultativo). Ex. Roberto Justus, R. Justus ou Roberto Justus Joalheiro. Firma social ou razão social Aplicação: sociedade que possui, ao menos, um sócio com responsabilidade ilimitada (ex. sociedade em nome coletivo). É o caso da sociedade em nome coletivo, da sociedade em comandita simples e da sociedade em comandita por ações. Isso porque, se o sócio pode responder pelas dívidas da sociedade, o credor tem o direito de saber quem ele é, por isso é necessário ter o seu nome presente. Tanto assim que, se um sócio que não integrar a firma praticar um ato de gestão, ele ficará solidariamente obrigado. Composição: nome ou nomes dos sócios (completo ou abreviado), sendo facultativo o acréscimo do ramo da atividade (R. Justus & E. Batista petrolífera). É possível acrescentar a Cia ao final para indicar que a sociedade tem outro ou outros sócios. Observe-se, contudo, que a expressão Cia no início ou no meio de um nome empresarial significa que se trata de sociedade anônima. Denominação: Aplicação: destinada, em regra, à sociedade que possui sócio com responsabilidade limitada e à EIRELI. Ex. sociedade anônima, limitada e em comandita por ações. Composição: expressão linguística, ou seja, termos, palavras, frases, letras. Ex. Bola Sete buffet infantil, Nana Nenê roupas infantis, Divina Gula restaurante, etc. Na 30 denominação o ramo da atividade passa a ser obrigatório, salvo para ME e EPP. Como regra geral, o nome do sócio não pode estar na denominação, mas o Código Civil autoriza, excepcionalmente, quando for para homenagem, honraria. Em 8 de março de 2018 o Diretor do Departamento de Registro Empresarial e Integração - DREI, no uso das atribuições legais, publicou a Instrução Normativa DREI Nº 45 de 07/03/2018 regulamentando o fim das designações de porte "Microempresa" ou "Empresa de Pequeno Porte", e suas respectivas abreviações, "ME" ou "EPP". Tais designações, constantes do nome empresarial das empresas optantes pelo Simples Nacional, foram introduzidas pelo art. 72 da Lei Complementar 123/2006 como obrigatórias, todavia, dentre as várias mudanças no sistema, levadas a efeito pela Lei Complementar nº 155, de 27 de outubro de 2016 (art. 10, inciso V), houve a revogação do mencionado art. 72 e, portanto, das designações de porte "Microempresa" ou "Empresa de Pequeno Porte", e suas respectivas abreviações, "ME" ou "EPP". É importante ressaltar que tal mudança atinge apenas o nome empresarial e não o enquadramento de porte. 2.2.7 Direitos decorrentes do nome empresarial A proteção do nome empresarial decorre da iniciativa do titular da empresa de levar seus atos constitutivos para o registro no órgão de Registro Público das Empresas Mercantis – a Junta Comercial. Isso porque o art. 33 da Lei n. 8.934/1994 determina que “a proteção ao nome empresarial decorre automaticamente do arquivamento dos atos constitutivos de firma individual e de sociedades, ou de suas alterações”. Muito embora não possaser registrado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão incumbido de conceder privilégios industriais e registros de marcas e desenhos 31 industriais. Entretanto, a própria Lei da Propriedade Industrial protege o nome contra usos indevidos ou imitações, dentro de sua dimensão concorrencial. É possível dividir as ações protetivas da tutela do nome empresarial em três categorias (FRANÇA; 1994:1048): Reclamação, que assiste ao titular quando este “é recusado por parte de outrem”; Contestação, se o nome de modo ilícito, for usado pessoalmente por parte de outrem”; De proibição, na ocorrência de seu uso ilícito “de maneira não pessoal”. Na esfera administrativa, a proteção se dá por oposição ao INPI ou mediante ações de proibição ou indenizatórias. A tutela jurídica abrange, entre outros, os seguintes direitos: Não pode ter seu elemento característico ou diferenciador reproduzido ou imitado em marcas a ponto de causar confusão ou associação indevida (art. 124, V, da Lei n. 9.279/96). Elemento característico ou diferenciador do nome empresarial é qualquer parte deste capaz de causar engano no mercado consumidor. Karin Grau-Kuntz (1998:102-103) discute a aplicação da tutela concorrencial do nome civil: Se não houver confusão de identidade entre o nome civil empregado para formar a marca e a pessoa de um terceiro homônimo, o emprego civil na marca deverá ser suportado por todos os terceiros homônimos, mesmo que por uma razão qualquer tal uso não lhes seja agradável ou conveniente. O mesmo raciocínio se empregará nos casos em que o nome civil coincida com uma expressão de fantasia. Assim, o membro da família ‘Coelho’, ‘Lobo’, ‘Leite’, ‘Café’ etc. só poderá impedir que um terceiro empregue uma dessas expressões de fantasia em sua marca, que por mero acaso coincidem com seu patronímico, se provar que aquela marca reporta à sua identidade. Não pode ser usado indevidamente em produto destinado à venda, em exposição ou em estoque (art. 195, V, da Lei n. 9.279/96). Na hipótese de violação por atos de concorrência desleal, cabe indenização ao seu titular (art. 209 da Lei n. 9.279/96). 32 Permite ação para anulação de inscrição de nome empresarial feita com violação da lei ou do contrato (art. 1.167 do Código Civil). 2.2.8 Alteração do nome empresarial Em decorrência dos princípios da veracidade e da novidade, a alteração das firmas torna- se obrigatória nas seguintes situações No caso de retirada, exclusão ou morte de sócio cujo nome civil constava da firma social (art. 1.165); Na alteração da categoria de sócio figurante na firma social, para as sociedades de capital e indústria, em comandita simples e por ações (interpretação do art. 1.157, parágrafo único); Na alienação do estabelecimento empresarial por ato entre vivos, facultando-se, entretanto, se o contrato de alienação permitir, ao novo adquirente aditar o antigo nome ao seu, precedendo-o: “Fulano de Tal & Cia., sucessor de Primeira Firma Social”. Conforme o Superior Tribunal de Justiça, é necessário emitir nova procuração para seu representante na hipótese de alteração do nome empresarial. O Tribunal Superior do trabalho adota o mesmo entendimento, exigindo nova procuração caso, no meio de um processo, uma empresa modifique o nome com o qual se identifica. E isso, sob pena dos advogados ficarem impedidos de atuar no processo. 33 2.2.9 Cancelamento de nome empresarial As hipóteses estão no art. 1168 CC: Cessar a atividade empresarial (inatividade). O empresário pode declarar na junta a cessação e dará baixa na empresa. Essa inatividade pode ser presumida na hipótese do art. 60 da lei 8934/94 – aquela que não proceder a qualquer arquivamento por dez anos consecutivos, deve informar à junta comercial que deseja manter-se em funcionamento. Na ausência dessa comunicação, ela será considerada inativa, promovendo, a junta, o cancelamento do registro com a perda automática da proteção ao nome empresarial. Liquidação/dissolução da sociedade Expirado o prazo de vigência da sociedade por tempo determinado 34 QUADRO SINÓTICO REGRAS ESPECÍFICAS PARA FORMAÇÃO DO NOME EMPRESARIAL TIPO EMPRESÁRIO ELEMENTOS/ACRÉSCIMOS FIRMA (individual ou social) Empresário Individual (art. 1.156) Obrigatório: nome civil completo ou abreviado e designação precisa (art. 1.163 – homônimo) Facultativo: designação pessoal/ramo de atividade Sociedade em Nome Coletivo (art. 1.157) Obrigatório: nome dos sócios + e/& Companhia (& Cia) Facultativo: designação do ramo de atividade Sociedade em Comandita Simples (art. 1.157) Obrigatório: nome comanditado + e/& Companhia (& Cia) Facultativo: designação do ramo de atividade DENOMINAÇÃO Sociedade Anônima (art. 1.160) Obrigatório: denominação do objeto social + sociedade anônima (S/A) ou companhia (Cia). * Vedado o uso da última ao final Facultativo: admitido o uso do nome do sócio fundador ou outrem que tenha contribuído para o êxito da empresa FIRMA Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (art. 980-A, § 1º) Obrigatório: EIRELI ao final - Firma: nome do único sócio 35 OU DENOMINAÇÃO - Denominação: nome de sócio(s) ou expressão linguística Facultativo: designação do ramo de atividade Sociedade Limitada (art. 1.158) Obrigatório: limitada (Ltda) ao final - Firma: nome de um ou mais sócios + “e companhia” - Denominação: nome de sócio(s) ou expressão linguística + designação do objeto da sociedade Sociedade em Comandita por Ações (art. 1.161) Obrigatório: Companhia (Cia) + comandita por ações, após o nome dos sócios; ou & Comandita por ações + objeto social 36 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (XXIX EXAME DE ORDEM – FGV - 2019): Luzia Betim pretende iniciar uma sociedade empresária em nome próprio. Para tanto, procura assessoria jurídica quanto à necessidade de inscrição no Registro Empresarial para regularidade de exercício da empresa. Na condição de consultor(a), você responderá que a inscrição do empresário individual é A) dispensada até o primeiro ano de início da atividade, sendo obrigatória a partir de então. B) obrigatória antes do início da atividade. C) dispensada, caso haja opção pelo enquadramento como microempreendedor individual. D) obrigatória, se não houver enquadramento como microempresa ou empresa de pequeno porte. Comentário: Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade. Questão 2 (XXII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Fagundes e Pilar são noivos e pretendem se casar adotando o regime de separação de bens mediante celebração de pacto antenupcial. Fagundes é empresário individual e titular do estabelecimento Borracharia Dona Inês Ltda. ME. Celebrado 37 o pacto antenupcial entre os nubentes, o advogado contratado por Fagundes providenciará o arquivamento e a averbação do documento A) no Registro Público de Empresas Mercantis e a publicação na imprensa oficial. B) no Registro Público de Empresas Mercantis e no Registro Civil de Pessoas Naturais. C) no Registro Civil de Pessoas Naturais e a publicação na imprensa oficial. D) no Registro Público de Empresas Mercantis e no Registro Civil de Títulos e Documentos. Comentário: CC. Art. 979. Além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público de Empresas Mercantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade. Questão 3 (FGV - 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XVI - Primeira Fase) Uma das obrigações da sociedade empresária é seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituraçãouniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. A partir do exposto, assinale a afirmativa correta. A) A ausência de autenticação dos instrumentos de escrituração na Junta Comercial não impede que os livros da sociedade empresária sejam utilizados em juízo como prova documental a seu favor. B) Em razão da evolução tecnológica, passou a ser vedada a escrituração manual do Livro Diário, devendo a sociedade empresária adotar livros digitais para a escrituração de suas operações. C) O balanço patrimonial deverá exprimir, com fidelidade e clareza, a situação real da empresa e indicará o ativo e o passivo distintamente. D) Os assentos lançados nos livros da sociedade empresária, por qualquer dos contabilistas encarregados de sua escrituração, não obrigam a pessoa jurídica, se tais livros não estiverem autenticados na Junta Comercial. 38 Comentário: A lei faculta ao empresário a utilização de escrituração mecanizada ou não (art. 1.179), não havendo qualquer vedação à escrituração manual do livro diário, sendo claro o comando do art. 1.180 nesse sentido: Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica. Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do resultado econômico. Questão 4 (FGV - 2016 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XIX - Primeira Fase) Servidor da Junta Comercial verificou que o requerimento de alteração contratual de uma sociedade limitada com vinte e dois sócios e sede no município de Solidão não foi assinado pelo administrador, mas por mandatário da sociedade, com poderes específicos. O requerimento foi instruído com uma nova versão do contrato social desacompanhada da ata da deliberação que a aprovou. O referido servidor determinou que fosse sanada a pretensa irregularidade. Com base nessas informações, assinale a afirmativa correta. A) O servidor não agiu corretamente porque cumpre à autoridade competente, antes de efetivar o registro, fiscalizar apenas a observância das formalidades extrínsecas ao ato, e não formalidades intrínsecas relativas aos documentos apresentados; portanto, a alteração deveria ser arquivada. B) O servidor agiu corretamente porque cumpre à autoridade competente, antes de efetivar o registro, fiscalizar a observância das prescrições legais concernentes ao ato ou aos documentos apresentados; havendo irregularidades, deve ser notificado o requerente para saná-las. 39 C) O servidor não agiu corretamente porque as irregularidades apresentadas no enunciado são insanáveis por se referirem a requisitos substanciais e de validade do documento, bem como de representação da pessoa jurídica. D) O servidor agiu corretamente porque somente o administrador, como órgão da pessoa jurídica, tem legitimidade para pleitear o arquivamento da alteração contratual; havendo irregularidades, deve ser notificado o requerente para saná-las. Comentário: O servidor agiu respaldado pela seguinte norma do Código Civil: Art. 1.153. Cumpre à autoridade competente, antes de efetivar o registro, verificar a autenticidade e a legitimidade do signatário do requerimento, bem como fiscalizar a observância das prescrições legais concernentes ao ato ou aos documentos apresentados. Parágrafo único. Das irregularidades encontradas deve ser notificado o requerente, que, se for o caso, poderá saná-las, obedecendo às formalidades da lei. Questão 5 (FGV - 2019 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXIX - Primeira Fase) Luzia Betim pretende iniciar uma sociedade empresária em nome próprio. Para tanto, procura assessoria jurídica quanto à necessidade de inscrição no Registro Empresarial para regularidade de exercício da empresa. Na condição de consultor(a), você responderá que a inscrição do empresário individual é A) dispensada até o primeiro ano de início da atividade, sendo obrigatória a partir de então. B) obrigatória antes do início da atividade. C) dispensada, caso haja opção pelo enquadramento como microempreendedor individual. D) obrigatória, se não houver enquadramento como microempresa ou empresa de pequeno porte. 40 Comentário: O examinador tentou confundir o candidato ao tratar especificamente do empresário individual. Contudo, o empresário individual se enquadra na descrição do art. 966 do Código Civil, devendo a ele ser aplicado o dispositivo abaixo: Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade. Questão 6 (CESPE – TJ-AM/2016) Em observância ao princípio da veracidade, o nome do sócio que falecer não pode ser conservado na firma social. Comentário: O princípio da veracidade ou da autenticidade impõe que a firma individual ou social seja composta a partir do nome do empresário ou dos sócios, respectivamente. Tanto na firma individual, como na firma social, só poderá ser utilizado o nome daqueles que são realmente sócios, ou daquele que realmente é o empresário. O nome tem que ser verdadeiro. O nome empresarial também deve ser atual, de modo que o nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, não pode ser conservado na firma social (art. 1.165, CC). Questão 7 (CESPE – TJ-PR/2017) Para instituir sucursal em lugar sujeito à competência de outro registro público de empresas mercantis, bastará ao empresário averbar a constituição do estabelecimento secundário no registro público de empresas mercantis da respectiva sede. 41 Comentário: A assertiva contraria o seguinte dispositivo do Código Civil Art. 969, CC. O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também inscrevê-la, com a prova da inscrição originária. Parágrafo único. Em qualquer caso, a constituição do estabelecimento secundário deverá ser averbada no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede. Questão 8 (COPEVE-UFAL - 2019 - Prefeitura de Porto Calvo - AL - Procurador Jurídico) Dadas as afirmativas sobre o registro público de empresas mercantis e atividades afins, conforme a Lei nº 8.934/94, I. O registro público de empresas mercantis e atividades afins será exercido em todo o território nacional, de forma sistêmica, por órgãos federais e estaduais. II. Uma das finalidades do registro público de empresa é dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis. III. O registro público serve para cadastrar tanto as empresas nacionais como as estrangeiras em funcionamento no País e manter atualizadas as informações pertinentes. IV. Através do registro público, é possível proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu cancelamento. Verifica-se que estão corretas A) I e II, apenas. B) I e III, apenas. C) II e IV, apenas. D) III e IV, apenas. E) I, II, III e IV. 42 Comentário: Todas as alternativas podem ser analisadas com base no texto do art. 980-A do Código Civil de 2002, sendo verdadeira apenas a letra B: Lei 8.934/94 Art. 1º O Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, observado o disposto nesta Lei, será exercido em todo o território nacional, de forma sistêmica, por órgãos federais, estaduais e distrital, com as seguintes finalidades: I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos a registro na forma desta lei; II - cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter atualizadas as informaçõespertinentes; III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu cancelamento. Questão 9 (CESPE – AGU – Advogado da União – 2015) Acerca dos impedimentos, direitos e deveres do empresário, julgue o item que se segue de acordo com a legislação vigente. Os livros mercantis são equiparados a documento público para fins penais, sendo tipificada como crime a falsificação, no todo ou em parte, de escrituração comercial. Comentário: É o que dispõe o art. 297 do Código Penal: Código Penal Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. (...) § 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular. 43 GABARITO Questão 1 - B Questão 2 - B Questão 3 - C Questão 4 - B Questão 5 - B Questão 6 - Correta Questão 7 - Errada Questão 8 - E Questão 9 - Correta 44 QUESTÃO DESAFIO A inscrição na Junta Comercial antes de iniciar a atividade é requisito para a caracterização do empresário? Qual a consequência caso se inicie a atividade sem que seja feita a referida inscrição? Responda em até 5 linhas 45 GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO Não. É requisito para a regularidade do empresário individual. A consequência é que apesar de se submeter a regras do regime jurídico empresarial, sofrerá algumas restrições, como por exemplo não poder requerer recuperação judicial. Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta: Não De acordo com o artigo 967 do Código Civil “é obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, ante do início de sua atividade”. Acerca desse tema, André Luiz Santa Cruz Ramos (Direito Empresarial Esquematizado, 2012, 2ª ed., p. 63) ensina que: “Saliente-se, porém, que o registro na Junta Comercial embora seja uma formalidade legal imposta pela lei a todo e qualquer empresário individual ou sociedade empresária – com exceção daqueles que exercem atividade econômica rural (arts. 971 e 984) – não é requisito para a caracterização do empresário e sua consequente submissão ao regime jurídico empresarial nem fará com que eles não sejam considerados, respectivamente, empresário individual e sociedade empresária. Empresário Irregular Ressalte-se que o Enunciado 199 do CJF dispõe que: “A inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito delineador de sua regularidade, e não de sua caracterização.” Esclarece, ainda, o referido doutrinador que: “ Sendo assim, se alguém começar a exercer profissionalmente atividade econômica organizada de produção ou circulação de bens e serviços, mas não se registrar na Junta Comercial, será considerado empresário e se submeterá às regras do regime jurídico empresarial, embora esteja irregular, sofrendo, por isso, algumas consequências (por exemplo, a impossibilidade de requerer recuperação judicial – art. 48 da Lei 11.101/2005)”. Assim, verifica-se que o registro na Junta Comercial não é um requisito para a caracterização do empresário, sendo que, caso ocorra o início de suas atividades sem esse registro, a consequência será a sua irregularidade. 46 LEGISLAÇÃO COMPILADA Teoria Geral do Direito Empresarial: CC/02: arts. 1.155-1.195 Empresário Enunciado 1, CJF Decisão judicial que considera ser o nome empresarial violador do direito de marca não implica a anulação do respectivo registro no órgão próprio nem lhe retira os efeitos, preservado o direito de o empresário alterá-lo. Enunciado 2, CJF A vedação de registro de marca que reproduza ou imite elemento característico ou diferenciador de nome empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser interpretada restritivamente e em consonância com o art. 1.166 do Código Civil Súmula 363, STF A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da agência, ou estabelecimento, em que se praticou o ato. Súmula 439, STF Estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer livros comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da investigação. Súmula 260, STF O exame de livros comerciais, em ação judicial, fica limitado as transações entre os litigantes. 47 JURISPRUDÊNCIA Registro Empresarial STJ. CC 119.576-BA, Terceira Seção, DJe 21.6.2012; CC 81.261-BA, Terceira Secão, DJe 16.3.2009. CC 130.516-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/2/2014. Compete à Justiça Estadual processar e julgar a suposta prática de delito de falsidade ideológica praticado contra Junta Comercial. O art. 6º da Lei 8.934/1994 prescreve que as Juntas Comerciais subordinam-se administrativamente ao governo da unidade federativa de sua jurisdição e, tecnicamente, ao Departamento Nacional de Registro do Comércio, órgão federal. Ao interpretar esse dispositivo legal, a jurisprudência do STJ sedimentou o entendimento de que, para se firmar a competência para processamento de demandas que envolvem Junta Comercial de um estado, é necessário verificar a existência de ofensa direta a bens, serviços ou interesses da União, conforme determina o art. 109, IV, da CF. Caso não ocorra essa ofensa, como na hipótese em análise, deve-se reconhecer a competência da Justiça Estadual. STJ. REsp 1.393.724/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. p/ Acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, j. 28.10.2015, DJe 04.12.2015. Exigência, por Junta Comercial, de certidões negativas tributárias como condição para o arquivamento de ato de transformação de sociedade simples em sociedade empresária. Antinomia jurídica entre a Lei 8.934/94, ao regular o registro público de empresas mercantis e atividades afins, e leis tributárias específicas anteriores. Possibilidade de aplicação do critério cronológico ou do critério da especialidade, caracterizando um conflito qualificado como “antinomia de segundo grau”. Prevalência excepcional do critério cronológico. Precedente da Terceira Turma. 5. Derrogação tácita dos dispositivos de leis tributárias anteriores que condicionavam o ato de arquivamento na Junta Comercial à apresentação de certidão negativa de débitos. 6. Interpretação condizente com o princípio constitucional da livre-iniciativa. STJ. REsp 1.103.009/RS, Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª Seção, j. 09.12.2009, DJe 01.02.2010 A inscrição e modificação dos dados no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ devem ser garantidas a todas as empresas legalmente constituídas, mediante o arquivamento de seus estatutos e suas alterações na Junta Comercial Estadual, sem a imposição de restrições infralegais, que obstaculizem o exercício da livre-iniciativa e desenvolvimento pleno de suas atividades econômicas. A Lei n.º 5.614/70, que versa sobre o cadastro federal de 48 contribuintes, outorgou ao Ministro da Fazenda o dever de regular o instrumento de registro, para dotar o sistema de normas procedimentais para viabilizar a inscrição e atualização dos dados, sem permitir que imposições limitadoras da livre-iniciativa restassem veiculadas sob o jugo da mencionada lei. As turmas da Primeira Seção desta Corte já assentaram que é ilegítima a criação de empecilhos, mediante norma infralegal, para a inscrição e alteração dos dados cadastrais no CNPJ. Precedentes: REsp. 760.320/RS, DJU 01.02.07; REsp. 662.972/RS, DJU 05.10.06; REsp. 411.949/PR, DJU 14.08.06; REsp. 529.311/RS, DJU 13.10.03 e; RMS 8.880/CE, DJU 08.02.00. 4. Conforme cediço, “o sócio de empresa que está inadimplente não pode servir de empecilho para a inscrição de nova empresa pelo só motivo de nele figuraro remisso como integrante” STJ. REsp 678.405/RJ, 3.ª Turma, Rel. Min. Castro Filho, j. 16.03.2006, DJ 10.04.2006. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça tem decidido pela competência da Justiça Federal, nos processos em que figuram como parte a Junta Comercial do Estado, somente nos casos em que se discute a lisura do ato praticado pelo órgão, bem como nos mandados de segurança impetrados contra seu presidente, por aplicação do artigo 109, VIII, da Constituição Federal, em razão de sua atuação delegada. 2. Em casos em que particulares litigam acerca de registros de alterações societárias perante a Junta Comercial, esta Corte vem reconhecendo a competência da justiça comum estadual, posto que uma eventual decisão judicial de anulação dos registros societários, almejada pelos sócios litigantes, produziria apenas efeitos secundários para a Junta Comercial do Estado, fato que obviamente não revela questão afeta à validade do ato administrativo e que, portanto, afastaria o interesse da Administração e, consequentemente, a competência da Justiça Federal para julgamento da causa. STJ. REsp 1.743.088-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/03/2019, DJe 22/03/2019 O registro do título translativo no Cartório Registro de Imóveis, como condição imprescindível à transferência de propriedade de bem imóvel entre vivos, propugnada pela lei civil, não se confunde, tampouco pode ser substituído para esse efeito, pelo registro do contrato social na Junta Comercial. A questão controvertida está em saber se a constituição de sociedade empresarial, registrada em Junta Comercial, com a estipulação de integralização do capital social por meio de imóveis, indicados pelo sócio, é suficiente para operar a transferência da propriedade. Assinala-se, inicialmente, que o estabelecimento do capital social — assim compreendido como os recursos a serem expendidos pelos sócios para a formação do primeiro patrimônio social, necessários para a constituição da sociedade —, e o modo pelo qual se dará a sua integralização, consubstanciam elementos essenciais à confecção do contrato social (art. 997, III e IV, do Código Civil). A integralização do capital social da empresa, ademais, pode se dar por meio da realização de dinheiro ou bens — móveis ou imóveis —, havendo de se observar, necessariamente, o modo pelo qual se dá a transferência de titularidade de cada qual. Em se tratando de imóvel, a incorporação do bem à sociedade empresarial haverá de observar, detidamente, os ditames do art. 1.245 do Código Civil, que dispõe: transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis. Nesse sentido, já se pode antever que o registro do título translativo no Registro de Imóveis, como condição imprescindível à transferência de propriedade de bem imóvel entre vivos, propugnada pela lei civil, não se confunde, tampouco pode ser substituído para esse efeito, pelo registro do contrato social na Junta Comercial. 49 De fato, a inscrição do contrato social no Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comercias, destina-se, primordialmente, à constituição formal da sociedade empresarial, conferindo-se-lhe personalidade jurídica própria, absolutamente distinta dos sócios dela integrantes. Explicitado, nesses termos, as finalidades dos registros em comento, pode-se concluir que o contrato social, que estabelece a integralização do capital social por meio de imóvel indicado pelo sócio, devidamente inscrito no Registro Público de Empresas Mercantis, não promove a incorporação do bem à sociedade; constitui, sim, título translativo hábil para proceder à transferência da propriedade, mediante registro, perante o Cartório de Registro de Imóveis em que se encontra registrada a matrícula do imóvel. Portanto, enquanto não operado o registro do título translativo — no caso, o contrato social registrado perante a Junta Comercial — no Cartório de Registro de Imóveis, o bem, objeto de integralização, não compõe o patrimônio da sociedade empresarial. STJ. REsp 1.393.724-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/10/2015, DJe 4/12/2015. Para efetuar o registro e o arquivamento de alteração contratual, a fim de promover a transformação de sociedade civil em empresária, não é exigível a apresentação de certidões negativas de débitos com o FGTS e com a União, exigindo-se, contudo, certidão negativa de débito com o INSS. Realmente, o Decreto-Lei n. 1.715/1979 e a Lei n. 8.036/1990 exigem, para o registro e o arquivamento de alteração contratual como a aqui analisada, a apresentação de certidões negativas de débitos com o FGTS e com a União. Ocorre que a Lei n. 8.934/1994 - que entrou em vigor posteriormente a esses mencionados diplomas normativos - estabeleceu, no parágrafo único do seu art. 37, que, para instruir os pedidos de arquivamento, além dos referidos nesse artigo (dentre os quais não constam certidões negativas de débitos com o FGTS ou com a União), "nenhum outro documento será exigido das firmas individuais e sociedades referidas nas alíneas a, b e d do inciso II do art. 32". Nesse contexto, a Terceira Turma, no REsp 1.290.954-SC (DJe 25/2/2014), firmou entendimento no sentido de que Lei n. 8.934/1994 derrogou os dispositivos de leis anteriores que estabeleciam outras exigências para o arquivamento de atos societários nas Juntas Comerciais. No referido julgado, confrontou-se a Lei n. 8.934/1994 com as leis tributárias anteriores, identificando-se uma antinomia de segundo grau, em que há conflito entre os critérios cronológico e da especialidade. Concluiu-se, então, que há de prevalecer o critério cronológico, pois o enunciado normativo "nenhum outro documento será exigido", contido na Lei n. 8.934/1994, tem conteúdo nitidamente derrogatório, excluindo a possibilidade de subsistirem leis anteriores em sentido contrário. Portanto, não mais subsistem as exigências de certidões negativas de débitos com o FGTS e com a União, porque previstas em leis anteriores (Decreto-Lei n. 1.715/1979 e Lei n. 8.036/1990). Prevalece, apenas, a exigência de certidão negativa do INSS, pois inserida na Lei n. 8.212/1991 por força da Lei n. 9.032/1995, que é posterior à Lei n. 8.934/1994. Além disso, cabe ressaltar que, de fato, o parágrafo único do art. 34 do Decreto n. 1.800/1996 afirma que, obrigatoriamente, para instruir os pedidos de arquivamento, "Nenhum outro documento, além dos referidos neste Regulamento, será exigido das firmas mercantis individuais e sociedades mercantis, salvo expressa determinação legal, reputando-se como verdadeiras, até prova em contrário, as declarações feitas perante os órgãos do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins". Percebe-se, desse modo, que o Decreto foi bastante claro, diversamente da lei, 50 quanto à possibilidade de se exigirem outros documentos por determinação legal. Deve-se indagar, entretanto, se o Decreto extrapolou as balizas da Lei. Ademais, uma interpretação sistemática dos arts. 32 da Lei n. 8.934/1994 e 11 da LC n. 123/2006 poderia conduzir ao entendimento de que não teria havido derrogação de dispositivos de leis anteriores à Lei n. 8.934/1994. Todavia, o entendimento do aludido REsp 1.290.954-SC, da Terceira Turma do STJ, deve ser reafirmado. Isso porque a interpretação da lei deve privilegiar o sentido que mais se harmoniza com os princípios constitucionais, pois estes se encontram no vértice da pirâmide normativa, de onde emanam normas fundamentais que se irradiam por todo ordenamento jurídico, alcançando inclusive as relações jurídicas de direito privado. Com esse entendimento, a interpretação do caso em análise deve ser conduzida pelos princípios fundamentais da ordem econômica, especialmente o da livre iniciativa, previsto no art. 170 da CF. Sob a ótica da livre iniciativa, o Estado deve respeitara autonomia de vontade dos sócios de uma sociedade, não podendo impedir que estes criem, modifiquem ou extingam sociedades empresárias, salvo nos casos expressamente previstos em lei. A regra no direito brasileiro, portanto, é a livre iniciativa e a autonomia da vontade dos sócios, sendo exceção a interferência estatal. Nesse passo, verifica-se que a norma do art. 37 da Lei n. 8.934/1994, ao impor exigências para a concretização da vontade dos sócios, apresenta natureza excepcional num sistema jurídico regido pela livre iniciativa, devendo, pois, receber interpretação restritiva. Desse modo, o trecho "nenhum outro documento será exigido" (art. 37, parágrafo único, da Lei n. 8.934/1994) não pode receber interpretação extensiva, para que se admitam outras restrições à autonomia de vontade dos sócios, previstas em leis anteriores. De mais a mais, ressalte- se que, além de a dispensa de certidões negativas não alterar em nada o crédito tributário - que permanece ativo, podendo ser redirecionado contra a nova sociedade (que surgiu por transformação da sociedade simples em sociedade empresária), conforme o disposto no art. 132 do CTN -, a Fazenda, nos casos excepcionais em que a transformação societária seja implementada com o objetivo deliberado de frustrar a satisfação do crédito tributário, poderá se valer da desconsideração da personalidade jurídica ou da cautelar fiscal para proteger seus interesses. Nome Empresarial STJ. REsp 1.804.960-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Terceira Turma, por maioria, julgado em 24/09/2019, DJe 02/10/2019 O registro de uma expressão como marca, ainda que de alto renome, não afasta a possibilidade de utilizá-la no nome de um empreendimento imobiliário. A marca é um sinal distintivo que tem por funções principais identificar a origem e distinguir produtos ou serviços de outros idênticos, semelhantes ou afins. Os nomes atribuídos aos edifícios e empreendimentos imobiliários não gozam de exclusividade, sendo comum receberem idêntica denominação. Estes nomes, portanto, não qualificam produtos ou serviços, apenas conferem uma denominação para o fim de individualizar o bem, sendo assim de livre atribuição pelos seus titulares e não requer criatividade ou capacidade inventiva. Dessa forma, o registro de uma expressão como marca, ainda que de alto renome, não afasta a possibilidade de utilizá-la no nome de um edifício. A exclusividade conferida pelo direito marcário se limita às atividades empresariais, sem atingir os atos da vida civil. 51 STJ. REsp 1.420.396-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, por unanimidade, julgado em 19/09/2017, DJe 29/09/2017 A controvérsia jurídica está em definir se os Conselhos Regionais de Contabilidade, no exercício de seu poder de polícia, detêm ou não a prerrogativa de fiscalizar a atuação de seus associados, sobretudo mediante o exame dos livros e documentos contábeis de sua clientela, bem assim, se tal agir configuraria violação à garantia da privacidade e do sigilo profissional. Conforme se depreende do art. 1.190 do Código Civil, apenas nos casos previstos em lei poderá a autoridade, juiz ou tribunal requisitar livros e fichas contábeis do empresário ou sociedade empresária para verificar a observância das formalidades legais. Na hipótese, o Presidente do Conselho Regional de Contabilidade, autoridade administrativa que é, possui ostensivo respaldo em lei para o exercício da atividade fiscalizatória sob crítica. De fato, tal licença fiscalizatória advém do Decreto-Lei n. 9.295/46, que criou o Conselho Federal de Contabilidade e os Conselhos Regionais de Contabilidade. Já no art. 2º desse diploma vem assinalado que "A fiscalização do exercício da profissão contábil, assim entendendo-se os profissionais habilitados como contadores e técnicos em contabilidade, será exercida pelo Conselho Federal de Contabilidade e pelos Conselhos Regionais de Contabilidade a que se refere o art. 1º". No mesmo diapasão, seu art. 10, letra "c", preconiza ser atribuição dos Conselhos Regionais "fiscalizar o exercício das profissões de contador e guarda-livros, impedindo e punindo as infrações, e bem assim, enviando às autoridades competentes minuciosos e documentados relatórios sobre fatos que apurem, e cuja solução ou repressão não seja de sua alçada". Dessa forma, como de fato existe previsão legal específica para o exercício fiscalizatório pelos Conselhos de Contabilidade, pode-se concluir que a salvaguarda empresarial prevista no reportado art. 1.190 do Código Civil está sendo respeitada. Por fim, assevera- se que a fiscalização exercida tem por foco central verificar, não o mérito em si, mas os aspectos relacionados à forma, ou seja, atestar se o profissional da contabilidade, na sua rotina de trabalho, observa as normas técnicas concernentes à atividade contábil. Sendo esse o propósito primeiro da fiscalização desenvolvida pela entidade classista, não se antevê afronta à privacidade e ao sigilo profissional dos escritórios fiscalizados e da escrituração contábil de seus clientes. STJ. REsp 1184867/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 15/05/2014, DJe 06/06/2014 Com fundamento no princípio da territorialidade, a simples preexistência do registro do nome empresarial em Junta Comercial do Estado não lhe confere proteção, em âmbito nacional, em face de marca ulteriormente registrada no INPI. Para que a reprodução ou imitação de nome empresarial de terceiro constitua óbice a registro de marca, à luz do princípio da territorialidade, faz-se necessário que a proteção ao nome empresarial não goze de tutela restrita a um Estado, mas detenha a exclusividade sobre o uso em todo o território nacional. Porém, é incontroverso da moldura fática que o registro dos atos constitutivos da autora foi feito apenas na Junta Comercial de Blumenau/SC. A Convenção da União de Paris de 1883 - CUP deu origem ao sistema internacional de propriedade industrial com o objetivo de harmonizar o sistema protetivo relativo ao tema nos países signatários, do qual faz parte o Brasil (). É verdade que o art. 8º da dita Convenção estabelece que "O nome comercial será protegido em todos os países da União, sem obrigação de depósito ou de registro, quer faça ou não parte de uma marca de 52 fábrica ou de comércio." Não obstante, o escopo desse dispositivo é assegurar a proteção do nome empresarial de determinada sociedade em país diverso do de sua origem, que seja signatário da CUP, e não em seu país natal, onde deve-se atentar às leis locais. O artigo 124, XIX, da Lei da Propriedade Industrial veda o registro de marca que reproduza outra preexistente, ainda que em parte e com acréscimo "suscetível de causar confusão ou associação com marca alheia". Sob o enfoque pelo ângulo do direito marcário, a possibilidade de confusão e/ou associação entre as marcas é notória, por possuírem identidade fonética e escrita quanto ao elemento nominativo e ambas se destinarem ao segmento mercadológico médico. Assim, é inviável admitir a coexistência de tais marcas. Logo, a simples preexistência do registro do nome empresarial em Junta Comercial do Estado não lhe confere proteção, em âmbito nacional, em face de marca ulteriormente registrada no INPI 53 ESTUDO COMPLEMENTAR Simulado OAB com relatório de desempenho Faça um simulado completo da prova com relatório de desempenho para saber como está indo! Lembre-se, você tem direito a 4 simulados no curso de PDF, que estão disponíveis na sua área do aluno. Basta clicar no ícone ao lado para entrar na plataforma estudeadverum.com.br. App OABeiros Baixe o app OABeiros e fique por dentro das melhores dicas e dos melhores conteúdos para a OAB! Por lá você não só tem acesso a simulados gratuitos de 1ª e 2ª fase como também tem um Vade Mecum online completo, dicas curtas dos professores e aulas completas sobre assuntos chave para a prova! 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DIREITO EMPRESARIAL .................................................................................................................................................... 3 3. Da Sociedade ............................................................................................................................................................. 3 3.1 Disposições Gerais ...................................................................................................................................... 3 3.2 Da sociedade não personificada ............................................................................................................. 4 3.3 Da sociedade comum ................................................................................................................................ 4 3.4 Da sociedade em conta de participação ............................................................................................... 5 3.5 Da sociedade personificada ..................................................................................................................... 6 3.6 Desconsideração da personalidade jurídica da sociedade empresária ......................................... 10 3.7 Da distinção entre sociedade empresária e não empresária .......................................................... 12 3.8 Da classificação das sociedades ............................................................................................................ 14 3.9 Das sociedades de pessoas .................................................................................................................... 15 3.10 Da sociedade simples .............................................................................................................................. 16 3.11 Da sociedade limitada ............................................................................................................................. 21 3.12 Da sociedade anônima ............................................................................................................................ 28 QUESTÕES .......................................................................................................................................................................... 47 GABARITO COMENTADO........................................................................................................................................... 58 JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 61 LEGISLAÇÃO COMPILADA ......................................................................................................................................... 64 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................................................. 66 2 E ai, OABeiro! Tudo certinho? A apostila de número 03 do nosso curso de Direito Empresarial tratará sobre Sociedades Empresárias, matéria que já foi objeto de perguntas no Exame de Ordem ao decorrer desses anos! De acordo com a nossa equipe de inteligência, esse assunto esteve presente 14 VEZES nos últimos 3 anos, sendo considerado um assunto de altíssima relevância. Aqui vai uma dica: Dê uma atençãozinha a mais aos assuntos de Sociedade limitada e Sociedade Anônima. Estes temas foram mais abordados no Exame de Ordem! 😉 Aqui, a banca costuma seguir o seu padrão: Apresentar um caso hipotético, pelo qual a resposta é respaldada na legislação vigente. Por isso, recomendamos a leitura atenta da letra seca da lei e entendimentos jurisprudenciais, e sempre em companhia de alguma doutrina à sua escolha. Lembre-se: A resolução de questões é a chave para a aprovação! Vamos juntos! 3 DIREITO EMPRESARIAL Capítulo 3 Neste capítulo estudaremos o direito societário, a fim de compreender a sistemática do regime jurídico das sociedades empresárias no Brasil. Este tema abrange assuntos de incidência altíssima no Exame da Ordem, em especial as regras gerais sobre as sociedades. 3. Da Sociedade 3.1 Disposições Gerais As sociedades são pessoas jurídicas de direito privado, nos termos do art. 44, II, do Código Civil. Dependendo do seu objeto, podem ser simples, quando tem por fim o exercício de atividade civil, ou empresária, quando se destinam ao desenvolvimento de atividade empresarial. A diferença entre sociedade simples e empresária está no modo de exploração de seu objeto social. Se essa exploração for feita mediante a organização dos fatores de produção (capital, insumos, mão-de-obra e tecnologia), nos moldes do art. 966 do Código Civil, será empresária. Se feita sem essa organização, será considerada simples. Os serviços antes estavam ligados à sociedade civil, que não se sujeitava à falência; atualmente, como os serviços também são prestados por sociedades empresárias, é cabível a falência. Contudo, é importante observar, desde já, que as regras das sociedades simples são aplicadas subsidiariamente às normas que regem as sociedades empresárias. Logo, sempre que ausente disposição normativa sobre estas, aplicar-se-ão os preceitos que regem aquelas, contanto que compatíveis com o regime jurídico empresarial. Conforme art. 981 do Código Civil, celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha dos resultados entre si. 4 As pessoas que compõem a sociedade, em regra, podem ser físicas ou jurídicas, elas podem contribuir com bens ou serviços e a atividade a ser desenvolvida pode estar restrita à realização de um ou mais negócios (art. 981, parágrafo único, CC/02). 3.2 Da sociedade não personificada As sociedades podem ter ou não personalidade jurídica. As sociedades sem personalidade jurídica (sociedades não personificadas) são aquelas que, apesar de já desenvolverem atividade econômica organizada, não tiveram seus atos constitutivos registrados. Essas sociedades podem exercer atividades empresariais ou civis. As sociedades sem personalidade jurídica, que podem ser sociedade em comum ou sociedade em conta de participação, são representadas em juízo pela pessoa a que couber a administração de seus bens (art. 75, inciso IX, do Código de Processo Civil). 3.3 Da sociedade comum É a sociedade que não possui ato constitutivo devidamente registrado. A sociedade será em comum enquanto o ato constitutivo não for arquivado, exceto em relação às sociedades por ações que estão em fase de organização (que são sempre sociedades empresárias, mesmo que o ato constitutivo ainda não tenha sido arquivado). Aplicam-se às sociedades em comum, de modo subsidiário, a disciplina das sociedades simples. A doutrina considera sociedade em comum irregular aquela que o ato constitutivo não foi levado a registro e sociedade em comumde fato a que sequer conta com ato constitutivo. A prova da existência da sociedade por terceiros, se dá de qualquer modo, mas entre os sócios entre si ou com os terceiros se dá apenas por meio documental. O patrimônio especial da sociedade em comum é o conjunto de bens afetados ao exercício da atividade, do qual são titulares todos os sócios. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade. 5 3.4 Da sociedade em conta de participação Ainda que registrada, permanece se personalidade jurídica. Diante de sua natureza secreta, nunca possuirá nome empresarial. Aplicam-se subsidiariamente as regras das sociedades simples. Sócio ostensivo aporta capital e administra. O Sócio participante somente aporta capital, permanecendo oculto. Responderão frente a terceiros apenas os sócios ostensivos, respondendo os sócios participantes se praticarem ato de gestão. A sociedade em conta de participação não pode ser declarada falida, sem embargo, os sócios ostensivos e participantes podem falir. Despersonificada que é, a sociedade em conta de participação não possui autonomia patrimonial. Interessante notar que, ainda que conte com um ato constitutivo e este seja levado a registro, ainda assim não irá contar com personalidade jurídica. O registro da sociedade em conta de participação terá o condão de, unicamente, formalizar a sua constituição e dirimir eventuais dúvidas em relação ao conteúdo da convenção social. Ademais, a existência de um contrato social da sociedade em conta de participação produzirá efeitos unicamente entre os seus signatários. A sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade para sua constituição, bastando a existência da affectio societatis (vontade de formar sociedade), podendo provar-se por todos os meios de direito. A sociedade em conta de participação é integrada por duas classes de sócios: a dos sócios ostensivos e dos sócios participantes (ou ocultos), podendo ser constituída por pessoa jurídica. Na conta de participação, o sócio ostensivo é o empreendedor que entra com capital e capacidade laboral, enquanto o sócio participante tem atuação restrita à entrega do capital para a consecução do fim social, participando ao final dos resultados correspondentes. Desse modo, a partir da contribuição das duas classes de sócios, forma-se o patrimônio especial da sociedade, que é exatamente o fundo social constituído para o desenvolvimento da atividade. Em matéria de responsabilidade pelos negócios jurídicos da sociedade, obriga-se perante terceiros tão somente o sócio ostensivo e, exclusivamente perante este, o sócio participante (limitada ou ilimitadamente, dependendo do que dispuser a convenção). Isto porque, considerando não estarem dotadas de personalidade jurídica, as sociedades em conta de 6 participação não podem assumir obrigações em nome próprio, exercendo unicamente o sócio ostensivo (em seu nome individual), a atividade constitutiva do objeto social, respondendo direta e ilimitadamente pelas obrigações sociais (apenas os sócios ostensivos podem exercer a atividade constitutiva do objeto social). Sem embargo, se porventura houver participação conjunta de sócios ostensivos e participantes na celebração de negócios, todos serão solidariamente responsáveis perante o terceiro com quem efetivaram contrato em nome da sociedade. Ainda que investido de poder para condução da sociedade, ao sócio ostensivo é vedado admitir novo sócio sem o consentimento expresso dos demais, salvo disposição em contrário. Enquanto a sua liquidação, rege-se sociedade em conta de participação pelas normas relativas à prestação de contas. No que concerne à falência, cumpre destacar que, uma vez decretada a falência de sócio ostensivo, haverá a dissolução da sociedade e a liquidação da respectiva conta, cujo saldo constituirá crédito quirografário. Por outro lado, na hipótese de falência de sócio participante, o contrato social ficará sujeito às normas que regulem os efeitos da falência nos contratos bilaterais do falido. A sociedade em conta de participação, ainda que tenha seu ato constitutivo levado a registro, não terá personalidade jurídica (art. 993 do Código Civil). 3.5 Da sociedade personificada As sociedades dotadas de personalidade jurídica (sociedades personificadas) são aquelas cujos atos constitutivos foram objeto de registro nos órgãos competentes e, por força de lei, são consideradas pessoas jurídicas. A sociedade existe desde o momento em que há o acordo de vontades, mas a personalidade jurídica é adquirida apenas com o registro dos atos constitutivos da sociedade no respectivo órgão. 7 Como supedâneo da personalidade jurídica que possuem, à sociedade são atribuídas as autonomias negocial (capacidade da sociedade para, em nome próprio, celebrar os negócios jurídicos necessários ao desenvolvimento de seu objeto social), processual (capacidade da sociedade para, em nome próprio, defender seus interesses em juízo) e patrimonial (capacidade da sociedade para, em nome próprio, ser titular de patrimônio. Permite a separação entre o patrimônio da sociedade e o patrimônio pessoal dos sócios). A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, preenchidos os requisitos legais, requerer a inscrição na Junta Comercial. Depois de inscrita, a sociedade será equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária. Se a sociedade em comento já estiver constituída, o pedido de registro estará subordinado às regras de transformação (art. 984 do CC/02). Nesse sentido, importante frisar que esse registro é facultativo; uma vez feito, equipara-se a sociedade a sociedade empresária para fins legais. Oportunamente, frise-se três espécies de sociedades personificadas previstas no CC/02. I. Sociedade em nome coletivo: A sociedade em nome coletivo é regida de forma direta pelo Código Civil (art. 1.039 ao 1.044), aplicando-se subsidiariamente as normas da sociedade simples (art. 997 ao 1.038). Trata- se de sociedade de pessoas. A sociedade em análise é personificada e formada exclusivamente por pessoas físicas, tendo como ato constitutivo um contrato social. Todos os sócios respondem de forma solidária e ilimitada pelas obrigações sociais. Sem prejudicar a responsabilidade perante terceiros, os sócios podem, no ato constitutivo ou por convenção posterior unânime, limitar entre si a responsabilidade cada um (art. 1.039 do CC/02). Essa possibilidade de limitar a responsabilidade por disposição contratual só produz efeitos entre os sócios. 8 Em razão da inconteste existência de responsabilidade ilimitada dos sócios, o Código Civil estabelece que o credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a sociedade, pretender a liquidação de quota do devedor. O Diploma salienta que o credor particular só poderá fazê-lo quando a sociedade tiver sido prorrogada tacitamente e quando, diante de prorrogação contratual, haja acolhimento judicial da oposição do credor, que deve ser levantada no prazo de noventa dias contado da publicação do ato dilatório (art. 1.043 do CC/02). A administração da sociedade em nome coletivo pode ser exercida apenas por quem for sócio. No caso de falecimento de sócio, se o contrato social da sociedade não dispuser a respeito, opera-se a liquidação das quotas do de cujus. Para que os sucessores do sócio falecido possam ingressar na sociedade, ainda que contra a vontade dos sobreviventes, será indispensávelexpressa previsão no contrato social. II. Sociedade em comandita simples: A sociedade em comandita simples é regida pelo Código Civil (art. 1.045 ao 1.051), aplicando-se subsidiariamente as normas da sociedade em nome coletivo (1.039 ao 1.044). Também consubstancia sociedade de pessoas. Trata-se de uma sociedade personificada, que tem como ato constitutivo um contrato social, sendo formada por duas classes de sócios: a dos sócios comanditados (que respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais) e a dos sócios comanditários (que respondem limitadamente pelas obrigações sociais). Os sócios comanditados devem ser pessoas físicas, entrando com trabalho e capital, assumindo a administração da sociedade e, portanto, respondendo de forma ilimitada pelas obrigações sociais. Os sócios comanditários, por sua vez, podem ser pessoas físicas ou jurídicas, não exercendo função de administração e, portanto, respondendo apenas pela integralização das quotas adquiridas (ou seja, de forma limitada). 9 Apenas os sócios comanditados podem ser administradores das sociedades em comandita simples. Não obstante, os sócios comanditários poderão receber poderes especiais por meio de procuração para a realização de negócios determinados. Conta com o benefício de ordem (art. 1.024, CC), respondendo em primeira mão, o patrimônio social. Caso este não seja suficiente para satisfazer as obrigações assumidas, poderá ser acionado o patrimônio pessoal dos sócios comanditários, de forma ilimitada. Os sócios comanditários são responsáveis apenas pelo valor das suas quotas. Da mesma forma que os sócios comanditados, os sócios comanditários têm o direito de participar da distribuição dos lucros da sociedade, na medida de suas respectivas quotas. Têm, ainda, o direito de participar das deliberações da sociedade, assim como o direito de fiscalizar a sua administração. No caso de falecimento de um sócio comanditado, dar-se-á a dissolução parcial da sociedade, salvo previsão no contrato social que autorize o ingresso de sucessores. No caso de falecimento de um sócio comanditário, em princípio, não haverá dissolução (art. 1.050, CC). III. Sociedade em comandita por ações: A sociedade em comandita por ações é regida pela Lei 6.404/76 (art. 280 a art. 284) e pelos arts. 1.090 a 1.092 do Código Civil. Trata-se de uma sociedade empresária personificada, com capital social dividido em ações. É uma sociedade de capital, sendo livre o ingresso de terceiros estranhos ao seu quadro social. Portanto, há livre circulação de ações. Tem como ato constitutivo um estatuto social, sendo formada por duas classes de sócios. Os sócios diretores são os que exercem cargo de administração, respondendo de forma subsidiária (dado o benefício de ordem) e ilimitada pelas obrigações sociais, e os sócios 10 comuns, que não exercem cargo de administração e respondem de forma limitada pelas obrigações sociais. Somente sócio ou acionista podem ocupar cargo de administração nas sociedades em comandita por ações. Os diretores serão nomeados no ato constitutivo da sociedade, sem limitação de tempo, e somente poderão ser destituídos por deliberação dos acionistas que representem no mínimo 2/3 do capital social. O diretor destituído ou exonerado continua, durante dois anos, responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração. Os acionistas, reunidos em Assembleia geral, não podem (mesmo com aprovação assemblear), sem o consentimento dos diretores da sociedade, mudar o objeto social, prorrogar o prazo de duração da sociedade, aumentar ou diminuir o capital social nem criar debêntures ou partes beneficiárias. Em que pese às sociedades em comandita por ações seguirem as disposições concernentes às sociedades anônimas, a elas não se aplicam as regras sobre o Conselho de Administração, a autorização estatutária de aumento de capital, e a emissão de bônus de subscrição. 3.6 Desconsideração da personalidade jurídica da sociedade empresária A teoria desconsideração da personalidade jurídica, também chamada de teoria da penetração, teoria da superação e disregard of legal entity doctrine, busca afastar, temporariamente, a personalidade da pessoa jurídica para atingir o patrimônio das pessoas físicas que a integram. Nesse sentido, tem como efeito a desconsideração da personalidade no caso concreto, não havendo que se falar em desfazimento da pessoa jurídica. Existem, em síntese, duas teorias que buscam a sua aplicação, quais sejam a teoria maior e a teoria menor. A Teoria Maior, adotada pelo art. 50 do Código Civil, dispõe ser possível a desconsideração quando houver abuso da personalidade jurídica, seja pelo desvio de finalidade (teoria maior subjetiva, como quando a personalidade jurídica tem sido utilizada para fins diversos, como para esconder patrimônio dos sócios), seja pela confusão patrimonial (teoria maior objetiva, como quando os sócios utilizam os bens sociais como se seus fossem). 11 A Teoria Menor, adotada pelo art. 28 do Código de Defesa do Consumidor, pelo art. 4º da Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais) e pelo art. 34 da Lei nº 12.529/2011 (Lei de Defesa da Concorrência e da Ordem Econômica), prevê que a desconsideração pode ocorrer ainda que não haja abuso da personalidade jurídica, bastando a simples inexistência de ativos. A desconsideração da personalidade jurídica pode se dar por meio de pedido em petição inicial ou por meio de incidente no processo. É cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial (art. 134 do CPC/15). Fala-se, ainda, em situação inversa, que ocorre quando a pessoa física passa os seus bens para a pessoa jurídica para se livrar de dívidas particulares, sendo possível desconsiderar a personalidade da pessoa jurídica de forma inversa, para buscar os bens integrantes da pessoa jurídica e quitar as dívidas da pessoa física. Antes, a desconsideração inversa se dava por meio da intepretação teleológica do art. 50 do CC/02. No entanto, com o advento do CPC/15, tal instituto reverenciado pelo art. 133, §2º, do CPC/15. Se liga OABeiro! Após a publicação da Medida Provisória n.º 881, de 30 de abril de 2019, passaram a vigorar novas regras referentes à desconsideração da personalidade jurídica, com alteração do art. 50 do CC e inserção de diversos parágrafos no dispositivo, sendo importante o conhecimento do aluno acerca do tema. Destaque-se que o tema deverá ser submetido à análise do Congresso Nacional, observadas as regras do art. 62 da CF/88. Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. § 1º Para fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização dolosa da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza. § 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por: 12 I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa; II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto o de valor proporcionalmente insignificante; e III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. § 3º O disposto no caput e nos § 1º e § 2º também se aplica à extensão das obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica. § 4º A mera existência de grupo econômico sem a presençados requisitos de que trata o caput não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica. § 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica. 3.7 Da distinção entre sociedade empresária e não empresária Conforme mencionado inicialmente, denomina-se sociedade empresária aquela que desenvolve empresa (atividade empresária). A seu turno, as sociedades simples são sociedades personificadas para o exercício de atividades civis (não empresárias), como no caso, por exemplo, de uma sociedade de advogados. As sociedades simples têm como ato constitutivo um contrato social, que deve materializar as cláusulas e requisitos dispostos no art. 997 do CC e ter a sua inscrição requerida ao Registro Civil de Pessoas Jurídicas (RCPJ) nos trinta dias subsequentes a sua celebração (art. 998 do Código Civil), com vistas ao nascimento de sua personalidade jurídica. A sociedade empresária, por sua vez, deve ser registrada na Junta Comercial, tendo como ato constitutivo o contrato/estatuto social. As sociedades empresárias podem ser classificadas segundo a responsabilidade dos sócios, o regime de constituição e dissolução e segundo a composição. Tais elementos serão analisados no decorrer deste capítulo. A diferença básica entre as sociedades simples e as empresárias está no modo de exploração do seu objeto social, ou seja, na qualificação ou não da atividade exercida como empresária. 13 Se essa exploração for feita com organização profissional dos fatores de produção, será empresária, se não, será simples. Algumas sociedades serão simples ou empresárias independentemente de seu objeto social. As cooperativas1, por previsão em lei específica, são registradas nas Juntas Comerciais, mas são consideradas sociedades simples. As sociedades por ações (sociedade anônima e sociedade em comandita por ações) são consideradas sempre empresárias, conforme art. 982, parágrafo único, do Código Civil. SOCIEDADES SIMPLES SOCIEDADES EMPRESÁRIAS Sociedade simples pura *Sociedade cooperativa (sempre simples, regida pela Lei n. 5.764/71); Sociedade em nome coletivo; Sociedade simples impura *Sociedades que devem adotar um tipo societário por determinação legal; Sociedade em comandita simples; Sociedade limitada; Sociedade anônima; Sociedade em comandita por ações; 1 Questão 05 14 3.8 Da classificação das sociedades I. Quanto ao ato constitutivo: As sociedades podem ser contratuais ou estatutárias (também conhecidas como institucionais). São contratuais as sociedades constituídas por contrato social, o qual se caracteriza pela existência de um duplo vínculo (um vínculo dos sócios entre si e outro vínculo dos sócios para com a sociedade). Seu capital social é dividido em quotas, sendo os titulares denominados cotistas. São sociedades contratuais as sociedades em nome coletivo, em comandita simples e limitada. São estatutárias as sociedades constituídas por estatuto social, o qual se caracteriza pela existência de um único vínculo (dos sócios para com a sociedade), não havendo vínculos dos sócios entre si. Seu capital social está dividido em ações, sendo os titulares denominados acionistas. São sociedades estatutárias as sociedades anônimas e as em comandita por ações. II. Quanto à responsabilidade dos sócios:2 Quanto a sua responsabilidade, os sócios podem responder de forma limitada ou ilimitada, a depender do tipo societário empresário adotado. Não obstante, importante aclarar que, quando se fala na responsabilidade dos sócios em razão do tipo societário, está se referindo ao patrimônio pessoal dos sócios, tendo em vista que, o patrimônio social, independentemente do tipo societário, responderá sempre de forma ilimitada. É de destacar-se também que, em relação às sociedades personificadas, como regra, o patrimônio pessoal será alcançado apenas diante da impossibilidade de o patrimônio social solver as obrigações sociais, respondendo de forma subsidiária, respeitados os parâmetros legais. Sendo ilimitada a responsabilidade, o patrimônio pessoal dos sócios responde subsidiária. Sendo limitada a responsabilidade, o patrimônio pessoal dos sócios não será atingido, salvo hipótese excepcional de desconsideração da personalidade jurídica e na integralização das quotas do sócio remisso na sociedade limitada. 2 Questão 07 15 Há ainda sociedades nas quais parte dos sócios responde LIMITADAMENTE pelas obrigações sociais e parte ILIMITADAMENTE (responsabilidade mista), nos casos das sociedades em comandita. 3.9 Das sociedades de pessoas As sociedades de pessoas integram outra classificação das sociedades, aquela elaborada quanto às condições para alienação da participação societária. Nesse sentido, as sociedades podem ser de pessoas ou de capital. SOCIEDADES DE PESSOAS SOCIEDADES DE CAPITAL Foco nos atributos pessoais dos sócios (Foco nas pessoas) Foco na contribuição financeira dos sócios (Foco no capital) Como regra, o ingresso de terceiros no quadro social depende de autorização unânime dos sócios. Atenção: Na sociedade limitada, não dispondo o contrato social sobre a possibilidade de cessão de quotas, será possível cedê-las a terceiros estranhos, desde que não haja oposição por parte de sócios que representem mais de ¼ do capital social, nos termos do art. 1.057, CC. Dado seu caráter pessoal, não há livre circulação de quotas. Basta à subscrição para o ingresso de terceiros no quadro social. Acionistas não podem opor-se a entrada de outros sócios (prevalece princípio da livre circulação de ações) 16 Reunião de pessoas Reunião de bens e valores São sociedades de pessoas: N/C e C/S São sociedades de capital: C/A e S/A A doutrina admite apenas a penhora dos direitos patrimoniais resultantes das quotas, como lucros e haveres, mas não a transferência da cota em si. Com a morte de um sócio, na sociedade de pessoas haverá a dissolução das quotas correspondentes entre os sócios, no caso dos sócios sobreviventes não concordarem com o ingresso do sucessor. Na sociedade de capital a sucessão ocorrerá normalmente, independentemente da aquiescência dos demais sócios. A sociedade limitada é um tipo societário híbrido, ou seja, poderá assumir tanto a forma de sociedade de pessoas, como a de sociedade de capital, devendo tal opção estar refletida no contrato social. Sem embargo, na ausência de cláusula contratual expressa indicando tratar-se de uma sociedade de pessoas ou de capital, algumas cláusulas poderão indicar se a LTDA assumiu uma ou outra forma. Na hipótese de silêncio do contrato sobre a questão, a limitada deverá ser tratada como uma sociedade de pessoas, afinal, é da essência das sociedades contratuais a condição de sociedade de pessoas. Embora, como regra geral, o ingresso de terceiro estranho nas sociedades de pessoas dependa de autorização unânime dos sócios, nas sociedades limitadas, diante da omissão do contrato, poderá o sócio ceder sua quota a outro sócio sem a anuência dos demais ou a terceiro estranho, se não houver oposição de titulares de mais de ¼ (ou seja, de mais de 25%) do capital social (art. 1.057, caput do CC). 3 3.10 Da sociedade simples I. Noções Gerais Embora contem com regime próprio (arts. 997-1.038, do Código Civil), as sociedades simples podem adotar tipos societários empresários, exceto os tipos por ações (conforme arts. 983 e 982, parágrafo único, do Código Civil). 3 FAZZIO JUNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2017. p. 147. 17 As sociedades simples regidas por suas normas própriassão doutrinariamente conhecidas como sociedades simples puras (sociedades simples simples), ao passo que aquelas que optam por um dos tipos societários empresários possíveis (nome coletivo, em comandita simples ou limitada), são nominadas sociedades simples impuras (ex. sociedade simples limitada) e serão regidas pelas regras do tipo societário adotado, havendo a aplicação subsidiária das normas da sociedade simples.4 Importante ressaltar que a adoção de um tipo societário empresário por uma sociedade simples não a converte em sociedade empresária. Os sócios devem contribuir para a formação do capital social, o qual corresponde ao primeiro patrimônio da empresa, constituído pela somatória das integralizações feitas pelos sócios com bens, direitos e serviços (incisos III a V do artigo 997). Logo, nas sociedades simples pode haver a contribuição de sócio apenas a partir de prestação de serviço. Neste caso, deverá o sócio dedicar-se exclusivamente à atividade exercida pela sociedade, não se empregando em outra, sob pena de ser privado de seus lucros e dela excluído (art. 1.006 do CC/02). Contudo, só há dois casos em que a integralização pode ser feita por prestação de serviço: a) se constituída sob a forma de sociedade simples pura e; b) caso constituído como sociedade cooperativa (Enunciado 206 do CJF). Também é importante destacar que, “quando se tratar de sócio de serviço, não poderá haver penhora das verbas descritas no art. 1.026, se de caráter alimentar” (Enunciado 389, CJF). A verba será considerada alimentar quando os lucros retirados da sociedade se destinem à sobrevivência do sócio e de sua família, o que faz com que tal rendimento se equipare a salário, para fins de impenhorabilidade. A subscrição da cota consiste no comprometimento em efetivar seu pagamento, enquanto a integralização importa no próprio pagamento. A integralização pode ser feita em dinheiro, crédito, bens (móveis e imóveis), transferência de crédito e, como já mencionado, em prestação de serviços. A integralização por serviços só é permitida na sociedade simples e na cooperativa. O sócio responde pela evicção de bem integralizado e pela insolvência do devedor no caso de crédito transferido. 4 PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora jus podivm, 2017. p. 80. 18 Vale ressaltar que inexiste obrigação de pagamento de Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) no caso de transferência da propriedade de imóvel para a sociedade no ato de integralização. Isso porque há uma imunidade especial prevista no texto da Constituição da República: Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; § 2º - O imposto previsto no inciso II: I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil; Numa sociedade simples, o capital social é dividido em cotas que ostentam um duplo aspecto: Direito patrimonial: a cota lhe assegura direito de percepção de lucros Direito pessoal: garante o status de sócios, podendo votar, fiscalizar, ter direito de preferência, pode participar das deliberações É nula qualquer estipulação que exclua sócio de participar dos lucros e das perdas (art. 1.008 do CC/02). A participação nos lucros e nas perdas, salvo estipulado de modo diverso, considera a proporção das quotas do respectivo sócio. Mas, aquele cuja contribuição consistir em serviço, apenas participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas (art. 1.007 do CC/02). II. Regras aplicáveis subsidiariamente às sociedades empresárias Qualquer sociedade, seja ela simples ou empresária, tem origem com o registro de seu ato constitutivo (art. 45, CC). No entanto, o art. 998 do Código Civil, muito embora localizado, topograficamente, no capítulo do diploma civilista que se destina a disciplinar as sociedades simples, é plenamente aplicável às sociedades empresárias. Isso porque o registro, se realizado 19 dentro dos trinta dias seguintes à conclusão do ato constitutivo (contrato ou estatuto), surtirá efeitos retroativos. Art. 998. Nos trinta dias subsequentes à sua constituição, a sociedade deverá requerer a inscrição do contrato social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede. § 1º O pedido de inscrição será acompanhado do instrumento autenticado do contrato, e, se algum sócio nele houver sido representado por procurador, o da respectiva procuração, bem como, se for o caso, da prova de autorização da autoridade competente. § 2º Com todas as indicações enumeradas no artigo antecedente, será a inscrição tomada por termo no livro de registro próprio, e obedecerá a número de ordem contínua para todas as sociedades inscritas. Todavia, por força do art. 36 da Lei 8.934/94, o órgão competente para o registro dos atos constitutivos das sociedades empresárias é a Junta Comercial, e não o Oficial do Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Outra norma que também se aplica às sociedades empresárias com as devidas adaptações é o art. 997 do Código Civil, cujo texto dispõe que: Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará: I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições; VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais. Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato. Embora as cláusulas necessárias para constituição da sociedade simples se encontrem previstas no art. 997 do CC/02, outras podem ser estipuladas pelos contratantes. Além disso, “as indicações contidas no art. 997 não são exaustivas, aplicando-se outras exigências contidas na legislação pertinente para fins de registro” (Enunciado 214 do CJF). 20 O enunciado 222 da III Jornada de Direito Civil do Conselho de Justiça Federal condensa a primeira ressalva que deve ser feita a dispositivo supracitado ao estatuir que “não se aplica o art. 997, V, à sociedade limitada na hipótese de regência supletiva pelas regras das sociedades simples”. Assim, não se admite na sociedade empresária sócio cuja contribuição consista em serviços, tal qual se admitia na antiga “sociedade de capital e indústria”. O inciso VIII do referido dispositivo também merece especial consideração, visto que, na sociedade simples pura (sociedade simples simples), a responsabilidade dos sócios será sempre subsidiária. Isso porque sua interpretação deve se dar à luz do art. 1.023 do Código Civil, cujo texto dispõe que, “se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sóciospelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária.” Diante disso, forçoso é concluir que a responsabilidade dos sócios da sociedade simples pura, por decorrer de lei – mais precisamente, do enunciado do artigo 1.023 do Código Civil –, será sempre subsidiária, ilimitada e proporcional, salvo se os sócios da sociedade simples pura desejarem agravar o regime de responsabilidade e estabelecer a solidariedade. Nesse sentido, o professor Alfredo Gonçalves Neto apresenta interessante raciocínio que permite estende a compreensão do referido dispositivo legal: (…) como já salientei nos comentários ao art. 977 (n. 115 supra), a regra de isenção de responsabilidade solidária só será admissível quando o tipo societário adotado o permitir. Ou seja, se os sócios da sociedade simples quiserem eliminar ou limitar sua responsabilidade subsidiária pelas dívidas sociais, devem adotar o tipo que comporte esse desiderato, submetendo, assim, a sociedade por eles avençada ao respectivo regime jurídico (art. 983), isso a significar que o malsinado inciso VIII daquele artigo não afeta o enunciado do art. 1.023, compatibilizando-se com ele, por admitir cláusula de isenção quando: (i) A sociedade simples se revestir do tipo de sociedade limitada (arts. 1.052 e 1.055, § 1º) (ii) se tratar de sociedade cooperativa que opte pela limitação da responsabilidade dos sócios ao valor das quotas-partes (art. 1.095, § 1º); e (iii) se tratar de sociedade em comandita simples, exclusivamente em relação ao sócio comanditário.5 Em acréscimo, vale mencionar os seguintes enunciados do CJF: Enunciado 479, CJF. Art. 997, VII: Na sociedade simples pura (SIMPLES – SIMPLES) (art. 983, parte final, do CC/2002), a responsabilidade dos sócios depende de previsão 5 GONÇALVES NETO, Alfredo. Direito de Empresa – Comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código Civil, 4. Edição, p. 261 21 contratual. Em caso de omissão, será ilimitada e subsidiária, conforme o disposto nos arts. 1.023 e 1.024 do CC/2002. Enunciado 61, CJF. Art. 1.023: o termo “subsidiariamente” constante do inc. VIII do art. 997 do Código Civil deverá ser substituído por “solidariamente” a fim de compatibilizar esse dispositivo com o art. 1.023 do mesmo Código O ato constitutivo pode ser feito por instrumento público ou particular, mas, em qualquer dos casos, as alterações contratuais ou estatutárias poderão ser efetivadas por mero instrumento particular (art. 53 da Lei 8.934/94). 3.11 Da sociedade limitada A sociedade limitada é regida diretamente pelo Código Civil (art. 1.052 – 1.087), aplicando- se supletivamente as normas da sociedade simples (art. 997 – 1.038) ou, se o contrato tiver previsão expressa, as disposições da Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas), conforme consta do art. 1.053, CC. Trata-se de uma sociedade contratual personificada, podendo assumir a forma de sociedade de pessoas ou de capital (natureza híbrida), circunstância que deverá ser aclarada por seu contrato social. Se liga, OABeiro! A partir da publicação da Medida Provisória n.º 881, de 30 de abril de 2019, está em vigor norma que permite a constituição da sociedade limitada por apenas uma pessoa, hipótese em que se aplicarão ao documento de constituição do sócio único, no que couber, as disposições sobre o contrato social, consoante dispõe o parágrafo único inserido no art. 1.052 do CC. 1. A flexibilidade para livre circulação de quotas, como no caso da existência de cláusula autorizando a entrada de terceiros estranhos à sociedade, sem a necessidade de 22 aquiescência dos demais sócios, indica tratar-se de uma sociedade de capital. Já o controle quanto à entrada de novos sócios indica tratar-se de uma sociedade de pessoas. Na ausência de qualquer indicativo no contrato social que permita qualificá-la como sociedade de pessoas ou de capital, deve considerar-se a limitada como sociedade de pessoas, afinal, trata-se de sociedade contratual e é da essência das sociedades contratuais a forma das sociedades de pessoas. Na sociedade limitada, via de regra, apenas o patrimônio social responde pelas dívidas da pessoa jurídica. O patrimônio dos sócios poderá ser atingido apenas nos casos de desconsideração da personalidade jurídica e pela integralização do capital restante. Ainda, deliberando de modo contrário ao disposto em lei ou no contrato, responderão de forma ilimitada os sócios que a aprovaram (os sócios dissidentes ou ausentes, apenas vincular-se-ão às decisões tomadas de acordo com a lei e o contrato social). Cada sócio responde pelo capital que subscrever. Entretanto, haverá solidariedade entre os sócios até o limite do capital total subscrito e não integralizado. Sendo assim, caso o total subscrito já tenha sido integralizado, a princípio, o patrimônio pessoal dos sócios da sociedade limitada não poderá ser alcançado. O capital social da sociedade limitada é dividido em quotas, iguais ou desiguais, devendo todos os sócios contribuir para a sua formação com bens, dinheiro ou crédito, não sendo admitida a contribuição que consista exclusivamente em prestação de serviços. Havendo contribuição com bens, será necessária uma avaliação dos sócios ou de terceiros, para que possam ser valorados. Nesse caso, pela exata estimação atribuída aos bens entregues para a formação do capital social, responderão solidariamente todos os sócios, pelo prazo de 5 anos, a contar da data do registro da sociedade. Como os sócios respondem solidariamente pela integralização do capital social, não integralizada a quota por um sócio (sócio remisso), os outros podem, sem prejuízo da 23 responsabilização pelo dano emergente da mora e da possibilidade de optar a maioria dos demais sócios pela redução da quota ao montante integralizado, tomá-la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas. A quota é indivisível em relação à sociedade, salvo para efeito de transferência, quando, sendo omisso o contrato social, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de 1/4 (um quarto) do capital social, tendo eficácia a cessão a partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos sócios anuentes. Ao se tratar do capital social, embora não se possa ignorar o princípio da intangibilidade do capital social (ou princípio da integridade do capital social), pelo qual se protege os interesses dos credores da sociedade ao impedir a distribuição de lucros fictícios, com o desfalque do capital social, para concessão de benefício aos sócios, mostra-se importante destacar a possibilidade de aumento ou redução do capital social, conforme ensinam os arts. 1.081 a 1.084 do CC. Sendo assim, o princípio em comento não visa impedir a redução do capital social, mas sim garantir que só poderão ser distribuídos entre os sócios valores que correspondam a lucros reais. O aumento do capital social pode ocorrer, com a respectiva alteração no contrato social aprovada por assembleia, desde que todas as quotas já tenham sido integralizadas. Até trinta dias após a deliberação pelo aumento do capital, terão os sócios preferência para participar do aumento, na proporção das quotas de que sejam titulares. A redução do capital social, a seu turno, se restringe às hipóteses de perdas irreparáveis uma vez integralizado o capital social ou se excessivo em relação ao objeto social. Na sociedade limitada, o controle ou poder de decisão da sociedade é exercido por aquele que detiver o maior número de quotas. Na eventualidade de empate, a definição se dará a partir daquantidade de sócios. Persistindo o empate, caberá ao juiz resolver. A sociedade limitada pode ser administrada por uma ou mais pessoas, sócios ou não sócios, constantes do contrato social ou de ato em separado. O administrador, nomeado por instrumento em separado, deve averbá-lo à margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos que praticar, antes de requerer a averbação, responde pessoal e solidariamente com a sociedade. 24 Os poderes conferidos a administrador sócio são irrevogáveis (desde que previstos no contrato social, excetuada a justa causa); mas os atribuídos a administrador não sócio são revogáveis (art. 1.019, CC). A designação de administradores não sócios dependerá de aprovação de todos os sócios (enquanto o capital não estiver integralizado) e de, no mínimo, 2/3 dos sócios após a integralização. Ademais, importante destacar que, se a administração da sociedade limitada for atribuída no contrato social a todos os sócios, a condição de administrador não se estenderá aos que posteriormente adquirirem essa qualidade (quem ingressar depois na sociedade). No silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria dos sócios decidir. Como sabido, o administrador, no exercício de suas funções, deve atuar na medida dos interesses da sociedade, sempre pautando a sua conduta no cuidado e diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios (art. 1.011, CC). Nesse sentido, ao respeitar o limite dos poderes que lhe foram regularmente conferidos, os atos do administrador obrigam a pessoa jurídica (art. 47, CC). No entanto, se contrariamente, ao praticar atos de gestão, o administrador vier a violar os poderes a ele conferidos pelo contrato social, tais atos não poderão ser imputados à sociedade. É a chamada teoria ultra vires societatis (além do conteúdo da sociedade), que visa a proteção da pessoa jurídica. Desse modo, a sociedade ficará isenta de qualquer responsabilidade frente a terceiros pelos atos ultra vires, a menos que tenha se beneficiado com a prática deles. O excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses: 25 1. Se a limitação de poderes do administrador estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade; 2. Provando-se que a limitação dos poderes do administrador era conhecida do terceiro; 3. Tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade. Segundo o Enunciado 219 da III Jornada de Direito Civil do Conselho de Justiça Federal, não se aplica a teoria ultra vires societatis às sociedades por ações, em razão da existência de regra específica traçada pelo art. 158, II da Lei 6.404/76. Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os condenados à pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação. Se o contrato social for silente quanto à pessoa do administrador da sociedade limitada, suas funções serão exercidas por cada um dos sócios separadamente. Sem embargo, o administrador que realizar operações, sabendo ou devendo saber que estava agindo em desacordo com a maioria, responderá por perdas e danos perante a sociedade. As decisões em uma sociedade limitada serão tomadas em reunião ou em assembleia, as quais serão convocadas pelos administradores nos casos previstos em lei ou no contrato. Nas sociedades limitadas compostas por mais de dez sócios, as deliberações deverão ocorrer obrigatoriamente através de assembleia. Quando os administradores retardarem a convocação por mais de sessenta dias, a reunião ou assembleia poderá também ser convocada por sócio, ou por titulares de mais de 20% do capital social, quando não atendido, no prazo de oito dias, pedido de convocação fundamentado. 26 Ordinariamente, nas sociedades limitadas, as decisões devem ser tomadas a partir da maioria de votos considerado o capital social do qual detém cada sócio. Contudo, só poderão ser tomadas havendo unanimidade (1) a decisão sobre a dissolução da sociedade com prazo determinado e (2) a decisão sobre a designação de administrador não sócio, enquanto o capital social não estiver integralizado. Será necessária a aceitação de 3/4 do capital social para (1) a alteração do contrato social e (2) a aprovação de fusão, incorporação e dissolução. Para designação de administrador não sócio se o capital social estiver totalmente integralizado, será necessária a concordância de 2/3 do capital social. No que tange à destituição de sócio nomeado administrador no contrato, exige-se a aprovação de titulares de quotas correspondentes a mais de metade do capital social, salvo disposição contratual diversa, conforme alteração realizada pela Lei 13.792/19 no §1º do art. 1.063 do CC/02. Será necessária a concordância da maioria absoluta do capital social (mais da metade do total do capital) para (1) a designação de sócio administrador realizada em ato separado, (2) definir a remuneração de administradores e (3) determinar a exclusão de sócio por justa causa. Será necessária a concordância de maioria simples do capital social (mais da metade do capital considerando os sócios presentes) para (1) a aprovação da prestação de contas dos administradores e (2) nos demais casos previstos na lei ou no contrato, se não exigir quórum maior. Aos sócios da sociedade limitada é garantido o direito de fiscalizar a sua administração. Nesse sentido, o conselho fiscal, órgão de formação facultativa, composto de três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios ou não, residentes no país e eleitos em assembleia, uma vez constituído, tem como atribuições as previstas no art. 1.069 do Código Civil, que se indica uma leitura atenta e minuciosa. A dissolução da sociedade pode ser total ou parcial. A dissolução total implica na desconstituição da sociedade, culminando na desvinculação de todos os sócios. Já na dissolução parcial, há desvinculação de algum sócio do quadro social, o que não gera a 27 desconstituição da sociedade, que prossegue com suas atividades. Assim, na dissolução parcial, a sociedade não se extingue, nem mesmo perde a sua personalidade.6 A dissolução será total nas seguintes hipóteses: (1) consenso unânime dos sócios, (2) fim do prazo de duração nas de prazo determinado, (3) deliberação dos sócios, por maioria absoluta, se de prazo indeterminado, (4) falência, (5) impossibilidade de execução do objeto social, (6) falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo legal de 180 dias (sabendo que nesse prazo o sócio remanescente pode optar pela transformação em EIRELI ou em empresário individual), (7) extinção da autorização para funcionar, (8) por determinação judicial, (9) a requerimento de qualquer dos sócios, (10) se houve anulação de sua constituição, (11) se houver exaurimento do fim social e (12) outras causas previstas no contrato. A dissolução será parcial (resolução da sociedade em relação a um sócio) nos casos de (1) morte do sócio, (2) retirada do sócio ou (3) exclusão do sócio. Restando demonstrado que um ou mais sócios estão pondo em risco a sobrevivência da empresa, pela prática de atos que vão de encontro à lei ou aos objetivos sociais, estes poderão ser excluídos da sociedade pela vontade da maioria dos sócios, representativa de mais da metade do capital social, desde que cumpridos os requisitos legais do art. 1.085 do CC/02). Trata-sede hipótese de exclusão extrajudicial, que não pode ser confundida com a exclusão judicial prevista no art. 1.030, CC. Nesta, a exclusão poderá operar-se mediante iniciativa da maioria dos sócios, não se levando em consideração o volume da participação deles no capital social. 1. Não é possível a exclusão de sócio majoritário de forma extrajudicial, dada a redação do art. 1.085 do CC/02, mas é possível que ela ocorra judicialmente uma vez demonstrada a prática de ato de inegável gravidade de que fala o art. 1.030 do CC/02. 6 PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora jus podivm, 2017. p. 91. 28 O simples rompimento da affectio societatis (vontade de permanecer em sociedade) não é razão capaz de ensejar a exclusão de sócio. 3.12 Da sociedade anônima As sociedades anônimas são espécies de sociedades estatutárias, também chamadas de “institucionais”. Isso porque se constituem por meio de um estatuto social e seu capital está dividido em frações denominadas ações. Cada sócio é titular de determinado número de ações, sendo chamado de acionista. Modesto Carvalhosa conceitua este tipo de sociedade como pessoa jurídica de direito privado, cuja natureza é essencialmente “mercantil, em que o capital se divide em ações de livre negociabilidade, limitando-se a responsabilidade dos subscritores ou acionistas ao preço de emissão das ações por eles subscritas ou adquiridas”7. Também chamada de companhia, a S/A é regulamentada por uma lei própria, a Lei 6.404/76. O art. 1.089 do CC/02 esclarece essa circunstância, dispondo que: “a sociedade anônima rege-se por lei especial, aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as disposições deste Código”. Nesse sentido, tem-se o seguinte enunciado do Conselho de Justiça Federal: Enunciado 68 do CJF: Arts. 1.088 e 1.089: suprimir os arts. 1.088 e 1.089 do novo Código Civil em razão de estar a matéria regulamentada em lei especial. Devido à impessoalidade oriunda da fácil modificação das posições acionárias, a companhia, via de regra, tem caráter de sociedade de capital. Ou seja, a ênfase de seu funcionamento recai no aporte dos investimentos e não nas características pessoais de cada sócio8. 7 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei das Sociedades Anônimas. V. 1, São Paulo: Saraiva, 2002, p. 153. O conceito apresentado por este autor se baseia nos arts. 1º da Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas – LSA) e 1.088 do Código Civil de 2002 (CC/02). A LSA constitui verdadeiro Código do Direito Societário Brasileiro, porquanto se aplica subsidiariamente a todos os demais tipos societários. (CORRÊA-LIMA, Osmar Brina. Sociedade anônima. 2. ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 12). 8 Sobre a existência excepcional de affectio societatis em companhias, consulte-se: ZETTEL, Fabiano Campos. Os efeitos da affectio societatis nas sociedades de capitais e nos acordos de acionistas. 2004. 98f. Dissertação (Mestrado em Direito Comercial). Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004. 29 Por conseguinte, conforme já enfatizado, o vínculo entre os acionistas e a pessoa jurídica guarda natureza institucional e não contratual9. E isso porque a adesão ao regime legal e estatutário decorre da mera aquisição de participação acionária e não do encontro das vontades dos diversos sócios, o que faz com que as relações entre eles não se articulem nos moldes de acordo plurilateral. O nome empresarial da companhia deve ser sempre formado por denominação10. Nessa linha: “As sociedades anônimas, por sua vez, constituem o único tipo societário que, necessariamente, deve adotar denominação como nome empresarial.(...) Obrigatoriamente, deverá constar na denominação o objeto social. As denominações das sociedades anônimas devem vir integradas pelas expressões “sociedade anônima” ou “companhia”, ou abreviadamente como “S.A” ou “Cia”.” (Sinopses Jurídicas, vol. 21, p. 52 – com modificações). O termo “sociedade anônima” ou sua abreviatura pode vir no início, meio ou fim da denominação. O termo “companhia” ou sua abreviatura não pode ser usado no fim (art. 3º da LSA). Permite-se que na denominação conste o nome do fundador, acionista ou pessoa que 9 Registre-se a opinião contrária do professor João Eunápio Borges: “não vemos motivo para atribuir ao ato de constituição de uma sociedade anônima natureza diferente da que tem o de qualquer outra sociedade. Por mais numerosos que sejam os atos preliminares – a partir da iniciativa dos fundadores, redação do projeto de estatutos até a realização da assembléia constitutiva – a sociedade surgirá sempre de um acordo de vontades que se manifesta a cada subscrição de ação e se confirma afinal na manifestação da assembleia constitutiva” [...]. “O nome pouco importa: contrato, contrato plurilateral, ato complexo, ato coletivo, negócio coletivo, a essência, a substância do ato é sempre a mesma.” (BORGES, João Eunápio. Curso de direito comercial terrestre. Belo Horizonte: Forense, 1976, p. 409). 10 “Art. 5º Observado o Princípio da Veracidade: [...] III - a denominação é formada com palavras de uso comum ou vulgar na língua nacional ou estrangeira e ou com expressões de fantasia, com a indicação do objeto da sociedade, sendo que: [...] b) na sociedade anônima, deverá ser acompanhada da expressão ‘companhia’ ou ‘sociedade anônima’, por extenso ou abreviadas, vedada a utilização da primeira ao final.” (BRASIL. Departamento Nacional do Registro do Comércio. Instrução Normativa 99 de 21 de dezembro de 2005. Disponível em: <http://www.dnrc.gov.br/Legislacao/normativa/in99.htm>. Acesso em: 14 jan. 2020). 30 tenha concorrido para o bom êxito da formação da empresa, mas ainda assim será tratado como denominação. Enunciado 71 do CJF – Arts. 1.158 e 1.160:suprimir o artigo 1.160 do Código Civil por estar a matéria regulada mais adequadamente no art. 3º da Lei n. 6.404/76 (disciplinadora das S.A.) e dar nova redação ao § 2º do art. 1.158 [Sociedade Limitada], de modo a retirar a exigência da designação do objeto da sociedade. Enunciado 79 do CJF – Art. 2.031: não havendo a revogação do art 1.160 do Código Civil nem a modificação do § 2º do art. 1.158 do mesmo diploma, é de interpretar-se este dispositivo no sentido de não aplicá-lo à denominação das sociedades anônimas e sociedades Ltda., já existentes, em razão de se tratar de direito inerente à sua personalidade. Enunciado 395 do CJF – A sociedade registrada antes da vigência do Código Civil não está obrigada a adaptar seu nome às novas disposições. [Vem ratificar o enunciado 79 do CJF] Todavia, A companhia jamais é anônima. Toda sociedade anônima deve possuir uma denominação. E esta é uma das espécies de nome empresarial, ao lado da firma ou razão. A companhia não pode ter firma ou razão social. Esta, devido ao princípio da veracidade, sempre deve mencionar o nome de um, algum ou todos os sócios atuais. Daí ser a companhia chamada sociedade anônima. A expressão “anônima” liga-se também ao fato de que a companhia, potencialmente, congrega uma coletividade indefinida de sócios, cujo número pode atingir a cifra dos milhares ou milhões. Nesse quadro social de intensa e incontrolável rotatividade, será impossível constatar, em determinado momento, e com precisão, os nomes de todos os acionistas, quem é acionista agora poderá já não sê-lo no instante seguinte. Para isso, basta que aliene suas ações a outra pessoa, em bolsa ou fora dela, em operação que refoge inteiramente ao controle ou interveniência da companhia11. Dessa forma, a contínua mudança dos componentes do quadro social se deve ao fenômeno chamado por Rubens Requião de “Revoluçãodo Acionariato”, que decorre da separação das prerrogativas inerentes ao direito de propriedade12. Ensina o autor que, desde o direito romano, admite-se que, da propriedade, emanam os direitos de usar, fruir e dispor do bem objeto da relação jurídica real13. 11 CORRÊA-LIMA, Osmar Brina. Sociedade anônima. 2. ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 15 e 16, grifos nossos. 12 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. v. 2, São Paulo: Saraiva, 1995, p. 57 13 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. v. 2, São Paulo: Saraiva, 1995, p. 57 31 Contudo, o mesmo não ocorre com o acionista, pois, quando subscreve ou adquire sua ação, ele pode dispensar o direito de administrar a organização social mediante o exercício do direito de voto (ex. acionista preferencialista). E anui, com isso, que os órgãos da sociedade (diretores ou administradores) realizem a gestão dos recursos por ele injetados na companhia. Deste modo, o sistema do acionariato inovou ao dissociar a “gestão e a fruição dos bens, proporcionando ao proprietário o gozo dos frutos, mas tirando-lhe a administração ou a gestão dos bens investidos”14. Noutro viés, as sociedades anônimas se classificam como abertas quando devidamente habilitadas a negociar seus valores mobiliários na bolsa de valores ou mercado de balcão; e fechadas caso isso não seja possível (art. 4º da LSA e 22 da Lei 6.835/76). Inúmeros efeitos práticos decorrem da caracterização da companhia como aberta. No sistema jurídico brasileiro, o mais importante deles é que devem se submeter ao registro perante a CVM, bem como às suas instruções normativas destinadas a regular a legislação aplicável às sociedades anônimas e seus valores mobiliários (art. 4º A, § 4º da LSA e arts. 5º e 8º da Lei 6.835/76)15. Outro importante efeito é que a sociedade anônima de capital aberto tem suas ações comercializadas mediante complexo sistema de intermediação, a cargo de agentes econômicos autorizados a operar no mercado de bolsa. A sociedade anônima é sempre empresária por força lei, independentemente do seu objeto social. Caberá ao estatuto social da companhia a definição precisa e completa do seu objeto social. Por serem sociedades institucionais ou estatutárias, elas serão sempre sociedades de capital. CC/02, Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob denominação designativa do objeto social, integrada pelas expressões "sociedade anônima" ou "companhia", por extenso ou abreviadamente. 14 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. v. 2, São Paulo: Saraiva, 1995, p. 57. Excepcionam-se os casos em que um ou mais sócios detém poder de controle e/ou participam do Conselho de Administração da companhia. 15 Algumas formalidades burocráticas concernentes ao registro da companhia, assim como das emissões de valores mobiliários perante a CVM são indispensáveis para que a sociedade anônima possa ter seus valores mobiliários admitidos à negociação no mercado de capitais (arts. 4º , p.u., 170, § 6º e 82 da LSA). 32 Parágrafo único. Pode constar da denominação o nome do fundador, acionista, ou pessoa que haja concorrido para o bom êxito da formação da empresa. Uma das principais características das sociedades anônimas é a limitação da responsabilidade dos sócios. Como dispõe o art. 1º da LSA, “a companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações16, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas” (regra repetida pelo art. 1.088 do CC/02). Ex.: o credor aciona a sociedade (sem bens), depois aciona os sócios, somente será acionado cada um que tenha subscrito e não integralizado o capital, não há solidariedade entre os sócios. Há duas modalidades de constituição das companhias: por subscrição pública ou por subscrição particular. Enquanto esta se dirige aos próprios acionistas da companhia ou a investidores predeterminados, aquela se volta a toda comunidade de pessoas do mercado. Nesse sentido, Fábio Ulhoa Coelho explica que: A subscrição pode ser particular ou pública. Na primeira, as ações emitidas são apresentadas como opção de investimento a investidores procurados diretamente pela companhia emissora ou por seus agentes. Não existe, nessa modalidade, uma oferta aos investidores em geral. Claro que também será particular a subscrição realizada para atender determinado investidor que houvera tomado a iniciativa de apresentar proposta de investimento atraente aos olhos da sociedade. O decisivo, para caracterizar como particular a subscrição, é a ausência de acessibilidade dos investidores em geral à emissão. Já a subscrição pública é, exatamente, a que apresenta essa ampla acessibilidade: a ação é apresentada como alternativa de investimento à generalidade dos investidores e demais agentes que operam no mercado de capitais. A sociedade anônima fechada somente pode emitir ações para subscrição particular. Se pretender alargar o universo de pessoas às quais apresentará a ação como opção atraente, terá de abrir o seu capital, solicitando os registros hábeis junto à CVM. Já a sociedade anônima aberta pode optar pela realização da emissão de ações para subscrição particular ou pública, procedendo também aos registros cabíveis na CVM17. Além disso, convém sublinhar que a subscrição pública pode acontecer tanto na constituição quanto no aumento do capital social da companhia aberta. No entanto, nesta espécie de sociedade anônima, a subscrição particular somente é possível para se realizar o aumento de capital social, hipótese que tem por finalidade o depósito das ações na [B]³. 16 Questão 06 17 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. v. 2, 10. ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 117. 33 E isso é assim porque, para que o referido depósito ocorra, é necessário que a companhia emissora já tenha obtido seu registro junto à CVM na época em que foi constituída mediante subscrição pública ou quando efetuou o procedimento de abertura de seu capital18. Logo, não há como uma companhia aberta se valer da subscrição particular com o fim de promover sua constituição. Com base nestas informações, os procedimentos de subscrição pública e particular das ações de companhia aberta são representados pelo seguinte organograma: 18 Conforme o jargão econômico, a operação pela qual uma companhia fechada acessa o mercado pela primeira vez é designada pela sigla IPO (Initial Public Offer – Oferta Pública Inicial). Esse procedimento atende a um dos principais objetivos do mercado de capitais, qual seja: permitir o acesso das sociedades anônimas à poupança popular, afastando as desvantagens ocasionadas pelos empréstimos bancários. Essa premissa torna imprescindível um sistema adequado à proteção do investidor, que tenha como pilar a eficiente política de divulgação e transparência das informações. No Brasil, tal política é implementada mediante a exigência de registro prévio na CVM quanto às ofertas de valores mobiliários que se dirijam ao público em geral. Para deferimento deste registro, não compete à CVM qualquer exame a respeito da qualidade dos títulos ofertados, nem quanto às características da empresa emissora, ou mesmo, quanto à conveniência do momento escolhido para a oferta pública. A única exceção se verifica na hipótese de exame substantivo referente à constituição de companhia por subscrição pública prevista no art. 82 da LSA. Vale observar que há situações, porém, em que não se justifica exigir o prévio registro na CVM da oferta de venda das ações. Isso ocorre quando esta não transcende os limites de uma operação de cunho eminentemente privado, dirigindo-se a pessoasespecíficas e previamente determinadas. Nestes casos, não há o apelo à poupança popular, tal como acontece quando os investidores, mesmo sem o controle proporcionado pela intervenção da CVM e da BM&FBOVESPA, têm acesso a informações que lhes permitam uma tomada de decisão consciente. (EIZIRIK, Nelson. A oferta pública de distribuição de valores mobiliários. WALD, Arnoldo; GONÇALVES, Fernando; CASTRO, Moema Augusta Soares de (coord.); FREITAS, Bernardo Vianna; CARVALHO, Mário Tavernard Martins de (org.). Sociedades anônimas e mercado de capitais. São Paulo: Quartier Latin, 2011, p. 30 e 31) 34 São requisitos preliminares para a constituição de uma sociedade anônima, independentemente da modalidade de constituição: 1. subscrição de pelo menos duas pessoas, de todas as ações em que se divide o seu capital social. A subscrição é irretratável. 2. Realização, como entrada, em dinheiro, de 10%, no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas. Nas instituições financeiras essa porcentagem é de 50%. O fundador terá 5 dias, contados do recebimento das quantias, em nome do subscritor e a favor da sociedade, para fazer o depósito no estabelecimento bancário autorizado pela CVM. 3. Arquivamento do estatuto social da empresa na Junta comercial e publicação pela imprensa de seus atos constitutivos; 4. Transferência para a companhia, por transcrição no registro público competente, dos bens com que o subscritor tenha contribuído para a formação do capital social. Quando se trata das companhias, um tema bastante recorrente em provas de concursos diz respeitos aos valores mobiliários, que consistem em bens móveis representantes de direitos contra a companhia. No caso das ações, tais direitos representam frações do capital social. 35 As ações são indivisíveis em relação à companhia e, dependendo do critério adotado, assumem os seguintes valores: 1. Valor nominal: valor indicado no estatuto social. 2. Valor ou preço de emissão: é aquele pago por quem subscreve a ação e é fixado pelos fundadores no momento da constituição da empresa. 3. Valores de mercado: valor da negociação. 4. Valor patrimonial: valor da ação em relação ao patrimônio. Patrimônio dividido pelo número de ações. Esse valor será pago em caso de dissolução total ou parcial da sociedade. Dependendo da forma como são transferidas para outros acionistas ou terceiros, as ações podem ser: 1. Ações Nominativas. Para a transferência destas, bastará o termo lavrado no livro de Transferência de Ações Nominativas datado e assinado pelo cedente e pelo cessionário, ou por seus representantes. Em verdade, todas as ações de uma sociedade anônima devem ser nominais, haja vista que a Lei n. 8.021/90 vedou a emissão de títulos ao portador. 2. Escriturais: elas não deixam de ser nominativas, visto que são identificados seus titulares. Entretanto, diferenciam-se quanto a forma de transferência, uma vez que esta ocorre por contas de depósito. Aqui, uma instituição financeira autorizada pela CVM, manterá contas de depósitos em nome dos titulares das ações. As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens conferidas aos seus titulares poderão ser: 1. Ordinárias: conferem aos acionistas os direitos comuns, como o direito a voto e de participação nos lucros. São ações de emissão obrigatória por todas as companhias. 2. Preferenciais: conferem aos acionistas certas vantagens, que podem consistir em: a) prioridade na distribuição de dividendo fixo (obtido lucro pela sociedade, o estatuto prevê qual o percentual fixo que será recebido pelos acionistas preferenciais, o que sobrar será dividido entre os ordinários), mínimo (se ocorrendo determinado lucro, os 36 preferencialistas recebem o mínimo fixado, o que sobrar vai servir para pagar a mesma quantidade aos portadores das ações ordinárias; sobrando ainda nova partilha é feita entre os preferencialistas) ou cumulativos (se a sociedade não divide os lucros, eles serão cumulados para o próximo ano); b) prioridade no reembolso do capital, com prêmio ou sem ele. O estatuto poderá deixar de conferir às ações preferenciais alguns dos direitos reconhecidos às ações ordinárias ou conferi-los com restrição. O número de ações preferenciais sem direito de voto ou sujeitas a restrições não poderá ultrapassar 50% do total das ações emitidas 3. Gozo ou fruição: são aquelas distribuídas aos acionistas titulares de ações ordinárias ou preferenciais em substituição dessas ações que já foram amortizadas. A amortização consiste na distribuição aos acionistas, a título de antecipação e sem redução do capital social, da quantia a que teriam direito em caso de liquidação da companhia. Sobre as debêntures, é importante mencionar que são valores mobiliários que conferem a seus titulares direito de crédito contra a companhia, nas condições constantes da escritura de emissão e, se houver, do certificado. São títulos emitidos pela S/A para negociar junto ao público, levantando capital para sociedade, é como se fosse um empréstimo feito para a Sociedade (captação de recursos). É título executivo extrajudicial elencado no CPC/2015 (artigo 784, I). Existem quatro espécies de debêntures (art. 58): 1. com garantia real: aquelas atreladas a um bem pertencente ou não à sociedade; 2. com garantia flutuante: aquelas que asseguram a seus titulares privilégio geral sobre o ativo da companhia, mas não impedem a negociação dos bens que compõem esse ativo. Em caso de liquidação, essas debêntures têm preferência sobre os créditos quirografários; 3. quirografárias: aquelas sem qualquer garantia ou privilégio, que concorrem com os demais créditos quirografários da companhia na hipótese de liquidação; 4. subordinadas ou subquirografárias: aquelas com preferência apenas sobre os acionistas da companhia em caso de liquidação. As debêntures podem ser, tais como as ações, nominativas e escriturais, bem como conversíveis em ações. 37 Outros valores mobiliários também podem ser emitidos pelas companhias. É o caso, por exemplo, das partes beneficiárias, que são títulos negociáveis, sem valor nominal e estranhos ao capital social. São emitidos para captar recursos ou remunerar serviço prestado. É um direito de crédito eventual, até um limite de 10% do lucro da empresa, dependendo da existência ou não de obtenção de lucro pela sociedade. Somente podem ser emitidas por sociedades fechadas (Lei 10.303/01). Os bônus de subscrição, por sua vez, são valores mobiliários que conferem ao titular, nas condições constantes do certificado, o direito de preferência para subscrever novas ações por ocasião do aumento do capital social autorizado no estatuto, antes de qualquer outro. Não é um direito de crédito, é, simplesmente, um direito de preferência, que precede inclusive o acionista. Já o “commercial paper” é uma espécie de nota promissória que serve para captação de recursos no mercado de capital, sendo restituídos aos investidores em curto prazo. Esse prazo é de, no mínimo, 30 e, no máximo, 180 dias, para a restituição dos valores recebidos em mercado pela companhia. Tais títulos somente se transferem por endosso em preto e com a cláusula “sem garantia”. Os principais órgãos das sociedades anônimas são: a Assembleia, o Conselho de Administração, a Diretoria e o Conselho Fiscal. As Assembleias são órgãos de deliberação colegiados formados por todos os acionistas que tenham ou não direito a voto. A Assembleia Geral19 é o órgão supremo da companhia e pode ser das seguintes espécies: 1. Assembleia Geral Ordinária (AGO): deverá ocorrer anualmente, nos quatro primeiros meses seguintes ao término do exercício social da empresa, e deverá abranger as seguintes matérias: a) tomada de contas dos administradores, exame, discussão e votação das demonstrações financeiras; b) deliberação sobre a destinação do lucro líquido do exercício e distribuição dedividendo; c) eleição dos administradores e dos membros do Conselho Fiscal, quando for o caso; d) aprovação de correção da expressão monetária do capital social. 19 Vide questão 04 38 2. Assembleia Geral Extraordinária (AGE): pode ocorrer a qualquer tempo, e serve para a deliberação de qualquer outra matéria que não seja de competência privativa da assembléia geral ordinária. A AGE que tiver por objeto a reforma do estatuto somente se instalará com a presença de acionistas que representem 2/3, no mínimo, do capital com direito a voto. Em segunda convocação, instalar-se-á com qualquer número. O Conselho de Administração é um órgão de deliberação colegiada a quem compete, primacialmente, fixar a orientação geral dos negócios da companhia e fiscalizar a gestão dos diretores. É composto por, no mínimo, 3 membros, acionistas, eleitos pela AGE e por ela destituíveis a qualquer tempo, com mandato de no máximo 3 anos, permitida a reeleição. Somente é obrigatório nas sociedades anônimas abertas (que negociam suas ações na bolsa ou no mercado de capitais), nas de capital autorizado (têm autorização de aumento de capital no estatuto, sem necessidade de assembleia para deliberação) e nas sociedades de economia mista. A Diretoria, por sua vez, é a responsável pela representação da companhia e pela prática dos atos necessários ao seu funcionamento regular. É obrigatória em todas as sociedades anônimas. Os diretores podem ou não ser acionistas, exigindo a lei que se trate de pessoa residente no país e que sejam pessoas naturais. Ela é composta por dois ou mais diretores, eleitos e destituíveis a qualquer tempo pelo Conselho de Administração, ou se, inexistente, pela assembleia geral, com mandato nunca superior a 3 anos, permitida a reeleição. O Conselho Fiscal é obrigatório de existência nas sociedades anônimas, mas, o seu funcionamento pode não ser permanente, restringindo-se aos exercícios sociais em que for instalado a pedido dos acionistas. Sua atribuição é a fiscalização dos atos de administração da sociedade. Os conselheiros podem ou não ser acionistas. Serão, no mínimo, 03 e no máximo, 05 conselheiros. O principal dever de um acionista é o de integralizar as ações subscritas, sob pena de se tornar acionista remisso, com a consequência de ser executado ou ter suas ações negociadas em bolsa. Para a cobrança judicial, podem ser utilizados o boletim de subscrição ou o aviso de chamada de capital, que são títulos executivos extrajudiciais. 39 Sobre a execução judicial do sócio remisso, é importante frisar que o aviso de chamada de capital deve ser publicado pelo menos por 03 vezes em jornal de grande circulação e deve ser dado o prazo de 30 dias para comparecimento do acionista remisso. O Estatuto Social não é titulo executivo. Além disso, a execução será feita com base no valor que deveria integralizar mais os valores referentes aos prejuízos causados pela mora na transferência dos montantes aos quais o acionista se comprometeu (juros, correção, multa.) Além disso, a execução e a negociação das ações são medidas que podem ser adotadas simultaneamente pela sociedade. Em havendo êxito em um dos caminhos o outro será suspenso. Mesmo a S/A fechada pode negociar as ações do remisso na bolsa, cujos valores serão suportados pelo remisso. São considerados direitos essenciais dos acionistas por não poderem ser deles retirados: 1. Participação nos lucros: qualquer cláusula que retire esse direito é nula, sendo chamada de cláusula leonina; entretanto esse direito pode ser reduzido ou ampliado. 2. Preferência na subscrição de novas ações: contudo, há uma mitigação desse direito no caso de existirem bônus de subscrição emitidos pela companhia. 3. Fiscalização: podem os acionistas fiscalizar a administração da sociedade por meio do Conselho Fiscal e por meio da Assembleia Geral, que é responsável pela aprovação das contas da sociedade). 4. Participação no acervo societário: em caso de liquidação da sociedade, que consiste na apuração do ativo para pagar o passivo, o que resta deve ser dividido entre todos os acionistas, com base no valor patrimonial das suas ações. 5. Retirada: o acionista pode sair da sociedade; não a qualquer tempo, mas, sim, se houver dissidência com relação às deliberações constantes do art. 137 da Lei 6.404/76, sendo reembolsado pela sociedade, pelo valor nominal das ações. 40 O direito de voto é dessa natureza, tanto que existem ações sem esse direito garantido. Como regra, não é o simples desejo de sair da sociedade, pelo fim da “affectio societas”, caso isso ocorra deve procurar negociar suas ações). No entanto, há entendimento majoritário do Superior Tribunal de Justiça no sentido “da possibilidade jurídica da dissolução parcial de sociedade anônima fechada, em que prepondere o liame subjetivo entre os sócios, ao fundamento de quebra da affectio societatis”. Sobre o direito de retirada (ou direito de recesso), vale ressaltar que existem duas formas de uma pessoa se desligar da sociedade empresária de que participa: a) alienando a sua participação societária ou; b) exercendo seu direito de retirada. Na sociedade anônima, dada a facilidade de alienação da participação societária, as hipóteses de exercício do direito de retirada são limitadas, estando disciplinadas especificamente em lei. O exercício do direito de retirada se dá mediante reembolso, que consistem em operação pela qual, nos casos previstos em lei, a companhia paga o valor patrimonial das ações aos acionistas dissidentes de deliberação da assembleia-geral o valor de suas ações. Podem ser elencadas as seguintes hipóteses de direito de reembolso: 1. criação de ações preferenciais ou aumento de classe de ações preferenciais existentes, sem guardar proporção com as demais classes de ações preferenciais, salvo se já previstos ou autorizados pelo estatuto; 41 2. alteração nas preferências, vantagens e condições de resgate ou amortização de uma ou mais classes de ações preferenciais, ou criação de nova classe mais favorecida; 3. redução do dividendo obrigatório; 4. fusão da companhia, ou sua incorporação em outra; 5. participação em grupo de sociedades (art. 265); 6. mudança do objeto da companhia; 7. cisão da companhia; 8. transformação da sociedade anônima em limitada (quando há autorização no estatuto para transformação da sociedade por decisão não unânime) – art. 221 9. operações societárias que resultem no fechamento da companhia – art. 223 10. incorporação de ações (quando se torna subsidiária integral de outra) – art. 252 11. transferência do controle acionário ao Poder Público, em razão de desapropriação – art. 236 12. compra do controle de qualquer sociedade por uma companhia aberta – art. 256 Com fundamento no art. 205 da Lei nº 6.404/76, o Superior Tribunal de Justiça entende que não faz jus ao recebimento de dividendos o sócio que manteve essa condição durante o exercício financeiro sobre o qual é apurado o lucro, mas se desliga da empresa, por alienação de suas ações, em data anterior ao ato de declaração do benefício. Imagine que um acionista possuía 40 mil ações ordinárias da sociedade anônima e, em fevereiro de 2019, ele vendeu suas ações. Em abril/2019, a S.A. realizou Assembleia Geral Ordinária e deliberou pagar aos acionistas da companhia os dividendos apurados no ano anterior (2018). Tal acionista não terá direito ao recebimento porque, na data do ato de declaração do dividendo (data da Assembleia), ele já não mais fazia parte do quadro de acionistas da Companhia. STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.281-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/8/2017 (Info 610). 42 São considerados administradores da companhia os membros do Conselho de Administração e da Diretoria. Eles têm como deveres: diligência,lealdade e informação. Diligência (artigo 153) consiste em cuidar do negócio como se fosse seu. Lealdade (artigo 155) não pode utilizar as informações privilegiadas em benefício próprio ou alheio. Informação (artigo 156) desde a nomeação deve informar a sua participação no capital social da sociedade administrativa e em outras sociedades por ela controladas. O acionista controlador é a pessoa natural ou jurídica, ou grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que seja titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembleia geral e o poder de eleger a maioria dos administradores, e que usa efetivamente esse poder para dirigir e orientar o funcionamento do órgãos da companhia. Ele responde pelos danos causados por atos praticados com abuso de poder e que impliquem danos ou prejuízos aos demais acionistas, à companhia ou à sociedade. No que tange à dissolução, à liquidação e à extinção das sociedades anônimas, convém enfatizar que ela poderá ocorrer: De pleno direito: a) término do prazo de duração; b) em qualquer caso específico previsto no estatuto; c) por deliberação da assembleia geral; d) pela existência de um único acionista, verificada em AGO, se no mínimo de dois não for reconstituído até à do ano seguinte; e) e pela extinção, na forma da lei, da autorização para funcionar. Por decisão judicial: a) for anulada a sua constituição em ação proposta por qualquer acionista; b) for provado que não poderá alcançar o seu objetivo em ação proposta por acionistas que representem 5% ou mais do capital social; c) for decretada a falência, na forma da respectiva lei. Por decisão da autoridade administrativa competente: a) nos casos e na forma prevista em lei especial; 43 b) na falta de autorização devida para a negociação de ações no mercado de capitais. Após a dissolução terá início a liquidação, que poderá ser extrajudicial (competindo à assembleia geral deliberar o seu modo e nomear o liquidante) ou judicial. A companhia dissolvida conserva a sua personalidade jurídica até a sua extinção, para que possa ser efetuada a liquidação. O liquidante tem os mesmos deveres e responsabilidades do administrador. O Superior Tribunal de Justiça admite a dissolução parcial da sociedade anônima que não está gerando lucros. Para a corte, é possível que sociedade anônima de capital fechado, ainda que não formada por grupos familiares, seja dissolvida parcialmente quando, a despeito de não atingir seu fim – consubstanciado no auferimento de lucros e na distribuição de dividendos aos acionistas –, restar configurada a viabilidade da continuação dos negócios da companhia. STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.263-PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 6/12/2016 (Info 595). Além disso, a Terceira Turma do STJ, no REsp 1.400.264/RS, decidiu que "a legitimidade passiva ad causam em ação de dissolução parcial de sociedade anônima fechada é da própria companhia, não havendo litisconsórcio necessário com todos os acionistas". Segundo a relatora, Ministra Nancy Andrighi, "os contornos concretos do litigio dizem respeito unicamente á dissolução parcial da companhia, com a retirada dos recorridos, acionistas minoritários. Esse dado é relevante porque o resultado útil do processo, na perspectiva dos autores da demanda, cinge- se à sua retirada da sociedade com a respectiva apuração de haveres, portanto, eventual acolhimento do pedido formulado na petição inicial não conduz á absoluta inviabilidade de manutenção da empresa por dissolução total". Por fim, cabe tratar das operações societárias, que consistem em alterações no tipo ou na estrutura da sociedade empresária. Compreendem a transformação, incorporação, fusão e cisão. Se essas operações envolverem uma sociedade institucional (anônima ou comandita por 44 ações) seguem a disciplina prevista na LSA (arts. 220 a 234). Do contrário, aplicam-se as regras previstas no Código Civil. Nesse sentido, tem-se o seguinte enunciado do Conselho de Justiça Federal. Enunciado 230 do CJF – Art. 1.089: A fusão e a incorporação de sociedade anônima continuam reguladas pelas normas previstas na Lei n. 6.404/76, não revogadas pelo Código Civil (art. 1.089), quanto a esse tipo societário. [A comandita por ações segue o mesmo regime da S.A – Vide 1.090 do CC/02 e o Enunciado 232 do CJF abaixo transcrito] Em breve descrição, é possível elencar as seguintes operações societárias mais relevantes: Transformação: ocorre quando há mudança de tipo societário, ou seja, de uma S/A para LTDA ou vice-versa, independentemente, de dissolução e liquidação de um tipo para outro. Também há transformação caso haja alteração de aberta para fechada ou vice-versa. A transformação não prejudica os direitos dos credores, que continuarão, até o pagamento integral dos seus créditos, com as mesmas garantias que o tipo anterior de sociedades lhes oferecia. Fusão: ocorre quando duas ou mais sociedades se unem, as quais se extinguem, para formar uma nova sociedade, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações. O sócio dissidente da sociedade em que ocorreu a fusão tem direito de retirada da companhia. Segerar concentração de mercado, haverá apreciação de CADE (20% do mercado). Incorporação: uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhe sucede em todos os direitos e obrigações. As sociedades absorvidas extinguem-se. O sócio dissidente da sociedade em que ocorreu a incorporação também tem direito de retirada da companhia, a não ser que seja titular de ação de espécie ou classe que tenha liquidez e dispersão no mercado, hipótese em que não lhe é assegurado esse direito. O sócio da companhia incorporadora não tem direito de retirada. Se houver concentração de mercado, haverá apreciação do CADE (20% do mercado). Cisão: é a operação pela qual a companhia transfere parcela do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver a transferência de todo o seu patrimônio (total), ou 45 dividindo-se o seu capital (parcial). Na cisão com extinção da companhia cindida, as sociedades que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações da companhia extinta. Já a companhia cindida que subsistir e as que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações da primeira anteriores à cisão. O sócio da companhia cindida tem direito de retirada. Tal como na fusão, a cisão poderá estar condicionada à aprovação pelo CADE se as sociedades resultantes possuírem 20% ou mais do mercado relevante daquele setor ou se qualquer dos participantes tiver registrado faturamento bruto anual no último balanço equivalente ou superior a quatrocentos milhões de reais. 46 QUADRO SINÓTICO Sociedades SNC SCP Ltda S/A SCA SCS Personalidade Jurídica Personificada Não Personificada Personificada Personificada Personificada Personificada Responsabilidade dos sócios por obrigações sociais Ilimitada Mista: Ostensivo: Direta e Ilimitada Participante: Subsidiária e Limitada Limitada, mas solidária pela integralização do capital social Limitada, mas solidária pela integralização do capital social Mista: Diretor Ilimitada Investidor Limitada Mista: Comanditado Ilimitada Comanditário (comandante) Limitada Unidade de participação societária Quotas Quotas Quotas Ações Ações Quotas Quanto à natureza do ato constitutivo Contratual Contratual Contratual Institucional Contratual Contratual Quanto à natureza da relação entre os sócios De pessoas De pessoas De pessoas De capital ou * de pessoas (S/A fechadas e familiares) De pessoas De pessoas Administração Próprios sóciosSócio Ostensivo Sócios ou não sócios autorizados pelo contrato social Compete à Diretoria ou ao Conselho de Administração, se houver Compete aos diretores escolhidos no ato constitutivo Comanditados Nome Empresarial Firma Social Por não ter personalidade, não tem nome empresarial Firma ou Denominação Denominação Firma ou Denominação Firma Social 47 QUESTÕES Questão 1 XXXI EXAME DE ORDEM – FGV - 2020: Anadia e Deodoro são condôminos de uma quota de sociedade limitada no valor de R$ 13.000,00 (treze mil reais). Nem a quota nem o capital da sociedade – fixado em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) – se encontram integralizados. Você é consultado(a), como advogado(a), sobre a possibilidade de a sociedade demandar os condôminos para que integralizem a referida quota. Assinale a opção que apresenta a resposta correta. A) Eles são obrigados à integralização apenas a partir da decretação de falência da sociedade. B) Eles não são obrigados à integralização, pelo fato de serem condôminos de quota indivisa. C) Eles são obrigados à integralização, porque todos os sócios, mesmo os condôminos, devem integralizar o capital. D) Eles não são obrigados à integralização, porque o capital da sociedade é inferior a 100 salários mínimos. Comentário: Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. 48 § 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) § 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio único, no que couber, as disposições sobre o contrato social. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) Art. 1.056. A quota é indivisível em relação à sociedade, salvo para efeito de transferência, caso em que se observará o disposto no artigo seguinte. § 1º No caso de condomínio de quota, os direitos a ela inerentes somente podem ser exercidos pelo condômino representante, ou pelo inventariante do espólio de sócio falecido. § 2º Sem prejuízo do disposto no art. 1.052, os condôminos de quota indivisa respondem solidariamente pelas prestações necessárias à sua integralização. Questão 2 XXXI EXAME DE ORDEM – FGV - 2020: No contrato da sociedade empresária Arealva Calçados Finos Ltda., não consta cláusula de regência supletiva pelas disposições de outro tipo societário. Ademais, tanto no contrato social quanto nas disposições legais relativas ao tipo adotado pela sociedade não há norma regulando a sucessão por morte de sócio. Diante da situação narrada, assinale a afirmativa correta. A) Haverá resolução da sociedade em relação ao sócio em caso de morte. B) Haverá transmissão causa mortis da quota social. C) Caberá aos sócios remanescentes regular a substituição do sócio falecido. D) Os sócios serão obrigados a incluir, no contrato, cláusula dispondo sobre a sucessão por morte de sócio. 49 Comentário: CC/02. Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo: I - se o contrato dispuser diferentemente; II - se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade III - se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido. Questão 3 XXVIII EXAME DE ORDEM – FGV - 2019: Alaor, insatisfeito com o pequeno lucro do restaurante do qual era sócio, retirou-se da sociedade empresária e averbou, na respectiva junta comercial, novo contrato social, onde constava sua retirada. O empresário, 36 meses após esse fato, foi surpreendido com sua citação em uma reclamação trabalhista ajuizada dias antes. Sobre a hipótese apresentada, considerando a atual redação da CLT, assinale a afirmativa correta. A) Alaor responde solidariamente pelos débitos da sociedade na ação trabalhista em referência. B) Alaor responde subsidiariamente pelos débitos da sociedade na ação trabalhista em referência. C) Alaor não mais responde, na ação trabalhista em referência, pelos débitos da sociedade. D) No caso, primeiro responde a empresa devedora, depois, os sócios atuais e, em seguida, os sócios retirantes, que é o caso de Alaor. 50 Comentário: O Sócio retirante responde subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas da sociedade da qual participou, nas ações ajuizadas até dois anos após a averbação do ato de modificação do contrato, obedecida a seguinte ordem de preferência: I - A empresa devedora; II- Os sócios; III- Os sócios retirantes. CLT Art. 10-A. O sócio retirante responde subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas da sociedade relativas ao período em que figurou como sócio, somente em ações ajuizadas até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, observada a seguinte ordem de preferência: Questão 4 XXVIII EXAME DE ORDEM – FGV - 2019: Felipe Guerra, de nacionalidade portuguesa, residente em Maceió/AL, foi eleito diretor da Companhia Mangue do Porto Empreendimentos Imobiliários. Sabe-se que a referida companhia tem sede em Florânia/RN; que ela não tem Conselho de Administração e que Felipe Guerra não é seu acionista. Com base nessas informações, avalie a eleição de Felipe Guerra e assinale a afirmativa correta. A) Não foi regular, em razão de não ter a qualidade de acionista da companhia. B) Foi regular, ainda que seu domicílio seja em Estado diverso daquele da sede da companhia. C) Não foi regular, em razão de sua nacionalidade. D) Foi regular, diante da ausência de Conselho de Administração; do contrário, seria irregular. 51 Comentário: Lei 6404 - Art. 146. Poderão ser eleitas para membros dos órgãos de administração pessoas naturais, devendo os diretores ser residentes no País. § 1 A ata da assembleia-geral ou da reunião do conselho de administração que eleger administradores deverá conter a qualificação e o prazo de gestão de cada um dos eleitos, devendo ser arquivada no registro do comércio e publicada. § 2 A posse do conselheiro residente ou domiciliado no exterior fica condicionada à constituição de representante residente no País, com poderes para receber citação em ações contra ele propostas com base na legislação societária, mediante procuração com prazo de validade que deverá estender-se por, no mínimo, 3 (três) anos após o término do prazo de gestão do conselheiro. Questão 5 XXVII EXAME DE ORDEM – FGV - 2018: Dirce Reis trabalha como advogada e presta apoio jurídico aos empreendedores da cidade de São Francisco interessados na constituição de sociedades cooperativas. Um grupo de prestadores de serviços procurou a consultora para receber informações sobre o funcionamento de uma cooperativa. Sobre as regras básicas de funcionamento de uma cooperativa, assinale a afirmativa correta. A) O estatuto da cooperativa deve ser aprovado previamente pela Junta Comercial do Estado da Federação onde estiver a sede, sendo arquivado no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. B) Na sociedade cooperativa, cada sócio tem direito a um só voto nas deliberações sociais, tenha ou não capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de sua participação. C) A responsabilidade dos sócios de uma cooperativa é sempre limitada ao valor do capital social, mas todos respondem solidária e ilimitadamente pela sua integralização. D) Sob pena de nulidade, o capital social da cooperativa deverá ser igual ou superior a 100 salários mínimos, que também será variável durante toda sua existência. 52 Comentário: Art. 1.094. São características da sociedade cooperativa: I - variabilidade, ou dispensa do capital social; II - concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a administração da sociedade, sem limitação de número máximo; III - limitação do valor da soma de quotas docapital social que cada sócio poderá tomar; IV - intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à sociedade, ainda que por herança; V - quórum, para a assembleia geral funcionar e deliberar, fundado no número de sócios presentes à reunião, e não no capital social representado; VI - direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha ou não capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de sua participação; VII - distribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor das operações efetuadas pelo sócio com a sociedade, podendo ser atribuído juro fixo ao capital realizado; VIII - indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em caso de dissolução da sociedade.. Questão 6 XXVI EXAME DE ORDEM – FGV - 2018: Leandro, Alcides e Inácio pretendem investir recursos oriundos de investimentos no mercado de capitais para constituir uma companhia fechada por subscrição particular do capital. A sociedade será administrada por Inácio e sua irmã, que não será sócia. Considerando-se o tipo societário e a responsabilidade legal dos sócios a ele inerente, assinale a afirmativa correta. 53 A) Leandro, Alcides e Inácio responderão limitadamente até o preço de emissão das ações por eles subscritas. B) Leandro, Alcides e Inácio responderão limitadamente até o valor das quotas por eles subscritas, mas solidariamente pela integralização do capital. C) Leandro, Alcides e Inácio responderão ilimitada, solidária e subsidiariamente pelas obrigações sociais. D) Leandro e Alcides responderão limitadamente até o preço de emissão das ações por eles subscritas, e Inácio, como administrador, ilimitada e subsidiaramente, pelas obrigações sociais. Comentário: Lei 6.404/76, Art. 1º A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. Questão 7 XXVI EXAME DE ORDEM – FGV - 2018: Miguel e Paulo pretendem constituir uma sociedade do tipo limitada porque não pretendem responder subsidiariamente pelas obrigações sociais. Na consulta a um advogado previamente à elaboração do contrato, foram informados de que, nesse tipo societário, todos os sócios respondem A) solidariamente pela integralização do capital social. B) até o valor da quota de cada um, sem solidariedade entre si e em relação à sociedade. C) até o valor da quota de cada um, após cinco anos da data do arquivamento do contrato. D) solidariamente pelas obrigações sociais. 54 Comentário: De acordo com o CC: Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social Questão 8 XXIII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017: Marcel, durante a realização de seu estágio em um escritório de advocacia, devidamente autorizado por seu chefe, atendeu a uma consulta formulada por um cliente. O cliente desejava esclarecimentos sobre o direito de voto e seu exercício nas companhias. Marcel respondeu, corretamente, que A) na eleição dos membros do Conselho Fiscal, o voto poderá ser múltiplo. B) em caso de penhor da ação, somente o credor pignoratício exercerá o direito de voto. C) independente da espécie ou da classe de ação, o voto é um direito essencial de todo e qualquer acionista. D) a qualquer espécie ou classe de ação, é vedado atribuir voto plural. Comentário: Art. 110. A cada ação ordinária corresponde 1 (um) voto nas deliberações da assembleia-geral. § 2º É vedado atribuir voto plural a qualquer classe de ações. A LSA, art. 110, §2º, estabelece que é vedado atribuir voto plural a qualquer classe de ações. Por voto plural, entenda-se atribuir mais de um voto a uma mesma ação. Assim, haveria voto plural se eu, acionista ordinário da Petrobrás, com uma única ação ordinária da sociedade, tivesse a possibilidade de votar duas ou mais vezes matéria em pauta. 55 Questão 9 XXIII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017: Em 11 de setembro de 2016, ocorreu o falecimento de Pedro, sócio de uma sociedade simples. Nessa situação, o contrato prevê a resolução da sociedade em relação a um sócio. Na alteração contratual ficou estabelecida a redução do capital no valor das quotas titularizadas pelo ex-sócio, sendo o documento arquivado no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, em 22 de outubro de 2016. Diante da narrativa, os herdeiros de Pedro são responsáveis pelas obrigações sociais anteriores à data do falecimento, até dois anos após A) a data da resolução da sociedade e pelas posteriores e em igual prazo, a partir de 11 de setembro de 2016. B) a data do arquivamento da resolução da sociedade (22 de outubro de 2016). C) a data da resolução da sociedade em relação ao sócio Pedro (11 de setembro de 2016). D) a data do arquivamento da resolução da sociedade e pelas posteriores e em igual prazo, a partir de 22 de outubro de 2016. Comentário: Código Civil Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo: I - se o contrato dispuser diferentemente; II - se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade; III - se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido. 56 Art. 1.032. A retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a resolução da sociedade; pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a averbação Questão 10 XXI EXAME DE ORDEM – FGV - 2016: Bernardino adquiriu de Lorena ações preferenciais escriturais da companhia Campos Logística S/A e recebeu do(a) advogado(a) orientação de como se dará a formalização da transferência da propriedade. A resposta do(a) advogado(a) é a de que a transferência das ações se opera A) pelo extrato a ser fornecido pela instituição custodiante, na qualidade de proprietária fiduciária das ações. B) pela inscrição do nome de Bernardino no livro de Registro de Ações Nominativas em poder da companhia. C) pelo lançamento efetuado pela instituição depositária em seus livros, a débito da conta de ações de Lorena e a crédito da conta de ações de Bernardino. D) por termo lavrado no livro de Transferência de Ações Nominativas, datado e assinado por Lorena e por Bernardino ou por seus legítimos representantes. Comentário: Lei 6.404/76: Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Art. 35. A propriedade da ação escritural presume-se pelo registro na conta de depósito das ações, aberta em nome do acionista nos livros da instituição depositária. § 1º A transferência da ação escritural opera-se pelo lançamento efetuado pela instituição depositária em seus livros, a débito da conta de ações do alienante e a crédito da conta de 57 ações do adquirente, à vista de ordem escrita do alienante, ou de autorização ou ordem judicial, em documento hábil que ficará em poder da instituição. § 2º A instituição depositária fornecerá ao acionista extrato da conta de depósito das ações escriturais, sempre que solicitado, ao término de todo mês em que for movimentada e, ainda que não haja movimentação, ao menos uma vez por ano. 58 GABARITO COMENTADO Questão 1 - C Questão 2 - A Questão 3 - C Questão 4 - B Questão 5 - B Questão 6 - A Questão 7 - A Questão 8 - D Questão 9 - B Questão 10 - C 59 QUESTÃO DESAFIO Qual o conceito de sociedades? Quais características as diferenciam das associações? Responda em até 5 linhas 60 GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO Pessoas jurídicas direito privado, com finalidade econômica e repartição de lucros. Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta: Pessoa jurídica de direito privado André Luiz Santa Cruz Ramos (Direito EmpresarialEsquematizado, 2ª ed., 2012, p. 210) leciona que: “Sucintamente, pode-se dizer que o direito societário compreende o estudo das sociedades. E as sociedades, por sua vez, são as pessoas jurídicas de direito privado, decorrentes da união de pessoas, que possuem fins econômicos, ou seja, são constituídas com a finalidade de exploração de uma atividade econômica e repartição dos lucros entre seus membros”. Assim, de forma resumida, sociedades são pessoas jurídicas de direito privado, que possuem finalidade econômica e visam à repartição de lucros. Finalidade econômica e repartição de lucros E complementa o referido doutrinador: “São justamente a finalidade econômica e o intuito lucrativo as características que diferenciam as sociedades das associações. Com efeito, ambas são pessoas jurídicas de direito privado decorrentes da união de pessoas, mas o traço diferencial entre elas é o fato de que a sociedade exerce atividade econômica e visa à partilha de lucros entre seus sócios (art. 981 do Código Civil), enquanto a associação não possui fins econômicos e, consequentemente, não distribui lucros entre seus associados (art. 53 do Código Civil)”. Finalidade econômica e intuito lucrativo Pela importância, transcreve-se os dispositivos acima mencionados: “Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.” “Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.” 61 JURISPRUDÊNCIA STJ. REsp 1653421/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/10/2017, DJe 13/11/2017 RECURSO ESPECIAL. DIREITO SOCIETÁRIO. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. SÓCIO MAJORITÁRIO. PRÁTICA DE FALTA GRAVE. EXCLUSÃO. ART. 1.030 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. SÓCIOS MINORITÁRIOS. INICIATIVA. POSSIBILIDADE. 1. Controvérsia limitada a definir se é possível a exclusão judicial de sócio majoritário de sociedade limitada por falta grave no cumprimento de suas obrigações, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios. 2. Nos termos do Enunciado nº 216/CJF, aprovado na III Jornada de Direito Civil, o quórum de deliberação previsto no art. 1.030 do Código Civil de 2002 é de maioria absoluta do capital representado pelas quotas dos demais sócios. 3. Na apuração da maioria absoluta do capital social para fins de exclusão judicial de sócio de sociedade limitada, consideram-se apenas as quotas dos demais sócios, excluídas aquelas pertencentes ao sócio que se pretende excluir, não incidindo a condicionante prevista no art. 1.085 do Código Civil de 2002, somente aplicável na hipótese de exclusão extrajudicial de sócio por deliberação da maioria representativa de mais da metade do capital social, mediante alteração do contrato social. 4. Recurso especial não provido. (STJ. REsp 1642118/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Rel. p/ Acórdão Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/09/2017, DJe 20/02/2018) RECURSO ESPECIAL. DIREITO EMPRESARIAL. AÇÃO REGRESSIVA. CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE DIFERENÇA DE AÇÕES. DEBÊNTURES CONVERSÍVEIS EM AÇÃO PREFERENCIAL. AUMENTO DE CAPITAL SOCIAL. CISÃO PARCIAL. DÍVIDAS PRÓPRIAS DE NATUREZA SOCIETÁRIA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Recurso especial em que se discute a possibilidade de ação de regresso para ressarcimento de condenação suportada exclusivamente por empresa cindidida contra a empresa que absorveu parcela de seu patrimônio líquido. 2. Para admissão da ação de regresso não se discute a responsabilidade solidária por dívidas, mas tão somente a titularidade da obrigação na condição de devedor. 3. A transmissão das obrigações da empresa cindida é, em regra, objeto de livre contratação entre as empresas, desde que satisfeitas as condições legais estabelecidas de forma distinta para as obrigações cíveis e aquelas de natureza societária, interna corporis. 4. Inexistindo anuência de todos os acionistas, inclusive aqueles sem direito a voto (art. 229, § 5º, da LSA) quanto à atribuição de proporção societária diferenciada, a obrigação de emissão das ações decorrentes de 62 opção de debenturistas é obrigação eminentemente societária, a qual somente seria cumprida mediante a emissão de ações correspondentes pelas empresas cindendas. 5. In casu, não houve a referida deliberação, de modo que a empresa cindenda é devedora da obrigação, que foi convertida em perdas e danos e suportada integralmente pela cindida, sendo, portanto, devida a recomposição proporcional ao patrimônio líquido por ela absorvido. 6. Recurso especial provido. REsp 1393724/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/ Acórdão Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/10/2015, DJe 04/12/2015 RECURSO ESPECIAL. CIVIL E EMPRESARIAL. JUNTA COMERCIAL. EXIGÊNCIA DE CERTIDÃO NEGATIVA TRIBUTÁRIA. ANTINOMIA JURÍDICA DE SEGUNDO GRAU. CONFLITO ENTRE O CRITÉRIO CRONOLÓGICO E O DA ESPECIALIDADE. HIPÓTESE DE PREVALÊNCIA DO CRITÉRIO CRONOLÓGICO. PREVALÊNCIA DA LIVRE INICIATIVA. 1. Exigência, por Junta Comercial, de certidões negativas tributárias como condição para o arquivamento de ato de transformação de sociedade simples em sociedade empresária. 2. Antinomia jurídica entre a Lei 8.934/94, ao regular o registro público de empresas mercantis e atividades afins, e leis tributárias específicas anteriores. 3. Possibilidade de aplicação do critério cronológico ou do critério da especialidade, caracterizando um conflito qualificado como "antinomia de segundo grau". 4. Prevalência excepcional do critério cronológico. Precedente da Terceira Turma. 5. Derrogação tácita dos dispositivos de leis tributárias anteriores que condicionavam o ato de arquivamento na Junta Comercial à apresentação de certidão negativa de débitos. 6. Interpretação condizente com o princípio constitucional da livre iniciativa. 7. RECURSO ESPECIAL PROVIDO, EM PARTE. REsp 1729554/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 08/05/2018, DJe 06/06/2018 RECURSO ESPECIAL. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. CPC/2015. PROCEDIMENTO PARA DECLARAÇÃO. REQUISITOS PARA A INSTAURAÇÃO. OBSERVÂNCIA DAS REGRAS DE DIREITO MATERIAL. DESCONSIDERAÇÃO COM BASE NO ART. 50 DO CC/2002. ABUSO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. DESVIO DE FINALIDADE. CONFUSÃO PATRIMONIAL. INSOLVÊNCIA DO DEVEDOR. DESNECESSIDADE DE SUA COMPROVAÇÃO. 1. A desconsideração da personalidade jurídica não visa à sua anulação, mas somente objetiva desconsiderar, no caso concreto, dentro de seus limites, a pessoa jurídica, em relação às pessoas ou bens que atrás dela se escondem, com a declaração de sua ineficácia para determinados efeitos, prosseguindo, todavia, incólume para seus outros fins legítimos. 2. O CPC/2015 inovou no assunto prevendo e regulamentando procedimento próprio para a operacionalização do instituto de inquestionável relevância social e instrumental, que colabora com a recuperação de crédito, combate à fraude, fortalecendo a segurança do mercado, em razão do acréscimo de garantias aos credores, apresentando como modalidade de intervenção de terceiros (arts. 133 a 137) 3. Nos termos do novo regramento, o pedido de desconsideração não inaugura ação autônoma, mas se instaura incidentalmente, podendo ter início nas 63 fases de conhecimento, cumprimento de sentença e executiva, opção, inclusive, há muito admitida pela jurisprudência, tendo a normatização empreendida pelo novo diploma o mérito de revestir de segurança jurídica a questão. 4. Os pressupostos da desconsideração da personalidade jurídica continuam a ser estabelecidos por normas de direito material, cuidando o diploma processual tão somente da disciplina do procedimento. Assim, osrequisitos da desconsideração variarão de acordo com a natureza da causa, seguindo- se, entretanto, em todos os casos, o rito procedimental proposto pelo diploma processual. 6. Nas causas em que a relação jurídica subjacente ao processo for cível-empresarial, a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica será regulada pelo art. 50 do Código Civil, nos casos de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial. 7. A inexistência ou não localização de bens da pessoa jurídica não é condição para a instauração do procedimento que objetiva a desconsideração, por não ser sequer requisito para aquela declaração, já que imprescindível a demonstração específica da prática objetiva de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial. 8. Recurso especial provido. 64 LEGISLAÇÃO COMPILADA Neste capítulo, faz-se necessário ler: CC/02: art. 44; 50; 981-985; 997-1.141; Lei 6.404/76: art. 44; 50; 981-985; 997-1.141; 65 ESTUDO COMPLEMENTAR Simulado OAB com relatório de desempenho Faça um simulado completo da prova com relatório de desempenho para saber como está indo! Lembre-se, você tem direito a 4 simulados no curso de PDF, que estão disponíveis na sua área do aluno. Basta clicar no ícone ao lado para entrar na plataforma estudeadverum.com.br. App OABeiros Baixe o app OABeiros e fique por dentro das melhores dicas e dos melhores conteúdos para a OAB! Por lá você não só tem acesso a simulados gratuitos de 1ª e 2ª fase como também tem um Vade Mecum online completo, dicas curtas dos professores e aulas completas sobre assuntos chave para a prova! Para fazer o download em seu celular, basta clicar no ícone ao lado. https://estudeadverum.com.br/login https://play.google.com/store/apps/details?id=com.eduardokraus.OABeiros&hl=en_US 66 BIBLIOGRAFIA COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2020. FAZZIO JUNIOR, WALDO. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2020. MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2020. PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora JusPodivm, 2020. Capítulo 4 MAT ERIA L EXE MPL AR 1 SUMÁRIO CAPÍTULOS .............................................................................................................. Error! Bookmark not defined. DIREITO EMPRESARIAL .................................................................................................................................................... 3 Capítulo 4 ............................................................................................................................................................................. 3 8. Da Recuperação Judicial, Extrajudicial e da Falência ........................................................................... 3 8.1 Introdução .................................................................................................................................................... 3 8.2 Disposições comuns ................................................................................................................................... 9 8.2.1 Administrador Judicial ................................................................................................................... 9 8.2.2 Assembleia Geral de Credores ................................................................................................... 11 8.2.3 Comitê de Credores ...................................................................................................................... 13 8.3 Recuperação Judicial ................................................................................................................................ 14 8.4 Recuperação Judicial Especial ................................................................................................................ 19 8.5 Recuperação Extrajudicial ....................................................................................................................... 21 8.6 Falência ....................................................................................................................................................... 23 QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 49 QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 50 GABARITO .......................................................................................................................................................................... 64 JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 67 LEGISLAÇÃO COMPILADA ......................................................................................................................................... 70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................................................. 72 2 E ai, OABeiro! Tudo certinho? A apostila de número 04 do nosso curso de Direito Empresarial tratará sobre Crise na Empresa, matéria que já foi objeto de várias questões no Exame de Ordem ao decorrer desses anos! De acordo com a nossa equipe de inteligência, esse assunto esteve presente apenas 14 VEZES nos últimos 3 anos, sendo considerado um assunto de altíssima relevância! Aqui, a banca costuma seguir o seu padrão: Apresentar um caso hipotético, pelo qual a resposta é respaldada na legislação vigente. Por isso, recomendamos a leitura atenta da letra seca da lei e entendimentos jurisprudenciais, e sempre em companhia de alguma doutrina à sua escolha. Lembre-se: A resolução de questões é a chave para a aprovação! Vamos juntos! 3 DIREITO EMPRESARIAL Capítulo 4 Neste capítulo, estudaremos a teoria geral do direito falimentar, que consubstancia a análise da disciplina das saídas da crise econômico-financeira dos empresários, quais sejam a recuperação judicial/extrajudicial e o processo de falência. 4. Da Recuperação Judicial, Extrajudicial e da Falência 4.1 Introdução Quanto à questão da origem etimológica, falir vem da palavra latina fallere que significa enganar, faltar com a palavra. Falência é um processo de execução coletiva, no qual todo o patrimônio de um empresário declarado falido (pessoa física ou jurídica) é arrecadado, visando o pagamento da universalidade de credores. É um processo judicial complexo que compreende a arrecadação dos bens, sua administração e conservação, bem como a verificação e o acertamento dos créditos, para posterior liquidação dos bens e rateio entre os credores. Compreende também a punição de atos criminosos praticados pelo devedor falido. Para os devedores insolventes, portanto, estabelece o arcabouço normativo de uma execução especial, na qual todos os credores deverão ser reunidos em um único processo, para a execução conjunta do devedor. Em vez de se submeter a uma execução individual, pois, o devedor insolvente deverá se submeter a uma execução concursal, em obediência ao princípio da par condicio creditorum, segundo o qual deve ser conferido tratamento isonômico aos credores. Imaginemos que um credor entra com ação de falência contra o devedor. Se o juiz decretar a falência, todos os bens do falido serão arrecadados. Depois de arrecadados os bens serão vendidos. Com essa venda se consegue dinheiro. Mas esse dinheiro será utilizado para 4 pagamentode todos credores, e não somente aquele que ajuizou a ação. O juiz, ao declarar a falência, declara o estado de insolvência do devedor. Para que se efetue o pagamento dos credores, é preciso observar uma ordem de classificação e aquele que ajuizou a ação pode estar no final da fila e não conseguir receber nada. O pagamento é de todos os credores, não só daquele que ajuizou a ação, por isso que a falência é chamada de execução coletiva. A partir do momento em que o devedor não possui mais meios de superar a crise de sua atividade e suas dívidas se tornam incontornáveis, instaura-se um processo de execução coletiva, visando garantir os credores com o patrimônio do devedor. Se o devedor exerce atividade não empresarial, este procedimento é a insolvência civil; se empresário, teremos a falência. Cuidado! A insolvência civil permanece regulada pelo derrogado Código de Processo Civil de 1973, por força de seu artigo 1.052, que conferiu ultratividade ao regime jurídico da insolvência civil por ele disciplinado. Segundo tal preceito, “até a edição de lei específica, as execuções contra devedor insolvente, em curso ou que venham a ser propostas, permanecem reguladas pelo Livro II, Título IV, da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973.” Note-se que, a falência não decorre da insolvência econômica (ativo insuficiente para solver o passivo), mas da insolvência jurídica, que se caracteriza nas hipóteses do art. 94, I, II e III. Como dito, o princípio do par condicio creditorum preconiza que os credores do devedor que não possuem condições de saldar integralmente todas as suas obrigações devem receber do direito um tratamento parificado, dando-se aos que integram uma mesma categoria iguais chances de efetivação de seus créditos. Por isto se instaura uma execução coletiva. Não há como deixar de reconhecer, pois, o caráter híbrido ou complexo da falência, diante da confluência de normas processuais e materiais no arcabouço jurídico-falimentar. Em razão disso, a Lei 11.101/2005 é considerada como um microssistema jurídico. 5 Em relação à vigência intertemporal da Lei nº 11.101/05, já decidiu o STJ a possível ocorrência de três situações diferentes (REsp 1.105.176/MG): • Em falência ajuizada e decretada antes da vigência da nova lei, aplica-se o antigo Decreto-Lei 7.661/45, em decorrência da interpretação pura e simples do art. 192, caput; • Em falência ajuizada e decretada após a vigência da nova lei, esta será integralmente aplicada em virtude do entendimento a contrário sensu do art. 192, caput; • Em falência ajuizada antes da lei nova, mas decretada após a sua vigência, aplica-se o Decreto-Lei 7.661/45 até a sentença e a Lei 11.101/05 a partir desse momento (sentença), em consequência da exegese do art. 192, §4º. A lei nº 11.101/05 (Lei de Recuperação Judicial e Falência – LFREF) trata da recuperação judicial (substituta da concordata preventiva, embora os processos de concordata já iniciados continuem regidos pela legislação anterior), da recuperação extrajudicial (inovação da nova lei, já que na legislação anterior a chamada “concordata branca” era considerado ato falimentar) e da falência. A LFREF está fundada na teoria da empresa, se aplicando apenas a quem exerça atividade empresária (empresário individual, sociedade empresarial e EIRELI). A sociedade simples, por exemplo, não pode recorrer à recuperação judicial ou ser declarada falida. A Lei nº 11.101/05 não se aplica a empresa pública e a sociedade de economia mista (inaplicabilidade absoluta). Também não se aplica à instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores (inaplicabilidade relativa, podendo acontecer se houve previsão na legislação específica, como prevê a Lei 6.024/74 para os bancos). Segundo a letra “b” do art. 21 da Lei 6.024/74, à vista do relatório ou da proposta previstos no artigo 11, apresentados pelo liquidante, o Banco Central do Brasil poderá autorizá-lo a requerer 6 a falência da entidade, quando o seu ativo não for suficiente para cobrir pelo menos a metade do valor dos créditos quirografários, ou quando houver fundados indícios de crimes falimentares. Tal procedimento aplica-se, tão somente, à instituições financeiras, definidas pela Lei 4.595/64 como: Art. 17. Consideram-se instituições financeiras as pessoas jurídicas, públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros. As cooperativas de crédito, por sua vez, são consideradas instituições financeiras, por força da Lei Complementar n. 130/20091. Daí existirem diversas decisões no sentido da possibilidade de decretação da falência dessas instituições2. No entanto, há posições doutrinárias 1 Apesar de não se sujeitar à falência, a cooperativa exerce atividade empresarial, pois atua produzindo bens e serviços para o mercado. Nesse sentido, Waldírio Bulgarelli, Tratado de Direito Empresarial, 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2000, p. 268-270; do mesmo autor, As sociedades cooperativas e sua disciplina jurídica. Rio de Janeiro: Renovar, 1998, p. 178-179; Rachel Sztajn, Código Civil comentado, v. XI. Coord. Álvaro Villaça Azevedo. São Paulo: Atlas, 2008, p. 142-143; Ronie Preuss Duarte, Teoria da empresa à luz do Código Civil brasileiro. São Paulo: Método, 2004, p. 101. Em sentido contrário, Walfrido Jorge Warde Júnior, Tratado de direito empresarial, v. I. 2ª ed., Coord. Modesto Carvalhosa. São Paulo: RT, 2019, p.147-149. Sobre o caráter societário da cooperativa (que alguns consideram uma associação), vide a resenha de Jorge Manuel Coutinho de Abreu, Curso de direito comercial. Das sociedades, v. II, 6ª ed. Coimbra: Almedina, 2019, p. 46-47, esp. nota 76. Para Haroldo Verçosa, Curso de direito comercial, v. 2. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 546, "as cooperativas ficam a meio caminho entre as sociedades civis e as sociedades empresárias, cabendo-lhes a natureza jurídica de ente híbrido, ou de sociedade sui generis...". Friedrich Kübler, Derecho de Sociedade, 5ª ed., trad. espanhola. Madrid: Fundación Cultural del Notariado, p. 245, afirma que a cooperativa é um "empresário formal", pois opera no mercado com sua própria denominação social. 2 Acolhendo o entendimento de que as Sociedades Cooperativas de Crédito podem ser submetidas à falência, desde que estejam incluídas nas hipóteses previstas na Lei 6.024/74, tem-se os seguintes julgados: COOPERATIVA DE CRÉDITO RURAL DE NOVA FRIBURGO LTDA. - Em Liquidação Extrajudicial - (CNPJ 86.811.130/0001- 20) - Decretação da falência da sociedade, por sentença em 18.10.2000, pelo MM. Juiz de Direito da Primeira Vara Cível da Comarca de Nova Friburgo (RJ), publicada no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro em 25.10.2000; COOPERATIVA DE CRÉDITO RURAL DE ARACAJU LTDA. (CGC nº 00.377.854/0001-91) - Decretação da falência da sociedade, por sentença em 30.09.98, pela MM. Juíza de Direito da 14. Vara Cível da Comarca de Aracaju (SE), publicada no Diário de Justiça do Estado de Sergipe em 07.10.98; COOPERATIVA DE CRÉDITO RURAL DE MACAE LTDA - CREDI-NORTE (CGC nº 73.634.503/0001-92) - Decretação da falência da sociedade, por sentença em 31.07.97, pelo MM. Juiz de Direito da Primeira Vara da Comarca de Macaé (RJ), publicada no Jornal "O DEBATE" da cidade de Macaé (RJ), em 02.08.97; COOPERATIVA DE CRÉDITO DOS PLANTADORES DE CANA DE PERNAMBUCO LTDA. (CGC nº 10.853.810/0001-44) - Decretação da falência da sociedade, por sentença em 25.02.97, pelo MM. Juiz de Direito da Vara Privativa de Falênciase Concordatas da Comarca de Recife (PE), publicada no Diário Oficial do Estado de Pernambuco em 20.03.97; 7 em contrário, que se respaldam na existência de um regime próprio de intervenção e liquidação extrajudicial para as cooperativas, Por esta razão, em que pesem alguns recentes entendimentos em sentido contrário, doutrinadores de renome sustentam que as cooperativas não podem se submeter à execução concursal do empresário, pois prestam atividade econômica não- empresarial, além de possuírem legislação própria para tratar da liquidação. Nesse sentido, Humberto Theodoro Júnior esclarece que: Há certas sociedades cuja natureza civil é inconteste e até mesmo reconhecida por disposição expressa de lei, mas cujo regime de liquidação, por vontade também do legislador, é especial, fugindo tanto do concurso falimentar como do concurso civil. Assim, as cooperativas, definidas pela Lei 5.764, de 16/12/71 como sociedades civis, podem ser liquidadas extrajudicialmente, mediante intervenção de órgão executivo federal, nos termos do artigo 75 daquele diploma legal O Superior Tribunal de Justiça já expediu decisões na mesma linha da opinião do autor: (…) As sociedades cooperativas não se sujeitam à falência, dada a sua natureza civil e atividade não empresária, devendo prevalecer a forma de liquidação extrajudicial prevista na Lei 5.764/71, (…). 2. A Lei de Falências vigente à época – Decretolei nº 7.661/45 – em seu artigo 1º, considerava como sujeito passivo da falência o comerciante, assim como a atual Lei 11.101/05, que a revogou, atribui essa condição ao empresário e à sociedade empresária, no que foi secundada pelo Código Civil de 2002 no seu artigo 982, § único c/c artigo 1.093, corroborando a natureza civil das referidas sociedades, e, a fortiori, configurando a inaplicabilidade dos preceitos da Lei de Quebras às cooperativas. (…) (AgRg no REsp 999.134/PR, Rel. Min. LUIZ FUX, 1.ª Turma, j. 18.08.2009, DJe 21.09.2009) TRIBUTÁRIO – EXECUÇÃO FISCAL CONTRA COOPERATIVA EM LIQUIDAÇÃO JUDICIAL – INAPLICABILIDADE DA LEI DE FALÊNCIAS – REMESSA DO PRODUTO DA ARREMATAÇÃO AO JUÍZO DA LIQUIDAÇÃO – INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. 1. As sociedades cooperativas não estão sujeitas à falência, uma vez que não possuem natureza empresarial, devendo, portanto, prevalecer a forma de liquidação prevista na Lei 5.764/71. (…) 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no AgRg nos EDcl no REsp 1129512/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/12/2013, DJe 10/12/2013) TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. COOPERATIVA EM LIQUIDAÇÃO. CARÁTER NÃO EMPRESARIAL. LEI DE FALÊNCIAS. INAPLICABILIDADE. APLICAÇÃO DA LEI 5.764/71. ENTENDIMENTO PACÍFICO DO STJ. 1. A jurisprudência desta Corte Superior tem entendimento pacífico no sentido da inaplicabilidade da legislação falimentar às cooperativas em liquidação, pois estas não 8 possuem características empresariais, sendo a elas aplicáveis as disposições previstas na Lei 5.764/71. Precedentes: AgRg no Ag 1.385.428/MG, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 13/09/2011; AgRg no REsp 999.134/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 21/09/2009; REsp 1.202.225/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 06/10/2010. 2. (…) (AgRg no REsp 1109103/SP, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/11/2014, DJe 02/12/2014) TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL CONTRA COOPERATIVA EM LIQUIDAÇÃO JUDICIAL. INAPLICABILIDADE DA LEI DE FALÊNCIAS. MANUTENÇÃO DA MULTA E DOS JUROS MORATÓRIOS. 1. O aresto recorrido adotou tese em conformidade com a jurisprudência deste Tribunal, no sentido de que as cooperativas não estão sujeitas à falência por possuírem natureza civil e praticarem atividades não-empresárias, devendo prevalecer a forma de liquidação prevista na Lei 5.764/71. (…) (REsp 1202225/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/09/2010, DJe 06/10/2010) Uma sociedade limitada não registrada (Sociedade em Comum), também não poderá requerer a falência dos seus devedores ou mesmo requerer o benefício da recuperação judicial, embora possa figurar no polo passivo de uma ação falimentar, visto que, como ensina o brocardo jurídico: “a aquisição de direitos depende da observância da norma, mas a imposição de deveres existirá sempre”. Ora, não seria razoável que, pelo fato de não haver cumprido a obrigação do registro, a sociedade em comum ficasse protegida contra pedidos de decretação de falência. De tal modo, as sociedades irregulares poderão sim figurar no polo passivo de pedidos de falência.3 O juízo competente na recuperação e na falência é o do local do principal estabelecimento, qual seja o local onde o devedor concentra o maior volume de negócios (aquele estabelecimento economicamente mais importante, embora parte da doutrina entenda ser o estabelecimento onde se encontra a administração do empresário).4 Nesse sentido, determina o seguinte enunciado do CJF: Enunciado 466. Para fins do Direito Falimentar, o local do principal estabelecimento é aquele de onde partem as decisões empresariais, e não necessariamente a sede indicada no registro público. 3 PENANTE JR, Francisco. Resumos para concursos, vol. 37, Direito Empresarial, 2ª edição. São Paulo: Editora jus podivm, 2017. p. 192. 4 Questão 12 9 4.2 Disposições comuns O Ministério Público pode atuar como parte, em legitimação extraordinária (substituto processual, defendendo interesse de terceiro em nome próprio), ou como fiscal da lei (custos legis). Não há vedação à inclusão do crédito alimentício nos processos falimentares (se eram descontados em folha, por exemplo). São 3 os órgãos auxiliares do Juízo: o Administrador Judicial, a Assembleia Geral de Credores e o Comitê de Credores. 4.2.1 Administrador Judicial A antiga figura do síndico foi substituída pelo administrador judicial. Trata-se de um dos órgãos auxiliares do juízo na RJ e na F, com função eminentemente executória, servindo como elo entre o juízo e a massa falida (na falência) e o juízo e a empresa em recuperação (na recuperação judicial), zelando pelo cumprimento da LFREF e apoiando o juízo na prática de uma série de procedimentos administrativos, tais como os previstos no art. 22 da LFREF, cuja leitura se recomenda. Decretada a falência, todas as ações sobre bens, interesses ou negócios do falido prosseguirão com o administrador judicial, que será intimado para representar a massa. Nomeado pelo juiz, o administrador judicial pode ser pessoa física idônea, preferencialmente advogado, economista, administrador ou contador, ou pessoa jurídica especializada, devendo ser informado o nome do profissional por ela responsável, que não poderá ser substituído senão por autorização judicial. Na recuperação judicial, o administrador judicial é nomeado no despacho de processamento, mas na falência a nomeação se dá na sentença que decretá-la. Uma vez nomeado, o administrador será intimado pessoalmente para, em 48h, assinar, na sede do juízo, termo de compromisso para o bom e fiel desempenho da função, assumindo com sua assinatura todas as responsabilidades a ela inerentes. Caso não assine o termo no prazo, o juiz nomeará outro administrador. A função de administrador é indelegável, vedando a lei qualquer espécie de substituição, excetuada a hipótese de autorização legal. 10 Atenção, OABeiro! Não poderá exercer a função de administrador judicial a pessoa que, nos últimos 5 anos, no exercício do cargo de administrador judicial em falência ou recuperação judicial anterior, houver sido destituída, deixado de prestar contas dentro dos prazos legais ou tido a prestação de contas desaprovada. Da mesma forma, também estarão impedidosde exercer a função de administrador judicial aqueles que tiverem relação de parentesco ou afinidade até o terceiro grau com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais, ou deles for amigo, inimigo ou dependente. Qualquer interessado, qualquer credor ou mesmo o Ministério Público poderá requerer ao juiz a sua substituição se a nomeação foi contrária à lei, o qual deverá decidir a questão no prazo de 24h do recebimento do requerimento. Por outro lado, a lei não define prazo para apresentação do pedido de substituição. A substituição do administrador judicial, uma vez não possuir caráter sancionatório, não impede que aquele receba a remuneração correspondente ao período anterior à substituição, assim como não implica em impedimento ao exercício da função em outro processo. Não obstante, o administrador que for substituído em razão de renúncia injustificada da função, não terá direito a remuneração. A destituição poderá ser requerida por qualquer interessado, qualquer credor ou pelo Ministério Público. O juiz poderá destituir o administrador que descumprir os seus deveres, for omisso ou negligente, ou praticar atos lesivos ao devedor ou a terceiros, como na hipótese da não apresentação, dentro do prazo legal, das contas ou relatórios a que está obrigado. Logo, diferentemente da substituição, a destituição possui caráter sancionatório, aplicando-se àqueles administradores que não agirem de forma diligente. Em razão de seu caráter, traz como consequências a vedação para novo exercício da função de administrador judicial pelo período de 5 anos e a perda do direito a remuneração. A lei também não define prazo para o pedido de destituição. 11 O administrador também pode renunciar, ainda que sem motivo, mas neste caso não terá direito a remuneração. Responderá o administrador judicial pelos prejuízos eventualmente causados ao devedor, à massa falida ou aos credores sempre que atuar com dolo ou culpa. A remuneração do administrador levará em conta a capacidade de pagamento do devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para atividades afins. Na recuperação judicial, o valor da remuneração do administrador judicial fixada pelo juiz não poderá ultrapassar a 5% do montante devido aos credores, pago a critério do juiz. Na falência, o valor da remuneração do administrador judicial fixada pelo juiz não poderá ultrapassar a 5% do valor dos bens vendidos, pago 60% da remuneração fixada pelo juiz por ocasião da venda dos bens do falido e os 40% restantes deverão ser pagos ao final, após a prestação de contas pelo administrador judicial e a sua aprovação (não fará jus à remuneração o administrador judicial que tiver as suas contas desaprovadas. Tratando-se de microempresa ou empresa de pequeno porte, a remuneração fica restrita a 2%. 4.2.2 Assembleia Geral de Credores É o órgão que agrega todos aqueles que têm crédito contra o empresário individual, sociedade empresária ou EIRELI, constituindo-se em uma instância auxiliar. Será organizada em quatro classes, estando composta por titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente do trabalho; de créditos com garantia real; de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados; e de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte. Desse modo, os titulares de créditos de outra natureza (tributários e decorrentes de multas e penas pecuniárias) não integrarão a assembleia. Tais créditos não estão sujeitos à habilitação, bem como o processo de execução fiscal não se suspende5. A assembleia geral conspira a favor da esperada celeridade dos procedimentos falimentares, haja vista que, uma vez considerados isoladamente, cada credor defenderia seu próprio interesse, o que certamente inviabilizaria o processo. 5 Vide questão 1. 12 Dentre as atribuições da assembleia geral, destacam-se deliberar sobre a aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor, deliberar sobre a possível adoção de outras modalidades de liquidação do ativo na falência e deliberar sobre a conveniência da constituição do comitê de credores, assim como sobre qualquer matéria de interesse dos credores. Presidida pelo administrador judicial e convocada pelo juiz, será instalada, em primeira convocação, a partir da presença de credores que sejam titulares de mais da metade dos valores dos créditos de cada classe, e em segunda convocação, com qualquer número. Via de regra, o voto do credor será proporcional ao valor de seu crédito, mas em relação à classe dos titulares de créditos trabalhistas e decorrentes de acidente do trabalho a proposta deverá ser aprovada por maioria simples dos credores presentes, independentemente do valor de seus créditos. Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as classes da assembleia geral de credores deverão aprovar a proposta, sob pena de inviabilizar a recuperação. Se liga OABeiro! De acordo com o art. 43 da LRF, os sócios do devedor, bem como as sociedades coligadas, controladoras, controladas ou as que tenham sócio ou acionista com participação superior a 10% (dez por cento) do capital social do devedor ou em que o devedor ou algum de seus sócios detenham participação superior a 10% (dez por cento) do capital social, poderão participar da assembleia-geral de credores, sem ter direito a voto e não serão considerados para fins de verificação do quórum de instalação e de deliberação.6 Isso já foi cobrado mais de uma vez no exame de ordem, assim, nada impede que seja cobrado de novo! Vejamos um exemplo: 6 Vide questão 09 13 XXV EXAME DE ORDEM – FGV - 2018: Concessionária de Veículos Primeira Cruz Ltda. obteve concessão de sua recuperação judicial. Diante da necessidade de alienação de bens do ativo permanente, não relacionados previamente no plano de recuperação, foi convocada assembleia geral de credores. A proposta de alienação foi aprovada em razão do voto decisivo da credora Dutra & Corda Representações Ltda., cujo sócio majoritário P. Dutra tem participação de 32% (trinta e dois por cento) no capital da sociedade recuperanda. Com base nesses dados, é correto afirmar que A) a decisão é nula de pleno direito, pois a pretensão de alienação de bens do ativo permanente, não relacionados no plano, enseja a convolação da recuperação judicial em falência. B) o voto da sociedade Dutra & Corda Representações Ltda. não poderia ter sido considerado para fins de verificação do quórum de instalação e de deliberação da assembleia geral. C) a decisão assemblear é anulável, pois a sociedade Dutra & Corda Representações Ltda., como credora, não poderia ter participado nem proferido voto na assembleia geral. D) a assembleia é nula, pois a autorização para a alienação de bens do ativo permanente, não relacionados no plano de recuperação judicial, é prerrogativa exclusiva do administrador judicial. Observação: A questão acima citada e seu respectivo comentário se encontra no final da apostila, na parte da bateria de questões! Não deixe de resolvê-la! 😉 4.2.3 Comitê de Credores É um órgão facultativo que atua no dia a dia do processo, na proteção dos interesses da assembleia geral de credores, sendo dotado de natureza fiscalizatória. É composto por apenas quatro membros, cada qual com direito a dois suplentes, sendo um membro indicado pela classe dos credores trabalhistas, um membro indicado pela classe dos credores com garantia real ou privilégios especiais e um membro indicado pela classe de credores quirografários e com privilégios gerais e um membro indicado pela classe de credores representantes de microempresas e empresas de pequenoporte. 14 São atribuições do comitê de credores, entre outras, fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial, zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei, requerer ao juiz a convocação da assembleia geral de credores e fiscalizar a execução do plano de recuperação judicial. A falta de indicação de representante por qualquer classe não prejudicará a constituição do Comitê, o qual poderá funcionar mesmo com número inferior. Se o Comitê não for formado, suas funções serão exercidas pelo administrador judicial ou pelo juiz, em caso de incompatibilidade daquele. Os membros do comitê de credores não têm direito à remuneração, mas apenas o ressarcimento das despesas comprovadas, após autorização judicial e havendo disponibilidade em caixa. Os membros do comitê de credores responderão pelos prejuízos eventualmente causados ao devedor, à massa falida ou aos credores por atuarem com dolo ou culpa. Da mesma forma que em relação ao administrador judicial, não poderá ser membro do comitê de credores a pessoa que, nos últimos 5 anos, no exercício do cargo de administrador judicial anterior, houver sido destituída, deixado de prestar contas dentro dos prazos legais ou tido a prestação de contas desaprovada. No mesmo sentido, também não poderá ser membro do comitê de credores a pessoa que tiver relação de parentesco ou afinidade até o terceiro grau com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais, ou deles for amigo, inimigo ou dependente. 4.3 Recuperação Judicial 4.3.1 Conceito Trata-se de medida excepcional, que tem por objetivo viabilizar a superação da crise econômico-financeira do empresário individual, da sociedade empresária e da EIRELI ao prever um verdadeiro plano de reestruturação, com diversas medidas de ordem financeira, jurídica e econômica, conferindo assim efetivas chances de superação do quadro de crise. 15 A recuperação judicial tem por objetivos a manutenção da fonte produtora, a manutenção do emprego dos trabalhadores, e a garantia dos interesses dos credores. A ideia é proteger a função social da empresa e o princípio da preservação da empresa. 4.3.2 Legitimidade Têm legitimidade ad causam ativa ordinária o empresário individual, a sociedade empresária e a EIRELI. Têm legitimidade ativa extraordinária o cônjuge supérstite, herdeiros do devedor, inventariante, ou ainda pelo sócio remanescente da sociedade empresária. 4.3.3 Cabimento A recuperação judicial poderá ser pedida diretamente, diante de quadro de crise econômico-financeira do devedor, ou ainda no prazo da defesa/contestação contra pedido de falência. 4.3.4 Pressuposto Processual O art. 48 da LFREF é muito importante para o seu estudo, OABeiro, vez que traz os requisitos para a recuperação judicial, quais sejam:7 Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; 7 Vide questão 11 16 IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, tanto vencidos quanto vincendos (a vencer). Como exceção à regra geral, não são exigíveis do devedor as obrigações a título gratuito, as despesas com habilitação ou impugnação do crédito (salvo as custas judiciais decorrentes de litígio do qual o devedor saiu vencido) e também não se submetem aos efeitos da recuperação judicial os credores titulares de posição de proprietários fiduciários de bens móveis ou imóveis, arrendadores mercantis (credores no contrato de “leasing”), proprietários ou promitentes vendedores de bens imóveis, cujos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade (inclusive em incorporações imobiliárias), proprietários em contrato de venda com reserva de domínio, credor no adiantamento de contrato de câmbio para exportação (ACC), desde que o prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o previsto nas normas específicas da autoridade responsável. Os créditos não incluídos no plano de recuperação serão recebidos pelos credores segundo a forma originalmente contratada. Os credores de empresa em recuperação conservam seus direitos e privilégios contra coobrigados, independentemente do que foi planificado pelo devedor. Portanto, o credor com garantia de terceiro, ainda que sujeito aos efeitos da recuperação judicial, poderá executar o garantidor. O empresário individual, a sociedade empresária e a EIRELI, que atendendo aos requisitos do art. 48 da LFREF, enfrentem crise econômico-financeira, estarão legitimados a pedir a recuperação judicial. Trata-se de meio de superação do seu estado de crise, que deve ser materializado em petição inicial que demonstre ao juiz a realidade econômica, financeira e patrimonial da empresa, bem como sua importância no contexto local, regional ou nacional, deixando patente a sua efetiva capacidade de reestruturação, e observando os demais elementos que devem instruir a petição inicial. 17 4.3.5 Pedido de Recuperação Nos termos do art. 51 da LFREF: Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com: I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira; II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção; III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente; IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento; V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores; VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor; VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras; VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial; IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados. 4.3.6 Processamento Após a distribuição do pedido de recuperação judicial, o devedor não poderá alienar ou onerar bens ou direitos de seu ativopermanente, salvo se houver evidente utilidade reconhecida pelo juiz, com exceção dos atos previamente relacionados no plano. Estando tudo certo na petição inicial, restará ao juiz deferir o processamento. 18 O despacho de processamento é um despacho de mero prosseguimento, que permite que as demais fases sejam realizadas. No despacho, o juiz também nomeará o administrador judicial, determinará a dispensa da apresentação das certidões negativas para que o devedor exerça as suas atividades (exceto para a contratação com o Poder Público ou para o recebimento de benefícios fiscais ou creditícios), ordenará a suspensão de todas as ações e execuções contra o devedor, pelo prazo improrrogável de 180 dias, contado do deferimento do processamento, ressalvadas as ações que demandarem quantia ilíquida, de natureza trabalhista, de execuções fiscais e as promovidas por credores não sujeitos à recuperação. Determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas mensais enquanto perdurar a recuperação e ordenará a intimação do MP e comunicação por cartas às Fazendas. Ainda que não sujeitos à recuperação, se os bens objeto da constrição forem essenciais à atividade empresarial do devedor, não poderão ser retirados ou vendidos no prazo de 180 dias a contar do deferimento do processamento. O devedor não poderá desistir do pedido após o deferimento do seu processamento, salvo se obtiver a aprovação da desistência na assembleia geral de credores. 4.3.7 Plano de Recuperação Judicial O plano de recuperação judicial é o projeto desenvolvido pelo devedor para superação da crise econômico-financeira. Poderá ser baseado em uma ou várias das medidas previstas no rol do art. 50 da LFREF, que se aconselha a leitura atenta. O plano deve ser apresentado pelo devedor ao juízo no prazo improrrogável de 60 dias, a contar da publicação da decisão que deferiu o seu processamento, sob pena de convolação em falência. O plano não poderá prever prazo superior a 1(um) ano para pagamento dos créditos derivados da legislação trabalhista ou decorrentes de acidente de trabalho, vencidos até a data do pedido. Não poderá prever, ainda, prazo superior a 30 dias para pagamento, até o limite de 5 salários mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial, vencidos nos 3 meses anteriores ao pedido. Aprovado o plano pela assembleia geral de credores (anuência expressa ao plano), ou não tendo havido votação em razão da ausência de objeções por parte dos credores (anuência 19 tácita ao plano), o juiz proferirá decisão concedendo a recuperação, decisão contra a qual caberá agravo de instrumento. 4.3.8 Efeitos da Recuperação Com a decisão concessiva, deverá o juiz determinar ao registro público de empresas mercantis a anotação da recuperação judicial no registro correspondente, sendo assim acrescida ao seu nome empresarial a expressão “em Recuperação Judicial”. A decisão que concede a recuperação judicial constitui título executivo judicial. Deferida a recuperação, permanecerá o devedor em recuperação até que se cumpram todas as obrigações previstas no plano para os primeiros 2 anos. Ressalvadas as hipóteses elencadas no art. 64 da LFREF, que se aconselha leitura atenta, permanecerá o devedor (ou seus administradores) à frente da empresa. Após o período de 2 anos, ocorrerá o encerramento da recuperação desde que todas a obrigações previstas para esse período tenham sido cumpridas, presumindo-se que conseguirá cumprir as demais. A recuperação judicial poderá ser convertida em falência, dando-se de imediato prosseguimento ao feito nos próprios autos. São hipóteses de convolação: a) Por deliberação da assembleia geral de credores; b) Pela não apresentação tempestiva, pelo devedor, do plano de recuperação; c) Pela rejeição da assembleia geral de credores ao plano apresentado pelo devedor; e d) Pelo descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano durante o período de 2 anos. 4.4 Recuperação Judicial Especial As microempresas e as empresas de pequeno porte têm tratamento favorecido através do chamado plano especial de recuperação judicial da ME e da EPP. Estão legitimados a requerer a recuperação judicial com base no plano especial empresário individual, a sociedade empresária e a EIRELI que se encaixem na definição de ME e EPP e estejam devidamente registrados como tal. Trata-se de faculdade, podendo a ME ou EPP 20 optar pelo procedimento comum, devendo haver a opção expressa, na petição inicial, se escolhido o plano especial. A decisão que defere o processamento da recuperação especial estabiliza o processo, não podendo, a partir daquele momento, haver a desistência do pedido ou mesmo a alteração do pedido da forma comum para a forma especial ou vice-versa. Portanto, antes do despacho de processamento, poderá haver a desistência. O plano especial deve ser apresentado pelo devedor, informando os meios através dos quais pretende suplantar a crise. O prazo para a apresentação do plano especial é de 60 dias a contar da publicação da decisão que deferir o processamento. A inicial deverá ser instruída com os documentos arrolados pelo art. 51 da LFRE, com a exceção daqueles apontados pelo inciso II (balanço patrimonial, relatório de fluxo de caixa, etc.), podendo assim apresentar livros e escrituração contábil simplificados, nos termos da legislação específica. Os requisitos são os da recuperação ordinária, previstos no art. 48 da LFREF. Estão sujeitos a recuperação judicial com base no plano especial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, excetuados os decorrentes de repasse de recursos oficiais, os fiscais, e os previstos nos §§ 3º e 4º do art. 49 (crédito do proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis; o crédito do arrendador mercantil; o crédito do proprietário ou promitente vendedor de bem imóvel cujo contrato esteja gravado com cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias; de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio e do credor no adiantamento de contrato de câmbio). O plano especial preverá parcelamento em até 36 parcelas mensais, iguais e sucessivas, acrescidas de juros equivalentes à taxa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia – SELIC, podendo conter ainda a proposta de abatimento do valor das dívidas. Preverá o pagamento da 1ª parcela no prazo máximo de 180 dias, contado da distribuição do pedido, e estabelecerá a necessidade de autorização judicial para o aumento de despesas ou contratação de empregados. O plano não acarreta a suspensão do curso da prescrição, nem das ações e execuções por créditos não abrangidos pelo plano. 21 A recuperação com base no plano especial é concedida pelo juiz se atendidas às exigências legais, independentemente de convocação da assembleia geral de credores para deliberação sobre o plano. Apesar de não haver convocação específica para tal fim, é possível que os credores tomem a iniciativa de se reunir e, caso haja objeção de mais da metade dos credores titulares de créditos quirografários, o juiz julgará improcedente o pedido e decretará a falência. 4.5 Recuperação Extrajudicial A Recuperação Extrajudicial é instituto novo, caracterizado pela possibilidade de o devedor convocar os seus credores para apresentar proposta de renegociação. Os credores são chamados para acordar, podendo o Estado ser chamado apenas acessoriamente para aferir se estão presentes os requisitos legais para a concessão do benefício e para chancelar a posição a que chegaram as partes, garantindo assim a executividade do que foi deliberado (com a homologação). As regras pertinentes à recuperação extrajudicial não impedem a realização de outras formas de acordos privados entre o devedor e os seus credores, fato que representa um importante diferencial. A legitimidade é amesma. Os requisitos para homologação são os mesmos da recuperação judicial, acrescidos de o devedor não poder ter pendente pedido de recuperação judicial, ou haver obtido a concessão de recuperação judicial ou a homologação de outro plano de recuperação extrajudicial há menos de 2 anos (art. 161, §3º, LFRE). A sentença de homologação do plano de recuperação extrajudicial constitui título executivo judicial. Não estão sujeitos à recuperação extrajudicial os titulares de créditos tributários, trabalhistas ou decorrentes de acidente do trabalho, assim como aqueles relacionados no art. 49, parágrafos 3º e 4º da LFRE (proprietários fiduciários de bens móveis ou imóveis; arrendadores mercantis; proprietários ou promitentes vendedores de bens imóveis, cujos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias; proprietários nos contratos de venda com reserva de domínio, assim como os credores em contrato de adiantamento de câmbio – ACC). Podem, contudo, voluntariamente aderir a ele. 22 O pedido de homologação não acarreta a suspensão de direitos, ações ou execuções em face do devedor, nem a impossibilidade do pedido de decretação da falência para os credores que não estejam sujeitos à recuperação extrajudicial. Quanto à adesão dos credores ao plano, a RE pode apresentar-se por duas perspectivas diferentes: a) Recuperação extrajudicial ordinária (REO): Traduz a adesão voluntária de todos os credores elencados no plano, produzindo efeitos unicamente entre os seus signatários. b) Recuperação extrajudicial extraordinária (REE): Faculta-se ao devedor requerer a homologação de plano de RE assinado por credores que representem mais de 3/5 de todos os créditos de cada espécie por ele abrangidos, hipótese na qual dita homologação, atendidos os requisitos legais, obrigará a todos os credores abrangidos pelo plano, mesmo aqueles que não tenham aderido ao acordo8. Uma vez distribuído o pedido de homologação, veda a lei que os credores desistam da adesão ao plano. Assim, a menos que haja a anuência expressa dos demais signatários, incluído o devedor e todos os demais credores, não será possível a desistência após a distribuição do pedido de homologação.9 Recebido o pedido de homologação do plano, o juiz ordenará a publicação de edital convocando todos os credores para eventual apresentação de impugnações, no prazo de 30 dias, a contar da publicação do edital. A lei restringe as matérias que podem ser objeto de impugnação. São elas o não preenchimento do percentual mínimo de mais de 3/5 dos créditos de cada espécie pelo plano abrangidos, a prática de ato de falência nos termos do art. 94, III da LFRE, ou ato revogável nos termos do art. 130 da LFRE, ou o descumprimento de qualquer requisito ou exigência legal. Apresentada a impugnação, abre-se prazo de 5 dias para que o devedor se manifeste sobre ela. Em seguida, os autos serão imediatamente conclusos ao juiz para apreciação, o qual decidirá, também em 5 dias, acerca do plano, homologando-o por sentença se entender não 8 Vide questão 07 9 Vide questão 05 23 haver irregularidades ou indeferindo o pedido se houver prova de irregularidade. Rejeitado o plano, os créditos mantêm as condições originalmente contratadas. A sentença de homologação do plano constitui título executivo judicial. Assim, não sendo cumpridas as suas disposições, poderão os credores buscar a sua execução específica ou pedir a falência do devedor. 4.6 Falência 4.6.1 Hipóteses de Decretação Diferentemente do que pode parecer à primeira vista, a simples condição de credor não é suficiente para que seja acolhido o pedido de decretação da falência contra o devedor inadimplente. São 3 as justificativas para a falência: a) Impontualidade injustificada: Quando o devedor, sem relevante razão de direito, não pagar, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados, cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários mínimos, na data do pedido de falência. b) Execução frustrada: Quando o devedor, executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia penhora, bens suficientes e dentro do prazo legal. Ainda que o devedor não nomeie bens à penhora dentro do prazo legal, mas se tais bens forem efetivamente constritos (seja por indicação do exequente, seja por indicação do oficial de justiça), não há de falar-se em frustração da execução. Frustrada a execução, o exequente deve munir-se de certidão judicial expedida pelo juízo em que se processou o feito, demonstrando que o executado não pagou, nem depositou os valores devidos e tampouco nomeou bens suficientes a penhora, dentro do prazo legal. c) Prática de atos de falência: São aqueles normalmente praticados por devedor insolvente, e que deverão ser demonstrados por aqueles que requerem a decretação da falência durante a instrução do processo. Assim, comete ato de falência, ficando sujeito a sua decretação, o devedor que: i. Procede à liquidação precipitada de seus ativos, ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos; 24 ii. Realiza, ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não; iii. Transfere estabelecimento a terceiro(s), credor(es) ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver o seu passivo; iv. Simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou fiscalização ou para prejudicar o(s) credor(es); v. Dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente, sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para honrar o seu passivo. vi. Ausentar-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona o estabelecimento ou tenta ocultar-se do seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento; vii. Deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial. Na hipótese de pedido com base na prática de atos de falência, a petição inicial deve descrever os fatos que o caracterizam, juntando-se as provas que houver e especificando-se as que serão produzidas. Na impontualidade injustificada e na execução frustrada, as provas são pré- constituídas, bastando juntar os documentos comprobatórios do alegado, ou seja, os títulos executivos acompanhados dos respectivos instrumentos de protesto, no caso da impontualidade; e os títulos executivos, assim como a certidão do juízo da execução, na execução frustrada. Já na hipótese de decretação da falência com base na prática de ato falimentar, a situação modifica-se profundamente, haja vista que, nela, o pedido de falência é apresentado a partir de fatos que dependem da dilação probatória regular, ou seja, a petição inicial deverá 25 estar instruída com todos os documentos necessários a comprovação do fato que está sendo alegado. 4.6.2 Legitimidade para decretação da falência Em matéria falimentar, têm legitimidade para o requerimento da falência qualquer credor, o próprio devedor (autofalência), o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou ainda o inventariante (sucessores causa mortis), o cotista ou acionista do devedor, na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade (sócio). 4.6.3 Procedimento Decretada a falência, o juiz ordenará a publicação de edital contendo a íntegra da decisão que a decretou e a relação de credores. Publicado o edital, os credores terão prazo de 15 dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitações ou divergências quanto aos créditos relacionados. Findo este prazo e com base nas