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1. DIREITO EMPRESARIAL
1.1. Fundamentos Históricos do Direito
Duas teorias embasaram o direito empresarial.
· Teoria dos atos de comércio e bipartição do direito privado (direito civil x direito comercial)
O direito comercial nasceu como um direito de classe, especificamente da burguesia. O direito civil, em contrapartida, ficou responsável por regulamentar as relações entre os nobres.
Outra característica da teoria dos atos de comércio foi a ausência de um conceito fundamental, pois não se encontra no Código Comercial napoleônico um conceito para a disciplina. Isso decorre do receio dos burgueses de que eventual conceito da disciplina pudesse englobar os nobres e, consequentemente, estes acabassem tendo acesso aos privilégios e benefícios.
O Código Comercial napoleônico não trouxe conceitos de comerciante, de atos de comércio, nem de comércio para que somente os burgueses tivessem acesso aos benefícios concedidos pelo direito comercial.
O que fez o Código Comercial napoleônico? Somente enumerou os atos que eram considerados de comércio. A agricultura, pecuária, extrativismo, prestação de serviços, todos ficaram de fora. Isso porque, quem possuía terras e explorava mão-de-obra escrava eram os nobres, por isso suas atividades não foram listadas, ficando fora do campo de incidência do direito comercial.
· Teoria da empresa
A teoria da empresa atacou, imediatamente, o principal problema da teoria anterior dos atos de comércio, qual seja, a ausência de um conceito fundamental.
Ademais, acabou com os atos de comércio, pois se tornou inviável disciplinar o que era ou não ato de comércio.
O Código Civil Italiano de 1942 trouxe no primeiro artigo do Livro de Direito de Empresa (artigo 2.082) o conceito de empresário, o qual foi copiado pelo Código Civil Brasileiro, também no primeiro artigo do Livro de Direito de Empresa (artigo 966). 
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.
Em que pese os livros de direito civil e de direito de empresa estarem no mesmo código, considera-se que a reunificação ocorreu apenas no aspecto legislativo.
1.2. Empresário e empresa
Elementos do empresário:
a) Profissionalismo;
b) Atividade econômica com intuito lucrativo;
c) Organização;
d) Produção ou circulação de bens ou serviços.
Ser profissional é congregar três relevantes características: habitualidade, pessoalidade e monopólio de informações.
· Conceito de empresa
O conceito técnico de empresa foi sistematizado pelo professor Alberto Asquini. Para ele, a empresa seria um fenômeno poliédrico formado por 4 (quatro) perfis:
a) Subjetivo: relacionado com o sujeito da atividade econômica organizada, isto é, relacionado com o empresário;
b) Objetivo: relacionado com o objeto da atividade econômica, ou seja, o estabelecimento empresarial;
c) Funcional/abstrato: seria a empresa, isto é, o vínculo jurídico que liga o sujeito ao objeto;
d) Corporativo: formado pelos trabalhadores, isto é, prepostos do empresário.
O conceito de empresa surge de "empreender", sinônimo de atividade. 
· Atividades civis e rural
A primeira hipótese de atividade civil existente refere-se à excludente, isto é, à negativa do conceito. Quem não preenche os requisitos do artigo 966 do Código Civil não pode ser considerado empresário.
a) Profissional intelectual: trata-se dos profissionais liberais em geral, como médico, contador, advogado, músico, pintor, autor, escultor. O fato de os profissionais liberais contratarem auxiliares ou colaboradores não faz com que sejam considerados empresários. Quando o referencial é o indivíduo, trata-se de atividade de natureza civil; mas se o referencial, para a maioria da clientela, for a instituição à qual o profissional pertence, trata-se de atividade de natureza empresarial.
b) Atividade rural: quem exerce atividade rural pode escolher onde realizar seu registro. Essa escolha determinará, portanto, sua natureza jurídica. Se o registro for realizado na Junta Comercial a atividade será empresarial; no Registro Civil de Pessoas Jurídicas (RCPJ), será atividade de natureza civil. Nesse contexto, pouco importa o artigo 966 do Código Civil, pois, para quem exerce atividade rural, o fator determinante para a caracterização da natureza jurídica empresarial da atividade é o registro, o qual possui caráter constitutivo.
Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes.
Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo à associação que desenvolva atividade futebolística em caráter habitual e profissional, caso em que, com a inscrição, será considerada empresária, para todos os efeitos.        (Incluído pela Lei nº 14.193, de 2021)
No conceito de empresário do artigo 966, não se encontra o elemento registro, dado que o indivíduo é considerado empresário se atender aos requisitos do artigo, realizando ou não o registro, pois este fato apenas atesta se o empresário se encontra regular ou não.
Sendo assim, o registro, em regra, é o mero reconhecimento de situação jurídica consolidada por ter atendido os requisitos, de forma que a Junta Comercial apenas consolida a situação. Desse modo, o registro na Junta Comercial apresenta caráter eminentemente declaratório.
Assim, conclui-se que o registro é declaratório para a condição de sociedade, mas é constitutivo para condição de personalidade. Contudo, para o indivíduo que exerce atividade rural o registro assume o caráter constitutivo, sendo irrelevante o atendimento às regras do artigo 966 do Código Civil.
· Cooperativa
As cooperativas são tratadas pelo parágrafo único do artigo 982 do Código Civil:
Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.
Nesse sentido, por expressa disposição legal, mesmo que uma cooperativa preencha os requisitos do artigo 966 do Código Civil, não será considerada exercente de atividade empresária, mas sim atividade civil - inclusive, o local do registro da cooperativa é a Junta Comercial, por determinação legal.
Art. 1.093. A sociedade cooperativa reger-se-á pelo disposto no presente Capítulo, ressalvada a legislação especial.
Art. 1.094. São características da sociedade cooperativa:
I - variabilidade, ou dispensa do capital social;
II - concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a administração da sociedade, sem limitação de número máximo;
III - limitação do valor da soma de quotas do capital social que cada sócio poderá tomar;
IV - intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à sociedade, ainda que por herança;
V - quorum , para a assembléia geral funcionar e deliberar, fundado no número de sócios presentes à reunião, e não no capital social representado;
VI - direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha ou não capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de sua participação;
VII - distribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor das operações efetuadas pelo sócio com a sociedade, podendo ser atribuído juro fixo ao capital realizado;
VIII - indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, aindaque em caso de dissolução da sociedade.
Art. 1.095. Na sociedade cooperativa, a responsabilidade dos sócios pode ser limitada ou ilimitada.
§ 1 o É limitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio responde somente pelo valor de suas quotas e pelo prejuízo verificado nas operações sociais, guardada a proporção de sua participação nas mesmas operações.
§ 2 o É ilimitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio responde solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais.
Art. 1.096. No que a lei for omissa, aplicam-se as disposições referentes à sociedade simples, resguardadas as características estabelecidas no art. 1.094.
A Cooperativa de Trabalho Médico pode limitar, justificada e objetivamente, o ingresso de médicos em seus quadros.
Diante do híbrido regime jurídico ao qual as Cooperativas de Trabalho Médico estão sujeitas (Lei nº 5.764/71 e Lei nº 9.656/98), é juridicamente legítima a limitação, de forma impessoal e objetiva, do número de médicos cooperados, tendo em vista o mercado para a especialidade e o necessário equilíbrio financeiro da cooperativa.
A interpretação harmônica das duas leis de regência consolida o interesse público que permeia a atuação das cooperativas médicas e viabiliza a continuidade das suas atividades, mormente ao se considerar a responsabilidade solidária existente entre médicos cooperados e cooperativa e o possível desamparo dos beneficiários que necessitam do plano de saúde.
Assim, é admissível a recusa de novos associados se for atingida a capacidade máxima de prestação de serviços pela cooperativa, o que deve ser aferido por critérios objetivos e verossímeis. Neste caso, a recusa é legítima porque a entrada de novos sócios pode comprometer o equilíbrio econômico-financeiro da cooperativa, impedindo-a de cumprir sua finalidade.
O princípio da porta aberta (livre adesão) não é absoluto, devendo a cooperativa de trabalho médico, que também é uma operadora de plano de saúde, velar por sua qualidade de atendimento e situação financeira estrutural, até porque pode ser condenada solidariamente por atos danosos de cooperados a usuários do sistema (a exemplo de erros médicos), o que impossibilitaria a sua viabilidade de prestação de serviços. STJ. 3ª Turma. REsp 1901911/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 24/8/2021. STJ. 4ª Turma. REsp 1396255-SE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 07/12/2021 (Info 723).
Cooperativas são sociedades de pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro.
 A admissão dos associados poderá ser restrita, a critério do órgão normativo respectivo, às pessoas que exerçam determinada atividade ou profissão ou estejam vinculadas a determinada entidade. Ex: na cooperativa de médicos somente podem ingressar os profissionais regularmente habilitados como médicos.
O princípio cooperativista da adesão livre desdobra-se em dois outros:
a) o princípio da voluntariedade, em que ninguém deve ser coagido a ingressar em uma sociedade cooperativa, de modo que o pedido de ingresso deve partir da vontade livre e desembaraçada do proponente; e b) o princípio da porta aberta, o qual prega que a adesão deve ser aberta a todas as pessoas que aceitem as responsabilidades próprias da filiação e tenham a possibilidade de usufruir as utilidades da cooperativa.
Desse modo, o ingresso nas cooperativas é livre a todos que desejarem utilizar os serviços prestados pela sociedade, desde que adiram aos propósitos sociais e preencham as condições estabelecidas no estatuto.
Em regra, não há limitação quanto ao número de associados.
Exceção: podem ser impostas restrições se houver impossibilidade técnica de prestação de serviços.
Não podem existir restrições arbitrárias e discriminatórias à livre entrada de novo membro na cooperativa, devendo a regra limitativa da impossibilidade técnica de prestação de serviços ser interpretada segundo a natureza da sociedade cooperativa, sobretudo porque a cooperativa não visa o lucro, além de ser um empreendimento que possibilita o acesso ao mercado de trabalhadores com pequena economia, promovendo, portanto, a inclusão social.
A proibição imotivada de novos cooperados é proibido pela lei porque o incentivo ao cooperativismo é de interesse público, tal como preconizado pelo art. 174, § 2º da Constituição Federal: § 2º A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo.
A simples inconveniência para cooperados que já compõem o quadro associativo (eventual diminuição de lucros para eles) não caracteriza motivo técnico suficiente para impedir o ingresso de novos cooperados (STJ. 3ª Turma. REsp nº 1.479.561/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 28/11/2014).
As restrições ao ingresso na cooperativa são de duas ordens:
a) a primeira, contida no art. 4º, I, referente à própria logística de prestação de serviços previstos pela sociedade, que pode encontrar limites operacionais de ordem técnica; e
b) a segunda, relacionada aos propósitos sociais da cooperativa e ao preenchimento, pelo aspirante, das condições estabelecidos no estatuto, as quais podem versar, inclusive, sobre restrições a categorias de atividade ou profissão.
Vale ressaltar que o eventual insucesso no processo de seleção realizado pela cooperativa, atendidos critérios objetivos, não impede o exercício da profissão médica em variados estabelecimentos de saúde, e nem a prestação de serviço como credenciado de outras operadoras de planos de assistência à saúde.
A) Inscrição do empresário
Todo empresário tem como obrigação inscrever-se na junta comercial antes de iniciar sua atividade, sob pena de exercer a empresa de forma irregular, consoante previsão legal no art. 967 do CC.
Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.
Saliente-se que o registro na junta comercial não é requisito para a caracterização do empresário e sua submissão ao regime jurídico empresarial.
Nesse sentido é o entendimento do Conselho da Justiça Federal (CJF), tratado no Enunciado nº 198 da III Jornada de Direito Civil, que dispõe: “A inscrição do empresário na Junta Comercial não é requisito para a sua caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal providência. O empresário irregular reúne os requisitos do art. 966, sujeitando-se às normas do Código Civil e da legislação comercial, salvo naquilo em que forem incompatíveis com a sua condição ou diante de expressa disposição em contrário”.
O Enunciado nº 199 também esclarece que: “A inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito delineador de sua regularidade, e não da sua caracterização”.
B) Vedações ao exercício de atividade empresarial
Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos.
Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas.
· Da capacidade
Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança.
§ 1º Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros.
§ 2º Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que conceder a autorização.
§ 3º O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os seguintespressupostos: 
I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade; 
II – o capital social deve ser totalmente integralizado; 
III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser representado por seus representantes legais. 
Art. 975. Se o representante ou assistente do incapaz for pessoa que, por disposição de lei, não puder exercer atividade de empresário, nomeará, com a aprovação do juiz, um ou mais gerentes.
§ 1º Do mesmo modo será nomeado gerente em todos os casos em que o juiz entender ser conveniente.
§ 2º A aprovação do juiz não exime o representante ou assistente do menor ou do interdito da responsabilidade pelos atos dos gerentes nomeados.
Art. 976. A prova da emancipação e da autorização do incapaz, nos casos do art. 974, e a de eventual revogação desta, serão inscritas ou averbadas no Registro Público de Empresas Mercantis.
Parágrafo único. O uso da nova firma caberá, conforme o caso, ao gerente; ou ao representante do incapaz; ou a este, quando puder ser autorizado.
A autorização legal é para que o incapaz continue o exercício da empresa, mas nunca para que ele inicie o exercício da atividade empresarial.
Nesse sentido é o entendimento do CJF, tratado no Enunciado nº 203 da III Jornada de Direito Civil, que dispõe: “O exercício de empresa por empresário incapaz, representado ou assistido, somente é possível nos casos de incapacidade superveniente ou incapacidade do sucessor na sucessão por morte”.
A autorização judicial para que o incapaz continue o exercício da empresa será realizada em procedimento de jurisdição voluntária, após a oitiva do Ministério Público, nos termos do art. 178, II, do Novo Código de Processo Civil (NCPC), por meio da expedição de um alvará judicial.
Não confundir o exercício da atividade empresarial pelo incapaz, mediante autorização judicial, com o caso previsto no art. 5º, parágrafo único, V, do CC, hipótese em que o incapaz, com 16 anos completos, preenche os requisitos para sua emancipação. 
C) Empresário casado
Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória.
Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real.
Art. 979. Além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público de Empresas Mercantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade.
Art. 980. A sentença que decretar ou homologar a separação judicial do empresário e o ato de reconciliação não podem ser opostos a terceiros, antes de arquivados e averbados no Registro Público de Empresas Mercantis.
O art. 978 traz uma exceção à regra prevista no art. 1.647, I:
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
III - prestar fiança ou aval;
Sobre o tema, o CJF editou os seguintes enunciados:
a) Enunciado nº 6 da I Jornada de Direito Comercial: “O empresário individual regularmente inscrito é o destinatário da norma do art. 978 do Código Civil, que permite alienar ou gravar de ônus real o imóvel incorporado à empresa, desde que exista, se for o caso, prévio registro de autorização conjugal no Cartório de Imóveis, devendo tais requisitos constar do instrumento de alienação ou de instituição do ônus real, com a consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis”.
b) Enunciado nº 58 da II Jornada de Direito Comercial: “O empresário individual casado é o destinatário da norma do art. 978 do CCB e não depende da outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus real o imóvel utilizado no exercício da empresa, desde que exista prévia averbação de autorização conjugal à conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, com a consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no registro público de empresas mercantis”.
É necessária a exigência geral de outorga do cônjuge para prestar fiança, sendo indiferente o fato de o fiador prestá-la na condição de comerciante ou empresário, considerando a necessidade de proteção da segurança econômica familiar. STJ. 4ª Turma. REsp 1525638-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 14/06/2022 (Info 742).
Fiança é um tipo de contrato por meio do qual uma pessoa (chamada de “fiadora”) assume o compromisso junto ao credor de que irá satisfazer a obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra (art. 818 do Código Civil).
Se a pessoa for casada, em regra, ela somente poderá ser fiadora se o cônjuge concordar. Essa concordância, que é chamada de “outorga uxória/marital”, não é necessária se a pessoa for casada sob o regime da separação absoluta. Tal regra encontra-se prevista no art. 1.647, III, do CC.
Se o cônjuge negar essa autorização sem motivo justo, a pessoa poderá pedir ao juiz que supra a outorga, ou seja, o magistrado poderá autorizar que a fiança seja prestada mesmo sem o consentimento (art. 1.648).
Súmula 332-STJ: A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia.
Imagine agora a seguinte situação hipotética[footnoteRef:2]: [2: CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Exceto no regime de separação absoluta de bens, a fiança prestada sem outorga conjugal conduz à nulidade do contrato mesmo que o indivíduo tenha prestado a fiança na condição de empresário. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ec3183a7f107d1b8dbb90cb3c01ea7d5>. Acesso em: 16/12/2022] 
1st. Carla é sócia da empresa CL Ltda.
2nd. A CL Ltda alugou um imóvel que pertence à João.
3rd. No contrato de locação, Carla figurou como fiadora.
4th. A CL Ltda (locatária) deixou de pagar os aluguéis.
5th. Diante disso, João ajuizou execução contra a CL Ltda e Carla.
6th. Na execução, foram penhorados bens de Carla.
7th. André, esposo de Carla, apresentou embargos de terceiro requerendo a nulidade do contrato firmado por Carla, com o desbloqueio da penhora, sob o argumento de que ele não concedeu outorga uxória à sua esposa para afiançar o contrato de locação.
8th. O juiz julgou improcedente o pedido, por considerar que, no caso concreto, não seria necessária outorga uxória porque Carla prestou a fiança na condição de empresária (sócia da empresa). Logo, ela estaria autorizada a agir sozinha por força do art. 1.642, I, do Código Civil:
Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem livremente:
I - praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de sua profissão, com as limitações estabelecida no inciso I do art. 1.647;
 
Para o STJ, agiu corretamente o magistrado? NÃO.A exigência de outorga conjugal para o contrato de fiança está prevista no inciso III do art. 1.647 do CC.
O art. 1.642, I, prevê que tanto o marido quanto a mulher podem praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de sua profissão, exceto alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis (art. 1.647, I). Não se pode, contudo, interpretar o art. 1.642, I, de forma isolada.
Ao exigir a outorga conjugal para prestar fiança, a legislação civil tem por objetivo garantir a manutenção/preservação do patrimônio comum do casal. Isso porque nesse tipo de garantia, o fiador responde pessoalmente pela dívida.
D) Responsabilidade patrimonial 
O Empresário individual responde com os seus bens pelas obrigações que assumiu, quer civis ou comerciais (STJ – REsp. nº 594.832/RJ). Esse é o entendimento majoritário.
Caso o credor queira promover a execução em face do empresário individual, não é necessário ele requerer a desconsideração da personalidade jurídica doempresário individual, pois a personalidade do empresário individual e da pessoa natural é uma só.
Em sentido oposto e, em consonância com a evolução do direito empresarial, o Conselho da Justiça Federal (CJF) editou, na I Jornada de Direito Comercial, o Enunciado nº 5, que dispõe: “Quanto às obrigações decorrentes de sua atividade, o empresário individual tipificado no art. 966 do Código Civil responderá primeiramente com os bens vinculados à exploração de sua atividade econômica, nos termos do art. 1.024 do Código Civil”.
Com efeito, tendo em vista a lacuna na legislação quanto à responsabilidade patrimonial do empresário individual, a doutrina se inclina para a aplicação do art. 1.024 do CC, que trata, especificamente, sobre a responsabilidade patrimonial dos sócios em sociedade simples.
Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais.
E) Prepostos do empresário
Preposto refere-se à toda mão de obra utilizada pelo empresário, seja ela direta ou indireta. 
Em regra, o empresário detém a exclusividade do trabalho do preposto, salvo quando o empresário autoriza, expressamente, que o preposto concorra com ele ou, quando em decorrência das circunstâncias da atividade, espera-se do preposto uma conduta diferente. 
O Código Civil destacou dois prepostos como os mais importantes para o empresário - o gerente e o contabilista -, os quais configuram-se dessa forma pela relevância de sua atividade. O gerente é o preposto que possui funções de chefia, inobstante o empresário possa limitar os seus poderes. Para que essa limitação produza efeitos em relação a terceiros, necessário que seja realizada por escrito e arquivada na Junta Comercial.
O contador é preposto obrigatório, de forma que todo empresário deve dispor de contador. 
CAPÍTULO III
Dos Prepostos
Seção I
Disposições Gerais
Art. 1.169. O preposto não pode, sem autorização escrita, fazer-se substituir no desempenho da preposição, sob pena de responder pessoalmente pelos atos do substituto e pelas obrigações por ele contraídas.
Art. 1.170. O preposto, salvo autorização expressa, não pode negociar por conta própria ou de terceiro, nem participar, embora indiretamente, de operação do mesmo gênero da que lhe foi cometida, sob pena de responder por perdas e danos e de serem retidos pelo preponente os lucros da operação.
Art. 1.171. Considera-se perfeita a entrega de papéis, bens ou valores ao preposto, encarregado pelo preponente, se os recebeu sem protesto, salvo nos casos em que haja prazo para reclamação.
Seção II
Do Gerente
Art. 1.172. Considera-se gerente o preposto permanente no exercício da empresa, na sede desta, ou em sucursal, filial ou agência.
Art. 1.173. Quando a lei não exigir poderes especiais, considera-se o gerente autorizado a praticar todos os atos necessários ao exercício dos poderes que lhe foram outorgados.
Parágrafo único. Na falta de estipulação diversa, consideram-se solidários os poderes conferidos a dois ou mais gerentes.
Art. 1.174. As limitações contidas na outorga de poderes, para serem opostas a terceiros, dependem do arquivamento e averbação do instrumento no Registro Público de Empresas Mercantis, salvo se provado serem conhecidas da pessoa que tratou com o gerente.
Parágrafo único. Para o mesmo efeito e com idêntica ressalva, deve a modificação ou revogação do mandato ser arquivada e averbada no Registro Público de Empresas Mercantis.
Art. 1.175. O preponente responde com o gerente pelos atos que este pratique em seu próprio nome, mas à conta daquele.
Art. 1.176. O gerente pode estar em juízo em nome do preponente, pelas obrigações resultantes do exercício da sua função.
Seção III
Do Contabilista e outros Auxiliares
Art. 1.177. Os assentos lançados nos livros ou fichas do preponente, por qualquer dos prepostos encarregados de sua escrituração, produzem, salvo se houver procedido de má-fé, os mesmos efeitos como se o fossem por aquele.
Parágrafo único. No exercício de suas funções, os prepostos são pessoalmente responsáveis, perante os preponentes, pelos atos culposos; e, perante terceiros, solidariamente com o preponente, pelos atos dolosos.
Art. 1.178. Os preponentes são responsáveis pelos atos de quaisquer prepostos, praticados nos seus estabelecimentos e relativos à atividade da empresa, ainda que não autorizados por escrito.
Parágrafo único. Quando tais atos forem praticados fora do estabelecimento, somente obrigarão o preponente nos limites dos poderes conferidos por escrito, cujo instrumento pode ser suprido pela certidão ou cópia autêntica do seu teor.
F) Obrigações do empresário
O empresário possui inúmeras obrigações. Dentre as quais, destacam-se as três mais importantes: a) registro na Junta Comercial; b) manutenção de escrituração regular; e c) apresentação de balanços periódicos. 
· Registro de empresas
Em se tratando de registro empresarial, o empresário deve, obrigatoriamente, informar ao Estado que iniciará uma atividade econômica organizada. Trata-se de ato a ser realizado na Junta Comercial, sob os moldes da Lei 8.934/94. Essa lei regulamenta o Sistema Nacional de Registro de Empresas (SINREM). Atualmente, o sistema em questão divide-se em duas esferas: i) no âmbito federal, têm-se o Departamento de Registro Empresarial e Integração - DREI (substituiu o antigo DNRC); ii) já no âmbito estadual, há as Juntas Comerciais.
Quem diz como deve ser realizado o registro é o DREI (subordinação técnica). Todavia, quem paga as contas de água, luz e telefone das Juntas Comerciais é o governo estadual (subordinação administrativa). Sendo assim, todas as Juntas Comerciais do país apresentam essa dupla subordinação. Há apenas uma exceção: a Junta Comercial do Distrito Federal, estando subordinada, técnica e administrativamente, apenas ao DREI.
Quando se fala em registro, remete-se a um gênero que comporta três espécies:
a) Matrícula;
b) Arquivamento;
c) Autenticação.
O ato de registro do empresário individual, bem como da constituição, alteração e dissolução das sociedades empresárias é o arquivamento. 
Supondo que, em uma linha do tempo, há inicialmente a assinatura do contrato social, de forma que o prazo para arquivamento é de 30 dias a contar dessa assinatura. Se o requerimento for realizado no prazo, ainda que seja deferido posteriormente, produzirá efeitos retroativos, convalidando todos os atos anteriormente praticados. Desse modo, o arquivamento no prazo produz efeitos ex tunc (retroativos).
Já o arquivamento realizado fora do prazo, não retroagirá, produzindo efeitos do momento em que foi requerido adiante (ex nunc). 
Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária.
Art. 1.151. O registro dos atos sujeitos à formalidade exigida no artigo antecedente será requerido pela pessoa obrigada em lei, e, no caso de omissão ou demora, pelo sócio ou qualquer interessado.
§ 1 o Os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no prazo de trinta dias, contado da lavratura dos atos respectivos.
§ 2 o Requerido além do prazo previsto neste artigo, o registro somente produzirá efeito a partir da data de sua concessão.
§ 3 o As pessoas obrigadas a requerer o registro responderão por perdas e danos, em caso de omissão ou demora.
Art. 1.153. Cumpre à autoridade competente, antes de efetivar o registro, verificar a autenticidade e a legitimidade do signatário do requerimento, bem como fiscalizar a observância das prescrições legais concernentes ao ato ou aos documentos apresentados.
Parágrafo único. Das irregularidades encontradas deve ser notificado o requerente, que, se for o caso, poderá saná-las, obedecendo às formalidades da lei.
Art. 1.154. O ato sujeito a registro, ressalvadas disposições especiais da lei, não pode, antes do cumprimento dasrespectivas formalidades, ser oposto a terceiro, salvo prova de que este o conhecia.
Parágrafo único. O terceiro não pode alegar ignorância, desde que cumpridas as referidas formalidades.
A autenticação, por sua vez, possui dupla função, quais sejam, veracidade e regularidade. 
A Junta funciona como cartório do empresário, de forma que, se for levada cópia do contrato social, a Junta também autenticará, atribuindo-lhe fé pública (veracidade).
Além da função de veracidade, há, também, a função de regularidade, segundo a qual inúmeros documentos empresariais somente serão considerados regulares se devidamente autenticados. Nesse caso, a autenticação assume uma função de evitar que haja fraude nos documentos. 
Quanto ao mais, importante destacar que, quando a Junta for examinar pedido de registro, ela fará a análise apenas dos aspectos formais do pedido, não examinando aspectos materiais.
O único aspecto material que a Junta pode examinar é a flagrante ilicitude do objeto, caso em que ela poderá indeferir o pedido por aspecto material. 
Categorias de livros empresariais:
· Obrigatórios
São aqueles impostos pelo ordenamento jurídico. A ausência de um livro obrigatório acarreta sanção ao empresário. Podem ser divididos em duas categorias:
a) Comuns - são aqueles impostos a todos os empresários indistintamente. O Diário é o único livro obrigatório comum a todos eles, isto é, todo empresário precisa escriturar o Diário, exceto os microempresários e os empresários de pequeno porte, os quais estão dispensados da escrituração do Diário. 
b) Especiais - livros obrigatórios especiais são aqueles impostos a apenas certas categorias de empresários (p. ex.: livro de registro de duplicatas - somente é obrigatório aos empresários emitentes de duplicatas; livro de atas de assembleia de S.A - apenas é obrigatório para as Sociedades Anônimas.
· Facultativos
Não são impostos pela legislação, portanto, a ausência de um livro facultativo não ocasiona qualquer sanção ao empresário.
· Balanços
A obrigação de levantar balanços periódicos é a terceira obrigação do empresário. Todo empresário deve, obrigatoriamente, levantar dois balanços diferentes uma vez por ano:
a) Balanço patrimonial: demonstra o ativo e o passivo do empresário.
b) Balanço de resultado econômico: demonstra o lucro ou prejuízo do empresário.
O ME e o EPP estão dispensados da demonstração desses balanços.
Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico.
§ 1 o Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros ficam a critério dos interessados.
§ 2 o É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se refere o art. 970.
Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.
Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico.
Art. 1.181. Salvo disposição especial de lei, os livros obrigatórios e, se for o caso, as fichas, antes de postos em uso, devem ser autenticados no Registro Público de Empresas Mercantis.
Parágrafo único. A autenticação não se fará sem que esteja inscrito o empresário, ou a sociedade empresária, que poderá fazer autenticar livros não obrigatórios.
Art. 1.182. Sem prejuízo do disposto no art. 1.174, a escrituração ficará sob a responsabilidade de contabilista legalmente habilitado, salvo se nenhum houver na localidade.
Art. 1.183. A escrituração será feita em idioma e moeda corrente nacionais e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as margens.
Parágrafo único. É permitido o uso de código de números ou de abreviaturas, que constem de livro próprio, regularmente autenticado.
Art. 1.184. No Diário serão lançadas, com individuação, clareza e caracterização do documento respectivo, dia a dia, por escrita direta ou reprodução, todas as operações relativas ao exercício da empresa.
§ 2 o Serão lançados no Diário o balanço patrimonial e o de resultado econômico, devendo ambos ser assinados por técnico em Ciências Contábeis legalmente habilitado e pelo empresário ou sociedade empresária.
Art. 1.185. O empresário ou sociedade empresária que adotar o sistema de fichas de lançamentos poderá substituir o livro Diário pelo livro Balancetes Diários e Balanços, observadas as mesmas formalidades extrínsecas exigidas para aquele. 
Art. 1.188. O balanço patrimonial deverá exprimir, com fidelidade e clareza, a situação real da empresa e, atendidas as peculiaridades desta, bem como as disposições das leis especiais, indicará, distintamente, o ativo e o passivo.
Art. 1.189. O balanço de resultado econômico, ou demonstração da conta de lucros e perdas, acompanhará o balanço patrimonial e dele constarão crédito e débito, na forma da lei especial.
Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei.
Art. 1.191. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de escrituração quando necessária para resolver questões relativas a sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de outrem, ou em caso de falência.
§ 1 o O juiz ou tribunal que conhecer de medida cautelar ou de ação pode, a requerimento ou de ofício, ordenar que os livros de qualquer das partes, ou de ambas, sejam examinados na presença do empresário ou da sociedade empresária a que pertencerem, ou de pessoas por estes nomeadas, para deles se extrair o que interessar à questão.
Art. 1.192. Recusada a apresentação dos livros, nos casos do artigo antecedente, serão apreendidos judicialmente e, no do seu § 1 o , ter-se-á como verdadeiro o alegado pela parte contrária para se provar pelos livros.
Parágrafo único. A confissão resultante da recusa pode ser elidida por prova documental em contrário.
Art. 1.193. As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da escrituração, em parte ou por inteiro, não se aplicam às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos das respectivas leis especiais.
Art. 1.194. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a conservar em boa guarda toda a escrituração, correspondência e mais papéis concernentes à sua atividade, enquanto não ocorrer prescrição ou decadência no tocante aos atos neles consignados.
Art. 1.195. As disposições deste Capítulo aplicam-se às sucursais, filiais ou agências, no Brasil, do empresário ou sociedade com sede em país estrangeiro.
G) Estabelecimento Empresarial
O estabelecimento é uma universalidade (é um conjunto de elementos que, quando reunidos, podem ser concebidos como coisa unitária). É uma universalidade de fato. Quem determina os bens do estabelecimento comercial é o empresário. Por esse motivo o estabelecimento não engloba os créditos, contratos e dívidas. Esses elementos, no entanto, fazem parte do patrimônio.
Empresário é o sujeito da atividade econômica organizada e o estabelecimento empresarial, o objeto. É o instrumento de trabalho do empresário, aquilo que ele utiliza para alcançar os seus objetivos.
O estabelecimento empresarial não é o lugar de exercício da atividade empresarial. Este é denominado de ponto empresarial.
Estabelecimento empresarial é o conjunto de bens do empresário destinados ao exercício da atividade econômica organizada.
Estabelecimento empresarial não se confunde com o conceito de patrimônio empresarial, e a diferença entre ambos é a destinação. O estabelecimento é a parcela do patrimônio destinada ao exercícioda atividade econômica organizada. 
EXEMPLO: A empresa X possui 3 imóveis, 2 veículos para levar e buscar professores, a marca X, créditos e um terreno não utilizado na atividade. Logo, o terreno e os créditos compõem o patrimônio, entretanto não o estabelecimento empresarial. 
Agora veja, um dos imóveis da empresa X não a pertence, pertence a um terceiro e a empresa X é locatário desse imóvel. O imóvel não integra seu patrimônio, mas passa a integrar o estabelecimento empresarial.
Dizer o Direito[footnoteRef:3]: Estabelecimento (ou fundo de comércio) é o conjunto de bens (materiais e imateriais) e serviços que o empresário reúne e organiza com o objetivo de realizar a atividade empresarial e gerar lucros. Seu conceito legal está previsto no caput do art. 1.142 do Código Civil. [3: CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Lei 14.195/2021 – Lei do Ambiente de Negócios (alterações relacionadas com Direito Empresarial). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/novidades_legislativas/detalhes/142949df56ea8ae0be8b5306971900a4>. Acesso em: 17/12/2022] 
“A expressão estabelecimento empresarial parece se referir, numa primeira leitura, ao local em que o empresário exerce sua atividade empresarial. Trata-se, todavia, de uma visão equivocada, que representa apenas uma noção vulgar da expressão, correspondendo tão somente ao sentido coloquial que ela possui para as pessoas em geral.
Portanto, o local em que o empresário exerce suas atividades - ponto de negócio - é apenas um dos elementos que compõem o estabelecimento empresarial, o qual, como visto, é composto também de outros bens materiais (equipamentos, máquinas etc.) e até mesmo bens imateriais (marca, patente de invenção etc.).” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial. 11ª ed., São Paulo: Juspdovim, 2021, p. 169-170)
Atualmente, é muito comum que várias atividades empresariais sejam desenvolvidas de modo virtual, não necessitando de uma sede física para atendimento de clientes, fornecedores e público em geral. Logo, inúmeros empresários não mais precisam ser obrigados a contratar um endereço apenas para fins de registro.
Sobre o tema, vale a pena mencionar o § 25 do art. 18-A da LC 123/2006, que autoriza o microempreendedor individual a utilizar sua residência como sede do estabelecimento:
Art. 18-A. (...)
§ 25. O MEI poderá utilizar sua residência como sede do estabelecimento, quando não for indispensável a existência de local próprio para o exercício da atividade.
 
Súmula Vinculante 38-STF: É competente o município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial.
Existe uma “exceção” à Súmula Vinculante 38: o horário de funcionamento dos bancos. Súmula 19-STJ: A fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é da competência da União.
Veja agora o que diz o art. 3º, II, da Lei nº 13.874/2019 (Declaração de Direitos de Liberdade Econômica):
Art. 3º São direitos de toda pessoa, natural ou jurídica, essenciais para o desenvolvimento e o crescimento econômicos do País, observado o disposto no parágrafo único do art. 170 da Constituição Federal:
II - desenvolver atividade econômica em qualquer horário ou dia da semana, inclusive feriados, sem que para isso esteja sujeita a cobranças ou encargos adicionais, observadas:
a) as normas de proteção ao meio ambiente, incluídas as de repressão à poluição sonora e à perturbação do sossego público;
b) as restrições advindas de contrato, de regulamento condominial ou de outro negócio jurídico, bem como as decorrentes das normas de direito real, incluídas as de direito de vizinhança; e
c) a legislação trabalhista;
· Aviamento
O estabelecimento empresarial pode ser objeto de valoração econômica, porém o valor do estabelecimento não é apenas a soma do valor dos bens que o compõe. Aviamento é o valor agregado ao estabelecimento empresarial em razão de sua organização. 
· Alienação do estabelecimento e dívida do trespasse
Trespasse é a alienação do estabelecimento empresarial. Alienar o estabelecimento empresarial é alienar o bem mais importante que o empresário possui, e, portanto, significa alienar a garantia dos seus credores. 
Requisitos do trespasse:
I. Contrato de alienação tem de ser escrito e arquivado na Junta Comercial.
II. A publicação na imprensa oficial.
III. A anuência ou concordância de todos os credores, expressa ou tácita. Tácita quando o credor, uma vez comunicada a alienação, não se manifesta no prazo de 30 dias.
Dispensa-se o terceiro requisito caso o patrimônio restante seja solvente, suficiente para saldar as dívidas do empresário. 
Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.     (Vide Lei nº 14.195, de 2021)
§ 1º O estabelecimento não se confunde com o local onde se exerce a atividade empresarial, que poderá ser físico ou virtual.   (Incluído pela Lei nº 14.382, de 2022)
§ 2º Quando o local onde se exerce a atividade empresarial for virtual, o endereço informado para fins de registro poderá ser, conforme o caso, o endereço do empresário individual ou o de um dos sócios da sociedade empresária.   (Incluído pela Lei nº 14.382, de 2022)
§ 3º Quando o local onde se exerce a atividade empresarial for físico, a fixação do horário de funcionamento competirá ao Município, observada a regra geral prevista no inciso II do caput do art. 3º da Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019.   (Incluído pela Lei nº 14.382, de 2022)
Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza.
Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial.
Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.
Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento.
Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos subseqüentes à transferência.
Parágrafo único. No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição prevista neste artigo persistirá durante o prazo do contrato.
Art. 1.148. Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-rogação do adquirente nos contratos estipulados para exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros rescindir o contrato em noventa dias a contar da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a responsabilidade do alienante.
Art. 1.149. A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá efeito em relação aos respectivos devedores, desde o momento da publicação da transferência, mas o devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente.
· Ponto Empresarial e locação
A Lei de Locações, Lei nº 8.245/1991, estabelece dois tipos de locação:
a) Locação residencial: aquela em que o imóvel é utilizado para fins de moradia.
b) Locação não-residencial: aquela em que o imóvel é utilizado para o exercício de uma atividade econômica.
A lei estabelece um tratamento diferenciado, protetivo para locação empresarial, em razão da preservação da atividade empresarial, da proteção do investimento realizado, da vinculação da clientela. 
O direito de inerência ao ponto é o direito que possui o locatárioem renovar o contrato de locação, ainda que o locador não queira. Significa uma renovação contratual forçada, compulsória. 
Requisitos do direito de inerência ao ponto - art. 51 da lei nº 8.245/1991:
Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente:
I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado;
II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco anos;
A lei expressa 5 anos ininterruptos, entretanto os tribunais têm afastado uma tentativa destes locadores de fraudar o direito de inerência ao ponto. Os locadores começaram a elaborar contratos de 4 anos. O vínculo se dava por encerrado e, sem oposição do proprietário, o locatário continuava exercendo aquela atividade naquele imóvel. Após alguns dias, eles faziam uma renovação do contrato por mais 4 anos.
III - o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos.
§ 1º O direito assegurado neste artigo poderá ser exercido pelos cessionários ou sucessores da locação; no caso de sublocação total do imóvel, o direito a renovação somente poderá ser exercido pelo sublocatário.
§ 2º Quando o contrato autorizar que o locatário utilize o imóvel para as atividades de sociedade de que faça parte e que a esta passe a pertencer o fundo de comércio, o direito a renovação poderá ser exercido pelo locatário ou pela sociedade.
§ 3º Dissolvida a sociedade comercial por morte de um dos sócios, o sócio sobrevivente fica sub - rogado no direito a renovação, desde que continue no mesmo ramo.
§ 4º O direito a renovação do contrato estende - se às locações celebradas por indústrias e sociedades civis com fim lucrativo, regularmente constituídas, desde que ocorrentes os pressupostos previstos neste artigo.
§ 5º Do direito a renovação decai aquele que não propuser a ação no interregno de um ano, no máximo, até seis meses, no mínimo, anteriores à data da finalização do prazo do contrato em vigor.
O prazo para a propositura da ação renovatória é iniciado no instante em que resta apenas 1 (um) ano do fim do contrato e se encerra quando se estiver a 6 meses anteriores ao fim do contrato. Este prazo é decadencial, não se suspende, não se interrompe e não se prorroga.
EXEMPLO: Caso o prazo se dê por encerrado em um domingo, a ação renovatória tem de ser proposta até a sexta-feira anterior.
Uma vez proposta a ação renovatória, o juiz renovará o contrato, segundo a lei, por igual período. No entanto, renovar por 2 anos é injusto com o locatário e renovar por 20 anos é injusto com o locador. A lei tem compreendido que o "igual período" é de 5 anos.
Caso sejam atendidos os requisitos, não há limites para o número de renovatórias. O proprietário não perde o imóvel, ele continua proprietário e está sendo remunerado pela utilização do mesmo. 
O aluguel não fica defasado haja vista que durante o contrato o aluguel é reajustado pelo índice do contrato. Contudo, na renovação, o aluguel é reajustado pelo valor de mercado. Logo, ele está recebendo o valor justo, adequado, pela locação de imóvel dele.
Art. 52. O locador não estará obrigado a renovar o contrato se:
I - por determinação do Poder Público, tiver que realizar no imóvel obras que importarem na sua radical transformação; ou para fazer modificações de tal natureza que aumente o valor do negócio ou da propriedade;
II - o imóvel vier a ser utilizado por ele próprio ou para transferência de fundo de comércio existente há mais de um ano, sendo detentor da maioria do capital o locador, seu cônjuge, ascendente ou descendente.
§ 1º Na hipótese do inciso II, o imóvel não poderá ser destinado ao uso do mesmo ramo do locatário, salvo se a locação também envolvia o fundo de comércio, com as instalações e pertences.
§ 2º Nas locações de espaço em shopping centers , o locador não poderá recusar a renovação do contrato com fundamento no inciso II deste artigo.
§ 3º O locatário terá direito a indenização para ressarcimento dos prejuízos e dos lucros cessantes que tiver que arcar com mudança, perda do lugar e desvalorização do fundo de comércio, se a renovação não ocorrer em razão de proposta de terceiro, em melhores condições, ou se o locador, no prazo de três meses da entrega do imóvel, não der o destino alegado ou não iniciar as obras determinadas pelo Poder Público ou que declarou pretender realizar.
Em sede da ação renovatória de locação comercial prevista no art. 51 da Lei nº 8.245/91, o prazo máximo de prorrogação contratual será de 5 anos. Assim, ainda que o prazo da última avença supere o lapso temporal de 5 anos, a renovação compulsória não poderá excedê-lo, porquanto o quinquênio estabelecido em lei é o limite máximo.
Possibilitar que a ação renovatória de aluguel comercial seja capaz de compelir o locador a renovar e manter a relação locatícia, quando já não mais possui interesse, por prazo superior ao razoável lapso temporal de 5 anos, certamente desestimularia os contratos de locação comercial mais longos, pois ensejaria, de certa forma, a expropriação do imóvel de seu proprietário, especialmente se levar-se em conta que sucessivas ações renovatórias da locação poderão ser movidas. STJ. 4ª Turma.REsp 1990552-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 17/05/2022 (Info 737).
Importante registrar que a sentença que julga procedente a ação renovatória possui natureza constitutiva - na medida em que cria novo contrato de locação entre as partes que se justapõe ao anterior - e, muitas vezes, condenatória – na medida em que fixa novo valor para o aluguel, que pode ser maior ou menor do que aquele previsto no contrato primitivo.
Sendo julgada improcedente a ação, a locação comercial não será renovada e o juiz determinará a desocupação do imóvel alugado no prazo de 30 dias, desde que haja pedido na contestação:
Art. 74. Não sendo renovada a locação, o juiz determinará a expedição de mandado de despejo, que conterá o prazo de 30 (trinta) dias para a desocupação voluntária, se houver pedido na contestação. (Redação dada pela Lei nº 12.112, de 2009)
H) Nome empresarial
Trata-se do elemento identificador do empresário enquanto sujeito da atividade econômica organizada. É importante ressaltar que existem vários elementos que identificam a atividade empresarial, sendo que o nome empresarial é apenas um desses elementos.
São observados, essencialmente, quatro elementos que identificam a atividade empresarial em diferentes aspectos:
· Nome empresarial
· Marca
· Título de estabelecimento
· Nome de domínio
O nome empresarial, por exemplo, identifica o empresário enquanto sujeito da atividade econômica organizada. A marca, por sua vez, identifica os produtos e serviços oferecidos por esse empresário. O título de estabelecimento identifica o lugar em que a atividade empresarial é desenvolvida. Por fim, o nome de domínio identifica o endereço virtual do empresário.
Existe um lugar específico de proteção a cada um desses elementos: o nome empresarial é protegido através do Registro na Junta Comercial. Já a marca é protegida através do registro no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). 
O título de estabelecimento, por sua vez, não tem um lugar específico de proteção. Todavia, ele é protegido pelas regras de concorrência desleal. 
Uma diferença entre a marca e o nome empresarial diz respeito ao âmbito territorial de proteção. O nome empresarial é protegido apenas no território do Estado em que foi registrado. A marca, por sua vez, goza, prioritariamente, de proteção em todo o território nacional. Cumpre ressaltar que é possível que a proteção ao nome empresarial seja estendida, desde que seja registrado em cada Estado em que se almeja tal proteção.
A marca já é automaticamente protegida em todo o território brasileiro, mesmo que não seja uma marca de abrangência nacional. Basta o registro no INPI. 
Além da diferença quanto ao âmbito de proteção, existe uma diferença em relação ao âmbito materialda tutela da marca e nome empresarial. A marca é protegida apenas na classe em que foi registrada. Já o nome empresarial é protegido em todas as classes, ou seja, em todos os ramos, independentemente daquele em que foi registrado.
· Espécies de nome empresarial
Espécies de nome empresarial: a firma e a denominação.
A firma é a espécie de nome empresarial que pode ser dividida em firma individual e firma social (frequentemente utilizada como sinônimo de razão social). 
Cada forma de exercício da atividade empresarial utiliza uma espécie característica. A firma individual é utilizada pelo empresário individual. A firma social, por sua vez, é utilizada pela sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade limitada, sociedade em comandita por ações.
Caso ocorra falecimento, reclusão ou retirada de sócio, seu nome deve ser retirado da firma social (art. 1.165 do Código Civil).
Já a denominação é empregada pela sociedade anônima, sociedade limitada, sociedade em comandita por ações.
Perceba que a sociedade limitada e sociedade em comandita por ações podem utilizar tanto a firma quanto a denominação. Já a sociedade em nome coletivo e a sociedade em comandita simples somente podem usar a firma social, enquanto a sociedade anônima só pode utilizar a denominação.
A firma é a espécie de nome empresarial que tem por base o nome civil dos seus integrantes, podendo vir acompanhada ou não do objeto ou ramo de atividade. Como exemplo, podemos citar a firma "Souza e Silva Comercial de Alimentos", em que 'Souza e Silva' representa o nome dos integrantes da sociedade, e 'Comercial de Alimentos' representa o objeto. Essa firma exemplificativa também poderia ser apenas "Souza e Silva", já que, na firma, a identificação prioritária é do nome civil, sendo facultativa a identificação do objeto ou ramo de atividade.
A denominação, por sua vez, tem por base um elemento fantasia obrigatoriamente acompanhado, em regra, do objeto ou ramo de atividade. A título de exemplo, imagine a denominação "Amanhecer Móveis", em que a palavra 'amanhecer' é um elemento fantasia, não representando o nome de nenhum dos sócios. Perceba que, nesse exemplo, há a presença do elemento identificador do objeto ou ramo de atividade, qual seja, a expressão 'móveis'.
É importante se atentar ao seguinte detalhe: na sociedade anônima, o elemento fantasia pode ser substituído pelo nome civil do fundador da companhia, ou de alguém que muito contribuiu para o seu desenvolvimento. Imagine, ainda, a denominação "Companhia Siderúrgica Nacional". A expressão "Companhia" indica que se trata de uma S.A; "siderúrgica", por sua vez, compreende o ramo de atividade. Por fim, "nacional" é o elemento fantasia.
Art. 1.155. Considera-se nome empresarial a firma ou a denominação adotada, de conformidade com este Capítulo, para o exercício de empresa.
Parágrafo único. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a denominação das sociedades simples, associações e fundações.
Art. 1.156. O empresário opera sob firma constituída por seu nome, completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser, designação mais precisa da sua pessoa ou do gênero de atividade.
Art. 1.157. A sociedade em que houver sócios de responsabilidade ilimitada operará sob firma, na qual somente os nomes daqueles poderão figurar, bastando para formá-la aditar ao nome de um deles a expressão "e companhia" ou sua abreviatura.
Parágrafo único. Ficam solidária e ilimitadamente responsáveis pelas obrigações contraídas sob a firma social aqueles que, por seus nomes, figurarem na firma da sociedade de que trata este artigo.
Art. 1.158. Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação, integradas pela palavra final "limitada" ou a sua abreviatura.
§ 1 o A firma será composta com o nome de um ou mais sócios, desde que pessoas físicas, de modo indicativo da relação social.
§ 2 o A denominação deve designar o objeto da sociedade, sendo permitido nela figurar o nome de um ou mais sócios.
§ 3 o A omissão da palavra "limitada" determina a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade.
Art. 1.159. A sociedade cooperativa funciona sob denominação integrada pelo vocábulo "cooperativa".
Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob denominação integrada pelas expressões ‘sociedade anônima’ ou ‘companhia’, por extenso ou abreviadamente, facultada a designação do objeto social.   (Redação dada pela Lei nº 14.382, de 2022)
Parágrafo único. Pode constar da denominação o nome do fundador, acionista, ou pessoa que haja concorrido para o bom êxito da formação da empresa.
Art. 1.161. A sociedade em comandita por ações pode, em lugar de firma, adotar denominação aditada da expressão ‘comandita por ações’, facultada a designação do objeto social.   (Redação dada pela Lei nº 14.382, de 2022)
Art. 1.162. A SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO NÃO PODE TER FIRMA OU DENOMINAÇÃO.
Art. 1.163. O nome de empresário deve distinguir-se de qualquer outro já inscrito no mesmo registro.
Parágrafo único. Se o empresário tiver nome idêntico ao de outros já inscritos, deverá acrescentar designação que o distinga.
Art. 1.164. O nome empresarial não pode ser objeto de alienação.
Parágrafo único. O adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, pode, se o contrato o permitir, usar o nome do alienante, precedido do seu próprio, com a qualificação de sucessor.
Art. 1.165. O nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, não pode ser conservado na firma social.
Art. 1.166. A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado.
Parágrafo único. O uso previsto neste artigo estender-se-á a todo o território nacional, se registrado na forma da lei especial.
Art. 1.167. Cabe ao prejudicado, a qualquer tempo, ação para anular a inscrição do nome empresarial feita com violação da lei ou do contrato.
Art. 1.168. A inscrição do nome empresarial será cancelada, a requerimento de qualquer interessado, quando cessar o exercício da atividade para que foi adotado, ou quando ultimar-se a liquidação da sociedade que o inscreveu.
I) Lei 14.195/2021 – Lei do Ambiente de Negócios (alterações relacionadas com Direito Empresarial)[footnoteRef:4] [4: Dizer o Direito] 
A Lei nº 14.195/2021 dispõe sobre vários assuntos relacionados com direito empresarial e também direito processual civil. Ela ficou conhecida como Lei do Ambiente de Negócios.
 
· ALTERAÇÕES RELACIONADAS COM DIREITO EMPRESARIAL 
1) CNPJ COMO NOME EMPRESARIAL
O empresário individual e a sociedade empresária precisam ter um nome empresarial, que é a expressão que os identifica em suas relações jurídicas.
Com o objetivo de desburocratizar, a Lei nº 14.195/2021 acrescentou o art. 35-A na Lei nº 8.934/94 dizendo que o empresário ou pessoa jurídica poderá utilizar o CNPJ como nome empresarial.
Art. 35-A. O empresário ou a pessoa jurídica poderá optar por utilizar o número de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) como nome empresarial, seguido da partícula identificadora do tipo societário ou jurídico, quando exigida por lei.
O art. 1.155 prevê duas espécies de nome empresarial:
a) firma;
b) denominação.
Com esse novo art. 35-A temos uma terceira espécie de nome empresarial: o CNPJ como nome empresarial.
 
2) NOME EMPRESARIAL DAS SOCIEDADES
· Antes: na denominação da sociedade anônima e da sociedade em comandita por ações (quando esta adotasse denominação), era obrigatório que constasse a designação do objeto social.
· Agora: a menção ao objeto social é facultativa.
 
	CÓDIGO CIVIL
	Antes da Lei 14.195/2021
	Depois da Lei 14.195/2021
	Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob denominação designativa do objeto social, integrada pelas expressões "sociedade anônima" ou "companhia", por extenso ou abreviadamente.
Parágrafo único. Pode constar da denominação o nome do fundador, acionista, ou pessoa que haja concorrido para o bomêxito da formação da empresa.
	Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob denominação, integrada pelas expressões ‘sociedade anônima’ ou ‘companhia’, por extenso ou abreviadamente, facultada a designação do objeto social.
Parágrafo único. Pode constar da denominação o nome do fundador, acionista, ou pessoa que haja concorrido para o bom êxito da formação da empresa.
	Art. 1.161. A sociedade em comandita por ações pode, em lugar de firma, adotar denominação designativa do objeto social, aditada da expressão “comandita por ações”.
	Art. 1.161. A sociedade em comandita por ações pode, em lugar de firma, adotar denominação, aditada da expressão ‘comandita por ações’, facultada a designação do objeto social.
 
3) ASSEMBLEIA GERAL POR MEIOS ELETRÔNICOS
O art. 59 do Código Civil trata sobre a assembleia geral das associações:
Art. 59. Compete privativamente à assembleia geral:
I – destituir os administradores;
II – alterar o estatuto.
 
Em razão do isolamento social adotado durante a pandemia da Covid-19, a Lei 14.010/2020 autorizou que as assembleias gerais pudessem ser realizadas por meios eletrônicos, mesmo que o estatuto social não previsse.
Como a experiência foi produtiva, a Lei nº 14.195/2021 acrescentou o art. 48-A ao Código Civil tornando essa previsão definitiva:
Art. 48-A. As pessoas jurídicas de direito privado, sem prejuízo do previsto em legislação especial e em seus atos constitutivos, poderão realizar suas assembleias gerais por meios eletrônicos, inclusive para os fins do art. 59 deste Código, respeitados os direitos previstos de participação e de manifestação.
 
4) REVOGAÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 1.015
Sociedade atua por intermédio dos seus administradores
A sociedade pratica os atos jurídicos, exerce direitos ou assume obrigações por intermédio dos seus administradores. É o que prevê o art. 1.022 do Código Civil:
Art. 1.022. A sociedade adquire direitos, assume obrigações e procede judicialmente, por meio de administradores com poderes especiais, ou, não os havendo, por intermédio de qualquer administrador.
 
E quem é considerado administrador da sociedade? O contrato social deve prever quem são as pessoas incumbidas da administração da sociedade. Além disso, deve indicar também quais são os poderes e atribuições (art. 997, VI, do CC).
Vale ressaltar, ainda, que o administrador da sociedade pode ser nomeado por meio de um instrumento separado, ou seja, em um outro documento que não seja o contrato social. Neste caso, tal instrumento deverá ser averbado à margem da inscrição da sociedade:
Art. 1.012. O administrador, nomeado por instrumento em separado, deve averbá-lo à margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos que praticar, antes de requerer a averbação, responde pessoal e solidariamente com a sociedade.
 
Assim, a pessoa que está celebrando negócio jurídico com a sociedade, deverá analisar o contrato social ou o instrumento averbado na inscrição da sociedade, para ter certeza de que aquele administrador possui autorização para praticar atos em nome daquela sociedade.
E se o contrato social não tratar sobre a administração da sociedade e não for feito um instrumento em separado dispondo sobre o assunto? Como fica a administração da sociedade neste caso? Se o contrato social não tratar sobre o tema, a administração da sociedade competirá separadamente a cada um dos sócios (art. 1.013 do CC).
O contrato social deverá definir quais atos os administradores podem praticar em nome da sociedade. E se o contrato social for silente? Se o contrato social não disser quais atos podem ser praticados pelos administradores? No silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos que sejam considerados como “atos de gestão da sociedade”. Obs: oneração ou venda de bens imóveis, em regra, não é considerado mero ato de gestão, salvo se a sociedade tiver como objeto social a compra e venda de imóveis (ex: se for uma imobiliária). Veja o que diz o caput do art. 1.015 do CC:
Art. 1.015. No silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria dos sócios decidir.
 
O que acontece se o administrador praticar um ato que ele não poderia, ou seja, que ele não estava autorizado? Em outras palavras, o que acontece se o administrador exceder os poderes que ele possui? 
· REGRA: mesmo tendo havido esse excesso, a sociedade estará vinculada ao que foi ajustado pelo administrador. Isso para prestigiar a boa-fé do terceiro com quem o negócio foi celebrado.
· EXCEÇÕES: o parágrafo único do art. 1.015 do CC trazia exceções a essa regra, ou seja, três situações nas quais a sociedade não precisará cumprir os compromissos assumidos pelo administrador porque ele agiu com excesso. Veja quais eram essas situações:
Art. 1.015 (...)
Parágrafo único. O excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:
I - se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade;
II - provando-se que era conhecida do terceiro;
III - tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.
 
O inciso III era aquilo que a doutrina denominava de ultra vires.
Conforme explicava André Luiz Santa Cruz: “Vê-se, pois, que pela interpretação a contrario sensu do parágrafo único do art. 1.015, em regra a sociedade responde por todos os atos de seus legítimos administradores, ainda que eles tenham atuado com excesso de poderes. De fato, se o Código afirma que a sociedade somente pode opor o excesso contra terceiros em determinadas situações que o próprio legislador elencou, taxativamente, isso significa que nas demais situações o excesso dos administradores não pode ser oposto a terceiros, ou seja, a sociedade terá que responder pelas obrigações decorrentes da atuação excessiva dos seus gestores, não obstante possa depois voltar-se contra eles, em ação regressiva.
Enquanto os incisos I e II do art. 1.015, parágrafo único, do Código Civil tratam das hipóteses em que a sociedade impõe uma limitação de poderes ao administrador, como visto acima, o inciso III cuida de hipótese diversa, relacionada aos casos em que o administrador assume obrigação decorrente de ‘operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade’.
Trata o inciso em comento da chamada teoria ‘ultra vires”, surgida no direito inglês há bastante tempo. Segundo essa teoria, se o administrador celebra contrato assumindo obrigações, em nome da sociedade, em operações evidentemente estranhas ao seu objeto social, presume-se que houve excesso de poderes. Entende-se que bastaria ao credor diligente atentar para a compatibilidade entre a relação jurídica travada com determinada sociedade e o seu respectivo objeto social. Afinal, como já destacado anteriormente, o caput do art. 1.015 do Código Civil permite ao administrador praticar todo e qualquer ato de gestão dos negócios sociais, mas desde que haja pertinência entre o ato praticado e os negócios sociais.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial. 11ª ed., São Paulo: Juspdovim, 2021, p. 385-386)
O que fez a Lei nº 14.195/2021? Revogou o parágrafo único do art. 1.015 do CC, acabando com as três exceções acima explicadas.
Essas exceções recebiam críticas de parcela significativa da doutrina. Isso porque elas enfraqueciam a proteção que deve ser conferida ao terceiro de boa-fé que contratava com a sociedade. Além disso, tais exceções contribuíam para uma situação de insegurança jurídica. 
André Luiz Santa Cruz Ramos:“(...) a teoria ultra vires, após surgir na Inglaterra e nos Estados Unidos, foi sendo gradativamente abandonada, o que nos permite dizer que, de certo modo, a adoção dessa teoria pelo Código Civil de 2002 representa um retrocesso. É que na maioria das vezes, em razão do dinamismo inerente às atividades econômicas, é muito difícil analisar, em todas as transações negociais, se os poderes dos administradores lhe permitem firmaraquela relação jurídica específica. Portanto, a teoria ultra vires, é inegável, traz consigo uma certa insegurança jurídica para o mercado. Melhor seria, talvez, em homenagem à boa-fé dos terceiros que contratam com a sociedade limitada, reconhecer sua responsabilidade pelos atos ultra vires, mas assegurar-lhe a possibilidade de voltar-se em regresso contra o administrador que se excedeu.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial. 11ª ed., São Paulo: Juspdovim, 2021, p. 386)
Nesse mesmo sentido, confira o Enunciado 11, da I Jornada de Direito Comercial do CJF: A regra do art. 1.015, parágrafo único, do Código Civil deve ser aplicada à luz da teoria da aparência e do primado da boa-fé objetiva, de modo a prestigiar a segurança do tráfego negocial. As sociedades se obrigam perante terceiros de boa-fé.
Em suma: A sociedade responde pelos atos de seus administradores, ainda que estes tenham extrapolado seus poderes e atribuições.
As três exceções a essa regra, que eram previstas no parágrafo único do art. 1.015 do CC, foram revogadas. O objetivo foi o de prestigiar, ainda mais, a boa-fé do terceiro com quem os atos foram praticados e resguardar a segurança jurídica das relações.
Com a Lei nº 14.195/2021, o ordenamento jurídico brasileiro abandonou a teoria ultra vires.
 
5) EXTINÇÃO DAS EIRELI´S
A EIRELI era uma forma de pessoa jurídica composta por uma só pessoa física.
Tratava-se de uma espécie de pessoa jurídica unipessoal autônoma e que apresentava, portanto, personalidade jurídica e patrimônio distintos daquele titularizado pela pessoa física que explora a atividade em questão.
Consistia em uma técnica de limitação dos riscos empresariais em benefício dos empreendedores individuais.
Os requisitos para a constituição da EIRELI eram os seguintes:
a) Uma única pessoa natural, que é o titular da totalidade do capital social;
b) O capital social deve estar devidamente integralizado;
c) O capital social não pode ser inferior a 100 (cem) vezes o salário-mínimo;
d) A pessoa natural que constituir EIRELI somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade. 
Sociedade unipessoal é aquela formada por um só sócio que detém a totalidade do capital social. É possível a existência de sociedade unipessoal no Brasil?
	Antes da Lei nº 13.874/2019: NÃO
	Depois da Lei nº 13.874/2019: SIM
	Como regra, havia a necessidade de dois ou mais sócios.
A doutrina apontava a existência de três exceções muito peculiares:
1) sociedade subsidiária integral (art. 251, § 2º, da Lei nº 6.404/76);
2) empresa pública unipessoal.
3) sociedade limitada que ficou com apenas um sócio, situação que podia durar por, no máximo, 180 dias (art. 1.033, IV, do CC – atualmente revogado).
	A Lei nº 13.874/2019 acrescentou dois parágrafos ao art. 1.052 do CC prevendo a possibilidade de a sociedade limitada ser composta por um único sócio:
Art. 1.052. (...)
§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas.
§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio único, no que couber, as disposições sobre o contrato social.
 
 Assim, a Lei nº 13.874/2019 previu a possibilidade de ser, livremente, criada a sociedade limitada unipessoal.
Diante do modelo que caiu em desuso, o legislador resolveu simplificar o panorama e decidiu transformar todas EIRELIs ainda existentes em sociedades unipessoais (art. 41 da Lei nº 14.195/2021). 
O inciso IV do art. 1.033 do Código Civil previa que se uma sociedade – que originalmente tivesse pluralidade de sócios – ficasse com apenas um sócio (ex: os demais morreram), esta sociedade deveria se regularizar – com a entrada de novos sócios – em um prazo de até 180 dias. Caso não fizesse isso, tal sociedade deveria ser dissolvida, salvo se fosse transformada em uma EIRELI. 
 
6) PROTEÇÃO DE ACIONISTAS MINORITÁRIOS E VOTO PLURAL (LEI 6.404/76)
Foram inseridos os seguintes dispositivos na Lei nº 6.404/76:
 
Art. 16-A. Na companhia aberta, é vedada a manutenção de mais de uma classe de ações ordinárias, ressalvada a adoção do voto plural nos termos e nas condições dispostos no art. 110-A desta Lei.
Art. 110-A. É admitida a criação de uma ou mais classes de ações ordinárias com atribuição de voto plural, não superior a 10 (dez) votos por ação ordinária:
I - na companhia fechada; e
II - na companhia aberta, desde que a criação da classe ocorra previamente à negociação de quaisquer ações ou valores mobiliários conversíveis em ações de sua emissão em mercados organizados de valores mobiliários.
§ 1º A criação de classe de ações ordinárias com atribuição do voto plural depende do voto favorável de acionistas que representem:
I - metade, no mínimo, do total de votos conferidos pelas ações com direito a voto; e
II - metade, no mínimo, das ações preferenciais sem direito a voto ou com voto restrito, se emitidas, reunidas em assembleia especial convocada e instalada com as formalidades desta Lei.
§ 2º Nas deliberações de que trata o § 1º deste artigo, será assegurado aos acionistas dissidentes o direito de se retirarem da companhia mediante reembolso do valor de suas ações nos termos do art. 45 desta Lei, salvo se a criação da classe de ações ordinárias com atribuição de voto plural já estiver prevista ou autorizada pelo estatuto.
§ 5º Após o início da negociação das ações ou dos valores mobiliários conversíveis em ações em mercados organizados de valores mobiliários, é vedada a alteração das características de classe de ações ordinárias com atribuição de voto plural, exceto para reduzir os respectivos direitos ou vantagens.
§ 6º É facultado aos acionistas estipular no estatuto social o fim da vigência do voto plural condicionado a um evento ou a termo, observado o disposto nos §§ 7º e 8º deste artigo.
§ 7º O voto plural atribuído às ações ordinárias terá prazo de vigência inicial de até 7 (sete) anos, prorrogável por qualquer prazo, desde que:
I - seja observado o disposto nos §§ 1º e 3º deste artigo para a aprovação da prorrogação;
II - sejam excluídos das votações os titulares de ações da classe cujo voto plural se pretende prorrogar; e
III - seja assegurado aos acionistas dissidentes, nas hipóteses de prorrogação, o direito previsto no § 2º deste artigo.
§ 9º Quando a lei expressamente indicar quóruns com base em percentual de ações ou do capital social, sem menção ao número de votos conferidos pelas ações, o cálculo respectivo deverá desconsiderar a pluralidade de voto.
A redação anterior da lei vedava expressamente o chamado voto plural. Atribuir voto plural a determinada ação é atribuir mais de um voto a uma mesma ação.
Com a mudança, permite-se a criação de uma ou mais classes de ações ordinárias com a atribuição do voto plural, não superior a dez votos por ação ordinária. Dependerá de deliberação societária com quórum de votação específico (§1º ao art. 110-A) e será temporalmente limitada ao período de sete anos, ainda que prorrogável por qualquer prazo (§7º ao art. 110-A).
 
Art. 138. (...)
§ 3º É vedada, nas companhias abertas, a acumulação do cargo de presidente do conselho de administração e do cargo de diretor-presidente ou de principal executivo da companhia.*
§ 4º A Comissão de Valores Mobiliários poderá editar ato normativo que excepcione as companhias de menor porte previstas no art. 294-B desta Lei da vedação de que trata o § 3º deste artigo.
 
* Esse § 3º do art. 138 somente produzirá efeitos em 360 dias, contados da data de publicação da Lei nº 14.195/2021 (27/08/2021).
 
Diretores podem ser domiciliados no exterior:
Art. 146. Apenas pessoas naturais poderão ser eleitas para membros dos órgãos de administração.
§ 2º A posse de administrador residente ou domiciliado no exterior fica condicionada à constituição de representante residente no País, com poderes para, até, no mínimo, 3 (três) anos após o término do prazo de gestão do administrador, receber:
I - citações em ações contra ele propostas com base na legislação societária; e
II - citações e intimações em processos administrativos instaurados pela Comissão de Valores Mobiliários, no casode exercício de cargo de administração em companhia aberta.
 
1.3. Direito societário
Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados.
Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro ( art. 967 ); e, simples, as demais.
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.
Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092 ; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias.
Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições concernentes à sociedade em conta de participação e à cooperativa, bem como as constantes de leis especiais que, para o exercício de certas atividades, imponham a constituição da sociedade segundo determinado tipo.
Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968 , requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária.
Parágrafo único. Embora já constituída a sociedade segundo um daqueles tipos, o pedido de inscrição se subordinará, no que for aplicável, às normas que regem a transformação.
Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos ( arts. 45 e 1.150 ).
1.3.1. Sociedades não personificadas
As sociedades não personificadas são aquelas que não possuem personalidade jurídica. 
Elas abrangem a sociedade em comum e a sociedade em conta de participação.
A) Sociedade em comum
Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples.
Art. 987. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo.
Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum.
Art. 989. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer.
Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade.
As sociedades em comum são aquelas cujos atos constitutivos não estão arquivados no órgão de registro, que não tem personalidade jurídica e cujos bens e dívidas constituem patrimônio especial de titularidade dos sócios.
Nos termos de antiga classificação, as sociedades em comum se dividem em duas espécies: sociedade irregular e sociedade de fato.
Sociedade irregular é aquela que possui contrato social, mas seus atos constitutivos não foram levados a registro. Por sua vez, a sociedade de fato não possui sequer contrato social. 
O CC/2002 disciplina as sociedades de fato e irregular sem quaisquer distinções sob a denominação de sociedade em comum.
O registro não é pressuposto de existência da sociedade, e, sim, condição necessária para a aquisição de personalidade jurídica.
Uma peculiaridade da sociedade em comum refere-se ao elemento personalíssimo, ante a falta de registro junto ao órgão competente, fator esse que acarreta ausência de patrimônio próprio. Em outras palavras, falta-lhe autonomia patrimonial.
Ao contrair obrigações, o patrimônio dos sócios servirá como garantia do cumprimento de todas as obrigações advindas do exercício da atividade.
Com isso, na sociedade que não fez registro, os sócios terão responsabilidade ilimitada e solidária. Isso significa que o sócio responde com seu patrimônio pessoal pelas dívidas da sociedade, consoante art. 990 do CC.
Contudo, apesar de a responsabilidade ser ilimitada, os credores devem respeitar o benefício de ordem, pois de acordo com o art. 1.024 do CC: “Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais”.
Isso quer dizer que a responsabilidade, em geral, perante os credores, é subsidiária (e não solidária). Entre os sócios, contudo, a responsabilidade será solidária.
O art. 990 do CC estabelece que não incide o benefício de ordem em relação a quem contratou pela sociedade. Isso significa que a responsabilidade também será solidária somente para ele. Já quanto ao sócio que não firmou o negócio, este responde de forma subsidiária. Ou seja: primeiro se executam os bens do patrimônio especial, e somente após os credores poderão se voltar contra os bens pessoais dos sócios, exceto se em face do sócio que contratou pela sociedade, cujos bens pessoais já respondem de imediato.
No caso da sociedade em comum, o patrimônio será dos sócios. Os bens não são da sociedade, mas são destinados a ela (art. 988 do CC). 
A sociedade em comum não tem nome empresarial, pois não possui personalidade jurídica. Apesar de não ser personificada, ela detém capacidade processual, isto é, pode figurar em uma relação jurídica e sujeita-se às regras da falência, previstas na Lei nº 11.101/2005.
Por patrimônio especial, entende-se como sendo aquele afetado ao exercício da atividade, garantidor de terceiro, e de titularidade dos sócios em comum (Enunciado nº 210 da III Jornada de Direito Civil).
Além disso, os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer (art. 989).
B) Sociedade em conta de participação
Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes.
Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e, exclusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social.
Art. 992. A constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito.
Art. 993. O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a eventual inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica à sociedade.
Parágrafo único. Sem prejuízo do direito de fiscalizar a gestão dos negócios sociais, o sócio participante não pode tomar parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob pena de responder solidariamente com este pelas obrigações em que intervier.
Art. 994. A contribuição do sócio participante constitui, com a do sócio ostensivo, patrimônio especial, objeto da conta de participação relativa aos negócios sociais.
§1º A especialização patrimonial somente produz efeitos em relação aos sócios.
§2º A falência do sócio ostensivo acarreta a dissolução da sociedade e a liquidação da respectiva conta, cujo saldo constituirá crédito quirografário.
§3º Falindo o sócio participante, o contrato social fica sujeito às normas que regulam os efeitos da falência nos contratos bilaterais do falido.
Art. 995. Salvo estipulação em contrário, o sócio ostensivo não pode admitir novo sócio sem o consentimento expresso dos demais.
Art. 996. Aplica-se à sociedade em conta de participação, subsidiariamente e no que comela for compatível, o disposto para a sociedade simples, e a sua liquidação rege-se pelas normas relativas à prestação de contas, na forma da lei processual.
Parágrafo único. Havendo mais de um sócio ostensivo, as respectivas contas serão prestadas e julgadas no mesmo processo.
Sociedade em conta de participação possui em seu quadro societário duas modalidades de sócios, quais sejam os sócios ocultos (também chamados de participantes) e os sócios ostensivos.
O sócio ostensivo possui três características essenciais: exercerá o objeto social, terá responsabilidade exclusiva e agirá em seu nome individual.
Destaca-se, ainda, que poderá ser sócio ostensivo tanto pessoa física quanto jurídica, que, por sua vez, exercerá a atividade em seu nome e, como consequência, responderá integralmente diante de terceiros.
Desse modo, a sociedade em conta de participação não tem capacidade para contratar. Em tais circunstâncias, isto somente caberá ao sócio ostensivo, com crédito e nome próprios.
1.3.2. Sociedades personificadas
As sociedades personificadas são aquelas que possuem personalidade jurídica.
Elas se dividem em sociedade empresária e sociedade simples.
Apontam-se as seguintes diferenças entre sociedades empresárias e simples:
a) Objeto: sociedade empresária é criada para exercer atividade típica de empresário.
b) As sociedades simples podem ser criadas para:
· Desenvolverem atividade intelectual de natureza científica, literária ou artística.
· Desenvolverem uma atividade mercantil, mas sem organização empresarial, ou seja, sem a organização dos fatores de produção.
· Desenvolverem atividades no setor rural sem registro, nos termos do art. 971 do CC.
Será considerada empresária a sociedade que atende as regras do art. 966 do CC, assim como a sociedade de profissionais intelectuais que se tornaram elemento de empresa. Também será empresária a sociedade rural registrada na junta comercial, bem como a sociedade por ações, por expressa determinação legal.
· Tipos societários
As sociedades empresárias podem adotar os seguintes tipos societários:
a) sociedade em nome coletivo;
b) sociedade em comandita simples;
c) sociedade em comandita por ações;
d) sociedade limitada;
e) sociedade anônima (sempre será empresária).
As sociedades simples podem adotar os seguintes tipos societários:
a) cooperativa (sempre será simples);
b) sociedade em nome coletivo;
c) sociedade em comandita simples;
d) sociedade limitada;
e) sociedade simples (S/S), também chamada de sociedade simples pura.
O registro dos atos constitutivos das sociedades empresárias deve ser feito na junta comercial. O registro dos atos constitutivos das sociedades simples deve ser feito no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, nos termos do art. 1.150 do CC.
No entanto, as sociedades de advogados, consideradas sociedades simples, devem registrar os seus atos constitutivos na própria Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
As cooperativas, consideradas sociedades simples, devem registrar os seus atos constitutivos na junta comercial.
· Classificação das sociedades personificadas
a) Sociedade de pessoas: Quando as características pessoais do sócio importam. Affectio societatis: é a disposição dos sócios em formar e manter a sociedade uns com os outros.
b) Sociedade de capital: é aquela na qual pouco importam as características subjetivas do sócio. O que interessa é o capital investido pelo sócio na sociedade. Toda S/A é sociedade de capital.
O que irá definir se uma sociedade é de pessoas ou de capital é o contrato social ou o estatuto social. 
Em caso de omissão contratual ou estatutária, em regra, as sociedades contratuais serão consideradas sociedades de pessoas. As sociedades institucionais, por sua vez, serão consideradas sociedades de capital.
Na sociedade contratual prevalece a vontade dos sócios (farão o contrato social). Na sociedade institucional, prevalece a vontade do legislador. A sociedade limitada (Ltda.) é contratual. A sociedade anônima (S/A) é institucional.
Responsabilidade do sócio pelas obrigações sociais:
a) Ilimitada: o sócio responde com o patrimônio pessoal pelas dívidas da sociedade. Por exemplo: sociedade em nome coletivo.
b) Limitada: o sócio não responde com seus bens pessoais pelas dívidas da sociedade. Por exemplo: S/A.
c) Mista: é aquela que tem sócios com responsabilidade limitada e sócios com responsabilidade ilimitada. Pelo exemplo: sociedade em comandita simples.
É nacional a sociedade organizada em conformidade com a lei brasileira e que tenha no país a sede de sua administração (art. 1.126 do CC). O CC não traz a definição da sociedade estrangeira. Esse conceito é feito por exclusão: se a sociedade não cumpre os dois requisitos vistos anteriormente, ela será estrangeira.
Qualquer sociedade estrangeira necessita de autorização do poder Executivo federal para funcionar no país (art. 1.134 do CC).
A LEI Nº 13.874/2019 PASSOU A ADMITIR A EXISTÊNCIA DE SOCIEDADE DE RESPONSABILIDADE LIMITADA CONSTITUÍDA POR APENAS UMA PESSOA (ART. 1.052, § 1º, DO CC).
É possível a sociedade entre cônjuges, salvo no regime comunhão universal de bens e no regime de separação obrigatória (art. 977 do CC). Recentemente, o STJ estabeleceu que a vedação legal do art. 977 se aplicaria tanto às sociedades empresárias quanto às sociedades simples (REsp. nº 1.058.165/RS, 14.04.2009).
O ato em que o sócio se compromete a contribuir com o patrimônio social se chama subscrição. Quando o sócio efetivamente paga o valor, temos a integralização da cota parte.
A) Sociedade simples
A sociedade simples é a que tem por objeto o exercício de atividade econômica não empresarial. O caso típico de sociedade simples é o das sociedades uniprofissionais – aquelas formadas por profissionais intelectuais (art. 966, parágrafo único, CC).
A sociedade simples pode ser organizada de várias formas, conforme o art. 983 do CC. Ela tem um modelo de organização básico (arts. 997 a 1.038), que chamamos de “sociedade simples simples”, mas pode organizar-se segundo alguns tipos societários típicos da sociedade empresária: sociedade limitada, em nome coletivo ou em comandita simples.
As sociedades simples são constituídas por meio de contrato social, cuja inscrição ocorre no Registro de Pessoas Jurídicas do local de sua sede; devendo ser requerida no prazo de 30 dias subsequentes à constituição.
Se o registro for feito após o prazo de 30 dias, terá efeito ex nunc. Ou seja, as regras de sociedade simples só irão incidir sobre aquela sociedade depois de concedido o registro.
O contrato social poderá sofrer alteração, atentando-se sempre para a regra de quórum do art. 999 do CC:
a) Quórum unânime: cláusulas essenciais do contrato de sociedade, impostas por lei no art. 997 do CC.
b) Quórum de maioria absoluta de votos: cláusulas acidentais, se o contrato não determinar a necessidade de deliberação unânime.
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
O contrato social se faz por instrumento particular ou instrumento público, sendo que nas duas hipóteses, pelo Estatuto da Advocacia (art. 1º, § 2º, da Lei nº 8.906/1994), necessita do visto de advogados. Vale salientar que no caso de microempresa e empresa de pequeno porte, a LC nº 123/2006, art. 9º, § 2º, dispensa esse visto.
O tipo de sociedade em questão pode ter sócios pessoas físicas ou jurídicas. O art. 997, II, diz que o contrato deve prever sua “denominação”, mas atenção: a sociedade simples pode usar firma ou denominação, conforme o Enunciado nº 213 da III Jornada de Direito Civil do CJF. Enunciado nº 213. O art. 997, inc. II, não exclui a possibilidade de sociedade simples utilizar firma ou razão social.
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espéciede bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.
Parágrafo único. É INEFICAZ EM RELAÇÃO A TERCEIROS QUALQUER PACTO SEPARADO, CONTRÁRIO AO DISPOSTO NO INSTRUMENTO DO CONTRATO.
Numa sociedade simples o capital é dividido em quotas, e todos os sócios têm o dever de subscrever parcela do capital social e de integralizar essa parcela subscrita, sendo tal dever um requisito de validade do contrato social.
A contribuição do sócio pode ser feita de diversas formas: com bens móveis, imóveis, materiais, imateriais e até mesmo serviços, de acordo com o art. 997, V. Enunciado nº 206 da III Jornada de Direito Civil do CJF: A contribuição do sócio exclusivamente em prestação de serviços é permitida nas sociedades cooperativas (art. 1.094, I) e nas sociedades simples propriamente ditas (art. 983, 2ª parte).
Se o sócio integralizar sua quota com transferência de bens, estes devem ser suscetíveis de avaliação pecuniária, respondendo o sócio pela evicção; se integralizar com transferência de créditos, responde pela solvência do devedor (art. 1.005). Por outro lado, se integralizar por prestação de serviço, não pode o sócio, salvo convenção, empregar-se em atividade estranha à sociedade, sob pena de ser privado de seus lucros e dela ser excluído (art. 1.006).
Se o sócio não integralizar a quota no tempo estabelecido, será considerado remisso, podendo os sócios (arts. 1.004 e 1.031, § 1º, CC):
a) cobrar indenização pela mora;
b) reduzir a quota ao montante já realizado (obs.: nesse caso, as cotas faltantes devem ser integralizadas pelos outros sócios ou por um terceiro ou, ainda, pode ser reduzido o capital social da sociedade);
c) excluir o sócio remisso por deliberação da maioria restante, devolvendo o montante que o sócio eventualmente já tenha contribuído.
Art. 999. As modificações do contrato social, que tenham por objeto matéria indicada no art. 997, dependem do consentimento de todos os sócios; as demais podem ser decididas por maioria absoluta de votos, se o contrato não determinar a necessidade de deliberação unânime.
Parágrafo único. Qualquer modificação do contrato social será averbada, cumprindo-se as formalidades previstas no artigo antecedente.
O contrato social não é imutável, podendo ser alterado conforme a vontade dos sócios. Caso a alteração seja referente a alguma matéria relacionada no art. 997 do CC (cláusulas obrigatórias em sociedade simples), a modificação do contrato dependerá de aprovação unânime; se forem outros temas, por exemplo, fixação de pro labore – que é a remuneração do administrador –, dependerá de maioria absoluta, salvo disposição em contrato.
Responsabilidade do sócio em sociedade simples: depende do contrato social, podendo ser:
a) Limitada (não responde com patrimônio pessoal) ou ilimitada (responde com seu patrimônio pessoal pelas dívidas da sociedade).
b) Solidária (não há benefício de ordem) ou subsidiária (primeiramente, os bens da sociedade e, depois, os bens dos sócios).
Na omissão do contrato, a responsabilidade será ilimitada e subsidiária - arts. 1.023 e 1.024 do CC. Todavia, poderá ser ilimitada e solidária – se assim estabelecido no contrato social (art. 1.023, in fine, do CC).
Art. 1.000. A sociedade simples que instituir sucursal, filial ou agência na circunscrição de outro Registro Civil das Pessoas Jurídicas, neste deverá também inscrevê-la, com a prova da inscrição originária.
Parágrafo único. Em qualquer caso, a constituição da sucursal, filial ou agência deverá ser averbada no Registro Civil da respectiva sede.
Art. 1.001. As obrigações dos sócios começam imediatamente com o contrato, se este não fixar outra data, e terminam quando, liquidada a sociedade, se extinguirem as responsabilidades sociais.
Art. 1.002. O SÓCIO NÃO PODE SER SUBSTITUÍDO NO EXERCÍCIO DAS SUAS FUNÇÕES, SEM O CONSENTIMENTO DOS DEMAIS SÓCIOS, EXPRESSO EM MODIFICAÇÃO DO CONTRATO SOCIAL.
Art. 1.003. A cessão total ou parcial de quota, sem a correspondente modificação do contrato social com o consentimento dos demais sócios, não terá eficácia quanto a estes e à sociedade.
Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio.
Cessão de cotas é a transferência da qualidade de sócio para um terceiro ou para outro sócio.
Para se falar de transferência é necessário (art. 1.003):
a) modificação do contrato social;
b) aprovação da unanimidade dos sócios.
Não atendidas as regras, a cessão será ineficaz.
Regra do parágrafo único: “até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio”. A responsabilidade, contudo, restringe-se às obrigações sociais contraídas no período em que ele ainda ostentava a qualidade de sócio, ou seja, antes da sua retirada da sociedade (STJ, 3ª Turma, REsp 1.537.521/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05.02.2019).
Da mesma forma, a morte do sócio não exime seus herdeiros da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois casos pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a averbação (art. 1.032, CC): A retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a averbação.
Art. 1.004. Os sócios são obrigados, na forma e prazo previstos, às contribuições estabelecidas no contrato social, e aquele que deixar de fazê-lo, nos trinta dias seguintes ao da notificação pela sociedade, responderá perante esta pelo dano emergente da mora.
Parágrafo único. Verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios preferir, à indenização, a exclusão do sócio remisso, ou reduzir-lhe a quota ao montante já realizado, aplicando-se, em ambos os casos, o disposto no § 1º do art. 1.031.
Art. 1.005. O sócio que, a título de quota social, transmitir domínio, posse ou uso, responde pela evicção; e pela solvência do devedor, aquele que transferir crédito.
Art. 1.006. O sócio, cuja contribuição consista em serviços, não pode, salvo convenção em contrário, empregar-se em atividade estranha à sociedade, sob pena de ser privado de seus lucros e dela excluído.
Art. 1.007. Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e das perdas, na proporção das respectivas quotas, MAS AQUELE, CUJA CONTRIBUIÇÃO CONSISTE EM SERVIÇOS, SOMENTE PARTICIPA DOS LUCROS NA PROPORÇÃO DA MÉDIA DO VALOR DAS QUOTAS. 
Art. 1.008. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos lucros e das perdas.
Art. 1.009. A distribuição de lucros ilícitos ou fictícios acarreta responsabilidade solidária dos administradores que a realizarem e dos sócios que os receberem, conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade.
Art. 1.010. Quando, por lei ou pelo contrato social, competir aos sócios decidir sobre os negócios da sociedade, as deliberações serão tomadas por maioria de votos, contados segundo o valor das quotas de cada um.
§ 1 o Para formação da maioria absoluta são necessários votos correspondentes a mais de metade do capital.
§ 2 o Prevalece a decisão sufragada por maior número de sócios no caso de empate, e, se este persistir, decidirá o juiz.
§ 3 o Responde por perdas e danos o sócio que, tendo em alguma operação interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a aprove graças a seu voto.
Direitose deveres dos sócios: 
· Participação nos lucros e nas perdas da sociedade, podendo a distribuição ser proporcional ou não ao percentual de quotas.
· Direito de participar das deliberações sociais. Essas decisões podem ser tomadas em reunião e assembleia, devendo observar a regra do art. 1.010 do CC. O voto será tomado de acordo com o valor das quotas de cada um. E se houver empate? Atender-se-á, sucessivamente, aos seguintes critérios de desempate (§ 2º): 1. Número de sócios; 2. Decisão judicial.
· Direito de retirada (recesso): é a possibilidade que o sócio tem de sair da sociedade, de não figurar mais no respectivo quadro social. 1.029 do CC. Inicialmente tem-se que analisar se a sociedade tem prazo determinado ou indeterminado: a) Se sociedade por prazo determinado: o sócio só pode sair se provar justa causa, e tal for provado judicialmente; b) Se sociedade por prazo indeterminado: não precisa o sócio retirante de justa causa, todavia, deve fazer uma notificação da sua saída aos demais sócios com antecedência mínima de 60 (sessenta) dias.
Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de sessenta dias; se de prazo determinado, provando judicialmente justa causa.
Parágrafo único. Nos trinta dias subsequentes à notificação, podem os demais sócios optar pela dissolução da sociedade.
Nos 30 dias subsequentes à notificação, os demais sócios podem optar pela dissolução da sociedade. Saindo o sócio, ele continuará responsável pelas obrigações anteriores até o prazo de dois anos depois de averbada a modificação do contrato social.
STJ – Informativo nº 595 – dissolução parcial da sociedade: na hipótese em que o sócio de sociedade limitada constituída por tempo indeterminado exerce o direito de retirada por meio de inequívoca e incontroversa notificação aos demais sócios, a data-base para apuração de haveres é o termo final do prazo de 60 dias, estabelecido pelo art. 1.029 do CC/2002.
Art. 1.011. O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios.
§ 1 o Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação.
§ 2 o Aplicam-se à atividade dos administradores, no que couber, as disposições concernentes ao mandato.
Art. 1.012. O administrador, nomeado por instrumento em separado, deve averbá-lo à margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos que praticar, antes de requerer a averbação, responde pessoal e solidariamente com a sociedade.
Art. 1.013. A ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE, NADA DISPONDO O CONTRATO SOCIAL, COMPETE SEPARADAMENTE A CADA UM DOS SÓCIOS.
§ 1 o Se a administração competir separadamente a vários administradores, cada um pode impugnar operação pretendida por outro, cabendo a decisão aos sócios, por maioria de votos.
§ 2 o Responde por perdas e danos perante a sociedade o administrador que realizar operações, sabendo ou devendo saber que estava agindo em desacordo com a maioria.
Art. 1.014. Nos atos de competência conjunta de vários administradores, torna-se necessário o concurso de todos, salvo nos casos urgentes, em que a omissão ou retardo das providências possa ocasionar dano irreparável ou grave.
Art. 1.015. No silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria dos sócios decidir.
Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 14.195, de 2021)
Art. 1.016. Os administradores respondem solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções.
· Ponto de doutrina - Administração da sociedade simples[footnoteRef:5] [5: Coleção Método Essencial - Direito Empresarial/ Autores: Filippe Augusto dos Santos Nascimento; Túlio Parreiras.] 
Embora seja uma pessoa jurídica, ente ao qual o ordenamento confere personalidade jurídica e, consequentemente, capacidade de ser sujeito de direitos e deveres, ela não possui vontade. Sendo assim, as sociedades atuam por intermédio de seus respectivos administradores, que são os seus legítimos representantes legais (para os adeptos da teoria da representação); ou seus presentantes legais (para os adeptos da teoria orgânica).
As sociedades contratuais não podem ser administradas por pessoas jurídicas, pois o inciso VI do art. 997 do CC usa a expressão pessoas naturais para se referir aos administradores. Ressalte-se que a atividade do administrador é personalíssima, sendo permitida apenas a delegação de certas atividades a mandatários (art. 1.018), devendo o contrato social dispor explicitamente sobre poderes e atribuição do respectivo mandatário.
O administrador pode ser nomeado no contrato social ou em ato fora dele. Os poderes daquele nomeado no bojo do contrato social, caso seja sócio, são, em princípio, irrevogáveis, salvo por decisão judicial que reconheça a ocorrência de justa causa para a revogação. Em contrapartida, os poderes do administrador não sócio ou de administrador designado em ato separado, sócio ou não, são revogáveis a qualquer tempo (art. 1.019, CC).
Art. 1.061. A designação de administradores não sócios dependerá da aprovação de, no mínimo, 2/3 (dois terços) dos sócios, enquanto o capital não estiver integralizado, e da aprovação de titulares de quotas correspondentes a mais da metade do capital social, após a integralização. (Redação dada pela Lei nº 14.451, de 2022) Vigência
E se o contrato social não designar o administrador da sociedade? Nesse caso, a administração da sociedade caberá separadamente a cada um dos sócios: cada um pode impugnar a operação pretendida pelo outro, cabendo a decisão por maioria dos votos.
Responde por perdas e danos perante a sociedade o administrador que realizar operação sabendo ou devendo saber que estava agindo em desacordo com a maioria. É o que preleciona o art. 1.013, § 2º, do CC.
E se o contrato designar o administrador, mas não os poderes dele? Nada dispondo o contrato social, entende-se que os administradores podem praticar todos e quaisquer atos pertinentes à gestão da sociedade, salvo oneração ou alienação de bens imóveis, o que só poderão fazer se tais atos constituírem objeto da própria sociedade, segundo o art. 1.015 do CC.
Em princípio, os atos praticados pelo administrador são de responsabilidade da sociedade. Entretanto, se o administrador agir com dolo ou culpa no desempenho de suas funções, aplica-se o art. 1.016 do CC: Os administradores respondem solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções.
No caso de excesso de poder, a questão era resolvida segundo o disposto no art. 1.015, parágrafo único, do CC:
Art. 1.015. (…)
Parágrafo único. O excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:
I – se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio a sociedade;
II – provando-se que era conhecida do terceiro;
III – tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.
O inciso III sustentava a teoria ultra vires (além das forças), surgida no direito inglês. Segundo essa teoria, se o administrador celebra contrato assumindo obrigações, em nome da sociedade, em operações evidentemente estranhas ao seu objeto social, presume-se que houve excesso de poderes. Entende-se que bastaria ao credor diligente atentar para a compatibilidade entre a relaçãojurídica travada com determinada sociedade e o seu respectivo objeto social.
Ressalte-se, entretanto, que a teoria ultra vires, depois de surgir na Inglaterra e nos Estados Unidos, foi sendo gradativamente abandonada. Atualmente, adota-se na Europa a regra de que a sociedade responde perante terceiros de boa-fé ainda que o administrador da sociedade tenha agido com excesso de poderes, ficando ressalvado o direito de regresso contra o administrador.
Diante disso, o Brasil foi na contramão da evolução europeia ao adotar a teoria ultra vires no Código Civil de 2002.
Interpretando o art. 1.015, parágrafo único, III, do CC, foi editado o Enunciado nº 219 da III Jornada de Direito Civil do CJF, entendendo-se que o CC realmente adotou a teoria do ato ultra vires, mas com as seguintes ressalvas:
a) o ato ultra vires não produz efeito apenas em relação à sociedade; 
b) sem embargo, a sociedade poderá, por meio de seu órgão deliberativo, ratificá-lo; 
c) o Código Civil amenizou o rigor da teoria ultra vires, admitindo os poderes implícitos dos administradores para realizar negócios acessórios ou conexos ao objeto social, os quais não constituem operações evidentemente estranhas aos negócios da sociedade; 
d) não se aplica o art. 1.015 às sociedades por ações, em virtude da existência de regra especial de responsabilidade dos administradores (art. 158, II, Lei nº 6.404/1976).
Já na I Jornada de Direito Comercial, foi editado o Enunciado nº 11 para determinar que: a regra do art. 1.015, parágrafo único, do Código Civil deve ser aplicada à luz da teoria da aparência e do primado da boa-fé objetiva, de modo a prestigiar a segurança do tráfego negocial. As sociedades se obrigam perante terceiros de boa-fé. 
A Lei nº 14.195/2021 revogou expressamente o parágrafo único do art. 1.015 do Código Civil, de modo que não mais subsiste em nosso ordenamento jurídico a teoria ultra vires.
Art. 1.017. O administrador que, sem consentimento escrito dos sócios, aplicar créditos ou bens sociais em proveito próprio ou de terceiros, terá de restituí-los à sociedade, ou pagar o equivalente, com todos os lucros resultantes, e, se houver prejuízo, por ele também responderá.
Parágrafo único. Fica sujeito às sanções o administrador que, tendo em qualquer operação interesse contrário ao da sociedade, tome parte na correspondente deliberação.
Art. 1.018. Ao administrador é vedado fazer-se substituir no exercício de suas funções, sendo-lhe facultado, nos limites de seus poderes, constituir mandatários da sociedade, especificados no instrumento os atos e operações que poderão praticar.
Art. 1.019. São irrevogáveis os poderes do sócio investido na administração por cláusula expressa do contrato social, salvo justa causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios.
Parágrafo único. São revogáveis, a qualquer tempo, os poderes conferidos a sócio por ato separado, ou a quem não seja sócio.
Art. 1.020. Os administradores são obrigados a prestar aos sócios contas justificadas de sua administração, e apresentar-lhes o inventário anualmente, bem como o balanço patrimonial e o de resultado econômico.
Art. 1.021. Salvo estipulação que determine época própria, o sócio pode, a qualquer tempo, examinar os livros e documentos, e o estado da caixa e da carteira da sociedade.
Art. 1.022. A sociedade adquire direitos, assume obrigações e procede judicialmente, por meio de administradores com poderes especiais, ou, não os havendo, por intermédio de qualquer administrador.
Art. 1.023. Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária.
Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais.
ART. 1.025. O SÓCIO, ADMITIDO EM SOCIEDADE JÁ CONSTITUÍDA, NÃO SE EXIME DAS DÍVIDAS SOCIAIS ANTERIORES À ADMISSÃO.
Art. 1.026. O credor particular de sócio pode, na insuficiência de outros bens do devedor, fazer recair a execução sobre o que a este couber nos lucros da sociedade, ou na parte que lhe tocar em liquidação.
Parágrafo único. Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor requerer a liquidação da quota do devedor, cujo valor, apurado na forma do art. 1.031, será depositado em dinheiro, no juízo da execução, até noventa dias após aquela liquidação.
Art. 1.027. Os herdeiros do cônjuge de sócio, ou o cônjuge do que se separou judicialmente, não podem exigir desde logo a parte que lhes couber na quota social, mas concorrer à divisão periódica dos lucros, até que se liquide a sociedade.
· Da Resolução da Sociedade em Relação a um Sócio
Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo:
I - se o contrato dispuser diferentemente;
II - se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade;
III - se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido.
Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de sessenta dias; se de prazo determinado, provando judicialmente justa causa.
Parágrafo único. Nos trinta dias subseqüentes à notificação, podem os demais sócios optar pela dissolução da sociedade.
Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente.
Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o sócio declarado falido, ou aquele cuja quota tenha sido liquidada nos termos do parágrafo único do art. 1.026.
Exclusão de sócio: poderá ocorrer nas seguintes hipóteses (art. 1.030 do CC):
a) falta grave;
b) sócio remisso: é o sócio que subscreve cotas, mas não as integraliza;
c) incapacidade superveniente.
Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em balanço especialmente levantado.
Apuração de haveres é o pagamento da sociedade ao sócio excluído no tocante ao seu patrimônio social.
§ 1 o O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os demais sócios suprirem o valor da quota.
§ 2 o A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de noventa dias, a partir da liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário.
Art. 1.032. A retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a averbação.
· Da Dissolução
Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:
I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado;
II - o consenso unânime dos sócios;
III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado;
IV - (Revogado pela Lei nº 14.195, de 2021)
Este inciso foi revogado, pois a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias não causa a dissolução da sociedade.
V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.
Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 14.195, de 2021)
Art. 1.034. A sociedade pode ser dissolvida judicialmente, a requerimento de qualquer dos sócios, quando:
I - anulada a sua constituição;
II - exaurido o fim social, ou verificada a sua inexeqüibilidade.
Art. 1.035. O contrato pode prever outras causas de dissolução, a serem verificadas judicialmente quando contestadas.
Art. 1.036. Ocorrida a dissolução, cumpre aos administradoresprovidenciar imediatamente a investidura do liquidante, e RESTRINGIR A GESTÃO PRÓPRIA AOS NEGÓCIOS INADIÁVEIS, VEDADAS NOVAS OPERAÇÕES, PELAS QUAIS RESPONDERÃO SOLIDÁRIA E ILIMITADAMENTE.
Parágrafo único. Dissolvida de pleno direito a sociedade, pode o sócio requerer, desde logo, a liquidação judicial.
Art. 1.037. Ocorrendo a hipótese prevista no inciso V do art. 1.033, o Ministério Público, tão logo lhe comunique a autoridade competente, promoverá a liquidação judicial da sociedade, se os administradores não o tiverem feito nos trinta dias seguintes à perda da autorização, ou se o sócio não houver exercido a faculdade assegurada no parágrafo único do artigo antecedente.
Parágrafo único. Caso o Ministério Público não promova a liquidação judicial da sociedade nos quinze dias subseqüentes ao recebimento da comunicação, a autoridade competente para conceder a autorização nomeará interventor com poderes para requerer a medida e administrar a sociedade até que seja nomeado o liquidante.
Art. 1.038. Se não estiver designado no contrato social, o liquidante será eleito por deliberação dos sócios, podendo a escolha recair em pessoa estranha à sociedade.
§ 1 o O liquidante pode ser destituído, a todo tempo:
I - se eleito pela forma prevista neste artigo, mediante deliberação dos sócios;
II - em qualquer caso, por via judicial, a requerimento de um ou mais sócios, ocorrendo justa causa.
§ 2 o A liquidação da sociedade se processa de conformidade com o disposto no Capítulo IX, deste Subtítulo.
B) Sociedade limitada
As sociedades limitadas podem ser constituídas por instrumento público ou particular.
Em razão da obrigação de registro, para condição de regularidade, os atos constitutivos da sociedade limitada devem ser inscritos perante a junta comercial.
· Responsabilidade dos sócios
Nos termos do art. 1.052 do Código Civil (CC), na sociedade limitada a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas cotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.
Da forma como está, poderia dar a entender que caso o capital não esteja integralizado, a responsabilidade seria solidária por qualquer dívida. Entretanto, a responsabilidade é solidária apenas para integralizar o capital.
Existem exceções, ou seja, situações em que o sócio passa a ter responsabilidade ilimitada:
a) Ausência de registro. Neste caso, incidirão as regras sobre sociedade em comum (arts. 986 e 990 do CC).
b) Dívida trabalhista: Os sócios responderão com seus bens pessoais.
c) Violação do art. 977 do CC. Por exemplo, os cônjuges que são casados no regime da comunhão universal de bens ou no de separação obrigatória.
d) Dissolução irregular. Excepcionalmente, o sócio de sociedade por cotas de responsabilidade limitada responde com seus bens particulares por dívida da sociedade, quando esta foi dissolvida de modo irregular.
Outra hipótese de responsabilidade do patrimônio particular do sócio ocorre na hipótese de desconsideração da personalidade jurídica da sociedade.
· Órgão societários
A sociedade limitada é formada por sócios, os quais decidirão os rumos dela a partir do interesse prevalecente, manifestado pelas decisões dos órgãos societários: a assembleia de sócios, o conselho fiscal e a administração.
· Assembleia de sócios: As decisões no âmbito da sociedade limitada, segundo o CC de 2002, serão tomadas, obrigatoriamente, em assembleia quando o número total de sócios for maior que 10, sendo facultado nas situações de quantidade inferior àquela, em reunião ou assembleia, conforme previsão contratual.
É importante pontuar que as decisões entre os sócios da limitada quanto aos assuntos da aludida sociedade são adotadas, em regra, por maioria dos votos. Isso permite a interferência de cada um dos sócios em relação à parcela de contribuição de cada um deles para a atividade societária.
Entretanto, as deliberações que desrespeitarem disposição contratual ou legal ensejam a responsabilização ilimitada daqueles que expressamente as aprovaram. Trata-se da regra do art. 1.080 do CC. Os que se opuseram ou se abstiveram de votar não terão responsabilidade pelos atos tomados.
QUÓRUM DE INSTALAÇÃO: EM PRIMEIRA CONVOCAÇÃO, DEVERÃO ESTAR PRESENTES SÓCIOS QUE REPRESENTEM TRÊS QUARTOS DO CAPITAL SOCIAL. Em segunda convocação, a assembleia irá instalar-se em qualquer número de presentes (art. 1.074, caput, do CC).
Quórum de aprovação: depende da matéria a ser debatida:
a) regra: as decisões são tomadas por maioria de votos dos presentes, se o contrato social não previr quórum maior, em conformidade com o art. 1.076, III, do CC.
b) exceções:
· três quartos do capital social (3/4): a modificação do contrato social, ou a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação; Atenção: essa parte do dispositivo legal foi revogada.
· mais da metade do capital social: a designação dos administradores, quando feita em ato separado; a destituição dos administradores; o modo de remuneração do administrador, quando não estabelecido no contrato.
	Quórum
	Matéria
	Unanimidade
	a) Designação de administradores não sócios enquanto o capital não estiver integralizado.
b) Dissolução da sociedade, se por prazo determinado.
	2/3 do capital social
	Designação de administradores não sócios com o capital integralizado.
	Mais de metade do capital social
	a) a designação dos administradores, quando feita em ato separado;
b) a destituição dos administradores;
c) o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato;
d) A MODIFICAÇÃO DO CONTRATO SOCIAL;
e) a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação;
f) o pedido de concordata.
	Maioria de votos dos presentes
	a) a aprovação das contas da administração;
b) a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas;
c) Demais casos previstos na lei ou no contrato, se este não exigir maioria mais elevada.
· Conselho fiscal: Quanto ao conselho fiscal no âmbito da limitada, sua instituição é facultativa. Tal conselho tem a função de fiscalização da administração da sociedade, sendo composto por, no mínimo, três membros, havendo impedimentos ao ingresso de certas pessoas, a título de exemplo, empregados e administradores da sociedade. Além disso, o membro do conselho fiscal deve residir no Brasil.
· Da administração: A representação da sociedade limitada dá-se por administradores escolhidos pelos sócios que a compõem. 
A cessão da cota do administrador-sócio não transfere a administração. A escolha do administrador é personalíssima. 
Quando, por lei ou pelo contrato social, competir aos sócios decidir sobre os negócios da sociedade, as deliberações serão tomadas por maioria de votos, contados segundo o valor das cotas de cada um (art. 1.010 do CC). Havendo empate no critério proporcional, segue-se ao critério individual. Persistindo o empate, mesmo após aplicados os critérios proporcional e individual, o CC estabelece que caberá ao juiz decidir no melhor interesse da sociedade.
Art. 1.060. A sociedade limitada é administrada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.
Parágrafo único. A administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende de pleno direito aos que posteriormente adquiram essa qualidade.
Em caso de omissão, a sociedade limitada pode ser regida, supletivamente, por normas da sociedade simples ou por normas das sociedades anônimas. Para que sejam regidas por normas de sociedade anônima, o contrato social deve conter previsão nesse sentido. Caso o contrato seja omisso, as normas supletivas serão da sociedade simples.
Há, contudo, uma ressalva. Mesmo que o contrato social seja expresso no sentido de aplicação supletiva das normas contidas na Lei nº 6.404/1976 (Lei das Sociedades Anônimas), as regras que tratam do regime de constituição e dissolução da sociedade anônima não podem ser aplicadas às sociedades limitadas, haja vista a absoluta incompatibilidade estrutural.
· Nome empresarial
Quanto ao nome empresarial, conforme art. 1.158do CC, podemos ter firma/razão social ou denominação. A expressão “limitada”, ou sua abreviatura, deve estar ao final do nome empresarial.
A firma deve ser composta pelos nomes de um ou mais sócios, de forma completa ou abreviada, mas desde que sejam pessoas físicas. A denominação deve designar o objeto da sociedade. 
A ausência da palavra “limitada” gera responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores.
· Cotas sociais
 As cotas sociais são frações do capital social e conferem ao seu titular (sócio cotista) o direito de integrar o quadro societário bem como o direito de participar dos resultados da empresa.
As cotas na sociedade limitada podem ser integralizadas com:
a) dinheiro;
b) bens (carro, terreno, imóvel);
c) crédito (cheque, duplicata, nota promissória).
Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio.
§ 1º Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social respondem solidariamente todos os sócios, até o prazo de cinco anos da data do registro da sociedade.
§ 2º É vedada contribuição que consista em prestação de serviços.
Cuidado para não confundir:
· Sociedade simples admite sócio com participação exclusivamente laboral (art. 1.006, CC).
· Sociedade limitada não admite sócio com participação exclusivamente laboral (art. 1.055, §2º, CC).
CJF. Enunciado 224. A solidariedade entre os sócios da sociedade limitada pela exata estimação dos bens conferidos ao capital social abrange os casos de constituição e aumento do capital e cessa após 5 anos da data do respectivo registro.
Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua cota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, SE NÃO HOUVER OPOSIÇÃO DE TITULARES DE MAIS DE UM QUARTO DO CAPITAL SOCIAL.
A cessão terá eficácia quanto à sociedade e terceiros, inclusive para os fins do parágrafo único do art. 1.003, a partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos sócios anuentes.
Poderá ocorrer aumento de capital social se este estiver integralizado. 
Resposta: certo. (Art. 1.081): Ressalvado o disposto em lei especial, integralizadas as quotas, pode ser o capital aumentado, com a correspondente modificação do contrato. 
Ocorrerá redução do capital social se: a) depois de integralizado, houver perdas irreparáveis; ou b) o capital social for excessivo em relação ao objeto social.
· Do sócio
A primeira obrigação do sócio será a de contribuir para a formação do capital social, obrigação essa comum a todos os sócios.
Outro dever do sócio é participar dos resultados negativos da sociedade.
Além das obrigações, os sócios também têm direitos. O primeiro deles é o de participar dos lucros societários. O segundo direito dos sócios é a participação nas deliberações sociais, de acordo com o critério adotado no contrato social. O terceiro direito do sócio refere-se ao direito de fiscalizar a administração da sociedade.
O quarto direito do sócio é o direito de retirada. Caso a sociedade tenha prazo indeterminado, o sócio não precisará nem mesmo esclarecer o motivo de sua saída. Nessa hipótese, basta que ele a comunique com a antecedência de 60 dias.
Por outro lado, se a sociedade tem prazo determinado, então o sócio precisará comprovar judicialmente o justo motivo. Perceba que o sócio não apenas terá que esclarecer o motivo, mas também deverá provar judicialmente que se trata de um motivo justo.
A incapacidade não é motivo que impeça que uma pessoa seja sócia de sociedade de responsabilidade limitada, desde que preencha três requisitos:
1) Menor que esteja devidamente assistido ou representado.
2) Capital social deve estar totalmente integralizado.
3) Não poderá exercer a administração.
· Exclusão do sócio
Primeiramente, é importante destacar que quem exclui o sócio não é a sociedade, mas sim os demais sócios. Esse é, inclusive, o grande fundamento para que até mesmo o sócio majoritário possa ser excluído.
Há, todavia, um detalhe: o sócio que é excluído tem o direito de levar consigo a parcela do patrimônio social líquido correspondente à sua participação no capital social. 
Existem duas razões essenciais para a expulsão do sócio de uma sociedade. A primeira razão refere-se à mora para a integralização, enquanto a segunda razão diz respeito à justa causa que consiste no não cumprimento de uma obrigação societária.
Quanto à exclusão extrajudicial do sócio, ela ocorrerá nas seguintes situações:
a) sócio remisso (art. 1.004, parágrafo único, do CC): o sócio remisso é aquele que não cumpre com a sua obrigação de contribuir para a formação do capital social, podendo até mesmo chegar a ser excluído da sociedade.
b) falência de sócio (art. 1.030, parágrafo único, do CC);
c) liquidação de sua cota (art. 1.030, parágrafo único, do CC);
d) sócio minoritário (art. 1.085 do CC).
Quanto à exclusão do sócio minoritário, ela ocorrerá conforme os seguintes requisitos:
a) praticar atos de inegável gravidade, colocando em risco a continuidade da empresa. Vale mencionar, ainda, que a exclusão judicial se dá mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, de acordo com o art. 1.030.
b) decisão de maioria dos sócios e maioria do capital social;
c) exclusão mediante simples alteração do contrato social; e
d) CONTRATO SOCIAL DEVE CONTER CLÁUSULA PERMITINDO A EXCLUSÃO POR JUSTA CAUSA.
Enunciado nº 13 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: A decisão que decretar a dissolução parcial da sociedade deverá indicar a data de desligamento do sócio e o critério de apuração de haveres.
Enunciado nº 17 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: Na sociedade limitada com dois sócios, o sócio titular de mais da metade do capital social pode excluir extrajudicialmente o sócio minoritário desde que atendidas as exigências materiais e procedimentais previstas no art. 1.085, caput e parágrafo único, do CC.
Conforme o STJ, o fundo de comércio – também chamado de estabelecimento empresarial (art. 1.142 do CC/2002) – integra o patrimônio da sociedade e, por isso, deve ser considerado na apuração de haveres do sócio minoritário excluído de sociedade limitada. O fato de a sociedade ter apresentado resultados negativos nos anos anteriores à exclusão do sócio não significa que ela não tenha fundo de comércio (REsp 907.014/ MS, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, julgado em 11.10.2011).
A exclusão judicial de sócio ocorrerá nas seguintes situações:
a) sócio majoritário;
b) sócio minoritário quando o contrato social não possuir cláusula expressa por justa causa;
c) hipóteses de incapacidade superveniente;
d) prática atos do art. 1.030, caput, do CC (falta grave).
· Dissolução da sociedade
A dissolução das sociedades contratuais pode ser dividida em duas:
a) dissolução parcial: um ou mais sócios saem da sociedade, mas esta é mantida, preservada;
b) dissolução total: ocorrerá a extinção da sociedade.
No pedido de dissolução parcial de sociedade limitada, a alegação de quebra da affectio societatis não é suficiente para a exclusão de sócios (REsp 1.129.222, julgado em 28.06.2011).
A dissolução parcial de sociedade limitada por perda da affectio societatis pode ser requerida pelo sócio retirante, limitada a apuração de haveres às suas quotas livres de ônus reais (REsp 1.332.766/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 1º.06.2017, DJe 1º.08.2017).
A dissolução parcial das sociedades contratuais ocorrerá por:
a) vontade dos sócios;
b) direito de retirada (recesso): ocorre quando os outros sócios não querem que o sócio saia, mas ele quer sair;
c) exclusão do sócio;
d) liquidação da cota a pedido do credor;
e) falência do sócio.
A dissolução total das sociedades contratuais ocorrerá por:
a) Vontade dos sócios. Se for uma sociedade simples, irá depender se o prazo é determinado (unanimidade dos sócios) ou indeterminado (maioria absoluta), conforme o art. 1.033 do CC. 
b) Decurso do prazo, salvo se não entrar em liquidação (art. 1.033, I, do CC).
c) Falência da sociedade.
d) Anulação do ato constitutivo (art. 1.034, I, do CC).
f) Inexequibilidadedo objeto social ou exaurimento do objeto social – é a ausência de mercado (art. 1.034, II, do CC).
g) Extinção de autorização para funcionamento. Os administradores têm 30 dias para providenciarem a liquidação da sociedade. A liquidação consiste na arrecadação dos bens, na venda e no pagamento dos credores. Se os administradores não fizerem, o Ministério Público promoverá a liquidação judicial da sociedade (art. 1.037 do CC).
· Sociedade limitada unipessoal
A Lei nº 13.874/2019 criou a sociedade limitada formada por um só sócio.
Portanto, a pessoa pode explorar a empresa de forma individual por 2 maneiras: a) empresa individual de responsabilidade limitada e b) sociedade limitada unipessoal.
ATENÇÃO: A EIRELI NÃO EXISTE MAIS, mas é importante saber que as vantagens de se formar sociedade limitada unipessoal em relação à empresa individual de responsabilidade limitada são as seguintes:
a) A empresa individual de responsabilidade limitada deve ter capital mínimo equivalente a 100 salários mínimos, que deve estar integralizado no momento da constituição. Já a sociedade limitada unipessoal pode ser constituída por capital social menor, sendo que, no momento de constituição, o capital social não precisa estar integralizado, caso em que o sócio corre o risco de responder ilimitadamente até a efetiva integralização.
b) A pessoa natural titular de empresa individual de responsabilidade limitada não pode constituir outra empresa da mesma natureza, restrição que não existe no caso de sociedade unipessoal limitada.
· Leitura obrigatória da lei seca 
CAPÍTULO IV
Da Sociedade Limitada
Seção I
Disposições Preliminares
Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.
§ 1º  A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas.     (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 2º  Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio único, no que couber, as disposições sobre o contrato social.     (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas da sociedade simples.
Parágrafo único. O contrato social poderá prever a regência supletiva da sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima.
Art. 1.054. O contrato mencionará, no que couber, as indicações do art. 997, e, se for o caso, a firma social.
Seção II
Das Quotas
Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio.
§ 1º Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social respondem solidariamente todos os sócios, até o prazo de cinco anos da data do registro da sociedade.
§ 2º É vedada contribuição que consista em prestação de serviços.
Art. 1.056. A quota é indivisível em relação à sociedade, salvo para efeito de transferência, caso em que se observará o disposto no artigo seguinte.
§ 1º No caso de condomínio de quota, os direitos a ela inerentes somente podem ser exercidos pelo condômino representante, ou pelo inventariante do espólio de sócio falecido.
§ 2º Sem prejuízo do disposto no art. 1.052, os condôminos de quota indivisa respondem solidariamente pelas prestações necessárias à sua integralização.
Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social.
Parágrafo único. A cessão terá eficácia quanto à sociedade e terceiros, inclusive para os fins do parágrafo único do art. 1.003, a partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos sócios anuentes.
Art. 1.058. Não integralizada a quota de sócio remisso, os outros sócios podem, sem prejuízo do disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, tomá-la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas.
Art. 1.059. Os sócios serão obrigados à reposição dos lucros e das quantias retiradas, a qualquer título, ainda que autorizados pelo contrato, quando tais lucros ou quantia se distribuírem com prejuízo do capital.
Seção III
Da Administração
Art. 1.060. A sociedade limitada é administrada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.
Parágrafo único. A administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende de pleno direito aos que posteriormente adquiram essa qualidade.
Art. 1.061. A designação de administradores não sócios dependerá da aprovação de, no mínimo, 2/3 (dois terços) dos sócios, enquanto o capital não estiver integralizado, e da aprovação de titulares de quotas correspondentes a mais da metade do capital social, após a integralização.     (Redação dada pela Lei nº 14.451, de 2022)     Vigência
Art. 1.062. O administrador designado em ato separado investir-se-á no cargo mediante termo de posse no livro de atas da administração.
§ 1 o Se o termo não for assinado nos trinta dias seguintes à designação, esta se tornará sem efeito.
§ 2 o Nos dez dias seguintes ao da investidura, deve o administrador requerer seja averbada sua nomeação no registro competente, mencionando o seu nome, nacionalidade, estado civil, residência, com exibição de documento de identidade, o ato e a data da nomeação e o prazo de gestão.
Art. 1.063. O exercício do cargo de administrador cessa pela destituição, em qualquer tempo, do titular, ou pelo término do prazo se, fixado no contrato ou em ato separado, não houver recondução.
§ 1º  Tratando-se de sócio nomeado administrador no contrato, sua destituição somente se opera pela aprovação de titulares de quotas correspondentes a mais da metade do capital social, salvo disposição contratual diversa. (Redação dada pela Lei nº 13.792, de 2019)
§ 2 o A cessação do exercício do cargo de administrador deve ser averbada no registro competente, mediante requerimento apresentado nos dez dias seguintes ao da ocorrência.
§ 3 o A renúncia de administrador torna-se eficaz, em relação à sociedade, desde o momento em que esta toma conhecimento da comunicação escrita do renunciante; e, em relação a terceiros, após a averbação e publicação.
Art. 1.064. O uso da firma ou denominação social é privativo dos administradores que tenham os necessários poderes.
Art. 1.065. Ao término de cada exercício social, proceder-se-á à elaboração do inventário, do balanço patrimonial e do balanço de resultado econômico.
Seção IV
Do Conselho Fiscal
Art. 1.066. Sem prejuízo dos poderes da assembléia dos sócios, pode o contrato instituir conselho fiscal composto de três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios ou não, residentes no País, eleitos na assembléia anual prevista no art. 1.078.
§ 1 o Não podem fazer parte do conselho fiscal, além dos inelegíveis enumerados no § 1 o do art. 1.011, os membros dos demais órgãos da sociedade ou de outra por ela controlada, os empregados de quaisquer delas ou dos respectivos administradores, o cônjuge ou parente destes até o terceiro grau.
§ 2 o É assegurado aos sócios minoritários, que representarem pelo menos um quinto do capital social, o direito de eleger, separadamente, um dos membros do conselho fiscal e o respectivo suplente.
Art. 1.068. A remuneração dos membros do conselho fiscal será fixada, anualmente, pela assembléia dos sócios que os eleger.
Art. 1.069. Além de outras atribuições determinadas na lei ou no contrato social, aos membros do conselho fiscal incumbem, individual ou conjuntamente, os deveres seguintes:
I - examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da caixa e da carteira, devendo os administradores ou liquidantes prestar-lhes as informações solicitadas;
II - lavrar no livro de atas e pareceres do conselho fiscal o resultado dos exames referidos no inciso I deste artigo;
III - exarar no mesmo livro e apresentar à assembléia anual dos sócios parecersobre os negócios e as operações sociais do exercício em que servirem, tomando por base o balanço patrimonial e o de resultado econômico;
IV - denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis à sociedade;
V - convocar a assembléia dos sócios se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua convocação anual, ou sempre que ocorram motivos graves e urgentes;
Art. 1.070. As atribuições e poderes conferidos pela lei ao conselho fiscal não podem ser outorgados a outro órgão da sociedade, e a responsabilidade de seus membros obedece à regra que define a dos administradores (art. 1.016).
Parágrafo único. O conselho fiscal poderá escolher para assisti-lo no exame dos livros, dos balanços e das contas, contabilista legalmente habilitado, mediante remuneração aprovada pela assembléia dos sócios.
Seção V
Das Deliberações dos Sócios
Art. 1.071. Dependem da deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas na lei ou no contrato:
I - a aprovação das contas da administração;
II - a designação dos administradores, quando feita em ato separado;
III - a destituição dos administradores;
IV - o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato;
V - a modificação do contrato social;
VI - a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação;
VII - a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas;
VIII - o pedido de concordata.
Art. 1.072. As deliberações dos sócios, obedecido o disposto no art. 1.010, serão tomadas em reunião ou em assembléia, conforme previsto no contrato social, devendo ser convocadas pelos administradores nos casos previstos em lei ou no contrato.
§ 1 o A deliberação em assembléia será obrigatória se o número dos sócios for superior a dez.
§ 2 o Dispensam-se as formalidades de convocação previstas no § 3 o do art. 1.152, quando todos os sócios comparecerem ou se declararem, por escrito, cientes do local, data, hora e ordem do dia.
§ 3 o A reunião ou a assembléia tornam-se dispensáveis quando todos os sócios decidirem, por escrito, sobre a matéria que seria objeto delas.
§ 5 o As deliberações tomadas de conformidade com a lei e o contrato vinculam todos os sócios, ainda que ausentes ou dissidentes.
Art. 1.073. A reunião ou a assembléia podem também ser convocadas:
I - por sócio, quando os administradores retardarem a convocação, por mais de sessenta dias, nos casos previstos em lei ou no contrato, ou por titulares de mais de um quinto do capital, quando não atendido, no prazo de oito dias, pedido de convocação fundamentado, com indicação das matérias a serem tratadas;
II - pelo conselho fiscal, se houver, nos casos a que se refere o inciso V do art. 1.069.
Art. 1.074. A assembléia dos sócios instala-se com a presença, em primeira convocação, de titulares de no mínimo três quartos do capital social, e, em segunda, com qualquer número.
§ 1 o O sócio pode ser representado na assembléia por outro sócio, ou por advogado, mediante outorga de mandato com especificação dos atos autorizados, devendo o instrumento ser levado a registro, juntamente com a ata.
§ 2 o Nenhum sócio, por si ou na condição de mandatário, pode votar matéria que lhe diga respeito diretamente.
Art. 1.075. A assembléia será presidida e secretariada por sócios escolhidos entre os presentes.
§ 1 o Dos trabalhos e deliberações será lavrada, no livro de atas da assembléia, ata assinada pelos membros da mesa e por sócios participantes da reunião, quantos bastem à validade das deliberações, mas sem prejuízo dos que queiram assiná-la.
§ 2 o Cópia da ata autenticada pelos administradores, ou pela mesa, será, nos vinte dias subseqüentes à reunião, apresentada ao Registro Público de Empresas Mercantis para arquivamento e averbação.
Art. 1.076.  Ressalvado o disposto no art. 1.061, as deliberações dos sócios serão tomadas (Redação dada pela Lei nº 13.792, de 2019)
I - (revogado);        (Redação dada pela Lei nº 14.451, de 2022)     Vigência
II - pelos votos correspondentes a mais da metade do capital social, nos casos previstos nos incisos II, III, IV, V, VI e VIII do caput do art. 1.071 deste Código;        (Redação dada pela Lei nº 14.451, de 2022)     Vigência
· a designação dos administradores, quando feita em ato separado;
· a destituição dos administradores;
· o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato;
· A MODIFICAÇÃO DO CONTRATO SOCIAL;
· a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação;
· o pedido de concordata.
III - pela maioria de votos dos presentes, nos demais casos previstos na lei ou no contrato, se este não exigir maioria mais elevada.
Art. 1.077. Quando houver modificação do contrato, fusão da sociedade, incorporação de outra, ou dela por outra, terá o sócio que dissentiu o direito de retirar-se da sociedade, nos trinta dias subseqüentes à reunião, aplicando-se, no silêncio do contrato social antes vigente, o disposto no art. 1.031.
Art. 1.078. A assembléia dos sócios deve realizar-se ao menos uma vez por ano, nos quatro meses seguintes à ao término do exercício social, com o objetivo de:
I - tomar as contas dos administradores e deliberar sobre o balanço patrimonial e o de resultado econômico;
II - designar administradores, quando for o caso;
III - tratar de qualquer outro assunto constante da ordem do dia.
§ 1 o Até trinta dias antes da data marcada para a assembléia, os documentos referidos no inciso I deste artigo devem ser postos, por escrito, e com a prova do respectivo recebimento, à disposição dos sócios que não exerçam a administração.
§ 2 o Instalada a assembléia, proceder-se-á à leitura dos documentos referidos no parágrafo antecedente, os quais serão submetidos, pelo presidente, a discussão e votação, nesta não podendo tomar parte os membros da administração e, se houver, os do conselho fiscal.
§ 3 o A aprovação, sem reserva, do balanço patrimonial e do de resultado econômico, salvo erro, dolo ou simulação, exonera de responsabilidade os membros da administração e, se houver, os do conselho fiscal.
§ 4 o Extingue-se em dois anos o direito de anular a aprovação a que se refere o parágrafo antecedente.
Art. 1.080. As deliberações infringentes do contrato ou da lei tornam ilimitada a responsabilidade dos que expressamente as aprovaram.
Art. 1.080-A.  O sócio poderá participar e votar a distância em reunião ou em assembleia, nos termos do regulamento do órgão competente do Poder Executivo federal.       (Incluído pela Lei nº 14.030, de 2020)
Parágrafo único. A reunião ou a assembleia poderá ser realizada de forma digital, respeitados os direitos legalmente previstos de participação e de manifestação dos sócios e os demais requisitos regulamentares.        (Incluído pela Lei nº 14.030, de 2020)
Seção VI
Do Aumento e da Redução do Capital
Art. 1.081. Ressalvado o disposto em lei especial, integralizadas as quotas, pode ser o capital aumentado, com a correspondente modificação do contrato.
§ 1 o Até trinta dias após a deliberação, terão os sócios preferência para participar do aumento, na proporção das quotas de que sejam titulares.
§ 2 o À cessão do direito de preferência, aplica-se o disposto no caput do art. 1.057.
§ 3 o Decorrido o prazo da preferência, e assumida pelos sócios, ou por terceiros, a totalidade do aumento, haverá reunião ou assembléia dos sócios, para que seja aprovada a modificação do contrato.
Art. 1.082. Pode a sociedade reduzir o capital, mediante a correspondente modificação do contrato:
I - depois de integralizado, se houver perdas irreparáveis;
II - se excessivo em relação ao objeto da sociedade.
Art. 1.083. No caso do inciso I do artigo antecedente, a redução do capital será realizada com a diminuição proporcional do valor nominal das quotas, tornando-se efetiva a partir da averbação, no Registro Público de Empresas Mercantis, da ata da assembléia que a tenha aprovado.
Art. 1.084. No caso do inciso II do art. 1.082, a redução do capital será feita restituindo-se parte do valor das quotas aos sócios, ou dispensando-seas prestações ainda devidas, com diminuição proporcional, em ambos os casos, do valor nominal das quotas.
§ 1 o No prazo de noventa dias, contado da data da publicação da ata da assembléia que aprovar a redução, o credor quirografário, por título líquido anterior a essa data, poderá opor-se ao deliberado.
§ 2 o A redução somente se tornará eficaz se, no prazo estabelecido no parágrafo antecedente, não for impugnada, ou se provado o pagamento da dívida ou o depósito judicial do respectivo valor.
§ 3 o Satisfeitas as condições estabelecidas no parágrafo antecedente, proceder-se-á à averbação, no Registro Público de Empresas Mercantis, da ata que tenha aprovado a redução.
Seção VII
Da Resolução da Sociedade em Relação a Sócios Minoritários
Art. 1.085. Ressalvado o disposto no art. 1.030, quando a maioria dos sócios, representativa de mais da metade do capital social, entender que um ou mais sócios estão pondo em risco a continuidade da empresa, em virtude de atos de inegável gravidade, poderá excluí-los da sociedade, mediante alteração do contrato social, desde que prevista neste a exclusão por justa causa.
Parágrafo único. Ressalvado o caso em que haja apenas dois sócios na sociedade, a exclusão de um sócio somente poderá ser determinada em reunião ou assembleia especialmente convocada para esse fim, ciente o acusado em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa. (Redação dada pela Lei nº 13.792, de 2019)
Art. 1.086. Efetuado o registro da alteração contratual, aplicar-se-á o disposto nos arts. 1.031 e 1.032.
Seção VIII
Da Dissolução
Art. 1.087. A sociedade dissolve-se, de pleno direito, por qualquer das causas previstas no art. 1.044.
C) Sociedade anônima[footnoteRef:6] [6: Coleção Método Essencial - Direito Empresarial/ Autores: Filippe Augusto dos Santos Nascimento; Túlio Parreiras] 
As sociedades anônimas são espécies de sociedades estatutárias ou “institucionais”. Constituem--se, assim, por meio de um estatuto social e seu capital está dividido em frações denominadas ações. Cada sócio/acionista é titular de determinado número de ações.
Está regulamentada por uma lei própria, a Lei nº 6.404/1976, aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as disposições do Código Civil.
Sociedade Anônima é sempre empresária por força de lei, independentemente do seu objeto social (art. 982, parágrafo único, do CC: “Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa”). Por serem sociedades institucionais ou estatutárias, serão sempre sociedades de capital.
· Nome empresarial
As sociedades anônimas devem adotar denominação como nome empresarial. 
A designação do objeto social passou a ser facultativa. Além disso, às denominações das sociedades anônimas devem integradas as expressões “sociedade anônima” ou “companhia”, ou abreviadamente como “S.A” ou “Cia”. O termo “sociedade anônima” ou sua abreviatura pode vir no início, meio ou fim da denominação. O termo “companhia” ou sua abreviatura não pode ser usado no fim (art. 3º da LSA).
Permite-se, excepcionalmente, que na denominação conste o nome do fundador, acionista ou pessoa que tenha concorrido para o bom êxito da formação da empresa.
· Responsabilidade dos acionistas
Nas sociedades anônimas, há a limitação da responsabilidade dos acionistas. Como dispõe o art. 1º da LSA, “a companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas” (regra repetida pelo art. 1.088 do CC/2002).
Enunciado nº 16 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: O adquirente de cotas ou ações adere ao contrato social ou estatuto no que se refere à cláusula compromissória (cláusula de arbitragem) nele existente; assim, estará vinculado à previsão da opção da jurisdição arbitral, independentemente de assinatura e/ou manifestação específica a esse respeito.
· Tipos de sociedades anônimas
A) Aberta: negocia seus valores mobiliários no mercado de capitais (formado pela bolsa de valores e pelo Mercado de balcão). Para tanto, é necessária uma prévia autorização e registro perante a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Termos importantes:
· Bolsa de valores: são entidades privadas constituídas sob a forma de associações civis ou sociedades anônimas, tendo por membros corretoras de valores mobiliários de uma mesma base territorial, autorizada pela CVM. Conquanto sejam privadas, atuam sob a supervisão da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), pois atuam na prestação de serviço público, devendo fiscalizar seus membros e as operações realizadas por estes (organiza e mantém o pregão de ações e de outros valores mobiliários). A finalidade da bolsa de valores é aumentar o fluxo de negociação dos valores mobiliários.
· Mercado de balcão: o mercado de balcão consiste nas operações realizadas fora da bolsa de valores, quando, por exemplo, se adquire ações junto a uma instituição financeira ou uma sociedade corretora.
· Mercado primário: é aquele que se estabelece entre a companhia emissora do título/valor mobiliário e o investidor. Só há aqui mercado de balcão.
· Mercado secundário: por outro lado, se um indivíduo já é investidor e vende seu valor mobiliário a outro investidor, trata-se de mercado secundário.
B) Fechada: não negociam seus valores mobiliários no mercado de capitais.
· Constituição de uma sociedade anônima
Poderá ser de duas modalidades:
a) Por subscrição pública: impõe-se para as sociedades abertas.
b) Por subscrição particular: aplica-se às sociedades anônimas que não oferecerão ao público suas ações.
Requisitos preliminares para a constituição de uma sociedade anônima, independentemente da modalidade de constituição:
a) Pluralidade de sócios: subscrição de pelo menos duas pessoas, de todas as ações em que se divide o seu capital social. A subscrição é irretratável.
A Sociedade Anônima poderá ser unipessoal em casos excepcionais (Ex.: Empresa pública; Subsidiária integral (art. 251, LSA: é um tipo de sociedade anônima constituída mediante escritura pública, tendo como único acionista sociedade nacional)
b) Realização, como entrada, em dinheiro, de 10%, no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas. Nas instituições financeiras essa porcentagem é de 50%.
c) O fundador terá cinco dias, contados do recebimento das quantias, em nome do subscritor e a favor da sociedade, para fazer o depósito no estabelecimento bancário autorizado pela CVM.
d) Arquivamento do estatuto social da empresa na Junta Comercial e publicação pela imprensa de seus atos constitutivos.
e) Transferência para a companhia, por transcrição no registro público competente, dos bens com que o subscritor tenha contribuído para a formação do capital social.
· Valores mobiliários
São títulos emitidos pelas sociedades anônimas:
a) Ações: são bens móveis que representam frações em que está dividido o capital social, concedendo ao seu titular um complexo de direitos e deveres.
Elas têm vários valores:
· Valor nominal: valor indicado no estatuto social.
· Valor ou preço de emissão: é aquele pago por quem subscreve a ação e é fixado pelos fundadores no momento da constituição da empresa.
· Valores de mercado: valor da negociação.
· Valor patrimonial: valor da ação em relação ao patrimônio. Patrimônio dividido pelo número de ações. Esse valor será pago em caso de dissolução total ou parcial da sociedade.
De acordo com a forma como são transferidas para outros acionistas ou para terceiros, as ações podem ser:
· Nominativas: são aquelas cujos titulares estão designados no Livro de Registro de Ações Nominativas. Para a transferência destas, bastará o termo lavrado no livro de Transferência de Ações Nominativas datado e assinado pelo cedente e pelo cessionário, ou por seus representantes. Todas as ações de uma sociedade anônima devem ser nominais, haja vista que a Lei nº 8.021/1990 vedou a emissão de títulos ao portador.
· Escriturais: não deixam de ser nominais, visto que são identificados seus titulares. Entretanto, diferenciam-sequanto à forma de transferência, uma vez que esta ocorre por contas de depósito. Aqui, uma instituição financeira autorizada pela CVM manterá contas de depósitos em nome dos titulares das ações.
As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens conferidas aos seus titulares, poderão ser:
· Ordinárias ou em comum: conferem aos acionistas os direitos comuns, como o direito a voto e de participação nos lucros. São ações de emissão obrigatória por todas as companhias.
· Preferenciais: conferem aos acionistas certas vantagens, que podem consistir em: a) prioridade na distribuição de dividendo fixo, garantia do recebimento de dividendos mínimo ou cumulativos (se a sociedade não divide os lucros, eles serão cumulados para o próximo ano); b) prioridade no reembolso do capital, com prêmio ou sem ele. O estatuto poderá deixar de conferir às ações preferenciais alguns dos direitos reconhecidos às ações ordinárias ou conferi-los com restrição. O NÚMERO DE AÇÕES PREFERENCIAIS SEM DIREITO DE VOTO OU SUJEITAS A RESTRIÇÕES NÃO PODERÁ ULTRAPASSAR 50% DO TOTAL DAS AÇÕES EMITIDAS. Se o acionista fica três exercícios consecutivos sem participar dos lucros (ou até mesmo um prazo menor, se assim dispuser o estatuto) passa a ter direito de voto. Esse direito perdura até que ele receba suas vantagens. Depois disso, volta a ser um mero acionista preferencial sem direito a voto.
Art. 111, § 1º As ações preferenciais sem direito de voto adquirirão o exercício desse direito se a companhia, pelo prazo previsto no estatuto, não superior a 3 (três) exercícios consecutivos, deixar de pagar os dividendos fixos ou mínimos a que fizerem jus, direito que conservarão até o pagamento, se tais dividendos não forem cumulativos, ou até que sejam pagos os cumulativos em atraso.
· Golden share: são ações especiais titularizadas pelo ente desestatizante, sem direito de voto, mas com o poder especial de veto às deliberações da assembleia geral.
· Gozo ou fruição: são aquelas distribuídas aos acionistas titulares de ações ordinárias ou preferenciais em substituição dessas ações que já foram amortizadas. A amortização consiste na distribuição aos acionistas, a título de antecipação e sem redução do capital social, da quantia a que teriam direito em caso de liquidação da companhia.
b) Debêntures: são valores mobiliários que conferem a seus titulares direito de crédito contra a companhia. São títulos emitidos pela S/A para negociar com o público, levantando capital para a sociedade (captação de recursos). É título executivo extrajudicial.
Existem quatro espécies de debêntures (art. 58):
· debêntures com garantia real;
· debêntures com garantia flutuante: asseguram a seus titulares privilégio geral;
· debêntures quirografárias;
· debêntures subordinadas ou subquirografárias.
As debêntures podem ser, tais como as ações, nominativas e escriturais, bem como conversíveis em ações.
É facultado à companhia adquirir debêntures de sua emissão (Lei nº 12.431/2011).
A partir da Lei nº 12.431/2011, não há o limite do valor do capital social para a emissão de debênture.
c) Partes beneficiárias: são emitidos para captar recursos ou remunerar serviço prestado. É um direito de crédito eventual, até um limite de 10% do lucro da empresa, dependendo da existência ou não de obtenção de lucro pela sociedade. Somente podem ser emitidas por sociedades fechadas (Lei nº 10.303/2001).
Diferença de uma ação para uma parte beneficiária: as ações são frações do capital social, enquanto a parte beneficiária é estranha ao capital social.
Assim, participa dos lucros, mas não é acionista (não tem direito de voto, não tem direito de retirada).
Prazo máximo de participação é de 10 anos.
d) Bônus de subscrição: são valores mobiliários que conferem ao titular, nas condições constantes do certificado, o direito de preferência para subscrever novas ações por ocasião do aumento do capital social autorizado no estatuto, antes de qualquer outro.
e) Commercial paper: são valores mobiliários que conferem a seu titular direito de crédito contra a empresa. Servem para a captação de recursos no mercado de capital, sendo restituídos aos investidores em curto prazo.
· Órgãos da companhia
São órgãos principais das sociedades anônimas:
a) Assembleia.
b) Conselho de administração.
c) Diretoria.
d) Conselho fiscal.
· Assembleias
É órgão mais importante, possuindo caráter exclusivamente deliberativo. É onde são tomadas as principais decisões da S/A.
A assembleia geral pode ser:
a) Ordinária: competência privativa da AGO (art. 132 da LSA): 
Art. 132. Anualmente, nos 4 (quatro) primeiros meses seguintes ao término do exercício social, deverá haver 1 (uma) assembleia-geral para:
I – tomar as contas dos administradores, examinar, discutir e votar as demonstrações financeiras;
II – deliberar sobre a destinação do lucro líquido do exercício e a distribuição de dividendos;
III – eleger os administradores e os membros do conselho fiscal, quando for o caso;
IV – aprovar a correção da expressão monetária do capital social (art. 167).
Todo e qualquer tema que não seja esses quatro só poderá ser objeto de assembleia geral extraordinária.
b) Extraordinária: todo e qualquer tema que não seja um dos quatro acima de interesse da sociedade. Ex.: Destituição de administrador (art. 122 da LSA).
Enunciado nº 14 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: É vedado aos administradores de sociedades anônimas votarem para aprovação/rejeição de suas próprias contas, mesmo que o façam por interposta pessoa.
A Lei nº 14.030/2020 alterou o art. 121 da LSA, no sentido de permitir que o sócio participe e vote a distância em assembleia:
Art. 121. A assembleia-geral, convocada e instalada de acordo com a lei e o estatuto, tem poderes para decidir todos os negócios relativos ao objeto da companhia e tomar as resoluções que julgar convenientes à sua defesa e desenvolvimento.
Parágrafo único. Nas companhias, abertas e fechadas, o acionista poderá participar e votar a distância em assembleia geral, nos termos do regulamento da Comissão de Valores Mobiliários e do órgão competente do Poder Executivo federal, respectivamente.
Art. 124. A convocação far-se-á mediante anúncio publicado por 3 (três) vezes, no mínimo, contendo, além do local, data e hora da assembleia, a ordem do dia, e, no caso de reforma do estatuto, a indicação da matéria.
§ 1º A primeira convocação da assembleia-geral deverá ser feita: (Redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001)
I – na companhia fechada, com 8 (oito) dias de antecedência, no mínimo, contado o prazo da publicação do primeiro anúncio; não se realizando a assembleia, será publicado novo anúncio, de segunda convocação, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias; (Incluído pela Lei nº 10.303, de 2001)
II – na companhia aberta, com 21 (vinte e um) dias de antecedência, e a segunda convocação com 8 (oito) dias de antecedência. (Redação dada pela Lei nº 14.195, de 2021)
§ 2º A assembleia geral deverá ser realizada, preferencialmente, no edifício onde a companhia tiver sede ou, por motivo de força maior, em outro lugar, desde que seja no mesmo Município da sede e seja indicado com clareza nos anúncios. (Redação dada pela Lei nº 14.030, de 2020)
§ 2º-A. Sem prejuízo do disposto no § 2º deste artigo, as companhias, abertas e fechadas, poderão realizar assembleia digital, nos termos do regulamento da Comissão de Valores Mobiliários e do órgão competente do Poder Executivo federal, respectivamente. (Incluído pela Lei nº 14.030, de 2020)
§ 3º Nas companhias fechadas, o acionista que representar 5% (cinco por cento), ou mais, do capital social, será convocado por telegrama ou carta registrada, expedidos com a antecedência prevista no § 1º, desde que o tenha solicitado, por escrito, à companhia, com a indicação do endereço completo e do prazo de vigência do pedido, não superior a 2 (dois) exercícios sociais, e renovável; essa convocação não dispensa a publicação do aviso previsto no § 1º, e sua inobservância dará ao acionista direito de haver, dos administradores da companhia, indenização pelos prejuízossofridos.
§ 4º Independentemente das formalidades previstas neste artigo, será considerada regular a assembleia-geral a que comparecerem todos os acionistas.
· Conselho de administração
É um órgão de deliberação colegiada a quem compete fixar a orientação geral dos negócios da companhia e fiscalizar a gestão dos diretores.
É COMPOSTO POR, NO MÍNIMO, TRÊS MEMBROS, ACIONISTAS, ELEITOS PELA AGE E POR ELA DESTITUÍVEIS A QUALQUER TEMPO, COM MANDATO DE NO MÁXIMO TRÊS ANOS, PERMITIDA A REELEIÇÃO.
Somente é obrigatório nas sociedades anônimas abertas (que negociam suas ações na bolsa ou no mercado de capitais), nas de capital autorizado (têm autorização de aumento de capital no estatuto, sem necessidade de assembleia para deliberação) e nas sociedades de economia mista.
Na companhia aberta, o conselho de administração pode deliberar sobre a emissão de debêntures: 1. não conversíveis em ações, salvo disposição estatutária em contrário; 2. conversíveis em ação, se o estatuto permitir.
“É vedada, nas companhias abertas, a acumulação do cargo de presidente do conselho de administração e do cargo de diretor--presidente ou de principal executivo da companhia” (art. 138, § 3º), mas a Comissão de Valores Mobiliários poderá editar ato normativo que excepcione as companhias de menor porte previstas no art. 294-B da LSA.
Além disso, na composição do conselho de administração das companhias abertas, é obrigatória a participação de conselheiros independentes, nos termos e nos prazos definidos pela Comissão de Valores Mobiliários, conforme parágrafo acrescido pela Lei nº 14.195/2021 (art. 140, § 2º).
· Diretoria
É a responsável pela representação da companhia e pela prática dos atos necessários ao seu funcionamento regular. É obrigatória em todas as sociedades anônimas.
Os diretores podem ou não ser acionistas. A LSA, em sua redação original, exigia que os diretores fossem residentes no país. A Lei nº 14.195/2021, no entanto, modificou a redação do caput do art. 146, de modo que, agora, não há mais a exigência de que os diretores da companhia sejam residentes no Brasil. Exige-se, tão somente, que sejam pessoas naturais. Contudo, segundo o § 2º do art. 146, também com redação dada pela nova lei, a posse de administrador residente ou domiciliado no exterior fica condicionada à constituição de representante residente no País, com poderes para, até, no mínimo, 3 (três) anos após o término do prazo de gestão do administrador, receber:
I – citações em ações contra ele propostas com base na legislação societária; e
II – citações e intimações em processos administrativos instaurados pela Comissão de Valores Mobiliários, no caso de exercício de cargo de administração em companhia aberta.
A DIRETORIA É COMPOSTA POR DOIS OU MAIS DIRETORES, eleitos e destituíveis a qualquer tempo pelo Conselho de Administração, ou se, inexistente, pela assembleia geral, com mandato nunca superior a três anos, permitida a reeleição.
A CIA aberta pode ser composta por dois acionistas? Não, pois a CIA Aberta tem que ter Conselho de Administração que deve ter uma composição mínima de três acionistas.
No art. 157 encontramos o dever de desclosure – dever da administração de informar ao mercado financeiro da saúde financeira da sua empresa. Transparecer e informar todas as informações econômicas e financeiras da sociedade com veracidade.
Art. 157. O administrador de companhia aberta deve declarar, ao firmar o termo de posse, o número de ações, bônus de subscrição, opções de compra de ações e debêntures conversíveis em ações, de emissão da companhia e de sociedades controladas ou do mesmo grupo, de que seja titular.
A teoria ultra vires, antes mesmo de sua revogação pela Lei nº 14.195/2021, já não se aplicava à sociedade anônima, diante do regramento próprio do art. 158 da LSA:
Art. 158. O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão; responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder:
I – dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo;
II – com violação da lei ou do estatuto.
· Conselho fiscal
É de existência obrigatória nas sociedades anônimas, mas o seu funcionamento pode não ser permanente, restringindo-se aos exercícios sociais em que for instalado a pedido dos acionistas. Sua atribuição é a fiscalização dos atos de administração da sociedade. Os conselheiros podem ou não ser acionistas. Serão, no mínimo, três e, no máximo, cinco conselheiros.
· Direitos e deveres dos acionistas
a) Dever de integralizar as ações: é o principal dever do acionista, que tem que integralizar as ações subscritas, sob pena de tornar-se acionista remisso, com a consequência de ser executado ou ter suas ações negociadas em bolsa. O título executivo pode ser: Boletim de Subscrição ou Aviso de Chamada de Capital (são títulos executivos extrajudiciais por força de lei).
A execução e a negociação das ações são medidas que podem ser adotadas simultaneamente pela sociedade. Mesmo a S/A fechada pode negociar as ações do remisso na bolsa, cujos valores serão suportados pelo remisso.
b) Direitos podem ser: essenciais (não podem ser retirados do acionista) ou não essenciais (direito de voto é dessa natureza, tanto que existem ações sem esse direito garantido). Os direitos essenciais são:
· Participação nos lucros (qualquer cláusula que retire esse direito é nula, sendo chamada de cláusula leonina; entretanto esse direito pode ser reduzido ou ampliado).
· Preferência (a subscrição de novas ações).
· Fiscalização.
· Participação no acervo societário (em caso de liquidação da sociedade, que consiste na apuração do ativo para pagar o passivo, o que resta deve ser dividido entre todos os acionistas, com base no valor patrimonial das suas ações).
· Retirada.
· Direito de retirada
Possibilidade que o acionista tem de retirar-se da S/A, recebendo o reembolso de suas ações (art. 45), baseado no valor patrimonial delas.
Art. 45. O reembolso é a operação pela qual, nos casos previstos em lei, a companhia paga aos acionistas dissidentes de deliberação da assembleia geral o valor de suas ações.
Enunciado nº 16 da I Jornada de Direito Civil do CJF: O adquirente de cotas ou ações adere ao contrato social ou estatuto no que se refere à cláusula compromissória (cláusula de arbitragem) nele existente; assim, estará vinculado à previsão da opção da jurisdição arbitral, independentemente de assinatura e/ou manifestação específica a esse respeito.
· Administradores da S.A.
São os membros do Conselho de Administração e da Diretoria.
Eles têm três deveres: Diligência (art. 153): cuidar do negócio como se fosse seu; Lealdade (art. 155): não pode utilizar as informações privilegiadas em benefício próprio ou alheio; Informação (art. 157): desde a nomeação deve informar a sua participação no capital social da sociedade administrativa e em outras sociedades por ela controladas.
A aprovação das contas sem reservas pela assembleia geral ordinária (AGO), salvo se anulada, exonera os administradores e diretores de quaisquer responsabilidades (art. 134, § 3º, da Lei nº 6.404/1976 – Lei das Sociedades Anônimas), não bastando a prévia deliberação da assembleia geral para a propositura da ação de responsabilidade civil, sendo mister, antes de tal propositura ou concomitantemente a ela, o ajuizamento da ação de anulação da assembleia (REsp 1.313.725/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26.06.2012).
Art. 138. A administração da companhia competirá, conforme dispuser o estatuto, ao conselho de administração e à diretoria, ou somente à diretoria.
§1º O conselho de administração é órgão de deliberação colegiada, sendo a representação da companhia privativa dos diretores.
· Acionista controlador
Art. 116. Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou o grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que:
a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembleia-gerale o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia; e
b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia.
Parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender.
Os requisitos para ser acionista controlador são:
a) maioria de votos da CIA;
b) poder de eleger a maioria dos Administradores da CIA;
c) uso efetivo desse poder.
É possível que um bloco de acionistas seja controlador. Para isso, no entanto, é necessário que exista um “acordo de voto” que vincule esses acionistas. Não basta que eles cheguem à Assembleia e resolvam votar no mesmo sentido. O “Acordo de voto” é uma das matérias objeto do famoso acordo de acionistas, previsto no art. 118 da LSA.
Art. 118. Os acordos de acionistas, sobre a compra e venda de suas ações, preferência para adquiri-las, exercício do direito a voto, ou do poder de controle deverão ser observados pela companhia quando arquivados na sua sede.
O registro na companhia implicará as seguintes modalidades de tutela: a sociedade anônima não poderá praticar atos que contrariem o conteúdo próprio do acordo; poderá ser obtida a execução específica do avençado, mediante ação judicial.
Dessa forma, se um acionista fez um contrato e concedeu o direito de preferência a outro, porém vendeu suas ações a um terceiro acionista, descumprindo o acordo, a companhia não poderá registrar a transferência de titularidade das ações, caso o acordo se encontre averbado.
Art. 118 (…)
§ 8º O presidente da assembleia ou do órgão colegiado de deliberação da companhia não computará o voto proferido com infração de acordo de acionistas devidamente arquivado.
Frisa-se que esse acordo de acionistas, para produzir efeitos perante a S/A, deve ser arquivado na sede da CIA. É chamado de contrato parassocial.
O não comparecimento à assembleia ou às reuniões dos órgãos de administração da companhia, bem como as abstenções de voto de qualquer parte de acordo de acionistas, assegura à parte prejudicada o direito de votar com as ações pertencentes ao acionista ausente ou omisso (art. 118, § 9º).
Art. 118 (…)
§ 9º O não comparecimento à assembleia ou às reuniões dos órgãos de administração da companhia, bem como as abstenções de voto de qualquer parte de acordo de acionistas ou de membros do conselho de administração eleitos nos termos de acordo de acionistas, assegura à parte prejudicada o direito de votar com as ações pertencentes ao acionista ausente ou omisso e, no caso de membro do conselho de administração, pelo conselheiro eleito com os votos da parte prejudicada.
· Voto plural
O art. 110 da LSA dispõe que “A cada ação ordinária corresponde 1 (um) voto nas deliberações da assembleia-geral”. Assim, estaria vedado o voto plural, o que era expressamente previsto no § 2º do aludido artigo.
A Lei nº 14.195/2021, contudo, revogou a proibição atinente ao voto plural, passando a permitir a prática, desde que respeitadas as diversas regras previstas no recém-incluído art. 110-A.
· Dissolução, liquidação e extinção das sociedades institucionais
A dissolução poderá ocorrer:
a) De pleno direito, nas seguintes hipóteses:
· término do prazo de duração;
· em qualquer caso específico previsto no estatuto;
· por deliberação da assembleia geral;
· pela existência de um único acionista, se no mínimo de dois não for reconstituído até a assembleia do ano seguinte; e
· pela extinção, na forma da lei, da autorização para funcionar.
b) Por decisão judicial, quando:
· for anulada a sua constituição em ação proposta por qualquer acionista;
· for provado que não poderá alcançar o seu objetivo em ação proposta por acionistas que representem 5% ou mais do capital social; e
· for decretada a falência, na forma da respectiva lei.
c) Por decisão da autoridade administrativa competente, nos casos e na forma prevista em lei especial, tal como na falta de autorização devida para a negociação de ações no mercado de capitais.
Após a dissolução terá início a liquidação, que poderá ser extrajudicial (competindo à assembleia geral deliberar o seu modo e nomear o liquidante) ou judicial.
A companhia dissolvida conserva a sua personalidade jurídica até a sua extinção, para que possa ser efetuada a liquidação.
O liquidante tem os mesmos deveres e responsabilidades do administrador.
Dissolução parcial: a jurisprudência foi mudando seu entendimento, passando a permitir a dissolução parcial das sociedades anônimas fechadas organizadas como grupos familiares, porque nessas é patente a presença da affectio societatis.
· Sociedade anônima de futebol (SAF) 
Lei nº 14.193/2021: institui a Sociedade Anônima do Futebol e dispõe sobre normas de constituição, governança, controle e transparência, meios de financiamento da atividade futebolística, tratamento dos passivos das entidades de práticas desportivas e regime tributário específico.
A denominação da Sociedade Anônima do Futebol deve conter a expressão “Sociedade Anônima do Futebol” ou a abreviatura “S.A.F.” (art. 1º, § 3º).
Criou-se, destarte, um tipo societário com estrutura específica para os clubes de futebol, a qual poderá ser constituída (art. 2º): a) pela transformação do clube ou pessoa jurídica original em Sociedade Anônima do Futebol; b) pela cisão do departamento de futebol do clube ou pessoa jurídica original e transferência do seu patrimônio relacionado à atividade futebol; c) pela iniciativa de pessoa natural ou jurídica ou de fundo de investimento. 
A transferência dos direitos e do patrimônio para a Sociedade Anônima do Futebol independe de autorização ou consentimento de credores ou partes interessadas, inclusive aqueles de natureza pública, salvo se disposto de modo diverso em contrato ou outro negócio jurídico.
Se as instalações desportivas, como estádio, arena e centro de treinamento, não forem transferidas para a Sociedade Anônima do Futebol, o clube ou pessoa jurídica original e a Sociedade Anônima do Futebol deverão celebrar, na data de constituição desta, contrato no qual se estabelecerão as condições para utilização das instalações.
O clube ou pessoa jurídica original não poderá participar, direta ou indiretamente, de competições profissionais do futebol, sendo a participação prerrogativa da Sociedade Anônima do Futebol por ele constituída.
A Sociedade Anônima do Futebol emitirá obrigatoriamente ações ordinárias da classe A para subscrição exclusivamente pelo clube ou pessoa jurídica original que a constituiu.
Importante assinalar que a SAF responderá somente pelas dívidas trabalhistas no que tange às atividades específicas do seu objeto social (art. 9º), ou seja, referente às atividades do futebol profissional, já que o parágrafo único do art. 9º aduz que integrarão o rol de credores trabalhistas “os atletas, membros da comissão técnica e funcionários cuja atividade principal seja vinculada diretamente ao departamento de futebol”. Conclui-se, assim, que não há sucessão trabalhista quanto aos trabalhadores que não atuavam diretamente no departamento de futebol, que serão de responsabilidade do clube original. 
No entanto, determina o art. 10 a vinculação de determinadas receitas para fins de pagamento das obrigações anteriores à constituição da Sociedade Anônima do Futebol, sendo que: enquanto a Sociedade Anônima do Futebol cumprir os pagamentos previstos nesta Seção, é vedada qualquer forma de constrição ao patrimônio ou às receitas, por penhora ou ordem de bloqueio de valores de qualquer natureza ou espécie sobre as suas receitas, com relação às obrigações anteriores à constituição da Sociedade Anônima do Futebol (art. 12).
Foram previstas, ainda, regras acerca da governança da sociedade (arts. 4º a 8º), com destaque para a proibição de que o controlador da Sociedade Anônima do Futebol, individual ou integrantede acordo de controle, participe, direta ou indiretamente, de outra Sociedade Anônima do Futebol (art. 4º). 
Além disso, o conselho de administração e o conselho fiscal são órgãos de existência obrigatória e funcionamento permanente (art. 5º), havendo vedações expressas à composição de tais órgãos (art. 5º, § 1º).
Em relação ao financiamento, a Sociedade Anônima do Futebol poderá emitir debêntures, que serão denominadas “de-bêntures-fut”, as quais terão características próprias (art. 26), bem como deverão instituir Programa de Desenvolvimento Educacional e Social (PDE), para, em convênio com instituição pública de ensino, promover medidas em prol do desenvolvimento da educação, por meio do futebol, e do futebol, por meio da educação (art. 28).
Por fim, de modo a tornar a SAF atrativa aos clubes brasileiros, foi previsto um Regime de Tributação Específica do Futebol (TEF) nos arts. 31 e 32, com o recolhimento mensal, mediante documento único de arrecadação, dos impostos e contribuições previstos no art. 31, § 1º.
· Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
· “A ação social reparatória (ut universi) ajuizada pela sociedade empresária contra ex-administradores, na forma do art. 159 da Lei nº 6.404/1976, depende de autorização da assembleia geral ordinária ou extraordinária, que poderá ser comprovada após o ajuizamento da ação” (REsp 1.778.629/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 3ª Turma, por maioria, julgado em 06.08.2019, DJe 14.08.2019. Informativo nº 653).
· “A pretensão do titular de ações de exigir contas da sociedade anônima referente ao pagamento de dividendos, juros sobre capital próprio e demais rendimentos inerentes às respectivas ações prescreve em três anos” (REsp 1.608.048/ SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em 22.05.2018, DJe 1º.06.2018. Informativo nº 627).
· “Não configura o fechamento em branco ou indireto de capital a hipótese de incorporação de ações de sociedade controlada para fins de transformação em subsidiária integral (art. 252 da Lei das S/A), realizada entre sociedades de capital aberto, desde que se mantenha a liquidez e a possibilidade de os acionistas alienarem as suas ações” (REsp 1.642.327/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, julgado em 19.09.2017, DJe 26.09.2017. Informativo nº 612).
· “A definição do valor justo de mercado como critério a ser utilizado para o cálculo do valor de reembolso das ações do acionista dissidente retirante, por ocasião da incorporação da companhia controlada, não infringe o disposto no art. 45, § 1º, da Lei nº 6.404/1976 (Lei das Sociedades por Ações)” (REsp 1.572.648/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por unanimidade, julgado em 12.09.2017, DJe 20.09.2017. Informativo nº 611).
· “É possível que sociedade anônima de capital fechado, ainda que não formada por grupos familiares, seja dissolvida parcialmente quando, a despeito de não atingir seu fim – consubstanciado no auferimento de lucros e na distribuição de dividendos aos acionistas –, restar configurada a viabilidade da continuação dos negócios da companhia” (REsp 1.321.263/PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, por unanimidade, julgado em 06.12.2016, DJe 15.12.2016. Informativo nº 595).
· “Não faz jus ao recebimento de dividendos o sócio que manteve essa condição durante o exercício financeiro sobre o qual é apurado o lucro, mas se desliga da empresa, por alienação de suas ações, em data anterior ao ato de declaração do benefício” (REsp 1.326.281/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 03.08.2017, DJe 1º.09.2017. Informativo nº 610).
· “Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor às relações entre acionistas investidores e a sociedade anônima de capital aberto com ações negociadas no mercado de valores mobiliários” (REsp 1.685.098/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, rel. p/ acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, 3ª Turma, julgado em 10.03.2020, DJe 07.05.2020. Informativo nº 671).
D) Sociedade em nome coletivo e sociedade comandita simples
· Sociedade em nome coletivo
Nas sociedades em nome coletivo, somente pessoas físicas podem fazer parte da sociedade. 
Além disso, os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais.
É importante lembrar que, mesmo respondendo ilimitadamente, os sócios continuam tendo direito ao benefício de ordem, ou seja, continuam tendo o direito de responder pelas obrigações sociais somente depois da sociedade. 
Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, sempre ilimitada; no que diz respeito à responsabilidade entre eles, podem os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada um. 
Quanto à forma de administrar a sociedade, a administração da sociedade em nome coletivo compete exclusivamente aos sócios.
Art. 1.041. O contrato deve mencionar, além das indicações referidas no art. 997, a firma social.
Art. 1.042. A administração da sociedade compete exclusivamente a sócios, sendo o uso da firma, nos limites do contrato, privativo dos que tenham os necessários poderes.
A sociedade em nome coletivo opera sob firma composta com o nome completo ou abreviado de um ou mais sócios.  A inclusão do ramo de atividade é facultativa. 
A sociedade em nome coletivo se dissolve de pleno direito por qualquer das causas enumeradas no art. 1.033 do Código Civil (CC) e, se empresária, também pela declaração da falência.
· Sociedade em comandita simples
Na sociedade em comandita simples, por sua vez, podem tomar parte na sociedade, sócios de duas categorias: os comanditados e os comanditários. 
Os comanditados são pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais. 
No entanto, os comanditários podem ser pessoas físicas ou jurídicas, obrigados somente pelo valor de sua quota. 
Dada a diferença entre os sócios comanditados e os comanditários, o contrato social deve obrigatoriamente discriminar os comanditados e os comanditários.
Quanto ao nome empresarial, a sociedade em comandita simples opera sob firma composta com o nome completo ou abreviado de um ou mais sócios comanditados. A inclusão do ramo de atividade é facultativa.
Dessa forma, deve-se ressaltar que o comanditado tem responsabilidade ilimitada, podendo participar da Administração Social, além de emprestar o seu nome civil para compor o nome empresarial. Já o sócio comanditário, por sua vez, tem responsabilidade limitada e, consequentemente, não pode participar da administração social e não pode emprestar o seu nome civil para compor o nome empresarial, sob pena de responder ilimitadamente pelas obrigações sociais.
Há, contudo, uma ressalva. Existe um dispositivo no Código Civil que prevê a possibilidade de que o sócio comanditário, que não administra, pratique certos e determinados atos de gestão, de modo absolutamente extraordinário. Isso ocorrerá em situações em que o comanditário tenha alguma facilidade ou acesso a um dos parceiros comerciais da sociedade. Esse fato não afastará a sua limitação de responsabilidade: o comanditário continuará respondendo de forma limitada.
1.4. Transformação, incorporação, fusão e cisão
Os arranjos entre as empresas são bastante comuns, com a finalidade de dinamizar os recursos disponíveis para o seu desenvolvimento.
Em razão disso, há quatro institutos do direito empresarial que possibilitam tal alteração: transformação, incorporação, fusão e cisão.
A) Transformação
A sociedade não será dissolvida ou liquidada, mas modifica o seu tipo societário por conveniência. Ex.: LTDA S/A.
A transformação exige que haja aprovação por unanimidade, salvo disposição em contrário do contrato social ao prever a possibilidade de ingresso de novos sócios.
O sócio dissidente tem o direito de retirada.
B) Incorporação
Na incorporação, há ato de concentração patrimonial, o que acarreta a extinção de uma ou mais pessoas jurídicas, cujos patrimônios serão absorvidos pela sociedade incorporadora.
C) Fusão
Na fusão, surge uma nova sociedade. As sociedades fundidas somam-se, em um primeiro momento, e, depois,deixam de existir, dando origem a uma nova sociedade.
D) Cisão
Na cisão, haverá a diluição do patrimônio da sociedade cindida e sua extinção jurídica, se todo o seu capital social for vendido a outra sociedade.
· Disposições específicas sobre transformação, fusão, incorporação e cisão na Lei de Sociedades Anônimas (Lei nº 6.404/1976)
Os institutos da transformação, cisão, incorporação e fusão são disciplinados pelo Código Civil (arts. 1.113 a 1.122), em que se estabelecem diretrizes gerais, bem como pelos arts. 220 a 234 da Lei das Sociedades Anônimas (LSA), que disciplinam dispositivos aplicáveis às sociedades anônimas e às demais sociedades, em caso de omissão do Código Civil.
Estabelece a LSA que a transformação depende de unanimidade dos acionistas, salvo se o estatuto estabelecer disposição em sentido contrário.
No caso de fusão, incorporação e cisão, a lei prevê um procedimento:
a) Protocolo: os administradores das sociedades envolvidas apresentam as bases do negócio, que será apresentado à assembleia geral, em que se contém a justificativa do negócio. A aprovação se dá pelas assembleias gerais de todas as sociedades envolvidas no negócio.
b) Aprovado o negócio pela assembleia geral, o patrimônio a ser incorporado, fundido ou cindido será avaliado por três peritos ou empresa especializada.
c) Aprovado o laudo pelas assembleias gerais das empresas envolvidas, conclui-se o rearranjo empresarial.
Faculta-se aos dissidentes o direito de retirada, observadas as seguintes condições:
a) na incorporação e na fusão, só pode se retirar o titular de ações sem liquidez e dispersão;
b) na cisão, apenas se houver redução do dividendo obrigatório, participação em grupos de sociedade ou mudança do objeto social, a menos que a sociedade para a qual o patrimônio cindido foi vertido tenha atividade principal coincidente com a da cindida.
· Direitos do credor
Nos termos do art. 1.122 do CC, “até 90 dias após publicados os atos relativos à incorporação, fusão ou cisão, o credor anterior, por ela prejudicado, poderá promover judicialmente a anulação deles”.
Ocorrendo, nesse prazo de 90 dias, “a falência da sociedade incorporadora, da sociedade nova ou da cindida, qualquer credor anterior terá direito a pedir a separação dos patrimônios, para o fim de serem os créditos pagos pelos bens das respectivas massas” (art. 1.122, § 3º, CC).
De acordo com o Código Civil, transformação não modificará nem prejudicará, em qualquer caso, os direitos dos credores. Portanto, se uma sociedade em nome coletivo se transformar em sociedade limitada, o direito do credor da sociedade em nome coletivo permanece igual, ou seja, pode exigir que a responsabilidade recaia sobre o patrimônio particular dos sócios.
CC, art. 1.115. (...)
Parágrafo único. A falência da sociedade transformada somente produzirá efeitos em relação aos sócios que, no tipo anterior, a eles estariam sujeitos, se o pedirem os titulares de créditos anteriores à transformação, e somente a estes beneficiará.
Na LSA, há norma específica que estabelece que, quando se tratar de sociedade anônima, com o rearranjo societário, a situação do credor fica da seguinte forma:
a) O credor da sociedade transformada tem o mesmo direito que o tipo societário anterior lhe assegurava.
b) A incorporadora e a sociedade resultante da fusão são sucessoras da incorporada e das fundidas e respondem por todas as dívidas anteriores. Se algum credor se sentir prejudicado, poderá pedir anulação da operação no prazo de 60 dias a contar da publicação da ata que a aprovou e, em caso de falência, no mesmo prazo, a separação das massas.
c) Na cisão, há responsabilidade solidária pelas obrigações da cindida, podendo o credor anterior demandar qualquer uma das sociedades envolvidas na operação. 
Art. 1.113. O ato de transformação independe de dissolução ou liquidação da sociedade, e obedecerá aos preceitos reguladores da constituição e inscrição próprios do tipo em que vai converter-se.
Art. 1.114. A transformação depende do consentimento de todos os sócios, salvo se prevista no ato constitutivo, caso em que o dissidente poderá retirar-se da sociedade, aplicando-se, no silêncio do estatuto ou do contrato social, o disposto no art. 1.031.
Art. 1.115. A transformação não modificará nem prejudicará, em qualquer caso, os direitos dos credores.
Parágrafo único. A falência da sociedade transformada somente produzirá efeitos em relação aos sócios que, no tipo anterior, a eles estariam sujeitos, se o pedirem os titulares de créditos anteriores à transformação, e somente a estes beneficiará.
Art. 1.116. Na incorporação, uma ou várias sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações, devendo todas aprová-la, na forma estabelecida para os respectivos tipos.
Art. 1.117. A deliberação dos sócios da sociedade incorporada deverá aprovar as bases da operação e o projeto de reforma do ato constitutivo.
§ 1o A sociedade que houver de ser incorporada tomará conhecimento desse ato, e, se o aprovar, autorizará os administradores a praticar o necessário à incorporação, inclusive a subscrição em bens pelo valor da diferença que se verificar entre o ativo e o passivo.
§ 2o A deliberação dos sócios da sociedade incorporadora compreenderá a nomeação dos peritos para a avaliação do patrimônio líquido da sociedade, que tenha de ser incorporada.
Art. 1.118. Aprovados os atos da incorporação, a incorporadora declarará extinta a incorporada, e promoverá a respectiva averbação no registro próprio.
Art. 1.119. A fusão determina a extinção das sociedades que se unem, para formar sociedade nova, que a elas sucederá nos direitos e obrigações.
Art. 1.120. A fusão será decidida, na forma estabelecida para os respectivos tipos, pelas sociedades que pretendam unir-se.
§ 1o Em reunião ou assembléia dos sócios de cada sociedade, deliberada a fusão e aprovado o projeto do ato constitutivo da nova sociedade, bem como o plano de distribuição do capital social, serão nomeados os peritos para a avaliação do patrimônio da sociedade.
§ 2o Apresentados os laudos, os administradores convocarão reunião ou assembléia dos sócios para tomar conhecimento deles, decidindo sobre a constituição definitiva da nova sociedade.
§ 3o É vedado aos sócios votar o laudo de avaliação do patrimônio da sociedade de que façam parte.
Art. 1.121. Constituída a nova sociedade, aos administradores incumbe fazer inscrever, no registro próprio da sede, os atos relativos à fusão.
Art. 1.122. Até noventa dias após publicados os atos relativos à incorporação, fusão ou cisão, o credor anterior, por ela prejudicado, poderá promover judicialmente a anulação deles.
§ 1O A CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO PREJUDICARÁ A ANULAÇÃO PLEITEADA.
§ 2o Sendo ilíquida a dívida, a sociedade poderá garantir-lhe a execução, suspendendo-se o processo de anulação.
§ 3o Ocorrendo, no prazo deste artigo, a falência da sociedade incorporadora, da sociedade nova ou da cindida, qualquer credor anterior terá direito a pedir a separação dos patrimônios, para o fim de serem os créditos pagos pelos bens das respectivas massas.
1.5. Títulos de crédito
O título de crédito representa um documento emitido em conformidade à respectiva lei que o regulamenta. Contém um direito de crédito e as informações nele contidas vão delimitar a obrigação decorrente deste crédito.
Para o jurista italiano Cesare Vivante, título de crédito “é o documento necessário ao exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado” (VIVANTE, COELHO, 2016, p. 154).
Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do DIREITO LITERAL E AUTÔNOMO nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.
 “Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código” (art. 903 do CC). Desse dispositivo, há de se fazer duas distinções sobre a aplicação do CC nas relações cambiárias: a) se a regulamentação de um título de crédito já se encontra estabelecida em lei especial, devem incidir imediatamente tais regras especiais, quando, então,as normas do CC somente serão aplicáveis de forma suplementar (mediata); b) se não houver normas especiais, deve-se aplicar o CC de forma imediata. 
É importante estabelecer que todos os títulos de crédito, no direito brasileiro, têm legislação própria.
Segundo a doutrina, há dois dispositivos do CC que se aplicam a todos os títulos de crédito, pois seriam normas de ordem pública:
a) Art. 202, inciso III, do CC: o protesto cambial interrompe o prazo prescricional. Cabe registrar que, dada a autonomia das obrigações cambiais, a interrupção da prescrição só se opera em relação àquele contra quem houver sido feito o protesto;
b) Art. 1.647, inciso III, do CC: é nulo o aval se não houver a anuência do cônjuge, salvo no regime de separação absoluta de bens. 
· Natureza jurídica
Trata de uma declaração de vontade unilateral da parte que subscreve o título. Neste caso, constitui basicamente uma ordem de pagamento que determinado sujeito entrega a outro, na qual fica determinado que o devedor (ou vários devedores) pague a um terceiro a quantia expressa no título, perante a quem detém um crédito.
A) Classificação e atributos
Quanto à classificação dos títulos de crédito, eles podem ser classificados da seguinte forma:
a) Quanto ao modelo
· Livres: aqueles para os quais a lei não estabelece uma padronização obrigatória, embora possuam requisitos a serem cumpridos para que se constituam títulos de crédito. Exemplos: letra de câmbio e nota promissória.
· Vinculados: aqueles cuja forma, ou formatação, deve observar uma rígida padronização definida em lei, ou seja, fixada pela legislação cambiária. Exemplos: cheque e duplicata mercantil.
b) Quanto à hipótese de emissão
· Causais: somente são emitidos nas hipóteses que a lei define. Exemplo: duplicata mercantil (que possui como causa a prestação de um serviço ou uma compra e venda).
· Não causais (ou abstratos): aqueles que não estão condicionados a nenhuma causa prevista em lei; podem ser emitidos para representar obrigações das mais variadas naturezas. Exemplos: cheque e nota promissória.
c) Quanto à estrutura
· Ordens de pagamento: as ordens de pagamento possuem três situações distintas: a de quem dá a ordem, a do destinatário da ordem e a do beneficiário/tomador da ordem de pagamento (credor). Exemplos: letra de câmbio, cheque e duplicata mercantil.
· Promessas de pagamento: há apenas duas situações que são: a de quem promete pagar (promitente) e do tomador beneficiário (credor). Exemplos: nota promissória.
d) Quanto à circulação
· Ao portador: aqueles que não identificam o beneficiário (credor) e são transmissíveis por mera tradição, isto é, pela simples entrega a outrem. Desde a Lei n° 8021/1990, tais títulos não são mais admitidos, salvo expressa previsão legal. 
· Nominais: indicam seu beneficiário e pressupõem a prática de um negócio jurídico-cambial. São divididos em: 
· Nominativos à ordem: sua transferência será denominada endosso.
· NÃO À ORDEM: SUA TRANSFERÊNCIA SERÁ DENOMINADA CESSÃO CIVIL DE CRÉDITO E A CLÁUSULA “NÃO À ORDEM” DEVERÁ ESTAR EXPRESSA NO TÍTULO.
Dois são os atributos peculiares aos títulos de crédito.
a) Negociabilidade: o beneficiário do título de crédito pode negociá-lo a qualquer momento, mesmo antes do vencimento, facilitando-se sobremaneira a circulação do crédito. A negociabilidade ocorre por meio da tradição ou do endosso; 
b) Executividade: trata-se da chamada eficácia processual abstrata dos títulos de crédito, pois permitem a realização de atos executivos destinados a satisfazer a pretensão do credor, sem necessidade de prova de existência do crédito. 
Os títulos de crédito têm natureza de bens móveis, o que facilita a sua circulação.
Além disso, ao contrário da moeda corrente, o título de crédito não possui o poder liberatório, transmitindo-se pro solvendo, ou seja, a obrigação que lhe deu origem só será extinta com o efetivo pagamento do título. O título de crédito representa início de pagamento. Não representa sequer novação. Por exemplo, na compra e venda de um carro, se o comprador emitir o cheque para pagamento, não significa que o carro já está pago. Enquanto o cheque não for pago pelo banco sacado, a obrigação cambiária e a obrigação que lhe deu origem (compra e venda) coexistem.
Uma característica fundamental dos títulos de crédito é a circulação que se dá por meio da tradição ou do endosso. Com a circulação, surge a cambiariedade, ou seja, a possibilidade de mudança do titular do crédito. Excepcionalmente, a lei limita a possível circulação do título de crédito, como a instituição de cláusula não à ordem nas letras de câmbio.
Ademais, os títulos de crédito representam obrigações quesíveis, ou seja, incumbe ao credor buscar a satisfação do seu crédito junto ao devedor.
Com a circulação do título de crédito, podem surgir diversos coobrigados, os quais serão considerados devedores solidários. Portanto, a solidariedade é uma característica dos títulos de crédito. Embora cada ato cambiário tenha autonomia entre si, o credor pode exigir a satisfação da obrigação de todos os coobrigados. 
B) Princípios
· Princípio da cartularidade
De acordo com o princípio da cartularidade, o crédito deve estar materializado em um documento.
Para que um credor de um título de crédito possa exercer seus direitos sobre ele, é necessário que esteja na posse do documento (ou “cártula”). 
É também chamado de princípio da incorporação, pois o Direito adere ao papel de tal maneira que a transferência do documento é ao mesmo tempo a transferência do direito.
Em face do princípio da cartularidade, há as seguintes conclusões:
a) a posse do título pelo devedor gera a presunção de pagamento do crédito nele representado;
b) só é possível o protesto do título com a sua apresentação;
c) só é possível a execução do crédito com a apresentação do título em juízo, o que não pode ser suprido sequer pela apresentação de cópia autenticada.
A cartularidade apresenta exceções, como no caso da Lei de Duplicatas (Lei nº 5.474/1968), em seu art. 15, § 2º, que dispensa sua apresentação na execução judicial. Trata-se da hipótese de execução de duplicada protestada por indicação.
Art 15 - A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será efetuada de conformidade com o processo aplicável aos títulos executivos extrajudiciais, de que cogita o Livro II do Código de Processo Civil ,quando se tratar:            
l - de duplicata ou triplicata aceita, protestada ou não;                
II - de duplicata ou triplicata não aceita, contanto que, cumulativamente:              
a) haja sido protestada;                        
b) esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e recebimento da mercadoria; e
c) o sacado não tenha, comprovadamente, recusado o aceite, no prazo, nas condições e pelos motivos previstos nos arts. 7º e 8º desta Lei.                
§ 1º - Contra o sacador, os endossantes e respectivos avalistas caberá o processo de execução referido neste artigo, quaisquer que sejam a forma e as condições do protesto.       
§ 2º - Processar-se-á também da mesma maneira a execução de duplicata ou triplicata não aceita e não devolvida, desde que haja sido protestada mediante indicações do credor ou do apresentante do título, nos termos do art. 14, preenchidas as condições do inciso II deste artigo.        
Todavia, com o surgimento dos títulos de crédito em forma eletrônica, houve certa mitigação ao princípio da cartularidade. Nesse sentido, o próprio Código Civil (CC) admite o título de crédito virtual, nos termos do art. 889, § 3º: “O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo”.
Informativo nº 0467 – aceitação a execução de duplicata virtual – STJ Terceira Turma EXECUÇÃO.  DUPLICATA VIRTUAL. BOLETO BANCÁRIO. As duplicatas virtuais – emitidas por meio magnético ou de geração eletrônica – podem ser protestadas por indicação (art. 13 da Lei nº 5.474/1968), não se exigindo, para o ajuizamento daexecução judicial, a exibição do título. Logo, se o boleto bancário que serviu de indicativo para o protesto retratar fielmente os elementos da duplicata virtual, estiver acompanhado do comprovante de entrega das mercadorias ou da prestação dos serviços e não tiver seu aceite justificadamente recusado pelo sacado, poderá suprir a ausência física do título cambiário eletrônico e, em princípio, constituir título executivo extrajudicial. Assim, a Turma negou provimento ao recurso (STJ, REsp. nº 1.024.691/PR, rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22.03.2011).
Enunciado nº 461 da V Jornada de Direito Civil: “As duplicatas eletrônicas podem ser protestadas por indicação e constituirão título executivo extrajudicial mediante a exibição pelo credor do instrumento de protesto, acompanhado do comprovante de entrega das mercadorias ou de prestação dos serviços”.
Enunciado nº 462 da V Jornada de Direito Civil: “Art. 889, § 3º: Os títulos de crédito podem ser emitidos, aceitos, endossados ou avalizados eletronicamente, mediante assinatura com certificação digital, respeitadas as exceções previstas em lei”.
· Princípio da literalidade 
Pelo princípio da literalidade, o direito que emerge do título é o direito tal qual escrito no documento. 
O título de crédito é a expressão literal de uma obrigação, pois o que não está no título não está no mundo. Literal no sentido de que a obrigação em todo o seu contorno está expressa na face da cártula, no papel, por escrito.
Súmula nº 258 do STJ diz: “A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou”.
Algumas exceções devem ser observadas:
a) Súmula nº 387 do STF: “A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto”.
b) Também compreende exceção ao princípio da literalidade a previsão do art. 9º da Lei de Duplicatas (Lei nº 5.474/1968), que prevê a quitação em separado e admite compensação de valores que porventura não estejam previstos no título:
Art. 9º É lícito ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-la ou antes da data do vencimento.
§ 1º A prova do pagamento é o recibo, passado pelo legítimo portador ou por seu representante com poderes especiais, no verso do próprio título ou em documento, em separado, com referência expressa à duplicata.
§ 2º Constituirá, igualmente, prova de pagamento, total ou parcial, da duplicata, a liquidação de cheque, a favor do estabelecimento endossatário, no qual conste, no verso, que seu valor se destina a amortização ou liquidação da duplicata nele caracterizada.
ART. 10. NO PAGAMENTO DA DUPLICATA PODERÃO SER DEDUZIDOS QUAISQUER CRÉDITOS A FAVOR DO DEVEDOR RESULTANTES DE DEVOLUÇÃO DE MERCADORIAS, DIFERENÇAS DE PREÇO, ENGANOS, VERIFICADOS, PAGAMENTOS POR CONTA E OUTROS MOTIVOS ASSEMELHADOS, DESDE QUE DEVIDAMENTE AUTORIZADOS.
c) Juros de mora são exigíveis, mesmo quando não expressos no título.
d) Outros encargos que não estejam escritos, mas que estejam inseridos em um contexto de boa-fé.
e) O aceite da letra de câmbio feito por escrito pelo sacado em outro documento que não a cártula, desde que tiver sido informado o portador ou outro signatário.
f) A duplicada, uma vez apresentada para aceite, poderá ser devolvida com aceite, sem aceite no próprio título ou, em outro documento, em que se demonstra as razões do não aceite.
g) O analfabeto e o deficiente visual só poderão assumir obrigação cambiária por meio de procuração pública, que é um documento estranho ao processo.
Como corolário do princípio da literalidade, tem-se o princípio do formalismo, pois de acordo com o art. 887 do CC, os títulos de crédito devem preencher os requisitos estabelecidos em lei. Ou seja, a lei estabelece a forma que o documento deve apresentar para ser considerado título de crédito. 
· Princípio da autonomia 
Segundo o princípio da autonomia, cada obrigação é autônoma, independente, isto é, existe por si só, de forma que o exercício do direito pelo credor não depende das outras relações obrigacionais que o antecederam. 
Dessa forma, se uma relação obrigacional for nula ou anulável, não comprometerá a validade e a eficácia das demais. Em outras palavras, se o devedor assina uma declaração cambial, se endossa, se avaliza, fica obrigado por aquilo que assina, isentando-se de eventual contágio dos vícios ou nulidades de outras assinaturas, por exemplo.
A autonomia deve ser associada à possibilidade de existência de coobrigados na relação cambial, de modo que cada relação possui independência. Portanto, cada relação jurídica estabelecida no título vincula (obriga) por si mesma.
A autonomia desdobra-se, de acordo com a doutrina, em dois subprincípios: o da abstração e o da inoponibilidade de exceções a terceiros de boa-fé. Há ainda quem reconheça um terceiro atributo, denominado independência.
a) Abstração: O título de crédito se desvincula do negócio que lhe deu origem, a saber, ele se desconecta da relação obrigacional subjacente. No entanto, trata-se de um subprincípio considerado atributo eventual, que pode ou não existir conforme o título de crédito. Portanto, não se aplica a todos os títulos de crédito.
As duplicatas, por exemplo, vinculam-se a faturas de compra e venda mercantil, sendo considerados títulos “causais”, que possuem uma causa específica.
Nem sempre o credor será mais aquele que participou do negócio jurídico. Isto é, se o credor atuou de boa-fé, bem como o título se encontrar acompanhado de outras exigências (como endosso e aceite), não se afigura crível que ele seja chamado a rever o negócio jurídico ao exigir seus direitos. O título, caso reconhecido, irá suprimir toda e qualquer alegação com fundamento no contrato, no negócio inicial.
Nesse sentido, o posicionamento do STJ: Ausente qualquer indício de má-fé por parte do endossatário, exigir que ele responda por fatos alheios ao negócio jurídico que o vinculam à duplicata contraria a própria essência do direito cambiário, aniquilando sua principal virtude, que é permitir a fácil e rápida circulação do crédito (STJ – REsp. nº 1.102.227/SP, rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, julgado em. 12.05.2009, DJe 29.05.2009).
Esse terceiro só se vincula ao negócio subjacente em quatro hipóteses: 
· se dele participou;
· se tem conhecimento de seus vícios e, ainda assim, aceitou receber o título;
· se devia ter, por sua condição pessoal ou negocial, conhecimento dos vícios;
· se o título estiver ligado ao negócio jurídico de origem, como a nota promissória vinculada a contrato de compra e venda.
b) Independência: representa a autossuficiência do título de crédito, que não necessita de qualquer outro documento para ser considerado completo. 
c) Inoponibilidade de exceções a terceiros de boa-fé: este subprincípio fundamenta-se no art. 17 da Lei Uniforme de Genebra (LUG) e art. 916 do CC, que assim prescrevem:
Art. 17. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.
Art. 916. As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.
O devedor executado não pode opor, em face daquele que porta o título de crédito de boa-fé, as exceções ou as defesas que teria em relação àquele que emitiu o título, vez que o terceiro de boa-fé (portador) que recebeu a cártula por endosso não é afetado pela relação entre aquele que deve pagar e quem lhe transmitiu o título.
C) Endosso
O endosso (arts. 11 a 20 da Lei Uniforme de Genebra – LUG; arts. 910 e seguintes do CC/2002 e art. 11, parágrafo único, da Lei de Duplicatas) constitui ato cambial que realiza a transferência da propriedade e a posterior vinculação do título de um credor (denominado endossante) para outro (endossatário), possível nos títulos nominativosà ordem.
O endosso produz basicamente dois efeitos: a transferência da titularidade do crédito e a responsabilização do endossante.
Além disso, o endosso tem como efeito a vinculação cambiária do endossante, que passa a garantir o pagamento da letra.
O endossante, portanto, é um coobrigado. Se o portador da cártula não obtiver o pagamento do aceitante na data de vencimento, poderá exigir do endossante o pagamento da cártula.
Art. 15 da LUG: “O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da aceitação como do pagamento da letra. O endossante pode proibir um novo endosso, e, neste caso, não garante o pagamento às pessoas a quem a letra for posteriormente endossada.”
Se o título contiver a cláusula “não à ordem” (que pode ser inserida pelo sacador ou pelo endossante), não será passível de endosso, embora nada impeça que seja transferido, podendo circular por meio de cessão civil de crédito.
Quanto à forma, vale lembrar que não é possível lavrar o endosso em documento à parte ou concedê-lo por meio de instrumento público. 
Pelo princípio da cartularidade, este ato cambial deve sempre constar do título e deve ser puro e simples, conforme arts. 12 e 13 da LUG. Com efeito, além de expresso, o endosso deve ser puro e simples, de tal modo que não se admitem cláusulas acessórias, como condição, termo e encargo. Inserida cláusula dessa natureza, ela é considerada inexistente, não escrita.
De preferência, o endosso deve ser aposto em local próprio (o verso do título), não precisando de indicação do ato. Há, no entanto, a possibilidade de ser feito no anverso (isto é, na frente do documento), caso em que a lei exige que conste menção expressa ao endosso. 
Ao contrário do aceite, cuja recusa pode ser parcial, não existe endosso parcial, limitado a certo valor da dívida, sob pena de nulidade: 
CC, art. 893. A transferência do título de crédito implica a de todos os direitos que lhe são inerentes. 
CC, art. 912. Considera-se não escrita no endosso qualquer condição a que o subordine o endossante. 
Parágrafo único. É nulo o endosso parcial.
· Espécies de endosso
a) O endosso poderá ser feito em branco ou em preto, conforme a indicação expressa do endossatário.
No endosso em branco, não há indicação do endossatário, assumindo este papel aquele que estiver na posse do título (normalmente, o endossante expressa, no verso do documento – como cheque – a ordem “ao portador”, garantindo que este seja o beneficiado pela garantia do crédito). O beneficiário pode transformá-lo em endosso em preto (completando com seu nome, ou com o nome de terceiro; endossar novamente o título ou simplesmente transferi-lo, conforme arts. 14 da LUG, e 913 do CC.
Já no caso do endosso em preto, o endossatário é plenamente identificável, só podendo circular novamente por meio de novo endosso (caso em que o endossatário passa a ser endossante e assume a responsabilidade pela dívida).
b) O endosso pode ser próprio ou impróprio, conforme a produção dos efeitos do ato cambiário.
No endosso próprio, são produzidos os dois efeitos comuns do endosso: transferência da titularidade do crédito e a responsabilização do endossante. 
No endosso impróprio, em que não se deseja transferir o crédito, apenas legitimar a posse daquele que receberá o título.
c) Endosso-caução, endosso-penhor ou endosso-pignoratício: conforme art. 19 da LUG, é o ato pelo qual o endossante transmite o título com a expressão “valor em penhor”, ou “valor em garantia”, a fim de garantir uma dívida contraída junto ao endossatário – que não assume a titularidade do crédito, apenas conta com uma garantia e pode exercer os direitos emergentes do título e, salvo o caso de ter agido mediante má-fé, não poderá ter oposta, contra si, eventual exceção pessoal que ocasionalmente o devedor tenha perante aquele que lhe transmitiu o título. Importante ressaltar que, caso não honrada a dívida pelo endossante, há a possibilidade de ser transmitida a titularidade plena do crédito para o endossatário, que poderá executar a garantia.
d) Endosso-mandato ou endosso-procuração: previsto no art. 18 da LUG e no art. 917 do CC, ocorre quando o credor, endossante, coloca no título termos como “valor a cobrar”, “para cobrança”, “por procuração” e transfere a outrem (como uma instituição financeira), denominados mandatários, não o crédito, mas o poder de receber em seu nome, para agir como seu legítimo representante a fim de, para protestar, cobrar, executar, enfim, receber o valor e repassá-lo ao credor. Neste caso, os coobrigados só podem invocar contra o portador (mandatário) as exceções que eram oponíveis ao endossante.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) entende que os bancos, na qualidade de mandatários em casos de endosso-mandato, caso venham a ser demandados por eventuais danos causados ao devedor do título, só respondem se comprovada sua atuação culposa (se agiu de forma imprudente). Se, por exemplo, o negócio que deu origem ao título é desfeito e, mesmo inequivocamente ciente, a instituição procede à cobrança ou proteste o título, será responsabilizada. 
Súmula nº 476 do STJ: “O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário”. 
e) Endosso póstumo ou tardio: é dado após o vencimento do título, após sua “vida útil”, isto é, “tarde demais”. Em regra, possui os mesmos efeitos do endosso comum dado antes do vencimento do título, com relação à transferência do crédito e à responsabilização do endossante. Todavia, conforme preconiza o art. 20 da LUG, o endosso póstumo produzirá os efeitos de uma cessão ordinária de crédito quando for posterior ao protesto por falta de pagamento, ou depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto. O mesmo dispositivo prevê que, salvo prova em contrário, na situação em que o endosso for feito sem data, presumir-se-á que foi feito antes de expirado o prazo para protesto. 
Os títulos com cláusula “não à ordem” e o endosso póstumo, caso feito posterior ao protesto, ou ao encerramento do prazo para este ato, produzirão efeitos de cessão ordinária (civil) de crédito, que possui algumas diferenças significativas com relação ao endosso. 
· Distinção entre cessão civil e endosso
O endosso constitui ato unilateral do endossante; com este ato, o endossante responde pela existência do crédito e pela solvência do devedor e, para se defender, o devedor não pode arguir matérias que digam respeito à sua relação com o endossatário. Demais disso, a nulidade de um endosso não afeta os posteriores.
Já a cessão civil envolve duas vontades. Trata-se de um contrato, de um ato bilateral; nela, o cedente responde somente pela existência do crédito (não pela solvência do devedor). E, diferentemente do endosso, na cessão civil, o devedor poderá se defender com base na sua relação jurídica com o cessionário. Por fim, a nulidade de uma cessão acarreta a das posteriores.
D) Aval
Pelo aval, previsto no art. 30 da Lei Uniforme de Genebra (LUG) e arts. 897 a 900 do Código Civil de 2002 (CC/2002), um terceiro (denominado avalista) simplesmente assina, no verso ou no anverso do título e, com isto, se responsabiliza pelo pagamento da obrigação constante do título assumida pelo devedor original que recebe a garantia (o avalizado) e, via de regra, responde da mesma forma que este, podendo ser acionado (cobrado) isoladamente, independentemente de o avalizado ser ou não acionado também.
Devemos pontuar duas importantes características do aval: a equivalência e a autonomia.
a) Equivalência: pode ser identificada em razão do fato de que o avalista, via de regra, é obrigado nos mesmos termos que o avalizado e pode ser acionado isoladamente, sem benefício de ordem.
b) Autonomia: por constituir obrigação autônoma, a nova obrigação (assumida pelo avalista) independe da obrigação originária e, mesmo que esta seja considerada nula, a obrigação do avalista permanece.
Disto decorre, também, a regra da inoponibilidade de exceções pessoais, de sorte que o avalista, caso executado, não pode se oporao pagamento fundado em matéria relativa à origem do título, de interesse de outro devedor, ou, em palavras mais precisas, não pode se valer de exceções (defesas) pessoais do avalizado, e sim apenas daquelas que lhes são próprias. 
O aval se materializa com a simples assinatura do avalista no anverso, ou por sua assinatura acompanhada das palavras indicativas do aval no verso.
Nos termos do art. 30 da LUG, o aval pode ser parcial e o avalista responde apenas pela parte da dívida que declarar expressamente (princípio da literalidade).
O art. 897, parágrafo único, do CC, veda o aval parcial. Mas, tal dispositivo não se aplica aos títulos de crédito nominados, pois a legislação especial prevê em sentido diverso. 
Assim como o endosso em branco, o aval em branco é aquele que não identifica o avalizado (se houver aval em branco em letra de câmbio, por exemplo, presume-se que será do sacador do título; em outros títulos, será o emitente ou subscritor).
Em caso de dois avais em branco e superpostos, consideram-se simultâneos e não sucessivos (Súmula nº 189 do STF), de modo que um não é avalista do outro, mas ambos são coavalistas do mesmo avalizado e quem pagar o título pode exigir do outro a metade do valor pago.
Importante lembrar, ainda, dos avais simultâneos (ou coavais) e dos avais ou sucessivos (ou aval de aval):
a) Avais simultâneos ocorrem quando duas ou mais pessoas avalizam um título conjuntamente e terão responsabilidade solidária. Assim, caso um deles pague, terá direito de regresso contra o devedor principal no tocante à dívida integral e, também, direito de regresso contra o(s) coavalista(s) em relação à sua parte;
b) Já os avais sucessivos ocorrem quando um avalista é avalizado por outrem. O avalista do avalista, ou os avalistas dos avalistas, terão a mesma responsabilidade do(s) avalizado(s), de tal modo que aquele que pagar a dívida terá direito de regresso em relação ao total da dívida, e não apenas em relação a uma parte dela (vide art. 32 da LUG,  e art. 899, § 1º, do CC).
É admitido o chamado aval antecipado, que é prestado antes do surgimento da obrigação do avalizado e tampouco fica condicionado à futura constituição válida e pode anteceder o aceite ou o endosso ainda não lançados no título.
Aval e fiança: embora ambos representem garantias e dependam, por exemplo, de autorização do cônjuge para serem prestadas em caso de casamento sob regime diferente do regime de separação absoluta de bens, são dois institutos completamente diferentes.
Assim como endosso possui natureza cambiária e a cessão ordinária de crédito, natureza civil, o aval e a fiança possuem naturezas diferentes, respectivamente, cambial e civil. 
Ademais, assim como no endosso a nulidade de um endosso não afeta os posteriores e, na cessão civil, a nulidade de uma acarreta a das posteriores, no aval a obrigação é autônoma (de modo que, caso a obrigação do avalizado seja atingida por um vício, não comprometerá a do avalista) e, na fiança, como é uma obrigação acessória à principal (não dotada de autonomia), terá o mesmo destino que a obrigação originária, podendo ser atendida pela nulidade. 
Destaquemos, por fim, que o aval não comporta benefício de ordem, ao contrário da fiança.
Súmula nº 26 do STJ: “O avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas obrigações pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário”.
Súmula nº 60 do STJ: “É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste.”
Dispõe o CC/2002 que, tanto na fiança quanto no aval, ressalvado o regime de separação absoluta de bens (art. 1.647 do CC), nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, prestar fiança ou aval:
O STJ, entretanto, entende que essa impossibilidade somente se verifica no CC. Diversamente, em relação aos títulos nominados, afirma que o aval pode ser prestado sem a outorga do cônjuge. Tal entendimento foi oriundo da Terceira e Quarta Turmas do STJ, no Informativo nº 604. 
E) Protesto
Protesto é o ato extrajudicial, formal e solene feito fora do título e relacionado não à criação de novos direitos, mas à exigibilidade do crédito cambiário, como meio de prova.
As principais finalidades do protesto são:
a) caracterizar a impontualidade do devedor que não paga no vencimento, não devolve o título ou não aceita a obrigação constante da cártula;
b) garantir o direito de regresso contra o coobrigado no título de crédito;
c) provar a existência da mora (art. 48, alínea 2º, da Lei Uniforme de Genebra – LUG).
O credor não está obrigado a levar o documento a protesto para exigir o crédito que possui em face do devedor. Os coobrigados, no entanto, não estão vinculados ao pagamento do título se este não foi protestado, ou o foi fora do prazo estabelecido em lei.
· Espécies de protesto: 
a) Necessário, obrigatório ou conservatório: hipótese em que o portador do título deve exercer o protesto a fim de garantir o direito de crédito em face dos coobrigados e endossantes (não perder o direito de regresso contra os codevedores não principais). Em suma, o protesto será necessário quando se pretenda acionar os coobrigados: sacador endossante e seus avalistas.
O protesto necessário por falta de pagamento deve ser feito no primeiro dia útil seguinte ao vencimento (art. 28 do Decreto nº 2.044/1908). 
O protesto necessário por falta de aceite deve ser feito nos prazos para apresentação do título ao aceite: 
· apresentação facultativa, até o dia do vencimento; 
· apresentação necessária, até um ano após o vencimento.
Em vista do teor do art. 46 da LUG, em algumas situações, especialmente nas cambiais (haja vista que o protesto pode ser exercido em várias situações, não apenas no caso dos títulos de crédito), o protesto necessário poderá ser dispensado, quando houver, no título, a cláusula “sem protesto”, ou “sem despesas”, expressa pelo sacador, pelo endossante ou pelo avalista. 
Se a cláusula foi escrita pelo sacador produz os seus efeitos em relação a todos os signatários da letra; se for inserida por um endossante ou por avalista, só produz efeito em relação a esse endossante ou avalista. 
Se, apesar da cláusula escrita pelo sacador, o portador faz o protesto, as respectivas despesas serão da conta dele. Quando a cláusula emanar de um endossante ou de um avalista, as despesas do protesto, se for feito, podem ser cobradas de todos os signatários da letra.
b) Facultativo ou probatório: presta-se apenas a provar a mora do devedor (sacado/aceitante), o qual pode ser acionado independentemente da realização ou não do protesto. Ou seja, em relação ao devedor principal, o protesto por falta de pagamento é facultativo. 
O protesto facultativo pode ser feito a qualquer tempo, respeitado o prazo prescricional.
Por vezes, o protesto será necessário, mas não em casos ligados à relação cambiária, como, por exemplo, o protesto do qual trata o art. 94 da Lei nº 11.105/2005 (Lei de Falências), necessário à propositura do pedido de falência por impontualidade injustificada; ou o previsto no art. 2º, § 2º, do Decreto-Lei nº 911/1969, necessário à comprovação da mora do devedor em contratos denominados “contratos de alienação fiduciária em garantia”.
No caso de cheque, o protesto por falta de pagamento é substituível pela declaração do banco sacado ou da câmera de compensação.
É o protesto por falta de pagamento que causa a interrupção do prazo prescricional, bem como formaliza e dá publicidade à mora do devedor.
c) Protesto por falta de devolução: Na duplicata e na letra de câmbio, apresentado o título e não devolvido no prazo legal pelo sacado, tem espaço o protesto por falta de devolução, feito com base na segunda via da letra de câmbio ou nas indicações da duplicata (ou na triplicata).
A ação de sustação de protesto está prevista no art. 17 da Lei nº 9.492/1997 e sobre o tema há importantes posições jurisprudenciais:
· a ação de sustação de protesto só será viável se o protesto ainda não foi lavrado pelo tabelião (caso o tenha sido, será possível ingressar com açãode “suspensão dos efeitos do protesto”, ou de “sustação dos efeitos do protesto”); 
· tem natureza de medida processual cautelar;
· o STJ entende ser devido (obrigatório) depósito da quantia reclamada (como preparatória de eventual ação judicial de anulação do título), ou ao menos a prestação de caução, como forma, também, de resguardar os interesses do credor (o que se chama “oferecimento de contracautela”).
Uma vez efetuado o protesto, não cabe a sustação do protesto, mas é possível o seu cancelamento.
A forma ordinária de cancelamento do protesto é o pagamento efetuado pelo devedor, que deverá apresentar ao tabelião a prova do pagamento.
Se o motivo para o cancelamento do protesto for outro que não o pagamento, como o vício formal do protesto ou inexistência da dívida representada pelo título, o cancelamento se deve dar por ordem judicial.
Nesse caso, como o protesto é um ato meramente declaratório, o tabelião não tem responsabilidade pela eventual ilicitude do protesto. O tabelião pode ser responsabilizado por falha na prestação do serviço mas, não pelo protesto indevido em si.
F) Títulos de crédito em espécie
F.1) Nota promissória
Nota promissória é a promessa incondicional de pagar quantia determinada. 
As regras aplicáveis à letra de câmbio também se aplicam a ela, exceto as incompatíveis com sua estrutura. 
A letra de câmbio é uma ordem incondicional de pagar quantia determinada, já a nota promissória, como o próprio nome sugere, é uma promessa de pagamento, sendo assim, inaplicável a ela as regras sobre aceite. Portanto, as regras relacionadas ao aceite não se aplicam à nota promissória, além daquelas relacionadas ao protesto por falta de aceite e de sua datação. 
Todas as outras regras – saque, endosso, aval, vencimento, pagamento, protesto por falta de pagamento e ação cambial – aplicam-se, integralmente, à nota promissória.
Em que pese as regras do aceite não se aplicar, há a possibilidade de emissão de nota promissória a certo termo de vista, possibilidade expressa no art. 78 da LUG. Assim, o título deverá ser levado ao visto do subscritor no prazo de um ano a contar do saque da nota. Após o visto, começa a correr o prazo estipulado desde a emissão, após o qual considerar-se-á vencida a nota. 
Por fim, o devedor principal na letra de câmbio é o sacado, ao passo que na nota promissória, é o próprio sacador (subscritor). Assim, a LUG determina expressamente em seu art. 78 que o “subscritor de uma nota promissória é responsável da mesma forma que o aceitante de uma letra”. 
· Requisitos essenciais 
Assim como a letra de câmbio, a nota promissória deverá atender os requisitos essenciais presentes no art. 75 da LUG. 
a. Cláusula cambiária – expressão nota promissória.
b. Deverá ser uma promessa incondicionada de pagamento de quantia determinada.
c. O nome do tomador.
d. A data do saque.
e. A assinatura do subscritor.
f. O lugar do saque ou menção de um lugar junto ao nome do subscritor. 
A nota poderá ser emitida em branco ou de forma incompleta, nos termos da Súmula nº 387 do Supremo Tribunal Federal (STF): “a cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto”. 
Por ser título de crédito, possui implícita a cláusula “à ordem”, podendo ser expressa, no entanto, a cláusula “não à ordem”.
A identificação do subscritor (credor), deverá conter o número de carteira de identidade, CPF, título de eleitor ou carteira profissional.
A exigência de identificação do tomador impede, em tese, a emissão de nota promissória ao portador. 
Não se admite a sujeição do pagamento à condição suspensiva ou resolutiva.
Ausente menção quanto à data de pagamento, considera-se à vista.
O STJ firmou alguns entendimentos, lembrando que ao ser emitida de forma vinculada a qualquer contrato, tal situação deverá constar expressamente no título, porquanto ele pode circular (cartularidade) e eventual terceiro deverá ter conhecimento de tal vinculação. 
Essa vinculação descaracteriza, em certa medida, a abstração do título, já que neste caso ele estará atrelado ao negócio jurídico subjacente ao contrato que instrumentaliza, havendo a possibilidade de oposição de exceções relacionadas ao contrato em face do adquirente do título por meio do endosso.   
Súmula 258-STJ: A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou.
A vinculação de uma nota promissória a um contrato retira a autonomia de título cambial, mas não, necessariamente, a sua executoriedade. Assim, quando a relação jurídica subjacente estiver consubstanciada em contrato que espelhe uma dívida líquida, não há empecilho ao prosseguimento da execução. Diversamente, se estiver amparada em contrato que não espelhe dívida líquida, como se verifica do contrato de abertura de crédito, não será possível a execução. 
Nos termos da Súmula nº 60 do STJ, “é nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste.”  A súmula espelha entendimento consolidado e tendente a eliminar uma prática antes comum, onde o banco colocava nos contratos uma cláusula-mandato, constituindo ele mesmo, ou empresa a ele coligada, como procurador do cliente. Assim, restando inadimplente o cliente, o banco emitia uma nota promissória em seu próprio favor, no valor da dívida, sanando, assim, o problema de eventual iliquidez do contrato. 
Nessa linha de intelecção, o STJ entendeu como abusiva a cláusula-mandato, forte no art. 51, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor (CDC). 
Para além disso, o Decreto nº 2044/1908 (define a letra de câmbio e a nota promissória e regula as Operações Cambiais) traz, por exemplo, o prazo para o protesto da nota, qual seja, o primeiro dia útil seguinte ao seu vencimento (art. 28). 
Caso concreto: João emitiu nota promissória em favor de uma empresa. comprometendo-se a pagar R$ 100 mil. O emitente não pagou o débito e a empresa ajuizou execução de título extrajudicial contra ele. O devedor apresentou exceção de pré-executividade suscitando vício formal do título. Isso porque, na nota promissória, constaram duas informações diferentes sobre a data de vencimento do título:
• no cabeçalho constou o dia 01/07/2012 como sendo a data de vencimento da nota promissória;
• ocorre que, mais abaixo, foi anotado, por extenso, como o dia 1º de julho de 2009 como sendo a data de vencimento do título.
Vale ressaltar que a referida nota promissória foi assinada em 01/07/2009, ou seja, essa foi a data de emissão do título.
Esse título é válido. Deve-se considerar que a data correta é a posterior (vencimento para uma data posterior ao da emissão). Isso porque a nota promissória consiste em título de crédito próprio, de modo que, como tal, se destina à concessão de um prazo para pagamento do valor nela estampado. A vontade presumida do emitente de um título dessa espécie, então, é que seu pagamento ocorra em data futura, não fazendo sentido lógico que a data de sua emissão coincida com a data do vencimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1964321-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/02/2022 (Info 725).
F.2) Da Duplicata 
Tendo em vista que a duplicata conta com uma sistemática de aceite obrigatório, ela passou a ser amplamente utilizada. 
A duplicada é regida pela Lei nº 5.474/1968, chamada de Lei de Duplicatas, e pelas alterações operadas pelo Decreto-lei nº 436/1969.
Fora criada para representar operações que envolvem compras e vendas mercantis, atualmente, compreendendo também a prestação de serviços.
· Características
a) Causal – somente é emitida em razão de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços. Nessa linha de intelecção, o STJ já decidiu pela nulidade de duplicata emitida em contrato de leasing, conforme REsp. nº 202.068-SP.
b) De modelo vinculado – deve obedecer, rigorosamente, a padrões de emissão fixados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). 
c) Título estruturado como ordem de pagamento – emitida seguindo-se a forma e critérios estabelecidos,deve ser enviada ao sacado (comprador) para que simplesmente pague – se for à vista – ou a aceite e devolva para posterior pagamento – se for a prazo.
Para além disso, nos termos da Lei de Duplicatas, art. 2º, § 1º, deve conter:
· Expressão duplicata (cláusula cambiária) e a cláusula à ordem (circulação pelo endosso).
· Data de emissão coincidente com a da fatura.
· Os números da fatura e da duplicata.
· Data do vencimento, se não for à vista.
· Nome e domicílio do vendedor.
· Nome, domicílio e o número de inscrição no cadastro de contribuintes do comprador (sacado).
· O valor a ser pago, em algarismos e por extenso.
· Local para o aceite do sacado.
· Assinatura do sacador. 
Conforme leciona André Santa Cruz (2017), o regime jurídico aplicável às duplicatas, ao contrário do que ocorre com as notas promissórias e as letras de câmbio, não admite a extração de duplicatas com vencimento a certo termo da vista nem a certo termo da data, mas somente poderá ser emitida com dia certo ou à vista. 
· Procedimento
O comprador realiza o pedido e o vendedor encaminha a mercadoria junto com a nota fiscal fatura. O primeiro (comprador) apresenta o recebido e o último (vendedor) emite duplicata contra o primeiro. 
Na duplicata, o aceite é obrigatório, ou seja, o comprador já aceitou a ordem incorporada pelo título. Assim que ele dá o recebido na nota fiscal fatura, já aceitou a ordem.
A recusa somente pode ser realizada nas restritas hipóteses do art. 8º da Lei de Duplicatas e, mesmo assim, esse dispositivo exige a comprovação das situações ali previstas:
Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de:
I – avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco;
II – vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados;
III – divergência nos prazos ou nos preços ajustados.
São as únicas situações em que o comprador pode deixar de aceitar a ordem incorporada pelo título e, ainda assim, o inciso II desse dispositivo exige a comprovação devida.
Aceite obrigatório não significa aceite irrecusável.
A duplicata foge ao princípio da cartularidade: pode-se exercer os direitos que emanam dela mesmo sem o original, como no caso de duplicatas virtuais e protesto por indicação.
Enunciado nº 461 das Jornadas de Direito Civil do CJF: As duplicatas eletrônicas podem ser protestadas por indicação e constituirão título executivo extrajudicial mediante a exibição pelo credor do instrumento de protesto, acompanhado do comprovante de entrega das mercadorias ou de prestação dos serviços. 
Quanto à indicação, veja-se o art. 15, § 2º, da Lei de Duplicatas: Processar-se-á também da mesma maneira a execução de duplicata ou triplicata não aceita e não devolvida, desde que haja sido protestada mediante indicações do credor ou do apresentante do título, nos termos do art. 14, preenchidas as condições do inciso II deste artigo. 
F.3) Do Cheque
Trata-se de uma ordem de pagamento à vista sacada contra banco e com base em suficiente provisão de fundos.
Se é uma ordem de pagamento, tem-se o sacador (quem emite o título), o sacado (o destinatário da ordem - no cheque, o sacado sempre é um banco) e o tomador (o credor, o beneficiário dessa ordem). 
Trata-se de relação jurídico-cambial em que o banco apenas gerencia os recursos do sacador. Portanto, quando o sacador emite um cheque contra o banco, emite, por conseguinte, uma ordem contra sua conta corrente. O banco possui apenas obrigação administrativa: se tiver fundos, ele paga; caso contrário, não paga. 
A provisão de fundos pode decorrer de um depósito preliminar – realizado pelo sacador – ou de um contrato de abertura de crédito (cheque especial). 
· Cheque pré-datado/pós-datado.
A Lei do Cheque é suficientemente clara ao afirmar que o cheque é uma ordem de pagamento à vista e que qualquer cláusula em sentido contrário deverá ser considerada como não escrita. 
O que os tribunais têm entendido? Que o acordo constante do cheque, entre emitente e tomador (para que o cheque não seja apresentado antes da data nele contida), é de natureza civil, logo, tem por conteúdo uma obrigação de não fazer: a de não apresentar o cheque para pagamento antes da data nele contida.
Se o tomador o apresentar para pagamento antes da data nele contida, há quebra desse acordo. Portanto, surge contra o credor, e em benefício do sacador, o dever de indenizar (Súmula nº 370 o STJ). 
· Modalidades de cheques
Pode-se falar em quatro: cheque visado, cheque administrativo – também conhecido como cheque bancário –, cheque cruzado e cheque para se levar em conta.
1) Visado – o banco lança uma declaração de suficiência de fundos e bloqueia o valor na conta do cliente. 
2) Administrativo ou bancário – Aquele emitido pelo banco. Geralmente, é preferível um cheque administrativo a um visado, porque naquele o banco retira dinheiro da conta do cliente e emite cheque no valor que ele solicitou. Sendo assim, o dinheiro fica com o banco. Até que o beneficiário apresente o título, o banco faz uso desse dinheiro com outras operações. Como o cheque administrativo é emitido pelo banco contra si, implica maior segurança. Emitido pelo banco sacado a favor de terceiros para a liquidação por uma de suas agências.
3) Cruzado – Aquele em que são apostos dois traços paralelos e transversais no centro do título (art. 44, caput, Lei nº 7.357/1985). Exige-se a apresentação deste para pagamento mediante depósito em conta. Em resumo, seu beneficiário não consegue receber o pagamento em dinheiro. O cheque cruzado exige maior identificação do beneficiário. Obriga o banco-sacado a efetuar o pagamento do cheque a um banco, liquidando em conta de titularidade do portador.
Todavia, atualmente, cheques emitidos com valor superior a R$ 100,00 não são pagos somente a beneficiários identificados? Sim. Logo, o cruzamento teria a mesma função. Primeiramente, ele é anterior a essa exigência do pagamento de cheques com valor superior a R$ 100,00. Em segundo lugar, a identificação nos cheques emitidos com valor superior a R$ 100,00 é feita pelo nome e pelo RG. No cheque cruzado, não: aqui, tem-se nome, RG, CPF, nome da mãe e do pai, endereço, pois o beneficiário possui conta em banco e todos os dados que a abertura de uma conta em banco exige. Por isso, o cheque cruzado fornece maior segurança na identificação do beneficiário.
O cruzamento com apenas dois traços é o cruzamento geral. Se, além dos dois traços, indica-se o nome do banco em que deve ser apresentado o cheque, fala-se de cruzamento especial (§ 1º do art. 44 da Lei nº 7.357/1985).
Cheque cruzado e nominal: além do cruzamento especial, coloca-se no verso a agência do beneficiário e a conta corrente. Ou seja, há a garantia de que somente aquele indivíduo será o beneficiário. 
4) Cheque para se levar em conta: neste o emitente ou o portador proíbe o pagamento do título em dinheiro.
· Prazo para apresentação
Qual o prazo para a apresentação do cheque? É de 30 dias se o cheque é da mesma praça, e 60 dias se de praça distinta (caput do art. 33 da Lei nº 7.357/1985).
O que a lei chama de praça refere-se, na verdade, ao município. Se o cheque é emitido no mesmo município em que se encontra a agência pagadora do emitente, é de mesma praça. Se é emitido em município distinto daquele em que se encontra essa agência, é de praças distintas.
A jurisprudência tem entendido que municípios contíguos e municípios que compõem a mesma região metropolitana devem ser considerados de mesma praça.
· Prazo prescricional
Qual o prazo prescricional do cheque? É de 6 meses para poder executar o cheque a partir do final do prazo de apresentação para pagamento (caput do art. 59 da Lei nº 7.357/1985):
a) 30 dias + 6 meses, se cheque da mesma praça; 
b) 60 dias + 6 meses, se cheque de praças distintas.
Perdido o prazo para executar, ainda há a possibilidade de proposição de ação que veda o enriquecimento sem causa. Trata-se de um a previsão do art. 61 da Lei do Cheque. Essa ação possui prazo de dois anos, acontar do término dos seis meses. 
Passado esse prazo bienal, ainda há os cinco anos da ação monitória. Ou seja, cinco anos da emissão para propor a ação monitória pautada em cheque.
· Sustação
Pode-se, também, impedir o pagamento de um cheque mediante sustação – art. 36 da Lei nº 7.357/1985.
O que é sustação? Termo técnico relacionado com gênero que comporta duas espécies: de um lado, revogação/contraordem e, do outro, oposição.
Qual a diferença? Suponha-se, por exemplo, que determinado indivíduo faça uma contraordem no banco. Se o cheque é apresentado dentro do prazo, o banco paga; se apresentado após esse prazo, o banco não mais paga. Portanto, a revogação ou contraordem somente produz efeitos após o prazo previsto.
Já a oposição produz efeitos imediatamente. Emitida uma oposição, o banco já não pode mais pagar o cheque, ainda que o beneficiário o apresente dentro do prazo.
Quando o cheque é perdido, extraviado, furtado ou roubado, faz-se uma oposição, a fim de evitar que o banco o pague. 
Uma última diferença: a revogação ou contraordem somente pode ser realizada pelo emitente. Já a oposição pode ser realizada pelo emitente ou pelo portador legitimado do título.
1.6. Direito concursal
É o estudo das empresas em crise, que é decorrente da assunção do risco do empreendimento. 
O atual normativo da legislação brasileira que apresenta as soluções jurídicas para a crise empresarial é a Lei nº 11.101/05.
São instrumentos a serem utilizados para a solucionar a crise empresarial:
a) a recuperação de empresas (nas vias judicial e extrajudicial); e
b) a falência.
A recuperação de empresas é o mecanismo jurídico a ser utilizado pelo empresário cuja empresa está crise, mas que esta crise é superável, porque a empresa é dotada de viabilidade econômica. Entretanto, na medida em que a crise não for mais superável pelo fato de inexistir viabilidade econômica para a empresa, a solução jurídica só poderá ser a falência.
Para o Direito Empresarial, a insolvência jurídica não se confunde com a insolvência econômica. Assim, é possível que um empresário necessite de recuperação de empresas ou mesmo que tenha a sua falência declarada, mesmo que tenha mais bens e direitos do que obrigações em seu patrimônio. Isto porque o conceito de insolvência jurídica empresarial, em verdade, equipara-se ao conceito de “crise econômico-financeira”, vale dizer, é uma crise que começa econômica que tem consequência financeira ou vice-versa. Logo, não decorre de uma crise patrimonial.
· Falência × insolvência
A crise é um estágio pelo qual a atividade empresária pode passar e se caracteriza pelo fato de a empresa deixar de ser tão lucrativa quanto era inicialmente.
Pode acontecer que o empresário não lê com perfeição as informações que o mercado devolve para ele. Portanto, às vezes, entra em “estágio de crise”, mas não percebe. Resultado: a crise vai se avolumando de tamanho, produzindo os seus efeitos vários (econômicos, financeiros e/ou patrimoniais), até que o empresário acaba sendo levado ao próximo estágio: “o estágio de insolvência”.
Até o “estágio de insolvência”, será ainda possível salvar a vida do empresário. Por exemplo, através de um procedimento de recuperação judicial de empresas. Resolvendo o problema, o empresário retorna ao “estágio normal”. Nessa toada, o grande objetivo do Direito Concursal é evitar que o empresário chegue ao último estágio: o “estágio de falência”. 
A insolvência é uma situação de fato, o momento pré-falimentar, caracterizado pela prática de, pelo menos, um dos atos previstos no art. 94, da Lei nº 11.101/05. Já a falência é uma situação de direito, chancelada pelo Estado, reconhecida mediante sentença.
Além de representarem momentos distintos da atividade empresária, as expressões “falência” e “insolvência” denominam distintos processos concursais. A doutrina é unânime em entender a falência como um processo de execução coletiva porque concursal. Segue na mesma toada o processo de insolvência civil, como é mais conhecida a execução de quantia certa contra o devedor insolvente.
Trata-se de processos concursais, na medida em que – diferente do que ocorre na execução singular – nestes casos haverá, de um lado, o devedor e, do outro, todos os seus credores, disputando, em concurso, o patrimônio integral do devedor, visando obter a satisfação dos referidos créditos.
Entretanto, não se confundem, sendo diferenciados em dois aspectos principais:
a) quanto ao destinatário; e
b) quanto ao regime jurídico.
Quanto à utilização dos mecanismos de recuperação de empresas, tem-se que somente os empresários podem se beneficiar, na medida em que somente eles são titulares de empresa, para tentar evitar a declaração de suas falências. Já os médicos, por exemplo, caindo em desgraça ou ruína econômica, não terão a seu dispor instrumentos jurídicos equivalentes. Assim, não há mecanismo jurídico capaz de superar crises econômico-financeiras de quem não é empresário.
QUANTO À EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DO DEVEDOR, SE FOR NÃO EMPRESÁRIO, SERÁ NECESSÁRIO O PAGAMENTO DE TODOS OS CREDORES DO DEVEDOR, DECLARADO INSOLVENTE. OU SEJA, O INSOLVENTE SOMENTE SE LIBERTA DA INSOLVÊNCIA CIVIL DEPOIS DE PAGAR O ÚLTIMO CENTAVO PARA O ÚLTIMO DOS CREDORES. JÁ, NA FALÊNCIA, É POSSÍVEL EXTINGUIR AS OBRIGAÇÕES DO DEVEDOR, DECLARADO FALIDO, DESDE QUE SEJA VIÁVEL O PAGAMENTO DE UM MÍNIMO LEGAL DE CREDORES, SEM PRECISAR PAGAR TUDO OU A TODOS OS CREDORES.
Essa execução coletiva está submetida a regimes procedimentais diversos. Falência é a execução coletiva do empresário ou sociedade empresária insolvente, seus elementos caracterizadores e seu rito estão definidos na Lei 11.101/05, a chamada Lei de Falência e Recuperação de Empresas. Já a insolvência civil é a execução coletiva judicial das pessoas naturais que não sejam empresárias.
A) A insolvência jurídica empresarial
A insolvência jurídica empresarial é implementada na prática quando o empresário incide em um dos atos previstos no art. 94, da Lei 11.101/05. Tais atos, quando reconhecidos por sentença judicial, levarão o empresário ao estágio de falência. A recuperação de empresas existe, portanto, para evitar que o empresário venha a ser declarado falido, livrando-se da insolvência.
Frise-se, por oportuno: o art. 94, da Lei nº 11.101/05, é dividido em 3 incisos. Tais incisos apresentam atos e não “requisitos” para a caracterização da insolvência jurídica. Dessa forma, basta praticar: ou inciso I, ou o inciso II, ou ainda qualquer uma das alíneas do inciso III. 
A.1) Impontualidade injustificada
O primeiro ato de insolvência jurídica é a impontualidade injustificada. Será decretada a falência do devedor que, sem razão relevante de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse a quarenta salários mínimos na data do pedido de falência.
Necessita ser uma impontualidade injustificada, na medida em que podem existir, e existem, impontualidades que são justificáveis. Para esta hipótese, portanto, o devedor não tem argumento jurídico para sustentar a “situação de inadimplência”, contra ele alegada.
É preciso que se esteja diante de obrigações materializadas em títulos executáveis – um ou mais – de um só credor ou de vários credores. Admite-se, assim, tanto um credor instruir seu pedido de falência com vários títulos, quanto haver um litisconsórcio para atingir valor mínimo necessário.
O VALOR MÍNIMO DE MAIS DE 40 SALÁRIOS MÍNIMOS. TAL QUANTIA DEVE SER O VALOR NOMINAL PREVISTO NO TÍTULO, “SEM QUALQUER ACRÉSCIMO, SEJA DE CORREÇÃO, JUROS OU CUSTAS; E O VALOR DO SALÁRIO MÍNIMO A SER CONSIDERADO É O EXISTENTE NO MOMENTO DO AJUIZAMENTO DO FEITO”.
A inadimplência descrita anteriormente deverá ser comprovada mediante um protesto, o único meio de prova formal e solene admitido em direito para tal finalidade. NÃO SE CONFUNDEM O PROTESTO CAMBIÁRIO E O PROTESTO ESPECIAL. O PROTESTO CAMBIÁRIO TEM A FINALIDADE DE INTERROMPER O PRAZO PRESCRICIONAL PERANTE OS OBRIGADOS PRINCIPAIS E DE PERMITIR A COBRANÇA DOS OBRIGADOS SECUNDÁRIOS.POR SUA VEZ, O PROTESTO ESPECIAL TEM A FINALIDADE DE INSTRUIR O PEDIDO DE FALÊNCIA.
Não bastasse a divergência de objetivos de tais sistemáticas de protesto, eles divergem, ainda, quanto à sua formalização. Com efeito, enquanto se admite a teoria da aparência para o protesto cambiário, no protesto especial para fins falimentares, exige-se a identificação de quem efetivamente recebeu a notificação. Para a validade do protesto basta a entrega da notificação no estabelecimento do devedor e sua recepção por pessoa identificada.
Discute-se, na doutrina e na jurisprudência, acerca da necessidade do protesto especial. No âmbito da legislação anterior, o STJ firmou o entendimento segundo o qual “é prescindível o protesto especial para a formulação do pedido de falência”. Na mesma toada, o TJSP definiu: “O protesto comum dispensa o protesto especial para o requerimento de falência”.
Tal entendimento, parece-me, não ser sustentável perante a Lei nº 11.101/05, que deixa claro a necessidade do protesto especial para fins falimentares. Dessa forma, será preciso atenção acerca do que está sendo exigido em questões objetivas, preambulares ou de 1ª fase. A depender da exigência, a análise da alternativa muda.
Resumindo: 
I. Nos termos da Lei nº 11.101/05, o protesto especial é necessário;
II. Nos termos da doutrina e da jurisprudência, o protesto especial é desnecessário.
O protesto tirado contra o emitente do cheque é obrigatório para o fim de comprovar a impontualidade injustificada do devedor no procedimento de falência (art. 94, I, da Lei nº 11.101/2005) e deve ser realizado em até 6 meses contados do término do prazo de apresentação (prazo prescricional da ação cambial). STJ. 3ª Turma. REsp 1.249.866-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 6/10/2015 (Info 572).
A competência para lavrar o protesto especial para fins falimentares é do cartório do domicílio do devedor. Ou seja, o “principal estabelecimento” do devedor determina tanto a competência para declarar a sua falência, quanto a competência para tirar o protesto em nome do devedor. 
· DoD
O autor do pedido de falência não precisa demonstrar que existem indícios da insolvência ou da insuficiência patrimonial do devedor, bastando que a situação se enquadre em uma das hipóteses do art. 94 da Lei nº 11.101/2005.
Assim, independentemente de indícios ou provas de insuficiência patrimonial, é possível a decretação da quebra do devedor que não paga, sem relevante razão de direito, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência (art. 94, I, da Lei nº 11.101/2005).
STJ. 3ª Turma. REsp 1532154-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/10/2016 (Info 596).
Falência é o processo coletivo de execução forçada de um empresário ou sociedade empresária cuja recuperação mostra-se inviável.
A falência tem como objetivo reunir os credores e arrecadar os bens, ativos e recursos do falido a fim de que, com os recursos obtidos pela alienação de tais bens, possam os credores ser pagos, obedecendo a uma ordem de prioridade estabelecida na lei.
	I — PROCEDIMENTO PRÉ-FALIMENTAR
	II — PROCESSO FALIMENTAR
	O procedimento pré-falimentar vai do pedido de falência até a sentença do juiz.
Engloba, resumidamente, três atos principais:
1) pedido de falência;
2) resposta do devedor;
3) sentença.
Ao final desta fase, a sentença pode ser:
• denegatória: o processo se extingue sem a instauração da falência;
• declaratória: hipótese em que se iniciará o processo falimentar propriamente dito.
	O processo falimentar vai da sentença declaratória de falência até a sentença de encerramento.
É no processo falimentar propriamente dito que ocorre a verificação e habilitação dos créditos e o pagamento dos credores.
 
Impontualidade injustificada: para pedir a falência com base neste inciso não é necessário que o requerente tenha tentado executar o título. Não se revela como exigência para a decretação da quebra a execução prévia. Assim, é desnecessário o prévio ajuizamento de execução forçada para se requerer falência com fundamento na impontualidade do devedor STJ. 3ª Turma. REsp 1.354.776-MG, Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/8/2014 (Info 547).
A duplicata virtual protestada por indicação é título executivo apto a instruir pedido de falência com base na impontualidade do devedor. Logo, se o devedor não pagar uma duplicata virtual em valor superior a 40 salários-mínimos, é possível que seja decretada a sua falência STJ. 3ª Turma. REsp 1.354.776-MG, Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/8/2014 (Info 547).
Execução frustrada: Quando o devedor é executado por qualquer quantia líquida, mas não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal. A lei presume que o devedor, ao adotar esse comportamento na execução contra si proposta, demonstra estar insolvente. Para o legislador, o devedor praticou um “ato de falência”, ou seja, um ato de quem está em falência. Adotou-se neste inciso o chamado critério da enumeração legal.
Atos de falência: Quando o devedor pratica qualquer dos atos listados nas alíneas do inciso III do art. 94 da Lei nº 11.101/2005. Aqui a lei também presumiu que o devedor está falido pelo fato de ter praticado algum dos comportamentos descritos na lei. Assim, também se adotou neste inciso o chamado critério da enumeração legal.
O pedido de falência não pode servir como substituto de uma ação de cobrança, de modo que não é o inadimplemento de qualquer dívida que justifica o processamento do pedido. Nesse sentido: O pedido de falência não pode ser utilizado como simples substituto das vias executivas ordinárias. STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 949.576/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 05/08/2013)
O STJ já havia decidido em sentido semelhante, afirmando que existe uma diferença entre insolvência econômica e jurídica. O autor do pedido de falência precisa provar a insolvência jurídica do devedor (ou seja, que existe alguma das situações do art. 94), mas não é obrigado a demonstrar insolvência econômica.
Confira:
I. No pedido de falência é desnecessário que o requerente demonstre a insolvência econômica do devedor. Se ele não pagou a dívida e esta se enquadra na descrição dos incisos do art. 94, é possível fazer o pedido de falência independentemente da condição econômica real do empresário.
II. O pressuposto para a instauração de processo de falência é a insolvência jurídica, que é caracterizada a partir de situações objetivamente apontadas pelo ordenamento jurídico no art. 94 da Lei 11.101/2005: a impontualidade injustificada (inciso I), a execução frustrada (inciso II) e a prática de atos de falência (inciso III).
III. A insolvência que autoriza a decretação de falência é presumida, uma vez que a lei presume que o empresário individual ou a sociedade empresária que se encontram em uma das situações apontadas pela norma estão em estado pré-falimentar.
IV. É bem por isso que se mostra possível a decretação de falência independentemente de comprovação da insolvência econômica, ou mesmo depois de demonstrado que o patrimônio do devedor supera o valor de suas dívidas.
V. VERIFICA-SE, ASSIM, QUE A FALÊNCIA É DIFERENTE DA CHAMADA INSOLVÊNCIA CIVIL. O PRESSUPOSTO DA INSOLVÊNCIA CIVIL É A INSOLVÊNCIA ECONÔMICA (ART. 748 DO CPC), O QUE NÃO SE EXIGE NO CASO DA FALÊNCIA. STJ. 4ª Turma. REsp 1.433.652-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/9/2014 (Info 550.
 
Assim, o pedido de falência com fundamento na impontualidade do devedor não se confunde com a insolvência econômica, de modo que a apresentação de indícios da sua insuficiência patrimonial não é pressuposto para o seu deferimento.
A.2) Execução frustrada
A execução estará frustrada sempre que o devedor, sendo citado, não pagar, não nomear bens à penhora e não depositar a importância em juízo, no prazo legal. Nesta situação, suspende-se a ação de execução, na Vara Cível competente e, com base notítulo executivo e em certidão expedida pelo juízo em que se processa a execução, declarando que restou frustrada, o credor poderá requerer a falência.
Tal hipótese se caracteriza por uma ação de execução de qualquer valor cuja obrigação não foi solvida nem, de algum modo, garantida, comprovada a inadimplência mediante certidão da vara onde tramita a execução. 
Frise-se, por oportuno: esta hipótese de insolvência jurídica empresarial é cabível seja diante de ação de execução de título executivo extrajudicial, seja diante de pedido de cumprimento de sentença.
A.3) Atos de falência
Trata-se de atos elencados taxativamente pelo legislador em que se presume, por presunção absoluta, a insolvência jurídica do empresário. Aqui não se discutirá, portanto, inadimplência, haja vista a presunção de insolvência. 
Reconhecida a prática do ato mediante sentença o empresário estará falido, mesmo que, no caso concreto, não esteja inadimplente.
A menos que faça parte do plano de recuperação judicial, serão considerados atos de falência, ensejando o pedido e a decretação da falência do devedor que:
a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;
d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;
f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento; ou
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial.
B) Destinatários da lei nº 11.101/05
Tanto a falência ou a recuperação de empresas só poderão alcançar quem se enquadre juridicamente na noção de empresário. Frise-se, por oportuno: o empresário individual, a sociedade empresária e a empresa individual de responsabilidade limitada poderão se submeter à falência e à recuperação de empresas.
Por sua vez, o art. 966, parágrafo único, do Código Civil enumera as hipóteses em que o exercente da atividade econômica não será considerado empresário, não sendo a ele aplicável o direito falimentar. Ademais, o art. 982, parágrafo único, do Código Civil, determina que as sociedades anônimas sempre serão sociedades empresárias e as sociedades cooperativas sempre serão sociedades simples – por força de lei – independentemente do objeto social. Por final, os rurais e as associações que desenvolvem atividade futebolística em caráter habitual e profissional (em outros termos, os clubes de futebol) serão considerados empresários somente após o registro perante a Junta Comercial)
Quem se enquadrar como sociedade simples estará fora do âmbito de aplicação ou da hipótese de incidência do regime jurídico falimentar, não se submetendo, portanto, à Lei 11.101/05.
Art. 81. A decisão que decreta a falência da sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis também acarreta a falência destes, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos em relação à sociedade falida e, por isso, deverão ser citados para apresentar contestação, se assim o desejarem.
Art. 82-A. É vedada a extensão da falência ou de seus efeitos, no todo ou em parte, aos sócios de responsabilidade limitada, aos controladores e aos administradores da sociedade falida, admitida, contudo, a desconsideração da personalidade jurídica. 
· “Não empresários” sujeitos à falência
O primeiro caso de um não empresário vindo a falir é o caso dos sócios com responsabilidade ilimitada. Com efeito, sócio não é juridicamente caracterizado como empresário, portanto, é a sociedade e não o sócio quem deve ter a falência declarada. Porém, se o sócio tiver responsabilidade ilimitada, a falência da sociedade acarretará, também, a falência dos sócios.
É o que se tem para todos os sócios, tanto na sociedade em comum, quanto na sociedade em nome coletivo, bem como para os sócios comanditados na sociedade em comandita simples. Vão se sujeitar à falência tanto os sócios que fazem parte do contrato social por ocasião do decreto de quebra, quanto aqueles que se retiraram até dois anos. Os sócios anteriores só escapam da falência se as dívidas anteriores à sua saída estiverem solvidas até a data da decretação da falência.
Outro caso é o da falência do espólio: “não será decretada a falência do espólio após um ano da morte do devedor”. Ora, se não pode após um ano é porque até um ano da morte do devedor – necessariamente empresário individual – ainda é possível a decretação de falência do espólio.
Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei, não será decretada se o requerido provar:
§ 1º Não será decretada a falência de sociedade anônima após liquidado e partilhado seu ativo nem do espólio após 1 (um) ano da morte do devedor.
O efeito prático da decretação da falência do espólio é a suspensão do processo de inventário. Caberá, então, ao administrador judicial a realização de atos pendentes em relação aos direitos e obrigações da massa falida. O inventário só voltará a seguir o seu trâmite após o encerramento do processo de falência.
A última hipótese de um “não empresário” falindo é, na verdade, uma zona cinzenta. Trata-se das concessionárias de serviço público, que podem ter sua falência decretada e que o efeito de tal decisão é o de determinar a extinção do contrato de concessão. Desse modo, os bens reversíveis retornam ao estado para que este possa continuar o serviço público ou realizar nova concessão.
Art. 195. A decretação da falência das concessionárias de serviços públicos implica extinção da concessão, na forma da lei.
· Excluídos do regime falencial
Quando se fala em exclusão da falência é porque se está diante de um empresário que não se submeterá à falência. Vale dizer, o sujeito é empresário; porém, no momento de crise, a solução jurídica para ele não se encontrará na Lei nº 11.101/05, mas sim em legislação especial, extravagante.
A doutrina, ao examinar a legislação brasileira, aponta dois tipos de exclusão:
a) a exclusão total (perfeita ou absoluta); e
b) a exclusão parcial (imperfeita ou relativa).
Pela exclusão total, o empresário jamais entrará em crise, vale dizer, ele estará exercendo sua atividade com a garantia legal de não falir. Entende-se, então, que na exclusão total, de nenhum modo a legislação falimentar será aplicada. 
Porém, pode determinada legislação remeter o empresário de volta à Lei nº 11.101/05. Entende-se, então, que na exclusão parcial, de algum modo a legislação falimentar poderá vir a ser aplicada.
O art. 2º, I, da Lei de Falências, apresenta aqueles que estão submetidos ao regime da exclusão total. São eles: a empresa pública e a sociedade de economia mista. 
Já o inciso II do art. 2º, da Lei 11.101/05, indica quem está submetido ao regime da exclusão parcial. São eles: instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.
Repise-se, por oportuno: eles serão regulamentados por uma lei especial; porém, esta lei determina em alguns momentos que a solução jurídica haverá de ser dada via decretação de falências.
Exclusão parcial das operadoras de planos de saúde: diante de uma crise econômico-financeira de uma operadora de plano de saúde, deve-se promover a sua liquidaçãoextrajudicial perante a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
A ANS, então, nomeará um liquidante que irá conduzir o referido processo de liquidação extrajudicial. Caberá ao liquidante da ANS requerer a falência de uma operadora de plano de saúde:
· o ativo da massa liquidanda não for suficiente para o pagamento de pelo menos a metade dos créditos quirografários;
· o ativo realizável da massa liquidanda não for suficiente, sequer, para o pagamento das despesas administrativas e operacionais inerentes ao regular processamento da liquidação extrajudicial; ou
· nas hipóteses de fundados indícios de crimes falimentares.
Exclusão parcial das instituições financeiras (Lei nº 6.024/74): caso a instituição financeira esteja em exercício regular, poderá falir a pedido do credor como qualquer empresário. Porém, acaso esteja passando por intervenção ou liquidação extrajudicial, perante o Banco Central (BACEN), somente o interventor ou o liquidante, a depender do caso concreto, é que poderão requerer a falência de uma instituição financeira.
No âmbito do processo de intervenção, à vista do relatório ou de proposta do interventor, o BACEN poderá autorizar o interventor a requerer a falência da sociedade, quando o seu ativo não for suficiente para cobrir sequer metade do valor dos créditos quirografários, ou quando julgada inconveniente a liquidação extrajudicial, ou quando a complexidade dos negócios da instituição ou quando a gravidade dos fatos apurados aconselharem a medida.
As entidades fechadas são acessíveis a grupos determinados de pessoas e são constituídas, sob a forma de fundação ou sociedade civil, sem fins lucrativos. Frise-se, por oportuno, que as entidades fechadas de previdência complementar não se submetem à Lei 11.101/05; não porque estejam excluídas do sistema falimentar, mas porque efetivamente não se trata de sociedades empresárias. As entidades abertas, por sua vez, são acessíveis a quaisquer pessoas físicas e serão constituídas unicamente sob a forma de sociedade anônima.
As entidades abertas, porém, submetem-se ao mesmo sistema de exclusão previsto para as sociedades seguradoras, submetendo-se, nos mesmos moldes, ao art. 26 do Decreto-lei nº 73/6662. Com efeito, caberá o requerimento de falência a ser feito pelo liquidante da SUSEP:
a) se decretada a liquidação extrajudicial, o ativo não for suficiente para o pagamento de pelo menos a metade dos credores quirografários; e
b) quando houver fundados indícios da ocorrência de crime falimentar.
Por final, é imprescindível notar que enquanto para a falência a exclusão pode ser total ou parcial, para a recuperação judicial a exclusão sempre será total. Ou seja, ou o sujeito poderá sempre, ou poderá nunca, promover sua recuperação judicial. Assim, todos aqueles que se encontram mencionados no art. 2º, da Lei 11.101/05, estarão excluídos totalmente da recuperação judicial. E, como se viu, a exclusão total está prevista no art. 2º, I, prevendo o inciso II do art. 2º, a exclusão parcial. Nestes moldes, é válido afirmar, por exemplo, que as empresas públicas estão excluídas totalmente da falência e da recuperação judicial e que as instituições financeiras estão excluídas parcialmente da falência e totalmente da recuperação judicial.
· Ponto de jurisprudência (DoD)
O art. 2º, II, da Lei nº 11.101/2005, afirma que esta Lei não se aplica a cooperativa de crédito.
Existe, porém, regra específica na Lei nº 6.024/74 prevendo que as instituições financeiras e equiparadas (como as cooperativas de crédito) podem ir à falência após liquidação extrajudicial pelo Banco Central. Essa possibilidade foi reafirmada pela Lei nº 13.506/2017, que alterou a Lei nº 6.024/74.
Desse modo, a doutrina, ao interpretar o art. 2º, II, da Lei nº 11.101/2005 afirma que as instituições financeiras e cooperativas de crédito apenas não ingressam, de imediato, no processo judicial de execução coletiva empresarial, passando antes por intervenção e liquidação extrajudicial. STJ. 3ª Turma. REsp 1878653-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 14/12/2021 (Info 722).
A Lei nº 13.506/2017 é posterior à Lei nº 11.101/2005. Ademais, o art. 197 da Lei nº 11.101/2005 autoriza, de modo expresso, a aplicação subsidiária de suas disposições, no que couber, ao regime previsto na Lei nº 6.024/74. 
C) Falência
C.1) Princípios informadores da Lei nº 11.101/05
C.1.1) Preservação da empresa
Em razão de sua função social, a empresa deve ser preservada sempre que possível, pois gera riqueza econômica e cria emprego e renda, contribuindo para o crescimento e o desenvolvimento social do País. 
C.1.2) Recuperação das sociedades e empresários recuperáveis
Sempre que for possível a manutenção da estrutura organizacional ou societária, ainda que com modificações, o Estado deve dar instrumentos e condições para que a empresa se recupere, estimulando, assim, a atividade empresarial.
C.1.3) Proteção aos trabalhadores
Os trabalhadores, por terem como único ou principal bem sua força de trabalho, devem ser protegidos, não só com precedência no recebimento de seus créditos na falência e na recuperação judicial, mas com instrumentos que, por preservarem a empresa, preservam também seus empregos e criam novas oportunidades para a grande massa de desempregados.
C.1.4) Celeridade e eficiência dos processos judiciais
É preciso que as normas procedimentais na falência e na recuperação de empresas sejam, na medida do possível, simples, conferindo-se celeridade e eficiência ao processo e reduzindo-se a burocracia que atravanca seu curso.
Com o advento da reforma da Lei nº 11.101/05, promovida pela Lei nº 14.112/20, o processo de falência, também, deverá atender “aos princípios da celeridade e da economia processual, sem prejuízo do contraditório, da ampla defesa” e dos demais princípios previstos no CPC.
C.2) Finalidades
A Lei de Recuperação de Empresas e Falência visa o atendimento de duas finalidades:
a) o afastamento do devedor; e
b) a preservação da empresa.
Deve-se separar a sorte do empresário (sujeito) da sorte da empresa (atividade). Dessa forma, diferentemente do que ocorre na recuperação judicial, em que a priori o empresário em recuperação permanece administrando a sua empresa, na falência, o devedor será sempre afastado.
Com o advento da Reforma da legislação falimentar, promovida pela Lei nº 14.112/20, as duas finalidades anteriormente descritas se transformaram no inciso I, do art. 75, da Lei nº 11.101/05, que ganhou dois novos incisos, ou seja, duas novas finalidades: 
a) permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas à realocação eficiente de recursos na economia; e 
b) fomentar o empreendedorismo, inclusive, por meio da viabilização do retorno célere do empreendedor falido à atividade econômica.
Cabe notar que não são todas as empresas que merecem ser preservadas, mas, sim, somente aquelas que tiverem “função social”. Do contrário, merecem ser encerradas o mais rapidamente possível, para o bem e para o bom funcionamento do mercado.
É sensível à esta questão que a Lei nº 11.101/05 insere o princípio da preservação da empresa como também aplicável ao processo de falência. Com efeito, do fato de preservar os ativos do falido, segue-se a necessidade de o juiz se manifestar sobre a continuidade provisória das atividades ou a lacração dos estabelecimentos. A regra, em tese, será a decretação da falência com a continuidade provisória das atividades, só havendo a necessidade de lacração na forma do art. 109, da Lei nº 11.101/05.
Ao deixar aberto funcionando, preserva-se o valor patrimônio da empresa para a época dos leilões da falência. Com efeito, é nesta etapa, a da realização dos ativos, que se vislumbra a aplicação prática da preservação da empresa no processo de falência. Resta estabelecida uma ordem preferencial de realização dos ativos.
Perceba que o legislador, neste momento, comete uma atecnia para ser didático ao mencionar que a realização dos ativos se dará através da “alienação da empresa”. Dessa forma, preserva-se a empresa na falência vendendo-a, transferindo-apara outros empresários, menos picaretas, que justamente pela ausência de picaretagem ainda permanecem no mercado.
Mas o que adianta preservar vendendo se não tem quem compre? Sensível a tal questionamento, o legislador estabeleceu aquele que talvez seja a grande diferença do processo de falência anterior para o atual: a não sucessão no trespasse ou nos leilões da falência. Hoje, o arrematante adquire, nas realizações de ativo, livre de quaisquer ônus. As eventuais hipotecas são revogadas para efeito de leilão, por exemplo. Além disso, ele não responderá por nenhum débito anterior, nem tributário, nem trabalhista e nem acidente de trabalho.
Por fim, é importante notar a mudança de perspectiva na compreensão jurídica da falência, com o advento da Lei nº 14.112/20. Com efeito, é preciso que se retire qualquer contexto pejorativo da situação falimentar, passando a ser vista como um mero fato da economia. Não pode mais a falência ser vista como uma execução específica porque concursal, nem o falido ser visto quase que como um criminoso. Por isso, a falência deve passar a ser encarada como “mecanismo de preservação de benefícios econômicos e sociais decorrentes da atividade empresarial, por meio da liquidação imediata do devedor e da rápida realocação útil de ativos na economia”.
C.3) Pressupostos da falência
Pressupostos da falência:
1. Pressuposto material-subjetivo: o devedor;
2. Pressuposto material-objetivo: a insolvência jurídica empresarial; e
3. Pressuposto formal: a sentença declaratória.
· Pressuposto material-subjetivo
O pressuposto material-subjetivo vai identificar justamente aquele contra quem vai ser direcionado um pedido de falência: o devedor. 
Qualquer devedor pode falir? A resposta deve ser negativa, na medida em que a falência é para quem se enquadre como empresário. Qualquer empresário pode falir? A resposta continua negativa porque existem empresários excluídos do regime falencial. Tirando os empresários excluídos, somente empresários podem falir? A resposta permanece negativa, sendo certo existirem “não empresários” que, por disposição legal expressa, podem ter sua falência decretada: os sócios com responsabilidade limitada, o espólio e as concessionárias de serviço público.
· Pressuposto material-objetivo
No plano do pressuposto material-objetivo, encontram-se os atos e/ou fatos que o empresário deve se abster ao máximo de praticá-los. No dia em que vier a praticar um destes atos, o empresário não estará falido, ainda. Assumirá a condição de insolvente, a situação pré-falimentar necessária para se chegar ao estágio de falência.
Portanto, o pressuposto material-objetivo é reconhecido na insolvência jurídica empresarial. 
São atos de insolvência jurídica:
a) a impontualidade injustificada;
b) a execução frustrada; e
c) os atos de falência.
· Pressuposto formal
Tendo o pressuposto material-subjetivo praticado o pressuposto material-objetivo, ainda não se poderá falar de falência. Frise-se, por oportuno: a falência é um conceito jurídico. É uma situação de direito que, em razão disso, deve receber a chancela estatal. Dessa forma, é preciso que se reconheça a ocorrência dos pressupostos anteriormente mencionados.
Como a falência é um processo, tal reconhecimento se dará mediante uma sentença: a sentença declaratória de falência. 
C.4) Competência
O juízo competente para decretar a falência é o foro do local do principal estabelecimento do devedor, ou, em se tratando de empresa estrangeira, no foro de sua filial. 
Preliminarmente, é preciso perceber que não se confundem os conceitos de principal estabelecimento para fins falimentares e de sede contratual ou estatutária. Desse modo, é preciso perceber que o principal estabelecimento do devedor para fins falimentares pode efetivamente não ser o da sua sede. 
Para a doutrina, o principal estabelecimento é aquele – sede ou filial – do ponto de vista econômico. Sabendo que a crise econômica é a crise do volume de negócios, o principal estabelecimento será aquele que proporcionar o maior volume de negócios para a empresa (art. 3º da Lei nº 11.101/05). 
O STJ entende que a competência do juízo falimentar é absoluta, em razão da matéria. Assim, não cabe prorrogação de competência e, em termos de defesa do réu, aludida incompetência deverá ser alegada em sede de preliminar de contestação. 
São características peculiares: a) a unidade do juízo falimentar; b) a indivisibilidade do juízo falimentar; e c) a universalidade do juízo falimentar. A unidade diz respeito à comarca; a indivisibilidade diz respeito à vara ou unidade judiciária. Por fim, a universalidade do juízo diz respeito à força atrativa (vis atractiva) da falência.
Em tese, todas as ações judiciais que versem sobre bens, negócios e interesses do falido serão atraídas para o juízo falimentar, respeitadas as seguintes exceções:
A) AÇÃO QUE DEMANDAR QUANTIA ILÍQUIDA;
B) AÇÃO DE NATUREZA TRABALHISTA;
C) AÇÃO DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL;
D) AÇÃO DE NATUREZA FISCAL OU TRIBUTÁRIA;
E) AÇÃO NÃO PREVISTA NA LEI Nº 11.101/05 EM QUE O FALIDO ESTEJA NO POLO ATIVO.
Art. 76. O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo.
Dentro do contexto da competência, é importante observar que a reforma promovida pela Lei nº 14.112/20 trouxe normas que tratam da denominada insolvência transnacional, inseridas nos arts. 167-A até 167-Y da Lei nº 11.101/05. A globalização e os consequentes litígios transnacionais incentivaram a utilização do denominado fórum shopping. Consiste na prática de escolher a jurisdição mais favorável ao demandante, sempre que houver competências internacionais concorrentes.
Apesar da necessidade de se aplicar o princípio pars conditio creditorum também no contexto da insolvência transnacional, é válido afirmar que os créditos tributários e de penalidades administrativas ou penas devidas a Estados estrangeiros não serão considerados na recuperação judicial e serão subordinados na falência. Da mesma forma, o crédito do representante estrangeiro fica equiparado ao do administrador judicial.
Após o reconhecimento de um processo estrangeiro principal, só poderá ser instaurado processo da Lei nº 11.101/05 no Brasil se o devedor tiver bens ou estabelecimentos no país. Por sua vez, deverá haver cooperação e coordenação sempre que estiverem em curso simultâneo um processo estrangeiro e um processo nacional. Na ausência de prova em contrário, presume-se a insolvência do devedor cujo processo estrangeiro principal não tenha sido reconhecido no Brasil.
C.5) Fases do processo de falência
O processo de falência é dividido em três fases:
a) a fase pré-falimentar – caracterizada pela apresentação do pedido de falência e pela comprovação processual dos seus pressupostos;
b) a fase falimentar – caracterizada por ser o momento em que, decretada a falência, ocorre o concurso de credores, o processo de falência propriamente dito; e
c) a fase pós-falimentar – caracterizada por ser o momento em que, após o encerramento do processo de falência, o empresário falido buscará a sua reabilitação.
C.5.1) A fase pré-falimentar
A fase pré-falimentar é a fase inicial. É o momento em que alguém vai ao Judiciário requerer a falência. Nesta ocasião, verifica-se: a) quem pode falir; b) quem pode requerer a falência; e c) por quais motivos podem ser requerida uma falência.
A LEI ESTABELECE UM ROL TAXATIVO DOS LEGITIMADOS AO REQUERIMENTO DE FALÊNCIA:
A) O PRÓPRIO DEVEDOR;
B) O CÔNJUGE SOBREVIVENTE, QUALQUER HERDEIRO DO DEVEDOR OU O INVENTARIANTE;
C) O COTISTA OU O ACIONISTA DO DEVEDOR NA FORMA DA LEI OU DO ATO CONSTITUTIVO DA SOCIEDADE; E
D) QUALQUER CREDOR.
No que se refere ao credor legitimado, devem ser ressaltados alguns pontos:
a) o credor empresário precisa comprovar a sua regularidade;
b) o credor que tiver domicílio fora do país deve prestar caução relativa às custas e ao pagamento de indenizaçãopor requerimento doloso;
c) a Fazenda Pública não poderá requerer a falência do devedor empresário por tributo não pago.
Para que o pedido de falência venha a ser julgado procedente, é preciso que o empresário venha a ter praticado um dos atos de insolvência jurídica.
Há dois procedimentos pelos quais pode percorrer a fase pré-falimentar. Por regra, o pedido de falência haverá de ser feito pelo credor. Porém, pode o devedor, ou alguém em seu lugar, ir ao Judiciário requerer a própria falência, denominado autofalência. 
A pedido do credor, tudo começa na petição inicial em que ele deverá demonstrar que o seu devedor está sujeito ao regime jurídico falimentar, tendo sido praticado por este um dos atos de insolvência jurídica empresarial. Estando tudo nos termos da lei, o devedor será citado para que no prazo de dez dias venha apresentar resposta.
Alternativa ou cumulativamente, o devedor poderá:
a) apresentar contestação;
b) realizar depósito elisivo; e/ou
c) pleitear sua recuperação judicial.
Sobre a contestação, não há diferença entre a contestação no processo civil e a no processo de falência. 
Depósito elisivo é aquele realizado pelo devedor com o objetivo de evitar a decretação da falência. O quantum do depósito é o valor atualizado do crédito, com juros, multa, correção monetária e honorários de advogado. O depósito elisivo deve ser feito em dinheiro, de uma vez só, no prazo e no momento da contestação e SÓ SERÁ CABÍVEL QUANDO O PEDIDO DE FALÊNCIA TIVER COMO FUNDAMENTO A IMPONTUALIDADE INJUSTIFICADA OU A EXECUÇÃO FRUSTRADA.
Em seguida, o processo se desenrolará nos termos do procedimento comum, previsto no CPC, até se chegar na sentença, que poderá ser declaratória – quando se der a procedência do pedido de falência, ou denegatória – quando for o caso de improcedência do pedido. DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DE FALÊNCIA CABE AGRAVO DE INSTRUMENTO E DA SENTENÇA DENEGATÓRIA CABE APELAÇÃO.
De outro lado, o pedido de autofalência é feito pelo próprio devedor. Estando tudo em ordem, em face do teor confessional da insolvência jurídica do empresário, o juiz declarará, por sentença, a falência. Faltando algum dos requisitos, o juiz determinará a emenda do pedido, sob pena de inépcia. Vê se aqui um procedimento de jurisdição voluntária.
C.5.2) A fase falimentar
É o momento em que, verdadeiramente, ocorre o concurso de credores.
A fase falimentar é dividida em duas etapas:
a) a administração judicial – de natureza cognitiva, vale dizer é o momento de se tomar conhecimento do patrimônio do falido; e
b) a liquidação judicial – de natureza satisfativa, isto é, é o momento de satisfazer os credores.
Seus bens e direitos serão conhecidos mediante o procedimento de arrecadação e custódia de bens, a cargo do administrador judicial. Cabe ao administrador judicial arrecadar tudo o que esteja com o falido, seja dele ou não, bem como tudo aquilo que é do falido, mas que esteja em poder de terceiro. Em verdade, somente os bens absolutamente impenhoráveis não estarão sujeitos à arrecadação.
É importante ressaltar, com base no princípio da preservação da empresa, que, por regra, a arrecadação deve ocorrer sem que seja feita a lacração dos estabelecimentos do falido. Com efeito, só haverá lacração se houver risco para a execução da etapa de arrecadação ou para preservação dos bens da massa falida ou dos interesses dos credores.
Na etapa de arrecadação, os bens poderão ser removidos, em razão de uma melhor guarda e conservação, permanecendo em depósito sob responsabilidade do administrador judicial. O juiz poderá autorizar os credores a adquirir ou adjudicar os bens arrecadados, pelo valor de avaliação, ouvido o comitê, podendo os bens perecíveis, deterioráveis, de conservação arriscada ou dispendiosa, ou de considerável desvalorização, serem vendidos antecipadamente, ouvidos o Comitê e o falido, no prazo de 48 horas.
Não se pode deixar de notar, ainda na arrecadação, a possibilidade dada ao administrador judicial de produzir renda para a massa falida, celebrando contratos de locação, arrendamento, dentre outros, com os bens arrecadados. Acerca de tais contratos, vale ressaltar que não haverá direito de preferência na compra do bem objeto do contrato e que o mesmo poderá ser rescindido sem direito a multa.
Não sendo encontrados bens a serem arrecadados, ou se esses forem insuficientes para cobrir as despesas do processo, o administrador judicial informará imediatamente o juiz que, após ouvir o MP, abrirá prazo de 10 dias, por meio de edital para manifestação dos interessados. Se os credores quiserem prosseguir com o processo de falência deverão custear as despesas essenciais. Não havendo manifestação, o administrador judicial venderá o que tiver sido arrecadado no prazo máximo de 30 dias para bens móveis e de 60 dias para bens imóveis, com o que o juiz, por sentença, encerrará antecipadamente a falência.
Por sua vez, o conhecimento do passivo do empresário falido se dará mediante o procedimento de verificação e habilitação de crédito, culminando no quadro geral de credores. 
No âmbito da liquidação judicial, por sua vez, ocorrerá a realização do ativo para o pagamento do passivo. Com o advento da Lei nº 11.101/05, a realização do ativo poderá ocorrer tão logo se dê a arrecadação, independente, portanto, da definição do quadro geral de credores. “Trata-se de um vende e paga, vende e paga, vende e paga, até não ter mais o que vender ou até não ter mais a quem pagar.”
A lei estabelece uma ordem de preferência para a realização do ativo:
a) a alienação da empresa, com a venda em bloco dos estabelecimentos;
b) a alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas isoladamente;
c) a alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos; e
d) a alienação dos bens individualmente considerados.
Tal ordem poderá ser alterada, se for da conveniência.
Feita a alienação, o objeto estará livre de ônus, não havendo sucessão do arrematante nas obrigações do falido, inclusive as de natureza tributária, trabalhista e de acidente de trabalho, constituindo-se novos contratos de trabalho entre o arrematante e os empregados do devedor que continuarem na empresa.
A alienação de bens dar-se-á por uma das seguintes modalidades: (i) leilão eletrônico, presencial ou híbrido; (ii) processo competitivo organizado promovido por agente especializado e de reputação ilibada; e (iii) qualquer outra modalidade, aprovada nos termos da Lei nº 11.101/05.
A realização dos ativos ocorrerá independentemente de a conjuntura de mercado ser ou não favorável, bem como da consolidação do quadro geral de credores. Poderá contar com serviços de terceiros como consultores, corretores e leiloeiros, não estando sujeito à aplicação do conceito de preço vil e deverá ocorrer no prazo máximo de 180 dias, contados da lavratura do auto de arrecadação.
Frustrada a tentativa de venda dos bens da massa falida e não havendo proposta concreta dos credores para assumi-los, os bens serão considerados em valor de mercado e serão destinados à doação, ou devolvidos ao falido. Chegando ao momento em que não há mais o que vender ou a quem pagar, o processo de falência deverá ser extinto pelo juiz, mediante sentença.
Porém, a lei condiciona a sentença de encerramento processual da falência a dois requisitos:
a) a apresentação e aprovação, em autos apartados, das contas do administrador judicial; e
b) a apresentação, nos autos principais, pelo administrador judicial que teve as contas aprovadas, do relatório final da falência.
Resumindo: O objetivo da fase falimentar é arrecadar bens.
Caso se verifique que não há ativos suficientes para dar prosseguimento ao processo falimentar: Chamada de falência frustrada.
· Juiz ouvirá MP e, por edital, estabelecerá prazo de 10 dias para interessados se manifestarem.
· Um ou mais credores poderão requerer o prosseguimento da falência, desde que paguem a quantia necessária às despesas e aos honorários do administrador judicial, que serão considerados despesas essenciais.
· Decorrido o prazo (de 10 dias) sem manifestação,o administrador judicial promoverá a venda dos bens arrecadados.
Venda dos bens:
·   Venda dos bens móveis: 30 dias.
· Venda dos bens imóveis: 60 dias.
Proferida a decisão, a falência será encerrada pelo juiz nos autos.
C.5.3) A fase pós-falimentar
A fase pós-falimentar é a fase de extinção das obrigações do falido.
Encerrado o processo de falência, as obrigações do falido serão consideradas extintas com:
a) o pagamento de todos os credores;
b) o pagamento de mais de vinte e cinco por cento dos créditos quirografários;
c) o decurso do prazo de três anos, contados da decretação da falência, ressalvada a utilização dos bens arrecadados anteriormente, que serão destinados à liquidação para a satisfação dos credores habilitados ou com pedido de reserva realizado; e
d) o encerramento da falência, de maneira antecipada (art. 114-A), ou seguindo o seu curso normal (art. 156).
Para tanto, faz-se necessário que o falido apresente um requerimento ao juízo da falência, um pedido nos próprios autos, visando que suas obrigações sejam declaradas extintas por sentença. Publicado por edital o requerimento, pela secretaria do juízo, após o que, no prazo comum de 5 dias, qualquer credor, o administrador judicial e o MP poderão se manifestar para apontar inconsistências formais e objetivas. Findo o prazo mencionado, o juiz, em 15 dias, proferirá sentença, declarando extintas todas as obrigações do falido, inclusive as de natureza trabalhista. 
C.5.4) Quadro geral de credores
O QGC implementa, na prática, o princípio pars conditio creditorum, ou seja, é a ordem legal de pagamento dos credores. Os credores estão hierarquizados no QGC segundo o grau de importância ou relevância. Dessa forma, não interessa o vencimento para a definição da categoria de créditos.
O administrador judicial é o responsável pela consolidação do quadro geral de credores, que será homologado pelo juiz. 
Os créditos extraconcursais têm em comum o fato de, em regra geral, terem a sua origem a partir da data da emissão ou da assinatura do contrato, e não a data do vencimento, posterior à decretação da falência. Trata-se de créditos constituídos perante a massa falida que, em larga medida, guardam relação com o princípio da preservação da empresa. São inseridos no QGC mediante simples inscrição feita pelo administrador judicial.
São créditos extraconcursais e, portanto, pagos com preferência aos créditos concursais, na ordem a seguir:
a) quantias referidas nos arts. 150 e 151;
b) valor entregue ao devedor pelo financiador da recuperação judicial (“DIP Finance”);
c) importâncias passíveis de restituição (em R$);
d) remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, reembolsos devidos a membros do comitê de credores, e créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência;
e) obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial ou após a decretação da falência;
f) quantias fornecidas à massa pelos credores;
g) despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu produto, bem como custas do processo de falência;
h) custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida; e
i) tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida para os créditos concursais.
Os créditos concursais são aqueles que têm origem anterior à decretação da falência. À exceção dos créditos tributários, necessitam passar por procedimento de verificação e habilitação de créditos para serem inseridos no quadro geral de credores.
1st. A primeira classe de credores é representada pelos créditos derivados da legislação do trabalho, no montante de até cento e cinquenta salários mínimos por empregado (o excedente será considerado quirografário), e os decorrentes de acidente de trabalho. Para o crédito decorrente de acidente de trabalho, não há limite para a preferência. Da mesma forma, os créditos relativos ao FGTS gozam dos mesmos privilégios atribuídos aos créditos trabalhistas.
2nd. Créditos com garantia real, no limite do valor do bem gravado. O valor em excesso será considerado crédito quirografário. São os casos de créditos garantidos mediante penhor, hipoteca ou anticrese. Frise-se, por oportuno: os credores de alienação fiduciária em garantia não se habilitam, tendo a seu dispor a ação de restituição.
3rd. Tributos que tenham fato gerador anterior à decretação da falência. Os tributos com fato gerador posterior são créditos extraconcursais e as multas tributárias têm classificação própria.
4th. Os créditos com privilégio especial são aqueles que, em razão de inadimplência, passam a ter bens específicos a ele vinculados. Estão previstos no art. 964, do Código Civil, regra geral. Outras legislações podem estabelecer o privilégio especial, como é o caso, por exemplo das notas de crédito industrial.
5th. Já os créditos de privilégio geral são aqueles em que se determina um privilégio de recebimento em face do patrimônio livre e desembaraçado. Estão previstos no art. 965, do Código Civil. 
Apesar de os créditos com privilégio geral ou especial ainda existirem na legislação, eles deixaram de ser uma classe específica de créditos no processo de falência, passando à condição de crédito quirografário.
Os créditos que não têm classificação específica devem ser considerados créditos quirografários. Além disso, o excedente dos créditos trabalhistas e dos créditos não cobertos pelos bens vinculados ao seu pagamento, também, serão considerados como créditos quirografários.
Perceba-se, por oportuno, que os créditos quirografários, ao contrário do que comumente se diz, não são os últimos créditos no processo de falência. Abaixo deles, existe tanto os créditos subquirografários – as multas contratuais e por infração legal, inclusive as multas tributárias, quanto os créditos subordinados – assim definidos em lei ou em contrato e que serve de exemplo os créditos de sócios e dos administradores. Com a reforma da Lei nº 11.101/05, promovida pela Lei nº 14.112/20, os juros vencidos após a decretação da falência ganharam o status de crédito concursal.
Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:
I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e aqueles decorrentes de acidentes de trabalho;   
II - os créditos gravados com direito real de garantia até o limite do valor do bem gravado;       
III - os créditos tributários, independentemente da sua natureza e do tempo de constituição, exceto os créditos extraconcursais e as multas tributárias;  
VI - os créditos quirografários, a saber:       
a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento; e       
c) os saldos dos créditos derivados da legislação trabalhista que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;        
VII - as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, incluídas as multas tributárias;       
VIII - os créditos subordinados, a saber:         
a) os previstos em lei ou em contrato; e         
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício cuja contratação não tenha observado as condições estritamente comutativas e as práticas de mercado;        
IX - os juros vencidos após a decretação da falência, conforme previsto no art. 124 desta Lei.        
· A ordem de pagamentos no processo de falência
É importante considerar que não se confundem a ordem de pagamentos no processo de falência e a ordem de pagamentos na recuperação judicial. Com efeito, a ordem de pagamentos na recuperação judicial tem natureza contratual, ou seja, é o plano de recuperação judicial, e não a lei, que define a ordem de pagamento dos seus credores. Diferentemente, é o previsto para o processo de falência.Na falência, há uma verdadeira ordem legal de pagamentos a ser seguida para a satisfação dos credores:
1st. Compensação;
2nd. Créditos assumidos no âmbito de câmaras de compensação e liquidação;
3rd. Antecipação de despesas em virtude da administração da falência;
4th. Antecipação de créditos trabalhistas: atende-se aos trabalhistas prioritários, devendo ser pago para cada empregado, em relação aos 3 meses anteriores à decretação da falência, a quantia de até 5 salários, com referência aos créditos de natureza estritamente salariais.
5th. Créditos extraconcursais; e 
6th. Créditos concursais.
Tendo sido praticado o fato gerador antes da decretação da falência, mesmo que o lançamento ocorra em momento posterior à quebra, tal tributo será concursal, na medida em que o empresário é quem praticou o fato gerador. Porém, se a prática do fato gerador já se deu após a decretação da falência, a conclusão é a de que a própria massa falida teria praticado tal fato gerador, dando ensejo ao tributo extraconcursal.
Súmula nº 192/STF: “Não se inclui no crédito habilitado em falência a multa fiscal com efeito de pena administrativa”.
Súmula nº 565/STF: “A multa fiscal moratória constitui pena administrativa, não se incluindo no crédito habilitado em falência”.
Porém, desde 2013, o STJ vem entendendo ser possível exigir, no processo de falência tanto os créditos tributários – decorrentes de multa – ocorridos posteriormente ao decreto de quebra, quanto às multas tributárias com fato gerador anterior:
Natureza dos honorários advocatícios: é de natureza alimentícia dos honorários, equiparando-se aos créditos trabalhistas. 
Deve-se entender pela viabilidade da cessão de créditos já devidamente habilitados no QGC, na medida em que não existe proibição legal. E mais: o cessionário, regra geral, assume a mesma posição que o cedente originalmente tinha. 
§ 4º Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários. (Revogado pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
C.5.5) A ação de restituição
Quando da arrecadação, é possível e viável que o administrador judicial venha a arrecadar algo dentre dinheiro, bens e direitos que não seja do empresário declarado falido. Neste contexto, o titular deste objeto, que veio a ser arrecadado em falência de outrem, pode promover a presente medida judicial, visando resgatá-lo. 
A legislação indica os casos em que se poderá promover a ação de restituição. Fora de tais hipóteses, se houver bem arrecadado em processo de falência, a medida judicial cabível são os embargos de terceiro (exemplo clássico: medida judicial para proteger a meação do cônjuge, arrecadada no processo de falência).
Fundamento ordinário da ação de restituição: salvaguardar o direito de propriedade. Trata-se do caso do proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou que se encontre em poder do devedor na data da decretação da falência. 
Súmula 417 do STF: “pode ser objeto de ação de restituição, na falência, dinheiro em poder do falido, recebido em nome de outrem, ou do qual, por lei ou contrato, não tivesse ele a disponibilidade”. Apesar de tal súmula, a jurisprudência consolidada do STJ determina não caber ação de restituição em favor do correntista, diante da falência do banco, cabendo-lhe tão somente a habilitação do seu crédito.
Fundamento extraordinário da ação de restituição: visa evitar a denominada falência em cascata. Trata-se do caso da coisa vendida a crédito e entregue ao devedor nos quinze dias anteriores ao requerimento de sua falência, se ainda não alienada. Do contrário, inexistente tal hipótese, ao vendedor não restaria outra alternativa senão a habilitação de seu crédito na condição de crédito quirografário.
Existem, ainda, dois fundamentos especiais para a ação de restituição. Trata-se dos casos: (i) da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação; (ii) dos valores entregues ao devedor pelo contratante de boa-fé na hipótese de revogação ou ineficácia do contrato, ou seja, diante de procedência da Ação Revocatória; e (iii) de tributos passíveis de retenção na fonte, descontos de terceiros ou de sub-rogação e valores recebidos pelos agentes arrecadadores e não recolhidos às Fazendas Públicas.
Trata-se de uma ação distribuída por dependência ao processo de falência, autuando-se em separado.
Nesta ação, não há citação, inobstante seja uma ação promovida perante a massa falida.
É imprescindível a descrição da coisa reclamada, objeto da restituição, e deverá ser fundamentado. É necessária tal descrição tendo em vista que o pedido de restituição suspende a disponibilidade da coisa até o trânsito em julgado. 
O juiz, ao receber o pedido inicial, mandará intimar o falido, o Comitê, os credores e o administrador judicial. Tais pessoas terão o prazo comum e sucessivo de cinco dias para se manifestarem sobre o pedido de restituição. Qualquer manifestação contrária à Ação de Restituição terá o efeito de contestação.
É importante destacar, ainda, que caso o autor pretenda receber o bem ou a quantia reclamada antes do trânsito em julgado da sentença, ele deverá prestar caução. Caso seja procedente o pedido, o juiz determina que a coisa seja entregue no prazo de 48 horas, inclusive com astreintes. Porém, na hipótese de improcedência, cabe ao juiz determinar, se for o caso, a inclusão do requerente no quadro geral de credores.
Art. 90. Da sentença que julgar o pedido de restituição caberá apelação sem efeito suspensivo.
C.5.6) A ação revocatória (arts. 129 a 138, da Lei nº 11.101/05)
O mais comum é a atividade do empresário ir desandando paulatinamente, sendo a falência o último estágio dessa evolução negativa da atividade empresarial.
Pode ocorrer que o empresário, antes de falir, comece a praticar atos fraudulentos, no sentido de tentar esconder patrimônio para si ou mesmo de pagar determinados credores em detrimento de outros. Ocorrendo a falência, quando tais fraudes forem descobertas, o remédio jurídico será a ação revocatória.
· Atos ineficazes ou fraudulentos
As fraudes cometidas pelo empresário antes de falir são ineficazes com o decreto de quebra.
A ineficácia em relação ao processo de falência pode ser:
a) subjetiva – quando houver a necessidade de se provar o conluio fraudulento e o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida (art. 130); ou
b) objetiva – quando for considerado ineficaz, independente de prova do conluio e do prejuízo, porque presumidos – por presunção absoluta – pelo legislador (art. 129).
Para a ineficácia subjetiva, o objetivo é a revogação do ato praticado, em razão da prova da fraude e do prejuízo ocasionados à massa falida. Para a ineficácia objetiva, o objetivo é a declaração de ineficácia em relação à massa falida.
· Atos de ineficácia objetiva
Para entender os casos de ineficácia objetiva, é necessário compreender o marco temporal a partir do qual se suspeita a prática de fraudes pelo empresário, antes da sua falência. A sua definição varia em se tratando de atos onerosos ou gratuitos. 
Para os atos onerosos, é o juiz que definirá o termo legal da falência, por ocasião da sentença declaratória. Para os atos gratuitos, determina-se legalmente o prazo de dois anos antes da decretação da falência.
O procedimento para calcular o termo legal da falência consiste em o juiz, por ocasião da decretação da falência, verificar no calendário três datas:
a) Do pedido de falência;
b) Do pedido de recuperação judicial; e
c) Do 1º protesto por falta de pagamento, cujo crédito não foi pago ou prescrito.
Das três datas mencionadas, deve o juiz se definir sempre pela data mais antiga. Desta data, haverá a contagem de um prazo retroativo de até 90 dias. O final da contagem desse prazo indicará o termo legal da falência. O período que vai do termo legal até a decretação da falência é denominado período suspeito.
São atos de ineficácia objetiva:
a) a antecipação de pagamento, dentro do termo legal;
b) a dação em pagamento, dentro do termo legal;
c) a constituição irregular de garantiareal, dentro do termo legal;
d) a prática de atos a título gratuito, dentro do termo legal;
e) a renúncia à herança ou a legado, dentro do termo legal;
f) o trespasse irregular, independente do termo legal;
g) os registros imobiliários, a qualquer título, realizados após a decretação da falência, salvo se houver prenotação anterior.
A declaração de ineficácia objetiva pode ocorrer de ofício pelo juiz, alegada em defesa ou pleiteada em ação própria. Entretanto, se ocorrer antecipação de pagamento, dação em pagamento, constituição irregular de garantia real, dentro do termo legal, ou trespasse irregular, realizados na forma prevista pelo plano de recuperação judicial ou extrajudicial, não poderá haver declaração de ineficácia ou revogação.
Quando o juiz decreta a falência, ele deverá tratar sobre diversos assuntos nesse pronunciamento. Um dos temas que é definido pelo juiz é o termo legal da falência.
O termo legal de falência é o dia que se considera – por presunção – que se tenha iniciado o estado de insolvência do empresário devedor.
O objetivo de fixar o termo legal de falência está no fato de que investigar se, neste período, o devedor praticou atos ilegítimos que prejudicaram seus credores. Assim, a finalidade é definir o período que será “investigado”. Caso o devedor tenha praticado determinadas condutas ilegítimas, isso será considerado ineficaz porque a lei presume que tenham sido feitas para se furtar ao pagamento dos credores.
Segundo o art. 99, II, da Lei nº 11.101/2005, no caso de autofalência, inexistindo protestos contra a devedora, o termo legal deve ser fixado em até 90 dias antes da distribuição do pedido
O juiz não pode ampliar esse prazo, utilizando como marco o ajuizamento de ação de despejo e cobrança contra o devedor. STJ. 3ª Turma. REsp 1890290-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/02/2022 (Info 726).
· A ineficácia subjetiva
Além destes, quaisquer outros atos praticados em conluio fraudulento com o devedor com a intenção de prejudicar credores e havendo prova do efetivo prejuízo sofrido pela massa falida serão considerados fraudulentos e, portanto, ineficazes, de um ponto de vista subjetivo.
Desta forma, por exemplo, desde que ocorram fora do termo legal ou do período suspeito, uma antecipação de pagamento, uma dação em pagamento, uma constituição irregular de garantia, ou uma doação, a priori serão considerados negócios jurídicos perfeitos. Em tais casos, será necessária a comprovação da fraude para se conseguir a declaração judicial de ineficácia, através da Ação Revocatória, somente.
Trata-se de uma ação que deve ser proposta pelo administrador judicial, pelo credor ou pelo Ministério Público, no prazo de três anos contados da declaração da falência. 
O empresário falido não é parte na Ação Revocatória, não tendo legitimidade ativa ou passiva para a Ação Revocatória.
A ação revocatória pode ser promovida:
a) contra todos os que figuraram no ato ou que por efeito dele foram pagos, garantidos ou beneficiados;
b) contra os terceiros adquirentes, se tiveram conhecimento, ao se criar o direito, da intenção do devedor de prejudicar os credores; e
c) contra os herdeiros ou legatários das pessoas anteriormente indicadas.
A sentença que julgar procedente a ação revocatória determinará o retorno dos bens à massa falida em espécie, com todos os acessórios, ou o valor de mercado, acrescidos das perdas e danos. 
D) Institutos jurídicos comuns e efeitos da decretação da falência
São considerados institutos jurídicos comuns:
a) o procedimento de verificação e habilitação de créditos; e
b) os órgãos jurisdicionais.
D.1) Órgãos jurisdicionais
· Administrador judicial
É a principal peça do processo de falência. Nomeado pelo juízo, tanto na sentença declaratória de falência quanto na decisão que defere o processamento da recuperação judicial, assume o ônus de em quarenta e oito horas após a nomeação de ir ao juízo assinar termo de compromisso, sob pena da nomeação ser considerada sem efeito.
O ADMINISTRADOR JUDICIAL SERÁ PROFISSIONAL IDÔNEO, PREFERENCIALMENTE ADVOGADO, ECONOMISTA, ADMINISTRADOR DE EMPRESAS OU CONTADOR, OU PESSOA JURÍDICA ESPECIALIZADA. Note-se que há apenas uma “preferência” e não uma obrigatoriedade na nomeação destes profissionais. 
Se o administrador judicial nomeado for pessoa jurídica, declarar-se-á, no termo de posse, o nome de profissional responsável pela condução do processo de falência ou de recuperação judicial, que não poderá ser substituído sem autorização do juiz.
Não pode ser nomeado administrador judicial aquele que for destituído da função de administrador judicial ou de membro do comitê de credores em outro processo, tanto de falência quanto de recuperação judicial, sendo certo que tal impedimento é temporário: destituído hoje, o profissional deve passar cinco anos sem ser nomeado novamente. Ficará também impedido de integrar o Comitê ou exercer a função de administrador judicial quem tiver relação de parentesco ou afinidade até o terceiro grau com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais ou deles for amigo, inimigo ou dependente.
Art. 21. O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada.
Parágrafo único. Se o administrador judicial nomeado for pessoa jurídica, declarar-se-á, no termo de que trata o art. 33 desta Lei, o nome de profissional responsável pela condução do processo de falência ou de recuperação judicial, que não poderá ser substituído sem autorização do juiz.
Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe:
I – na recuperação judicial e na falência:
a) enviar correspondência aos credores constantes na relação de que trata o inciso III do caput do art. 51, o inciso III do caput do art. 99 ou o inciso II do caput do art. 105 desta Lei, comunicando a data do pedido de recuperação judicial ou da decretação da falência, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito;
b) fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores interessados;
c) dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de servirem de fundamento nas habilitações e impugnações de créditos;
d) exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informações;
e) elaborar a relação de credores de que trata o § 2º do art. 7º desta Lei;
f) consolidar o quadro-geral de credores nos termos do art. 18 desta Lei;
g) requerer ao juiz convocação da assembléia-geral de credores nos casos previstos nesta Lei ou quando entender necessária sua ouvida para a tomada de decisões;
h) contratar, mediante autorização judicial, profissionais ou empresas especializadas para, quando necessário, auxiliá-lo no exercício de suas funções;
i) manifestar-se nos casos previstos nesta Lei;
j) estimular, sempre que possível, a conciliação, a mediação e outros métodos alternativos de solução de conflitos relacionados à recuperação judicial e à falência, respeitados os direitos de terceiros, na forma do § 3º do art. 3º da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil);       (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
k) manter endereço eletrônico na internet, com informações atualizadas sobre os processos de falência e de recuperação judicial, com a opção de consulta às peças principais do processo, salvo decisão judicial em sentido contrário;       (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
l) manter endereço eletrônico específico para o recebimento de pedidos de habilitação ou a apresentação de divergências, ambos em âmbito administrativo, com modelos que poderão ser utilizados pelos credores, salvo decisão judicial em sentido contrário;     (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
m) providenciar, no prazo máximo de 15 (quinze) dias, as respostas aos ofícios e às solicitações enviadas por outros juízos e órgãos públicos, sem necessidade de prévia deliberação do juízo;(Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
II – na recuperação judicial:
a) fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação judicial;
b) requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação;
c) apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das atividades do devedor, fiscalizando a veracidade e a conformidade das informações prestadas pelo devedor;     (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
d) apresentar o relatório sobre a execução do plano de recuperação, de que trata o inciso III do caput do art. 63 desta Lei;
e) fiscalizar o decurso das tratativas e a regularidade das negociações entre devedor e credores;     (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
f) assegurar que devedor e credores não adotem expedientes dilatórios, inúteis ou, em geral, prejudiciais ao regular andamento das negociações;    (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
g) assegurar que as negociações realizadas entre devedor e credores sejam regidas pelos termos convencionados entre os interessados ou, na falta de acordo, pelas regras propostas pelo administrador judicial e homologadas pelo juiz, observado o princípio da boa-fé para solução construtiva de consensos, que acarretem maior efetividade  econômico-financeira e proveito social para os agentes econômicos envolvidos;   (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
h) apresentar, para juntada aos autos, e publicar no endereço eletrônico específico relatório mensal das atividades do devedor e relatório sobre o plano de recuperação judicial, no prazo de até 15 (quinze) dias contado da apresentação do plano, fiscalizando a veracidade e a conformidade das informações prestadas pelo devedor, além de informar eventual ocorrência das condutas previstas no art. 64 desta Lei;   (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
III – na falência:
a) avisar, pelo órgão oficial, o lugar e hora em que, diariamente, os credores terão à sua disposição os livros e documentos do falido;
b) examinar a escrituração do devedor;
c) relacionar os processos e assumir a representação judicial e extrajudicial, incluídos os processos arbitrais, da massa falida;     (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)
d) receber e abrir a correspondência dirigida ao devedor, entregando a ele o que não for assunto de interesse da massa;
e) apresentar, no prazo de 40 (quarenta) dias, contado da assinatura do termo de compromisso, prorrogável por igual período, relatório sobre as causas e circunstâncias que conduziram à situação de falência, no qual apontará a responsabilidade civil e penal dos envolvidos, observado o disposto no art. 186 desta Lei;
f) arrecadar os bens e documentos do devedor e elaborar o auto de arrecadação, nos termos dos arts. 108 e 110 desta Lei;
g) avaliar os bens arrecadados;
h) contratar avaliadores, de preferência oficiais, mediante autorização judicial, para a avaliação dos bens caso entenda não ter condições técnicas para a tarefa;
i) praticar os atos necessários à realização do ativo e ao pagamento dos credores;
j) proceder à venda de todos os bens da massa falida no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data da juntada do auto de arrecadação, sob pena de destituição, salvo por impossibilidade fundamentada, reconhecida por decisão judicial;      (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
l) praticar todos os atos conservatórios de direitos e ações, diligenciar a cobrança de dívidas e dar a respectiva quitação;
m) remir, em benefício da massa e mediante autorização judicial, bens apenhados, penhorados ou legalmente retidos;
n) representar a massa falida em juízo, contratando, se necessário, advogado, cujos honorários serão previamente ajustados e aprovados pelo Comitê de Credores;
o) requerer todas as medidas e diligências que forem necessárias para o cumprimento desta Lei, a proteção da massa ou a eficiência da administração;
p) apresentar ao juiz para juntada aos autos, até o 10º (décimo) dia do mês seguinte ao vencido, conta demonstrativa da administração, que especifique com clareza a receita e a despesa;
q) entregar ao seu substituto todos os bens e documentos da massa em seu poder, sob pena de responsabilidade;
r) prestar contas ao final do processo, quando for substituído, destituído ou renunciar ao cargo.
s) arrecadar os valores dos depósitos realizados em processos administrativos ou judiciais nos quais o falido figure como parte, oriundos de penhoras, de bloqueios, de apreensões, de leilões, de alienação judicial e de outras hipóteses de constrição judicial, ressalvado o disposto nas Leis nos 9.703, de 17 de novembro de 1998, e 12.099, de 27 de novembro de 2009, e na Lei Complementar nº 151, de 5 de agosto de 2015.     (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)
Por fim, são novas atribuições específicas para a falência: assumir a representação extrajudicial, incluídos os processos arbitrais, da massa falida; PROCEDER À VENDA DE TODOS OS BENS DA MASSA FALIDA, EM REGRA, NO PRAZO MÁXIMO DE 180 DIAS, CONTADO DA DATA DA JUNTADA DO AUTO DE ARRECADAÇÃO, SOB PENA DE DESTITUIÇÃO; e arrecadar os valores dos depósitos realizados em processos judiciais e administrativos, nos quais o falido figure como parte.
O administrador judicial substituído terá direito a remuneração proporcional ao trabalho realizado, não estando impedido de ser nomeado novamente para a função no mesmo, ou em outro, processo. Por sua vez, o administrador judicial destituído não terá direito à remuneração proporcional, e estará temporariamente impedido de ser nomeado novamente para a função no mesmo, ou em outro, processo.
O ADMINISTRADOR JUDICIAL TERÁ SUA REMUNERAÇÃO FIXADA PELO JUIZ, QUE NÃO PODERÁ EXCEDER A CINCO POR CENTO DO VALOR DEVIDO AOS CREDORES NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL OU DO VALOR DE VENDA DOS BENS NA FALÊNCIA. TAL REMUNERAÇÃO SERÁ REDUZIDA AO LIMITE DE DOIS POR CENTO, CASO O DEVEDOR SEJA ME OU EPP OU PRODUTOR RURAL, SUBMETIDO À RECUPERAÇÃO JUDICIAL, COM BASE EM PLANO ESPECIAL. DA REMUNERAÇÃO FIXADA, DEVE SER RESERVADO 40% PARA SER PAGO AO FINAL DO PROCESSO, APÓS A APRESENTAÇÃO E APROVAÇÃO DE SUAS CONTAS.
O administrador judicial responderá por todos os prejuízos que causar à massa falida, ao devedor ou aos credores, por dolo ou culpa. 
· Assembleia de credores
A assembleia de credores é um órgão de natureza deliberativa. 
A lei falimentar entregou à assembleia de credores a deliberação acerca de:
a) na recuperação judicial: 
· a aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor; 
· a constituição do comitê de credores, a escolha de seus membros e sua substituição; 
· o pedido de desistência do devedor; e 
· o nome do gestor judicial, quando do afastamento do devedor; e 
· a alienação de bens ou direitos do ativo não circulante do devedor, não prevista no plano de recuperação judicial.
b) na falência: 
· a constituição do comitê de credores, a escolha de seus membros e sua substituição; e 
· a adoção de outras modalidades de realização do ativo.
Trata-se de um rol de natureza exemplificativa, na medida em que qualquer outro assunto que possa afetar o interesse dos credores também poderá ser resolvido em assembleia. 
A legitimidade para a convocação da assembleia de credores cabe ao juiz, a partir de publicação de edital tanto no órgão oficial e em jornais de grande circulação. Afora dos casos previstos em lei, cujo administrador judicial normalmente requer a convocação, credores que representem no mínimo vinte e cinco por cento dos créditos de cada classe, também, poderão requerer ao juiz a convocação de assembleia.
A data da assembleia em primeira convocação deve ocorrer, no mínimo, quinze dias após a publicação da assembleia, devendo, entre a primeira e a segunda convocação, mediar um prazo de cinco dias. Em primeira convocação, a assembleia se instala, com a presença de credores titulares de mais da metade dos créditos de cada classe.
Podem exercer direito devoto em assembleia todos os credores cujos créditos tenham sido habilitados. Considera-se aprovada a proposta que obteve votos favoráveis de credores que representem mais da metade dos créditos presentes à assembleia geral. 
As deliberações poderão ser tomadas em assembleia geral ou por classes. Em assembleia geral, todos os credores votam juntos, independente da natureza dos créditos. Por classes, a assembleia será dividida de acordo com a natureza dos créditos, com o credor votando, dentro da classe. Seja como for, qualquer das deliberações poderá ser substituída por: (i) termo de adesão firmado por tantos credores quantos satisfaçam o quórum de aprovação específico, nos termos do art. 45-A; (ii) votação realizada por meio de sistema eletrônico que reproduza as condições de tomada de voto da assembleia geral de credores; ou (iii) outro mecanismo reputado suficientemente seguro pelo juiz.
A assembleia de credores é composta de quatro classes:
a) Classe dos credores trabalhistas – classe I;
b) Classe dos credores com garantia real – classe II;
c) Classe dos credores com privilégio, geral ou especial, quirografários e subordinados – classe III; e
d) Classes dos credores enquadrados como ME/EPP – classe IV.
Para aprovar o plano de recuperação judicial, as deliberações ocorrerão em classes. Para a aprovação, todas as classes devem aprová-lo em separado. Nas classes I e IV, é suficiente o voto da maioria numérica dos credores, independentemente do valor dos créditos. Nas classes II e III, a aprovação será dada pela maioria numérica dos credores, representando a maioria dos créditos presentes à assembleia.
Para a escolha dos representantes do comitê de credores, a deliberação também se dará por classes. Frise-se, por oportuno: a aprovação de cada membro será realizada somente entre os membros da respectiva classe. Cada classe escolherá os respectivos representantes, sendo indicados, para cada categoria, um titular e dois suplentes.
· Comitê de credores
O comitê de credores, por fim, é órgão facultativo, tanto na falência, quanto na recuperação judicial.
Tal órgão só existirá mediante deliberação aprovada em assembleia de credores. Não havendo o comitê de credores, as suas atribuições passam a ser de responsabilidade do administrador judicial; aquelas que lhe forem incompatíveis serão assumidas pelo juiz.
O art. 27, da Lei nº 11.101/05 apresenta um rol de natureza exemplificativa das atribuições de competência do comitê de credores. 
D.2) Procedimento de verificação e de habilitação de créditos
Os credores aparecerão no processo de falência, em razão de sua ordem legal de preferência, materializada no quadro geral de credores. 
O procedimento de verificação e de habilitação de créditos está regulamentado na Lei 11.101/05, entre os arts. 7º a 20. Trata-se de procedimento que ocorre de maneira idêntica, tanto na recuperação judicial quanto no processo de falência. 
Na recuperação judicial, o procedimento de verificação e habilitação de créditos só tem uma única finalidade: assegurar ao credor o direito de voto em assembleia de credores, cabendo ressaltar que, afora o credor trabalhista, somente terá direito de voto o credor que se habilitar no prazo legal. Por sua vez, na falência, duas serão as finalidades, quais sejam: assegurar o direito de voto, nos mesmos moldes do que ocorre na recuperação judicial – porém, na falência, o credor retardatário retoma o direito de voto a partir de quando o seu crédito estiver definitivamente inserido no QGC; assegurar a possibilidade de pagamento ao credor – será pago de acordo com a ordem legal de preferência, materializada no QGC.
· Fase administrativa
A fase administrativa da verificação de créditos tem início com a publicação do edital, contendo a relação de credores e, conforme o caso, a sentença declaratória de falência ou a decisão que defere a recuperação judicial. A partir de tal publicação, os credores terão o prazo de 15 dias para apresentar suas habilitações ou suas divergências em relação aos créditos relacionados.
Caso haja algum equívoco nesta 1ª relação de credores, poder-se-á apresentar manifestação de divergência.
É oportuno ressaltar que é possível ocorrer habilitações retardatárias, ou seja, a lei admite que as habilitações sejam realizadas de maneira extemporânea. A lei apresenta as seguintes consequências para a intempestividade da habilitação de crédito:
a) na recuperação judicial, os titulares de créditos retardatários, excetuados os titulares de créditos derivados da relação de trabalho, não terão direito a voto nas deliberações da assembleia geral de credores;
b) na falência, os credores retardatários, à exceção dos credores trabalhistas, também, não terão a priori o direito de voto em assembleia, retomando-se aludido direito quando, na data da assembleia geral, já houver sido homologado o QGC contendo o crédito retardatário;
c) na falência, os credores retardatários perderão o direito a rateios eventualmente realizados e ficarão sujeitos ao pagamento de custas, não se computando os acessórios compreendidos entre o término do prazo e a data do pedido de habilitação; e
d) na falência, visando proteger os interesses do credor retardatário, será possível realizar o requerimento para a reserva de valor para a satisfação de seu crédito.
 Passado o prazo de 15 dias para a habilitação de créditos ou manifestação de divergência, em 45 dias o administrador judicial, com base nas habilitações e divergências realizadas, deverá publicar novo edital de credores. Este edital de credores demarcará o fim da fase administrativa da verificação de créditos, iniciando-se, no mesmo ato, a fase judicial.
· Fase judicial
No prazo de 10 dias contados da 2ª relação de credores, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o MP, poderão promover ação de impugnação contra a relação de credores, apontando-se a ausência de qualquer crédito ou manifestando-se contra a legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado. 
Os credores cujos créditos forem impugnados serão intimados para contestar a impugnação, no prazo de 5 dias. Após isto, no prazo comum de 5 dias, o devedor e o Comitê serão intimados pelo juiz para se manifestar sobre ela. Findo o prazo, o administrador judicial será intimado para, também, no prazo de 5 dias, emitir parecer sobre a ação de impugnação, devendo juntar à sua manifestação o laudo elaborado por profissional ou empresa especializada. 
Transcorridos tais prazos, os autos das ações de impugnação – de todas elas, ao mesmo tempo – serão conclusos ao juiz que:
a) determinará a inclusão no QGC das habilitações de crédito não impugnadas;
b) julgará as impugnações que entender suficientemente esclarecidas;
c) fixará, em cada uma das impugnações restantes, os aspectos controvertidos, decidindo as questões processuais pendentes; e
d) determinará provas a produzir, designando, quando for o caso, audiência de instrução.
Apesar de ser uma ação distribuída por dependência, sendo julgado mediante sentença, da decisão que julgar a ação de impugnação caberá recurso de agravo de instrumento, regra geral recebido, apenas, no efeito devolutivo. Entretanto, o relator poderá conceder efeito suspensivo à decisão que reconhece o crédito ou determinar a inscrição ou modificação do seu valor ou classificação no QGC, para fins de exercício de direito de voto em assembleia geral.
Julgadas as ações de impugnação e com base na 2ª relação de credores, o administrador judicial será o responsável pela consolidação do QGC, a ser homologado pelo juiz. O QGC, depois de assinado pelo juiz e pelo administrador judicial, será juntado aos autos e publicado no órgão oficial, no prazo de 5 dias, contado da sentença que houver julgado as impugnações. O QGC será, assim, a 3ª relação de credores e determinará o fim da fase judicial e, portanto, do procedimento de verificação e de habilitação de créditos.
A recuperação judicial poderá ser encerrada ainda que não tenha havido a consolidação definitiva do quadro-geral de credores. Nesse caso, as ações de habilitaçãoretardatária e de impugnações serão redistribuídas ao juízo da recuperação judicial, enquanto ações autônomas, passando a tramitar pelo rito comum. A lei estabeleceu um prazo decadencial de 3 anos, para apresentar pedido de habilitação ou de reserva de crédito, contados da sentença que decretar a falência.
As habilitações de crédito retardatárias, se apresentadas antes da homologação do QGC, serão recebidas e processadas nos mesmos moldes da ação de impugnação anteriormente descrita. Após a homologação do QGC, aqueles que não habilitaram seu crédito poderão, observado, no que couber, o procedimento comum previsto no CPC, requerer ao juízo da falência ou da recuperação judicial a retificação do QGC para a inclusão do respectivo crédito.
Por final, visando alterar ou excluir créditos, o administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o MP, poderão promover ação rescisória de crédito, observando, no que couber, o procedimento comum previsto no CPC. Tal ação será proposta no juízo da recuperação judicial ou da falência, ou perante o juízo que tenha originariamente reconhecido o crédito, nos casos de reclamações trabalhistas ou de ações que demandam quantias ilíquidas. 
· O incidente de classificação do crédito público
Inovação trazida pela reforma promovida pela Lei nº 14.112/20, trata-se de mecanismo por meio do qual os créditos tributários serão inseridos no processo de falência para serem pagos, na medida em que o crédito tributário não se sujeita a concurso de credores e nem se habilita em processo de falência. Com efeito, declarada a falência e realizadas as intimações e publicado o edital de credores, o juiz deverá instaurar de ofício para cada Fazenda Pública credora o referido incidente. Haverá a sua intimação eletrônica para apresentação da relação de créditos inscritos em dívida ativa, no prazo de 30 dias.
Encerrado o prazo mencionado, o falido, os demais credores e o administrador judicial terão 15 dias para apresentar objeções restritas sobre os cálculos e a classificação. Então, a Fazenda Pública será intimada para prestar informações no prazo de 10 dias. Os créditos serão objeto de reserva integral até o julgamento definitivo quando rejeitados os argumentos apresentados pelo Fisco. Antes da homologação, o juiz submete o QGC ao administrador judicial e à Fazenda Pública, no prazo comum de 10 dias, para manifestação sobre a situação atual dos créditos, após o que decidirá sobre a necessidade de manter a reserva mencionada.
Nesse ínterim, não se pode confundir a competência dos juízos envolvidos. Caberá ao juízo da execução fiscal a decisão sobre existência, exigibilidade e valor do crédito, bem como o eventual prosseguimento de cobrança contra os corresponsáveis. Por sua vez, é da competência do juízo falimentar a decisão sobre os cálculos e a classificação dos créditos, bem como sobre a arrecadação de bens, a realização do ativo e o pagamento aos credores.
· Tipos de credores
Existem dois tipos de credores inseridos no QGC: a) Credor da massa falida; e b) Credor do falido.
Perceba, inicialmente, que não se confundem a massa falida com o falido (ou com a sociedade falida). O falido era aquele que atuava como empresário no mercado, antes da sentença declaratória de falência. A massa falida é uma entidade que surge quando o processo de falência é aberto (com o advento da sentença declaratória de falência), com o objetivo de representar os interesses em comum dos credores do processo de falência (a massa falida subjetiva) e de compor o conjunto dos bens e direitos arrecadados no processo para a satisfação dos credores (a massa falida objetiva).
O critério para se definir enquanto credor da massa falida ou credor do falido é o da origem do crédito. Será credor da massa falida aquele cujo crédito seja de origem posterior à falência. Por sua vez, será credor do falido aquele cujo crédito seja de origem anterior à falência. 
Sendo credor da massa falida, isto significa que o sujeito já se tornou credor perante a fonte pagadora do processo. Por esta razão, não se faz necessário provar a existência e/ou o quantum do referido crédito e, dessa forma, não precisará se submeter ao procedimento de verificação e habilitação de crédito descrito anteriormente, sendo inserido mediante simples inscrição pelo administrador judicial. Será titular dos denominados créditos extraconcursais e das importâncias passíveis de restituição.
Sendo credor do falido, isto significa que o sujeito é credor de “terceira pessoa” que não a fonte pagadora do processo. Por esta razão, faz-se necessário provar a existência e/ou o quantum do referido crédito e, dessa forma, precisará se submeter ao procedimento de verificação e habilitação de crédito descrito anteriormente, para ser inserido no QGC. Será titular dos denominados créditos concursais.
Dessa lógica, é exceção o crédito tributário. Com efeito, apesar de existir tributo concursal e tributo extraconcursal, os créditos tributários serão inseridos sempre mediante inscrição, na medida em que é considerado privilégio e garantia do crédito tributário, o fato de não precisar ser habilitado em processo de falência.
Por final, a distinção entre o tributo concursal e o extraconcursal se dará não pela data do lançamento – momento em que se origina o crédito tributário, mas sim pela data do fato gerador. 
E) Efeitos da sentença declaratória de falência
Até mesmo em conformidade com a divisão estabelecida pela Lei nº 11.101/05, deve se destacar os efeitos da sentença declaratória de falência em pelo menos três aspectos:
a) sobre a pessoa do devedor;
b) sobre as obrigações do devedor; e
c) sobre os contratos do devedor.
Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a improcedência do pedido cabe apelação.
· Sobre a pessoa do devedor
O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a partir da decretação da falência e até a sentença que extingue suas obrigações. Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer ao juiz da falência que proceda à respectiva anotação em seu registro.
O falido estará inabilitado ao exercício da profissão de empresário. Falindo-se a sociedade, a priori, não há qualquer efeito para os sócios. Por isso, falindo a sociedade, os sócios podem, em regra, validamente montar outra.
O art. 181, da Lei nº 11.101/05, prevê como efeitos da condenação penal por crime falimentar:
a) a inabilitação para o exercício de atividade empresarial;
b) o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de administração, diretoria ou gerência;
c) a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio.
Tais efeitos não são automáticos, devendo ser declarados fundamentadamente na sentença penal condenatória. Só nesta hipótese é que o administrador ou o sócio restarão inabilitados para fins empresariais.
OUTRO EFEITO IMPORTANTE É A PERDA DO DIREITO DE ADMINISTRAR OS SEUS BENS OU DELES DISPOR. A arrecadação é o ato pelo qual o administrador judicial desapossa o falido de seus bens e direitos. A declaração da falência não significa a perda da propriedade. Só com a realização do ativo é que se perde a propriedade, portanto, apenas na fase de liquidação. 
· Sobre as obrigações do devedor
Para determinadas obrigações serem exigidas, em processos de falência ou de recuperação judicial, faz-se mister que sejam, bilaterais, onerosas e proporcionais. Trata-se assim de obrigações sinalagmáticas. Dessa forma, o ônus de uma das partes deve ser equivalente ao bônus da outra, e vice-versa.
De outro lado, faltando o sinalagma, a obrigação não poderá ser exigível, e tão pouco o crédito dela decorrente.
Assim, não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:
a) as obrigações a título gratuito; e
b) as despesas que os credores fizeram para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígios com o devedor.
Da primeira hipótese de inexigibilidade, citam-se como exemplos a doação, a cessão gratuita ou os programas de milhagem. Imagineum empresário que tenha se comprometido a doar um imóvel para nele se instalar um projeto social. Ainda que celebrada a escritura pública e pago o imposto de transmissão, tem-se que tal doação seria inexigível com a decretação da falência, sendo fraudulentos o registro imobiliário posterior à falência e qualquer doação e demais atos gratuitos implementados até 2 anos antes do decreto de quebra.
ALÉM DISSO, VISANDO GARANTIR APLICAÇÃO AO PRINCÍPIO PARS CONDITIO CREDITORUM, A DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA DETERMINA O VENCIMENTO ANTECIPADO DE TODOS OS CRÉDITOS CONTRA O FALIDO, EM QUE ESTE É O OBRIGADO PRINCIPAL, BEM COMO A CONVERSÃO DE TODOS OS CRÉDITOS EM MOEDA ESTRANGEIRA PARA MOEDA NACIONAL, PARA TODOS OS FINS, PELO CÂMBIO DO DIA DA DECISÃO JUDICIAL. É O QUE SE CHAMA EQUALIZAÇÃO DE CRÉDITOS OU UNIFORMIZAÇÃO DE OBRIGAÇÕES.
Cabe ainda considerar ser inexigível juros no processo de falência. 
Por fim, com a decretação da falência, restarão suspensos102 os direitos de:
a) retenção, dos credores, sobre os bens sujeitos à arrecadação, que deverão ser entregues ao administrador judicial; e
b) de retirada, dos sócios, ou do recebimento de reembolso ou de haveres.
· Sobre os contratos do devedor
É comum que, na data da decretação da falência, existam contratos do devedor pendentes de cumprimento e urge saber como se deve proceder perante tais contratos. 
É o administrador judicial, e mais ninguém, que definirá ou não acerca da continuidade ou rescisão do contrato, não devendo ter mais eficácia a cláusula contratual rescisória por falência. Apesar de a decisão ser do administrador judicial, o comitê de credores, se houver, deve ser ouvido.
No caso dos contratos bilaterais, como ninguém é obrigado a ficar vinculado eternamente a um contrato, há um procedimento para provocar o administrador judicial a se manifestar. O contratante do falido pode interpelar, no prazo de 90 dias, o administrador judicial, indagando acerca do cumprimento do contrato, que deve em 10 dias responder, valendo o silêncio como negativa do cumprimento do contrato.
Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê.
Se disser que vai cumprir o contrato, passa a viger a exceptio non adimpleti contractus. Permanecendo em silêncio, ou dando pela negativa de cumprimento, o contrato estará resolvido, cabendo indenização em favor do contratante, cujo montante constituirá crédito quirografário a ser inserido no QGC, independente do eventual crédito já pendente de cumprimento em favor do contratante.
No contrato de compra e venda, o vendedor não pode obstar a entrega das coisas expedidas ao devedor e ainda em trânsito, se o comprador, antes do requerimento da falência, as tiver revendido, sem fraude, à vista das faturas e conhecimentos de transporte, entregues ou remetidos pelo vendedor. Se o devedor vendeu coisas compostas e o administrador judicial resolver não continuar a execução do contrato, poderá o comprador pôr à disposição da massa falida as coisas já recebidas, pedindo perdas e danos. Não tendo o devedor entregue coisa móvel ou prestado serviço que vendera ou contratara a prestações, e resolvendo o administrador judicial não executar o contrato, o crédito relativo ao valor pago será habilitado na classe própria. Em se tratando de venda com reserva de domínio, o administrador judicial restituirá a coisa móvel se resolver não continuar o contrato, exigindo a devolução dos valores pagos.
Em se tratando de contrato de locação, a falência do locador não resolve o contrato de locação e, na falência do locatário, o administrador judicial pode, a qualquer tempo, denunciar o contrato. 
Já para os contratos de mandato, o mandato conferido pelo devedor, antes da falência, para a realização de negócios, cessará seus efeitos com a decretação da falência, cabendo ao mandatário prestar contas de sua gestão. O mandato conferido para representação judicial do devedor continua em vigor até que seja expressamente revogado pelo administrador judicial. Para o falido, cessa o mandato ou comissão que houver recebido antes da falência, salvo os que versem sobre matéria estranha à atividade empresarial.
AS CONTAS CORRENTES COM O DEVEDOR CONSIDERAM-SE ENCERRADAS NO MOMENTO DE DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA, VERIFICANDO-SE O RESPECTIVO SALDO. Contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a decretação da falência – ressalvados os créditos com garantia real, previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado não bastar para o pagamento dos credores subordinados.
· A extensão dos efeitos da falência
A extensão dos efeitos da falência é criação da doutrina e da jurisprudência falimentar e consistia na possibilidade de ser alcançado pela decretação da falência tanto o empresário indireto quanto as sociedades pertencentes ao mesmo grupo econômico.
O empresário indireto é aquele que exerce a atividade empresária através de um terceiro que lhe empresta o nome, sendo conhecido como “laranja”. 
De outro lado, há a questão das sociedades pertencentes a um grupo econômico em que, contra uma delas, é direcionado um pedido de falência, que vem a ser declarada. Discute-se aqui se esta decretação de falência poderia vir a ser estendida às demais sociedades pertencentes ao mesmo grupo econômico. Para conseguir tal intento, deve-se fazer uso da desconsideração da personalidade jurídica. 
Com a reforma promovida pela Lei nº 14.112/20, é oportuno destacar que não se pode confundir a extensão da falência ou de seus efeitos com a desconsideração da personalidade jurídica, mesmo porque restou vedada a extensão, enquanto permitida a desconsideração.
F) Recuperação de empresas
O Direito Concursal pode ser dividido em dois ramos: o direito falimentar e o direito recuperacional. Com efeito, enquanto o direito falimentar se ocupa do encerramento das atividades empresárias, em razão de se buscar retirar o empresário do mercado, o direito recuperacional estuda o instrumento jurídico disponível para se evitar ou se escapar do decreto de falência empresarial.
O principal objetivo da lei é viabilizar a superação da crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. É dentro deste contexto, portanto, que se estabelece na Lei 11.101/05 o instituto da recuperação de empresas. Trata-se do instrumento jurídico previsto para a solução de uma crise econômico-financeira de determinado devedor viável economicamente.
F.1) Requisitos para a recuperação de empresas
A recuperação de empresas é o mecanismo jurídico para a superação da crise econômico-financeira. Vale dizer, é preciso que o empresário esteja em crise, mas sua atividade ainda é viável economicamente. Pode ser requerida pelo devedor, havendo legitimidade ativa extraordinária para o cônjuge sobrevivente, os herdeiros do devedor ou inventariante (para o caso de falecimento do empresário individual) e para o sócio remanescente.
A Lei nº 11.101/05 estabelece requisitos para que o pedido de recuperação de empresas seja procedente. O primeiro deles é o da regularidade, pois o devedor que almeja o deferimento de sua recuperação judicial deve estar em exercício regular há mais de dois anos. A regularidade é comprovada a partir de certidão expedida pela Junta Comercial. 
A recuperação judicial sempre será preventiva, inexistindo, portanto, procedimento suspensivo da falência. Isto porque o segundo requisito para a recuperação de empresas reside no fato de o empresário nunca ter sido declarado falido. Caso tenha sido declarado falido, será necessário que suas obrigações tenham sido extintas por sentença transitada em julgado.
O terceiro requisito diz respeito aos prazos de desincompatibilização. Ou seja, caso um devedor tenha o interessede propor uma segunda recuperação judicial, será necessário a espera de um lapso temporal mínimo contado da data da primeira concessão. O prazo de desincompatibilização para a recuperação extrajudicial é de dois anos. Porém, para a recuperação judicial, o prazo de desincompatibilização é de cinco anos.
O último requisito se refere ao fato da inexistência de condenação por crime falimentar. No caso do empresário individual, ele não pode ter sido condenado por crime falimentar. No caso de sociedade empresária, o administrador ou o sócio controlador não podem ter sofrido tal condenação.
F.2) Modalidades de recuperação de empresas
Existem duas modalidades de recuperação de empresas: a judicial e a extrajudicial.
A diferença entre as duas modalidades de recuperação de empresas não reside na participação ou não do Judiciário, pois este também participa da recuperação extrajudicial, ainda que para fins meramente homologatórios. A diferença entre ambas as modalidades de recuperação de empresas se refere ao âmbito de definição do plano de recuperação.
Será considerada extrajudicial a recuperação cujo plano tenha sido definido e aprovado diretamente entre devedor e credores, antes de se ingressar com uma medida de judicial. Será considerada judicial a recuperação cujo plano necessite ser apresentado em uma ação em andamento para fins de sua aprovação. 
A) A recuperação judicial geral (ou ordinária)
A recuperação judicial geral é a regra geral da recuperação de empresas. Pode ser aplicável a qualquer empresário, independentemente do tipo (individual, sociedade, EIRELI) ou do tamanho (MEI, ME, EPP, sociedade de grande porte). 
Na recuperação judicial geral, o plano de recuperação judicial tem natureza contratual, sendo definido processualmente, a partir da interação devedor--credores. Tanto é que, como regra, deverá ser aprovado em assembleia geral de credores, em razão de quórum qualificado.
B) A recuperação judicial especial
A recuperação judicial especial é um procedimento alternativo para o empresário juridicamente enquadrado como ME ou EPP. O empresário enquadrado no regime jurídico da Lei Complementar nº 123/06 pode escolher entre a recuperação judicial geral e a recuperação judicial especial. Querendo se utilizar da recuperação judicial especial, o empresário ME ou EPP deve informar sua intenção logo na petição inicial, sob pena de se submeter à recuperação judicial geral.
Neste caso, o plano já está definido em lei, cabendo ao devedor definir o montante de parcelas mensais, iguais e sucessivas (até trinta e seis) e a data do primeiro pagamento (até cento e oitenta dias, contado da distribuição do pedido). Desse modo, não há necessidade de convocação de assembleia de credores para a sua aprovação.
C) A recuperação judicial do produtor rural
Com a reforma promovida pela Lei nº 14.112/20, os produtores rurais podem ajuizar a recuperação judicial especial, mesmo que não estejam enquadrados como ME/EPP. Para tanto, basta que o valor da causa seja inferior a R$ 4.800.000,00.
D) A recuperação extrajudicial de homologação facultativa
A recuperação extrajudicial será de homologação facultativa quando todos os credores aderirem ao plano apresentado pelo devedor, assinando-o. 
E) A recuperação extrajudicial de homologação obrigatória
A HOMOLOGAÇÃO PASSA A SER OBRIGATÓRIA, QUANDO, NÃO CONSEGUIDA APROVAÇÃO UNÂNIME, O DEVEDOR CONSIGA A APROVAÇÃO MÍNIMA DE CREDORES QUE REPRESENTEM MAIS DA METADE DOS CRÉDITOS DE CADA ESPÉCIE POR ELE ABRANGIDOS. Neste caso, a homologação é necessária para que o plano de recuperação extrajudicial possa surtir efeitos aos credores que não concordaram expressamente com o plano.
F) Os acordos privados
Além dos planos de recuperação extrajudicial sujeitos à homologação facultativa ou obrigatória, quaisquer acordos privados entre o devedor e os seus credores podem ser considerados meios alternativos de recuperação extrajudicial (ex.: contratos de confissão de dívida).
Neste caso, a recuperação de empresas independe de qualquer manifestação judicial. É o que se convenciona chamar de solução de mercado.
F.3) Créditos alcançados pela recuperação de empresas
Sujeitar-se-ão às regras de recuperação judicial todos os créditos vencidos ou vincendos existentes na data do pedido. Perceba-se que não interessa para a recuperação de empresas o vencimento do título, mas sim a origem da obrigação, a data da criação ou da emissão do crédito. Desde que a obrigação seja anterior ao pedido, é possível que todo o crédito seja levado à recuperação judicial.
Em termos gerais, os contratos permanecem iguais, salvo se o plano previr regra diferente, como, por exemplo, a alteração dos juros dos contratos de mútuo. Ademais, a aprovação do plano de recuperação judicial implica novação, de modo que se deixa de ser credor em razão do título para ser credor em razão do plano.
Existem, entretanto, exceções. Trata-se de créditos que não se submetem à recuperação judicial:
a) Crédito com base em contrato de alienação fiduciária em garantia. Se o devedor descumprir o contrato, este perde o bem dado como garantia da obrigação contraída. De acordo com a lei, esses contratos não são submetidos à recuperação judicial, porém é vedado qualquer tipo de ação cuja finalidade seja a retomada do bem nos 180 dias seguintes ao deferimento da recuperação judicial. Será permitida a retomada do bem se este não for considerado essencial às finalidades da empresa em recuperação.
b) Credor com base em contrato de arredamento mercantil (leasing). O arrendador mercantil também não se sujeita à recuperação judicial. Porém, não é cabível ação de reintegração de posse no prazo de 180 dias, salvo se o bem não for essencial à atividade econômica.
c) Credor proprietário ou promitente vendedor de imóvel com base em contrato que contenha cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade. Estes acordos também não se sujeitam à recuperação judicial. Porém, só pode fazer valer os seus direitos de proprietário após 180 dias, contados do deferimento da recuperação judicial.
d) Credor com base em contrato de compra e venda com reserva de domínio. O credor não terá seus créditos sujeitos aos efeitos da recuperação judicial, podendo fazer valer seus direitos de proprietário, não se permitindo no prazo de 180 dias, contatos do deferimento da recuperação judicial.
e) Credor com base em contrato de câmbio também não se submetem às regras da recuperação judicial. No plano da recuperação judicial, o crédito decorrente do adiantamento de contrato de câmbio para a exportação não se sujeita ao processo de recuperação judicial e nem sofre a suspensão de 180 dias contados do deferimento da recuperação judicial.
f) Crédito fiscal: não se sujeita à recuperação judicial, não havendo sequer a suspensão das execuções fiscais em trâmite, podendo haver a substituição dos atos de constrição que recaiam sobre bens de capital, oriundos da execução fiscal, sendo tal decisão de competência do juízo da recuperação judicial. Pode haver a cobrança imediata do valor devido. O que poderá suspender a execução fiscal será o parcelamento especial nos termos de lei ordinária.
Com a reforma promovida pela Lei nº 14.112/20, os créditos trabalhistas passaram excepcionalmente a também se submeter à recuperação extrajudicial. Para tanto, é exigida negociação coletiva com o sindicato da respectiva categoria. E se houver mais de uma categoria de trabalhadores? Será necessária negociação coletiva com cada um dos respectivos sindicatos.
F.4) A linha processual da recuperação judicial
A legitimidade ativa ordinária cabe ao devedor, cabendo a legitimidade ativa extraordinária, ao cônjuge sobrevivente, herdeiro, inventariante ou sócio remanescente. A legitimidade passiva cabe aos credores alcançados pelo plano de recuperação judicial. 
A doutrina divide esquematicamente o processamento da ação de recuperação judicial em três fases: a) fase postulatória; b) fase deliberatória; e c) fase executória. 
Na fase postulatória, ocorre a postulação da recuperação judicial; trata-se do momento em queo devedor vai ao Judiciário requerer a sua recuperação judicial. Já na fase deliberatória, ocorre a deliberação para aprovação do plano de recuperação judicial; trata-se do procedimento propriamente dito. Por final, na fase executória, ocorre o cumprimento processual do plano de recuperação judicial; trata-se do momento em que aprovado o plano deverá haver o seu cumprimento sob a fiscalização do juiz, do ministério público, do administrador judicial e, se houver, do comitê de credores.
A fase postulatória da recuperação judicial vai da petição inicial até a decisão que defere a recuperação judicial. A fase deliberatória da recuperação judicial vai da decisão que defere até a decisão que concede a recuperação judicial. A fase executória vai da decisão que concede a recuperação judicial até a sentença de encerramento processual.
Inicialmente, havendo a rejeição do plano de recuperação judicial, deveria haver a convolação da recuperação judicial em falência. Porém, em homenagem ao princípio da preservação da empresa, a Reforma promovida pela Lei nº 14.112/20 passou a admitir, com a nova redação atribuída ao art. 56, § 4º, da Lei nº 11.101/05, a apresentação de plano alternativo de recuperação judicial.
Assim, a decisão do art. 52, da Lei nº 11.101/05 defere o processamento da ação de recuperação judicial. Para proferir tal decisão, não se faz necessária a aprovação do plano de recuperação pelos credores e nem se exige quitação tributária. Consiste em ato judicial com natureza jurídica de decisão interlocutória, sendo desafiada mediante agravo de instrumento.
De outro lado, a decisão dos arts. 58 e 59, da Lei nº 11.101/05 concede o plano de recuperação judicial a ser cumprido pelo devedor. Para tanto, faz-se necessária a aprovação do plano de recuperação pelos credores. De outro lado, a lei exige quitação tributária, porém, a jurisprudência tem dispensado. Consiste em ato judicial com natureza jurídica de sentença, atacável mediante agravo de instrumento.
· Fase postulatória
Tal fase inicia com a petição inicial do devedor requerendo que lhe seja deferido o processamento da recuperação judicial. Para tanto, o devedor precisará atender aos requisitos do art. 48 e instruir a sua petição com os documentos previstos no art. 51 da Lei nº 11.101/05. 
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;         (Redação dada pela Lei Complementar nº 147, de 2014)
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
Estando em termos a documentação exigida pelo art. 51, da Lei nº 11.101/05, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato:
a) nomeará o administrador judicial;
b) determinará a dispensa de apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para o recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios;
C) ORDENARÁ A SUSPENSÃO DE TODAS AS EXECUÇÕES OU PRESCRIÇÕES, BEM COMO A PROIBIÇÃO DE QUALQUER IMPORTUNAÇÃO PATRIMONIAL AO DEVEDOR, PELO PRAZO DE 180 DIAS – PERÍODO DE STAY –, PODENDO, EXCEPCIONALMENTE E SEM CULPA DO DEVEDOR, VIR A SER PRORROGADO, POR IGUAL PRAZO E UMA ÚNICA VEZ, PERMANECENDO OS RESPECTIVOS AUTOS NOS JUÍZOS ONDE SE PROCESSAM, RESSALVADAS AS AÇÕES QUE DEMANDAM QUANTIAS ILÍQUIDAS, AS RECLAMAÇÕES TRABALHISTAS E AS EXECUÇÕES FISCAIS E AS RELATIVAS AOS CRÉDITOS PREVISTOS NOS §§ 3º E 4º DO ART. 49;
d) determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas mensais, enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus administradores; e
e) ordenará a intimação eletrônica do Ministério Público e das Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento, a fim de que tomem conhecimento da recuperação judicial e informem eventuais créditos perante o devedor, para divulgação aos demais interessados.
· Fase deliberatória
DEFERIDO O PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL, ABRE-SE UM PRAZO IMPRORROGÁVEL DE 60 DIAS, CONTADOS DA PUBLICAÇÃO DE TAL DECISÃO, PARA QUE O DEVEDOR APRESENTE EM JUÍZO O SEU PLANO DE RECUPERAÇÃO. A PERDA DE TAL PRAZO É MOTIVO PARA A CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM FALÊNCIA. 
Atenção: O STJ já entendeu que tal prazo deve ser contado de forma contínua, ou seja, em dias seguidos, não levando em consideração a sistemática de contagem dos prazos em dias trazida pelo CPC, em 2015. Esse entendimento foi acolhido pela Reforma proporcionada pela Lei nº 14.112/20, ao afirmar que todos os prazos da Lei ou que dela decorram serão contados em dias corridos.
Apresentado o plano, o juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento do plano de recuperação e fixando prazo para a manifestação de objeções. Qualquer credor poderá promover objeções ao plano de recuperação judicial, no prazo de 30 dias do edital de comunicação para a apresentação do plano. 
Havendo objeção de credores, caberá ao juiz convocar assembleia geral de credores para deliberar sobre o plano, devendo a assembleia ocorrer em até 150 dias do deferimento da recuperação judicial. 
Até 5 dias antes da realização da assembleia convocada para deliberar sobre o plano de recuperação judicial, o devedor terá a oportunidade de comprovar a adesão dos credores ao plano, por meio de termo de adesão. Nesse caso, o juiz intimará os credores para eventuais objeções, no prazo de 10 dias. Depois, o devedor terá o prazo de 10 dias e na sequência o administrador judicial será ouvido em 5 dias.
As objeções, nesta situação, só poderão versar sobre: 
a) não preenchimento do quórum legal de aprovação;
b) descumprimento do procedimento disciplinado na Lei;
c) irregularidades do termo de adesão ao plano de recuperação; ou
d) irregularidade e ilegalidades do plano de recuperação.
A aprovação do plano de recuperação judicial pode ser: tácita ou expressa. A aprovação será tácita quando não houver objeção de credores – nesta hipótese, não haverá necessidade de convocação de assembleia de credores. A aprovação será expressa quando houver objeção de credores – nesta hipótese, haverá necessidade de convocação de assembleia para deliberar sobre as objeções de credores e para a aprovação do plano. A aprovação expressa pode ser: ordinária ou extraordinária.
A aprovação será ordinária quando houver a aprovação do plano pelos credores, atendendo-se ao quórum previsto no art. 45. Caso o quórum do art. 45 não seja atendido, em homenagem ao princípio da preservação da empresa, deverá o juiz observar se, na mesma assembleia, atendeu-se ao quórum do art. 58, § 1º. Atendendo-se ao quórum do art. 58, § 1º, haverá ocorrido a aprovação extraordinária do plano de recuperação judicial. É o que a doutrina tem denominado cramdown.
Art. 45. Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as classes de credores referidas no art. 41 desta Lei deverão aprovar a proposta.
§ 1º EM CADA UMA DAS CLASSES REFERIDAS NOS INCISOS II E III DO ART. 41 DESTA LEI, A PROPOSTA DEVERÁ SER APROVADA POR CREDORES QUE REPRESENTEM MAIS DA METADE DO VALOR TOTAL DOS CRÉDITOS PRESENTES À ASSEMBLÉIA E, CUMULATIVAMENTE, PELA MAIORIA SIMPLES DOS CREDORES PRESENTES.
§ 2º NAS CLASSES PREVISTAS NOS INCISOS I E IV DO ART. 41 DESTA LEI, A PROPOSTA DEVERÁ SER APROVADA PELA MAIORIA SIMPLES DOS CREDORES PRESENTES, INDEPENDENTEMENTE DO VALOR DE SEU CRÉDITO.
§ 3º O credor não terá direito a voto e não será considerado para fins de verificação de quorum de deliberação se o plano derecuperação judicial não alterar o valor ou as condições originais de pagamento de seu crédito.
Art. 41. A assembléia-geral será composta pelas seguintes classes de credores:
I – titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho;
II – titulares de créditos com garantia real;
III – titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados.
IV - titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte. (Incluído pela Lei Complementar nº 147, de 2014)
§ 1º Os titulares de créditos derivados da legislação do trabalho votam com a classe prevista no inciso I do caput deste artigo com o total de seu crédito, independentemente do valor.
§ 2º Os titulares de créditos com garantia real votam com a classe prevista no inciso II do caput deste artigo até o limite do valor do bem gravado e com a classe prevista no inciso III do caput deste artigo pelo restante do valor de seu crédito.
Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei ou tenha sido aprovado pela assembleia-geral de credores na forma dos arts. 45 ou 56-A desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
§ 1º O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não obteve aprovação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembléia, tenha obtido, de forma cumulativa:
I – o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os créditos presentes à assembléia, independentemente de classes;
II - a aprovação de 3 (três) das classes de credores ou, caso haja somente 3 (três) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 2 (duas) das classes ou, caso haja somente 2 (duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1 (uma) delas, sempre nos termos do art. 45 desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos credores, computados na forma dos §§ 1º e 2º do art. 45 desta Lei.
§ 2º A recuperação judicial somente poderá ser concedida com base no § 1º deste artigo se o plano não implicar tratamento diferenciado entre os credores da classe que o houver rejeitado.
Antes da Lei nº 14.112/20, se houvesse rejeição ao plano de recuperação judicial, haveria então a convolação da recuperação judicial em falência. Atualmente, abre-se a possibilidade de os credores, ao rejeitarem o plano de recuperação proposto pelo devedor, apresentarem um plano de recuperação judicial, no prazo de 30 dias, aprovado por credores que representem mais da metade dos créditos presentes à assembleia, a partir da votação em assembleia da concessão de tal prazo, sendo promovido pelo administrador judicial.
A Lei estabelece algumas condições que precisam ser satisfeitas cumulativamente, para o plano proposto pelos credores ser posto em votação: 
1st. Não preencher requisitos para o cramdown;
2nd. Preencher os requisitos para a formação do plano de recuperação;
3rd. Apoio por escrito dos credores que representem, alternativamente, 25% dos créditos totais sujeitos à recuperação judicial, ou 35% dos créditos presentes à assembleia;
4th. Não imputação de obrigações novas, não previstas em lei ou em contratos anteriormente celebrados, aos sócios do devedor;
5th. Previsão de isenção das garantias pessoais em relação aos créditos novados, de titularidade de quem apoiou e aprovou o plano alternativo, sem possibilidade de ressalva de voto; e
6th. Não imposição ao devedor de sacrifício maior que aquele que decorreria da liquidação na falência.
Aprovado o plano de recuperação judicial ou decorrido o prazo de objeção de credores, sem apresentação de nenhuma objeção, o devedor apresentará certidões negativas de débitos tributários (CNDT). A lei condiciona, portanto, do ponto de vista do devido processo legal, a decisão de concessão da recuperação judicial à aprovação do plano e à apresentação de CNDT. 
· Fase executória
É a fase de cumprimento processual do plano de recuperação judicial. Proferida a decisão de concessão da recuperação judicial, o devedor permanecerá em recuperação judicial até que se cumpram todas as obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 anos após a concessão. 
Entre a decisão que concede a recuperação judicial e a sentença que encerra o processo deve ocorrer em um período de, no máximo, 2 anos, independentemente de eventual prazo de carência.
Durante a fase executória, o descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano acarretará a convolação da recuperação judicial em falência. Decretada a falência, os credores terão reconstituídos os seus direitos e garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da recuperação judicial. Logo, a novação na recuperação judicial é condicionada ao cumprimento integral do plano de recuperação.
F.5) Homologação da recuperação extrajudicial
Recebido o pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial, o juiz ordenará a publicação de edital eletrônico, convocando todos os credores do devedor para apresentação de suas impugnações ao plano de recuperação extrajudicial, no prazo de trinta dias.
Neste mesmo prazo de trinta dias, deverá o devedor comprovar o envio de carta a todos os credores sujeitos ao plano, domiciliados ou sediados no país, informando a distribuição do pedido, as condições do plano e prazo para impugnação. 
Para opor-se, em sua manifestação, à homologação do plano, os credores somente poderão alegar:
a) a não aprovação mínima de credores que representem mais da metade dos créditos de cada espécie;
b) a prática de qualquer dos atos de falência;
c) a prática de ato sujeito à ineficácia subjetiva a ser corrigido via ação revocatória;
d) o descumprimento de qualquer exigência legal.
Sendo apresentada impugnação, será aberto prazo de 5 dias para que o devedor sobre ela se manifeste. Decorrido tal prazo, autos serão conclusos imediatamente ao juiz para apreciação de eventuais impugnações e decidirá, no prazo de 5 dias, acerca do plano de recuperação extrajudicial, homologando-o por sentença se entender que não implica prática de atos previstos no art. 130 desta Lei e que não há outras irregularidades que recomendem sua rejeição. 
Havendo prova de simulação de créditos ou vício de representação dos credores que subscreverem o plano, a sua homologação será indeferida.
F.6) Temas especiais de recuperação judicial
F.6.1) Período de stay
Um dos principais efeitos, tanto da decisão que defere o processamento da recuperação judicial quanto da sentença que decreta a falência, é a suspensão do curso da prescrição, das execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário e a proibição de qualquer forma de importunação patrimonial (constrição judicial ou extrajudicial). Para o processo de falência, tal suspensão se manterá até o dia em que transitar em julgado a sentença do encerramento da falência.
Porém, no que tange à recuperação judicial, a suspensão em questão é temporária e somente após o fim deste prazo serão restabelecidos os direitos dos credores de continuarem ou de iniciarem a cobrança referente aos seus créditos. 
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial implica:        
I - suspensão do curso da prescrição das obrigações do devedor sujeitas ao regime desta Lei; 
II - suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive daquelas dos credores particulares do sócio solidário, relativas a créditos ou obrigações sujeitos à recuperação judicial ou à falência;        
III - proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão e constrição judicial ou extrajudicial sobre os bens do devedor, oriunda de demandas judiciais ou extrajudiciais cujos créditosou obrigações sujeitem-se à recuperação judicial ou à falência. 
§ 1º Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que demandar quantia ilíquida.
§ 2º É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8º desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença.
§ 3º O juiz competente para as ações referidas nos §§ 1º e 2º deste artigo poderá determinar a reserva da importância que estimar devida na recuperação judicial ou na falência, e, uma vez reconhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe própria.
§ 4º Na recuperação judicial, as suspensões e a proibição de que tratam os incisos I, II e III do caput deste artigo perdurarão pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado do deferimento do processamento da recuperação, prorrogável por igual período, uma única vez, em caráter excepcional, desde que o devedor não haja concorrido com a superação do lapso temporal.   
§ 4º-A. O decurso do prazo previsto no § 4º deste artigo sem a deliberação a respeito do plano de recuperação judicial proposto pelo devedor faculta aos credores a propositura de plano alternativo, na forma dos §§ 4º, 5º, 6º e 7º do art. 56 desta Lei, observado o seguinte:       
I - as suspensões e a proibição de que tratam os incisos I, II e III do caput deste artigo não serão aplicáveis caso os credores não apresentem plano alternativo no prazo de 30 (trinta) dias, contado do final do prazo referido no § 4º deste artigo ou no § 4º do art. 56 desta Lei;    
II - as suspensões e a proibição de que tratam os incisos I, II e III do caput deste artigo perdurarão por 180 (cento e oitenta) dias contados do final do prazo referido no § 4º deste artigo, ou da realização da assembleia-geral de credores referida no § 4º do art. 56 desta Lei, caso os credores apresentem plano alternativo no prazo referido no inciso I deste parágrafo ou no prazo referido no § 4º do art. 56 desta Lei.    
§ 5º O disposto no § 2º deste artigo aplica-se à recuperação judicial durante o período de suspensão de que trata o § 4º deste artigo.   
§ 6º Independentemente da verificação periódica perante os cartórios de distribuição, as ações que venham a ser propostas contra o devedor deverão ser comunicadas ao juízo da falência ou da recuperação judicial:
I – pelo juiz competente, quando do recebimento da petição inicial;
II – pelo devedor, imediatamente após a citação.
Se houver apresentação de plano de recuperação alternativo pelos credores, haverá uma segunda prorrogação.
Como regra geral, portanto, suspendem-se prescrições e execuções “em face do devedor”. Há, porém, exceções dignas de nota:
a) a ação que demandar quantia ilíquida terá prosseguimento no juízo de origem;
b) as reclamações trabalhistas continuarão a tramitar perante a Justiça do Trabalho, até por ocasião da sentença;
c) os créditos dos credores proprietários – alienação fiduciária em garantia, leasing, compra e venda com reserva de domínio, promessa de compra e venda com cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade – não se submetem à recuperação judicial, mas só podem exercer seus direitos de proprietário após o período de stay;
d) o crédito decorrente de adiantamento de contrato de câmbio para exportação, desde que o prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o previsto nas normas específicas da autoridade competente não se submete à recuperação judicial, não sendo suspensa, portanto, a sua cobrança;
e) para a recuperação judicial do produtor rural: créditos que não decorram exclusivamente da atividade rural, as operações de crédito rural que tenham sido objeto de renegociação entre o devedor e a instituição financeira antes do pedido e a dívida constituída nos últimos 3 anos para a aquisição de propriedades rurais.
F.6.2) O cramdown
Cramdown é a possibilidade de o juiz intervir no processo de recuperação judicial, considerando aprovado um plano de recuperação e concedê-lo mesmo que contra a vontade dos credores. 
Não havendo a possibilidade de aplicação sequer do cramdown, haverá a rejeição do plano de recuperação judicial que implica outra hipótese de convolação da recuperação judicial em falência, caso os credores não apresentem plano de recuperação judicial alternativo.
F.6.3) A convolação da recuperação judicial em falência
O art. 73, da Lei 11.101/05, apresenta, em rol taxativo, as hipóteses de convolação da recuperação judicial em falência:
a) por deliberação da assembleia geral de credores, reforçando a natureza contratual da recuperação judicial;
b) pela não apresentação do plano de recuperação judicial, no prazo de 60 dias contados do deferimento do processamento da recuperação judicial;
c) quando houver sido rejeitado o plano de recuperação judicial – na recuperação judicial geral haverá rejeição quando, convocada assembleia, não se consiga atingir o quórum do art. 45, nem o do art. 58, § 1º, e, na recuperação judicial especial, quando houver objeções de credores titulares de mais da metade dos créditos submetidos, não tendo os credores apresentado plano alternativo;
d) pelo descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano de recuperação judicial, desde que antes da sentença de encerramento processual da recuperação judicial;
e) por descumprimento dos parcelamentos ou de transação tributária; e
f) quando identificado o esvaziamento patrimonial da devedora que implique liquidação substancial da empresa, em prejuízo de credores não sujeitos à recuperação judicial, inclusive as Fazendas Públicas.
F.6.4) O plano de recuperação judicial
Existem inúmeros meios de recuperação judicial, previstos no rol exemplificativo do art. 50, da Lei 11.101/05, classificados como:
a) Mecanismos de renegociação da dívida;
b) Mecanismos de reorganização societária;
c) Mecanismos de intervenção administrativa;
d) Mecanismos de captação de recursos.
A estrutura básica do plano de recuperação judicial, que deve ser apresentado no prazo contínuo de 60 dias, contados da publicação da decisão que deferiu o processamento da recuperação judicial, sob pena de convolação em falência, é a seguinte:
a) discriminação pormenorizada dos meios de recuperação judicial;
b) demonstração da viabilidade econômica; e
c) laudo econômico-financeiro e de avaliação patrimonial.
Em até 30 dias seguintes à concessão da recuperação judicial, o plano deverá prever o pagamento, até o limite de 5 salários mínimos por empregado, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 meses anteriores ao pedido de recuperação judicial. Além disto, em até 1 ano da concessão da recuperação judicial, deverá ser resolvido o passivo trabalhista – tanto créditos derivados da legislação do trabalho quando créditos decorrentes de acidente de trabalho – vencidos até a data do pedido de recuperação judicial.
Com a reforma promovida pela Lei nº 14.112/20, o prazo de 1 ano para a satisfação dos créditos trabalhistas poderá ser estendido em até 2 anos. Frise-se, por oportuno: ao prazo inicial de 1 ano, pode-se acrescer mais 1 ano (até 2 anos, diz a lei, e não “mais 2 anos”). 
F.6.5) O plano de recuperação judicial especial (arts. 70 a 72, da Lei 11.101/05) 
Trata-se de procedimento de recuperação judicial previsto facultativamente para o empresário que se enquadrar juridicamente como microempresa ou como empresa de pequeno porte. 
O empresário ME/EPP pode se submeter tanto à recuperação judicial geral quanto à recuperação judicial especial. Para exercer tal direito de escolha deve afirmar expressamente na petição inicial a sua intenção de se submeter ao procedimento especial de recuperação judicial; no silêncio, submeter-se-á à recuperação judicial ordinária ou geral.
A recuperação judicial especial se submete aos mesmos procedimentos e requisitos previstos para a recuperaçãojudicial, com as seguintes peculiaridades:
a) Não haverá necessidade de convocação de assembleia para a aprovação do plano de recuperação judicial;
b) O plano de recuperação judicial especial preverá o parcelamento do passivo em até 36 parcelas mensais, iguais e sucessivas, corrigidas monetariamente pela taxa Selic, definindo-se o primeiro pagamento para até 180 dias contados da distribuição do pedido de recuperação judicial;
c) Haverá necessidade de autorização judicial, após ouvido o Comitê de Credores, se houver, para o devedor contrair quaisquer novos débitos, tanto despesas em geral, quanto contratar empregados, ainda que para a recomposição do quadro de funcionários;
d) O período de stay, na recuperação judicial especial, só alcançará aos credores por ela abrangidos, diferentemente do stay na recuperação judicial geral que, por regra, alcança a todos os credores, tanto anteriores quanto posteriores ao pedido.
F.6.6) O afastamento do devedor na recuperação judicial
Em regra, diferentemente do que ocorre na falência, o devedor ou os administradores da sociedade, na recuperação judicial, serão mantidos na condução da atividade empresarial. Vale dizer, o devedor continuará administrando a sua empresa durante o processamento da recuperação judicial, em nível de regra geral, sendo obviamente fiscalizado pelo administrador judicial e pelo comitê de credores.
O rol do art. 64 trata das hipóteses de afastamento do devedor na recuperação judicial; sendo um rol taxativo.
F.6.7) Os créditos posteriores ao pedido de recuperação judicial
O art. 49, da Lei 11.101/05 determina que se submetem à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos. Logo, os créditos posteriores ao pedido estão fora da hipótese de incidência da recuperação judicial. 
Mesmo os credores posteriores haverão de se submeter ao período de stay, sendo certo que o direito dos credores de iniciar cobrança será restabelecido apenas após expirado o prazo de suspensão na recuperação judicial.
Terminado o período de stay, os credores poderão promover a cobrança dos respectivos créditos pelos meios juridicamente possíveis: ação de execução, ação monitória e ação de cobrança.
Porém, na hipótese de decretação de falência:
a) os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor durante a recuperação judicial, inclusive aqueles relativos a despesas com fornecedores de bens e serviços e contratos de mútuo, serão considerados extraconcursais; e
b) O plano de recuperação judicial poderá prever tratamento diferenciado aos créditos sujeitos à recuperação judicial pertencentes a fornecedores de bens ou serviços que continuarem a provê-los normalmente após o pedido de recuperação judicial, desde que tais bens ou serviços sejam necessários para a manutenção das atividades e que o tratamento diferenciado seja adequado e razoável no que concerne à relação comercial futura.
 
Primeira leitura Segunda leitura
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor.
Art. 2º Esta Lei não se aplica a:
I – empresa pública e sociedade de economia mista;
II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.
Art. 3º É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.
Art. 4º (VETADO)
CAPÍTULO II
DISPOSIÇÕES COMUNS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL E À FALÊNCIA
Seção I
Disposições Gerais
Art. 5º Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:
I – as obrigações a título gratuito;
II – as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor.
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial implica:        (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)          (Vigência)
I - suspensão do curso da prescrição das obrigações do devedor sujeitas ao regime desta Lei;        (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)          (Vigência)
II - suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive daquelas dos credores particulares do sócio solidário, relativas a créditos ou obrigações sujeitos à recuperação judicial ou à falência;        (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)          (Vigência)
III - proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão e constrição judicial ou extrajudicial sobre os bens do devedor, oriunda de demandas judiciais ou extrajudiciais cujos créditos ou obrigações sujeitem-se à recuperação judicial ou à falência.        (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)          (Vigência)
§ 1º Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que demandar quantia ilíquida.
§ 2º É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8º desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença.
§ 3º O juiz competente para as ações referidas nos §§ 1º e 2º deste artigo poderá determinar a reserva da importância que estimar devida na recuperação judicial ou na falência, e, uma vez reconhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe própria.
§ 4º Na recuperação judicial, as suspensões e a proibição de que tratam os incisos I, II e III do caput deste artigo perdurarão pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado do deferimento do processamento da recuperação, prorrogável por igual período, uma única vez, em caráter excepcional, desde que o devedor não haja concorrido com a superação do lapso temporal.     (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)           (Vigência)
§ 4º-A. O decurso do prazo previsto no § 4º deste artigo sem a deliberação a respeito do plano de recuperação judicial proposto pelo devedor faculta aos credores a propositura de plano alternativo, na forma dos §§ 4º, 5º, 6º e 7º do art. 56 desta Lei, observado o seguinte:      (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)           (Vigência)
I - as suspensões e a proibição de que tratam os incisos I, II e III do caput deste artigo não serão aplicáveis caso os credores não apresentem plano alternativo no prazo de 30 (trinta) dias, contado do final do prazo referido no § 4º deste artigo ou no § 4º do art. 56 desta Lei;       (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)           (Vigência)
II - as suspensões e a proibição de que tratam os incisos I, II e III do caput deste artigo perdurarão por 180 (cento e oitenta) dias contados do final do prazo referido no § 4º deste artigo, ou da realização da assembleia-geral de credores referida no § 4º do art. 56 desta Lei, caso os credores apresentem plano alternativo no prazo referido no inciso I deste parágrafo ou no prazo referido no § 4º do art. 56 desta Lei.   (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)           (Vigência)
§ 7º-A. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica aos créditos referidos nos §§ 3º e 4º do art. 49 desta Lei, admitida, todavia, a competência do juízo da recuperação judicial para determinar a suspensão dos atos de constrição que recaiam sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4º deste artigo, a qual será implementada mediante a cooperação jurisdicional, na forma do art. 69 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de ProcessoCivil), observado o disposto no art. 805 do referido Código.     (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)
§ 7º-B. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica às execuções fiscais, admitida, todavia, a competência do juízo da recuperação judicial para determinar a substituição dos atos de constrição que recaiam sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial até o encerramento da recuperação judicial, a qual será implementada mediante a cooperação jurisdicional, na forma do art. 69 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), observado o disposto no art. 805 do referido Código.        (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)        (Vigência)
§ 8º A distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial ou a homologação de recuperação extrajudicial previne a jurisdição para qualquer outro pedido de falência, de recuperação judicial ou de homologação de recuperação extrajudicial relativo ao mesmo devedor.     (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)      (Vigência)
§ 9º O processamento da recuperação judicial ou a decretação da falência não autoriza o administrador judicial a recusar a eficácia da convenção de arbitragem, não impedindo ou suspendendo a instauração de procedimento arbitral.       (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)
§ 12. Observado o disposto no art. 300 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), o juiz poderá antecipar total ou parcialmente os efeitos do deferimento do processamento da recuperação judicial.     (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)
§ 13.  Não se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial os contratos e obrigações decorrentes dos atos cooperativos praticados pelas sociedades cooperativas com seus cooperados, na forma do art. 79 da Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, consequentemente, não se aplicando a vedação contida no inciso II do art. 2º quando a sociedade operadora de plano de assistência à saúde for cooperativa médica.    (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)
Art. 6º-A. É vedado ao devedor, até a aprovação do plano de recuperação judicial, distribuir lucros ou dividendos a sócios e acionistas, sujeitando-se o infrator ao disposto no art. 168 desta Lei.     (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
Art. 6º-C. É vedada atribuição de responsabilidade a terceiros em decorrência do mero inadimplemento de obrigações do devedor falido ou em recuperação judicial, ressalvadas as garantias reais e fidejussórias, bem como as demais hipóteses reguladas por esta Lei.        (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)      (Vigência)
Seção II
Da Verificação e da Habilitação de Créditos
Art. 7º A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas.
§ 1º Publicado o edital previsto no art. 52, § 1º , ou no parágrafo único do art. 99 desta Lei, os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitações ou suas divergências quanto aos créditos relacionados.
§ 2º O administrador judicial, com base nas informações e documentos colhidos na forma do caput e do § 1º deste artigo, fará publicar edital contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do prazo do § 1º deste artigo, devendo indicar o local, o horário e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8º desta Lei terão acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração dessa relação.
Art. 7º-A. Na falência, após realizadas as intimações e publicado o edital, conforme previsto, respectivamente, no inciso XIII do caput e no § 1º do art. 99 desta Lei, o juiz instaurará, de ofício, para cada Fazenda Pública credora, incidente de classificação de crédito público e determinará a sua intimação eletrônica para que, no prazo de 30 (trinta) dias, apresente diretamente ao administrador judicial ou em juízo, a depender do momento processual, a relação completa de seus créditos inscritos em dívida ativa, acompanhada dos cálculos, da classificação e das informações sobre a situação atual.    (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)      (Vigência)
§ 2º Os créditos não definitivamente constituídos, não inscritos em dívida ativa ou com exigibilidade suspensa poderão ser informados em momento posterior.      (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)
§ 3º Encerrado o prazo de que trata o caput deste artigo:      (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)
I - o falido, os demais credores e o administrador judicial disporão do prazo de 15 (quinze) dias para manifestar objeções, limitadamente, sobre os cálculos e a classificação para os fins desta Lei;      (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
II - a Fazenda Pública, ultrapassado o prazo de que trata o inciso I deste parágrafo, será intimada para prestar, no prazo de 10 (dez) dias, eventuais esclarecimentos a respeito das manifestações previstas no referido inciso;       (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)
V - o juiz, anteriormente à homologação do quadro-geral de credores, concederá prazo comum de 10 (dez) dias para que o administrador judicial e a Fazenda Pública titular de crédito objeto de reserva manifestem-se sobre a situação atual desses créditos e, ao final do referido prazo, decidirá acerca da necessidade de mantê-la.         (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
§ 4º Com relação à aplicação do disposto neste artigo, serão observadas as seguintes disposições:      (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
I - a decisão sobre os cálculos e a classificação dos créditos para os fins do disposto nesta Lei, bem como sobre a arrecadação dos bens, a realização do ativo e o pagamento aos credores, competirá ao juízo falimentar;       (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)   (Vigência)
II - a decisão sobre a existência, a exigibilidade e o valor do crédito, observado o disposto no inciso II do caput do art. 9º desta Lei e as demais regras do processo de falência, bem como sobre o eventual prosseguimento da cobrança contra os corresponsáveis, competirá ao juízo da execução fiscal;       (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
IV - o administrador judicial e o juízo falimentar deverão respeitar a presunção de certeza e liquidez de que trata o art. 3º da Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III deste parágrafo;       (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)    (Vigência)
V - as execuções fiscais permanecerão suspensas até o encerramento da falência, sem prejuízo da possibilidade de prosseguimento contra os corresponsáveis;      (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)   (Vigência)
§ 8º Não haverá condenação em honorários de sucumbência no incidente de que trata este artigo.      (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)     (Vigência)
Art. 8º No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida no art. 7º , § 2º , desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público podem apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credores, apontando a ausência de qualquer crédito ou manifestando-se contra a legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado.
Art. 9º A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7º , § 1º , desta Lei deverá conter:
I – o nome, o endereço do credor e o endereço em que receberá comunicação de qualquer ato do processo;
II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do pedido de recuperação judicial, sua origem e classificação;
III – os documentos comprobatórios do crédito e a indicação das demais provas a serem produzidas;
IV – a indicação da garantia prestada pelo devedor, se houver, e o respectivo instrumento;
V – a especificação do objeto da garantia que

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