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Micobactérias As micobactérias são microrganismos que apresentam forma bacilar com dimensões que variam de 0,2μm a 0,6μm de largura e 1μm a 10μm de comprimento. (WILDNER, 2011) São bacilos delgados, retos ou ligeiramente curvos, pleomórficos, aeróbios ou microaerófilos, imóveis e incapazes de formar esporos, conídeos ou cápsulas. (WILDNER, 2011) O tempo de multiplicação é geralmente lento e apresenta grande variação dentro do gênero, o que permite dividi-las em micobactérias de crescimento rápido (crescimento visível em menos de sete dias) e em micobactérias de crescimento lento (crescimento visível em mais de sete dias). (WILDNER, 2011) As espécies, em sua maioria, são saprófitas, vivem e replicam-se em ambientes naturais, ao passo que uma pequena parcela adapta-se ao ambiente intracelular, tornando-se patógenos preferencialmente de vertebrados superiores. (WILDNER, 2011) Embora classificadas como Gram-positivas, as micobactérias não são coradas pela coloração de Gram, mas pelos métodos de Ziehl-Neelsen e de Kinyoun usualmente. (WILDNER, 2011) Ambas as técnicas utilizam a carbolfucsina que confere coloração vermelha às micobactérias. (WILDNER, 2011) Por resistirem ao descoramento subsequente com solução álcool-ácido, receberam a designação de “bacilos álcool-ácido resistentes”. (WILDNER, 2011) Esta característica tintorial deve-se ao alto teor de lipídios – cerca de 60% – que integra a sua parede celular, composta basicamente por uma membrana citoplasmática recoberta por espessa camada de peptidoglicano (ácido N-glicolilmurâmico), o qual se encontra covalentemente ligado às cadeias de arabinogalactano (polissacarídeo) que, por sua vez, estão esterificadas na sua extremidade com ácidos graxos de cadeia longa, os ácidos micólicos. (WILDNER, 2011) Há também proteínas e lipídios livres que não estão ligados covalentemente a este esqueleto basal (complexo arabinogalactano-peptideoglicano). (WILDNER, 2011) Dentre estes, o ácido micólico é o principal responsável por conferir às micobactérias resistência à descoloração por álcool-ácido, assim como a resistência à ação de diversos agentes químicos e antibióticos e a capacidade de formar de biofilmes (WILDNER, 2011) Classificação das Micobacterias Em 1980, conheciam-se 41 espécies pertencentes ao gênero Mycobacterium; em 1985, esse número se elevou a 54 e, atualmente, o gênero conta com mais de 60 espécies reconhecidas. (WILDNER, 2011) As micobactérias foram divididas em quatro grupos: (WILDNER, 2011) • Grupo I: estão incluídas as micobactérias de crescimento lento. Produzem colônias com pigmentação de cor amarelada, quando expostas à luz. São, por isso, denominadas "fotocromógenas", incluindo- se nesse grupo M. kansasii, M. simiae e M. marinum • Grupo II: micobactérias de crescimento lento, que também produzem colônias com pigmentação de cor amarelada, porém, independente de exposição à luz. São denominadas "escotocromógenas", sendo representantes desse grupo M. scrofulaceum, M. gordonae, M.flavescens lavescens e M. xenopi. • Grupo III: micobactérias de crescimento lento, que podem produzir pequena ou nenhuma pigmentação, mesmo quando expostas à luz intensa. São denominadas acromógenas, sendo representantes desse grupo o complexo M. avium-intracellulare, M. terrae, M. triviale e M. gastri. • Grupo IV: micobactérias de crescimento rápido (três a sete dias) que podem apresentar ou não pigmentação, sendo representante desse grupo o complexo M. fortuitumchelonae. De acordo com o grau de patogenicidade, as micobactérias são divididas em três grupos: estritamente patogênicas, potencialmente patogênicas e raramente patogênicas ou saprófitas (WILDNER, 2011) TUTORIA 13 @juliaasoare_ • 3º período de Medicina Mycobacterium tuberculosis hominis: é o tipo mais frequente de tuberculose que ameaça seres humanos. Outras micobactérias como o complexo Mycobacterium avium-intracellulare (MAI) são muito menos virulentas que o M. tuberculosis hominis. Essas micobactérias raramente causam doença, exceto nos indivíduos gravemente imunossuprimidos, inclusive pacientes infectados pelo HIV. Em geral, o complexo MAI é transmitido pela ingestão de alimentos ou água contaminada. (PORTH) Mycobacterium tuberculosis hominis é um microrganismo disseminado pelo ar em diminutas partículas invisíveis conhecidas como núcleos goticulares, acumuladas nas secreções respiratórias dos pacientes com tuberculose em atividade. (PORTH) Tossir, espirrar e falar produzem gotículas respiratórias. Essas gotículas evaporam e abrigam os microrganismos (núcleos goticulares), que permanecem suspensos no ar e são transportados pelas correntes de ar. (PORTH) Desse modo, viver em condições de aglomeração e ambientes confinados aumenta o risco de disseminação da doença. (PORTH) Tuberculose Epidemiologia Apesar da tuberculose ser uma doença antiga e ter tratamento disponível desde a década de 60, é considerada pela OMS um grande problema de saúde pública. (PILLER, 2012) Um terço da população mundial está infectado por Mycobacterium tuberculosis e em risco de desenvolver a doença. (PILLER, 2012) Segundo a Organização Mundial de Saúde, a taxa de incidência da tuberculose vem diminuindo desde 2002 em 1,3% ao ano. (PILLER, 2012) A estimativa de novos casos de tuberculose no mundo é de 8,8 milhões em 2010, equivalente a 128/100.000 habitantes. Desse total, 59%, 26%, 7%, 5% e 3%, respectivamente, estão na Ásia, África, região do Mediterrâneo, Europa e Américas. (PILLER, 2012) Entre 1 e 1,2 milhões de casos são de pessoas vivendo com HIV/AIDS. (PILLER, 2012) A África é responsável por 82% dos casos de coinfecção tuberculose/ HIV no mundo. (PILLER, 2012) São responsáveis por 81% de todos os casos de tuberculose no mundo 22 países, sendo os cinco primeiros a Índia (um quarto dos casos), China, África do Sul, Indonésia e Paquistão. O Brasil está em 17º lugar nesse ranking. (PILLER, 2012) Embora o tratamento da TB seja praticamente ambulatorial, a doença é a nona causa de hospitalização e a quarta de mortalidade no caso de doenças infecciosas, cuja taxa é de aproximadamente 5 mil mortes ao ano. Somente o estado de São Paulo notifica 18 mil casos anualmente, representando o maior número do Brasil. (WILDNER, 2011) O número de óbitos em 2010 foi de 4.800, sendo a terceira causa de morte por doenças infecciosas e a primeira causa de morte entre os pacientes HIV positivos. A taxa de mortalidade é 3 vezes maior nos homens (3,8/100.000) que nas mulheres (1,3/100.000) atualmente. (PILLER, 2012) A tuberculose e o HIV têm uma interação sinérgica, na qual cada um acentua a progressão do outro. A infecção por HIV é o maior fator de risco conhecido para o desenvolvimento de tuberculose ativa. Pessoas infectadas por HIV têm alto risco de progredir para tuberculose ativa a partir de um foco de infecção primária, assim como a partir da reativação da tuberculose latente. A infecção por HIV também aumenta o risco de subsequentes episódios de tuberculose por reinfecção exógena. O risco anual estimado de reativação entre aqueles com coinfecção tuberculose/ HIV é de 5-8%, com um risco acumulado ao longo da vida de 30%, quando comparados com adultos HIV negativos, cujo risco é de 5-10% (PILLER, 2012) Nos países desenvolvidos, as pessoas idosas, as minorias étnicas e a população de imigrantes são os mais atingidos. (PILLER, 2012) Nos países em desenvolvimento, determinantes sociais de grandes centros urbanos, como pobreza, baixa @juliaasoare_ • 3º período de Medicina escolaridade, situações de confinamento, pessoas vivendo em situaçãode rua, abuso de drogas e indivíduos marginalizados, com difícil acesso aos serviços de saúde, formam um grande grupo de indivíduos vulneráveis entre os quais a tuberculose circula, contribuindo para perpetuar a doença e a miséria. (PILLER, 2012) A incidência de tuberculose é duas vezes maior na população negra e quatro vezes maior na indígena. (PILLER, 2012) População carcerária: Na população carcerária, a taxa é 25 vezes maior e, entre os portadores de HIV, é 30 vezes maior. Na população vivendo em situação de rua, a taxa chega a ser 67 vezes maior. (PILLER, 2012) Quanto ao risco anual de desenvolvimento de tuberculose ativa, a desnutrição e o diabetes elevam o risco em 2-4 vezes, o uso de imunossupressores eleva o risco em 2-12 vezes, a silicose o aumenta em 8-34 vezes, e a infecção por HIV o aumenta em 50- 100 vezes. (PILLER, 2012) A população carcerária no Brasil conta com 470 mil presos, segundo dados de 2009. (PILLER, 2012) É composta, em sua grande maioria, de uma população jovem, negra ou parda, pobre e de baixa escolaridade. (PILLER, 2012) Considerando que esse número aumentou 103% em relação a 2001 e que o número de estabelecimentos prisionais cresceu 27%, pode-se deduzir daí a superlotação e as precárias condições de ventilação e iluminação dessas instituições, explicando a taxa de incidência da tuberculose no sistema penitenciário de 2.560/100.000 (3.532/100.000 em prisões do Rio de Janeiro). (PILLER, 2012) É interessante o fato de que apenas um terço dos doentes referia tosse por mais de três semanas e de que mais de 60% dos casos confirmados bacteriologicamente não apresentavam esse sintoma. (PILLER, 2012) A detecção precoce e ativa, baseada em exame radiológico, o tratamento e a melhoria das condições de encarceramento, aliados às estratégias de informação e sensibilização, são peças fundamentais para a diminuição da incidência da doença nos presídios. (PILLER, 2012) Covid-19 e Tuberculose: A tuberculose se tornou a principal causa de morte por doenças infecciosas no mundo em 2015, quando ultrapassou a infecção pelo HIV. (SILVA, 2021) No entanto, em 1º de abril de 2020, a COVID-19 ultrapassou a tuberculose em termos do número de óbitos por dia. (SILVA, 2021) Desde o início da pandemia de COVID-19, têm sido notificados casos de tuberculose e COVID-19 concomitantes (SILVA, 2021) A associação apresenta grande potencial de morbidade e mortalidade. (SILVA, 2021) Além disso, a pandemia de COVID-19 tem tido um impacto significativo no diagnóstico e tratamento da tuberculose. (SILVA, 2021) A redução da demanda para o diagnóstico e tratamento da tuberculose pode ter reflexo nas futuras taxas de incidência e mortalidade. (SILVA, 2021) Etiologia Tuberculose é uma doença infecciosa causada pela micobactéria M. tuberculosis. (PORTH) As micobactérias são bactérias aeróbias, com forma de bastonetes finos, que não formam esporos. (PORTH) Esses microrganismos são semelhantes às outras bactérias, com exceção de sua cápsula cerosa externa que as torna mais resistentes à destruição; o bacilo da tuberculose pode persistir em lesões necróticas e calcificadas antigas e manter sua capacidade de reiniciar a proliferação. (PORTH) O revestimento ceroso também possibilita que o microrganismo retenha um corante vermelho, quando a amostra é tratada com ácido por coloração álcool- acidorresistente. (PORTH) Desse modo, as micobactérias são comumente conhecidas como bacilos álcool-acidorresistentes. (PORTH) Embora M. tuberculosis possa infectar quase todos os órgãos do corpo, os pulmões são afetados mais comumente. (PORTH) Os bacilos da tuberculose são aeróbios estritos, que proliferam em ambientes ricos em oxigênio. Isso explica sua tendência de causar doença dos lobos superiores ou das partes mais altas do lobo inferior do pulmão, onde a ventilação e a concentração de oxigênio são mais altas. (PORTH) @juliaasoare_ • 3º período de Medicina Fatores de Risco Diabetes mellitus: Os pacientes com diabetes mellitus (DM) correm um maior risco de passar de tuberculose latente para tuberculose ativa.. (SILVA, 2018) Aproximadamente 15% dos casos de tuberculose em todo o mundo podem estar ligados à DM. (SILVA, 2018) Pacientes com tuberculose e DM apresentam uma pior apresentação clínica e um maior número de sintomas, especialmente perda de peso, febre, dispneia e suores noturnos. (SILVA, 2018) A probabilidade de uma pessoa com tuberculose ir a óbito ou apresentar recaída é significativamente maior se a pessoa também tiver DM. (SILVA, 2018) Pacientes com DM apresentam um risco 3,9 vezes maior de falha no tratamento. (SILVA, 2018) Tabagismo: Estima-se que, em todo o mundo, 1,3 bilhão de pessoas consuma tabaco e que a maioria delas viva em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, onde as taxas de tuberculose também são maiores. (SILVA, 2018) Algumas análises sistemáticas e meta-análises de estudos observacionais mostraram uma associação desfavorável entre a epidemia global de tuberculose e tabagismo, sendo a exposição ao tabagismo associada à infecção tuberculosa, tuberculose ativa e mortalidade relacionada à tuberculose. (SILVA, 2018) A exposição passiva e ativa à fumaça do cigarro está associada a um risco aumentado de infecção por M. tuberculosis e ao desenvolvimento de tuberculose ativa. (SILVA, 2018) Um estudo recente também mostrou que o risco de infecção por M. tuberculosis estava aumentado em crianças que viviam em uma região endêmica de tuberculose e que o tabagismo dos pais foi significativamente associado ao risco de tuberculose ativa, mesmo depois de o risco ter sido ajustado por fatores associado. (SILVA, 2018) O tabagismo foi associado ao abandono do tratamento da tuberculose, e essa associação foi independente do consumo de álcool ou de drogas ilícitas. (SILVA, 2018) Portanto, o abandono do tratamento da tuberculose pode estar relacionado aos aspectos psicossociais do tabagismo, à predominância de homens e ao menor nível socioeconômico das populações afetadas, fatores que estão associados a menores taxas de adesão ao tratamento. (SILVA, 2018) Uso de álcool: Estima-se que aproximadamente 10% de todos os casos de tuberculose são atribuíveis ao uso de álcool. (SILVA, 2018) A associação entre o consumo de álcool e a tuberculose é longamente conhecida, embora tenha havido resultados não conclusivos relacionados a vários fatores de confusão, porque ainda não se sabe se o risco aumentado de tuberculose é devido ao uso de álcool ou se por causa das sequelas do transtorno do uso de álcool (TUA), como danos ao fígado e deficiência nutricional, ou por fatores sociais, como aglomeração, desnutrição, falta de moradia e prisão, independentemente do consumo de álcool. (SILVA, 2018) No entanto, estudos in vivo e in vitro demonstraram que o uso de álcool altera significativamente a resposta imune, aumentando a suscetibilidade a doenças respiratórias, como a tuberculose. (SILVA, 2018) Uso de drogas ilícitas: Dados epidemiológicos sugerem que a relação entre tuberculose e uso de drogas ilícitas está aumentando, levando a um problema de saúde pública, pois envolve aspectos políticos, humanos, sociais e econômicos. (SILVA, 2018) A presença de usuários de drogas ilícitas infectados por tuberculose em famílias e comunidades é um fator crucial na manutenção da cadeia da transmissão da tuberculose. (SILVA, 2018) Entre os usuários de drogas ilícitas, a infecção por M. tuberculosis e a progressão para a doença ativa são promovidas por vários fatores: (SILVA, 2018) • o estilo arriscado de vida desses usuários; as condições de habitação superlotadas; • a acumulação e o isolamento de pessoas em ambientes fechados para o consumo de drogas ilícitas; • a partilha de materiais como cachimbos; a desnutrição e a tosse grave apresentadaspor muitos usuários; • a propagação da infecção por HIV entre usuários de drogas ilícitas; • e o elevado número de detentos. A proporção de indivíduos que apresentam fatores de risco para a infecção por M. tuberculosis e sua progressão para tuberculose ativa é de 8,0% entre @juliaasoare_ • 3º período de Medicina usuários de drogas injetáveis, em comparação com apenas 0,2% na população geral. (SILVA, 2018) Outros fatores de risco: (SILVA, 2018) • Infecção recente (menos de 1 ano) • Infecção por HIV • Insuficiência renal • Tratamento imunossupressor • Transplantes • Desnutrição e grandes reduções de peso • Gastrectomia • Câncer a cabeça e pescoço Fisiopatologia Os macrófagos são as células principais infectadas pelo M. tuberculosis. (PORTH) Os núcleos goticulares inalados descem pela árvore brônquica sem aderir ao epitélio e são depositados nos alvéolos. (PORTH) Pouco depois de entrar nos pulmões, os bacilos são fagocitados pelos macrófagos alveolares, mas resistem à destruição, aparentemente porque os lipídios da parede celular do M. tuberculosis impedem a fusão dos fagossomos e lisossomos. (PORTH) Embora os macrófagos que fagocitam inicialmente o M. tuberculosis não consigam destruí-lo, estas células iniciam uma reação imune celular que, por fim, contém a infecção. (PORTH) À medida que os bacilos da tuberculose se multiplicam, os macrófagos infectados decompõem as micobactérias e apresentam seus antígenos aos linfócitos T. (PORTH) Por sua vez, os linfócitos T sensibilizados estimulam os macrófagos a aumentar sua concentração de enzimas líticas e sua capacidade de destruir as micobactérias. (PORTH) Quando são liberadas, essas enzimas líticas também destroem os tecidos do pulmão. (PORTH) O desenvolvimento de uma população de linfócitos T ativados e a formação concomitante de macrófagos ativados capazes de ingerir e destruir os bacilos constituem a resposta imune celular – um processo que demora cerca de 3 a 6 semanas para se tornar eficaz. (PORTH) Nos indivíduos com imunidade celular normal, a resposta imune celular resulta na formação de uma lesão granulomatosa branco-acinzentada bem demarcada conhecida como foco de Ghon, que contém os bacilos da tuberculose, macrófagos modificados e outras células imunes. (PORTH) Em geral, essa lesão está localizada na área subpleural dos segmentos superiores dos lobos inferiores ou nos segmentos inferiores do lobo superior. (PORTH) Quando a quantidade de microrganismos é grande, uma reação de hipersensibilidade produz necrose significativa dos tecidos e provoca necrose caseosa (semelhante ao queijo) macia. (PORTH) Durante esse mesmo período, os bacilos da tuberculose liberados dos macrófagos são levados pela drenagem linfática até os linfonodos traqueobrônquicos do pulmão afetado e lá provocam a formação de granulomas caseosos. (PORTH) A combinação da lesão pulmonar primária com os granulomas dos linfonodos é conhecida como complexo de Ghon. (PORTH) Por fim, o complexo de Ghon cicatriza e sofre retração, fibrose e calcificação – esta última detectável nas radiografias. (PORTH) Entretanto, quantidades pequenas de microrganismos são capazes de permanecer viáveis por alguns anos. (PORTH) Mais tarde, quando os mecanismos imunes decaem ou falham, a infecção tuberculosa latente pode evoluir para tuberculose secundária. (PORTH) Manifestações Clínicas A tuberculose é separada em dois tipos fisiopatológicos: tuberculose primária (ocorre em hospedeiro não imune) e Tuberculose secundária (ocorre em hospedeiro imune ao M. tuberculosis). (PORTH) @juliaasoare_ • 3º período de Medicina Tuberculose primária: Tuberculose primária é uma forma da doença que ocorre em indivíduos que não foram expostos anteriormente e, por esta razão, não estão sensibilizados. (PORTH) Nos casos típicos, essa infecção é iniciada em consequência da inalação de núcleos goticulares contendo bacilos da tuberculose. (PORTH) A maioria dos pacientes com tuberculose primária desenvolve infecção latente, na qual linfócitos T e macrófagos circundam os microrganismos dos granulomas limitando sua disseminação. (PORTH) Pacientes com tuberculose latente não têm doença em atividade e não podem transmitir o bacilo às outras pessoas. (PORTH) Em uma pequena porcentagem de pacientes recém- infectados, a resposta imune não é eficaz. (PORTH) Esses pacientes desenvolvem tuberculose primária progressiva com destruição continuada dos tecidos pulmonares e disseminação da doença para diversas áreas do pulmão. (PORTH) Os indivíduos infectados pelo HIV e outros pacientes com distúrbios da imunidade celular estão mais sujeitos a desenvolver tuberculose progressiva quando são infectados. (PORTH) Nos pacientes com doença progressiva, os sintomas em alguns casos geralmente são insidiosos e inespecíficos, inclusive febre, emagrecimento, fadiga e sudorese noturna. (PORTH) Em alguns casos, os sintomas têm início súbito com febre alta, pleurite e linfadenite. (PORTH) À medida que a doença avança, os microrganismos têm acesso ao escarro e isto contribui para que o paciente infecte outras pessoas. (PORTH) Em casos raros, a tuberculose pode causar erosão de um vaso sanguíneo, resultando em disseminação hematogênica. (PORTH) O termo tuberculose miliar descreve lesões diminutas semelhantes a sementes de painço (milho-miúdo), que resultam desse tipo de disseminação e podem afetar quase todos os órgãos, principalmente encéfalo, meninges, fígado, rins e medula óssea. (PORTH) Tuberculose progressiva primária: A tuberculose progressiva primária é causada por reinfecção secundária aos núcleos goticulares inalados ou pela reativação de uma lesão primária previamente cicatrizada (PORTH) Em geral, isso ocorre nos casos em que os mecanismos de defesa do organismo estão deprimidos. (PORTH) A imunidade parcial que acompanha a tuberculose primária confere proteção contra reinfecção e, até certo ponto, ajuda a delimitar a doença, caso aconteça reativação. (PORTH) Com a tuberculose progressiva primária, a reação de hipersensibilidade celular pode ser um fator agravante, conforme se evidencia pela frequência de cavitação e disseminação brônquica. (PORTH) Em casos graves, as cavidades podem coalescer rapidamente e aumentar de diâmetro. Derrame pleural e empiema tuberculoso são comuns à medida que a doença avança.. (PORTH) Pacientes com tuberculose progressiva primária em estágio inicial geralmente têm febre baixa, fadiga e emagrecimento. (PORTH) Inicialmente, a tosse é seca, mas depois se torna produtiva com escarro purulento e com raias de sangue em alguns casos. (PORTH) Dispneia e ortopneia ocorrem à medida que a doença avança progride para tuberculose progressiva primária tardia. (PORTH) Com a progressão da doença, o paciente também pode ter sudorese noturna, anemia e estertores à ausculta pulmonar. (PORTH) Tuberculose secundária: Pode seguir logo após a tuberculose primária, porém mais comumente aparece muitos anos após a infecção inicial, usualmente quando a resistência do hospedeiro está enfraquecida. (PORTH) @juliaasoare_ • 3º período de Medicina A reativação é mais comum em áreas de baixa prevalência, enquanto a reinfecção desempenha um importante papel em regiões de alto contágio. (PORTH) Mais comum em adultos, é aquela que ocorre em indivíduo que teve anteriormente a primoinfecção. (PORTH) Na vida adulta, por qualquer condição que resulte em queda da imunidade, os bacilos latentes voltam a se multiplicar e dão origem a novos granulomas e a novas lesões (tuberculose por reativação). (PORTH) Por serem aeróbios, os bacilos multiplicam-se preferencialmente nos ápices pulmonares (porções mais aeradas, com maior tensão de oxigênio e menor fluxo sanguíneo), onde as lesões da tuberculose secundária são mais comuns.(PORTH) Outras vezes, o indivíduo que teve a primoinfecção curada bacteriologicamente sofre uma nova infecção. (PORTH) Por isso, a tuberculose secundária é também conhecida como tuberculose do adulto ou tuberculose de reinfecção, podendo esta ser endógena ou exógena. (PORTH) As lesões da tuberculose secundária apresentam-se em quatro formas macroscópicas: apical, cavernosa, ácino- nodosa e miliar. (PORTH) Sintomas mais comuns da tuberculose: • Tosse (por mais de 15 dias) • Febre (mais comumente ao entardecer) • Sudorese noturno • Falta de apetite • Emagrecimento • Cansaço fácil (fadiga) • Dificuldade na respiração (dispneia), hemoptise e acúmulo de pus na pleura pulmonar Diagnóstico O diagnóstico é feito através de exames laboratoriais e exames de imagem. (PENNA, 2011) História Clínica: • Buscar se o paciente obteve contato com uma pessoa com tuberculose; (PENNA, 2011) • Se há a presença de fatores de risco para o desenvolvimento (diabetes, câncer, HIV) (PENNA, 2011) • Apresentar sinais e sintomas sugestivos para tuberculose pulmonar, como tosse seca, perda de peso, sudorese noturna, dor torácica, dispneia. (PENNA, 2011) • História de tratamento anterior para tuberculose (PENNA, 2011) Exame Bacteriológico: Exame microscópico direto – baciloscopia direta Por ser um método simples e seguro, deve ser realizado por todo laboratório público de saúde e pelos laboratórios privados tecnicamente habilitados. (PENNA, 2011) A pesquisa do bacilo álcool-ácido resistente – BAAR, pelo método de Ziehl-Nielsen, é a técnica mais utilizada em nosso meio. (PENNA, 2011) A baciloscopia do escarro, desde que executada corretamente em todas as suas fases, permite detectar de 60% a 80% dos casos de tuberculose pulmonar, o que é importante do ponto de vista epidemiológico, já que os casos bacilíferos são os responsáveis pela manutenção da cadeia de transmissão. (PENNA, 2011) A baciloscopia direta deve ser solicitada aos pacientes que apresentem: (PENNA, 2011) • critérios de definição de sintomático respiratório (exame de escarro) (ver capítulo Detecção de casos); (PENNA, 2011) • suspeita clínica e/ou radiológica de TB pulmonar, independentemente do tempo de tosse (exame de escarro); e (PENNA, 2011) • suspeita clínica de TB extrapulmonar (exame em materiais biológicos diversos). (PENNA, 2011) Cultura para micobactéria, identificação e teste de sensibilidade A cultura é um método de elevada especificidade e sensibilidade no diagnóstico da TB. (PENNA, 2011) Nos casos pulmonares com baciloscopia negativa, a cultura do escarro pode aumentar em até 30% o diagnóstico bacteriológico da doença. (PENNA, 2011) Os métodos clássicos para cultura de micobactérias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura sólidos. (PENNA, 2011) Os meios de cultura mais comumente utilizados são os sólidos à base de ovo, Löwenstein-Jensen e Ogawa- Kudoh (PENNA, 2011) @juliaasoare_ • 3º período de Medicina Vantagem de serem os de menor custo e de apresentarem um índice de contaminação menor. A desvantagem do meio sólido é o tempo de detecção do crescimento bacteriano que varia de 14 a 30 dias, podendo se estender por até oito semanas. (PENNA, 2011) Diagnóstico radiológico: Radiografia do Tórax A radiografia de tórax é método diagnóstico de grande importância na investigação da tuberculose. (PENNA, 2011) Diferentes achados radiológicos apontam para a suspeita de doença em atividade ou doença no passado, além do tipo e extensão do comprometimento pulmonar. (PENNA, 2011) Deve ser solicitada para todo o paciente com suspeita clínica de TB pulmonar. (PENNA, 2011) No entanto, até 15% dos casos de TB pulmonar não apresentam alterações radiológicas, principalmente pacientes imunodeprimidos. (PENNA, 2011) Nos pacientes com suspeita clínica, o exame radiológico permite a diferenciação de imagens sugestivas de tuberculose ou de outra doença, sendo indispensável submetê-los a exame bacteriológico. (PENNA, 2011) Em suspeitos radiológicos de tuberculose pulmonar com baciloscopia direta negativa, deve-se afastar a possibilidade de outras doenças, recomendando-se a cultura para micobactéria. (PENNA, 2011) As principais alterações são listadas a seguir: (PENNA, 2011) TB primária – Pode apresentar-se radiologicamente como um foco pulmonar e/ou um foco linfonodal homolateral apenas. (PENNA, 2011) TB pós-primária – Pequenas opacidades de limites imprecisos, imagens segmentares ou lobares de aspecto heterogêneo, pequenos nódulos e/ou estrias são aspectos sugestivos de TB pós-primária ou secundária. (PENNA, 2011) TB secundária - não há linfonodomegalia hilar satélite. (PENNA, 2011) Sequela de TB – Nódulos pulmonares densos, com calcificação visível ou não, podem ser vistos em lobos superiores e região hilar. (PENNA, 2011) Diagnóstico com a Prova tuberculínica A prova tuberculínica – PT consiste na inoculação intradérmica de um derivado protéico do M. tuberculosis para medir a resposta imune celular a estes antígenos. É utilizada, em adultos e crianças, para o diagnóstico de infecção latente pelo M. tuberculosis (ILTB). (PENNA, 2011) Histopatológico É um método empregado na investigação das formas extrapulmonares, ou nas formas pulmonares que se apresentam radiologicamente como doença difusa, por exemplo, na TB miliar, ou em indivíduos imunossuprimidos. (PENNA, 2011) Identifica granuloma com necrose de caseificação. A busca de bacilos nos fragmentos também é de utilidade. (PENNA, 2011) Porém, nesses casos, a identificação de granuloma pode ser dificultada, e nesses casos, o achado de bacilos contribui para o diagnóstico. (PENNA, 2011) Tratamento A associação medicamentosa adequada, as doses corretas e o uso por tempo suficiente são os princípios básicos para o tratamento, evitando a persistência bacteriana e o desenvolvimento de resistência aos fármacos e, assim, assegurando a cura do paciente. (PENNA, 2011) Uma vez iniciado o tratamento, ele não deve ser interrompido, salvo após uma rigorosa revisão clínica e laboratorial que determine mudanças de diagnóstico. (PENNA, 2011) Sendo assim, é necessário que os serviços de saúde promovam o acolhimento e forneçam a informação adequada ao paciente. (PENNA, 2011) A transmissibilidade está presente desde os primeiros sintomas respiratórios, caindo rapidamente após o início de tratamento efetivo. (PENNA, 2011) @juliaasoare_ • 3º período de Medicina Na prática, quando o paciente não tem história de tratamento anterior nem outros riscos conhecidos de resistência, pode-se considerar que, após 15 dias de tratamento e havendo melhora clínica, o paciente pode ser considerado não infectante. (PENNA, 2011) Levando-se em consideração o comportamento metabólico e localização do bacilo, o esquema terapêutico antituberculose deve atender a três grandes objetivos: (PENNA, 2011) • ter atividade bactericida precoce; • ser capaz de prevenir a emergência de bacilos resistentes; e • ter atividade esterilizante O tratamento da TB é baseado em quimioterapia e visa eliminar o foco da infecção e interromper a cadeia de transmissão. (WILDNER, 2011) A associação medicamentosa adequada, as doses corretas e o uso por tempo suficiente são os meios para evitar a persistência bacteriana e o desenvolvimento de resistência aos fármacos. (WILDNER, 2011) Ministério da Saúde preconizava esquemas de tratamento divididos em fase inicial e de continuação. (WILDNER, 2011) O Esquema I, de primeira linha, era indicado para os casos novos sem tratamento prévio ou com tratamento anterior e cura há mais de cinco anos; consistia na associação de rifampicina, isoniazida e pirazinamida por dois meses, seguida de rifampicina e isoniazida por mais quatro meses. (WILDNER, 2011) Em caso de retorno positivoapós abandono do tratamento, adicionava-se o fármaco etambutol (Esquema IR). (WILDNER, 2011) Se houvesse falência desses esquemas, utilizava-se a associação de estreptomicina, pirazinamida, etambutol e etionamida por três meses, seguida da combinação de etambutol e etionamida por mais nove meses (Esquema III) (WILDNER, 2011) Em outubro de 2010, foi implementado um novo esquema de tratamento, chamado DFC (dose fixa combinada), que combina quatro fármacos antituberculosos (rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol) em um único comprimido. (WILDNER, 2011) Este comprimido, que possui doses reduzidas de isoniazida, pirazinamida e etambutol, agora compõe o primeiro esquema de tratamento e elimina as etapas de tratamento IR e EIII. (WILDNER, 2011) O uso desta medicação está preconizado para os primeiros 60 dias de terapia; o restante do tratamento (quatro meses) é feito com rifampicina e isoniazida, também em um único comprimido. (WILDNER, 2011) Este tratamento reduz a quantidade de doses diárias, o que deve aumentar a adesão dos pacientes ao tratamento e elevar os índices de cura. (WILDNER, 2011) Fase intensiva: tem como objetivo diminuir a população bacilar, incluindo os resistentes, dura 2 meses. (WILDNER, 2011) Fase de manutenção: visa a eliminação de bacilos latentes ou persistentes., dura 4 meses (WILDNER, 2011) Referências: Norris, Tommie L. Porth - Fisiopatologia . Disponível em: Minha Biblioteca, (10ª edição). Grupo GEN, 2021. WILDNER, Letícia Muraro et al. Micobactérias: epidemiologia e diagnóstico. Revista de Patologia Tropical/Journal of Tropical Pathology, v. 40, n. 3, p. 207-230, 2011. SILVA, Denise Rossato et al. Fatores de risco para tuberculose: diabetes, tabagismo, álcool e uso de outras drogas. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 44, p. 145-152, 2018. PILLER, Raquel VB et al. Epidemiologia da tuberculose. Pulmão Rj, v. 21, n. 1, p. 4-9, 2012. PENNA, Gerson. Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil. 2011. SILVA, Denise Rossato et al. Tuberculose e COVID-19, o novo dueto maldito: quais as diferenças entre Brasil e Europa?. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 47, 2021. @juliaasoare_ • 3º período de Medicina
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