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Os antibióticos são produzidos, na sua grande maioria, por micro-organismos que fazem a síntese total ou parcial da molécula e, neste caso, são concluídos posteriormente em laboratório (antibióticos semissintéticos). A maioria dos antibióticos usados na clínica é produzida por bactérias do gênero Streptomyces e alguns por fungos dos gêneros Penicillium e Cephalosporium. β-lactâmicos Estão incluídas as penicilinas, as cefalosporinas, os monobactâmicos e as carbapenemas. Todos estes possuem em comum o anel β-lactâmico, que é composto de três átomos de carbono e um de nitrogênio. Penicilinas A diferença química existente entre as várias penicilinas está no radical R ligado ao ácido 6-amino-penicilânico. As penicilinas semissintéticas apresentam vantagens sobre as naturais e são mais prontamente absorvidas e mais estáveis. Algumas penicilinas podem ser inativadas por enzimas chamadas penicilinases. Rompem o anel β-lactâmico, tornando o produto (ácido penicilinóico) inativo do ponto de vista antibacteriano. Penicilinases ou β- lactamases, como também designadas, são produzidas por vários tipos de bactérias tornando-as resistentes às penicilinas. Monobactâmicos Um dos monobactâmicos atualmente sintetizados em laboratório é o aztreonam ou azotreonam, que tem como característica principal sua resistência à ação das penicilinases e cefalosporinases, além de amplo espectro de ação. Cefalosporinas Produzidas por fungos pertencentes ao antigo gênero Cephalosporium, hoje Acremonium, têm sido sucessivamente modificadas gerando produtos de primeira, segunda, terceira, quarta e quinta geração. Carbapenemas Originalmente produzidos por Streptomyces, estes β- lactâmicos semissintéticos têm amplo espectro de ação. Aminoglicosídeos O principal antibiótico deste grupo é a estreptomicina, produzida a partir de culturas de Streptomyces griseus. Outros antibióticos de estrutura semelhante são canamicina, neomicina e gentamicina. Tetraciclinas A característica deste grupo de antibióticos, produzidos por bactérias do gênero Streptomyces, é o tetra anel, e as diferenças residem nos grupos químicos ligados a ele. Rifamicinas São antibióticos produzidos pelo Streptomyces mediterranei. A rifamicina mais importante é a rifampicina, obtida no laboratório a partir da rifamicina SV. Macrolídeos O principal representante desta categoria é a eritromicina, produzido pelo Streptomyces erythreus. O anel lactônico liga-se através de pontes glicosídicas a aminoaçúcares. Há outros macrolídeos como midecamicina, miocamicina, roxitromicina, claritromicina e azitromicina. Polipeptídeos Os membros deste grupo caracterizam-se pela cadeia de aminoácidos. Bacitracina e polimixina são dois exemplos deste grupo. A primeira é produzida por Bacillus subtilis e a segunda, por Bacillus polymyxa. Cloranfenicol Produzido por Streptomyces venezuelae, o cloranfenicol tem uma estrutura química relativamente simples. Quinolônicos Os quinolônicos compreendem os ácidos nalidíxico e oxolínico, (1ª. geração). Antibióticos Metronidazol É um quimioterápico que vem sendo progressivamente utilizado no tratamento de infecções por micro- organismos anaeróbios. Mecanismos de Ação dos Antibacterianos e Mecanismos de Resistência A essência do tratamento antimicrobiano é a toxicidade seletiva — matar ou inibir o micro-organismo sem afetar o hospedeiro. Os antibióticos e os quimioterápicos que atuam sobre as bactérias, interferem com diferentes atividades da célula bacteriana, causando a sua morte ou somente inibindo o seu crescimento. Os primeiros são chamados bactericidas e os segundos, bacteriostáticos. Por exemplo, o cloranfenicol é um agente bacteriostático por excelência, mas funciona como bactericida para o Haemophilus influenzae e o Streptococcus pneumoniae, enquanto as penicilinas são drogas bactericidas típicas que em certas circunstâncias funcionam como bacteriostáticas. Do ponto de vista clínico, tanto os bacteriostáticos como os bactericidas são extremamente eficientes. Entretanto, tratando-se de pacientes com defesas imunológicas reduzidas, é preferível o uso de bactericidas. As interações dos antibacterianos com a célula bacteriana podem ocorrer no nível da parede (estrutura e biossíntese), membrana citoplasmática (estrutura e função), síntese de proteínas e síntese de ácidos nucléicos. Antibacterianos que Atuam na Parede Dos antibacterianos que atuam neste nível, os mais empregados são os antibióticos β-lactâmicos. Podemos dividir a síntese da camada de peptideoglicano em três etapas: uma ocorrendo no citoplasma, outra na membrana citoplasmática e a terceira externamente à membrana. Os antibióticos β-lactâmicos interferem com a terceira etapa da síntese, isto é, aquela que se passa externamente à membrana citoplasmática. Pensava-se até pouco tempo que estes antibióticos impediam apenas a união das cadeias peptídicas, competindo para isto com as transpeptidases responsáveis pela sua união. As PBP (proteínas fixadoras de penicilinas) são proteínas existentes na parte externa da membrana citoplasmática, que participam da terceira etapa da síntese da camada de peptideoglicano e possuem a capacidade de se fixar tanto às penicilinas quanto às cefalosporinas. A função de cada uma destas proteínas é conhecida e sabemos que podem funcionar como transglicosidases, transpeptidases e carboxipeptidases. Quanto à capacidade da fixação das penicilinas e cefalosporinas, foi também verificado que alguns destes antibióticos se fixam em apenas uma PBP, e outros, em duas ou mais. Podemos dizer que os antibióticos β-lactâmicos interferem com a síntese do peptideoglicano através de vários mecanismos e que estes não são idênticos para todos eles. Por exemplo, se tratarmos uma cultura de Escherichia coli com cefalexina (uma cefalosporina), as células que proliferam em presença do antibiótico formam grandes filamentos porque são incapazes de sofrer o processo de divisão normal. Ao contrário, se a mesma bactéria for tratada com mecilinama (uma penicilina), as células se dividem, mas, em vez de formarem bacilos curtos, formam cocos grandes, contendo muitas septações. Todos os antibióticos β-lactâmicos bloqueiam a etapa final da síntese da camada de peptideoglicano, o que quase sempre resulta na morte da bactéria, quando esta se encontra na fase de divisão. As autolisinas são enzimas que participam da formação do peptideoglicano. A função destas enzimas, entretanto, não é propriamente de síntese, mas de destruição. Elas abrem espaços no peptideoglicano, onde são adicionadas novas unidades de ácido N- acetilmurâmico e N-acetilglicosamina sintetizadas pela célula. A fixação dos antibióticos β-lactâmicos às PBP leva a um aumento da atividade das autolisinas, resultando em um desequilíbrio na síntese da camada de peptideoglicano, com lise da célula bacteriana. Os ácidos penicilânico e cefalosporânico são as respectivas moléculas dos antibióticos β-lactâmicos diretamente responsáveis pelo mecanismo de ação destes antibióticos. As cadeias laterais estão relacionadas com outras atividades, como resistência a β-lactamases, biodisponibilidade e capacidade de atravessar a membrana externa das bactérias Gram- negativas. Glicopeptídeos: vancomicina e teicoplanina são dois exemplos e cujo mecanismo de ação é impedir a transferência da subunidade usada na adição de nova molécula ligando-se ao acil-D-alanil-D-alanina terminal do pentapeptídeo. Bacitracina: impede a defosforilação do carreador lipídico que transfere a subunidade de peptideoglicano que está sendo formado. Atua, portanto, na síntese da parede, mas como local de ação, a membrana citoplasmática. Fosfomicina: impede a ligação entre N- acetilglicosamina e N-acetil-murâmico inibindo a piruvil-transferase,enzima responsável por esta ligação. Antibacterianos que Atuam no Nível da Membrana Citoplasmática Quando alcança a membrana citoplasmática, o ácido graxo mergulha na sua parte lipídica e a porção básica permanece na superfície. A intercalação das moléculas do antibiótico na membrana provoca sua desorganização, com saída dos componentes celulares e morte da bactéria. Antibacterianos que Interferem na Síntese de Proteínas Atuam no nível dos ribossomos aminoglicosídeos, tetraciclinas, cloranfenicol, eritromicina, lincomicina e clindamicina. Os aminoglicosídeos e as tetraciclinas se fixam às subunidades 30S, e os outros antibióticos, às subunidades 50S. Ao se fixarem, inibem a síntese protéica por diferentes mecanismos. Os aminoglicosídeos provocam vários tipos de alteração, e a mais importante é a leitura errada do código genético conduzindo a proteínas não funcionais. A estreptomicina se fixa apenas a uma proteína da fração 30S do ribossomo, enquanto a canamicina, gentamicina e, provavelmente, os demais se fixam às várias proteínas. Esta característica explica a elevada taxa de mutação para resistência à estreptomicina. Os aminoglicosídeos são antibióticos bactericidas. As tetraciclinas bloqueiam a síntese protéica porque, quando fixadas à subunidade 30S, impedem a fixação dos RNA transportadores (t-RNA) ao ribossomo. Desta maneira, não ocorre incorporação de novos aminoácidos e a cadeia peptídica não se forma. Cloranfenicol, lincomicina e clindamicina, aparentemente, possuem o mesmo mecanismo de ação, que seria impedir a união dos aminoácidos pela inibição da peptidiltransferase. A eritromicina bloqueia a síntese protéica porque, quando fixada à subunidade 50S, impede os movimentos de translocação. Antibacterianos que Interferem na Síntese de DNA Atuam neste nível o metronidazol, os derivados quinolônicos e as rifampicinas. O metronidazol é degradado através da nitroso- redutase, formando produtos tóxicos que se intercalam na molécula de DNA quebrando-a. Deste modo, o metronidazol pode ser considerado um quimioterápico que impede a síntese de DNA, sendo, portanto, bactericida. A rifampicina combina-se de maneira irreversível com as RNA-polimerases, bloqueando a transcrição do DNA. Como esta combinação é irreversível, este antibiótico é bactericida e sua ação seletiva é explicada pelas diferenças existentes entre as RNA-polimerases encontradas nas bactérias e no organismo. Mecanismos de Resistência Três condições devem ser preenchidas para que um antibacteriano iniba ou mate uma bactéria: a existência de um alvo, o antibacteriano deve ter a capacidade de atingir o alvo e não pode ser inativado antes de atingi- lo. Tempo e concentração também são parâmetros fundamentais. As bactérias podem ser classificadas em sensíveis e resistentes aos antimicrobianos. Em geral, classificam- se como resistentes às bactérias que crescem in vitro, nas concentrações que os antimicrobianos atingem no sangue quando administrados nas recomendações de uso clínico. A resistência pode ser natural ou adquirida. A natural corresponde a uma característica da espécie bacteriana e todas as amostras desta espécie têm esta propriedade. Na adquirida, somente parte das amostras é resistente. Um conceito importante que deve ficar claro é que o antimicrobiano não induz a resistência e sim é um agente selecionador dos mais resistentes existentes no meio de uma população. A aquisição de resistência por uma célula bacteriana sensível é sempre decorrência de uma alteração genética que se expressa bioquimicamente. As alterações genéticas podem ser originadas de mutações cromossômicas ou pela aquisição de plasmídios de resistência ou por transposons. A resistência mediada por mutações é geralmente simples, isto é, atinge apenas um antibacteriano, porque dificilmente uma célula bacteriana sofre mutação simultânea para dois ou mais antimicrobianos. A mediada por fator R (plasmídio) pode ser simples, mas na maioria das vezes é múltipla, tornando a bactéria resistente a dois ou mais antibacterianos. Isto se deve à presença de genes de resistência, para diferentes antibacterianos, em um só plasmídio. Contribui ainda para existência de amostras com resistência múltipla a presença de dois ou mais plasmídios R diferentes numa mesma bactéria. Além disso, não é rara a associação de resistência por mutação e plasmídios R em uma só bactéria. Bactérias, com este perfil de resistência, são mais frequentemente selecionadas em hospitais onde há intenso uso de antibacterianos. São vários os mecanismos químicos que podem levar uma bactéria a se tornar resistente: Produção de enzimas que modificam a molécula do antibacteriano tornando-o inativo; Diminuição da permeabilidade à entrada do antibacteriano; Alteração do alvo; Síntese de novas enzimas que não sofrem ação do antibacteriano e expulsão do antibacteriano da célula. β-lactâmicos As bactérias geralmente se tornam resistentes a estes antibióticos através da produção das β-lactamases. Estas são enzimas dotadas da capacidade de hidrolisar o anel β-lactâmico, transformando os antibióticos correspondentes em produtos inativos. Aminoglicosídeos São três os mecanismos químicos da resistência a estes antibióticos: alterações de permeabilidade, modificações ribossômicas e produção de enzimas inativantes. Os dois primeiros são mediados por mutação e o último, por plasmídio. A mutação que modifica o transporte dos aminoglicosídeos para o interior da célula parece ser o principal mecanismo de resistência de patógenos bacterianos à amicacina. A resistência mediada por plasmídios é sempre decorrente da produção de enzimas que modificam as moléculas dos aminoglicosídeos. A resistência mediada por plasmídios é, em geral, a principal forma de resistência aos aminoglicosídeos, tanto em Gram-positivos como em Gram-negativos. Tetraciclinas De modo geral, as bactérias tornam-se resistentes às tetraciclinas por aquisição de plasmídios de resistência. A resistência é devido a proteínas denominadas Tet (Tet A, B, C e D) que, uma vez formadas, localizam-se na membrana citoplasmática, provocando a saída quase imediata do antibiótico da célula. Cloranfenicol A resistência bacteriana ao cloranfenicol é mediada pela enzima cloranfenicol-acetil-transferase (CACT) que, ao acetilar a droga, faz com que ela perca a afinidade pelo seu alvo. Outro possível mecanismo de resistência apresentado por alguns Gram-negativos é a perda de permeabilidade. Características dos Principais Grupos de Antibacterianos Espectro de Ação e Indicações β-Lactâmicos São em geral bactericidas, inibindo a síntese da parede celular bacteriana. A este grupo pertencem os seguintes antimicrobianos: 1. Penicilinas e seus derivados 2. Cefalosporinas Penicilinas Tem ação bactericida inibindo a síntese de parede celular das bactérias em multiplicação. Assim, com a elevada pressão osmótica intracelular que ocorre normalmente no interior da célula bacteriana e a falta da barreira normal (parede celular), há entrada de água na célula bacteriana, ocorrendo a morte da bactéria por lise osmótica. Aminoglicosídeos Os principais aminoglicosídeos são: estreptomicina, kanamicina, gentamicina, neomicina, tobramicina, amicacina e netilmicina São drogas bactericidas, que alteram a função dos ribossomos bacterianos. São ativas contra bactérias Gram-negativas aeróbias e contra alguns estafilococos. Glicopeptídeos Este grupo é composto de dois antibacterianos de importância na terapêutica: vancomicina e teicoplanina, que possuem ação bactericida, inibindo a síntese da parede celular bacteriana nos cocos Gram-positivos, com exceção do enterococo, quando tem ação bacteriostática quando utilizadas isoladamente, e bactericida quando associadasà aminoglicosídeos.
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