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N1 - Direito e Internet - Proteção de dados, acesso à internet e privacidade

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Como a sociedade está cada vez mais inserida na realidade virtual, é de suma importância que haja uma nova maneira de pensar os institutos jurídicos. As novas respostas jurídicas devem, claro, observar a Constituição Federal, que é o paradigma máximo para a produção normativa e aplicação do direito, sobretudo no que se refere às liberdades de expressão e informação.
Atualmente, o Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014) é a norma que busca fazer a regulação do uso de internet no Brasil e tenta dar respostas para os conflitos que acontecem nesse meio. Acontece que, anteriormente a essa lei, o Poder Judiciário elaborava teses para resolução dos embates gerados no meio virtual, importando, inclusive, teses jurídicas alienígenas. 
Como haviam inúmeros ilícitos virtuais, o tema acabou chegando ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que num primeiro momento adotou o notice and take down, tese adotada da legislação norte-americana, mais precisamente da DMCA – Digital Millennium Copyright Act (Lei dos Direitos Autorais do Milênio Digital). Essa legislação inseriu no ordenamento daquele país um mecanismo pelo qual o provedor de internet passa a não responder pelos atos ilícitos feitos por seus usuários antes de haver uma notificação, seja da polícia ou da vítima. Caso a prática continue, o provedor responde solidariamente (SANTOS, 2009). Esse método obriga a retirada (take down) pelo provedor dos conteúdos que violem os direitos autorais, a partir do recebimento de uma notificação (notice) da parte interessada ou em cumprimento de ordem judicial. Caso o provedor não retire o conteúdo do ar, mesmo que de forma preventiva, a empresa fica passível de responder solidariamente com o usuário causador do dano.
A doutrina norte-americana do notice and take down foi concebida para lidar especificamente com conflitos de natureza autoral. Em linhas gerais, a doutrina do notice and take down cria uma exceção à responsabilidade por violação de direitos autorais na internet, assegurando imunidade aos provedores de serviço (service providers) que atenderem prontamente à notificação do ofendido para a retirada do material impróprio. Com a notificação, o controvertido dever geral de monitoramento permanente da rede transforma-se em uma obrigação específica de agir, que, se atendida, isenta o provedor de responsabilidade (SCHEIBER, 2013, p. 225).
Como o STJ importou tal tese, a despeito da lacuna legislativa, houveram vários debates com a sociedade, com as operadoras de internet e com empresas que tratam de direitos autorais e com isso, foi publicada no dia 24 de abril de 2014 a Lei nº 12.965/2014, o Marco Civil da Internet. Já em seu art. 2º, a lei explicita o fundamento da liberdade de expressão, além de outros fundamentos:
Art. 2º A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à liberdade de expressão, bem como:
I – o reconhecimento da escala mundial da rede;
II os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício da cidadania em meios digitais;
III – a pluralidade e a diversidade;
IV – a abertura e a colaboração;
V – a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e
VI – a finalidade social da rede.
O art. 18 do Marco Civil da Internet estabelece que o provedor de internet não será responsabilizado por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros, enquanto que o art. 19 traz similaridade a ideia do notice and take down, mas tornando importante a liberdade de expressão (vedando a censura), contudo, não deixando de responsabilizar os provedores em caso de notificação judicial para retirada de conteúdo ofensivo e que não seja obedecido.
Tal disposição legal beneficia muito as operadoras e provedores, pois antes da lei, o STJ entendia que haveria a responsabilização dos provedores no caso de não atentarem à retirada do conteúdo em havendo notificação extrajudicial para isto.
Com o advento do Marco Civil da Internet, a Lei nº 12.965/2014, provocou uma mudança, ainda no campo teórico, da forma de responsabilização das operadoras da rede frente aos danos perpetrados por terceiros. Com esse marco legal, o paradigma se reinventa e temos a concretização do judicial notice and take down, beneficiando as operadoras da internet e existindo a tendência de proteção das liberdades constitucionais de expressão e conexas, mas prejudicando o intento das pessoas que se sentem prejudicadas por conteúdos infringentes na rede, por conta da demora que é comum à ações judiciais.
Como jurisprudência, é possível levantar a REsp 1.512.647- MG do STJ em que a Quarta Turma entendeu que há a necessidade de que o provedor seja notificado judicialmente para que se configure alguma responsabilidade pela veiculação de conteúdo ofensivo, nos termos do Marco Civil da Internet.
Outro entendimento interessante, é aquele em que a Terceira Turma do STJ (REsp 1.829.821- SP) decidiu que o provedor só é obrigado a fornecer identificação do usuário por meio do IP, não devendo o provedor ter que fornecer a qualificação completa do usuário ofensor.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm>. Acesso em: 10 ago. 2022.
BRASIL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ). REsp nº 1.512.647- MG. Disponível em: <https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=45693836&num_registro=201301628832&data=20150805&tipo=91&formato=PDF> Acesso em 11 ago. 2022.
BRASIL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ). REsp nº 1.829.821- SP. Disponível em: <https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1974094&num_registro=201901493754&data=20200831&formato=PDF> Acesso em 11 ago. 2022.
SANTOS, Manuella. Direito autoral na era digital: impactos, controvérsias e possíveis soluções. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
SCHREIBER, Anderson. Novos paradigmas da responsabilidade civil: da erosão dos filtros de reparação à diluição dos danos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2013.

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