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Módulo 3 - População em situação de rua e o modelo Moradia Primeiro (Housing First) - MMFDH

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1
Modelo Moradia Primeiro 
(Housing First) para a 
População em Situação 
de Rua
Estruturação de projetos 
Moradia Primeiro (Housing First) 3
2
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Conteudista:
Tomás Melo (Conteudista, 2021); 
Eliane Betiato (Conteudista, 2021); 
Vanessa Lima (Conteudista, 2021); 
Luis Ferro (Conteudista, 2021); 
Danilo Pena (Conteudista, 2021); 
João Bleim (Conteudista, 2021); 
Natália Leister (Conteudista, 2021); 
Leonildo Monteiro (Conteudista, 2021); 
Carlos Humberto (Conteudista, 2021); 
Estevam Cerqueira (Conteudista, 2021); 
Rafaella Riesemberg (Conteudista, 2021); 
Diretoria de Desenvolvimento Profissional.
Desenvolvimento do curso realizado no âmbito do acordo de Cooperação Técnica 
FUB / CDT / Laboratório Latitude, Laboratório CEPED/UFSC e Enap.
Curso produzido em Brasília, 2021 
Enap Escola Nacional de Administração Pública
Enap, 2021
Diretoria de Educação Continuada
SAIS - Área 2-A -70610-900 - Brasília, DF
3
Sumário
Unidade 1 – Diagnóstico da situação de rua no território ....................................................5
1.1. Diferenças nas formas de atendimento ..................................................................................................... 7
1.2. Princípios para implementação local ........................................................................................................... 7
Princípios para a implementação local a partir do poder público – Estratégias .................................... 8
Princípios para a implementação local a partir do setor privado - Estratégias...................................... 9
1.3 Estudo de viabilidade econômica ................................................................................................................10
Referências .................................................................................................................................................................12
Unidade 2 – Perfil profissional das equipes e formação para o atendimento ............... 13
Princípios orientadores da equipe técnica:.......................................................................................................13
Índices técnicos sugeridos: ....................................................................................................................................13
2.1. Estrutura e perfis profissionais das equipes de acompanhamento .................................................14
Referências .................................................................................................................................................................16
Unidade 3 – Provisão de moradias para o Moradia Primeiro (Housing First) ................ 17
3.1. Estruturação dos imóveis: mobília mínima ..............................................................................................19
3.2. Contrato de aluguéis e serviços ..................................................................................................................20
3.3. Contrato de adesão e regras de permanência .......................................................................................20
Referências .................................................................................................................................................................23
4
Estruturação de projetos 
Moradia Primeiro (Housing First) MÓ
D
U
LO
3
Ao final do módulo 3, você será capaz de identificar as estratégias de implementação do modelo Moradia 
Primeiro (Housing First) em relação à rede constituída no território; reconhecer as possibilidades de formação 
de equipes técnicas para suporte e acompanhamento; e descrever a organização da infraestrutura das 
moradias ofertadas.
O módulo 3 está estruturado da seguinte forma:
• Unidade 1 – Diagnóstico da situação de rua no território
• 1.1. Diferenças nas formas de atendimento
• 1.2. Princípios para implementação local
• 1.3. Estudo de viabilidade econômica 
• Unidade 2 – Perfil profissional das equipes e formação para o atendimento
• 2.1. Estrutura e perfis profissionais das equipes de acompanhamento
• Unidade 3 – Provisão de moradias para o Moradia Primeiro (Housing First)
• 3.1. Estruturação dos imóveis: mobília mínima 
• 3.2. Contrato de aluguéis e serviços 
• 3.3. Contrato de adesão e regras de permanência
5
Objetivo de aprendizagem
Unidade 1 – Diagnóstico da situação de rua no território 
Ao final desta unidade, você será capaz de identificar as estratégias de implementação do modelo Moradia 
Primeiro (Housing First) em relação à rede constituída no território.
O diagnóstico territorial da população em situação 
de rua deve visar a melhoria da qualidade de 
vida dos atendidos. Entram nessa dinâmica, 
além das redes de proteção social, os serviços 
especializados disponíveis em cada local, os 
serviços de políticas públicas setoriais, destinados 
à saúde integral da população, integrado a outras 
políticas públicas, sistema de defesa e garantia de 
direitos, movimentos sociais e outros interlocutores 
coletivos, tendo em vista que essas articulações 
contribuem para fortalecimento da cidadania, 
autonomia e protagonismo da PSR. 
Diagnóstico.
Fonte: Canva Pró
Afinal, o que devemos saber ou que tipo de informações devemos buscar para organizar a 
intervenção no modelo Moradia Primeiro (Housing First) de forma qualificada e em diálogo com 
as políticas públicas existentes no território?
Uma das informações essenciais que podemos ter em nossos municípios é o número total de 
pessoas em situação de rua. Infelizmente, essa informação está disponível em poucas cidades 
brasileiras.
Sem dúvida, trata-se de um esforço 
importantíssimo que nos auxiliará a produzir 
estratégias qualificadas, pois nos permitirá ter 
dimensão global do segmento, bem como sua 
diversidade de perfil e ocupação das ruas. 
A partir dessa informação, podemos organizar a 
razão entre o número de vagas em serviços em 
relação ao número de pessoas que não aderem 
ou não conseguem vagas. Sem dúvida, a melhor 
forma de buscar esse dado é por meio de uma 
pesquisa em profundidade, contudo, algo que 
também pode ser feito é relacionar os dados das 
unidades de acolhimento e a demanda reprimida 
nos encaminhamentos do serviço de abordagem 
social. Esse cálculo nos oferecerá, por exemplo, 
um número aproximado de pessoas não atendidas 
(ou que não aderem aos serviços) em relação ao 
número de vagas. 
Outro nível de informação importante é a taxa 
de superação da situação de rua nos serviços de 
acolhimento. Infelizmente, nosso atual modelo não 
encoraja a verificação dessa informação. Podemos 
dizer com toda certeza que esse dado existe, mas não 
é contabilizado na maioria dos serviços. É fundamental 
que passemos a contabilizar esses casos. 
É de suma importância saber quantas pessoas passam pelos 
serviços e conseguem atingir encaminhamentos efetivos a ponto 
de produzir superação da situação de rua. Vamos chamar esse 
índice de “taxa de superação”.
6
Vamos pensar um cenário no que diz respeito ao direcionamento dos casos atendidos, observe a imagem 
abaixo. Trata-se de um banheiro, aparentemente inundado. Façamos a seguinte analogia: o banheiro é o 
nosso município. A água é a população em situação de rua e o chão representa os espaços públicos da cidade, 
cheios de gente em situação de rua. Imagine que a banheira também está cheia de água e transbordando. 
A banheira representa nossas unidades de acolhimento e demais serviços de atendimento. Ainda temos um 
terceiro problema: a torneira da pia e o chuveiro da banheira estão ligados e vertendo água para todos os lados 
do banheiro, fazendo a banheira continuar a transbordar e inundar cada vez mais o chão. A água corrente 
representa o fato de que continuamente há pessoas recém-chegadas à situação de rua. 
Banheira vazando.
Fonte: br.freepik
Como resolvemos esse problema? Sem dúvida, precisamosfechar a torneira, ou seja, criar circunstâncias 
preventivas que nos permitam diminuir o intenso fluxo de pessoas em situação de rua recém-chegadas. No 
entanto, acabar com esse fluxo não resolverá o problema da inundação. 
Como faremos isso? Precisamos esvaziar a banheira! Criar circunstâncias de que os serviços emergenciais 
não estejam lotados o tempo todo com pessoas sem alternativas permanentes e que as permita superar a 
situação de rua. 
Igualmente, precisamos também secar o chão do banheiro, a saber, oferecer alternativas para aquelas 
pessoas que estão nas ruas propriamente, sem utilizar os serviços, seja porque não aderem a eles por 
inúmeros motivos, seja porque os serviços existentes estão lotados e com intensa demanda.
Essa analogia nos auxilia a tratar de três diretivas fundamentais:
1 É necessário prevenir a situação de rua para as pessoas que ainda não chegaram nela; 
2 É necessário oferecer alternativas de moradia permanente de modo que as Unidades 
de Acolhimento sejam serviços emergenciais;
3 É preciso oferecer serviços para as pessoas que estão nas ruas sem nenhuma alternativa 
adequada às suas necessidades. 
7
1.1. Diferenças nas formas de atendimento 
O modelo Housing First chileno tem buscado realizar uma política de Estado. O atendimento realizado compõe 
a construção de uma política social e de Estado integral, coerente com essa demanda (LOURENÇO, 2015). 
As características gerais do atendimento Housing First no Chile são desenvolvidas a partir da incorporação 
das equipes em um protocolo de apoio permanente, direto, estratégico e operacional, visando a 
multicausalidade da situação de rua. 
Critérios importantes para a adesão ao Moradia Primeiro.
Fonte: Autoria Vanessa Lima
O objetivo dessa identificação é garantir que o modelo Moradia Primeiro (Housing First) esteja disponível 
para as pessoas que estão em situação de rua em todo o território, otimizando a capacidade esperada para 
fazer alocações de habitação aos atendidos. A abordagem é regional e as metas estão inter-relacionadas 
com uma abordagem integrada e personalizada. 
1.2. Princípios para implementação local
Casal acessando a moradia após mais de 6 anos em situação de rua - Projeto Moradia Primeiro Curitiba, 2019.
Fonte: Arquivo INRua. 
A implementação local do modelo supõe reordenamento dos serviços e reorientação dos gastos públicos 
com programas de atendimento à população em situação de rua. Seu pilar é o direito à moradia, sobre o 
qual pode ser gerado um processo de acompanhamento personalizado para a integração social e condições 
de vida digna aos participantes. 
8
A seguir veremos algumas alternativas possíveis e que podem ser combinadas entre si de acordo com os 
planos locais para implementação do Programa.
Princípios para a implementação local a partir do poder público – Estratégias
• Conversão das infraestruturas: transformação 
de alojamentos de emergência e moradias 
coletivas em apartamentos individuais ou 
moradias compartilhadas, reconfigurando o 
uso dos recursos das entidades públicas que 
disponham de grandes espaços coletivos 
subutilizados, transformando-os em pequenas 
moradias independentes com espaços coletivos 
(como a lavanderia, por exemplo). Embora 
exista uma preferência por moradias dispersas, 
a conversão de estruturas já existentes 
potencializa a promoção de grandes conjuntos 
habitacionais para fins sociais.
• Concessão de terrenos públicos: concessão 
de terrenos públicos para entidades sem fins 
lucrativos que possam utilizar esses locais para 
a construção de equipamentos convertidos em 
moradias, com fins sociais.
• Oferta de moradias comercializadas pelas 
construtoras para fins sociais, revertidas em 
benefícios fiscais: levando em consideração 
que o mais adequado à filosofia do Housing 
First é a presença de moradias dispersas por 
toda a cidade, pode-se prever que as grandes 
construtoras reservem uma porcentagem das 
suas unidades habitacionais para uso social, o 
que promoveria uma ampla rede de moradias, 
distribuídas para a utilização no programa.
• Auxílio governamental para a compra de 
moradias destinadas ao projeto por entidades 
sociais: entidades podem ser subsidiadas pelo 
poder público para adquirir moradias colocando-
as à disposição dos mais vulneráveis.
• Deduções fiscais que sejam direcionadas à 
redução no valor dos aluguéis: possibilidade 
de acordos com proprietários que estejam 
ligados ao projeto para que tenham benefícios 
fiscais, oriundos da vinculação social dada aos 
imóveis locados para o Housing First.
• Bonificação tributária do Estado para empresas 
que financiam moradias sociais: subsidiar 
empresas comprometidas com o projeto para 
que não concorram em desvantagem com 
imobiliárias que não possuem a mesma vinculação 
social, facilitando a oferta de um número maior 
de imóveis por parte de imobiliárias interessadas 
em direcionar seu portfólio para programas 
Housing First.
• Fomento e incentivo de cooperativas sociais: 
cooperativas sociais e habitacionais podem ser 
envolvidas na dinâmica do projeto, desenvolvendo 
atividades de geração de renda, produzindo 
materiais de construção para a venda, bem 
como serviços e artefatos. Essas associações 
comunitárias e entidades de bairro contribuem 
no fomento à produção social da moradia, 
alavancando o processo de construção de forma 
autogestionária.
9
A seguir veremos algumas alternativas possíveis e que podem ser combinadas entre si de acordo com os 
planos locais para implementação do Programa pelo setor privado ou de modo combinado.
Princípios para a implementação local a partir do setor privado - Estratégias
• Incentivos fiscais a entidades privadas, 
somando forças na relação com o setor 
público e privado: ampliação de subsídios e 
possibilidades de benefícios fiscais a fim de 
que as entidades sem fins lucrativos somem 
forças no processo de garantir acesso à 
moradia para fins sociais.
• Promoção de aluguel acessível: intermediar 
com proprietários condições favoráveis para 
locação a partir de um diálogo que explicite 
o caráter social do projeto, buscando valores 
abaixo dos praticados no mercado. Articular 
uma série de imóveis adequados ao uso 
esperado pelo Moradia Primeiro (Housing 
First) em uma espécie de “imobiliária social” 
localizando uma rede de proprietários dispostos 
a esse intento. Para tal, é possível que o 
próprio projeto invista em pequenas reformas 
ou reparos que tais imóveis necessitem.
• Associação das moradias (housing association): 
pode-se erigir uma entidade promotora 
das moradias, responsável pela gestão do 
conjunto dos imóveis destinados ao projeto 
(sejam eles públicos ou privados), capaz de 
captar uma gama de colaboradores ligados à 
responsabilidade social intrínseca ao Moradia 
Primeiro (Housing First) e promover, por 
meio de projetos com financiadores diversos, 
aportes de recursos para investimentos 
destinados à habitação social.
• Alugar moradias de uma única instituição: 
com a intenção de reduzir o número de 
fornecedores e garantir amplo acesso do 
programa a projetos habitacionais interessados 
de forma focal. Para isso, bancos, construtoras 
e imobiliárias podem oferecer preço inferior 
diante do aumento da procura, à medida em 
que novas entidades sociais sem fins lucrativos 
demonstrem interesse de negociar lotes inteiros 
destinados ao Moradia Primeiro (Housing First).
• Contratos de aluguel social: apoio a entidades 
sem fins lucrativos que possam assumir o 
planejamento econômico e pagamento dos 
aluguéis destinados a pessoas em situação de 
vulnerabilidade, garantindo a intermediação 
comercial em vista de uma saudável integração 
dos interesses dos locatários, bem como dos 
moradores. Essa mediação contratual evita a 
discriminação dos participantes que, devido 
a contingência em que se encontram, não 
teriam respaldo documental e avalista para 
conduzir tal operação.
• Utilização de moradias que necessitam de 
reformas ou que estão em situação de risco: 
bancos e imobiliárias verificamas moradias 
sob sua gestão e que necessitam de reformas 
(e por isso não estão em condição de locação 
ao mercado formal), bem como imóveis que 
podem gerar ocupações irregulares, cedendo 
sob forma de comodato, para que o projeto 
organize mutirões de reparo, colocando-os à 
utilização no projeto.
• Aluguel em troca de oportunidades de emprego: 
utilizar as estruturas de gestão e recursos 
humanos próprias das empresas ligadas ao setor 
imobiliário, acolhendo em seus quadros a mão 
de obra dos beneficiados pelo projeto para que 
assumam funções como porteiro, serviços gerais 
e manutenção. Em troca há um abatimento no 
valor dos aluguéis ou cessão de uso.
• Colaboração para gestão do patrimônio de 
grandes instituições: fundações com grande 
número de imóveis e que não possuem 
pessoal destinado para a gestão adequada 
do patrimônio (como Igrejas, congregações, 
associações centenárias, rede de lojas, etc.), 
tomam o serviço do projeto em sua dinâmica 
de “imobiliária social”, cuja porcentagem 
acordada desses recursos é direcionada à 
manutenção do projeto.
10
1.3 Estudo de viabilidade econômica
Como se sabe, o modelo Housing First é reconhecido internacionalmente como mais eficaz do ponto de 
vista "econômico", no entanto precisamos dar um passo a mais com esta informação, rumo a produzir um 
cenário mais coerente com relação aos gastos e custos reais para implementação do programa.
É certo dizer que os valores de aluguel variam 
dramaticamente a depender da cidade. Em cada 
uma delas, os valores também flutuam de acordo 
com a região do imóvel, bem como suas condições, 
instalações e tamanho. Ou seja, é virtualmente 
impossível definir um valor médio de custos que 
se repita em cada cidade, de forma não contextual 
e específica. Da mesma forma, os custos de vida 
também variam enormemente de cidade a cidade, 
bem como os custos do fornecimento de água e 
energia elétrica. 
Assim, um primeiro passo importante para projetar 
o programa é avaliar de forma básica um valor 
médio de instalação e manutenção das moradias, 
considerando certa dispersão espacial dos imóveis, 
bem como presumir algumas regiões da cidade em 
que as pessoas poderiam ter predileção.
Por exemplo, sabemos que boa parte da 
população em situação de rua em Curitiba ocupa a 
região matriz (central) da cidade e prefere buscar 
moradia nessa região. É necessário também 
estimar um custo médio de consumo de água, 
energia e gás de cozinha por pessoa. 
A manutenção de uma moradia sempre conta 
com certo nível de imprevistos: há vazamentos 
de água, infiltrações, lâmpadas queimam, 
eletrodomésticos estragam, enfim, é importante 
sempre considerar uma taxa de reserva para 
manutenção e reparos ocasionais. 
Geralmente, os maiores custos associados à 
instalação de novas unidades para o programa 
Moradia Primeiro (Housing First) se dão no 
primeiro mês. Seja em casos de programas que 
contam com recurso para compra de mobília nova 
ou mesmo em casos em que há doação de mobília 
e enxoval para instalação de um novo morador 
ou moradora, existem custos com a mudança, 
transporte ou com a compra da mobília. Esses 
custos precisam ser presumidos e organizados 
em cronograma de aplicação, pois o custo inicial é 
sempre maior e não representará o custo real per 
capita da manutenção nos meses seguintes. 
Outro aspecto imprescindível é o custo com a 
contratação da equipe de trabalho. O tamanho 
da equipe dependerá da quantidade de pessoas 
atendidas, bem como da escolha do perfil 
profissional da equipe. Sugerimos que se visualize 
uma equipe mínima para o atendimento de no 
máximo 20 pessoas. 
Partir dessa formulação ajudará a pensar uma 
circunstância de contratação e gastos associados 
à manutenção da moradia, por exemplo, para 20 
pessoas. Isso significa dizer que este valor pode 
ser multiplicado a partir desta razão, ou mesmo 
diminuído para adaptação de projetos piloto 
menores, que atendam menos pessoas. 
Estudos onde o Housing First já está em funcionamento mostram 
que, em média, 40% do custo da intervenção com esse modelo 
são recuperados nos anos seguintes pela economia de gastos que 
os governos têm com emergências médicas e internações.
No ano de 2020, o Governo Federal sugeriu um projeto baseado na experiência do INRua para 
produção de projetos financiados por emendas parlamentares. Nessa formulação, chegou-se à 
cifra de R$ 600.000,00 para atendimento de 15 pessoas, pelo período de dois anos. Esse arranjo 
permite depreender um custo de quase R$ 1.700,00 per capita/mês. 
11
Junto do custo da equipe, é importante também prever 
os custos de manutenção dos serviços de suporte 
da equipe. Este aspecto também pode depender de 
acordo com a conjuntura local. 
Em um cenário ideal, a equipe poderia contar com 
automóveis do próprio projeto e com motoristas 
disponíveis exclusivamente para as visitas e demais 
trânsitos necessários à equipe. Contudo, também 
pode-se prever a utilização de carros individuais para 
os membros da equipe responsáveis pelas visitas, ou 
mesmo a utilização de carros próprios dos componentes 
com auxílio de combustível. Enfim, é necessário pensar 
arranjos que garantam a capacidade de deslocamento 
da equipe e geralmente isso também precisa ser 
computado como parte dos custos operacionais. 
Outro custo associado trata também de eventuais 
repasses aos indivíduos atendidos, por exemplo, 
transporte para utilização de serviços diversos ou 
mesmo com suporte para alimentação nos casos em 
que as pessoas não tenham recursos para manutenção 
da vida cotidiana. Eventualmente pode ser necessário, 
por exemplo, compra de materiais de limpeza e higiene.
De forma sintética, podemos concluir que os 
programas de Moradia Primeiro (Housing First) 
devem considerar os seguintes custos:
• Aluguel;
• Custos com mudança e instalação de mobília 
mínima;
• Serviços de fornecimento de água, luz e gás;
• Taxa de reserva para manutenção eventual 
das unidades;
• Custos com equipe técnica;
• Custos operacionais para visita;
• Custos eventuais com auxílio dos moradores 
(transporte, alimentação, produtos de limpeza, 
dentre eles, algo bastante importante para a 
relação do atendido com o programa: aparelho 
celular para contato com a equipe, marcação de 
visitas e emergências).
É importante lembrar que cada contexto favorece a possibilidades distintas. Precisamos ter em mente uma 
circunstância mínima em termos de condições de execução e sermos criativos em adaptá-las para obter os 
melhores resultados, visando a oferta do melhor serviço possível. 
Pensar projetos Housing First também significa estruturar sua 
manutenção ao longo do tempo. Afinal, trata-se de uma promessa 
de moradia permanente, portanto devemos ser responsáveis com 
o planejamento de nossos custos, de modo que possamos garantir 
a oferta de moradia, com qualidade e segurança, pelo tempo que 
for necessário. 
12
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: 
Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
BRASIL. Decreto n. 7.053, de 23 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional para 
a População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e 
Monitoramento, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 
Poder Executivo, Brasília, DF, 24 dez. 2009a.
BRASIL. Plano Nacional de Habitação. Brasília: Ministério das Cidades/ Secretaria Nacional 
de Habitação, dez. 2009b. Disponível em: https://urbanismo.mppr.mp.br/arquivos/File/
Habitacao/Material_de_Apoio/PLANONACIONALDEHABITAO.pdf. Acesso em: 21 jun. 2021.
GONÇALVES, G. C. ; AFFONSO, L. M. F. ; TEIXEIRA, V. R. ; AYDOS, M. R. ; PRIANTI NETO, R. B. 
. Elaboração e Implementação de Políticas Públicas. 1. ed. Porto alegre: Sagah, 2017. v. 1. 324p.
LAMEIRAS, Andreia Carvalho. Diagnóstico Social. 2015. Disponível em: https://servicosocial.
pt/diagnostico-social/. Acesso em: 20 jun. 2021. 
LOURENÇO, João Marcolino Pimentel. A Relação Locatícia no Arrendamento Urbano para 
Habitação, Lisboa,2015. Disponível em: https://repositorio.ual.pt/bitstream/11144/1866/1/
Disserta%C3%A7%C3%A3o%20de%20Mestrado_v2.pdf. Acesso em: 20 jun. 2021.
OFICINA NACIONAL DE CALLE; SUBSECRETARIA DE SERVICIOS SOCIALES; MINISTERIO 
DE DESARROLLO SOCIAL Y FAMILIA. Visión internacional de situación de calle: Gestión de 
la Vivienda. 27 slides. 2021?. tradução nossa. Acesso em: 19.04.2021).
Referências
https://urbanismo.mppr.mp.br/arquivos/File/Habitacao/Material_de_Apoio/PLANONACIONALDEHABITAO.pdf
https://urbanismo.mppr.mp.br/arquivos/File/Habitacao/Material_de_Apoio/PLANONACIONALDEHABITAO.pdf
https://servicosocial.pt/diagnostico-social/
https://servicosocial.pt/diagnostico-social/
https://repositorio.ual.pt/bitstream/11144/1866/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20de%20Mestrado_v2.pdf
https://repositorio.ual.pt/bitstream/11144/1866/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20de%20Mestrado_v2.pdf
13
Objetivo de aprendizagem
Unidade 2 – Perfil profissional das equipes e formação 
para o atendimento
Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer as possibilidades de formação de equipes técnicas 
para suporte e acompanhamento.
Para que o Moradia Primeiro (Housing First) se 
estabeleça há a necessidade de um grupo técnico 
responsável pela dinâmica direta com os moradores 
que serão aderidos ao projeto, com os proprietários 
dos imóveis e com a comunidade. 
Deve-se oferecer formação a esse grupo, para garantir 
a agilidade esperada nos trâmites e assim alcançar os 
objetivos esperados. 
Sabe-se, pela experiência em países como Canadá e 
Chile, que a alta fidelidade ao modelo Housing First se 
deve sobretudo à presença de uma equipe profissional 
compromissada com a filosofia e princípios do 
modelo, detentora de senso de justiça social, com 
técnicas eficientes, estruturalmente organizada e 
burocraticamente flexível.
É importante uma equipe com sensibilidade e 
conhecimento das necessidades complexas 
encontradas nas situações de rua, capaz de articular 
estratégias de redução de danos, com capacidade 
para o trabalho em equipe, criativa e empenhada em 
encontrar soluções com o melhor de suas habilidades. 
Trata-se de um coletivo profissional capaz de responder 
rapidamente às necessidades dos participantes. 
Princípios orientadores da equipe técnica:
Índices técnicos sugeridos:
• Técnicos de administração de casos/suporte Housing First: 1x10 (trabalhar com a razão 
de pelo menos um técnico para cada dez pessoas atendidas);
• Responsável administrativo: 1x100 (um responsável administrativo por cada cem moradias);
• Responsável jurídico: 1x200 (um responsável jurídico por cada duzentas moradias).
Princípios orientadores da equipe técnica do Moradia Primeiro.
Fonte: Autoria Vanessa Lima.
14
2.1. Estrutura e perfis profissionais das equipes de acompanhamento
Vamos ver a seguir alguns conhecimentos que podem ser particularmente úteis como ferramentas. 
Estes apontamentos foram produzidos a partir da experiência prática do INRua em direto diálogo com os 
materiais produzidos pelo programa chileno, em uma parceria entre a organização Hogar Sí e o Ministerio 
de Desarrollo Social y Família em 2020.
• A produção dos programas necessita que as equipes estejam afinadas no que diz respeito 
à metodologia de gestão de casos. É particularmente interessante que as equipes estejam 
organizadas com relação a quem devem recorrer para a gestão de problemas específicos, 
como organizar os materiais de acompanhamento e repassar informações aos supervisores/
coordenadores de equipe.
• Desde seus primórdios a elaboração do modelo Housing First promove e se utiliza da 
estratégia de redução de danos. É importante perceber que o princípio de atender as pessoas 
em maior vulnerabilidade social, a posição contrária à triagem com base em capacidades 
e a oferta da moradia como espaço central do suporte como forma de buscar estabilidade 
e condições de cuidado é apenas o início do processo, a porta de entrada para os serviços 
que virão a seguir.
• Outra aptidão bastante utilizada pelos membros de equipe é a capacidade e estratégia de 
mediação de conflitos. A relação com a vizinhança, com proprietários e com a própria equipe 
pode muitas vezes gerar situações problemáticas e desagradáveis. A capacidade de mediar 
conflitos, negociar distintos interesses, compreender aspectos inegociáveis entre as partes 
e buscar acordos e consensos de modo que as partes possam ceder ou ter suas vontades 
realizadas é fundamental no processo de estabelecimento do bem-estar dos envolvidos. 
Deve-se lembrar que não se trata de configurar equipes compostas apenas de especialistas, 
mas é importante considerar a utilização de metodologias que valorizam a autonomia, o cuidado 
humanizado e a participação em conjunto com os integrantes do projeto. Outro ponto em 
destaque é o estabelecimento de uma relação autêntica e sincera, com base na produção de 
vínculos de confiança e empatia.
Competências da equipe técnica Moradia Primeiro.
Fonte: Autoria Vanessa Lima.
e
15
Ainda se tratando da experiência chilena, ficou 
constatado que a separação dos profissionais 
em equipes de apoio na gestão de permanência 
na moradia e em equipes socioeducativas 
elimina o esforço de adaptação do profissional 
em competências tão diversas entre si. Tal feito 
possibilita uma ação interdisciplinar entre a 
pessoa atendida e a equipe que acompanha 
demandas diferenciadas.
Serviços maiores permitem a definição de equipes 
mais diversas, já que para cada profissional tem-
se um número de participantes atendidos. Em 
equipes menores essa contratação tem que ocorrer 
pontualmente de acordo com a demanda de 
participantes, o que pode se tornar um problema, 
na medida em que esta gestão produz mais custos. 
Contudo, destaca-se que a abrangência destas 
especialidades e características necessárias e, por 
vezes, inacessíveis, podem ser buscadas também 
através de outras parcerias, tais como grupos de 
extensão e pesquisa universitária, organizações da 
sociedade civil e movimentos sociais com interesse 
em participar e colaborar com o programa. 
A experiência de atuação no Moradia Primeiro 
Curitiba tem demonstrado que a busca por 
parceiros externos dispostos a colaborar com 
o projeto é um recurso vantajoso que auxilia na 
resolução de demandas que, de outra maneira, 
seria quase impossível realizá-las. 
Idealmente, a disponibilidade da equipe de suporte 
para situações emergenciais deve ser contínua 
e permanente: 24h por dia, 7 dias por semana. 
Tal fato se deve, sobretudo, à possibilidade de 
emergências de distintas ordens, as quais a equipe 
de suporte e acompanhamento representará o 
principal apoio às pessoas atendidas. Esta é uma 
questão complexa, dada as legislações trabalhistas 
e o bem-estar do profissional. Por isso, é necessário 
uma clara negociação e definição de acordos, em 
relação à articulação com os profissionais.
Tendo em vista essa prerrogativa da disponibilidade contínua 
da equipe, a parceria entre agentes públicos e organizações da 
sociedade civil é imensa, haja vista que tal disponibilidade é um 
recurso de difícil mobilização. Não por acaso, em muitos programas 
ao redor do mundo, a maioria das iniciativas são formuladas por 
iniciativas público-privada. 
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FABREGAS, Daniel. Documento de estratégias de locação. Euro Social. Nov. 2020. Disponível 
em: www.provivienda.org. Acesso em: 21 jun 2021.
HOGAR SÍ; MINISTERIO DE DESARROLLO SOCIAL Y FAMÍLIA. Estructura, perfiles 
profesionales de los equipos de trato directo y estrategia de funcionamento. Programa para 
cohesión social en America latina. Chile, 2020. tradução nossa.
Referências
http://www.provivienda.org
17
Objetivo de aprendizagem
Unidade 3 – Provisão de moradias para o Moradia 
Primeiro (Housing First)
Ao final desta unidade, você será capaz de descrever a organização da infraestrutura das moradias ofertadas.
O processo de captação de moradias é uma atividade fundamental para a plena execução de programas 
Housing First. No entanto, considerando que esta é uma abordagemrelativamente nova no país e se trata 
de algo que ainda é pouco familiar para a maioria das pessoas, a captação de moradias guarda muitos 
desafios. 
 Nesta unidade vamos abordar algumas ideias úteis na condução das estratégias de captação de 
moradias e gestão de contratos. Confira a seguir o modelo utilizado pelo INRua:
Importante ressaltar que no modelo Housing First os participantes do projeto têm voz ativa na 
tomada de decisão sobre a escolha do imóvel. Neste processo é fundamental que a pessoa tenha 
liberdade de expressar suas opiniões acerca do ambiente onde irá morar.
Para que esses passos se desenvolvam, é necessário visualizar previamente o número de moradias 
disponíveis no território buscado, o preço médio do m² nas principais regiões habitacionais, a evolução do 
valor do aluguel em relação aos últimos períodos, conhecer a gestão das imobiliárias e o valor estimado 
referencial para a manutenção da moradia no programa e a estimativa de tempo para a captação de um 
imóvel Housing First. Esse estudo deve se dar por bairro/região, de acordo com a prioridade do morador, 
identificando as vias de acesso ligadas às moradias.
Caminhos para encontrar as moradias: imprensa local, anúncios da internet 
em portais especializados, rede de colaboradores interessados, centros 
comunitários e andando porta a porta (visita in loco).
Passo a passo para a captação das moradias (Moradia Primeiro).
Fonte: Autoria Vanessa Lima.
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É comum encontrar resistência por parte dos proprietários para que fechem o contrato com o 
projeto. Deve-se ressaltar que haverá, por parte da equipe técnica, o controle sobre o estado e 
conservação da moradia. 
Após as primeiras contratações celebradas pode ser uma estratégia interessante a formulação 
de material de divulgação sobre o programa com testemunhos de proprietários/locadores que 
aderiram ao programa, com relatos da experiência por parte deles. 
Os pagamentos são realizados nas datas acordadas, firmando o compromisso de realizar os trâmites para 
a locação em menor tempo possível. Também é relevante informar a intermediação da equipe em possíveis 
conflitos com a vizinhança, assessoramento jurídico e fiscal relativo ao processo da locação.
Em alguns casos, a resistência dos proprietários pode ser atenuada 
também com o pagamento adiantado de alguns aluguéis (caução) 
– estratégia muito utilizada no Brasil – que apazigua um pouco 
os ânimos, desconfianças e riscos no processo de contratação de 
imóveis. 
Para uma resposta significativa, a implementação local deve basear-se nos 
seguintes aspectos:
• Moradias individuais ou com poucas pessoas, respeitando a afinidade entre as 
pessoas; 
• Evitar barreiras arquitetônicas que dificultem a vida das pessoas; 
• Garantir a instalação de mobília mínima e adequada às necessidades; 
• Indicar locais que favoreçam a integração com a comunidade local e a vizinhança;
• Evitar bairros com alta densidade de exclusão social e problemas que venham a 
dificultar a adaptação dos indivíduos ou fortalecer condutas problemáticas;
• Optar por lugares de fácil acesso ao transporte público e demais aspectos de 
infraestrutura urbana de modo a garantir o direito à cidade;
• Acesso a serviços de infraestrutura básica, culturais e sanitárias;
• Evitar a concentração de pessoas filiadas ao programa em uma única instalação 
e produzir “guetos” reconhecidos por serem moradias de pessoas com trajetória 
de rua – em grandes locações pode-se restringir ao máximo de 10% ou 15% de 
unidades utilizadas no programa Housing First. 
19
3.1. Estruturação dos imóveis: mobília mínima
A entrega do imóvel deve acontecer mediante inclusão de todo o mobiliário para que as pessoas 
acompanhadas já tenham condição de viver, respeitando necessidades específicas de cada situação. 
Para isso, vale contar com uma “banca de móveis doados” que aciona possíveis doadores de itens como: 
cama, guarda-roupa, mesas, cadeiras, eletrodomésticos, roupas, etc., transportando e catalogando essas 
doações, para que sejam usadas ao longo dos acolhimentos de futuros moradores.
As experiências internacionais frequentemente contam com um “Banco de Mobília”, ou seja, um 
espaço que armazena doações que podem compor enxovais para novas casas e todo tipo de 
mobília necessária. Em alguns casos, os novos moradores instalados têm a oportunidade de ir até 
estes locais e escolher eles mesmos a mobília que mais agrada e convém ao espaço de moradia. 
Deve-se buscar contratos de subvenção com instituições parceiras, contando com várias opções de 
financiamento e apoiadores. 
Quando a moradia já estiver mobiliada, a responsabilidade pela entrada, verificação das instalações e 
notificação em caso de alguma intercorrência com esse patrimônio é do técnico do projeto, ligado àquela casa 
e atendimento. Quanto aos equipamentos e eletrodomésticos das moradias, o projeto deve contar com uma 
lista básica, porém flexível de acordo com a demanda minimamente personalizada a cada participante que 
adere ao Housing First, lembrando especialmente das adaptações para pessoas com mobilidade reduzida.
Veja abaixo uma sugestão de mobília mínima para instalação de moradias: 
• Fogão; 
• Geladeira;
• Botijão de gás;
• Armário de cozinha;
• Mesa de jantar com cadeiras;
• Jogo de pratos e talheres; 
• Conjunto de panelas;
• Filtro de água;
• Utensílios de cozinha variados: 
potes, tábuas, bacia, pano de prato;
• Cama; 
• Sofá; 
• Armário de roupas;
• Travesseiros;
• Lençol;
• Fronha;
• Edredom ou cobertor;
• Toalha de rosto;
• Toalha de banho;
• Vassoura, pano de chão, baldes.
Importante ressaltar que nem sempre o projeto conta com orçamento para realizar esse tipo de compra (não 
no início da execução). Assim, as equipes garantem a arrecadação dos móveis necessários para atender às 
necessidades básicas do futuro morador também através de doação, incluindo atuação dos participantes 
em uma espécie de captação solidária, na comunidade. 
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3.2. Contrato de aluguéis e serviços
3.3. Contrato de adesão e regras de permanência
O programa Moradia Primeiro (Housing First) 
exige medidas políticas estruturais, mas o ponto 
focal está na articulação dos aluguéis. Todas as 
rotas disponíveis para o acesso à habitação são 
tomadas, mas uma atenção especial precisa ser 
dada ao processo de elaboração do contrato, já 
que a pessoa jurídica, articuladora do Housing 
First (seja o governo ou a instituição que 
operacionaliza o processo) é quem responde na 
condição de locador.
O contrato de aluguéis e serviços deve ser formatado visando também garantir a fidelidade aos princípios de 
Housing First, adaptando-o às necessidades locais. Para isso, é necessária uma equipe de suporte para olhar 
além das filosofias institucionais, apoiando os participantes a alcançar autêntica integração comunitária. 
A equipe técnica deve acompanhar fisicamente o inquilino para que, antes da assinatura do contrato, conheça o 
imóvel e concorde com a territorialidade, facilitando uma relação empática com a comunidade. 
Para o êxito nessa aproximação, o contrato deve basear-se na honestidade e na ampla garantia de direitos e 
execução de deveres de ambas as partes. Um elemento facilitador nesse processo é o de criar uma relação de 
engajamento com os proprietários.
As intervenções positivas por parte dos proprietários devem ser valorizadas e reforçadas pela equipe técnica, 
reconhecendo o esforço e preocupação social envolvida na interposição. As datas comemorativas (aniversário, 
natal, ano novo) são oportunidades afáveis para agradecer a participação do proprietário, integrando-o sempre 
mais na filosofia do Housing First, levando a dialogar com os resultados sociotransformadores do projeto.
Escutar de maneira ativa e qualificada também as necessidades e horizontes dos proprietários, 
para que ajudem a desenhar um serviço mais personalizado, em convergências que tragam a eles 
também a satisfação, dada a relevância do projeto e seu alcance global. Por isso é potencializador 
manter umcanal aberto, dialogal e operativo, inclusive para gerenciar as questões contratuais.
Uma pergunta muito frequente a respeito do modelo 
Housing First é: sendo o programa tão aberto, não 
utilizando processos de triagem convencional, 
organizado para atendimento de casos complexos, 
atendendo pessoas com uso problemático de drogas 
e com transtornos mentais severos, potenciais 
causadores de problemas graves ou mesmo de 
abandono das moradias, quais são as regras de 
desligamento? Em que circunstâncias uma pessoa 
pode ou deve ser desligada do programa? Ou ainda, 
qual é o limite de tempo de permanência no programa?
É necessário compreender que a lógica tradicional 
dos serviços de atendimento pressupõe que o apoio 
e o auxílio técnico de qualidade e eficaz é aquele 
que irá produzir no indivíduo as condições de ser 
plenamente autônomo do ponto de vista financeiro 
e da organização de suas vidas. Obviamente, esta é 
uma circunstância ideal que desejamos para todas 
as pessoas. Mas até onde esta é uma perspectiva 
realista? Em que termos este é um plano funcional 
para todas as pessoas?
As situações reais impõem a necessidade de refletirmos sobre esta 
projeção ideal de autonomização e levar a sério o fato de que esta 
não é uma realidade possível para um grande número de pessoas. 
Políticas estruturais. 
Fonte: Canva Pró
21
As pessoas em situação de rua estão acostumadas a buscar serviços de atendimento e quanto antes serem 
noticiadas sobre o tempo que tem para utilizá-los, por exemplo, em determinada unidade de acolhimento o 
tempo máximo de permanência é de 90 dias, após este período, a pessoa é desligada e precisa ficar algum 
tempo sem ser atendida, até que este prazo se renove e ela tenha nova chance de utilizar o serviço. 
O processo repetitivo de renovação de prazos é absolutamente frustrante. Nas entrelinhas, estabelece um 
prazo imaginado como suficiente para que as pessoas consigam se organizar e elas repetem este fluxo por 
anos a fio sem consegui-lo. Em alguma medida, é como se este fracasso fosse culpa delas mesmas, que não 
conseguem utilizar o tempo concedido para resolver suas vidas. Este é um dos motivos para grande parte 
das pessoas em situação de rua não aderirem aos serviços, pois sabem que não poderão contar com eles 
em longo prazo e que brevemente terão que se readequar às ruas.
Em programas Housing First, é importante não trabalhar com essa lógica. A informação de que o 
programa é permanente e que as pessoas poderão contar com aquele bem (a moradia e o suporte) 
por tempo indeterminado tem um efeito psicológico de segurança imediato. É como se a pessoa 
pudesse relaxar e respirar aliviada. Sair da “frequência da rua” (MELO, 2017), ou seja, de uma lógica 
da emergência, risco, imprevisibilidade e imediatismo que produz um corpo hostil e tenso, para 
então se sentir seguro e poder organizar planos e projetos de curto, médio e longo prazo. 
Por sua vez, as regras de permanência podem variar pontualmente em programas de Housing First, mas é 
imprescindível fazer com que elas sejam objetivas, simples e em menor número possível. 
Vamos agora observar as regras de permanência do Projeto Moradia Primeiro 
Curitiba e entender suas razões:
• Permitir que os representantes do INRua participem do processo de acompanhamento ao 
participante em uma base diária ou semanal (de acordo com a avaliação do caso, dos acordos com 
o atendido, considerando que as visitas são agendadas) ao longo de todo período de atendimento; 
Não há Housing First sem acompanhamento e suporte, parte imprescindível do trabalho. A pessoa que 
assina o termo de acordo e adesão ao programa deve estar ciente de que será acompanhada e visitada 
pela equipe. Na maioria dos casos, a relação de suporte é muito bem-vinda, mas este termo garante o 
conhecimento do indivíduo sobre esta condicionalidade. Por vezes, pode acontecer desentendimentos 
que fazem com que a pessoa atendida não queira receber visitas e crie subterfúgios para evitá-la. Através 
do contrato de adesão, a permanência no projeto é condicionada ao suporte com a anuência do atendido.
• Se compromete a designar 30% de sua renda (quando existente) para custeio dos gastos mensais 
de domicílio.
Na maioria dos casos, as pessoas aderem ao programa sem ter qualquer tipo de rendimento. No entanto, 
o processo de trabalho auxilia as pessoas em sua organização de tarefas e aspectos financeiros, de modo 
que possam estar inseridas em alguma atividade remunerada para provisão de seu sustento. Por vez que 
se alcance esta conquista e a pessoa passa a ter alguma renda, ela está comprometida em repassar para 
administração do programa 30% daquilo que ganha para o custeio do projeto.
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• O participante concorda em ser um bom vizinho, cuidar e manter sua casa, respeitar os vizinhos e a 
comunidade do entorno, limitando as perturbações causadas por visitantes, bem como barulhos e 
outros comportamentos perturbadores da ordem, privacidade e bem-estar dos demais.
Em um primeiro momento, o serviço de Housing First é curioso para os próprios participantes. É comum 
que nos primeiros dias ou até meses as pessoas não se sintam plenamente “em casa” e demorem um 
pouco para entender o funcionamento do programa ou mesmo acreditar que aquilo é verdadeiro. Surgem 
dúvidas sobre a permissão de receber visitas, tais como vizinhos, familiares e amigos. Se é possível 
oferecer um jantar ou fazer uma festa, dentre outras coisas. A ideia com o programa é que as pessoas 
possam ter uma vida como qualquer outro domiciliado e, da mesma forma, tenham também que cumprir 
e respeitar normas locais de convívio de modo a não incomodar a vida dos demais. 
• Ser o único inquilino vivendo no apartamento, conforme contrato de locação, sem nenhuma outra 
pessoa vivendo no mesmo imóvel, a não ser quando os participantes forem um casal ou tiver filhos/as.
A regra de ser o único inquilino trata-se na verdade de uma tentativa de oferecer segurança para os 
próprios moradores. Afinal, as pessoas em situação de rua frequentemente produzem redes de amigos, 
conhecidos, colaboradores enquanto estão em situação de rua. 
Na medida em que conseguem uma vaga no programa e atingem um determinado nível de bem-estar – 
algo desejado pela maioria das pessoas – pode haver uma tendência de querer auxiliar os companheiros e 
companheiras de rua ou até mesmo de se sentir coagido a receber mais pessoas para coabitação. Se por 
um lado tal circunstância pode ser motivada até mesmo por um sentimento nobre de “ajudar ao próximo”, 
é também uma situação que pode atrapalhar o processo individual, na medida em que pode reproduzir o 
padrão de ocupação nas ruas, converter a moradia em espaço de uso coletivo de substâncias, tornando a 
moradia um espaço compartilhado, superlotado e precário. O que não é nosso objetivo.
A primeira e mais fundamental tarefa que devemos realizar é, antes do processo mesmo de entrada no 
imóvel, fazer um estudo detalhado e paciente do termo de acordo que será celebrado entre as partes. 
Deve-se guardar toda cautela possível para que a pessoa atendida conheça exatamente todos 
os termos do contrato assinado e que esses termos sejam explicados à exaustão de modo que 
se garanta seu entendimento.
Por vez que compreendido, o termo deve ser assinado entre as partes e é fundamental 
que a pessoa atendida tenha uma cópia desse documento, de modo que possa consultá-lo 
livremente, quando bem entender. 
Mas o que faremos quando as pessoas incorrerem na quebra de algum dos termos acordados? Se uma 
pessoa começa a produzir evitação das visitas, convida um colega para coabitar de forma escondida, 
perturba a paz da vizinhança e engaja em condutas antissociais? 
As equipes de programas Housing First devem ter o compromisso de resolver esses conflitos e infrações 
através de negociação e acordos, tendo em mente realizar o máximo de esforços possíveis para que a 
pessoa não seja desligada do programa. 
O desligamento do programa deve ser a última alternativa, depois de esgotadastodas as negociações. 
Deve ser uma situação evitada ao máximo e que, quando inevitável, deve ser absolutamente excepcional. 
Sobretudo, devemos ter cuidado redobrado com o risco de utilizar as regras como forma de coação, 
constrangimento ou ameaça sobre a perda do direito a morar. 
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MELO, Tomás Henrique de Azevedo Gomes. Política dos “improváveis”: Percursos de engajamento 
militante no Movimento Nacional da População de Rua (MNPR). Tese de Doutoramento apresentada 
ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense, 2017.
Referências
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	Unidade 1 – Diagnóstico da situação de rua no território 
	1.1. Diferenças nas formas de atendimento 
	1.2. Princípios para implementação local
	Princípios para a implementação local a partir do poder público – Estratégias
	Princípios para a implementação local a partir do setor privado - Estratégias
	1.3 Estudo de viabilidade econômica
	Referências
	Unidade 2 – Perfil profissional das equipes e formação para o atendimento
	Princípios orientadores da equipe técnica:
	Índices técnicos sugeridos:
	2.1. Estrutura e perfis profissionais das equipes de acompanhamento
	Referências
	Unidade 3 – Provisão de moradias para o Moradia Primeiro (Housing First)
	3.1. Estruturação dos imóveis: mobília mínima
	3.2. Contrato de aluguéis e serviços
	3.3. Contrato de adesão e regras de permanência
	Referências

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