Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Gestalt-terapia Principais Conceitos autossuporte e heterosuporte teoria paradoxal da mudança ajustamento neurótico ajustamento psicótico Principais Conceitos Awareness Contato Fronteiras de Contato Self ciclo do contato Autorregulação organísmica e homeostase hierarquia de necessidades ajustamento criativo Awareness Awareness Conhecimento imediato e implícito do campo (ROBINE, 2006, p. 73) Awareness "A tradução do termo do inglês para o português remete de imediato à palavra “consciência”, devendo-se notar, entretanto, que awareness distingue-se da acepção de consciência como representação, reflexão, conhecimento ou juízo e assume, no vocabulário da Gestalt-terapia, um sentido próprio – que aqui sintetizamos como saber da experiência". (ALVIM, 2014, p. 12) Awareness A awareness possibilita ao cliente dar-se conta do que se passa consigo. Awarenees refere-se à capacidade de aperceber-se do que se passa dentro de si e fora de si no momento presente, em nível: Corporal, mental e emocional “Awareness é uma forma de experienciar. E o processo de estar em contato vigilante com o evento de maior importância no campo indivíduo/meio, com total suporte sensório- motor, emocional, cognitivo e energético”. (PERLS, GOODMAN, HEFERLINE, 1997, p. 33) Awareness Awareness É mais que uma recordação ou reflexão sobre o problema, é uma integração criativa do problema. Awareness “inconsciente” x fenomenologia da awareness "A awareness caracteriza-se pelo contato, pelo sentir (sensação/percepção), pelo excitamento e pela formação de gestalten. O seu funcionamento adequado é o reino da psicologia normal; qualquer perturbação cai na categoria da Psicopatologia. O contato, como tal, é possível sem awareness, mas para a awareness o contato é indispensável". (PERLS, GOODMAN, HEFERLINE, 1997, p. 33) Awareness "O sentir determina a natureza da awareness, quer ela seja distante (p. ex., acústica), próxima (p. ex., tátil) ou dentro da pele (proprioceptiva). Na última expressão está incluída a percepção de nossos sonhos e pensamentos. (PERLS, GOODMAN, HEFERLINE, 1997, p. 33) Awareness "A formação de gestalten sempre acompanha a awareness. Não enxergamos três pontos isolados; fazemos um triângulo com eles. A formação de gestalten completas e abrangentes é a condição da saúde mental e do crescimento. Só a gestalt completada pode ser organizada como uma unidade de funcionamento no organismo total. (PERLS, GOODMAN, HEFERLINE, 1997, p. 33) Exercício de awareness Contato Contato "a experiência ocorre na fronteira entre o organismo e seu ambiente". o fenômeno que se manifesta nessa fronteira constitui o que se chama de contato. Falamos do organismo contatando o ambiente, mas é o contato que é a realidade mais simples e primeira.” (PERLS, GOODMAN, HEFERLINE, 1997, p. 23) Contato organismo ambiente fronteira Campo Contato O contato é uma das principais necessidades psicológicas do ser humano. Através do contato cada ser humano tem a possibilidade de se nutrir no mundo exterior. o organismo realiza uma incorporação ou intercâmbio de alimento, água, afeto, etc. (angeles, 2008) Contato entramos em contato pelos nossos órgãos: olhos, ouvidos, boca, pele, estômago, pulmão... esse intercÂmbio se dá por essa troca que é o contato. (angeles, 2008) Contato O ser humano se conecta e desconecta continuamente do meio. o encontro e a retirada fazem parte do contato. quando retiro o contato fico sozinho. O ritmo contato-retirada é necessário para o bom funcionamento do organismo. (angeles, 2008) Contato "Cada pessoa tem seu espaço vital dentro do qual, e dependendo do momento, pode receber ou abrir-se a determinadas pessoas; mas ninguém deve invadir este espaço. se isto acontece, sentimo-nos ameaçados em nossa integridade e individualidade. o espaço vital é um conceito psicofisiológico, um espaço territorial imaginário que nos serve para definir a quantidade de contato, a qualidade, o tempo de duração desse contato e a proximidade de que cada qual necessita para sentir-se seguro sem correr o perigo de sentir-se invadido pelo outro ou pelos outros." (angeles, 2008, p. 58) Contato "No contato, no momento da união, eu não sou somente eu, nem você é somente você: você e eu somos agora nós. E quando me conecto com você e entro em contato, exponho minha vida independente e posso ficar enganchado nessa relação. o contato é um perigo, mas também é a base do crescimento e da maturação. Assim, um contato adequado e sadio é a seiva vital do crescimento. [...] A mudança é o produto inevitável do contato. Através do contato se realiza um tipo de aprendizagem que surge do intercâmbio de experiências, do que você pensa e sente, e do que eu Penso e sinto." (angeles, 2008, p. 58-59) Contato Consigo mesmo Com o ambiente Com outras pessoas 1. 2. 3. Tipos de Contato (angeles, 2008, p. 60) Fronteiras de Contato Fronteiras de Contato A fronteira é o que une e o que diferencia o organismo e o ambiente. Fronteiras de Contato "A experiência se dá na fronteira entre o organismo e seu ambiente, primordialmente a superfície da pele e os outros órgãos de resposta sensorial e motora. A experiência é função dessa fronteira, e psicologicamente o que é real são as configurações “inteiras” desse funcionar, com a obtenção de algum significado e a conclusão de alguma ação". (PERLS, GOODMAN, HEFERLINE, 1997, p. 41) Fronteiras de Contato A noção de fronteira de contato é uma das pedras angulares da Gestalt-terapia (PERLS, GOODMAN, HEFERLINE, 1997, p. 33) Fronteiras de Contato "Quando dizemos “fronteira” pensamos em uma “fronteira entre”; mas a fronteira de contato, onde a experiência tem lugar, não separa o organismo e seu ambiente; em vez disso limita o organismo, o contém e protege, ao mesmo tempo que contata o ambiente. Isto é, expressando-o de maneira que deve parecer estranha, a fronteira de contato – por exemplo, a pele sensível – não é tão parte do “organismo” como é essencialmente o órgão de uma relação específica entre o organismo e o ambiente. Primordialmente, como tentaremos mostrar mais adiante, essa relação específica é crescimento". (PERLS, GOODMAN, HEFERLINE, 1997, p. 41) Fronteiras de Contato Fronteiras do eu Fronteiras do corpo Fronteiras de valores Fronteiras de familiaridade Fronteiras expressivas Fronteiras de exposição 1. 2. 3. 4. 5. 6. Seis tipos de fronteiras: A fronteira do eu envolve todas as outras fronteiras e diz respeito às experiências de vida e à capacidade que a pessoa tem de assimilar novas experiências. Nesse sentido, o contato será mais ou menos permissível, próximo e íntimo. A fronteira do eu envolve lembranças, imagens, valores, ações, ideias; a depender de sua permeabilidade ou não, possibilitará maior ou menor grau de envolvimento com o novo e com o diferente. Quanto mais rígida for a fronteira do eu, menos a pessoa tenderá a aceitar correr algum tipo de risco, o que é necessário – e quiçá inevitável – para os processos de crescimento e desenvolvimento. Fronteiras do eu (FRAZÃO; FUKUMTSU, 2014, p. 48) têm relação com nossos limites e possibilidades corporais; dito de outra maneira, até que ponto somos permissivos ou não no que concerne ao contato corporal. Fronteiras do corpo (FRAZÃO; FUKUMTSU, 2014, p. 49) referem-se às crenças e aos valores que nortearão nossas ações e comportamentos. Quando excessivamente rígidas, dificultam ou até impedem o contato e, portanto, as trocas entre o organismo e seu ambiente – ou seja, interferem nos processos de crescimento e desenvolvimento, tão caros à Gestalt-terapia. Fronteiras de valores (FRAZÃO; FUKUMTSU, 2014, p. 50) estão relacionadas ao que é conhecido, familiar. Alguns clientes apresentam dificuldade para sair do âmbito do conhecido, não se arriscando a experimentar algo novo, desconhecido ou diferente do usual, o que também interfere nos processos de troca com o ambiente. Fora da fronteira defamiliaridade está o novo, porém também o desconhecido. Fronteiras de familiaridade (FRAZÃO; FUKUMTSU, 2014, p. 50) Elas se referem a como expressamos nossos sentimentos para além das palavras: como é o tom de voz, a energia, o olhar, a postura corporal etc. e afetam o modo como as necessidades são expressas, sejam elas de natureza afetiva, fisiológica ou social, entre outras. Se a expressão das necessidades não for adequada e clara, a satisfação delas na interação com o meio apresentará dificuldades. Fronteiras expressivas (FRAZÃO; FUKUMTSU, 2014, p. 50) se relacionam com as possibilidades e temores e/ou limitações de nos expormos, de sermos observados e reconhecidos. As fronteiras de exposição podem ter ligação com o temor de críticas, julgamentos e avaliações, fenômeno em geral observado no início do processo terapêutico, quando ainda não se estabeleceu uma relação suficientemente sólida e confiável entre cliente e terapeuta. Fronteiras de exposição (FRAZÃO; FUKUMTSU, 2014, p. 50) Formas de bloquear o contato ver - ouvir - sentir Self Self Self no dicionário de língua inglesa remete a: “a personalidade de alguém; a natureza-base de alguém” (Oxford, 1978, p. 788) na psicologia e psicoterapia como conceito remete a: “si mesmo” em Gestalt-terapia o conceito se diferencia pois se relaciona aos conceitos de “campo” e de “ajustamento criativo”. Self O Self é contato Self O Self não é parte do organismo como um todo. o self é função do campo. o self é o modo como o campo inclui o organismo. A GT estuda o "self como função" do campo - organismo/ambiente - em contato. o self não é uma estrutura ou instância. Self Não é o self que contata o ambiente. o self existe, onde existe contato. pouco contato - pouco self. contato total - self total. Psicologia sem "psiquê" Self A função do self é contactar o ambiente Selfing processo contínuo de estar com... pr ocesso estr utur a e não... desestruturação - reconstrução - assimilação Self O conceito de self gestáltico não precede o contato e as relações, tampouco existe fora delas (TÁVORA, 2014, p.72). "não faz sentido definir um ser que respira, sem ar" (PERLS et al, 1994, p.35) Self A visão de self tradicional, atrelada ao eu, é uma construção conceitual que faz que cada um seja jogado de volta sobre si mesmo e sozinho. A noção de self associada ao eu individual ou a autenticidade como necessariamente internalizada pode ser adequada para outras linhas teórico-práticas em psicoterapia que trabalham com um visão de subjetividade centrada na questão da personalidade em torno de um núcleo individual e único e determinado (TÁVORA, 2014, p.67) Reinterpretação das funções psicanalíticas sendo chamadas de função id, função ego e função personalidade. Funções do Self Funções do Self Função id como fundo em que se manifestam as experiências, ou seja, o próprio corpo; Função ego relaciona-se ao ato, processo de identificação e de alienação do contato; Função Personalidade é a tentativa do self de se definir. Funções do Self A função “id” é concernente às pulsões internas, às necessidades vitais e, especialmente, sua tradução corporal [...] a função ‘eu’, pelo contrário, é uma função ativa, de escolha ou rejeição deliberada [...] a função ‘personalidade’ é a representação que o sujeito faz de si mesmo, sua autoimagem, que lhe permite se reconhecer como responsável pelo que sente ou pelo que faz (GINGER e GINGER, 1998, p.128); "Num primeiro momento, aquilo que opera no self é a função id, entendendo-se por isso a relação de homeostase ou distribuição equitativa de energia entre as partes envolvidas, a saber, o meio e os meus tecidos celulares. Aqui, na função id, o self não é diferente de minhas vivências proprioceptivas, interoceptivas e exteroceptivas. Todas as sensações que experimento, “ao mesmo tempo” que são minhas, são inseparáveis do meio em que ocorrem, de modo que minha vivência, de fato, está diluída ou absolutamente integrada ao meio circundante." GRANZOTTO & GRANZOTTO, 2004. "Já a função ego [...] a função de individuação do self enquanto tal. Trata-se do momento em que as trocas energéticas se polarizam em uma extremidade da relação, que são meus tecidos celulares, junto aos quais o self se faz “ação”, “decisão”, “deliberação” em favor de uma certa direção ou modo de troca energética. [...] que é a minha deliberação (seja ela motora ou da ordem da linguagem). Enquanto ego, sou um self que não simplesmente “sente”, mas que, a despeito ou em favor da minha sensibilidade, toma decisões, age segundo uma certa direção que não necessariamente preciso me representar." GRANZOTTO & GRANZOTTO, 2004. [...] Já o terceira função, chamada de personalidade, trata de uma certa generalidade não perceptiva, na qual o self se sedimenta, tornando-se uma identidade histórica, representada, construída por meio de atos simbólico. Ciclo do Contato 4) Pós-Contato ou retração Assimilação da novidade faz parte da experiência. A Gestalt se completou. Integração da experiência da pessoa (Função Personalidade) 1) Pré-Contato Fase das Sensações O corpo é o fundo e a figura; Excitações orgânicas (Função Id) 2) Contatando ou Processo de Contato Fundo são as excitações. Fase de encontro com as possibilidades do meio (Função Ego) 3) Contato Final ou Contato Pleno Momento de confluência saudável Unidade figura-fundo (Função Ego ainda atuante) (Ginger; Ginger, 1995, p. 132) Sensação Contato Retirada Equilíbrio homeostático Reconhecimento Mobilização Ação Assimilação Tem vários nomes... ciclo da awareness Ciclo do contato ciclo contato-regressão ciclo das necessidades organísmicas (Ginger; Ginger, 1995, p. 142) (Ginger; Ginger, 1995, p. 142) Autorregulação organísmica e homeostase Autorregulação organísmica e homeostase Teoria heradada do pensamento de Goldstein; Goldstein equiparava a autorregulação organísmica ao princípio homeostático da biologia. Nessa ciência, o termo “homeostase” é utilizado para designar a manutenção das condições estáveis ou constantes no meio interno do corpo humano. meio interno é uma teoria das ciências biológicas para descrever que, diante das mudanças que ocorrem no meio, os organismos vivos sempre buscam manter uma constância, ou seja, uma forma de equilíbrio. autorregulação ou autoatualização do organismo “Homeostase” "De acordo com a teoria organísmica, é a autorregulação que permite que o organismo se organize para buscar modos eficientes de satisfazer no meio suas necessidades prementes. O processo da autorregulação organísmica é, na realidade, uma grande forma de interação e negociação entre aquele ser que busca o fechamento e a resolução de uma situação de desequilíbrio – uma situação inacabada – por meio de uma ação no ambiente do qual o organismo é parte". (TICHA, 2014) Autorregulação organísmica e homeostase “Sendo um princípio geral, se aplica a qualquer sistema, qualquer órgão, tecido e a cada célula. [...] o princípio que governa nossas relações com o meio externo é o mesmo princípio intraorganísmico de busca de equilíbrio” (Perls, 1969, p. 86). Autorregulação como um princípio homeostático de busca de equilíbrio que rege todos os processos de funcionamento do organismo. As potencialidades do organismo não são biologicamente determinadas, só podem ser entendidas de modo holístico. Uma destas potencialidades apresenta-se como uma tendência do indivíduo de completar ações incompletas, ou seja, finalizar situações inacabadas. O ser humano pode experimentar a frustração diante do impedimento da resolução de modo ideal de sua necessidade sem que se paralise por essa experiência. ele poderá criar outros recursos e alternativas para tentar se autorregular. frustração -> ajustamento criativo. Autorregulação organísmica e homeostase Hierarquia de necessidades Hierarquia de necessidades Satisfazer a todas as necessidades é uma tarefa inexequível,logo é premente a capacidade de discriminar e escolher aquilo que se torna mais importante e prioritário a cada momento. A essa capacidade organizativa de escolha daquilo que é mais importante resolver a cada situação a Gestalt-terapia chamará de discriminação de “hierarquia de necessidades”. (TICHA, 2014). Hierarquia de necessidades "Por necessidades Perls nomeava tudo aquilo de que precisamos para nos satisfazer, fechar nossos ciclos organísmicos, levando em consideração desde as demandas biológicas mais básicas, como aquelas que se vinculam aos afetos e às emoções que nos atingem. Perls (1977, p. 33) descreveu o organismo “como um sistema que está em equilíbrio e que deve funcionar adequadamente. Qualquer desequilíbrio é experimentado como necessidade a ser corrigida”." (TICHA, 2014). Hierarquia de necessidades figura fundo Hierarquia de necessidades "Desse modo, o adequado funcionamento da autorregulação se dá como um fluxo, um ciclo vital no qual a reversibilidade de figura/fundo é fundamental. A interrupção ou fixidez desse fluxo é compreendida na Gestalt-terapia como um processo não saudável ou não funcional, no qual não se dá o fechamento da situação." (TICHA, 2014). Ajustamento criativo Ajustamento criativo O atendimento de necessidades ocorre por intermédio do ajustamento criativo, que é a capacidade de satisfazer às nossas necessidades de acordo, simultaneamente, com nossa hierarquia de necessidades e com as possibilidades no campo organismo/meio. Ou seja: é a capacidade de interagir de modo ativo com o ambiente na fronteira de contato, adaptando, quando necessário, a demanda das necessidades às possibilidades de atendimento do ambiente. Ajustamento criativo FUNCIONAL DISFUNCIONAL Hierarquia de necessidades “respostas adaptativas necessárias à sobrevivência” podem ocorrer em outras situações relacionais significativas difíceis ao longo da vida - cristalização de gestaltens. NEURÓTICO PSICÓTICO Mecanismos de interrupção do contato Mecanismos de interrupção do contato Interrupções Modificações Descontinuações Bloqueios Resistências do contato (Ponciano, 1997, p. 28) (Pinto, 2015) Dessensibilização Dessensibilização, como o próprio termo diz, é um processo pelo qual a pessoa se esfria, se atonia, diminui sua percepção sensorial com o fim de descontinuar um contato vivido como arriscado ou perturbador. A dessensibilização como ato aparece como defesa quando andamos por uma cidade grande: se não nos dessensibilizássemos, se estivéssemos atentos a tudo que poderia ser percebido, rapidamente entraríamos em colapso; então, nos dessensibilizamos para a maioria dos estímulos que nos atingem, abrindo-nos para aqueles que podem ser importantes ou atraentes. Como estado, a dessensibilização aparece como certa negação do corpo quando precisa enfrentar angústias mais profundas. Como estilo de personalidade, a dessensibilização se caracteriza, entre outras peculiaridades, por evitação ao contato mais efusivo, preferência pelo isolamento e certo distanciamento do próprio corpo e do corpo do outro. 1. 2. 3. Deflexão é a capacidade de sair pela tangente, desviando -se do perigoso ou do muito frustrante de maneira indireta, a fim de evitar um confronto mais franco ou profundo. Como ato, uma das deflexões mais comuns se dá pelo olhar: quando estamos próximos de alguém, de tempos em tempos precisamos defletir e olhar para dentro ou para os lados, para podermos retornar mais inteiros ao contato. Essa é a deflexão sadia, uma tomada de fôlego para continuar o contato. Como estado, a deflexão se caracteriza por um desvio repetido por algum tempo, como na vergonha (saudável) que ganha tempo para a elaboração da culpa ou para a energização para uma atitude ousada. Se essa vergonha permanece influente por mais tempo que o necessário para a elaboração, podemos falar em deflexão cristalizada. Como estilo de personalidade, a deflexão se caracteriza pela horizontalidade, por certa prodigalidade de contatos interpessoais que amplia o número e diminui a profundidade destes. 1. 2. 3. Introjeção A introjeção aparece quando a pessoa incorpora normas, atitudes, modos de agir e pensar que não são, a princípio, verdadeiramente dela. É nossa maneira mais comum de aprender qualquer lição ou atividade. Quando saudável, a introjeção é seguida pela assimilação, ou seja, aquilo que estava introjetado é perpassado por uma atividade crítica e agressiva, a qual aceita algumas partes do aprendido e rejeita outras, até que haja uma incorporação e a parte assimilada se torne integrante daquela pessoa. Como ato, por exemplo, a introjeção aparece quando estamos aprendendo certa dança: a princípio prestamos atenção aos passos a fim de fazê-los como nos ensinaram, o que nos deixa até meio desajeitados. Com a prática, o movimento é incorporado, assimilado, o que torna nossa dança graciosa e única, mesmo que submetida a passos convencionados. Como estado, a introjeção se caracteriza pela dificuldade de realizar um ajustamento crítico e de usar a agressividade para separar o que é do outro do que é próprio – de modo que a pessoa acaba por engolir sapos, por manter em si comportamentos, atitudes, valores que não são exatamente seus, mas tomados de outros e não digeridos. É o caso, por exemplo, de denições sobre nós mesmos que ouvimos de nossos pais e seguimos repetindo pela vida afora como se fossem verdades inquestionáveis. Como estrutura, a introjeção favorece uma vida marcada por hesitações, pela ansiedade, pela diculdade em ousar, pelo medo de ser ridicularizado. Ao mesmo tempo, a introjeção como estilo de ser possibilita uma postura diante da vida marcada pela evitação de riscos exagerados para a pessoa. 1. 2. 3. Projeção Na projeção há uma confusão entre o que é de fato da pessoa, de modo que ela atribui ao externo algo que é na verdade dela, ou, como dizem os Ginger (1995, p. 135), ela “transborda e invade o mundo externo”. A arte pode ser um bom exemplo de boa projeção – assim como o amor, quando vejo no outro o belo que em verdade sinto entre nós. Já a projeção patológica caracteriza-se pela falta de percepção e de aceitação da responsabilidade por atos, desejos, atitudes, valores, os quais são, por isso, atribuídos ao outro. Como ato, o exemplo mais sonoro de projeção é o da fofoca, quando alguém atribui ao outro o pecado que gostaria de cometer, mas não consegue assumir a responsabilidade pelo próprio desejo. Se o introjetor diz eu quando quer dizer eles, o projetor diz eles quando quer dizer eu (Ribeiro, 2007, p. 62). Como estado, a projeção favorece certa alienação, uma desresponsabilização existencial tão necessária em momentos de laisser-aller. Como estilo de personalidade, ela facilita na pessoa uma atitude mais constante de vigilância e até de suspeita quanto ao mundo, lugar do que não cabe nela. 1. 2. 3. Proflexão A proflexão, de certa forma, é uma união entre a projeção e a retroexão, compondo um meio de defesa pelo qual a pessoa faz ao outro aquilo que gostaria que esse outro fizesse a ela. Essa descontinuação se caracteriza por um fluxo energético voltado para fora do organismo. Dessa forma, quando a proflexão é patológica, a pessoa praticamente passa a existir no outro; sua identidade depende do outro, sendo o autossuporte substituído pelo suporte externo. Isso gera sentimentos de isolamento e de abandono, além de vivência de comportamentos impulsivos derivados da insuciência de um senso de realidade. Como ato, a proflexão pode, por exemplo, apoiar uma conduta delicada, respeitadora para com o outro. Como estado, facilita certa insegurança, sobretudo diante de escolhas mais importantes existencialmente. Como estilo de personalidade, encontramos uma tendência à impulsividade, uma dificuldade de coesão interna com os afetos, podendo, em situações extremas, propiciar a autoagressão. 1. 2. 3. Retroflexão Retroflexão é a capacidade de fazer voltar para dentro a energia que potencialmente deveriair para o exterior. Trata-se de autocontrole por meio da vontade. É um fazer a si o que gostaria que os outros lhe fizessem, como na masturbação. Na retroflexão, é comum uma luta interna, um conflito entre entregar-se às situações ou manter-se atento e autocontrolado: “Uma retroflexão genuína está sempre baseada nessa cisão da personalidade e é composta de uma parte ativa e uma parte passiva” (Perls, 2002, p. 309). Como ato, a retroflexão propicia o autocontrole e o bom comportamento; como estado, pode ser sinal de luta com o corpo e seus desejos; como estilo de personalidade, fundamenta uma vida conscienciosa e metódica, de poucas ousadias. 1. 2. 3. Egotismo O egotismo pode ser descrito como a forma pela qual a pessoa desenvolve um eu tão controlado e autossuciente que pode anular o contato com os sentimentos e seu potencial transformador. A hipertrofiado eu e as condutas narcísicas têm relação com o egotismo. Como ato, o egotismo pode aparecer numa conduta arrogante. Como estado cristalizado, é geralmente ligado à presença de um dos pais sexualmente sedutor (...); como estado saudável, aparece no orgulho e na competição que permite sustentar e saborear posições alcançadas. Como estilo de personalidade, fundamenta, de um lado, grande parte do empreendedorismo e, de outro, grande parte da competitividade e da falta de solidariedade de nossos tempos. 1. 2. 3. Confluência Confluência é a capacidade de união com o outro. Possibilita a empatia, quando saudável, ou o fanatismo/dependência mórbida, quando patológica. Caracteriza-se, basicamente, pela capacidade de compor o “nós”, que se contrapõe ao “eu”. Espera-se que a pessoa, depois de compor o nós, possa voltar ao eu. Quando tal possibilidade está deficiente ou ausente, a pessoa se mantém no nós de maneira patológica, vivendo uma dependência do grupo ou do outro. Como ato, a confluência é um agregamento momentâneo, a entrega a outro(s), pessoas ou coisas ou entidades. Como estado cristalizado, caracteriza-se por um medo da solidão ou da individuação; como estado saudável, permite a vivência comunitária; como estilo de personalidade, se manifesta em serviço, controle e dependência. 1. 2. 3. ANGELES, M. Manual prático de Psicoterapia gestalt. PetróPolis, RJ : Vozes, 2008. Lilian Meyer Frazão e Karina Okajima Fukumitsu (org.). Gestalt- terapia: conceitos fundamentais. 1. ed. – São Paulo : Summus, 2014. PERLS, F. S.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P. (1951) Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997. ROBINE, J-M. O self desdobrado: perspectiva de campo em Gestalt- terapia. São Paulo: Summus, 2006.
Compartilhar