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42 Unidade II Unidade II 3 A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE MARKETING Antes de começarmos a falar sobre produtos e como gerenciá-los, abordaremos rapidamente um pouco a história do marketing e a apresentação de um importante modelo teórico, o mix de marketing. A ideia é entender que existe uma lógica histórica na evolução dos conceitos e que alguns modelos teóricos, mesmo que antigos, são muito importantes e devem ser conhecidos por todos os profissionais da área. O conceito de marketing e a definição de suas estratégias foram iniciados formalmente na década de 1950 com o surgimento das escolas de negócios, e mesmo sendo uma área nova, já sofreu diversas transformações desde então. O processo do marketing pode ser observado nas relações humanas desde os primórdios da civilização até a sua formalização enquanto área de atuação. Alguns momentos estão elencados a seguir: • Consumismo primitivo: a simples troca entre produtos que eram obtidos, estabelecendo, dessa forma, relações “comerciais”. • Moeda como base da troca: na Idade Média, com a introdução da moeda como base de troca, a intenção de acumular riquezas, guardar dinheiro, foi aguçada. Figura 12 Disponível em: https://bityli.com/jfAvZhc. Acesso em: 21 dez. 2021. 43 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS • Grandes navegações: no século XV, foi permitido que os povos europeus explorassem o planeta com o intuito mercantilista. No Brasil, fomos colonizados por portugueses que exploravam nossos produtos tropicais, metais e pedras preciosas com o objetivo de vendê-los na Europa. Figura 13 Disponível em: https://bityli.com/RfaPNTR. Acesso em: 21 dez. 2021. Figura 14 Disponível em: https://bit.ly/369tlE9. Acesso em: 21 dez. 2021. • Revolução Industrial: a partir do século XVIII, houve a migração do homem do campo para as cidades, a mudança das formas de trabalho, o surgimento da classe burguesa e, consequentemente, novas lógicas de consumo. 44 Unidade II Figura 15 Disponível em: https://bityli.com/rat4Fbu. Acesso em: 21 dez. 2021. • Fordismo e o consumo de massa: surgem no início do século XX e transformam a maneira de produzir das indústrias, o consumo de massa é criado. Figura 16 Disponível em: https://bityli.com/zWGF6vs. Acesso em: 21 dez. 2021. • Queda do sistema fordista: em meados da metade do século XX, o mundo passou por duas grandes guerras, surgem os anos dourados do consumo de massa e o maior poder aquisitivo dos trabalhadores, a competição internacional acirrou-se, houve mudanças nas relações de trabalho, novos centros industriais e muitas inovações tecnológicas. 45 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS Saiba mais Tempos modernos é um filme mudo estadunidense lançado em 1936 dos gêneros comédia, drama e romance, escrito, dirigido e estrelado por Charlie Chaplin. No filme, seu icônico personagem Little Tramp (O vagabundo) tenta sobreviver no moderno mundo industrializado. Trata-se de uma forte crítica ao capitalismo, ao nazifascismo e ao imperialismo, bem como aos maus-tratos que os trabalhadores recebiam na época desde a Revolução Industrial durante a Grande Depressão. Assista ao trailer: CHARLIE Chaplin – Modern times (Trailer). 19 out. 2010. 1 vídeo (1min16s). Publicado pelo canal Charlie Chaplin. Disponível em: https://bityli.com/OVBQZ4l. Acesso em: 3 jan. 2022. Com todos esses eventos históricos, na segunda metade do século XX, surge um novo homem, que passou a valorizar o conforto e o encanto imediato da vida, encontrou produtos e novas lógicas de consumo provenientes do progresso tecnológico. Com novos produtos e um novo consumidor, começam a surgir novas empresas, a concorrência entre elas aumenta e, consequentemente, estas passaram a se preocupar em conhecer e investigar o comportamento e as motivações de compra das pessoas. As universidades americanas incorporam a seus cursos de negócios disciplinas dedicadas aos estudos de mercado e comportamento dos consumidores desde o início da década de 1950. No Brasil, em 1951, foi fundada a Escola Superior de Propaganda e Marketing. Estudar o mercado e o comportamento dos consumidores tornou-se muito importante para a nova categoria de profissional que estava surgindo. Dessa forma, contextualizando as ações e a história, podemos nos focar na definição do que é marketing. Segundo Philip Kotler (2000, p. 30), “marketing é um processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo que necessitam e o que desejam com a criação, oferta, e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros”. Existe a ideia de que marketing é a arte de vender produtos, o que de fato é verdade, entretanto essa definição não está completa e é muito simplista. O pai da administração moderna, Peter Drucker, fala sobre o conceito de marketing de uma maneira completa e que faz todo sentido para o nosso estudo: Pode-se presumir que sempre haverá necessidade de algum esforço de vendas, mas o objetivo do marketing é tornar a venda supérflua. A meta é conhecer e compreender tão bem o cliente que o produto ou serviço se adapte a ele e se venda por si só. O ideal é que o marketing deixe o cliente pronto para comprar. A partir daí, basta tornar o produto ou serviço disponível (DRUCKER apud KOTLER, 2000, p. 302). 46 Unidade II Deixar o produto disponível para compra tem de ser o objetivo de todo o profissional de marketing e vendas. Mas é necessário pensar que existem processos anteriores a isso que precisam ser realizados. Veremos mais para a frente quais processos e como a teoria pode auxiliar nessas ações. A palavra “market” (mercado) com o sufixo “ing” sinaliza que tudo que pudesse ser relacionado ao mercado estaria contido no marketing: pesquisa, desenvolvimento de novos produtos, gerenciamento de produtos, logística de vendas, precificação, controle de vendas, propaganda, ações de comunicação. 3.1 O mix de marketing e o entendimento do P de Produto No início da década de 1960, Jerome McCarthy formulou o conceito dos 4 Ps que caracteriza o mix ou composto de marketing. Os 4 Ps representavam as quatros variáveis básicas que comporiam a estratégia de atuação de uma empresa no mercado. Do inglês, Product, Price, Place e Promotion – Produto, Preço, Praça e Promoção. Para Borges (2013): Produto – O que o cliente quer do produto? – Quais atributos ele precisa ter? – Como ele será usado? – Qual a sua aparência? – Qual o seu nome? Praça – Onde o cliente procura pelo seu produto? – Como você pode acessar canais de distribuição? – Qual o tipo de esforço de venda? – Onde seus concorrentes estão? Preço – Qual o valor oferecido pelo seu produto? – Já existem referências na sua área? – O cliente é sensível ao preço? – Como você será comparado? Promoção – Onde você vai anunciar seu produto? – Qual o melhor momento para promover? – Qual o padrão de mercado para esse tipo de produto? Mercado-alvo Figura 17 Ao longo das décadas, entre a criação do mix de marketing ou composto de marketing ou 4 Ps e os dias atuais, várias mudanças ocorreram no mercado e na maneira de consumir, porém, ainda assim, podemos e devemos usar esse conceito teórico para dar o início a qualquer plano de marketing. Dividir 47 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS as ações entre os 4 Ps, mesmo que possa parecer antiquado, auxilia os profissionais a vislumbrarem e criarem estratégias de marketing para um mercado-alvo. Atualmente, diríamos que o conceito dos 4 Ps evoluiu e está mais abrangente. Por exemplo: em Produtos, devemos avaliar produtos ou serviços; em Praça, deve ser considerada toda a cadeia de distribuição; em Promoção, pode e deve ser ampliada para comunicação com os clientes; e no Preço, precisa ser considerado o poder de compra dos consumidores. Comunicação Mix de marketing Distribuição Produto/ serviços Preço/ remuneração Figura 18 – Evolução 4 Ps Exemplo de aplicação Reflita sobre este ponto: Uma empresa que oferece um produto de baixa qualidade, cobrando preço acima da concorrência, mascom uma boa comunicação, conseguirá vender o produto por muito tempo? Por quê? Você consegue lembrar-se de algum exemplo dessa situação? De acordo com Yanaze (2011, p. 33), “a nova conceituação dos 4 Ps decorreu não apenas de um refinamento conceitual do próprio marketing, mas também de transformações ocorridas no cenário sociocultural e político-econômico”. Vale ressaltar que os 4 Ps são extremamente relevantes e devem ser planejados, organizados, direcionados e monitorados pelos profissionais de marketing e empresas, mas é importante frisar que para este livro-texto e para a disciplina, focaremos em apresentar os conceitos teóricos e exemplos que dizem respeito ao P de Produto, que no caso pode ser entendido como produto ou serviço. 48 Unidade II 4 PRODUTOS NOVOS Antes de qualquer ação para a criação e o lançamento de novos produtos, os profissionais de marketing, vendas e gestão precisam estar preparados para planejar o cenário dos produtos. Se estamos falando de um produto existente, esse planejamento precisa conter as mais diversas informações, como históricos de vendas, resultados das campanhas de comunicação, dados de distribuição, participação do produto perante os concorrentes e em qual estágio do ciclo de vida ele se encontra. São várias informações que ajudam o planejamento a fim de avaliar e criar estratégias de ação. Agora se estamos falando de um produto novo, todas as informações anteriores precisam estar mensuradas, comparando-as com concorrentes ou com produtos similares já existentes nas empresas. Outro ponto crucial e que não pode ser dissociado do produto é o comportamento do consumidor, os profissionais de marketing precisam compreender quais são as teorias que podem auxiliá-los a entender os consumidores e, consequentemente, satisfazer as suas necessidades e seus desejos. Com a maior capacidade de conhecimento de seus clientes, as organizações começaram a desenvolver estratégias individualizadas, concebendo cada consumidor como indivíduo único (MAGALDI; SALIBI NETO, 2018). Atualmente, está cada vez mais difícil vender produtos massificados, os consumidores são mais exigentes, buscam produtos diferentes, estão empoderados de informações. Além disso, a concorrência está muito acirrada em todos os segmentos da indústria, gerando opções de consumo. Dessa forma, existe a migração do mercado de massa para o nicho, e as empresas precisam se adaptar a essa nova lógica de consumo. Imaginemos o segmento de vendas de bolos e doces, automaticamente, e sem muito esforço, conseguiremos enumerar várias empresas, sendo elas locais, regionais ou até mesmo nacionais. Isso significa que o mercado dá opção de escolha aos consumidores, os indivíduos não precisam comprar necessariamente A ou B por só haver eles no mercado, os consumidores podem escolher o que de fato é bom para todos nós, faz com que as empresas tenham de realizar um trabalho estratégico importante para se manterem vivas no meio de tantos concorrentes e opções. Sendo assim, não há outra forma de administrar os negócios que não seja buscando entender o consumidor. Logo, só é possível gerenciar produtos e serviços se primeiro entendermos o comportamento dos consumidores. 4.1 Produtos novos e o comportamento dos consumidores Entender o comportamento de consumo é essencial para o sucesso da criação de novos produtos. Sendo assim, estudar e conhecer as teorias sobre comportamento de consumo ajudam os profissionais de marketing e gestão a pensar em como formular e implantar estratégias de criação e vendas de produtos e serviços. 49 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS Segundo Solomon (2002, p. 24), o comportamento do consumidor é entendido como o “estudo dos processos envolvidos quando indivíduos ou grupos selecionam, compram, usam ou dispõem de produtos, serviços, ideias ou experiências para satisfazer necessidades e desejos”. Compreender as necessidades e desejos dos consumidores ajuda os profissionais de marketing a pensar o mercado com os corações e as mentes dos consumidores, evitando, assim, a miopia de marketing (LEVITT, 1985). Schiffman e Kanuk (2000) descrevem dois tipos básicos de consumidores: consumidor final (consumidor pessoal ou usuário final) e consumidor organizacional. Logo, será possível desenvolver produtos ou serviços tanto para o consumidor final quanto para o organizacional, vai depender de qual mercado-alvo a empresa tem como foco. Observação Um conceito bastante difundido para exemplificar as diferenças dos consumidores é o B2B ou B2C, business to business ou business to consumer. • Consumidor final – B2C. • Consumidor organizacional – B2B. O marketing e os profissionais de vendas e gestão precisam se apoiar em teorias para estabelecer relações e entendimentos sobre comportamento do consumo. A seguir, verificaremos alguns modelos teóricos que podem auxiliar. Teoria da racionalidade econômica O consumidor, apoiado na racionalidade econômica, busca o maior benefício ao menor custo possível no ato de consumo. Os produtos são vistos a partir de uma visão utilitária. Consumir produtos a partir dessa perspectiva não permite uma compreensão aprofundada dos processos psicológicos que permeiam o comportamento de compra. Sendo assim são produtos com pouco apelo emocional, isto é, o ato de compra é racional. Psicologia como aporte A psicologia surge como uma alternativa para a compreensão dos fatores cognitivos, motivacionais e emocionais envolvidos nos processos de escolha e decisão de compra. Sugerem as teorias comportamentais, a psicanalítica e a cognitivista como aporte para construir o entendimento sobre consumo e, consequentemente, dar subsídios aos profissionais de marketing e gestão na construção dos atributos (tangíveis e intangíveis) e nas narrativas de comunicação dos produtos. 50 Unidade II Teoria comportamental A teoria enfatiza o comportamento e suas relações com o meio ambiente do indivíduo. O papel da aprendizagem e a influência do ambiente no processo de compra mediante o uso de estímulos de marketing maximizam a intenção de compra. Teoria psicanalítica Criada pelo neurologista Sigmund Freud. O marketing precisa entender o que acontece interiormente no consumidor no momento da compra. Nessa abordagem, o consumo é a expressão de desejos inconscientes, posto que o indivíduo projeta nos produtos desejos, expectativas, angústias e conflitos. O consumo passa a ser uma tentativa de dar vazão a esses desejos inconscientes, beleza eterna, corpo perfeito, status social podem ser exemplos. Teorias cognitivas É uma teoria bastante utilizada para entender os consumidores, pois integra a relação entre consumidor, produto e ambiente. Engel, Blackwell e Miniard (2000) criaram a ideia de motivação para o consumo, veremos à frente que o consumidor opta por diferentes produtos tendo como influência diversos fatores cognitivos: percepção, motivação, aprendizagem, memória, atitudes; além de questões socioculturais: família, cultura, ambiente. Teorias sociais e antropológicas Compõem o olhar mais aprofundado sobre a dinâmica social e cultural que rege os processos de consumo. Aqui, o consumo passa a ser visto como um processo social e de relacionamento entre os indivíduos. O consumo é um processo de significação social, proporcionando referência para a construção da identidade social dos indivíduos (CAMPBELL, 2001, BOURDIEU, 1984, FEATHERSTONE, 1995). Assim como o consumo é essencial para o sucesso do marketing, o conhecimento do consumidor é essencial para a efetivação do consumo. Segundo Yanaze (2011, p. 38), o comportamento dos seres humanos é basicamente determinado pelos instintos, sua programação genética natural, e condicionado, ou até modificado, pelas condições ambientais e de convívio. Logo, para criar produtos ou serviços, é importante conhecer quais são as necessidades, os desejos e as demandas dos consumidores. Profissionais de marketing passaram a utilizar pesquisas de psicólogos e sociólogospara entender melhor o processo de compra e o uso de produtos. Uma teoria que auxilia a compreender a questão das necessidades humanas é a pirâmide de Maslow. Abraham H. Maslow (2000) apresentou a sua teoria de motivação organizando as necessidades humanas em níveis hierárquicos, como pirâmide. Na base, estão as necessidades primárias, que são as fisiológicas e de segurança, relacionadas com alimento, água, sexo, moradia, proteção, segurança. 51 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS Já as necessidades secundárias são as sociais, de estima e autorrealização, estão relacionadas a amor, amizade, amor-próprio, prestígio, sucesso e realização pessoal. 1 Fisio lógic as 2 Seg uran ça 3 Soci ais 4 Estim a 5 Auto rrea lizaç ão Figura 19 Adaptada de: https://bit.ly/3H1X6UN. Acesso em: 27 dez. 2021. Necessidades primárias • 1º – Fisiológicas: fundamentais para a sobrevivência, incluindo a fome e a sede, o descanso, a locomoção, o movimento, o sexo. • 2º – Segurança: preocupação quanto à garantia relacionada à saúde, às finanças, à habitação, ao patrimônio. Necessidades secundárias • 3º – Sociais: relacionadas a gostar e ser gostado por alguém, conviver com pessoas, estabelecendo relações sociais. • 4º – Estima: anseio em conseguir uma posição de relevância em relação às outras pessoas, desejo de domínio, reputação e prestígio. • 5º – Autorrealização: busca do prazer, do desenvolvimento pessoal e profissional, desejo de conhecer e construir um sistema de valores. O interessante da teoria proposta pelo autor é que as necessidades são cíclicas e perenes, e os indivíduos estão sempre em busca de supri-las. Isso faz o consumo e a necessidade por produtos serem constantes. Obviamente, nem sempre existe uma ordem hierárquica de alcance, às vezes, os consumidores subvertem a hierarquia e transformam as necessidades conforme as emoções e os sentimentos. É muito comum, por exemplo, vermos indivíduos que pagam aluguel, mas têm um automóvel zero-quilômetro na garagem. 52 Unidade II A motivação é uma força ou motivo intenso que direciona a pessoa a uma determinada ação a fim de satisfazer um estado, até então deficitário, de alguma de suas necessidades. O ciclo motivacional inicia-se no equilíbrio, assim, existe um estímulo ou incentivo que gerará uma necessidade e, consequentemente, uma tensão para satisfazê-la, o que vai gerar uma ação ou um comportamento que pode causar satisfação e o consequente equilíbrio novamente. Esse ciclo é constante e perene, logo, funciona muito bem ao utilizá-lo para estabelecer as estratégias de vendas de produtos e serviços. Equilíbrio Estímulo ou incentivo Necessidade Tensão Comportamento ou ação Ciclo motivacional Satisfação Figura 20 – Ciclo motivacional Os autores Engel, Blackwell e Miniard (2000, p. 268) classificam as necessidades em utilitárias e hedonistas ou vivenciais. As necessidades utilitárias consideram os atributos ou benefícios objetivos, funcionais, do produto. Já as necessidades hedonistas/vivenciais abrangem respostas a prazeres, fantasias e considerações estéticas subjetivas. Exemplo de aplicação O que leva uma pessoa a comprar uma garrafa de cachaça por um valor superior a 2.000,00 reais? Quais são as possíveis razões e motivações? Utilize os conceitos discutidos para elaborar sua resposta. Como você descreveria o que a empresa produtora dessa cachaça está vendendo? 4.2 Produtos novos e o ciclo de vida Quando se fala em novos produtos, automaticamente, o profissional de marketing e gestão precisa pensar quais são os objetivos pretendidos e como serão desempenhadas as ações para alcançá-los, isso significa ter um planejamento de qual é o público-alvo e suas necessidades, aspirações e desejos. Qual será o segmento de mercado a ser atingido? Quais serão os atributos dos produtos e como eles se posicionarão e se comunicarão com os consumidores? 53 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS Logo, é necessário levantar os componentes do planejamento de novos produtos. A seguir, consta o quadro de Razzolini Filho com alguns itens necessários para formular o planejamento. Quadro 1 Item Caracterização Objetivos de mercado para o produto Objetivos de vendas, de participação de mercado, de lucros Público-alvo do produto Com características demográficas, psicográficas e expectativas Atributos e benefícios do produto Tudo que o diferencia dos produtos da concorrência e que representa valor para o cliente Patentes do produto Mecanismos de proteção legal contra concorrência Serviços agregados ao produto Suporte pós-venda, assistência técnica, treinamento etc. Marca do produto Decisões de posicionamento da marca em relação ao público-alvo Posicionamento e imagem A visão de como se deseja que o cliente perceba o produto no mercado Embalagem Definições sobre diferenciação em relação à concorrência ou estabelecimento de diferenciais com ênfase no cliente Parcerias Como estabelecer alianças ao longo do canal de distribuição de forma a agregar valor ao produto/serviço, em termos de tecnologia, serviços agregados etc. Adaptado de: Razzolini Filho (2012). São vários elementos que precisam ser qualificados no ato do planejamento de novos produtos conforme demonstra o quadro anterior. Além disso, elementos como vendas, custos e lucro devem ser contabilizados. Não adianta atender o consumidor e suas necessidades se as vendas, os custos e o lucro não estiverem condizentes com a realidade das empresas. Dessa forma, acompanhar e planejar o ciclo de vida dos produtos pode ser estrategicamente eficiente. O ciclo de vida do produto e do mercado pode ser dividido em algumas etapas: • Planejamento. • Lançamento. • Crescimento. • Maturidade. • Declínio. • Sobrevida. • Morte. 54 Unidade II 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Ciclo de vida do produto Planejamento Lançamento Crescimento Maturidade Declínio Sobrevida Morte 0 0 0 0 0 0 0 Figura 21 – Ciclo de vida produto O planejamento é a etapa de preparação, momento em que os profissionais precisam verificar a viabilidade do produto e as expectativas dos consumidores. No lançamento, a comunicação assume papel fundamental para o sucesso de vendas. Na etapa crescimento, é esperada a organização da distribuição e o aumento de vendas. Na etapa maturidade, o preço do produto pode tanto propiciar lucro quanto perdas, pois, nessa fase, a concorrência tende a ser acirrada. Nesse momento, são importantíssimos a atividade de controle e o monitoramento para que os possíveis problemas ou adequações sejam realizados nos produtos e nos processos de vendas. As próximas etapas são de perdas para o produto, há a fase de declínio, em que deve ser feita a reavaliação e possíveis mudanças, a sobrevida é o momento de reposicionamento e de estender a vida do produto e, por fim, pode vir a fase de morte, quando se torna inevitável a retirada do produto do mercado. Cada empresa deve controlar os ciclos de vida dos produtos, o desafio é acompanhar as necessidades e demandas do mercado para manter-se vivo e salutar, entretanto há alguns casos em que a morte, isto é, descontinuar o produto, é inevitável. Um exemplo de sucesso em um momento de declínio foi a empresa Harley-Davidson. Entre a sua fundação no início do século XX até a década de 1960, acumulou muito sucesso, vendas expressivas e até liderança do mercado, entretanto, com a entrada do concorrente japonês no mercado norte-americano, a empresa se viu numa crise de vendas, posicionamento e problemas de gestão que quase a levaram para o fim. Em 1981, a Harley-Davidson foi retomada pela família, cria-se a comunicação The eagle soars alone – A águia plana sozinha, momento de retorno da identidade da marca e, consequentemente, da identidade dos produtos da marca, que é a representação da cultura norte-americana. Há o retorno 55 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS das motos custom com um resgate histórico da marca e seu tradicionalismo. Nesse momento, surge um novo perfil de motociclistaHarley-Davidson. Em 1983, a empresa cria o HOG, clube dos donos de motocicletas da marca, que atualmente possui mais de 500.000 associados em todo o mundo. E, a partir desse ano, inicia sua expansão para o mundo. Hoje a empresa tem uma atuação global, com sucesso de vendas de motocicletas e da cultura da marca. Saiba mais Para conhecer um pouco mais sobre a marca, acesse: PANZARINI, B. A comunicação mercadológica e a apropriação de um estilo de vida – estudo de caso da marca Harley-Davidson no Brasil. 2015. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2015. Disponível em: https://bityli.com/0btsMfq. Acesso em: 5 jan. 2022. Conforme Yanaze (2011, p. 97), existem estratégias a serem tomadas para que haja o prolongamento do ciclo de vida do produto: Aumento da frequência de uso Incentivar o consumo mesmo tendo que vencer a sazonalidade. A empresa Cacau Show é um bom exemplo de aumento de frequência, transformando o portfólio dos produtos conforme a sazonalidade, com sorvetes, panetones, ovos de Páscoa, presentes para datas comemorativas etc. Outro exemplo mais antigo de produto que aumentou a frequência de uso foi quando a cervejaria Kaiser lançou a cerveja de inverno Kaiser Bock. Na época, foi um produto importante para a empresa manter o consumo de cervejas no inverno. Aumento de usuários Com o aumento de número de usuários, existe a possiblidade de conquistar segmentos de mercados ainda não atingidos. Essa situação, muitas vezes, é possível por fatores ambientais que favorecem o crescimento do consumo de determinados bens e serviços. Um bom exemplo pode ser o acesso à educação no Brasil, com o aumento de instituições, modalidades de ensino, créditos estudantis etc. Novas utilizações É a descoberta de novos usos, novas maneiras de usar o produto. A alguns produtos, foram acrescentadas novas maneiras de consumi-los; como o café, que antes era commodity, atualmente, existem consumos pautados na experiência. 56 Unidade II Quadro 2 Commodity Produto Serviço Experiência Café em grão R$ 0,02 por xícara Café embalado R$ 1,00 por xícara Café preparado R$ 3,00 por xícara Produto gastronômico com café R$ 10,00 por xícara Adaptado de: Bedendo (2017). Mudanças das embalagens As mudanças nas dimensões e nas embalagens podem auxiliar na extensão do ciclo de vida do produto, dando a este a oportunidade de entrar em outros segmentos do mercado. Exemplos podem ser a Coca-Cola, que apresenta uma extensa gama de embalagens para os refrigerantes, desde a caçulinha, king size, latinha, lata, litro, litro e meio vidro, litro e meio plástico, 2 litros, 3 litros. Logo, atende desde uma pessoa sozinha até uma família com vários membros. Ou quando a Bauducco oferece produtos em vários tipos de embalagens, sendo individuais ou maiores. Essa estratégia possibilita aumentar e atender aos mais diversos públicos com suas necessidades específicas. Saiba mais A Starbucks, famosa cafeteria, teve um projeto de aumentar os produtos ofertados aos clientes, possibilitando novas utilizações. Para saber mais, leia: BEDENDO, M. Starbucks: a cafeteria que irá vender vinho e cerveja. Exame, 24 fev. 2017. Disponível em: https://bit.ly/3K3wnIq. Acesso em: 26 nov. 2021. 4.3 Gerenciamento de portfólios de produto Uma das formas de gerenciar os produtos de empresa pode ser através de alguns modelos teóricos. Veremos a Matriz BCG, uma análise gráfica desenvolvida por Bruce Henderson para a empresa Boston Consulting Group em 1970. O objetivo da matriz é suportar a análise de portfólio de produtos ou de unidades de negócio baseado no conceito de ciclo de vida do produto. A Matriz BCG é utilizada para alocar recursos em atividades de gestão de marcas, produtos, marketing e planejamento estratégico, consequentemente, entender como gerenciar os produtos de uma empresa conforme a posição do ciclo de vida. 57 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS Participação relativa de mercado Alta Baixa Cr es ci m en to d o m er ca do Al to Estrela Em questionamento Ba ix o Vaca leiteira Abacaxi Figura 22 – Representação Matriz BCG No quadrante “em questionamento”, os produtos apresentam a pior característica quanto a fluxo de caixa, pois exigem altos investimentos e têm baixo retorno sobre ativos e baixa participação de mercado. Se nada é feito para mudar a participação de mercado, pode absorver um grande investimento e depois se tornar um “abacaxi”. Por outro lado, por estar em um mercado de alto crescimento, pode se tornar um produto “estrela”. Os produtos “estrela” exigem grandes investimentos e são referências no mercado, gerando receitas, ainda que não muito elevadas, e com taxas de crescimento potencialmente grandes. Ficam frequentemente em equilíbrio quanto ao fluxo de caixa. Entretanto a participação de mercado deve ser mantida, pois pode se tornar uma “vaca leiteira”, se não houver perda de mercado. Nos produtos identificados como “vaca leiteira”, os lucros e a geração de caixa são altos. Como o crescimento do mercado é baixo, não são necessários grandes investimentos. Pode ser a base de uma empresa, isto é, o produto carro-chefe, já que ela detém uma quota de mercado considerável. Já os produtos “abacaxi” devem ser evitados e minimizados numa empresa. Cuidado com os caros planos de recuperação. Invista, se for possível, na recuperação. A baixa fatia de mercado gera poucos lucros, mas está associada a um baixo investimento devido ao crescimento do mercado praticamente nulo. A Matriz BCG tem a vantagem de não apresentar uma só estratégia para todos os produtos, bem como equilibrar a carteira de negócios e produtos em geradores e tomadores de caixa. Consegue-se, assim, uma representação visual simples dos produtos e serviços da empresa e das suas avaliações relativas. Essa representação gráfica pode ajudar nas tomadas de decisão referentes a investimentos em produtos e serviços. Exemplo de aplicação Desenvolva a Matriz BCG dos portfólios de produtos das empresas em que trabalha. Essa atividade é muito importante para garantir a aprendizagem. 58 Unidade II Um erro recorrente é acreditar na possibilidade de elencar categorias de produtos concorrentes na Matriz BCG. Lembrete A Matriz BCG deve ser utilizada para avaliar o portfólio da empresa, isto é, apenas para os produtos ou serviços daquele negócio. Outra maneira de gerenciar portfólios de produtos e que deve ser considerada é para as empresas que possuem um negócio globalizado. Quando a empresa posiciona seus produtos para o status global, adquire determinadas vantagens, como marca única, economia de escala, oportunidade para impulsão internacional e comparabilidade de mercado. As marcas globais podem empregar um composto de marketing que seja essencialmente o mesmo em todo o mundo, isto é, um plano padronizado com alterações secundárias para atender às diferenças locais em áreas como língua, culturas e exigências legais. Entretanto existem algumas precauções que empresas com produtos globais precisam tomar para evitar problemas estratégicos, de vendas ou de comunicação. Vale ressaltar que a maioria dos produtos e planos não é possível de ser padronizada. Segundo Sandhusen (2010, p. 300), foi feito um estudo com 174 bens de consumo e apenas 10 foram exportados sem modificação significativa. As mudanças necessárias são variadas, como nome das marcas, características do produto, embalagem, rótulos e instruções aos usuários. Não altera comunicação Adapta comunicação Não altera produto Extensão do produto Adaptação da comunicação Adapta produto Adaptação do produto Adaptação dupla Figura 23 – Modelo de Sandhusen Adaptada de: Sandhusen (2010, p. 305). Avaliando-se a figura, percebe-se que apenas um quadrante de produtos não apresenta modificações e é estendido globalmente, entretanto, na maioria deles, são feitas adaptações nos produtos, nas comunicações ou em ambos. Essas mudanças acabam sendo definidasapós o conhecimento dos consumidores e do ambiente em que os produtos serão inseridos. 59 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS Saiba mais A Ford, no ano de 2020, fechou sua operação no Brasil e se reposicionou mundialmente com uma estratégia global de vendas de produtos SUVs. Leia mais a respeito em: MORENO, T. Veja como deve ser o futuro da Ford e de quem tem carros da marca no Brasil. CNN Brasil, 24 jul. 2021. Disponível em: https://bityli.com/yKf5EjH. Acesso em: 4 jan. 2022. Outra forma de avaliar a viabilidade dos produtos e de novos produtos pode ser através de análises estratégicas. Neste momento de nosso estudo, acreditamos ser pertinente apresentar-lhes a análise SWOT, ou, traduzido para o português, FOFA. Como em negócios é comum utilizarmos a nomenclatura dos conceitos em inglês, chamares de análise SWOT. A análise SWOT é uma ferramenta utilizada para fazer inspeção de cenário e/ou ambiente. É usada como base para gestão e planejamento estratégico de uma empresa, avaliando globalmente forças, fraquezas, oportunidades e ameaças. No inglês, strengths, weaknesses, opportunities, threats. No livro A arte da guerra, uma epígrafe apresenta o conceito: “Concentre-se nos pontos fortes, reconheça as fraquezas, agarre as oportunidades e proteja-se contra as ameaças” (SUN TZU, 2006). Em geral, uma unidade de negócios tem que monitorar as forças macroambientais: econômicas, tecnológicas, político-legais e socioculturais; e os agentes microambientes: clientes, concorrentes, distribuidores, fornecedores. E ambos afetam a capacidade de obter lucro das empresas. Dessa forma, identificar as oportunidades e ameaças associadas a cada tendência ou desenvolvimento é uma maneira estratégica de planejar os produtos e serviços. As oportunidades existem quando uma empresa pode lucrar ao atender às necessidades dos consumidores de um determinado segmento. As oportunidades podem ser classificadas de acordo com sua atratividade e com a sua probabilidade de sucesso. Já as ameaças são desafios impostos por uma tendência ou desenvolvimento desfavorável que levaria, na ausência de uma ação estratégica defensiva ou ativa, à deterioração das vendas ou dos lucros. Observação As oportunidades e as ameaças estão externas à empresa. No ambiente interno, serão avaliadas as forças e as fraquezas. Esses são os principais aspectos que diferenciam a empresa dos seus concorrentes. As forças são vantagens internas da companhia em relação às concorrentes. As fraquezas são desvantagens internas dela em relação às concorrentes. 60 Unidade II O ambiente interno pode ser controlado pelos dirigentes da empresa, uma vez que ele é resultado das estratégias de atuação definidas pelos próprios membros da organização. Dessa forma, durante a análise, quando for percebido um ponto forte, ele deve ser ressaltado ao máximo; e quando for percebido um ponto fraco, a organização deve agir para controlá-lo ou, pelo menos, minimizar seu efeito. O ambiente externo está totalmente fora do controle da organização, mas, apesar de não poder controlá-lo, a empresa deve conhecê-lo e monitorá-lo com frequência de forma a aproveitar as oportunidades e evitar as ameaças. Evitar ameaças nem sempre é possível, no entanto pode-se fazer um planejamento para enfrentá-las, minimizando seus efeitos. Fatores positivos Fatores negativos Fatores internos S Strengths (Forças) W Weaknesses (Fraquezas) Fatores externos O Opportunities (Oportunidades) T Threats (Ameaças) Figura 24 – Análise SWOT Exemplo de aplicação Para testar os conhecimentos em análise SWOT, faça a análise de sua carreira, relacione quais são seus pontos fortes e fracos e quais são as oportunidades e ameaças no mercado. 4.4 Introdução de novos produtos e a segmentação de mercado Introduzir novos produtos no mercado não é uma tarefa fácil, tampouco simples. Os profissionais de marketing e as empresas precisam elencar pontos como projetos e protótipos, viabilidade de produção, avaliação de preço, concorrência e necessidades e expectativas dos clientes. É importante frisar que entender a segmentação dos mercados e algumas teorias sobre o tema auxiliam os profissionais a não errar durante os processos de planejamento e execução de introdução de novos produtos. A perspectiva do cliente passou a ser considerada no processo de desenvolvimento e comercialização de novos produtos/serviços pelas empresas brasileiras. Se pensarmos no segmento de beleza, nos anos 1990, não tínhamos a quantidade de produtos atuais. O xampu e o condicionador, por exemplo, eram de poucas marcas com algumas essências. 61 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS Atualmente, com a evolução da tecnologia, melhorias econômicas e novas perspectivas de consumo, o mercado de beleza no Brasil cresce de maneira acelerada e com muitos produtos para os mais diversos tipos de necessidades. Logo, percebe-se uma segmentação do mercado bastante forte e as empresas cada vez mais precisam criar produtos mais específicos conforme as necessidades e desejos dos consumidores. A empresa Beleza Natural é um ótimo exemplo de aproveitamento de segmentação de mercado. Sua fundadora, Zica de Assis, estudou muito tempo para encontrar a fórmula ideal para tratar seu cabelo crespo, hoje, possui produtos, serviços e salões de beleza por todo o Brasil. E não parou por aí, além de tratar do cabelo crespo, em 2014, lançou uma linha de produtos segmentada para tipos de cachos, o que atende de maneira mais eficiente o mercado de produtos para cabelos. Saiba mais Para conhecer a história de Zica Assis e do Beleza Natural, acesse: MEDEIROS, L. Beleza natural lança tratamento para diferentes tipos de cachos. Mundo do Marketing, 3 jan. 2014. Disponível em: https://bityli.com/f7M47gm. Acesso em: 22 dez. 2021. ZICA de Assis conta a história do Beleza Natural. Sua história nossa história. 1 abr. 2015. 1 vídeo (16min58s). Publicado pelo canal Newtrade. Disponível em: https://bityli.com/huxCwwA. Acesso em: 3 jan. 2022. Os primeiros estudos sobre segmentação de mercado são relativamente novos. Em 1956, nos EUA, foi publicado um artigo no Journal of Marketing, com o título “Diferenciação de produtos e segmentação de mercado como alternativa para estratégias de marketing”. No artigo, afirmava-se que segmentar mercados é condição indispensável para o crescimento das organizações e para adaptá-las às necessidades dos clientes (SMITH, 1956). O mercado de massa, segundo Kotler e Keller (2006), está com os dias contados em função da multiplicidade de canais de comunicação e distribuição que impactam os clientes. Entende-se que a melhoria na comunicação e distribuição ajuda a ressaltar ainda mais a necessidade de produção e comercialização de produtos pautados em segmentação de mercado e de nicho. Quando uma organização adota a perspectiva do marketing de segmento, decide atender grupos de clientes que têm entre si algumas características em comum, com produtos e serviços dirigidos a esses públicos. Segundo Peter e Churchill Júnior (2000, p. 204): “Segmentação de mercado é o processo de dividir os mercados em grupos de compradores potenciais com necessidades, desejos, percepções de valores ou comportamento de compra semelhantes”. 62 Unidade II Existem alguns passos necessários para iniciar as estratégias de segmentação de mercado, conforme apresentamos a seguir. Passo um: estágio de levantamento Momento de identificar o comportamento, as atitudes e aspirações dos consumidores. Neste passo, é importante a avaliação de pesquisas, opiniões, e como o ambiente mercadológico atua. Passo dois: estágio de análise Nesta etapa, é preciso a avaliação dos conglomerados para determinar um número específico de segmentos com diferenciação. Aqui, deve-se unir todas as informações externas e traçar possíveis ações de segmentação em harmonia com as possibilidades das empresas. Passo três: estágio de determinação Com os perfis identificação e avaliação de cada conglomerado feitos, essaavaliação deve ser constante, pois o comportamento das pessoas muda, assim, é preciso introduzir possíveis planos de ação em segmentação. Nesse sentido, o que se pode perceber é que qualquer ação estratégica de segmentação para produtos, novos produtos ou serviços deve ter os momentos de formulação, que envolvem análises, criação e pesquisas; e o momento de implantação, que é a tomada de ação estratégica, seja ela de criação, vendas, reposicionamento de produtos e serviços. Dessa forma, para ter uma segmentação de mercado efetiva, as informações devem ser baseadas na análise do comportamento de compra do consumidor ou do cliente final. Os mercados de clientes finais podem ser segmentados por cinco grandes grupos de variáveis: • Geográficos: divisão do mercado em unidades geograficamente distintas (continentes, países, regiões, estados e cidades). • Demográfica: divisão do mercado através dos perfis idade, sexo, renda, raça, classe social, grau de instrução. • Psicográfica: separação dos compradores em grupos por personalidade e valores. • Comportamental: divisão de compradores em grupos com base em seus conhecimentos de um produto, em sua atitude com relação a ele, no uso dele ou na resposta a ele, estilos de vida e orientação sexual. • Benefícios: agrupamento de clientes de acordo com os benefícios que buscam nos produtos e serviços. Na realidade, essa variável está diretamente ligada aos motivos básicos pelos quais os consumidores são atraídos, como determinada oferta de produtos. 63 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS Vale ressaltar: quanto mais informações foram relacionadas às cinco variáveis de segmentação, maior foi a possibilidade de eficiência nos objetivos estratégicos de vendas de produtos, novos produtos ou serviços. Seguem alguns exemplos de produtos e serviços em que é possível perceber a segmentação bem evidente de clientes. O automóvel Eco Sport da fabricante Ford saiu de linha em 2020, entretanto, no Brasil, foi ele que introduziu a categoria SUV no final da década de 1990. A empresa entendeu que existia uma demanda que ainda não era respondida e criou a categoria, vale lembrar que ficou sem concorrência nesse mercado uns bons anos. A livraria Cultura do Recife, em Pernambuco, destinou espaços em suas prateleiras para autores e obras locais, a empresa percebeu que o consumidor de lá tinha como desejo e necessidade a compra de autores locais. Quando a RBS, afiliada da Rede Globo, iniciou a produção de programas locais além dos de jornalismo, entendeu-se que os telespectadores tinham a necessidade de consumir entretenimento local. A Kraft Foods, em meados de 2000, trouxe o Club Social ao Brasil, o sucesso de vendas inicial foi tão grande que até faltou nas prateleiras dos supermercados. No Brasil daquela época, não tinham bolachas embaladas em pacotes individuais, o que respondeu a uma demanda de benefícios. O serviço de streaming da Netflix possui um catálogo de filmes e séries, entretanto esses nomes são disponibilizados por países, isto é, nem tudo que é veiculado no Brasil é veiculado nos EUA. Outro ponto importante é que o serviço consegue monitorar individualmente as preferências dos usuários direcionando-os, conforme as escolhas, aos títulos mais adequados. O Facebook e o YouTube, que são redes sociais, também direcionam os conteúdos conforme preferências, localização, escolhas, posicionamentos ideológicos dos usuários. Saiba mais O documentário O dilema das redes apresenta a opinião de especialistas em tecnologia e profissionais da área sobre os direcionamentos que os gigantes das redes sociais proporcionam em seus usuários. Além disso, levanta possíveis problemas e impactos em democracias e na humanidade. O DILEMA das redes. Direção: Jeff Orlowski. Estados Unidos: Exposure Labs, 2020. 94 min. 64 Unidade II A segmentação de mercado força a empresa a concentrar seus esforços dentro de parâmetros bem definidos. Os tomadores de decisão ficam melhor informados e mais alertas aos fatores que afetam as operações. Segundo Richers (2000, p. 112), [...] o mercado brasileiro é altamente receptivo à estratégia de segmentação, dada a extensão territorial do País e os custos decorrentes da distribuição de produtos e serviços, as grandes diferenças de poder aquisitivo da população, existência de mercados pouco ou mal explorados, os altos custos de comunicação e as diferenças de hábitos de consumo e valores regionais, entre outras. Existe uma grande dificuldade de as organizações estabelecerem um bom sistema de inteligência de marketing hábil em captar informações dos clientes que podem ser transformados em vantagens competitivas para as companhias. Por sua vez, empresas big techs, como YouTube, Google, Facebook, Twitter, apresentam um diferencial competitivo enorme comparado com outras instituições e outros setores. Elas conseguem monitorar efetivamente os dados de milhares de indivíduos em todo o mundo e criam inteligência de dados através de algoritmos. Não é mágica nem feitiçaria quando você procura um produto no Google e automaticamente começa a receber ofertas, isso é o monitoramento, o algoritmo que está fazendo. Saiba mais Para saber mais sobre as questões de privacidade nas redes e os problemas gerados, assista ao filme Privacidade hackeada: PRIVACIDADE hackeada. Direção: Karim Amer; Jehane Noujaim. Estados Unidos: Othrs, 2019. 114 min. Para Silva e Zambon (2014), quando a organização adota a perspectiva do marketing de segmento, decide atender grupos de clientes que têm entre si algumas (ou muitas) características em comum, com produtos e serviços dirigidos a esses públicos, o que aumenta as chances de maior retorno sobre o investimento, dado que o recurso empregado se destinou adequadamente ao público certo. A seguir, consta um quadro com etapas possíveis para realizar as estratégias de segmentação e uma descrição de cada uma das atividades. 65 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS Quadro 3 Etapa Descrição da atividade Segmentação baseada nas necessidades Agrupa os clientes em segmentos, com base em necessidades semelhantes e nos benefícios por eles buscados para resolver um determinado problema de consumo Identificação do segmento Determina quais características demográficas, estilos de vida e comportamentos de uso tornam o segmento distinto e acionável Atividade do segmento Usando critérios predeterminados de atratividade de segmento (como crescimento do mercado, intensidade competitiva e acesso ao mercado), determina a atratividade de cada segmento Rentabilidade do segmento Rentabilidade de cada segmento (análise de demanda, custos e preços) Posicionamento do segmento Para cada segmento, cria uma proposta de valor e uma estratégia de posicionamento com base nas necessidades e características Testes críticos de segmento Pesquisas de marketing para testar a atratividade de sua estratégia Adaptado de: Silva e Zambon (2014). A segmentação de nichos é formada por grupos com necessidades ainda mais distintas, exemplos: segmento esportivo, atividade de montanhismo. Ou quando a segmentação é individual, isto é, consumidores com necessidades especiais e sob medida, exemplos: roupas de alta costura, sapatos feitos à mão ou relógios exclusivos. Em mercados altamente competitivos, a estratégia de segmentação é utilizada com o objetivo de proporcionar aos clientes, sejam eles finais ou organizacionais, maior satisfação do desejo ou necessidades, consequentemente, clientes que possuem suas necessidades e desejos satisfeitos tendem a continuar consumindo, isso possibilita a continuação da organização. Exemplo de aplicação Assista ao vídeo seguinte e explique como é a segmentação proposta pela marca suíça Patek Philippe e do relógio criado para comemorar 175 anos da marca. RELÓGIO mais caro da Patek Philippe. 27 fev. 2017. 1 vídeo (10min37s). Publicado pelo canal Wellington Silva Só Relógios. Disponível em: https://bityli.com/jlJBCLn. Acesso em: 3 jan. 2022. A agênciaYoung & Rubicam se inspirou na hierarquia das necessidades de Maslow para desenvolver um modelo de análise que busca entender como os indivíduos geralmente se sentem em relação ao consumo. O sistema desenvolvido pela agência pode ser utilizado com pessoas de diferentes países e diversas origens culturais. Ele é chamado 4 Cs ou cross cultural consumer characterisation e poderia ser traduzido para o português como cruzamento cultural das características dos consumidores. 66 Unidade II Os 4 Cs agregam as pessoas em sete tipos de características de consumidores, dependendo de sua motivação-núcleo. Saiba mais Para conhecer o material na íntegra da Young & Rubicam, acesse: YOUNG & RUBICAM EMEA. There are seven kinds of people in the world. 7 jan. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3C7IYb2. Acesso em: 28 fev. 2022. A primeira é o Explorador. Esse perfil de consumidor responde a marcas que trazem novas sensações e efeitos imediatos. Essas pessoas estão sempre em busca de descobertas, gostam de experiências e de coisas novas. O segundo perfil é o Aspirante, são materialistas, preocupados com a percepção dos outros. Levam a vida baseada no status que a marca pode proporcionar. Dessa forma, marcas com apelos estéticos e de luxo são bem adequadas ao perfil. Os Sucessores, terceiro perfil, possuem uma alta confiança e uma orientação para resultados. Eles precisam de marcas que os prestigiem e cuidem deles, sua necessidade principal é a de controlar. O quarto perfil são os Reformadores. Estes são os mais antimaterialistas dos sete perfis e são socialmente conscientes, autênticos e harmoniosos. Normalmente, eles não compram algo apenas por ser novo. São consumidores que se preocupam com as ações organizacionais e com temas como pobreza, meio ambiente e distribuição de renda. O quinto perfil são os chamados Populares. São pessoas que vivem no mundo cotidiano. A rotina diária é fundamental para a vida desse grupo. Suas escolhas de vida são “nós” em vez de “eu”. Esse grupo é a maior parte da sociedade e o maior grupo dos 4 Cs. Sua necessidade principal na vida é a segurança. O sexto grupo são os Imediatistas. Vivem para o hoje, são considerados sem rumo, desorganizados. Para esse perfil, o impacto visual e a sensação física são importantes elementos na hora de escolher suas marcas. E, por último, consta o perfil dos Resignados. São as pessoas mais velhas, com predominância constante, valores imutáveis, construídos ao longo do tempo. Nas escolhas de marca, são movidos por uma necessidade de segurança. Eles escolhem, acima de tudo, o que é familiar a eles. A partir desse modelo, podemos perceber como os perfis levantados no estudo nos ajudam a entender o consumo e como o desenvolvimento dos produtos deve estar orientado para atingir as necessidades, aspirações, sensações e o estilo de vida de cada um desses perfis. 67 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS Um produto, através de seus atributos tangíveis e intangíveis, pode criar um significado simbólico para os consumidores. Esse significado deve ser condizente com a realidade, os anseios e a expectativa de seu público-alvo. Se o cliente não se identificar com o produto, não existe emoção, e nem tampouco relacionamento entre as partes, logo não vai existir consumo. Já utilizamos a empresa Harley-Davidson como exemplo, entretanto, nesse caso, acreditamos ser pertinente repeti-lo para esboçar com clareza o conceito dos 4 Cs e como utilizá-los. A empresa Harley-Davidson quando constrói a comunicação com o seu consumidor, aparentemente, busca dois tipos elencados no modelo dos 4 Cs. O primeiro perfil são os Resignados, os consumidores Harley-Davidson, em sua maioria, são pessoas mais velhas, que buscam valores sólidos, a história da marca e toda a sua atuação ao longo dos anos, a credibilidade e a segurança dos produtos, a assistência técnica e o pós-vendas. Todos esses elementos são utilizados na comunicação mercadológica da marca e no ato de venda dos produtos da empresa. Além disso, percebe-se a atuação para os consumidores com características de Sucessores, já que a Harley-Davidson é uma marca de muitos anos de história e possui um prestígio muito grande em seu segmento de atuação, as ações de comunicação com o mercado buscam apresentar elementos como confiança, prestígio, cuidado com o consumidor. Utilizar a teoria dos 4 Cs para entender os segmentos do público-alvo só auxilia as empresas a planejar ações estratégicas de produtos que envolvam os consumidores e respondam às necessidades e expectativas deles. As organizações que conseguem criar produtos e marcas que façam os consumidores sentirem prazer em vivenciar determinado estivo de vida são extremamente eficientes na perspectiva mercadológica, pois vendem um produto com um apelo emocional muito maior do que o apelo funcional. Consequentemente possuem clientes muito mais engajados e participativos nas atividades da empresa. 4.5 Orçamento para introdução de novos produtos São muitos os desafios para a introdução de novos produtos no mercado, porém é importante frisar que empresas precisam criar ferramentas para se manterem sempre atuais. Afinal, com tantas mudanças e inovações tecnológicas, não é possível acreditar que um mesmo produto pode ser vendido sem nenhuma inovação por muito tempo. Porém, cuidado com o dinheiro investido, projetos de novos produtos bem estruturados são importantes ferramentas para evitar o fracasso das vendas e da empresa. Kotler (2000) explica alguns possíveis motivos de produtos novos fracassarem, como: • Diretores das empresas que lançam produtos que lhes agradam, mesmo que o resultado das pesquisas e do mercado sejam negativos. • A ideia é boa, mas o mercado é superestimado. • O produto não é bem projetado. 68 Unidade II • O produto não é bem posicionado, não tem preço competitivo e a comunicação é ineficaz. • Os custos de desenvolvimento são muito maiores que os planejados. • Escassez de ideias importantes em algumas áreas, podem restar poucas alternativas para melhorar produtos básicos. • Mercados fragmentados, com forte concorrência, muitas empresas fazendo a mesma atividade, por exemplo, barbearia, brigadeiro gourmet, paletas mexicanas. • Restrições governamentais. • Custos do processo e desenvolvimento, P&D. • Falta de capital para investimento. • Problemas em administrar o tempo de criação, há empresas que demoram demais e perdem a oportunidade de lançamento num mercado menos concorrido e com players reduzidos. Vimos aqui vários possíveis problemas que as empresas e os profissionais de marketing e gestão podem enfrentar na criação de novos produtos. Realmente não é fácil atuar nessa área, entretanto, muitas vezes, aprender com os erros pode ser uma ótima forma para ter sucesso no futuro. A definição do orçamento de produto ou do budget é bastante particular e representa o momento estratégico e o segmento no qual cada empresa atua. Empresas que são mais competitivas e buscam mercados de maior inovação tendem a ser mais agressivas na criação de novos produtos e na disponibilidade de orçamento para eles. Há aquelas que destinam um percentual dos valores de vendas para o orçamento de novos produtos, outras seguem os concorrentes e acabam replicando os investimentos para não ficarem para trás. O fato é que a organização estratégica para o desenvolvimento de novos produtos é essencial para o sucesso das operações. Observação A palavra budget é proveniente da língua inglesa e quer dizer orçamento. Na linguagem de negócios, é muito utilizada. Existem algumas etapas importantes como a seleção de ideias: momento de brainstorming, isto é, várias ideias para novos produtos; depois vem o teste do conceito, momento de análise para entender se o produto é vendável e se os consumidores estão aptos a comprá-lo; a partir daí, começará o desenvolvimento de produtos, criação, projetos e protótipos; após essa operação, ocorrerá o teste de mercado, período de pré-lançamento para avaliaçãoreal do comportamento de consumo; e, por último, o lançamento do produto no mercado, início do ciclo de vida do produto e momento de investimentos consideráveis em comunicação. 69 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS Observação A palavra brainstorming é um termo da língua inglesa que significa tempestade de ideias. A técnica de brainstorming propõe que um grupo de pessoas se reúna e utilize seus pensamentos e ideias para que possam, a fim de gerar ideias inovadoras, levar um determinado projeto adiante. De acordo com Kotler (2000), existem oito etapas no processo de desenvolvimento de novos produtos, conforme figura seguinte. 1. Geração de ideias: vale a pena considerar a ideia? 2. Seleção de ideias: a ideia do produto é compatível com os objetivos, as estratégias e os recursos da empresa? 3. Desenvolvimento e teste do conceito: podemos encontrar um bom conceito para o produto, de modo que os consumidores digam que vão experimentá-lo? 4. Desenvolvimento da estratégia de marketing: podemos encontrar uma estratégia de marketing razoável e barata? 5. Análise do negócio: esse produto atenderá às nossas metas de lucro? Abandonar 6. Desenvolvimento do produto: desenvolvemos um produto técnica e economicamente eficiente? 7. Teste de mercado: as vendas do produto atendem às expectativas? Deveríamos retomar a ideia para o desenvolvimento de produto? 8. Comercialização: as vendas do produto estão atendendo às expectativas? Seria útil modificar o programa de marketing? Traçar planos futuros Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Sim Figura 25 – O processo de decisão de desenvolvimento de novos produtos Adaptada de: Kotler (2000, p. 357). Na etapa geração de ideias, começa a busca de novas ideias. Deve ser definido o produto, o escopo do produto, para qual mercado e quais serão os objetivos. Algumas empresas contam com a ajuda dos funcionários na criação de novos produtos, outras acabam se espelhando nos concorrentes. Algumas podem buscar em outras fontes, como startups, universidades, parcerias com outras companhias etc. 70 Unidade II Saiba mais Uma startup é um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza. Ser escalável é a chave de uma startup: significa crescer cada vez mais, sem que isso influencie no modelo de negócios. Crescer em receita, mas com custos crescendo bem mais lentamente, o que fará com que a margem seja cada vez maior, acumulando lucros e gerando cada vez mais riqueza. SEBRAE. O que é uma startup? 13 jan. 2014. Disponível em: https://bityli.com/e1QVA. Acesso em: 26 nov. 2021. Na seleção de ideias, será o momento de separar, isto é, descartar ideias pouco atraentes, escolhendo as melhores. Nesse momento, avaliar a probabilidade de sucesso é importantíssimo, fatores como comercialização, sucesso econômico e conclusão técnica devem ser considerados. Kotler (2000) explica que o sucesso na comercialização de produtos é uma equação que depende da conclusão técnica, pelo sucesso econômico. Na etapa de desenvolvimento do conceito, ocorre momento de pensar o conceito do produto. Além das funcionalidades tangíveis, pensar nos elementos intangíveis, no aspecto emocional para pensar na relação com a marca e com o posicionamento. No teste de conceito, o produto é apresentado ao público-alvo de maneira adequada para monitorar as reações, trata-se do período das pesquisas de sondagens, grupos focais ou até mesmo ferramentas de business intelligence. A partir dessas etapas, é realizado o desenvolvimento de estratégias de marketing buscando ferramentas e maneiras de desenvolver o produto de forma eficiente. Nesse momento, existe a análise do negócio, avaliando-se as previsões de vendas, os custos de produtos e os lucros estimados. O produto entra em fase de teste para verificar se as vendas e o consumo estão conforme o esperado e inicia-se a comercialização geral. Saiba mais O business intelligence é ferramenta estratégica que através da coleta, tratamento e análise de todo e qualquer tipo de informação sobre o mercado e consumidor, auxilia na tomada de melhores decisões para os negócios: TOTVS. Business intelligence (BI): o que é, como funciona e importância. 18 fev. 2021. Disponível em: https://bityli.com/o0sO6mt. Acesso em: 26 nov. 2021. Existem dois momentos no processo que caso a etapa não seja condizente, antes de abandonar a ideia do produto, ele deve ser revisto. Na etapa de teste de mercado, que permite retornar a etapa 71 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS desenvolvimento do produto, e na etapa comercialização, seria útil modificar o produto ou o programa de marketing. Utilizar as oito etapas do processo de desenvolvimento de produtos deixa organizado quais as funções e ações que devem ser desempenhadas em cada etapa. Além disso, possibilita ajustar e corrigir o processo de criação de novos produtos ao longo das etapas. Caso a ideia não seja atraente ao mercado, ela pode ser abandonada antes de iniciada, o que reduz custos de investimentos, tempo e pessoas. Lembrete Entender a evolução histórica dos conceitos e modelos teóricos do marketing é muito importante ao profissional. Olhar o passado, entender o presente e se preparar para o futuro. Resumo Discutimos os novos produtos e, para isso, tivemos uma introdução básica ao conceito e à história do marketing. Tivemos a oportunidade de estudar mais profundamente o P de Produto do mix de marketing e os aspectos valorizados pelos clientes, consumidores e usuários através do comportamento de consumo. O ciclo de vida e os desafios e inovação no âmbito de novos produtos foram apresentados. O gerenciamento de portfólios e a segmentação de mercado foram discutidos e apresentados. Por fim, abordamos o orçamento para a introdução de novos produtos e como essa demanda deve ser organizada pelos profissionais de marketing nas organizações. Dessa forma, identificamos um caminho teórico importante para o desenvolvimento de novos produtos, que começou do entendimento histórico do marketing, passou por teorias de comportamento de consumo, segmentação de mercado, gerenciamento de portfólios e orçamentos. Toda essa reflexão de conceitos é importante, pois apresenta como a utilização de teorias é necessária para o entendimento do comportamento, segmento e lógicas de mercado. É fato que profissionais de marketing, gestão e de vendas precisam estar capacitados para entender as principais necessidades, desejos e expectativas dos consumidores. Para finalizar, falamos dos processos de criação de novos produtos para a eficácia dos orçamentos e verbas. 72 Unidade II Exercícios Questão 1. O mix (ou composto) de marketing articula estratégias empresariais de diversas ordens e é composto dos elementos seguintes conhecidos como 4 Ps, também indicados na figura a seguir. • Produto (product). • Preço (price). • Promoção (promotion). • Praça (place). Produto Preço Promoção Mix de marketing Praça Figura 26 – Variáveis (4 Ps) do mix de marketing Com base no exposto e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas: I – Os elementos do mix de marketing devem satisfazer às necessidades internas da empresa em detrimento das necessidades dos seus mercados-alvo, e, com isso, cooperar para que a organização alcance seus objetivos. II – A diferenciação, definida pela capacidade de uma empresa ser percebida pelo público como diferente das concorrentes por meio da segmentação de seu mercado, depende, entre outras variáveis, do seu posicionamento e do seu mix de marketing (produto, preço, promoção e ponto de venda/distribuição). III – Os quatro componentes do mix de marketing de uma organização devem operar de modo inter-relacionado, embora seja sabido que decisões relativas a uma área não devem influenciar em ações tomadas por outra. É correto o que se afirma apenas em: 73GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS A) I. B) II. C) III. D) I e II. E) II e III. Resposta correta: alternativa B. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: os quatro componentes do mix de marketing devem satisfazer às necessidades dos mercados-alvo da organização e cooperar para que a empresa alcance suas metas. II – Afirmativa correta. Justificativa: no contexto do marketing, a diferenciação está associada à habilidade de uma organização ser vista pelo público como diferente das concorrentes. Tal característica resulta, entre outros fatores, do posicionamento da empresa no mercado e do seu mix de marketing (produto, preço, promoção e ponto de venda/distribuição). III – Afirmativa incorreta. Justificativa: os quatro elementos do composto de marketing devem “trabalhar” de maneira inter-relacionada, sendo que decisões relativas a uma área da empresa afetam ações tomadas por outra. Questão 2. Na figura a seguir, temos uma curva que mostra as fases do ciclo de vida do produto (CVP). Fase 1 Introdução Fase 2 Crescimento Fase 3 Maturidade Fase 4 Declínio Tempo Ve nd as Figura 27 – Fases do ciclo de vida do produto (CVP) Disponível em: https://bityli.com/fSBVNMo. Acesso em: 12 mar. 2021. 74 Unidade II Com base na curva e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas. I – Na fase 1, de introdução do produto, temos baixo crescimento das vendas e altas margens de lucro. II – Na fase 2, de crescimento do produto, as características observadas são difusão de experiências, aceitação do mercado e aumento dos lucros. III – Na fase 3, de maturidade do produto, ocorre a redução do crescimento de vendas, e a empresa procura protegê-lo da concorrência. IV – Na fase 4, de declínio do produto, as vendas e os lucros diminuem, pois o produto começa a deixar o mercado em função da sua substituição por outros. É correto o que se afirma em: A) I, II e III, apenas. B) II e IV, apenas. C) II, III e IV, apenas. D) I, II, III e IV. E) II e III, apenas. Resposta correta: alternativa C. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: na fase 1, de introdução do produto, temos elevado crescimento das vendas e, em geral, não temos altas margens de lucro. II – Afirmativa correta. Justificativa: na fase 2, de crescimento do produto, temos elevado crescimento de vendas, aumento das margens de lucro em relação às margens de lucro da fase 1, difusão de experiências e aceitação do produto pelo mercado. III – Afirmativa correta. Justificativa: na fase 3, de maturidade do produto, temos diminuição do crescimento das vendas e a empresa tenta blindá-lo da concorrência. 75 GESTÃO DE PRODUTOS E SERVIÇOS IV – Afirmativa correta. Justificativa: na fase 4, de declínio do produto, as vendas e os lucros sofrem redução, e o produto é substituído por outro de empresa concorrente.
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