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¹Maluci Solange Vieira, pesquisadora ², professor(a) orientador(a) O adulto como mediador no brincar: a interação criança-cuidador. Maluci Solange Vieira¹ Orientador(a)² RESUMO O presente trabalho se propôs a estudar quais são as possibilidades de atuação do adulto como mediador no brincar, a partir de pesquisas encontradas na literatura entre os anos de 2017 e 2021 nas base de dados Portal de Periódicos da CAPES, LILACS e Scielo, através da análise qualitativa e da leitura exploratória dos artigos publicados sobre a temática. Quanto aos resultados, levantou-se informações sobre como ocorre a mediação do adulto no brincar e sobre quais são as contribuições do adulto para essa atividade. Observou-se, através deste estudo, que a mediação do adulto no brincar começa antes mesmo da brincadeira, envolve o aprendizado teórico sobre o desenvolvimento integral infantil e o conhecimento sobre os impactos do brincar na infância. Assim, além de ser um momento de recreação, o brincar apresenta-se como uma atividade que contribui para a aquisição e para o desenvolvimento de diferentes áreas do desenvolvimento infantil, como por exemplo: aspectos afetivos, linguísticos, sociais, motores e cognitivos. PALAVRAS-CHAVE: Brincar, interação, criança. 1. INTRODUÇÃO O brincar está diretamente entrelaçado ao desenvolvimento humano. As brincadeiras, compreendidas como um ato da infância, surgem e se modificam conforme o contexto no qual são manifestadas. Entendem-se desse modo, que o papel do adulto sofre modificações ao longo do tempo de acordo com os diferentes olhares sobre o que é ser criança e, consequentemente, sobre o que é necessário para o desenvolvimento infantil adequado (SILVA, 2018). No início da Idade Média, a percepção do ser humano estava limitada ao reconhecimento do homem como alguém com deveres e papéis a assumir que independiam da idade. Crianças e adultos eram compreendidos da mesma forma, as suas necessidades, potencialidades e fraquezas não eram identificadas conforme a fase do desenvolvimento que se encontravam. Segundo Tunes e Tunes (2001), a perspectiva da criança como um “adulto menor” é mantida por diversos anos, o que reforça que as 2 atividades sejam compartilhadas e executadas por crianças e adultos sem nenhuma forma de adaptação. Nesse sentido, era possível observar crianças com ferramentas de trabalho e afazeres que hoje são designados apenas aos adultos. Da mesma forma, os adultos colecionavam bonecas e se divertiam com jogos e esportes, que hoje, podem ser apontados culturalmente como comportamentos infantis. O brincar, atualmente assegurado como um direito da criança, foi modificado ao longo dos anos de acordo com o olhar sobre a infância (TUNES; TUNES, 2001). A partir do momento que a criança passa a ser percebida como um ser com diferentes caraterísticas por ser estar em uma fase do desenvolvimento diferente de um adulto, o olhar sobre ela muda, e surgem estratégias para lidar com as necessidades recém-descobertas. A criança busca na brincadeira um modo de interagir com o mundo e entendê-lo da sua forma. É no brincar que a criança amplia o seu repertório de conhecimento sobre a vida e fortalece a sua identidade (BRASIL, 2012). Na brincadeira a criança vive e imagina, ela reproduz aquilo que vê e conhece, e brinca de faz de conta, atendendo aos seus próprios desejos. O brincar pode suprir diferentes necessidades e o imediatismo de desejar sem ainda entender os limites. A participação do adulto como mediador desse processo agrega novas possibilidades de comportamento. A interação da criança com o mundo não depende exclusivamente da presença e da ação do adulto, mas se expande com ela (TUNES; TUNES, 2001). O interesse da criança é fortalecido pelo interesse do adulto. Segundo Tunes e Tunes (2001), a criança deseja estar próximo ao adulto, e assim, busca o contato com o que desperta o interesse e a atenção do seu cuidador. Assim, cercar a criança de brinquedos e esperar que ela brinque, não é o suficiente. O adulto precisa se conectar com a criança a partir do brincar, é necessário que haja interesse da parte do cuidador para que a criança também se sinta atraída pela atividade. 3 O vínculo formado entre o cuidador e a criança não deve estar restrito ao ambiente familiar, a escola pode promover uma extensão da cultura da família no ambiente escolar. Assim, os costumes da família poderão ser reforçados, fortalecendo as relações e o desenvolvimento social da criança. Desse modo, o brincar se caracteriza como um momento de troca e descobertas, no qual a criança aprende sobre si e sobre o mundo a partir do outro (SILVA, 2018). Além de demonstrar atenção, é necessário que o adulto entenda o desenvolvimento infantil e perceba que cada etapa do desenvolvimento demanda diferentes formas de brincar. Cada nova fase, apresenta-se como um desafio que precisa ser conquistado para servir de base para o próximo. A criança não consegue avançar por todas as etapas sozinha, ela precisa da mediação e do apoio do adulto (BRASIL, 2012). No que consiste a relevância desta pesquisa, salienta-se que o brincar, além de importante para o desenvolvimento infantil, oferece benefícios também ao adulto. O brincar é uma oportunidade de transmissão cultural intergeracional e um momento de trocas. Assim, entender o brincar e, a partir disso, analisar o papel do adulto como mediador, mostra-se uma tarefa importante para assegurar um direito da criança e aperfeiçoar o repertório lúdico do adulto. O interesse por esse fenômeno se deu pela observação cotidiana da convivência entre diversas gerações no mesmo ambiente. Apesar da presença física, a conexão e o envolvimento entre as gerações através do brincar nem sempre ocorre, por isso, é importante que o adulto exerça a função de mediador do brincar, essa é uma das responsabilidades do cuidador e do educador. Portanto, a discussão sobre o papel do adulto no brincar mostra-se necessária para refletir e aperfeiçoar a forma atual de brincar. 2. METODOLOGIA A pesquisa teve natureza bibliográfica, de caráter qualitativo, que segundo Lozada e Nunes (2018), permite uma abordagem mais ampla de fenômenos do que os 4 observados diretamente, onde se faz uso de fontes já publicadas como livros, artigos científicos e revistas científicas que sejam relevantes à temática, enquanto o caráter qualitativo visa explicitar os resultados através do levantamento de dados, das interpretações e das descrições analisadas (FONTELLES et al., 2010). Estes dados foram analisados através de uma leitura exploratória, seletiva e interpretativa, Estrela (2018) salienta que esse tipo de leitura tem como objetivo analisar o conteúdo e separar os artigos mais relevantes e congruentes com os objetivos da pesquisa proposta, de forma a permitir uma interpretação dos saberes contidos nos artigos encontrados para posteriormente efetuar a seleção dos considerados relevantes para a pesquisa conforme a compatibilidade com a temática. Portanto, para a análise dos dados, foram considerados os artigos encontrados nas bases de dados Portal de Periódicos da CAPES, LILACS e Scielo, com um número final de dez artigos selecionados, representados na tabela abaixo, respeitando como critério de inclusão a presença dos descritores expostos na tabela abaixo, a data de publicação estar entre 2017 e 2021, e a relevância do assunto para temática da pesquisa. Sendo selecionados os materiais que contemplam os objetivos propostos nesse estudo para que seja possível identificar como ocorre a mediação do adulto no brincar e descrever quais são as contribuições do adulto para o brincar. Scielo CAPES Lilacs Total Brincar + Interação 1 1 2 4 Interação + Mediador 1 1 0 2 Mediador + Brincar 1 2 1 4 Total 3 4 3 10 3. DISCUSSÃO E RESULTADOS Para apresentare discutir o resultado dessa pesquisa, foram resgatados os objetivos propostos para a realização da análise dos dados, para tanto, os resultados 5 foram sistematizados em duas categorias, a saber: 1) Como ocorre a mediação do adulto no brincar, e 2) Quais são as contribuições do adulto para o brincar. 3.1. Como ocorre a mediação do adulto no brincar. As crianças devem ser compreendidas como seres que pensam e percebem o mundo de um modo próprio, e o brincar é uma forma encontrada por elas para expressar essa busca por respostas e interpretar entendimentos e desejos durante a brincadeira de faz de conta. O brincar é uma ferramenta lúdica utilizada pela criança para se comunicar e socializar. Brincando, a criança desenvolve diversas habilidades importantes, como a atenção, memória, imaginação, atenção, imitação e a criatividade (CHAVES; LADEIRA, 2019). A brincadeira é uma peça fundamental para o desenvolvimento integral da criança. Segundo Souza, Figueiredo e Silva (2017), a alta qualidade do brincar depende de diferentes fatores, sendo a participação do adulto um ponto importante. Entretanto, apenas a presença não é o suficiente, o cuidador ter o discernimento de quando deve integrar a brincadeira, coordenar ou apenas observar. E nesse caso, o brincar apresenta- se com uma forma de romper barreiras sociais, pois ela pode ocorrer independentemente do número de brinquedos disponibilizados ou dos seus respectivos preços. A ação de estar interessado pela criança e pela brincadeira é essencial para estimular o desenvolvimento infantil. O interesse requer atenção e envolvimento com o que está sendo proposto. Ainda que, a sugestão de brincar tenha como objetivo promover a construção da autonomia da criança, essa brincadeira deve ter a participação do adulto, que deverá compreender o seu papel, como por exemplo, o de apoiar a exploração com segurança e favorecer o desenvolvimento do sujeito social (SOUZA; FIGUEIREDO; SILVA, 2017). A mediação é facilmente observada entre os pares, durante as brincadeiras é comum notar uma criança orientando a outra criança sobre como realizar uma tarefa. No 6 entanto, alguns adultos podem encontrar barreiras intergeracionais no brincar, o que pode prejudicar o seu desempenho como mediador, como na função citada por Chaves e Ladeira (2019), de auxiliar na interpretação dos estímulos e na atribuição de significado à informação. Se o adulto desconhece uma música de um desenho infantil por não acompanhar essa programação, ele encontrará dificuldade em compreender o sentido que a criança dá à música e talvez não consiga se envolver durante a brincadeira. Além disso, outra função do adulto como mediador é a de buscar a garantia dos direitos e o alcance das necessidades da criança. Assim, a subjetividade de cada criança deve ser valorizada e respeitada. É possível observar uma criança com comportamentos de timidez, enquanto outra criança pode ser mais agitada, e por isso, o adulto deve observar as diferenças e entender quem é a criança que está na sua frente e como ele pode ajudá-la. O mediador atua como ponte entre a criança e o seu potencial, ele serve de apoio para consolidar conhecimentos já adquiridos e oportunizar novas experiências (DELIBERATO; ADURENS; ROCHA, 2021). O brincar aparece de forma estruturada nas escolas, um ambiente no qual os profissionais precisam estar capacitados para criar espaços de brincadeira com brinquedos, materiais, regras e informações planejadas para promover o desenvolvimento da criança. A brincadeira pode ser divertida ao mesmo tempo que cumpre outras funções, como imitar a vida, ser um ambiente favorável para a socialização e para a criatividade. Do mesmo modo que a brincadeira tem a sua função, o mediador tem um papel a cumprir, e por isso a preparação profissional para o brincar mostra-se necessária (PEREIRA; GABRIEL; JUSTICE, 2019) Em crianças com autismo é possível observar a brincadeira de forma não funcional, nesse caso, a criança pode passar diversos minutos envolvida na repetição de um único movimento durante o brincar, por exemplo. O adulto pode intervir para dar função para aquela atividade e apresentar variações para a brincadeira. O mesmo ocorre em relação ao faz de conta, uma brincadeira que exige as habilidades de imaginação e do simbolismo, que são algumas das áreas que as crianças com autismo 7 apresentam dificuldades para desenvolver da mesma forma que as demais crianças típicas (CHICON et al., 2018). Nesse sentido, a interação cuidador-criança precisa ser sensível ao perceber quais são as dificuldades e as potencialidades da criança que ele está brincando. Toda criança, típica ou atípica, apresenta características que a diferenciam umas das outras. O adulto deve analisar qual a melhor forma de acessar a criança através do lúdico, a partir do modo como aquela criança se comunica e entende o mundo a sua volta. A interação depende do ambiente e do manejo baseado na leitura que o adulto faz da criança (CHICON et al., 2019). Ainda em relação a criança com autismo, a mediação do adulto pode ocorrer para facilitar a comunicação e direcionar a brincadeira para um momento de aprendizado. Os pesquisadores Deliberato, Adurens e Rocha (2021), afirmam que o uso de sistemas suplementares e alternativos de comunicação, de acordo com as necessidades de cada criança, pode facilitar a participação da criança na construção de brincadeiras. A modelação, o questionamento e a entonação de voz são outras ferramentas citadas no estudo dos autores supracitados, que podem ser utilizadas pelo adulto em atividades como a narração de histórias. No entanto, um dos desafios que o adulto pode encontrar é o da preferência pelo brincar sozinha. Esse desejo é comumente observado em crianças com autismo, mas também pode ser notado em crianças típicas. Os processos relacionais não podem ser ignorados, a criança precisa aprender a conviver com os pares, e nesse sentido, o adulto pode atuar como mediador na brincadeira. A superação da dificuldade na interação social é um dos temas que pode ser explorado na intervenção pelo adulto para que a criança aprenda a compartilhar interesses e a atenção durante a brincadeira (CHICON et al., 2019). O adulto busca com a mediação criar estratégias para que a criança consiga se desenvolver e ampliar o seu repertório. Os autores Chicon et al. (2018), apontam que a 8 diversidade e a exploração de diferentes modos de interação no brincar, promovem novas possibilidade para a criança sentir, pensar e agir no meio social no qual se encontra. Assim, o adulto pode atuar para promover habilidades que a criança apresenta déficits, como no caso de crianças com autismo em relação ao jogo simbólico. A mediação deve ocorrer respeitando as diferenças e fazendo uso desse conhecimento para explorar o potencial de aprendizado que a criança pode vir a apresentar. Sendo assim, o adulto que estimula o desenvolvimento infantil através do brincar, também está investindo seu tempo e cuidado de outras áreas, como a saúde e a educação, considerando que a criança é um ser completo e os benefícios da brincadeira de qualidade impactam no seu desenvolvimento de forma global. Desse modo, conhecer os marcos do desenvolvimento infantil e estar interessado pela criança e pelo brincar são papéis fundamentais do cuidador. 3.2. Quais são as contribuições do adulto para o brincar. A interação entre adulto-criança ocorre desde cedo, em torno dos oito a dez meses a criança já apresenta comportamentos de corresponder às expectativas do adulto durante as trocas de gestos de carinho entre mãe e bebê, por exemplo. As mediações realizadas pela mãe, como oferecer objetos para a criança, apontar para algo ou alguém, sorrir e bater palmas para o bebê, manusear objetos que podem despertar o interesse dacriança, são ações que promovem o desenvolvimento de habilidades sociocognitivas e linguísticas desde a primeira infância (COSTA; AQUINO, 2019). Assim como a linguagem, as emoções são ensinadas desde o início da vida, pois toda interação social implica em uma oportunidade de aprender e ensinar sobre as emoções. Assim, a mediação do adulto durante o brincar contribui para que a criança aprenda competências socioemocionais como a empatia, a regulação emocional, a obtenção de referências de como se comportar socialmente e como antecipar emoções (RIQUELME; MUNITA, 2018). 9 A brincadeira de qualidade oferece a oportunidade do desenvolvimento de habilidades que auxiliam a convivência com os pares e a vida em sociedade, além do amadurecimento das habilidades sociais, como a empatia e a regulação das emoções, a criança que brinca, cria comunidades ao conhecer novas pessoas e estar aberta a trocas. Diferente do que a vida adulta promove, uma rotina que tem como objetivo viver e se esforçar por uma recompensa que você consegue a médio e longo prazo, a brincadeira é realizada pelo prazer imediato e cobra que os participantes estejam envolvidos com o momento presente (CHICON et al., 2018). Ao brincar, a criança explora, pergunta, reflete, aprende e promove a cultura através dos signos. A brincadeira apresenta-se como um veículo para o desenvolvimento emocional, social e cognitivo, no qual a criança ensaia comportamentos e hábitos que observa, internaliza e projeta-os através das atividades lúdicas. Apesar de ainda não estar preparada para o mundo adulto, o brincar serve como um palco para o ensaio dessa fase (PANA; RODRIGUES, 2020). Nesse sentido, entende-se que, durante o momento do brincar a criança age para além do seu comportamento habitual. A brincadeira é um momento no qual a criança tem a possibilidade de se desenvolver e ir além do dos conhecimentos e habilidades que ela já possui. A mediação na brincadeira pode impulsionar a criança a aprender novos conhecimentos e desenvolver as suas habilidades (CHICON et al., 2018). Ao mediar o brincar, o adulto precisa conhecer as preferências da criança para que ela possa se interessar pela atividade. Além disso, o mediador deve considerar organizar o ambiente, os objetos e os horários para melhor favorecer um contexto que seja estimulante e possibilite a brincadeira e deve estar atento a cultura que a criança está inserida para conseguir se envolver no brincar (CHICON et al., 2018). Portanto, observa-se que o adulto tem um papel fundamental no brincar. O adulto realiza a mediação através da preparação do ambiente para a realização da brincadeira e se envolve com a criança e o brincar. Um dos trabalhos do mediador é o de possibilitar 10 novas interações entre a criança e o mundo. Ao conseguir realizar essa tarefa, o mediador contribuirá para que a criança construa uma imagem positiva de si, observando as suas potencialidades e capacidades (COSTA; AQUINO, 2019). Apesar do conhecimento sobre a importância do brincar, muitos adultos que trabalham com Educação Infantil ainda encontram dificuldade para participar e mediar as brincadeiras. A prática e a teoria não estão sempre alinhadas. No entanto, quando o profissional consegue aplicar na prática o que aprendeu na teoria, a Educação Infantil se apresenta como um espaço rico para o desenvolvimento infantil, no qual a criança recebe estímulos para interagir com o ambiente e explorar o seu potencial (PANA; RODRIGUES, 2020). O educador infantil trabalha a partir de responsabilidades previstas e organizadas em leis e documentos pensados para promover o desenvolvimento e bem-estar infantil. A prática educativa de qualidade proporciona o cuidar-educar através do brincar. Nesse contexto da escola, pode-se observar e diferenciar com clareza o brincar livre e espontâneo do brincar que tem objetivos didáticos pré-estabelecidos. Assim, conforme o manejo do profissional e preparação do ambiente, há diferentes possibilidades de aprendizados que podem surgir do brincar (FONSECA, 2018). É fundamental que o adulto cumpra o seu papel de mediador respeitando a autonomia da criança. No caso de crianças que tem algum tipo de deficiência física, os pesquisadores Souza, Figueiredo e Silva (2017), abordam a importância de não realizar a brincadeira pela criança. A sugestão é que o adulto crie para essa criança oportunidades de participação nas brincadeiras das quais ela poderia se sentir excluída devido as limitações existentes no contexto de algumas atividades, pois esse contato favorece a autonomia, o desenvolvimento e o crescimento saudável da criança. Portanto, entende-se que as contribuições do adulto são consequências da forma como o adulto interage e incentiva a participação da criança nas atividades propostas. A leitura compartilhada é um exemplo de como uma atividade pode ter resultados positivos 11 sem a mediação, mas pode ser ainda mais benéfica para o desenvolvimento com a participação do adulto. A leitura pode favorecer o desenvolvimento linguístico-cognitivo, inclusive na aquisição da linguagem escrita. Nesse sentido, o envolvimento do adulto e a interação por meio de perguntas durante a realização da leitura, contribuem para esses ganhos (PEREIRA; GABRIEL; JUSTICE, 2019). A brincadeira é uma atividade dinâmica que é modificada frente a diferentes fatores, entre eles, o mediador. O adulto que executa essa função deve estar atento as responsabilidades atribuídas ao mediador e compreender que para contribuir para o desenvolvimento infantil não basta apenas estar presente e garantir a segurança da criança durante a brincadeira. Há diferentes comportamentos que o adulto pode ter que contribuem para o brincar e é preciso aprender mais sobre eles (RIQUELME; MUNITA, 2018). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A mediação do adulto no brincar começa antes mesmo da brincadeira. O adulto que obtém aprendizado teórico sobre o desenvolvimento infantil e sobre os impactos do brincar na infância, pode organizar o ambiente e as atividades de forma planejada para receber e engajar a criança. Desse modo, o adulto consegue elencar os objetivos para as brincadeiras de acordo com o perfil da criança que está sendo acompanhada naquele momento, respeitando as suas dificuldades e as suas potencialidades. Quanto as contribuições que surgem a partir dessa mediação, podem ser citados aspectos afetivos, linguísticos, sociais, motores, cognitivos, entre outros, ou seja, a partir do brincar podem ser contempladas as mais diversas áreas do desenvolvimento infantil. O olhar de forma integral para a criança permite que o adulto brinque e ensine ao mesmo tempo, um esforço para educar e cuidar, enquanto se diverte com a criança. Pode-se observar, que os objetivos da pesquisa foram alcançados, pois, através da análise realizada, é possível compreender como ocorre a mediação do adulto no 12 brincar e quais são as contribuições do adulto nesse contexto. Assim, entende-se que o adulto preparado para o brincar, que conhece o momento de entrar na brincadeira, mas também reconhece quando não deve interferir diretamente, saberá realizar uma mediação que tem impacto no desenvolvimento integral infantil. 5. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brinquedos e brincadeiras de creches: manual de orientação pedagógica. Brasília: MEC/SEB, 158 p.: il., 2012. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao_brinquedo_e_brincadeiras_completa. pdf. Acesso em: 02 fev. 2022. CHAVES, Fabiane Araujo; LADEIRA, Thacio Azevedo. A Importância do Mediador Escolar para Potencializar o processo de Brincar da Criança com Deficiência visual. COLBEDUCA – Colóquio luso-brasileiro de educação, 5., 2019, Anais [...]. Joinville: Colbeduca, 2019. v. 4, p. 1-13. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/colbeduca/issue/view/769.Acesso em: 05 fev. 2022. CHICON, José Francisco et al. 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