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Analgesia - resumo

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Todos já sentiram dor em resposta a um estímulo 
intenso ou nocivo. Essa dor fisiológica ajuda a evitar uma 
potencial lesão, atuando como alerta inicial e sinal protetor. 
Entretanto, a dor também pode ser incapacitante, como a que 
ocorre após traumatismo, durante a recuperação de uma 
cirurgia ou em associação a condições clínicas caracterizadas 
por inflamação, como a artrite reumatoide. Em circunstâncias 
nas quais há lesão tecidual e inflamação, os estímulos nocivos 
provocam dor mais intensa que a normal, em decorrência de 
um aumento na excitabilidade do sistema somatossensorial, de 
modo que estímulos que normalmente não causariam dor 
tornam-se dolorosos. Nessas condições, alterações 
patológicas e, algumas vezes, irreversíveis na estrutura e 
na função do sistema nervoso produzem dor intensa e 
intratável. Para esses pacientes, a dor constitui mais uma 
patologia que um mecanismo de defesa fisiológico. Por 
fim, há pacientes que sentem dor considerável na ausência 
de estímulos nocivos ou de inflamação ou lesão do 
sistema nervoso. 
Essas categorias de dor – fisiológica, inflamatória, 
neuropática e disfuncional – são produzidas por vários 
mecanismos diferentes. A conduta ideal é a de que o 
tratamento seja direcionado para os mecanismos específicos 
envolvidos, mais que para a supressão do sintoma da dor. Na 
atualidade, dispõe-se de diversos agentes farmacológicos para 
o alívio da dor. Esses fármacos apresentam mecanismos de 
ação que interferem em resposta dos neurônios sensoriais 
primários a estímulos sensoriais somáticos ou viscerais, 
transmissão da informação ao cérebro e resposta perceptual a 
um estímulo doloroso. 
Fisiologia 
Dor é a consequência perceptual final do 
processamento neural de determinada informação sensorial. 
Em geral, o estímulo inicial surge na periferia e é transferido, 
sob vários controles, por intermédio de conectores sensoriais 
no sistema nervoso central (SNC) até o córtex. 
 
Em primeiro lugar, a transdução de estímulos nocivos 
externos e intensos despolariza as terminações periféricas dos 
neurônios sensoriais primários de “alto limiar”. Esses 
neurônios, denominados nociceptores dada sua 
capacidade de responder a estímulos nocivos, são de alto 
limiar, por necessitarem de um forte estímulo, que 
potencialmente lesa o tecido, para despolarizar suas 
terminações nervosas. Os potenciais de ação resultantes são 
conduzidos até o SNC pelos axônios dos neurônios 
sensoriais aferentes primários, que percorrem inicialmente 
os nervos periféricos e, em seguida, as raízes dorsais, que 
fazem sinapse em neurônios no corno dorsal da medula 
espinal. Os neurônios de projeção secundários transmitem 
a informação ao tronco encefálico e ao tálamo, que, a seguir, 
transmitem sinais a córtex, hipotálamo e sistema límbico. A 
transmissão é modulada em todos os níveis do sistema 
nervoso por interneurônios inibitórios e excitatórios de circuito 
local. 
Transdução sensorial: excitação dos neurônios 
aferentes primários 
As terminações nervosas periféricas das fibras 
nociceptoras sensoriais somáticas e viscerais aferentes 
primárias respondem a estímulos térmicos, mecânicos e 
químicos. 
OBS: Alguns agentes químicos excitam diretamente as 
terminações nervosas periféricas (ativadores químicos), 
enquanto outros aumentam a sensibilidade das terminações 
periféricas (agentes sensibilizadores). 
 
Condução da periferia para a medula espinal 
Os axônios dos neurônios aferentes primários 
conduzem a informação das terminações periféricas para o 
SNC. Esses neurônios podem ser classificados em três grupos 
principais de acordo com a sua velocidade de condução e 
calibre. Esses grupos também apresentam diferentes 
sensibilidades a estímulos e padrões distintos de terminações 
centrais. O primeiro grupo (Aβ) consiste em fibras de condução 
rápida, que respondem com baixo limiar de estímulo a 
estímulos mecânicos e são ativadas por toque leve, vibração 
ou movimento de pelos. A segunda população (Aδ) inclui fibras 
que conduzem com velocidade intermediária e respondem a 
estímulos de frio, calor e mecânicos de alta intensidade. As 
fibras do terceiro grupo (fibras C) conduzem lentamente, fazem 
sinapse na medula espinal e, em geral, respondem de modo 
multimodal; são capazes de produzir potenciais de ação em 
resposta a calor, temperatura morna, estímulos mecânicos 
intensos ou irritantes químicos (nociceptores polimodais). 
Algumas fibras C aferentes (denominadas fibras silenciosas ou 
dormentes) não podem ser ativadas normalmente, porém se 
tornam responsivas durante a inflamação. 
OBS: Para que ocorra condução, os canais iônicos de 
sódio regulados por voltagem devem converter a 
despolarização da terminação periférica em potencial de ação. 
O bloqueio seletivo desses canais de sódio específicos de 
neurônios sensoriais pode inibir a dor induzida na periferia, 
sem bloquear a sensibilidade tátil ou a função motora somática 
ou autônoma, nem atuar sobre os canais de sódio do SNC ou 
cardiovasculares. Na atualidade, o uso de agentes 
bloqueadores de canais de sódio não seletivos, como os 
anestésicos locais e fármacos antiepilépticos, é limitado pelos 
efeitos adversos associados ao bloqueio dos canais de sódio 
regulados por voltagem no coração e no SNC. 
Transmissão no corno dorsal da medula espinal 
Os potenciais de ação gerados nos aferentes primários 
induzem a liberação de neurotransmissores ao alcançar suas 
terminações axônicas centrais no corno dorsal da medula 
espinal. Os canais de cálcio regulados por voltagem do tipo N 
desempenham um papel significativo no controle dessa 
liberação de neurotransmissores a partir das vesículas 
sinápticas. 
A transmissão sináptica no corno dorsal, entre os 
aferentes primários das fibras C e os neurônios de projeção 
secundários, apresenta componentes rápidos e lentos. O 
glutamato, atuando nos receptores ionotrópicos AMPA e 
NMDA, medeia a transmissão excitatória rápida entre os 
neurônios sensoriais primários e secundários. Por meio de sua 
ação sobre os receptores mGluR metabotrópicos, o glutamato 
também medeia uma resposta moduladora sináptica lenta. 
 
A presença desses peptídeos coliberados proporciona 
considerável plasticidade funcional da transmissão da dor 
dependente do uso. A função fisiológica dos neuropeptídios na 
transmissão sináptica envolve respostas de sinalização a 
estímulos de intensidade particularmente alta, uma vez que a 
liberação das vesículas sinápticas contendo neuropeptídios 
requer uma frequência mais alta e sequências de potenciais de 
ação de duração mais longa que a liberação das vesículas 
contendo glutamato. 
Regulação inibitória local e descendente na medula 
espinal 
A transmissão sináptica na medula espinal é regulada 
pelas ações de interneurônios inibitórios locais e projeções que 
descem do tronco encefálico para o corno dorsal. Como esses 
sistemas podem limitar a transferência da informação sensorial 
para o cérebro, eles representam um importante local de 
intervenção farmacológica. Os principais neurotransmissores 
inibitórios no corno dorsal da medula espinal são os peptídios 
opioides, a norepinefrina, a serotonina (5-HT), a glicina e o 
GABA. 
Os peptídios opioides inibem a transmissão sináptica e 
são liberados em vários locais do SNC em resposta a estímulos 
nocivos. Os opioides são liberados proteoliticamente das 
proteínas precursoras maiores, a propiomelanocortina, a 
proencefalina e a prodinorfina. Tradicionalmente, os receptores 
opioides são divididos em três classes, designadas como µ, δ 
e κ, que apresentam receptores acoplados à proteína G que 
atravessa sete vezes a membrana. Os receptores opioides µ 
medeiam a analgesia induzida pela morfina. Os peptídios 
opioides endógenos são seletivos para seus receptores: as 
dinorfinas atuam principalmente sobre os receptores κ, 
enquanto tanto as encefalinas quanto a β-endorfinaatuam 
sobre os receptores µ e δ. 
Os efeitos da sinalização dos receptores opioides 
consistem em redução da condutância do cálcio pré-
sináptica, aumento da condutância pós-sináptica de 
potássio e redução da atividade da adenilil ciclase. A 
primeira função impede a liberação pré-sináptica de 
neurotransmissores; a segunda reduz as respostas 
neuronais pós-sinápticas a neurotransmissores 
excitatórios; e o papel fisiológico da última permanece 
desconhecido. 
Os opioides produzem analgesia em decorrência de sua 
ação em cérebro, tronco encefálico, medula espinal e 
terminações periféricas dos neurônios aferentes primários. No 
cérebro, os opioides alteram o humor, produzem sedação e 
diminuem a reação emocional à dor. No tronco encefálico, os 
opioides aumentam a atividade das células que fornecem 
inervação inibitória descendente à medula espinal; neste local, 
os opioides também provocam náuseas e depressão 
respiratória. Os opioides espinais inibem a liberação das 
vesículas sinápticas dos aferentes primários e hiperpolarizam 
os neurônios pós-sinápticos (ver anteriormente). Há também 
evidências de que a estimulação dos receptores opioides 
periféricos diminui a ativação dos aferentes primários e modula 
a atividade das células imunes. Acredita-se que a ação dos 
opioides nesses locais de distribuição seriada tenha um efeito 
sinérgico, inibindo o fluxo de informações da periferia para o 
cérebro. 
A norepinefrina é liberada por projeções que descem do 
tronco encefálico para a medula espinal. O receptor α2-
adrenérgico, acoplado à proteína G que atravessa sete vezes 
a membrana (ver Capítulo 10), constitui o principal receptor de 
norepinefrina na medula espinal. À semelhança da ativação 
dos receptores opioides, a ativação dos receptores α2-
adrenérgicos inibe os canais de cálcio pré-sinápticos 
regulados por voltagem, abre os canais de potássio pós-
sinápticos e coíbe a adenilil ciclase. Dada a expressão pré 
e pós-sináptica dos receptores α2-adrenérgicos, a liberação 
de norepinefrina espinal pode reduzir a liberação das 
vesículas pré-sinápticas e diminuir a excitação pós-
sináptica. Algumas vezes, a clonidina, um agonista do 
receptor α2-adrenérgico, é utilizada no tratamento da dor, 
embora essa aplicação seja limitada por seus efeitos adversos, 
que incluem sedação e hipotensão postural. A serotonina 
também é liberada na medula espinal por projeções que 
descem do tronco encefálico. Esse neurotransmissor atua 
sobre vários subtipos de receptores, que medeiam efeitos 
excitatórios e inibitórios sobre a nocicepção. O canal 
regulado pelo ligante 5-HT3 pode ser responsável pelas ações 
excitatórias da serotonina na medula espinal; vários dos 
receptores de 5-HT acoplados à proteína G podem mediar as 
ações inibitórias da 5-HT. Tendo em vista essa complexidade, 
o mecanismo do efeito analgésico da serotonina não está 
totalmente elucidado 
 
Fisiopatologia 
O circuito de processamento da dor descrito 
anteriormente é responsável pela produção de dor nociceptiva 
aguda, uma sensação fisiológica adaptativa, produzida apenas 
por estímulos nocivos que atuam como sinal de alerta ou 
protetor. Existem algumas situações clínicas, como 
traumatismo agudo, trabalho de parto ou cirurgia, em que é 
necessário controlar a dor nociceptiva. Nessas circunstâncias, 
a via da dor pode ser interrompida pelo bloqueio da 
transmissão com anestésicos locais ou pela administração de 
opioides em altas doses. Os opioides podem ser de ação 
rápida, como a remifentanila para uso intraoperatório, ou de 
ação mais lenta, como a morfina; quando administrada no 
perioperatório, a morfina mantém a sua atividade para o 
controle da dor no pós-operatório. 
A inflamação periférica e a lesão do sistema nervoso 
produzem dor, que se caracteriza por hipersensibilidade a 
estímulos nocivos e inócuos e por dor espontânea, que surge 
na ausência de qualquer estímulo óbvio. 
Dor clínica 
O tratamento ideal da dor deve basear-se na 
identificação e atuação específica sobre os mecanismos 
precisos da dor que operam em determinado paciente, bem 
como na normalização da sensibilidade anormal à dor. Pode 
ser complicado lidar com condições de dor crônica, e o 
tratamento efetivo exige habitualmente o uso de múltiplos 
fármacos (polifarmácia) para obter o efeito terapêutico ideal e 
reduzir os efeitos adversos. As condições de dor crônica 
inflamatória exigem o emprego de fármacos que reduzem 
a resposta inflamatória; esses agentes podem corrigir o 
distúrbio inflamatório subjacente (tratamento modificador 
da doença) e também reduzir a dor. Os agentes anti-
inflamatórios não esteroides (AINE), por exemplo, 
constituem o tratamento de primeira linha para a artrite 
reumatoide. Essa intervenção, ao reduzir a inflamação, 
pode diminuir a liberação de ligantes químicos que 
sensibilizam as terminações nervosas periféricas e 
impedir, portanto, a sensibilização periférica. 
Os principais agentes usados no tratamento da maioria 
das condições de dor neuropática ou disfuncional não são, em 
geral, modificadores da doença, visto que os processos 
mórbidos subjacentes não são conhecidos (p. ex., fibromialgia) 
ou são refratários aos tratamentos atualmente disponíveis (p. 
ex., dor neuropática). A dor neuropática associada a lesão do 
tecido nervoso periférico, lesão da medula espinal ou acidente 
vascular encefálico exige comumente o uso de diversos 
agentes para aliviar os sintomas da dor. Em geral, na dor não 
maligna, os opioides têm sido utilizados como último 
recurso, em decorrência de seus efeitos adversos e do 
potencial de desenvolvimento de tolerância e dependência 
física. Todavia, nesses últimos anos, os opioides têm sido 
cada vez mais utilizados no controle da dor crônica não 
associada ao câncer, apesar dos riscos de produzir 
comportamento de dependência em uma proporção 
substancial de pacientes, propiciando a oportunidade de 
desvio dos fármacos para uso ilícito. 
 
Os procedimentos cirúrgicos envolvendo lesão tecidual 
que leva tempo para cicatrizar exigem o uso de agentes de 
ação mais longa para controlar a dor no pós-operatório. Podem 
ser utilizados agentes de ação mais longa isoladamente 
(hidromorfona, meperidina ou morfina) ou associações de 
agentes de início rápido e ação curta (fentanila, remifentanila) 
com os agentes de ação mais longa. 
Sensibilização periférica 
 
Diversos estímulos periféricos podem induzir os 
neurônios aferentes primários a baixar seus limiares de 
ativação e aumentar sua capacidade de resposta. Essas 
alterações, que constituem a sensibilização periférica, podem 
resultar em alodinia, em que estímulos normalmente inócuos 
são percebidos como dolorosos, e em hiperalgesia, em que 
estímulos de alta intensidade são percebidos como mais 
dolorosos e de maior duração que o habitual no local de lesão. 
Os mecanismos responsáveis pela hiperalgesia primária 
envolvem alterações diretas na transdução, bem como 
alterações indiretas induzidas pela liberação de moléculas 
efetoras. Um exemplo de transdução alterada é a ativação 
repetida do receptor TRPV1 resultante do calor, o qual diminui 
seu limiar de ativação, de modo que possa ser ativado por 
estímulos mornos (38 a 40°C) que normalmente não são 
dolorosos. 
Os mediadores químicos sensibilizadores atuam sobre 
receptores acoplados à proteína G ou sobre receptores de 
tirosina quinases expressos nas terminações nervosas 
periféricas de neurônios nociceptores. Além do aumento da 
resposta periférica causado por um evento externo que produz 
inflamação, as próprias terminações nervosas periféricas 
podem contribuir para a inflamação. 
Sensibilização central 
Com frequência, a hiperalgesia e a alodinia estendem-
se além da área primária de inflamação e lesão tecidual. A 
hipersensibilidade à dor nessa região, descrita como área de 
hiperalgesia secundária e/ou alodinia, depende de alteraçõesno processamento sensorial no corno dorsal da medula 
espinal. Essas alterações, que constituem uma forma de 
plasticidade neuronal denominada sensibilização central, 
ocorrem quando a transmissão sináptica repetitiva e 
habitualmente de alta intensidade ativa cascatas de 
transdução de sinais intracelulares nos neurônios do corno 
dorsal, que intensificam a resposta a estímulos subsequentes. 
Vários dos receptores pós-sinápticos expressos pelos 
neurônios do corno dorsal estão envolvidos na indução da 
sensibilização central. 
Com a ativação dos receptores metabotrópicos ou o 
influxo de cálcio pelos canais NMDA, as proteinoquinases 
intracelulares, como a PKC, a cálcio/calmodulina quinase e a 
proteinoquinase relacionada com sinais extracelulares (ERK), 
são ativadas. Por sua vez, esses efetores podem alterar a 
função das proteínas de membrana existentes por 
processamento pós-translacional, habitualmente por 
fosforilação. 
A ativação das ERK leva a uma redução na atividade 
dos canais de potássio nos neurônios do corno dorsal; a 
corrente diminuída de potássio aumenta a excitabilidade 
neuronal. Com mais frequência, a sensibilização central 
desaparece lentamente após cessar o estímulo indutor. 
Entretanto, a lesão ou a inflamação crônica podem 
produzir um estado de sensibilização central que persiste 
com o passar do tempo. 
O bloqueio dos receptores NMDA pode impedir tanto a 
indução quanto a manutenção da sensibilização central. Por 
exemplo, foi constatado que o bloqueio dos receptores NMDA, 
quando instituído no pré-operatório, reduz a dor apresentada 
no pós-operatório. A cetamina, um bloqueador dos receptores 
NMDA, pode ser empregada para neutralizar a ativação dos 
receptores NMDA sensibilizados. Entretanto, os receptores 
NMDA são amplamente expressos, e os bloqueadores 
de NMDA, como a cetamina e o dextrometorfano, produzem 
efeitos psicotrópicos significativos, incluindo amnésia e 
alucinações. 
 
Dor neuropática 
Os mecanismos responsáveis pela dor persistente que 
pode ocorrer após lesão nervosa envolvem alterações tanto 
funcionais quanto estruturais do sistema nervoso e ocorrem 
tanto em neurônios aferentes primários quanto no SNC. 
 
• Agonistas dos receptores opioides: 
Os agonistas dos receptores opioides constituem a 
principal classe de fármacos empregada no controle agudo da 
dor moderada a intensa. 
Mecanismos de ação e principais efeitos adversos: Os 
agonistas dos receptores opioides produzem analgesia e 
outros efeitos por meio de sua ação sobre os receptores de 
opioides µ. Os locais de ação analgésica incluem cérebro, 
tronco encefálico, medula espinal e terminações nervosas 
periféricas aferentes primária. 
Os opioides produzem uma ampla variedade de efeitos 
adversos. Esses efeitos são qualitativamente semelhantes 
entre os opioides, porém podem variar em intensidade. No 
sistema cardiovascular, os opioides podem reduzir o tônus 
simpático e resultar em hipotensão ortostática; um subgrupo de 
opioides, mais notavelmente a morfina, provoca liberação de 
histamina, que também pode contribuir para a hipotensão 
ortostática por meio de vasodilatação. Os opioides também 
causam bradicardia. Os efeitos respiratórios dos opioides 
constituem, com frequência, seus principais efeitos adversos e 
limitantes de dose. Por agirem sobre o centro de controle 
respiratório bulbar, os opioides diminuem a resposta 
respiratória ao dióxido de carbono e podem causar períodos de 
apneia. É importante assinalar que os efeitos respiratórios 
dos opioides interagem com outros estímulos; os 
estímulos dolorosos ou outros estímulos de reatividade 
podem promover a ventilação, enquanto o sono natural 
atua de modo sinérgico com os opioides, suprimindo a 
ventilação. Os opioides, atuando sobre receptores na zona 
quimiorreceptora bulbar e no trato gastrintestinal, também 
provocam náuseas, vômitos e constipação intestinal. Dada sua 
ação nos receptores do sistema geniturinário, os opioides 
podem causar urgência e retenção urinárias. No sistema 
nervoso central, os opioides podem causar sedação, confusão, 
tontura, euforia e mioclonia. 
OBS: O uso de opioides está frequentemente associado 
ao desenvolvimento de tolerância, em que o uso repetido de 
uma dose constante do fármaco resulta em diminuição do 
efeito terapêutico. Também pode ocorrer dependência física, 
de modo que a interrupção abrupta do tratamento resulta no 
desenvolvimento de uma síndrome de abstinência 
característica. 
 
• Morfina, codeína e derivados: 
A morfina, a codeína (metilmorfina) e seus derivados 
semissintéticos constituem os opioides mais amplamente 
utilizados para o controle da dor. Em geral, a morfina é 
considerada o opioide de referência, com o qual outros 
opioides são comparados. É metabolizada no fígado, e seu 
metabolismo de primeira passagem diminui a sua 
disponibilidade oral. 
Para atender às necessidades de suas diversas 
indicações, dispõe-se de várias vias diferentes para a 
administração de morfina. As preparações orais de liberação 
controlada são comercializadas para reduzir o número de 
doses diárias necessárias para analgesia. Essas formulações 
contêm uma alta dose de opioide a ser liberada no decorrer de 
12 a 24 h. Infelizmente, pelo fato de conterem altas doses e 
serem amplamente utilizadas, as formulações de liberação 
prolongada têm sido associadas a alto potencial de uso 
abusivo, particularmente quando são ilegalmente reformuladas 
para liberar de uma vez a dose integral, em lugar de fazê-lo no 
decorrer de várias horas. Os indivíduos que fazem uso abusivo 
dessas formulações procuram a sensação de euforia com o 
rápido aumento dos níveis plasmáticos. A morfina intravenosa 
ou subcutânea costuma ser administrada em dispositivos de 
analgesia controlados pelo paciente, que são atualmente 
empregados para o controle de inúmeros estados de dor, 
principalmente em pacientes internados. A morfina epidural ou 
intratecal pode produzir analgesia altamente efetiva, visto que 
alcança concentrações localmente altas no corno dorsal da 
medula espinal. A administração neuroaxial do fármaco resulta 
em duração de ação muito mais longa que sua admin istração 
parenteral, dado o tempo necessário para a difusão da morfina 
relativamente hidrofílica do SNC para a circulação sistêmica. 
À semelhança da morfina, a codeína é um agonista dos 
receptores opioides de ocorrência natural. Embora seja muito 
menos eficaz que a morfina para tratamento da dor, a codeína 
costuma ser usada por seus efeitos antitussígeno (i. e., 
supressor da tosse) e antidiarreico, na medida em que 
apresenta uma disponibilidade oral consideravelmente maior 
que a da morfina. 
• Agentes sintéticos: 
As duas principais classes de agonistas sintéticos dos 
receptores µ são as fenileptilaminas (metadona) e as 
fenilpiperidinas (fentanila, meperidina). A metadona é mais 
conhecida por seu emprego no tratamento da dependência 
química, mas também pode ser usada no controle da dor. A 
metadona apresenta uma meia-vida na faixa de 25 a 35 h, é 
mais lipofílica que a morfina e liga-se aos tecidos e às proteínas 
plasmáticas. Em consequência de sua longa duração de ação, 
a metadona é frequentemente utilizada para obter alívio 
prolongado da dor crônica em pacientes com câncer terminal. 
A administração repetida da metadona prolonga sua meia-vida. 
Em consequência, os pacientes que iniciam a terapia com 
metadona correm risco de depressão respiratória tardia depois 
de tolerar uma dose inicial do fármaco. 
A fentanila é um agonista opioide sintético de ação curta, 
que é 75 a 100 vezes mais potente que a morfina e apresenta 
meia-vida de eliminação comparável à da morfina. Dada sua 
alta afinidade por lipídios, a fentanila é biodisponível quando 
administrada por diversas vias. 
A remifentanila, a fenilpiperidina mais recentemente 
desenvolvida, exibe um comportamento farmacocinéticodistinto. A remifentanila contém uma metade éster metilada 
que é essencial para sua atividade, mas também atua como 
substrato para a ação de numerosas esterases teciduais 
inespecíficas. Por conseguinte, apresenta metabolismo e 
eliminação inusitadamente rápidos. Quando administrada em 
infusão contínua durante a anestesia, a remifentanila 
possibilita uma equivalência precisa de sua dose com a 
resposta clínica. Entretanto, o rápido término de sua ação exige 
que o uso da remifentanila durante a anestesia seja associado 
à administração de um fármaco de ação mais longa para 
manter a analgesia pós-operatória. 
• Agonistas parciais e mistos 
Embora os agonistas dos receptores opioides sejam 
predominantemente agonistas µ, foram também 
desenvolvidos diversos fármacos que são agonistas µ ou 
κ parciais ou mistos. Esses agentes incluem os agonistas 
µ parciais butorfanol e buprenorfina, bem como nalbufina, 
um agonista κ com atividade antagonista µ. O butorfanol e 
a buprenorfina produzem analgesia semelhante à da 
morfina, porém com sintomas de euforia mais discretos. A 
nalbufina e compostos semelhantes são analgésicos efetivos, 
dada sua ação nos receptores κ; todavia, esses fármacos 
também estão associados à disforia psicológica indesejável. A 
tendência reduzida desses agentes a produzir euforia pode 
diminuir a probabilidade de comportamento de uso abusivo do 
fármaco em indivíduos suscetíveis. 
• Antagonistas dos receptores opioides 
Os antagonistas dos receptores opioides µ são 
utilizados para reverter os efeitos adversos 
potencialmente fatais da administração de opioides, 
especificamente a depressão respiratória. A naloxona, um 
desses antagonistas, é um derivado sintético da 
oximorfona, administrado por via parenteral. Como a meia-
vida da naloxona é mais curta que a da morfina, não é seguro 
deixar o paciente sem assistência imediata após o tratamento 
bem-sucedido de um episódio de depressão respiratória com 
naloxona; o monitoramento do paciente somente pode ser 
reduzido quando houver certeza de que a morfina não se 
encontra mais no sistema. O antagonista naltrexona, 
administrado por via oral, é principalmente usado em 
condições ambulatoriais, geralmente para a 
desintoxicação de indivíduos dependentes de opioides. 
 
Há um quadro de resumos sobre os principais fármacos 
utilizados para cada categoria de problema na página 605 
do livro Princípios de farmacologia – a base fisiopatológica 
de farmacologia - Golan

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