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Ação de Rescisão Contratual de Compra e Venda de Veículo Usado

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@ (PROCESSO ELETRÔNICO) 
EMCF 
Nº 71007781776 (Nº CNJ: 0036416-44.2018.8.21.9000) 
2018/CÍVEL 
 
 1 
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL 
PODER JUDICIÁRIO 
TURMAS RECURSAIS 
RECURSO INOMINADO. COMPRA E VENDA DE 
VEÍCULO USADO. AÇÃO DE RESCISÃO 
CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS 
MORAIS. VICIO REDIBITÓRIO EVIDENCIADO. 
PROBLEMAS NO MOTOR COM POUCO TEMPO DE 
USO. MAU ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO BEM. 
DESFAZIMENTO DO NEGÓCIO. RETORNO DAS 
PARTES AO STATUS QUO ANTE. POSSIBILIDADE. 
DANOS MORAIS INOCORRENTES. 
1. A autora narrou que adquiriu inicialmente, em 
26.04.2017 um veículo Uno Mille, o qual veio a 
apresentar defeitos, sendo que as requeridas fizeram 
a troca por um veículo Celta/GM ano 2003/2004, o 
qual, igualmente, cerca de dois meses após a 
compra, passou a apresentar problemas mecânicos. 
2. Ainda que se trate de um veículo usado, com mais 
de 15 anos de uso à época dos fatos (2017), que 
naturalmente ostentava desgaste natural do tempo, 
certo é que o alienante responde pelos vícios 
redibitórios havidos no bem e os quais apareceram 
com apenas dois meses de uso, a teor do que prevê 
o art. 441 e seguintes do CC. Ademais, considerando 
que o veículo foi dado em troca de outro, que 
originalmente também havia apresentado vício, 
extrai-se que foi suprimida a possibilidade da 
demandante averiguar a exata condição do novo 
bem dado pelos requeridos. 
 
 
 
 
 
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EMCF 
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TURMAS RECURSAIS 
3. Assim, revela-se cabível, no caso concreto, o 
desfazimento do negócio, com o retorno das partes 
ao status quo ante, devendo o réu devolver à 
demandante o valor recebido em razão do contrato, 
com a devolução do automóvel à empresa 
requerida. 
4. Danos morais inocorrentes, na espécie, porquanto 
não demonstrada ofensa a atributos da 
personalidade da autora. 
 
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME. 
 
RECURSO INOMINADO 
 
SEGUNDA TURMA RECURSAL CÍVEL 
Nº 71007781776 (Nº CNJ: 0036416-
44.2018.8.21.9000) 
 
COMARCA DE SÃO LEOPOLDO 
LUANA CIDA DIAS QUADRO 
 
RECORRENTE 
RAFA MOTORS 
 
RECORRIDO 
MOTORCRED COMERCIO DE VEICULOS 
LTDA. 
 
RECORRIDO 
 
 
 
 
 
 
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TURMAS RECURSAIS 
A C Ó R D Ã O 
 
Vistos, relatados e discutidos os autos. 
Acordam os Juízes de Direito integrantes da Segunda Turma 
Recursal Cível dos Juizados Especiais Cíveis do Estado do Rio Grande do Sul, à 
unanimidade, em dar parcial provimento ao recurso. 
Participaram do julgamento, além da signatária (Presidente), os 
eminentes Senhores DR. ROBERTO BEHRENSDORF GOMES DA SILVA E DR. 
JOSÉ RICARDO DE BEM SANHUDO. 
Porto Alegre, 08 de agosto de 2018. 
 
 
 
DRA. ELAINE MARIA CANTO DA FONSECA, 
Relatora. 
 
R E L A T Ó R I O 
 
 
 
 
 
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LUANA CIDA DIAS QUADRO recorre da sentença das fls. 125/129, 
que julgou extinto o feito com relação à empresa Rafa Motors, improcedentes os 
pedidos e parcialmente procedente o pedido contraposto, formulados nos autos 
da ação de rescisão contratual cumulada com danos materiais e morais, 
promovida contra MOTORCRED COMERCIO DE VEÍCULOS LTDA E OUTRO. 
Em razões (fls. 145/150), repisou os argumentos lançados quando 
da inicial, destacando a legitimidade da empresa Rafa Motors. Apontou que, 
como o primeiro carro apresentou problemas, os réus lhe ofertaram outro carro 
(que igualmente apresentou vícios) sem, contudo, lhe oportunizar qualquer 
possibilidade de escolha e tampouco de vistoria do veículo. Destacou a 
necessidade de restituição do valor pago de R$ 13.045,00 e discorreu acerca da 
existência de danos morais indenizáveis, na monta de R$ 8.00,00 
Apresentadas contrarrazões, às fls. 150/157. 
É o relatório. 
 
V O T O S 
DRA. ELAINE MARIA CANTO DA FONSECA (RELATORA) 
 
 
 
 
 
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Eminentes Colegas. 
Preenchidos os requisitos legais, conheço do recurso, que merece 
parcial provimento. 
A controvérsia reside na ocorrência de eventual vício oculto no 
veículo usado adquirido pela demandante que, com dois meses de uso veio a ter 
problemas de ordem mecânica. 
 Com efeito, ainda que se trate de um veículo usado, com mais de 
15 anos de uso à época dos fatos (2017), que naturalmente ostentava desgaste 
natural do tempo, certo é que o alienante responde pelos vícios redibitórios 
havidos no bem e os quais apareceram com apenas dois meses de uso, a teor 
do que prevê o art. 441 e seguintes do CC: 
Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato 
comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos 
ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é 
destinada, ou lhe diminuam o valor. 
Parágrafo único. É aplicável a disposição deste 
artigo às doações onerosas. 
Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o 
contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar 
abatimento no preço. 
http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Leis/2002/L10406.htm#art441
 
 
 
 
 
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Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou 
defeito da coisa, restituirá o que recebeu com 
perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente 
restituirá o valor recebido, mais as despesas do 
contrato. 
 
 Ademais, considerando que o veículo foi dado em troca de outro, 
que originalmente também havia apresentado vício, extrai-se que foi suprimida a 
possibilidade da demandante averiguar a exata condição do novo bem dado 
pelos requeridos. 
Assim, deve ser autorizada a rescisão contratual, com o retorno 
das partes ao status a quo ante e, por consequência, a devolução dos valores 
pagos pela autora pela aquisição do veículo, que alcançam a quantia de R$ 
13.045,00 (fls. 22/23; 43/51). 
Aliás, o provimento sentencial, de determinar a devolução do bem 
pela ré, sem qualquer devolução dos valores pagos pela autora evidenciaria 
enriquecimento sem causa ao requerido, vedado no nosso ordenamento jurídico. 
Logo, deve ser devolvido à demandante a integralidade do valor 
pago quando da celebração do negócio. 
 
 
 
 
 
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Por outro lado, não há danos morais a serem reconhecidos na 
espécie, tendo em vista que a situação se resume em mero inadimplemento 
contratual que, por si só, não implica afronta aos direitos de personalidade. 
Voto, pois, no sentido de dar parcial provimento ao recurso para, 
julgando parcialmente procedentes os pedidos, condenar a ré ao pagamento de 
R$ 13.045,00 à autora, quantia que deverá ser corrigida pelo IGP-M a contar de 
cada desembolso, e juros de mora de 1% ao mês, a contar da citação, sendo 
que a autora deverá devolver o veículo à empresa ré. 
Sem ônus de sucumbência, face o resultado do julgamento. 
É como voto. 
 
 
DR. ROBERTO BEHRENSDORF GOMES DA SILVA - De acordo com o(a) 
Relator(a). 
DR. JOSÉ RICARDO DE BEM SANHUDO - De acordo com o(a) Relator(a). 
 
 
 
 
 
 
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DRA. ELAINE MARIA CANTO DA FONSECA - Presidente - Recurso Inominado 
nº 71007781776, Comarcade São Leopoldo: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO 
RECURSO. UNANIME." 
 
 
Juízo de Origem: JUIZADO ESPECIAL CIVEL SAO LEOPOLDO - Comarca de São 
Leopoldo

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