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Feito por Kamila Maragno Peruch MEDICINA UNESC – Turma 192 COLECISTITE AGUDA • Síndrome causada pela inflamação da vesícula biliar, que cursa com dor no quadrante superior direito do abdome, febre e leucocitose, associada aos cálculos na vesícula biliar o Colecistite acalculosa (10%) → ocorre em pacientes críticos, alta morbimortalidade o Colecistite crônica → infiltração de células inflamatórias crônicas na vesícula, associada a crises recorrentes de colecistite aguda levando à fibrose – pacientes oligossintomáticos. PATOGÊNESE • Ocorre a partir da obstrução do ducto cístico, com processo inflamatório, inicialmente devido as concentrações elevadas de sais biliares, colesterol e lisolecitina o Irritação da parede pelos cálculos libera fosfolipase A2 – converte lecitina da bile > lisolectina – irritante químico que inicia o processo • Estase aumenta a pressão vesicular e impede fluxo sanguíneo e linfático, propiciando isquemia. • A parede da vesícula fica hiperemiada e edemaciada, com pontos de necrose – vesícula está distendida pelo conteúdo biliar → há reabsorção dos sais biliares, aparecendo exsudato inflamatório o Após o término da crise, a mucosa cicatriza e há fibrose da parede • A inflamação, estase e isquemia favorecem a proliferação bacteriana – cultura da bile + em 22-46% dos casos sem perfuração da vesícula e em 80% nas gangrenas vesiculares – principalmente > 60 anos Germes entéricos aeróbios → Escherichia coli, Klebsiella, Proteus e Enterococcus faecalis Anaeróbios → Peptostreptococcus, Clostridium perfringens e Bacteroides fragilis o Alta incidência de complicações infecciosas pós-operatórias – empiema, gangrena o Pontos de necrose podem perfurar → abscessos perivesiculares ou peritonite. QUADRO CLÍNICO • Dor prolongada e de forte intensidade, incialmente mal localizada > após, move-se p QSD do abdome ou epigástrio, podendo irradiar p ombro D ou dorso o Frequentemente associada à ingestão de comida gordurosa >= 1h antes • Dor visceral pela obstrução do ducto cístico → durando 4 a 6 horas (“cólica biliar” dura menos) o A inflamação gera dor parietal → piora com a movimentação e inspiração profunda. • Acompanha anorexia, náuseas e vômitos - não tão intensos como na pancreatite e obstrução intestinal. o Temperatura de 37,2 a 38,8 °C, e pctes aparentam estar doentes e taquicárdico ❖ EF → sinais de irritação peritoneal, com hipersensibilidade local, contratura muscular o Sinal de Murphy presente → pcte respira profundamente durante a palpação profunda da área subcostal, sente dor aguda que o obriga a interromper a inspiração • Clínica típica ausente em 1/3 dos > 60 anos e 20% em UTI o Pode haver febre, confusão mental e alterações da perfusão periférica → sinais de defesa peritoneal não aparecem, e, às vezes, é possível palpar a vesícula ou um plastrão • Durante a crise, o número de leucócitos é ~12.000/mm3, com desvio à esquerda • Aumento discreto de aminotransferases e amilase + hiperbilirrubinemia e icterícia podem surgir o Se elevarem mto → suspeita de colangite, coledocolitíase ou síndrome de Mirizzi (cálculo impactado no ducto cístico distal que leva à compressão do colédoco). Feito por Kamila Maragno Peruch MEDICINA UNESC – Turma 192 DIAGNÓSTICO • Suspeita clínica → dor, febre, leucocitose e sinal de Murphy positivo (sensibilidade de 97% • Necessita de exame para confirmação → US dx maioria o Espessamento (> 4 a 5 mm) ou edema da parede vesicular (duplo sinal da parede), sinal de Murphy ultrassonográfico + o Visualiza os cálculos, detecta dilatação dos ductos biliares e fornece imagens de órgãos adjacentes ▪ Limitado se obesidade, íleo adinamico, cálculos no infundíbulo e ducto cístico • Colecintilografia realizada se dúvida o Teste positivo se não há visualização da vesícula biliar → falha de enchimento da vesícula Critérios Diagnósticos Tokyo Guidelines A → SINAIS LOCAIS DE INFLAMAÇÃO o Sinal de Murphy, massa/dor/sensibilidade no QSD B → SINAIS SISTEMICOS DE INFLAMAÇÃO o Febre, PCR elevada, leucócitos elevados C → ACHADOS DE IMAGEM CARACTERÍSTICO o Suspeito – 1 item A + 1 item B o Definitivo – 1 item A + 1 item B + C Classificação de Gravidade ❖ GRAU 3 – COLECISTITE AGUDA GRAVE – associada a disfunção de um dos sistemas: o Cardiovascular → hipotensão com tto dopamina > 5 ou norepinerina o Diminuição do nível de consciência o Relação PaO2/FiO2 < 300 o Oliguria, creatinina > 2 o Hepática → PT-INR > 1,5 o Plaquetas < 100000 ❖ GRAU 2 – COLECISTITE AGUDA MODERADA o Leucócitos > 18000 o Massa cística palpável em QSD o Sintomas > 72h o Inflamação local bem definida – gangrena, abcesso, peritonite, enfisema ❖ GRAU 1 – COLECISTITE AGUDA LEVE – não atende os demais critérios o Pcte saudável, sem disfunção orgânica e com leves alterações inflamatórias na vesícula ▪ Colecistectomia segura e de baixo risco TRATAMENTO • Internação e jejum imediato → manter hidratação, repor perdas por vômitos/déficit da ingesta oral • Analgesia → AINES ou opioides • ATB deve ser iniciada → bile será infectada em > 50% em 48h, por germes entéricos na maioria o Colecistite aguda leve/moderada → ceftriaxona + metronidazol o Colecistite aguda grave, idade avançada ou imunossupressão → ciprofloxacino* + metronidazol ▪ *outros: imiperem-cilastatina, levofloxacino, meropenem ou pipetazo • Se infecção intraperitoneal já estabelecida, manutenção → suspender na ausência de febre/icterícia, normalização dos leucócitos, melhora clínica ou após colecistectomia Feito por Kamila Maragno Peruch MEDICINA UNESC – Turma 192 • Pctes de baixo risco cirúrgico → colecistectomia videolaparoscópica imediata - diminui morbimortalidade o Precocemente é melhor pois a inflamação local aumenta após 72 horas. • Pacientes de alto risco cirúrgico (ASA III, IV ou V), pctes baixo risco + curso tardio da doença, sepse o Iniciar ATB e realizar drenagem da vesícula biliar (colecistostomia por punção) ▪ Retira o material purulento da vesícula - diminui edema e pode abrir o ducto cístico ▪ Via percutânea guiada por US ou TC (sucesso > 82%), cirurgia aberta ou endoscopia. • Complicação infrequente → sangramento, obstrução/deslocamento cateter e falha o Após a melhora da colecistite, o risco cirúrgico é reavaliado COMPLICAÇÕES ❖ GANGRENA → complicação mais comum (20%), mais comum idosos, DM, demora p atendimento o Clinica semelhante a sepse ❖ PERFURAÇÃO DA VESICULA → ocorre após a gangrena em 2%, maioria localizada (causa abcesso) o Pode causar peritonite generalizada caso livre – alta mortalidade ❖ FISTULA COLECISTOENTÉRICA → pode resultar da perfuração diretamente no duodeno/jejuno o Causada geralmente pela pressão de longa data dos cálculos ❖ ÍLEO BILIAR → obstrução intestinal mecânica pela passagem de cálculo biliar através da fistula o Geralmente > 70 anos, mulheres - obstrução subaguda, dor abdominal e vômitos. o DX radiológico – tríade de Rigler → distensão do delgado, aerobilia (30-60%) e imagem com calcificação no QID do abdome (< 15%) - TC de abdome p melhor visualização do cálculo o Enterotomia do íleo distal acima do nível da impactação para retirada do cálculo + correção do trajeto fistuloso e colecistectomia COLECISTITE ACALCULOSA • 10% das colecistites agudas → pctes gravemente enfermos, com traumatismos, queimaduras, sepse, o Nutrição parenteral total em hipotensos + múltiplas transfusões de sangue e suporte ventilatório + sepse → condições favoráveis ao desenvolvimento • Sinais menos evidentes e curso fulminante – complicações • Hemobilia → dependendo da intensidade do sangramento, coágulos podem impactar nos ductos, causando icterícia obstrutiva ou pancreatite – podehaver rotura da vesícula o Se não há obstrução - hematêmese ou melena • Patogênese envolve estase com aumento da concentração biliar, isquemia por hipoperfusão, lesão mucosa, invasão bacteriana → agravada pela hipotensão e vasoconstrição simpática • Hemocultura colhida para guiar antibiótico ❖ ULTRASSONOGRAFIA– colecintilografia caso dx não elucidado o Ausência de litíase ou lama biliar, espessamento da parede da vesícula > 3 mm o Fluido pericolecístico, vesícula estriada, sinal de Murphy +, mucosa rugosa o Distensão da vesícula, não visualização da vesícula o Colecistite enfisematosa e perfuração + abscesso ❖ TRATAMENTO • ATB de largo espectro + colecistectomia ou colecistostomia c/ colocação de dreno - preferida • Colecistectomia laparoscópica realizada se achados sugestivos de necrose, colecistite enfisematosa ou perfuração → ou na ausência de melhora com 24 horas de drenagem da vesícula. Feito por Kamila Maragno Peruch MEDICINA UNESC – Turma 192 COLECISTITE ENFISEMATOSA • Causada por infecção secundária da parede da vesícula biliar com organismos formadores de gás o Clostridium perfringens, E. coli 15%, Staphylococcus, Streptococcus, Pseudomonas, Klebsiella • Geralmente homens de 50-70 anos → metade com DM e cálculos biliares • Quadro semelhante com dor no QSD, náuseas, vômitos e febre baixa, geralmente sem peritonite o Crepitação (pista importante) na região abd adjacente à vesícula biliar em alguns • Hiperbilirrubinemia não conjugada - hemólise na infecção Clostridium • USG pode mostrar gases recobrindo a vesícula, com difícil visualização - reflete ar na parede vesical • Antecede em muitos casos gangrena, perfuração... SÍNDROME DE MIRIZZI • Obstrução da via biliar por processo inflamatório -- ou por cálculo impactado no infundíbulo da vesícula biliar (bolsa de Hartmann) ou no ducto cístico o Ducto cístico longo, com implantação baixa e paralelo ao ducto hepático comum, predispõe • Cálculos impactados causam compressão mecânica do ducto hepático comum → icterícia contínua ou intermitente e episódios de colangite, com 90% havendo aumento de fosfatase alcalina e bilirrubinas. ❖ CLASSIFICAÇÃO o I → compressão extrínseca ducto hepático comum, cálculos impactados ducto cístico/infundíbulo o II → presença de fistura colecistobiliar com erosão de < 1/3 da circunferência do ducto biliar o III → erosão de > 2/3 o IV → envolve toda a circunferência Diagnóstico se inicia pela USG → dilatação biliar acima do nível do infundíbulo da vesícula, cálculo no infundíbulo, alteração abrupta para calibre normal do colédoco abaixo do cálculo • Seguida pela colangiografia CPRE (+ usada) o Obstrução do ducto hepático comum, cálculo impactado no infundíbulo/ducto cístico, fístula o Se colangite ou aumento bilirrubinas – pode-se passar prótese na via biliar. Tratamento → cirurgia via aberta (laparoscópica no tipo I) é c padrão-ouro o I – colecistectomia parcial ou total, sem exploração do colédoco o II – colecistectomia + fechamento da fístula por sutura ▪ Colocação de tubo “em T” ou coledocoplastia com vesícula biliar remanescente o III – coledocoplastia ou anastomose bilioentérica o IV – anastomose bilioentérica (coledocojejunostomia). Feito por Kamila Maragno Peruch MEDICINA UNESC – Turma 192 COLANGITE AGUDA • Processo infeccioso com foco na via biliar, geralmente associado a 2 condições predisponentes o Presença de bactérias no trato biliar e obstrução que cause aumento da pressão das vias biliares. • Bile é inicialmente estéril – pode ser colonizada via hematogênica ou ascendente, a partir do TGI o Principalmente se disfunção hepática – compromete depuração bacteriana pelas céls de Kupffer • Quando há obstrução das vias biliares, o acúmulo de bile pode servir como meio de cultura • Gram negativos mais comuns → E. coli (25-50%), Klebsiella (ate 20%) e Enterobacter (ate 10%) o Gram positivos – enterococos (10 a 20%). • Quadro clínico baseia-se na tríade de Charcot (50 a 70%) e na pêntade de Reynolds - indica sepse grave. ❖ PENTADE DE REYNOLDS → hipotensão arterial, confusão mental + Tríade de Charcot o Tríade → febre, icterícia, dor abdominal em hipocôndrio direito • Deve-se pedir enzimas canaliculares e bilirrubinas • Se tríade de Charcot + alteração bioquímica hepática → realizar direto a CPRE + drenagem da via biliar. • Se há sinais e sintomas sugestivos SEM a tríade → USG, com CPRE em até 24h se dilatação ou cálculos. o Se suspeita mantida, mas US negativa → colangiorressonância (cálculos pequenos perdidos à US ❖ TRATAMENTO consiste na administração de ATB, drenagem biliar e tratamento da etiologia. • Nos pctes com coledocolitíase complicada com colangite → introduzir ATB de largo espectro (IV dirigido às bactérias entéricas) e realizar CPRE com esfincterotomia e retirada dos cálculos o 70 a 80% respondem à terapia conservadora, deixando-se a drenagem eletiva em 24 a 48 horas o Caso não haja melhora em 24h → descompressão de urgência. • Na suspeita de colangite supurativa - CPRE de urgência → dor abdominal persistente, febre > 39°C, hipotensão mesmo com ressuscitação adequada e confusão mental. *****RESUMO FEITO COM BASE NOS MATERIAIS MED/CEL E MED/CURSO*****