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Apostila-História-e-Cultura-Africana

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 GUARULHOS – SP 
 
2 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 5 
2 HISTÓRIA DA ÁFRICA ................................................................................................ 6 
3 A HOMINIZAÇÃO: PROBLEMAS GERAIS. ................................................................. 6 
4 OS HOMENS FÓSSEIS AFRICANOS ....................................................................... 10 
5 A FORMAÇÃO DOS REINOS, IMPÉRIOS, CIDADES E ESTADOS ......................... 14 
5.1 Reinos berberes ....................................................................................................... 16 
6 O NORTE ORIENTAL DA ÁFRICA ............................................................................ 17 
6.1 O Egito (3.200–32 a.C.) ........................................................................................... 17 
6.2 Núbia, o reino de Kush (2.700 a.C.–350 d.C.) ......................................................... 18 
6.3 O reino de Axum (I–VII a.C.) .................................................................................... 22 
7 OS POVOS AFRICANOS DO SAHEL: CARACTERÍSTICAS SOCIAIS .................... 24 
8 AS RELAÇÕES POLÍTICAS E ECONÔMICAS NA CONSTITUIÇÃO DAS 
SOCIEDADES SAHELIANAS ........................................................................................ 27 
8.1 Reino de Gana ......................................................................................................... 28 
8.2 Império do Mali ........................................................................................................ 28 
8.3 Império de Songhai .................................................................................................. 30 
8.4 Tecrur........... ............................................................................................................ 31 
8.5 Kanem e Bornu ........................................................................................................ 31 
8.6 Reinos iorubás: Ifé e Benin ...................................................................................... 33 
9 AS CARACTERÍSTICAS DA ÁFRICA CENTRO-OCIDENTAL E ORIENTAL ............ 34 
9.1 Reino do Congo ....................................................................................................... 34 
9.2 Reino de Ndongo (Angola) ....................................................................................... 35 
9.3 África Oriental .......................................................................................................... 36 
 
3 
 
 
9.4 Grande Zimbabue e o Reino de Monotapa .............................................................. 37 
10 CULTURA AFRICANA ............................................................................................... 38 
11 COLONIALISMO NA ÁFRICA: A ESCRAVIDÃO E O TRÁFICO DE ESCRAVOS .... 40 
12 CARACTERÍSTICAS E DEFINIÇÕES DA ESCRAVIDÃO EM TERRITÓRIO 
AFRICANO.. ................................................................................................................... 41 
13 ALVO DA ESCRAVIDÃO RACIAL E DOS TRÁFICOS NEGREIROS 
TRANSOCÊNICOS ........................................................................................................ 44 
14 A ESCRAVIDÃO ISLÂMICA....................................................................................... 44 
15 OS PORTUGUESES NA ÁFRICA ............................................................................. 47 
16 RELAÇÕES ENTRE PORTUGAL E CONGO ............................................................ 50 
17 A DOMINAÇÃO PELA CRUZ: O PAPEL DO CATOLICISMO NA COLONIZAÇÃO DA 
ÁFRICA........ .................................................................................................................. 53 
18 O IMPERIALISMO NA ÁFRICA ................................................................................. 56 
19 O CONGRESSO DE BERLIM .................................................................................... 59 
20 A RESISTÊNCIA AFRICANA AO DOMÍNIO IMPERIALISTA .................................... 62 
21 A DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA .......................................................................... 64 
22 O PAN-AFRICANISMO E O MOVIMENTO DA NEGRITUDE .................................... 64 
23 AS INDEPENDÊNCIAS NA ÁFRICA ......................................................................... 66 
23.1 A África Ocidental Francesa ................................................................................ 66 
23.2 As colônias britânicas .......................................................................................... 68 
23.3 O fim do Império Português ................................................................................. 69 
24 ÁFRICA CONTEMPORÂNEA: DESAFIOS ................................................................ 70 
25 A DIÁSPORA AFRICANA .......................................................................................... 73 
26 A DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA E DA ÁSIA E A QUESTÃO ÁRABE-ISRAELENSE 
NA PALESTINA .............................................................................................................. 73 
27 NEOCOLONIALISMO: NOVAS PERSPECTIVAS ..................................................... 74 
 
4 
 
 
28 OS ANTECEDENTES PARA AS INDEPENDÊNCIAS ............................................... 75 
29 ÁFRICA E ÁSIA: DOIS CONTINENTES EM CONFLITO ........................................... 77 
30 ÁFRICA DO SUL E O APARTHEID ........................................................................... 78 
31 ÍNDIA E O MOVIMENTO PACIFISTA ........................................................................ 84 
32 ORIENTE MÉDIO ...................................................................................................... 86 
33 QUESTÃO HISTÓRICA: ISRAEL E PALESTINA ...................................................... 87 
34 GUERRA DO CANAL DE SUEZ (1956–1957) ........................................................... 89 
35 GUERRA DOS SEIS DIAS (1967) ............................................................................. 90 
36 GUERRA DO YOM KIPPUR (1973) ........................................................................... 91 
37 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ................................................................................ 93 
37.1 Bibliografia básica ................................................................................................ 93 
37.2 Bibliografia complementar ................................................................................... 93 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Prezado aluno! 
 
 
O grupo educacional Faveni, esclarece que o material virtual é semelhante ao da 
sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se 
levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para 
que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça 
a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, 
é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao 
protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância 
exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um 
horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A 
vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A 
organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos 
definidos para as atividades. 
 
 
Bons estudos!6 
 
 
2 HISTÓRIA DA ÁFRICA 
Com uma ampla diversidade cultural, a África é banhada pelos oceanos Índico e 
Atlântico, além do Mar Mediterrâneo, cujo primeiro estado a se formar foi o Egito. Apesar 
disso, povos de todos os continentes já a exploravam desde a Antiguidade atrás de 
riquezas, como o ouro e o sal. 
Considerada como o continente de origem do ser humano, a África foi dominada 
por diferentes povos e civilizações, como árabes, romanos e fenícios estes foram 
fundamentais para o comércio, explorando o território do Mediterrâneo ao Índico. No 
século VII, os árabes dominaram a região, salientando o Norte e a proximidade com a 
Europa. Já no século XIX, os países europeus dividiram-na entre Portugal, Bélgica, 
Espanha, Holanda, Alemanha, Itália e Inglaterra. Atualmente, a África é considerada o 
continente mais rico em recursos naturais, mas o mais pobre, com diversos problemas 
sociais que atingem a sua população (FERRACINI,2019). 
3 A HOMINIZAÇÃO: PROBLEMAS GERAIS. 
Os humanos são mamíferos, mais precisamente mamíferos placentários. 
Pertence ao primata. Os primatas diferenciam-se dos outros mamíferos placentários 
pelo desenvolvimento precoce do cérebro, pelo aperfeiçoamento da visão, que se torna 
estereoscópica, pela redução da face, pela substituição das garras por unhas chatas e 
pela oposição do polegar aos outros dedos. Os primatas classificam-se em prossímios 
e símios. 
O homem pertence ao segundo grupo, que se caracteriza por um aumento da 
estatura, pelo deslocamento das órbitas na face e consequente melhoria da visão, e 
pela independência das fossas temporais (SILVEIRO, 2013). 
Uma repentina proliferação de formas ocorre entre esses símios no Oligoceno 
Superior, há cerca de 30 milhões de anos, o que leva a supor que a diferenciação da 
família Hominidae poderia datar dessa época. Para poder escrever a história desses 
hominídeos, devemos pesquisar, portanto, entre os fósseis de símios dos últimos 30 
 
7 
 
 
milhões de anos, cujas tendências evolutivas se orientam para os traços que 
caracterizam o gênero Homo, ao qual pertencemos: locomoção sobre os membros 
posteriores com as consequentes transformações dos pés, das pernas, da bacia, da 
orientação do crânio, das proporções da coluna vertebral, desenvolvimento da caixa 
craniana, redução da face, arredondamento da arcada dentária, redução dos caninos, 
curvatura do palato etc. 
O Propliopithecus do Oligoceno Superior apresenta alguns discretos sinais 
dessas tendências, o que explica o entusiasmo, sem dúvida prematuro, de certos 
autores, em considerá-lo como pertencente ao nosso gênero. 
As tendências observadas no Ramapithecus são mais relevantes: seu cérebro 
parece ter atingido 400cm³, o tamanho da face é reduzido, a arcada dentária é 
arredondada, e os incisivos e caninos, também reduzidos, estão implantados 
verticalmente. Um outro primata, o Oreopithecus, de quem conhecemos o esqueleto 
completo, apresenta essas mesmas características cranianas e uma bacia de bípede 
ocasional (SILVEIRO, 2013). 
Por outro lado, as tendências evolutivas do Australopithecus não deixam margem 
a dúvidas. Esses bípedes permanentes têm pés humanos, mãos modernas, cérebro 
com nítido aumento de volume, caninos pequenos e face reduzida. Não podemos deixar 
de considerá-los hominídeos. 
O gênero Homo, fim da cadeia, distingue-se dos Australopithecus por aumento 
da estatura, melhoria na postura ereta, crescimento do volume do cérebro que, a partir 
da espécie mais antiga, pode atingir 800cm3, e transformação da dentição com maior 
desenvolvimento dos dentes anteriores em relação aos laterais, em consequência da 
mudança do regime alimentar, de vegetariano para onívoro. 
Há 30 milhões de anos, havia no nordeste da África uma grande variedade de 
pequenos primatas prenunciando todos os que existem hoje: Cercopithecidae, 
Pongidae, Hylobatidae e Hominidae. As linhas fundamentais estavam traçadas. 
No Plioceno e no Pleistoceno, entre 10 e 1 milhão de anos atrás, encontramo-
nos na presença de um grupo ao mesmo tempo polimorfo e muito localizado, os 
australopitecíneos. Um breve histórico de sua descoberta vai nos permitir, também, 
delimitá-los geograficamente. O conjunto de descobertas feitas ao longo de vários anos, 
 
8 
 
 
desde 1924 até finais da década de 1970 por diferentes expedições, limita a área de 
distribuição do Australopithecus às regiões oriental e meridional da África. Os 
australopitecíneos parecem ter surgido entre aproximadamente 6 e 7 milhões de anos 
atrás e ter desaparecido há cerca de 1 milhão de anos. Vários hominídeos foram 
descobertos nas diferentes jazidas dessas áreas, alguns contemporâneos entre si. 
Pela primeira vez na história dos primatas esses restos se encontram associados 
a utensílios fabricados. Essa primeira indústria da história é constituída por uma grande 
quantidade de lascas obtidas artificialmente por percussão e utilizadas por causa de seu 
gume, de seixos cuja ponta ou gume foi aguçado e de ossos ou dentes trabalhados ou 
utilizados diretamente, quando sua forma assim o permitia. Não estamos, há 2.500.000 
anos, na origem dos utensílios, mas provavelmente nos aproximamos dos limites de 
sua percepção; antes daquela data, o artefato se confunde com os objetos naturais 
(SILVEIRO, 2013). 
A partir das camadas mais antigas de Olduvai (1.800.000 anos), os instrumentos 
estão em toda parte, abundantes e constantes na forma; os seixos lascados, 
particularmente frequentes, tornaram essa indústria conhecida como Pebble Culture ou 
Olduvaiense (do topônimo Olduvai). Escavando o nível mais antigo de Olduvai 
(Tanzânia), o Dr. Leakey descobriu restos de uma estrutura que poderia ter sido de uma 
construção. Estaríamos na presença de uma estrutura de habitação de 2 milhões de 
anos! 
Foi no interior desse grupo de Australopithecus de início limitados ao leste e ao 
sul da África, e em seguida (sob a forma de Australopithecus ou sob forma já mais 
evoluída) estendendo-se até a Ásia ao sul do Himalaia que apareceram o gênero Homo 
e o utensílio fabricado. Este logo se torna a característica distintiva de seu artesão; 
vários tipos de instrumentos são rapidamente criados para finalidades precisas; sua 
fabricação é ensinada. Por último, aparecem estruturas de habitação. É a partir desse 
ponto de vista que se pode falar de uma origem africana da humanidade. 
O homem aparece, portanto, ao fim de uma longa história, como um primata que 
um dia aperfeiçoa o utensílio que vem usando já há muito tempo. Utensílios fabricados 
e habitações revelam de súbito um ser racional que prevê, aprende e transmite, constrói 
a primeira sociedade e lhe dá sua primeira cultura (SILVEIRO, 2013). 
 
9 
 
 
E como se, há 6 ou 7 milhões de anos, nascesse no quadrante sudeste do 
continente africano um grupo de hominídeos denominados australopitecíneos, e, entre 
2,5 e 3 milhões de anos atrás, emergisse desse grupo polimorfo um ser, ainda 
Australopithecus ou já Homem, capaz de trabalhar a pedra e o osso, construir cabanas 
e viver em pequenos grupos, representando, através de todas as suas manifestações, 
a origem propriamente dita da humanidade criadora, do Homo faber. 
O último milhão de anos viu nascer o Homo sapiens e assistiu, durante os últimos 
séculos, à sua alarmante proliferação. Foram necessários 115 anos para que a 
população mundial passasse de um bilhão para 2 bilhões de indivíduos, 35 anos para 
que atingisse os 3 bilhões e mais 15 anos para que chegasse aos 4 bilhões. E a 
aceleração continua (SILVEIRO, 2013). 
 
 
Fonte: www.ambientalistasemrede.wordpress.com.br 
Ao tratar do problema da “hominização” na África, o procedimento do pré- 
historiador é bastante diferente daquele empregado pelo paleontólogo. Para este último, 
a hominização é o desenvolvimento progressivo do cérebro, que permite ao homem 
conceber e criar, aplicando técnicas cada vez mais elaboradas,um conjunto de 
utensílios tão diversificado e eficiente que multiplica, ao longo dos milênios, sua ação 
sobre o meio ambiente, a ponto de romper, em seu próprio proveito, o equilíbrio 
biológico. A evolução paleontológica que conduz ao homem não permite definir 
facilmente o “limiar” da hominização; a pedra lascada demonstra que esse limiar já foi 
transposto. 
 
10 
 
 
A posição do pré-historiador justifica-se: o verdadeiro (elo perdido) não é a forma 
intermediária entre australopitecíneos e pitecantropíneos, entre o homem de Neandertal 
e o Homo sapiens. Está entre as pedras ou os ossos lascados e esses fósseis. As 
indústrias pré-históricas, atribuídas com absoluta certeza ao Homo sapiens, a partir do 
Paleolítico Superior, e com uma evidência pouco discutível ao homem de Neandertal no 
Paleolítico Médio, só podem ser relacionadas hipoteticamente aos pitecantropíneos e 
australopitecíneos. 
Portanto, se para o paleontólogo existe um “limiar “da hominização a capacidade 
cerebral de 800cm3, para o pré-historiador existe um “limiar técnico” que, uma vez 
transposto, abre o caminho do progresso até nós. A definição desse limiar exige a 
solução de dois problemas: como e quando. O primeiro problema implica eliminar todas 
as causas naturais para poder reconhecer no utensílio a mão do homem. O segundo 
implica dispor de esquemas cronológicos que permitam datar as mais remotas 
evidências da indústria humana (SILVEIRO, 2013). 
Até o presente momento, somente a África forneceu respostas para esses dois 
problemas. 
Visto que a teoria do monogenismo é universalmente aceita, a África é 
considerada hoje como o berço da humanidade, fixado, por enquanto, na África Oriental. 
Esse fato teria ocorrido há uns 3 milhões de anos, no mínimo 
O homem fez sua entrada em silêncio, e são as pedras por ele lascadas que, 
muito tempo depois, denunciam sua existência. A responsabilidade do pré-historiador 
torna-se enorme pois, ao identificar os mais antigos traços perceptíveis de indústrias 
humanas, ele fornece um elemento de prova que a Paleontologia é incapaz de dar: 
“Através do utensílio, chegar ao homem. Esta é a finalidade admirável da pré-história” 
4 OS HOMENS FÓSSEIS AFRICANOS 
Charles Darwin foi o primeiro cientista a publicar uma teoria importante sobre a 
origem e a evolução do homem e a apontar a África como o seu lugar de origem. 
Pesquisas realizadas nos últimos cem anos confirmaram inúmeros aspectos do seu 
trabalho pioneiro. Há boas razões para se acreditar que a África seja o continente onde 
 
11 
 
 
os hominídeos surgiram pela primeira vez e onde desenvolveram a postura ereta e o 
bipedismo, elementos decisivos à sua adaptação. O período evolutivo é longo, sendo 
possível que muitas de suas fases não estejam representadas por espécimes fósseis. 
A diversidade de habitats é uma das razões pelas quais certas partes da África 
são tão ricas em testemunhos pré-históricos. Parece que o continente africano sempre 
ofereceu um habitat adequado ao homem. Quando uma determinada área se tornava 
muito quente ou fria, era possível migrar para ambientes mais apropriados. 
O homem atual, que pertence integralmente à espécie Homo sapiens, é capaz 
de viver em habitats muito diferentes graças ao desenvolvimento tecnológico. Os 
requisitos fisiológicos fundamentais são um cérebro complexo e volumoso, mãos livres 
de qualquer função locomotriz e disponíveis para a manipulação, e o bipedismo 
permanente. Essas características podem ser identificadas no tempo, assim como os 
vestígios não perecíveis da atividade técnica do homem. O grau de desenvolvimento do 
cérebro, a habilidade da manipulação e o bipedismo podem ser considerados os 
melhores pontos de referência de que dispomos para traçar o caminho percorrido pela 
nossa espécie ao longo do tempo (SILVEIRO, 2013). 
Várias descobertas importantes atestam a presença do Homo sapiens primitivo 
no continente africano há mais de 100 mil anos. É provável que pesquisas futuras 
possibilitem datar com precisão o mais remoto vestígio, cuja idade talvez esteja próxima 
dos 200 mil anos. Em 1921, um crânio e alguns fragmentos de esqueleto foram 
encontrados em Broken Hill, Zâmbia; sendo esse país a antiga Rodésia do Norte, o 
espécime tornou-se conhecido como Homo sapiens rhodesiensis. Data 
aproximadamente de 35.000, ao que se crê, e pertence à nossa espécie. Traços ainda 
mais antigos do Homo sapiens foram descobertos na África Oriental. Em 1932, o Dr. L. 
S. B. Leakey encontrou fragmentos de dois crânios no sítio de Kanjera, no oeste do 
Quênia. Pareciam estar associados a uma fauna fóssil do fim do Pleistoceno Médio 
tardio, o que implicaria uma idade de cerca de 200 mil anos. Esse sítio ainda não foi 
datado com precisão, fato lamentável, visto que os fósseis aí encontrados dois crânios 
e um fragmento de fêmur parecem pertencer à espécie Homo sapiens e poderiam 
constituir as evidências mais antigas da espécie conhecidas até agora na África. 
 
12 
 
 
Em 1967, foram descobertos restos de dois indivíduos em um sítio do Vale do 
Omo, no sudoeste da Etiópia. Consistem em um fragmento de crânio, partes de um 
esqueleto pós-craniano e a calota de um segundo crânio. Os dois fósseis provêm de 
camadas com idade estimada em pouco mais de 100 mil anos. Embora existam poucos 
espécimes do Homo sapiens primitivo entre os fósseis, parece razoável supor que essa 
espécie gozava de ampla difusão tanto na África quanto em outras partes do globo. 
Consideraremos aqui a origem do Homo sapiens dentro de uma linhagem que 
pode remontar a vários milhões de anos. Em diferentes épocas, provavelmente 
existiram nessa linhagem vários tipos distintos do ponto de vista morfológico, devendo 
a composição genética do homem moderno refletir, em parte, essa herança compósita. 
Os restos humanos fósseis da África, por suas características, podem ser unidos 
em dois grupos principais considerados como linhagens evolutivas, uma das quais, 
representada pelo gênero Homo, pode ser seguida até hoje, sendo que a outra, 
representada pelo gênero Australopithecus, aparentemente extinguiu-se há cerca de 1 
milhão de anos. Consideramos os hominídeos anteriores ao Homo sapiens com base 
nessas duas linhagens. 
A forma ancestral comum a ambas não pode ser facilmente identificada, pois os 
testemunhos fósseis são bastante fragmentários. O mais antigo hominídeo da África 
provém de Fort Ternan, no Quênia. O sítio foi datado de 14 milhões de anos, e seus 
fósseis provam que nessa época já havia ocorrido a diferenciação entre os hominídeos 
e os pongídeos. Os testemunhos fósseis entre 14 milhões e 3,5 milhões de anos estão 
bastante incompletos. Dispomos apenas de quatro espécimes que podem ser 
relacionados a esse período, todos provenientes do Quênia (SILVEIRO, 2013). 
A amostra bastante grande de espécimes encontrados em sítios com menos de 
3 milhões de anos indica a existência de dois gêneros distintos de hominídeos 
primitivos, que por vezes ocupavam a mesma área. Presume-se que essas duas 
formas, Homo e Australopithecus, habitassem nichos ecológicos diferentes, mas é fato 
comprovado atualmente a coexistência dos dois gêneros por um período superior a 
1.500.000 anos. 
Foi o Australopithecus o ancestral do Homo? Alguns especialistas tendem a 
pensar que as duas formas têm um ancestral comum, distinto de ambas. Cabe observar 
 
13 
 
 
que alguns pesquisadores classificam todos esses fósseis num mesmo gênero, o qual 
apresentaria uma grande variabilidade intragenérica e um acentuado dimorfismo sexual. 
A forma pré-sapiens mais conhecida do gênero Homo é a que foi atribuída a uma 
espécie morfológica bastante diversificada que se expandiu amplamente: Homo 
erectus, espécie encontrada pela primeira vez no Extremo Oriente e na China, depois 
na África. Essa espécie encontrava-se amplamente distribuída na África. A datação dos 
sítios da África do Norte e do Sul, onde se descobriuo Homo erectus, foi inferida, 
situando os aparentemente no Pleistoceno Médio (SILVEIRO, 2013). 
Os espécimes da África Oriental, datados de aproximadamente 1.600.000 anos, 
levam a crer que ele seja originário deste continente, tendo depois emigrado. 
Os fragmentos de membros indicam uma postura ereta, adaptação para a 
marcha e bipedismo com características próximas às do homem moderno. O Homo 
erectus fabricava e usava instrumentos de pedra e vivia de caça e coleta nas savanas, 
na África. Os especialistas são unânimes em relacionar o biface da indústria acheulense 
ao Homo erectus. A questão de se o Homo erectus é o estágio final de desenvolvimento 
que levou ao Homo sapiens está em aberto. Os fósseis atribuídos à linhagem Homo, 
anteriores ao Homo erectus, limitam-se, atualmente, à África Oriental. Essa espécie 
intermediária poderia ser chamada Homo habilis. 
Durante o Pleistoceno Inferior, por volta de 1.600.000 anos atrás, apareceram 
instrumentos bifaces rudimentares. Ainda não foi provado, mas podemos levantar a 
hipótese de que o aparecimento das indústrias pós-acheulenses está ligado à 
emergência do Homo sapiens (SILVEIRO, 2013). 
No momento, existem claras evidências de uma considerável diversidade 
morfológica dos hominídeos do Pliopleistoceno na África. A presença simultânea de 
pelo menos três espécies na África Oriental pode ser determinada com base no material 
craniano e pós-craniano. Qualquer reexame desta matéria deve incluir a análise do 
conjunto dos fósseis descoberto. 
 
14 
 
 
5 A FORMAÇÃO DOS REINOS, IMPÉRIOS, CIDADES E ESTADOS 
Contudo, você deve ter em mente que ainda não há informações disponíveis 
sobre algumas sociedades africanas da Antiguidade. A respeito de outras, existem 
apenas informações escritas vagas, provenientes de outros povos. De muitas, restam 
vestígios materiais (ruínas de cidades, templos, lugares de enterramento, etc.) em maior 
ou menor quantidade, já em processo de escavação e/ou pesquisa. Há ainda aquelas 
que se encontram enterradas e as que, como Cirta, antiga capital da Numídia, atual 
Constantina, continuam a existir, porém sobre ou ao lado da cidade antiga. Muito falta 
a escavar, decifrar, comparar e trabalhar para reconstituir a história dessas sociedades. 
A região norte africana, que vai do oeste do Egito Antigo até a Mauritânia, do 
Mediterrâneo ao norte até a região desértica do Saara, era inicialmente conhecida com 
Líbia, e seus habitantes, chamados líbios, eram diversos povos berberes. A região foi 
dominada alternada ou simultaneamente dado o seu tamanho, de forma pontual ou 
permanente, por diversos outros povos (egípcios, fenícios, gregos, romanos). Tais 
ocupações se deram a partir de negociações amigáveis ou em situações de conflitos 
Os fenícios e gregos, por conta do comércio, das navegações ou mesmo da 
busca por espaço para o excedente de seu povo, foram fundando cidades e colônias ao 
longo da costa, com tamanhos que podiam ir de um pequeno porto e entreposto 
comercial a cidades. Na longa duração, as populações pertencentes a uma variedade 
de tribos berberes e as das diversas povoações cidades estados de origem Fenícia, 
colônias gregas e, posteriormente, províncias tomadas pelos romanos aos demais 
povos mantiveram relações amistosas ou inamistosas, variando em grau e no tempo 
conforme as situações, os locais, os costumes e os interesses dos envolvidos (ALVES 
2019). 
Uma das cidades fundadas pelos fenícios foi Cartago, que, segundo o mito, foi 
construída em um território comprado de um chefe local. Era, como a maioria das 
cidades fenícias, uma cidade de mercadores e navegantes que comerciavam por todo 
o Mediterrâneo, desde a Síria Palestina ao Atlântico. Nem sempre o comércio era direto, 
pois na região da Hispânia os fenícios fundaram a colônia de Nova Cartago, a partir de 
onde provavelmente partiam para comerciar com a Grã-Bretanha. 
 
15 
 
 
Os cartagineses eram excelentes navegadores e tinham em sua cidade dois 
portos: um comercial e outro militar. Eles guerrearam com diversas cidades ao longo do 
tempo, preferindo, na maioria das vezes, contratar mercenários para fazer a guerra, seja 
porque a sua população era pequena, seja porque o comércio era o seu negócio real. 
Cartago se tornou independente com a queda de Tiro, no século VI a.C., mas a derrota 
das cidades fenícias não foi o fim de seu componente civilizacional, pois Cartago 
manteve em sua essência os elementos fenícios de sua fundação: organização política, 
linguagem, panteão, comércio e desenvolvimento marítimo (CARAYON, 2008). 
No século IV a.C., a cidade-estado de Cartago dominava a cena comercial e 
política no Ocidente. Segundo Warmington (2010, p. 476), após a queda de Tiro e das 
demais cidades fenícias sob o Império Neobabilônico, ela passou a “[...] exercer 
supremacia sobre as outras povoações fenícias do Ocidente, assumindo a liderança de 
um império na África do Norte, cuja criação teria profundas repercussões na história de 
todos os povos do Mediterrâneo ocidental [...]” 
Segundo Carayon (2008), Cartago controlava seus territórios por meio de 
acordos e tratados, sabendo como usar a força quando necessário para se defender ou 
atacar, como pode ser constatado nas Guerras Sicilianas, contra os gregos, ou nas 
Guerras Púnicas, contra os romanos. Ela era um império naval comercial que dominava 
o comércio mediterrâneo e tinha portos em lugares estratégicos. As disputas pela 
hegemonia no Mediterrâneo eram equilibradas enquanto ocorriam entre cartagineses e 
gregos. Contudo, lutando contra as forças romanas, os cartagineses não foram capazes 
de resistir e, depois de três guerras, chamadas Guerras Púnicas, sucumbiram 
(ALVES,2019). 
Essas guerras envolveram outros povos, como munidas e mauritanos, 
diretamente ou como mercenários. Elas custaram a Cartago não somente a hegemonia 
do Mediterrâneo, mas dinheiro, vidas, o próprio território e a existência. Os cartagineses 
sofreram a derrota final em 146 a.C. e tiveram a sua cidade destruída pelos romanos. 
Ela viria a ser refundada pelos próprios romanos posteriormente. A destruição da cidade 
foi completa, incluiu o Senado e a biblioteca. Foram derrubados prédios, casas e 
templos, depois incendiou-se tudo, não restando nada, nenhum escrito sobre Cartago 
para contar a história da cidade. Roma dizimou todo o povo da cidade e, com ele, uma 
 
16 
 
 
civilização; os que não morreram em batalha, de fome ou doenças, morreram 
assassinados pelos romanos. 
5.1 Reinos berberes 
Os reinos das regiões central e oeste do norte da África se constituíram a partir 
dos limites de Cartago, em direção oeste. Eles resultaram de confederações formadas 
por povos de origem berbere. Originaram-se de três linhagens: a dos mauros (mais 
tarde chamados “mouros”), situada na Mauritânia, na parte mais ocidental do norte 
africano; a dos massilos, que faziam fronteira com Cartago a leste e com a região central 
da Berbéria a oeste; e a dos masesilos, que se radicou nesta última região 
(BUSTAMANTE, 2012; KORMIKIARI, 2007). 
Esses reinos foram fundados por povos de origem e tradição berbere: nômades, 
seminômades, alguns em processo de sedentarização. Tais povos eram 
originariamente compostos por pastores transumantes, cavaleiros e agricultores de 
zona única ou temporária que praticavam igualmente o comércio e a guerra. São 
classificados como indígenas ou autóctones, a depender do autor. Sua tradição é tribal, 
com divisões clânicas e agnastícias (que descendem de linhagem masculina) 
(KORMIKIARI, 2007). São guerreiros, especialmente os númidas, cuja cavalaria era 
famosa na Antiguidade e que também aparecem na história como mercenários. 
Os massilos e os masesilos são chamados pelos autores antigos de “númidas”. 
Após a Batalha de Zama (202 a.C.), Siphax, o rei dos masesilos, é encurralado pelos 
massilos e derrotado. Dessa forma, a Numídia passa a ser um reino unificado sob 
Massinissa(ALVES,2019). 
Do Sul de toda a região ocupada por Mauritânia, Numídia, Cartago e demais 
cidades-estados vinculadas aos fenícios, aos gregos ou à própria Cartago até as 
fronteiras do Egito, os gétulos, também berberes e nômades, dominam o espaço no 
limite setentrional do Saara. Segundo Warmington (2010, p. 474), os gétulos são “[...] 
os verdadeiros nômades do Saara [...]”. Além disso, há diversos outros povos e tribos 
berberes e descendentes de gregos, fenícios e cartagineses (residentes em cidades e 
colônias) que convivem e dividem esses espaços. 
 
17 
 
 
As regiões próximas à costa mediterrânea, onde ficavam os reinos da Mauritânia 
e o dos munidas, eram favoráveis à agricultura e forneciam frutas em quantidade. Essa 
boa terra, também devido à sua posição geográfica, interessou aos romanos, que 
acabaram por transformá-la pouco a pouco em províncias romanas, após a queda de 
Cartago. 
6 O NORTE ORIENTAL DA ÁFRICA 
No espaço norte oriental da África Antiga, havia três grandes reinos: Egípcio, 
Kush e Axum. 
6.1 O Egito (3.200–32 a.C.) 
O Egito é o mais conhecido e pesquisado império oriental da Antiguidade. Ele 
exerce uma atração imensa sobre pessoas e pesquisadores do mundo todo. É um lugar 
exótico, carregado de mistérios a desvendar, a maioria deles relacionados às suas 
pirâmides e ao seu povo, sobre os quais foram tecidas as mais diversas teorias. O Egito 
encantou Napoleão, os ingleses e Hitler (ALVES,2019). 
O Egito é reconhecidamente um grande reino nilótico que, inicialmente, por suas 
características geográficas, viveu “para dentro” de seu território. Por volta do século VII 
a.C., formam-se agrupamentos de agricultores e pastores que, posteriormente, 
constituem os nomos, divisões territoriais com política e administração próprias, onde já 
havia divisões de trabalho, especialistas e desigualdade social. Por volta de 4.000 a.C., 
os dirigentes dos nomos se agrupam inicialmente em dois reinos, o do Sul e o do Norte, 
unificados em aproximadamente 3.200 a.C. por Menés (ou Narmer), na época rei do 
Alto Egito. Menés formou, assim, o Império Unificado do Alto e do Baixo Egito, 
submetendo os nomarcas e tornando-se o primeiro faraó. A história política do Egito 
Antigo se divide em: 
 Reino Antigo (3.200–2.100 a.C.) 
 Primeiro Período Intermediário (2.100–2.055 a.C.); 
 
18 
 
 
 Reino Médio (2.055–1.665 a.C.); 
 Segundo Período Intermediário (1.650–1.550 a.C.); 
 Reino Novo (1.550–1.070 a.C.). 
 
 Os reinos foram intercalados por fases denominadas “períodos intermediários”, 
usualmente representantes de épocas de convulsão social e desgoverno. Os egípcios 
desenvolveram uma civilização hierarquizada com diversos níveis de estratificação. 
Eles cultuavam diversos deuses, eram grandes arquitetos, artistas e escritores. 
Desenvolveram a navegação, a pesquisa médica e científica e os processos de 
mumificação. Além disso, praticavam o comércio de Estado (ALVES,2019). 
Com o passar do tempo, no Reino Novo, período em que se desenvolveu o 
imperialismo, os egípcios voltaram-se “para fora”, guerreando e conquistando territórios, 
até que foram conquistados pelos persas, em 525 a.C. Mais tarde, foram conquistados 
por Alexandre, o Grande (356–323 a.C.). Após a morte de Alexandre, na divisão do 
Império Alexandrino, o Egito ficou sob o domínio de Ptolomeu, que se tornou faraó. 
Posteriormente, no reinado de Cleópatra VII (69–30 a.C.), O Egito foi dominado e 
tornou-se província de Roma sob o governo de Augusto (63–14 a.C.). 
6.2 Núbia, o reino de Kush (2.700 a.C.–350 d.C.) 
Núbia é o nome dado a uma civilização antiga que se desenvolveu no território 
que vai da primeira à sexta catarata do Nilo, onde hoje se encontra o Sudão. Nesse 
território, começaram a se formar pequenas comunidades aproximadamente a partir de 
4.000 a.C. O reino se estendeu até o mar Vermelho. Os seus habitantes praticavam 
como atividades principais a agricultura e o pastoreio (carneiros, cabras, gado de chifre, 
cavalos e burros). Além disso, praticavam o comércio, produziam cerâmica, extraíam e 
exportavam minerais diversos (especialmente ouro e pedras preciosas). Ademais, 
realizavam trabalhos de metalurgia. Posteriormente, desenvolveram a escrita meroítica. 
O Império Kush era também rota de caravanas que circulavam “[...] entre o mar 
Vermelho, o alto Nilo e a savana nilo-chadiana [...]” (HAKEM; HRBEK; VERCOUTTER, 
2010, p. 322). Esse povo cultuava vários deuses, incluindo Amon, Ísis e Osíris, além de 
 
19 
 
 
outros de origem egípcia, como Apedemak (Figura 1), o deus-leão ou o deus 
Sebiumeker (Sbomeker). Como os egípcios, eles se dividiam geograficamente em Alta 
e Baixa Núbia, sendo unificados por volta de 2.400 a.C. 
 
 
Fonte: Hakem, Hrbeck e Vercoutter (2010, p.329). 
A arqueologia divide a cronologia do reino de Kush em etapas, aqui simplificadas 
(LEMOS, 2018): 
 
 Período de Kerma (2.700–1.550 a.C), com capital situada próxima à terceira 
catarata; 
 Período colonial (1.500–1.070 a.C), no qual o reino estava submetido ao 
Egito (ALVES,2019). 
 Período de Napata (1.100–250 a.C), com capital situada próxima à quarta 
catarata (entre 745 e 655 a.C., durante o segundo reino de Kush, os núbios 
 
20 
 
 
se expandiram, dominaram o Egito e fundaram a XXV dinastia egípcia, só 
se retirando do Egito quando foram derrotados pelos assírios); 
 Período merolítico (250 a.C–350 d.C), com capital em Meroé, situada ao sul 
de Napata, sendo um período marcado por mudanças culturais e materiais, 
incluindo a introdução da escrita merolítica, ainda não de todo decifrada. 
 
Para Hakem, Hrbek e Vercoutter (2010), a principal característica do poder 
político na Núbia e no Sudão central, desde o século VIII antes da Era Cristã até o século 
IV da Era Cristã, parece ter sido a sua extraordinária estabilidade e a sua continuidade. 
O povo que deu origem ao Império Núbio era de cultura autóctone. Ele praticava a 
eleição de reis e parece ter mantido a mesma linhagem em todo o período, assim como 
é patente o importante papel exercido pelas rainhas-mães “candaces” e outras mulheres 
da família real. Por outro lado, os seus ritos funerários sofreram algumas pequenas 
modificações a partir da colonização egípcia, sem, no entanto, se alterarem em sua 
essência. Os reis eleitos eram escolhidos entre candidatos designados pelos 
sacerdotes e, depois da coroação, eram reverenciados como deuses (DIODORO apud 
HAKEM; HRBEK; VERCOUTTER, 2010), 
Segundo Lemos (2018), há mais pirâmides na antiga Núbia, atual Sudão, do que 
no Egito. O autor explora e compara “[...] as dinâmicas e negociações culturais coloniais 
e imperiais, procurando discutir como a Núbia pôde utilizar elementos da cultura egípcia 
para criar seu próprio poder imperial [...]” (LEMOS, 2018, documento on-line). 
As relações entre núbios e egípcios ocorreram desde o início de suas histórias, 
com altos e baixos, atritos, paz e guerra, além de tomadas de território e poder. A Núbia 
possuía muito ouro, o que chamou a atenção dos egípcios a partir do Reino Médio. A 
partir do período colonial, as interações culturais envolveram aspectos como 
alimentação e formas de enterramento adaptadas ou subvertidas ao padrão cultural 
núbio. 
De acordo com Lemos (2018, documento on-line), “[...] no Período de Napata 
(1.100–250 a.C.), os núbios subverteram elementos egípcios para criar e reafirmar seu 
próprio poder e cultura [...]”. Nesse período construíram pirâmides e templos, 
desenvolvendo a complexidade cultural e expressando a grandeza que seu império 
 
21 
 
 
atingiu. É possível perceber a presença da refinada técnica egípcia de escrita 
hieroglífica em paredes que apresentam formas alimentares especificamente núbias. 
Essas técnicas, depois de apropriadas da arte egípcia, foram utilizadas como “[...] 
instrumento para representar símbolos de poder tipicamente núbios [...]” (LEMOS, 2018, 
documento on-line). No períodoseguinte, os cuxitas mudam a capital de Napata para 
Meroé; ainda hoje, discute-se se isso ocorreu por conta da guerra ou de alguma questão 
climática. 
Segundo Leclant (2010, p. 285), “[...] com a rainha Shanakdakhete (por volta de 
170 a 160) parece ter ascendido ao poder um matriarcado tipicamente local. É numa 
edificação em honra de seu nome, em Naga, que se encontram inscrições gravadas em 
hieróglifos meroítas [...]”. Em Meroé, as candaces, rainhas-mães, se tornam importantes 
elementos da política e da ritualística do poder. As meroítas eram rainhas guerreiras 
que governavam e comandavam exércitos e que negociaram com Augusto. Segundo 
Leclant (2010), o auge do Império Meroíta, atestado por diversas construções, ocorreu 
no período próximo ao início da Era Cristã (ALVES,2019). 
Os últimos anos do Império são pouco conhecidos: as pirâmides reais têm seu 
tamanho reduzido e os objetos importados se tornam raros, indicando o 
empobrecimento e a decadência do reino (ou o fechamento ao mundo externo), que se 
torna alvo para seus vizinhos territoriais a leste, os blênios, ao sul, os axunitas, e a 
oeste, os nubas. Leclant (2010) acredita que tenham sido os nubas vindos do Oeste os 
responsáveis pela queda do Império Meroíta. Veja: 
Por volta de +330, o reino de Axum, que se desenvolvera nos elevados planaltos 
da Etiópia atual, chegara rapidamente ao ápice de seu poder; Ezana, o primeiro 
monarca a adotar o cristianismo, atingiu a confluência do Atbara e se vangloriou 
de ter preparado uma expedição “contra os Nubas” que rendeu muitas presas de 
guerra. De tudo isso pode-se concluir que o reino meroíta já havia ruído na época 
da campanha de Ezana (LECLANT, 2010, p. 290). 
Assim, tem início o terceiro dos reinos orientais do norte da África, o reino de 
Axum. 
 
22 
 
 
6.3 O reino de Axum (I–VII a.C.) 
A região onde surgiu o reino de Axum era ocupada desde a Pré-História. A época 
pré-axumita pode ser subdividida em dois períodos: o período sul-arábico e o período 
intermediário (ANFRAY, 2010). A partir do século V a.C., surgiu e estabeleceu-se no 
planalto etíope do Norte uma civilização marcada pela influência sul-arábica, em que a 
agricultura era o principal meio de sustento e que prosperou durante os séculos V e IV 
a.C., entrando em decadência logo depois. Esse era um povo de agricultores e criadores 
de gado. A sua cultura não desapareceu totalmente nos séculos seguintes, mesmo após 
a sua decadência. 
Os axunitas preservaram parte de suas tradições agrícolas e arquitetônicas, 
traços da língua e da escrita. Além disso, muitas de suas construções se encontram nos 
mesmos sítios do período da civilização anterior à de Axum (ANFRAY, 2010). No 
período intermediário, “[...] vestígios arqueológicos evidenciam já uma cultura local com 
assimilação de influências estrangeiras. Percebe-se ainda, sem dúvida, elementos sul-
arábicos, mas não se trata mais de um influxo direto e, sim, de uma evolução interna a 
partir de contribuições anteriores [...]” (CONTENSON, 2010, p. 368). 
Os sítios desse período estão sendo estudados, mas ainda existem poucas 
informações a respeito deles. 
A região onde se forma o Império de Axum volta a florescer em meados do século 
III a.C., com a criação do porto de Adulis, no mar Vermelho, pelo rei Ptolomeu Filadelfo, 
espaço posteriormente ampliado por seu filho. Esse porto foi um dos maiores da 
Antiguidade e é citado no Périplo do Mar da Eritreia, editado no século I d.C. 
O reflorescimento, nesse período, é cultural, comercial e linguístico. 
Desenvolvem-se a agricultura, a criação de gado diversificado, as manufaturas, a 
metalurgia, a arquitetura, a navegação e o comércio de larga escala. Contenson (2010) 
afirma que, com o declínio de Meroé (reino de Kush) e dos povos sul-arábicos, os 
etíopes passaram a controlar o comércio da região, o que favoreceu a criação do reino 
no século II a.C. A religião é inicialmente politeísta, praticando-se culto a deuses de 
lugares diversos, como os do sul da Arábia e Meroé, além de deuses próprios. Ao 
mesmo tempo, o povo se considera descendente de Salomão, portanto judeu, até que 
 
23 
 
 
se converte ao cristianismo, quando os templos dos deuses antigos são transformados 
em igrejas. Assim, tal espaço era ocupado por um povo de variadas crenças que 
convivem entre si por determinadas temporalidades (ALVES,2019). 
Com relação ao judaísmo, considere o seguinte: 
Mesmo deixando de lado a narrativa do Kbre Neguest (Glória dos Reis), 
considerado pelos clérigos etíopes como um livro basilar de história e literatura, 
e no qual todos os reis de Axum são erroneamente ligados a Salomão e Moisés, 
certas tradições, transmitidas através dos séculos, aludem à presença de fiéis da 
religião judaica. Os indícios são a circuncisão e a excisão infantil, além do relativo 
respeito pelo sabá. Os cantos sagrados e as danças litúrgicas acompanhadas de 
tambores, sistros e palmas evocam a dança dos judeus e do rei Davi diante da 
arca da aliança (MEKOURIA, 2010, p. 427). 
Já a conversão do rei de Axum ao cristianismo é atribuída ao bispo Frumêncio, 
primeiro bispo de Axum, posteriormente santificado. Considere o seguinte: 
 
Do Século I ao século IV d.C., no Norte e Nordeste de África, assiste-se à 
presença da vanguarda intelectual do Cristianismo, que veio a sucumbir com o 
aparecimento do Islamismo e do seu ímpeto a partir do século VII. Assim, no 
Egito, na Núbia, no Sudão e na Etiópia o Cristianismo foi convictamente adaptado 
pelos povos africanos dessas regiões às suas próprias culturas e assumiu 
prestígio relevante nessa época. Documentos históricos, nomeadamente 
arquitetônicos e monumentais, dão conhecimento dessa mesma realidade 
(BRANCO, 2010, p. 64). 
Alguns detalhes que merecem atenção dizem respeito à língua antiga, que se 
manteve apesar de algumas alterações, como o sentido da escrita e da leitura. Convém 
notar que a Igreja Ortodoxa Etíope mantém a sua força até os dias atuais no antigo 
território axunita, hoje Etiópia. Eles ainda utilizam a língua ge’ez como língua ritual em 
suas cerimônias, da mesma forma como faziam os cristãos europeus em suas missas, 
embora não existam falantes cotidianos desse idioma (ALVES,2019). 
A lenda de que esse império foi fundado por um filho de Salomão e da rainha de 
Sabá persiste no imaginário, e supõe-se que um dos túmulos encontrados na região 
seja o da rainha. O local onde se desenvolveu Axum está cheio de sítios arqueológicos 
que são escavados e estudados; assim, espera-se que, no futuro, seja possível 
esclarecer mais sobre a história desse povo. Sabe-se sobre os reis de Axum 
 
24 
 
 
especialmente por meio da numismática, já que eles marcaram época ao realizar a 
cunhagem de moedas. 
7 OS POVOS AFRICANOS DO SAHEL: CARACTERÍSTICAS SOCIAIS 
Desde 4000 a.C., antes dos egípcios, os povos do Saara já trabalhavam com 
barro e praticavam o pastoreio. Devido à desertificação do Saara, contudo, eles não se 
fixaram na região. Os poucos que se mantiveram por lá tornaram-se nômades, como os 
líbio-berberes, antepassados dos atuais tuaregues (VISENTINI; RIBEIRO; PEREIRA, 
2007). 
O deslocamento dos caucasoides para o norte e o nordeste da África, enquanto 
os negroides se direcionavam para o sul, inclusive para o Sahel (Figura 1), gerou um 
aumento populacional e, consequentemente, o desenvolvimento da agricultura para 
manter a população em crescimento (VISENTINI; RIBEIRO; PEREIRA, 2007). Para 
Silva (2011), predominava uma “agricultura deambulante”, em que se explorava a terra 
por alguns anos e, quando se chegava ao esgotamento dela, buscava-se uma nova 
área para o cultivo. Além disso, acontecia o deslocamento mais frequente com os povos 
pastores. 
 
Fonte: Sahel Map (2018, documento on-line). 
 
25 
 
 
No período de chuva, os animais eram levados da savana para o Sahel para fugir 
da expansão da tsé-tsé (uma mosca condutora de um tipo de protozoário que infectainsetos e vários mamíferos e que se abriga em matas úmidas). Assim, os povos 
aproveitavam o ressurgimento do verde nas margens do Saara. No verão, retornavam 
para a savana em busca de bons pastos. A transumância favorecia a relação comercial 
entre pastores e agricultores. Na savana, eles trocavam leite e estrume por tubérculos, 
cereais e cabaças. No período de seca, os agricultores eram favorecidos pela presença 
do gado em suas terras, pois o esterco adubava o solo. Contudo, eles temiam o 
crescimento desse rebanho ou a sua chegada antes do período sazonal, por ameaçar 
as colheitas (CAMPOS,2019). 
Segundo Niane (2010, p. 172–174), no Sahel, os povos: 
[...] se encontravam nas cidades setentrionais do Sudão, como Takrur, 
Awdaghust, Kumbi-Sleh, Walata e Tombuctu. Da foz do Senegal, no Atlântico, 
até a curva do Níger, viviam os nômades Fulbe (Fulani), criadores de bovinos. 
[…] no século XIV, contudo, alguns grupos Fulbe haviam se infiltrado bem ao sul 
e tendiam a sedentarizar-se, especialmente na região de Djenné, bem como na 
margem direita do rio Sankarani, perto de Niani, e na zona do Takrur. Os 
agricultores sahelianos — Tukuloor, Soninke e Songhai —, todos eles 
islamizados já nos séculos XI e XII, viviam em grandes aldeias. Nessa região de 
planícies, as comunicações eram fáceis, o que favorecia a fundação de cidades 
novas e a constituição de cultura comum, mesmo entre povos que não falavam a 
mesma língua. 
A organização social dos povos sahelianos fez com que alguns grupos se 
dividissem em reinos e impérios, ou se mantivessem em agrupamentos muito 
pequenos. Esses agrupamentos praticavam a caça e a coleta ou a plantação para a 
subsistência. Enquanto ocupassem a terra para a sua sobrevivência, detinham o seu 
usufruto, sendo que tudo o que era cultivado ou nascesse nela era da posse da família 
ou do grupo. A terra era distribuída para os chefes de família pelo conselho de anciões, 
pelo chefe da aldeia ou pelo rei. Os chefes podiam cultivar um ou mais lotes de terra. 
Esse regime ocorria em regiões em que era possível a rotatividade do solo alguns 
anos de cultivo e outros de repouso. No momento em que a terra entrava em descanso, 
o chefe de família precisava ter um novo trato de terra. Dessa maneira, a alocação da 
terra passava por várias gerações, ficando na família, que assim herdava o uso da terra 
(SILVA, 2011). Mesmo detendo o usufruto da terra, na África ela não se tornava uma 
 
26 
 
 
propriedade da família, do chefe da aldeia ou do rei. A consciência de poder político 
estava calcada nas concepções religiosas e morais. 
Tanto se a organização social fosse simples quanto se fosse complexa, o núcleo 
de base, nos povos do Sahel, era a família estendida (clã ou linhagem). Ela era 
organizada em uma ordem patrimonial ou matrimonial. Veja o que afirma Souza (2006, 
p. 31): 
O chefe de família, cercado de seus dependentes e agregados, era o núcleo 
básico da organização na África. Assim, todos ficavam unidos pela autoridade de 
um dos membros do grupo, geralmente mais velho e que tinha dado mostras ao 
longo da vida da sua capacidade de liderança, de fazer justiça, de manter a 
harmonia na vida de todo dia. 
Conforme Souza (2006), percebe-se que a concepção de chefe nas sociedades 
sahelianas é diferente da concepção moderna, a de um indivíduo autoritário e temido. 
Naquela sociedade, um chefe não estava acima do grupo; ele pregava a união entre 
todos, fazendo com que exercessem a solidariedade em uma estrutura complexa de 
interdependência. Além disso, o poder não era hereditário, apesar de muitas vezes 
acontecer a sucessão dentro da mesma família. Segundo Pereira (apud VISENTINI; 
RIBEIRO; PEREIRA, 2013, p. 27), o “[...] herdeiro natural e direto do chefe morto, por 
exemplo, não necessariamente assumia o lugar do mesmo”. 
Na sociedade africana, a religião estava presente no exercício do poder, pois a 
autoridade das lideranças era calcada no sobrenatural. Depois de serem reconhecidos 
pelos membros do seu grupo, os chefes deviam ser legitimados pelos sacerdotes, que 
trabalhavam pelo bem-estar da comunidade. Os sacerdotes consultavam entidades 
sobrenaturais como os deuses locais, espíritos ancestrais que tinham relação com a 
fundação da comunidade e eram responsáveis pelos recursos naturais da região. A 
cosmovisão africana era decifrada e controlada pela religiosidade nessas sociedades 
(SOUZA, 2006). 
O comércio interno de produção simples e a organização do trabalho com base 
na pequena família (clã ou linhagem) e na terra geraram uma sociedade tributária-
mercantil que sobrepôs um reino a outro ou a um grupo. Isso promoveu o poder e a 
riqueza de alguns impérios que, calcados no excedente, deram origem ao comércio de 
longa distância (VISENTINI; RIBEIRO; PEREIRA, 2013). A cultura e a religião são dois 
 
27 
 
 
elementos fundamentais para o entendimento da sociedade tradicional africana e dos 
desdobramentos de sua relação tributária-mercantil com outros povos. 
8 AS RELAÇÕES POLÍTICAS E ECONÔMICAS NA CONSTITUIÇÃO DAS 
SOCIEDADES SAHELIANAS 
O islamismo teve forte influência nas questões político-administrativas dos povos 
do Sahel. No momento em que estados africanos tornavam-se muçulmanos, isso os 
favorecia e permitia o maior desenvolvimento do seu comércio. Os azanegues e os 
tuarengues eram os povos que faziam a intermediação entre o Mediterrâneo e o Sahel. 
Eles montavam seus acampamentos nas áreas mais férteis, próximas aos rios e lagos, 
onde deixavam seus animais descansarem. Nessas regiões, aproveitavam para criar 
vínculos com os povos locais e estabelecer comércio. Em torno desses acampamentos 
temporários, formaram-se cidades como Tombuctu. As cidades se concentravam 
principalmente em locais de comércio. Os agricultores e pastores se estabeleciam perto 
dos mercados para abastecer com alimentos o grupo de nômades e os comerciantes 
locais (SOUZA, 2006). Segundo Souza (2006, p. 34): 
[...] do Norte vinham sal, tecidos, contas, utensílios e armas de metal. Do Sul 
vinham ouro, noz-de-cola, marfim, peles, resinas, corantes, essências, que eram 
levados para o norte pelos comerciantes fulas, mandigas e hauças. Estes eram 
guiados pelos tuaregues e outros povos do deserto. 
Como as cidades abrigavam uma população voltada para atividades diversas e 
com interesses distintos, precisaram de um sistema de governo complexo. Algumas 
centralizavam o poder em um governante e em seus auxiliares. Assim, buscavam o 
sucesso de seu reino expandindo seus limites, acumulando riquezas e ampliando sua 
influência sobre povos vizinhos. O Mali é um dos impérios que foi além do seu próprio 
território (SOUZA, 2006). 
 
 
 
 
 
28 
 
 
8.1 Reino de Gana 
O reino de Gana localizava-se entre o deserto do Saara e os rios Níger e Senegal 
ele foi fundado no século IV, pelos povos da etnia Soninke ou Sarakolle (NIANE, 2010). 
Entretanto, era governado pela dinastia dos Magas, uma família berbere que 
ficou no poder até o século XVIII. A capital de Gana era Kumbi Saleh e abrigava 
aproximadamente 15 mil pessoas. A maior parte da população era formada por 
agricultores. O enriquecimento do reino ocorreu devido à sua localização, no extremo 
sul da rota comercial do Saara, e pela existência de reservas de metal. Desde o século 
VIII, no Marrocos, a região já era conhecida como a “terra do ouro”. Ela mantinha 
comércio com o norte da África, trocando tecidos, noz-de-cola e ouro. Trocava-se 
principalmente ouro por sal, pois o tempero era raro na região das savanas e, por isso, 
considerado valioso. 
Por volta do século X, o reino de Gana atingiu o seu apogeu e atraiu a atenção 
dos árabes. Segundo Assumpção (2008), após diversos ataques dos povos 
Almorávidas do Magreb, isto é, grupos de muçulmanos cujos primeiros adeptos viviam 
no Saara Meridional e que procuravam expandir o Islã nessa região, Gana acabou 
sucumbida e por volta de 1240, o reino de Gana entrou em declínio,sendo destruído 
pelo povo do Mali. Outro motivo do declínio foi a perda do domínio do comércio do ouro, 
assim como a ascensão de outros impérios sudaneses, como Tecrur, Zafum e Sosso. 
8.2 Império do Mali 
O império do Mali, localizado no alto do Níger entre o século XIII e o XV, era 
considerado o império mais importante da savana ocidental. O seu início está 
relacionado ao desenvolvimento de um pequeno Estado chamado Kangaba 
(VISENTINI; RIBEIRO; PEREIRA, 2007). A origem desse império está nos povos de 
língua mandê que habitavam em um kafu (conjunto de aldeias cercadas por terras 
cultivadas) no vale do Níger, governado pelos famas (descendentes dos primeiros 
habitantes do vale do Níger), donos da terra. Eles expandiram-se pela região até o 
 
29 
 
 
deserto e a floresta, também nas províncias conquistadas, mantendo vassalos semi-
independentes. 
Por volta do século XIII, o guerreiro Sundiata (responsável pela junção de várias 
comunidades maliquês) foi coroado como o grande rei do Mali devido à expansão em 
territórios maliquês, vencendo os nossos (antigos subordinados de Gana). Sundiata 
fundou uma nova capital, Niani. Além disso, incorporou ao seu domínio o império de 
Gana, incluindo os territórios ao longo dos rios Gâmbia e Senegal e pelo alto Níger, 
assim como as minas de ouro de Bambuk e de Buré (MATTOS, 2007). 
Dessa forma, passou a controlar todo o comércio de ouro e sal transaariano. A 
organização política do Mali abrangia desde os reinos até as aldeias, tudo sob a 
influência do rei, que cobrava tributos, gerenciados pelo conselho de anciões. A 
sociedade era organizada de forma hierárquica. No topo, ficava o rei do Mali, 
denominado mansa; logo abaixo, a linhagem real, o clã dos Queitas, a nação mandinga 
e outras nações. Em cada nação, existiam famílias reais, nobreza, homens livres, servos 
e escravos. 
A sucessão do reino podia ser patrilinear ou fratilinear. Ou seja, tanto o filho 
quanto o irmão do rei poderiam substitui-lo no poder. Foi no século XIII que o filho de 
Sundiata, Uli, o sucedeu no trono do Mali e passou a controlar os grandes centros 
comerciais do Sahel, Tombuctu, Ualata, Djenné e Gaô. Tombuctu localizava-se ao 
noroeste do Níger e era a cidade mais famosa da região, por ser um ponto de encontro 
de várias rotas comerciais e local de descanso de muitas caravanas que atravessavam 
o deserto. Djenné ficava na região do rio Bani e era considerada um grande centro 
agropecuário e comercial, ligando a savana, o cerrado e a floresta. Tombuctu e Djenné 
se desenvolveram mais ainda no século XIV, devido à integração do comércio 
transaariano. 
O comércio era realizado pelos soninquês e mandingas, também conhecidos 
como uângaras ou diulas, que atravessavam a savana e a floresta. No século XIV, o 
Mali começou a entrar em decadência devido às disputas de sucessão entre os 
descendentes de Sundiata Keita, o que ocasionou a desintegração do reino em 
pequenos Estados. 
 
30 
 
 
8.3 Império de Songhai 
Desde o final do século XIII, Songhai tentava obter gradativamente a sua 
independência do domínio do império do Mali, sendo que a conquistou um século 
depois. Mas foi no século XV, com sonni Ali Ber, que Songhai atingiu o seu apogeu e 
expandiu o seu território, tomando Djenné, Tombuctu e Ualata do Mali. Nessas cidades 
conquistadas, passou a explorar a agricultura e o comércio. Além disso, tomou as 
aldeias bambaras e o reino de Mema e recuperou o controle das rotas comerciais 
caravaneiras em Gaô. O império de Songhai tentou ainda tomar as terras dos mossis, 
fulas e dogons, que foram de domínio do Mali, entretanto não conseguiu incorporá-las. 
Com a morte de sonni Ali Ber, em 1492, os membros da família real e a nobreza 
militar começaram a disputar o poder, o que gerou a divisão do Estado (MATTOS, 
2007). 
Em 1493, ocorreu um golpe de Estado militar, chegando ao poder a dinastia 
Ásquia, sob o governo de Ásquia Muhammed (M’BOKOLO, 2009). No seu governo, ele 
criou um exército profissional, melhorando a qualidade dos guerreiros. Além disso, 
reduziu os tributos cobrados à população, liberando a produção agrícola, artesanal e 
comercial. Com a expansão do território de Songhai, foi implantada uma política 
administrativa para cada região, mas todas sob o controle do rei. Da região de Dendi, 
para além de Djenné, os vassalos e um núcleo de várias províncias eram comandados 
por parentes ou pessoas próximas ao rei, denominados farma ou farima. A parte 
ocidental era governada por um vice-rei, chamado curmina-fari. E a região oriental ficava 
sob o comando de outro vice-rei, com a denominação dendi-fari (MATTOS, 2007). 
O fim do reinado de Muhammed iniciou uma luta entre as dinastias, e os ataques 
dos impérios vizinhos geraram o enfraquecimento do Estado. Além disso, a invasão dos 
berberes e do império marroquino, em 1591, terminou de vez com o império de Songhai 
(VISENTINI; RIBEIRO; PEREIRA, 2007). 
 
 
31 
 
 
8.4 Tecrur 
O reino Tecrur ficava localizado nas margens do rio Senegal, ponto privilegiado 
pela ligação entre o deserto, a savana e também o litoral Atlântico e o interior. Por volta 
do século IX, esse reino era constituído por agricultores sererês, que deram origem aos 
tuculores, e pelos pastores fulas, do Saara. Os tuculores eram os grandes comerciantes 
islamitas de ouro e escravos. 
A primeira dinastia do reino foi a Diáogo, composta pelas fulas ou berberes. No 
final do século X, essa dinastia foi substituída pelas manas, do Estado de Diara, que 
permaneceram por 300 anos no poder. No século seguinte, o rei tuculor Uar-Jabe ibn 
Rabis se converteu ao islamismo, propagando essa doutrina religiosa por meio da força 
e pela catequese, com o auxílio dos mercadores tuculores. Segundo Mattos (2007, p. 
27), “Os mercadores de Tecrur comercializavam ouro, escravos, âmbar, cobre, goma, 
contas, lã e sal pelas rotas do Atlântico ou por Audagoste, fazendo chegar esses 
produtos até Marrocos, Gana e Níger”. Tecrur tornou-se concorrente de Gana ao 
expandir o seu território até Barisa, que era um ponto comercial de ouro sob influência 
desse reino. 
No século XIV, as manas perderam o poder para os sereres e mandês da dinastia 
de Tondions, que no século seguinte acabaram sendo substituídos pelas fulas de Lam-
Termes. Nesse mesmo período, o Tecrur foi invadido por guerreiros externos, o que 
ocasionou a sua divisão em pequenos reinos (MATTOS, 2007). 
8.5 Kanem e Bornu 
Os reinos Kanem e Bornu surgiram a leste de Songhai, entre o rio Níger e o lago 
Chade. Muitos povos se instalaram nessa região para fugir da seca do Saara. O reino 
de Kanem tem a sua fundação atribuída aos zagauas, nômades do Sahel. Outra versão 
está relacionada à ideia de fortalecer a conversão de Kanem ao islamismo e levar a 
dinastia Sefau ao poder. Segundo Mattos (2007, p. 29), “Ibrahim, o filho de um grande 
herói árabe Saife inb Dhi Yazan viajou para o Sudão Central e tornou-se líder dos 
magumis, nômades do nordeste do lago Chade, conquistando vários grupos dessa 
 
32 
 
 
área”. Enfim, existem várias versões sobre a origem do Kanem, todas relacionadas à 
submissão entre povos, os mais fracos sob o comando dos mais fortes em função da 
supremacia militar, do domínio da metalurgia do ferro, do uso do cavalo ou da estratégia 
comercial. Nessa região, havia comércio de escravos, que eram vendidos para o norte 
da África como concubinas, eunucos, soldados e criados. 
No reino de Kanem, o escravizado era utilizado para pagar tributos e compor 
exércitos, bem como para o trabalho na agricultura e no pastoreio. Os escravos eram 
adquiridos pelo reino por meio de sequestros e ataques às aldeias próximas. Esses 
ataques também serviam para a expansão territorial do reino; os vizinhos tornavam-se 
vassalos em troca de proteção. No século XIV, Kanem entrou em decadência devido a 
várias guerras contra os saôs e por ser invadido pelos reinos vizinhos, que queriamescravizar a sua população. Por volta do século VII, os saôs chegaram à região, vindos 
do Norte, e se instalaram no curso inferior do rio Logone e no delta do Chari (LOPES, 
2011). O rei Umar ibn Idris abandonou Kanem e foi com o seu exército para Bornu, no 
planalto de Chade. 
Bornu era uma região com inúmeras terras fertéis e, conforme Mattos (2007), 
tinha possíveis fontes para a captura de indivíduos. Além disso, era a saída de rotas 
comerciais para a África do Norte e para o Egito. A população em Bornu era canúri, ou 
seja, uma mistura dos povos canembus e saôs. O reino de Bornu era formado por 
aldeias, que se organizavam em torno dos chefes tradicionais, os bulamas, que se 
submetiam aos representantes militares do rei, os maína. O rei governava com o apoio 
dos maína e pela influência da rainha mãe, magira, e da rainha irmã (MATTOS, 2007). 
Os produtos que comercializavam eram escravos, que trocavam por cavalos 
vindos da África do Norte. Conforme Mattos (2007, p. 30), “Cada cavalo valia em torno 
de 15 a 20 escravos”. Além disso, como Kanem, Bornu guerreava com povos vizinhos 
para adquirir o seu produto. 
 
 
33 
 
 
8.6 Reinos iorubás: Ifé e Benin 
Os reinos iorubás foram constituídos da diversidade de povos e sociedades que 
habitavam as regiões ao sul, ao sudeste e ao sudoeste dos rios Níger e Benué há 
milhares de anos. Nessa área, viviam os povos de línguas edo, idoma, iorubano, ibo, 
ijó, igala, nupe, entre outros de origem linguística níger-congo (MATTOS, 2007). 
Por volta do século VI, Ifé começou a se estruturar em pequenas aldeias 
agrícolas que desenvolviam um comércio simples entre si. Alguns anos mais tarde, 
tornou-se um centro comercial importante devido ao desenvolvimento da metalurgia do 
ferro e à sua localização geográfica, na rota entre o rio Níger e Cotonu, constituindo um 
entreposto entre a savana, a floresta e o litoral. Conforme Mattos (2007), o comércio se 
dava de Ifé para Gaô, que fica ao norte, para as cidades hauças e para os povos de 
Ijebu, ao sul. Os produtos levados eram sal, ouro, marfim, dendê, pimentas, noz-de-
cola, inhame, peixe seco e gomas. 
Além de ser um entreposto comercial, Ifé era uma cidade-estado e recebia 
tributos de outros minis estados. Era considerado um centro religioso do povo iorubá 
por ser o núcleo de origem de outras cidades. Segundo Lopes (2011, p. 164), “[...] de 
Ilê-Ifé, especificamente da localidade de Itajerô, teriam saído 27 descendentes de 
Odudua para fundar várias cidades e províncias, inclusive a que constituiria, mais tarde, 
o reino de Benin” 
Benin era um dos minis estados subordinados a Ifé e foi fundado pelos povos 
edos. Era organizado por um chefe (ovie/ogie), representante da unidade de várias 
comunidades administrativas, pelas linhagens e pelos grupos de anciões. Os mais 
velhos tinham o poder de legislar sobre as terras e os costumes das aldeias agrícolas, 
além de orientar o trabalho de alguns grupos. Os problemas e disputas na comunidade 
eram resolvidos nos santuários criados em homenagem aos ancestrais. As funções 
administrativas e políticas eram divididas de acordo com a hierarquia de geração. Os 
adultos cuidavam da proteção e das atividades principais, enquanto os mais novos eram 
encarregados de pagar os tributos ao obá (rei). 
Em termos econômicos, os reinos iorubás não eram grandes produtores 
agrícolas, pois as terras da floresta não eram muito fertéis. Apesar disso, cultivavam 
 
34 
 
 
inhame, melão, feijão, pimentas-de-rabo, anileiras e algodão. O que mantinham era o 
comércio, pois eram entrepostos de mercadores. Eles se expandiram em direção às 
rotas comerciais com o intuito de controlar as atividades mercantis e dominar outros 
pontos, como Aboh, Onistsha e Eko (MATTOS, 2007). 
9 AS CARACTERÍSTICAS DA ÁFRICA CENTRO-OCIDENTAL E ORIENTAL 
O objetivo desta seção é apresentar as características gerais dos povos e reinos 
da chamada África Centro-Ocidental. Conforme Mattos (2007), próximo ao rio Zaire e 
das savanas ao sul da floresta equatorial, predominavam os povos bantos. Por volta do 
século XIII, surgiu o Estado de Luba, que mais tarde incorporou outras aldeias e formou 
um império. 
O Reino de Luba era composto por diferentes aldeias e pelo rei, descendente das 
linhas de guerreiros (Kalala Ilunga e Kongolo), o qual era o grande responsável pela 
proteção, fertilidade e prosperidade de todos, com a ajuda dos representantes 
escolhidos pelas aldeias. 
Já no vale do Kalany, às margens do rio Bushimai, viviam pescadores e 
agricultores de origem Lunda. Os chefes das diferentes aldeias (Cabungu) eram 
senhores respeitados entre as comunidades e considerados líderes espirituais. À 
medida em que as aldeias cresciam, um novo indivíduo era erguido à condição de chefe 
dos grupos, sempre mantendo os laços de parentesco e políticos. Por volta do século 
XV, ocorreu a centralização do poder e a expansão dos limites do reino (como a 
incorporação de aldeias dos vales Kalany, Lulua e Cassai), formando uma nova 
estrutura política em torno do Império Lunda. Aos poucos, diferentes grupos opositores 
abandonaram o Império e seguiram para regiões do Oeste em direção à Angola. 
9.1 Reino do Congo 
O Reino do Congo teve origem entre 1350 e 1375, com Nimia Nzima, que, ao 
longo do tempo, expandiu o território e domínios mediante conquistas e alianças com 
diferentes regiões, sobretudo, aquelas ao sul do rio do Congo. Seu filho e sucessor, 
 
35 
 
 
Lukeni lua Nimi, empreendeu uma política semelhante e estendeu o poder sobre 
organizações políticas na região norte do rio do Congo, anexando áreas como Vugu, 
Ngoyo e Kakongo. Esse mesmo rei conseguiu alcançar domínios até a região de 
Mbanza Kongo, para onde mudou a capital e fundou, por volta do século XV, um estado 
que se chamaria Congo (ou Kongo), formado por comunidades que compartilhavam o 
grupo linguístico banto, sobretudo os bakongo (CORREIA, 2012). 
Em termos de atividades agrícolas, a região do Congo possuía terras férteis, 
onde os povos plantavam coco, banana, dendê, sorgo, milho, inhame, cola. O sal era 
um elemento importante a ser extraído, e muitos dedicavam-se à caça, à pesca, à 
criação de porcos, cabras, galinhas e cães. Outras atividades também se destacavam, 
como a tecelagem, artesanato e metalurgia (MATTOS, 2007). 
Em termos de estrutura social e política, os nobres moravam nas cidades e 
somente se deslocavam para as províncias quando alçavam algum cargo 
político/administrativo. A alta nobreza, por sua vez, era composta por parentes do rei ou 
um de seus predecessores, constituindo, assim, casas bilaterais interligadas por 
alianças matrimoniais. Frente às aldeias, a nobreza formava um bloco que era 
determinante no acesso às terras (CORREIA, 2012). 
Devido a essa estrutura, pode-se dizer que a nobreza era caracterizada como 
um dos elementos mais importantes e significativos para a coesão social, sobretudo nas 
cidades. Por fim, ao final do século XV, os domínios do Congo englobavam territórios 
da costa oeste do Atlântico, do rio Zaire até Luozi (norte), rio Inquisi (leste) rio Loje ou 
Dande (sul) e a ilha de Luanda (MATTOS, 2007; CORREIA, 2012). 
9.2 Reino de Ndongo (Angola) 
Os territórios do Reino de Ndongo compreendiam faixas de terras entre dois 
importantes rios: o Kwanza e o Bengo. Cercado por importantes reinos como o Congo 
e Matamba, Ndongo era habitado por povos Mbundus de origem banto, falando língua 
Kimbindu. A principal autoridade entre os Mbundus era o Ngola, título que deu origem 
à designação Angola. Entretanto, conforme afirma Carvalho (2011), o poder do Ngola 
era restrito e muitos dos chefes das tribos (sobas) locais reconheciam sua autoridade 
 
36 
 
 
apenas como mística ou espiritual, como, por exemplo, o dom de fazer a chuva, mas 
não reconheciam a sua legitimidade política. 
No século XVI, o poder de Ngola aumentou e Kiluanji efetivou a centralização do 
poder. Com isso,passou a controlar a religião, a política, o comércio e os depósitos de 
ferro. Desse modo, o Reino de Ndongo era um estado organizado, sendo o rei 
assessorado pelo tendala, que o auxiliava administrativamente em tempos de guerra e 
paz, pelo Ngolambole que era o chefe de guerra. 
9.3 África Oriental 
De acordo com Mattos (2007), por volta do século VI, nas terras próximas ao rio 
Juba ou a Lamu existia o reino Xunguaia, que supostamente tenha originado a cultura 
suaíli. Seus habitantes eram caçadores e agricultores bantos e pastores cuxitas. Alguns 
historiadores acreditam que os suaílis seriam agricultores bantos, vindos dos Grandes 
Lagos e das montanhas de Kwale, que desde o ano 500 se expandiram pela costa. Em 
várias cidades-estado da África Oriental, como Quíloa, Mogadixo, Mombaça, 
Moçambique, Zanzibar, Mafi a, Melinde, a organização política concentrava-se na figura 
de um sultão ou xeque, que governava com o apoio de um conselho, aparentemente 
com base nas leis islâmicas (MATTOS, 2007, p. 44). 
Na região da costa índica, as cidades já desenvolviam intensas atividades 
mercantis, o que, por sua vez, permitiu que os habitantes dessa região entrassem em 
contato com os povos árabes, persas e romanos, permitindo também diferentes trocas 
culturais. Mattos (2007) aponta que, de fora do Continente Africano, chegavam em 
grandes navios árabes e indianos diversos mercadores de luxo, dentre elas o vidro e 
cauris, das Maldivas. Grupos mais abastados realizavam suas refeições em louças 
chinesas ou persas, já os mais pobres comiam em torno de uma grande panela de 
cerâmica, comunitária. 
Entre os séculos XII e XIII, por exemplo, a cidade de Quiloa tornou-se um 
importante centro comercial, o que permitiu o desenvolvimento dessa região. Seus 
habitantes eram pescadores bantos, mas que possuíam grande conhecimento em 
metalurgia do ferro e cobre e produziam artefatos de cerâmica vermelha. Os produtos 
 
37 
 
 
comercializados giravam em torno de frutas, peixes, sal, cereais e o gado. Mais tarde, 
incluíram produtos como marfim e peles, no intuito de estabelecer relações comerciais 
com a Arábia, Índia, Pérsia e China. 
A partir do século XV, a cidade de Quiloa declinou em termos comerciais devido 
à concorrência com outras regiões, entretanto, outras cidades da região do Índico 
também se desenvolveram, como é o caso de Mombaça, Zanzibar e Melinde. 
9.4 Grande Zimbabue e o Reino de Monotapa 
Os povos bantos que chegaram a região dos rios Zambeze e Limpopo, por volta 
do primeiro milênio, desenvolveram práticas como a da agricultura, do pastoreio e da 
metalurgia. No século XII iniciou-se a exploração de ouro nessa região, onde havia 
diversas jazidas (CAMPO,2019). 
Segundo Fagan (2010), no século XV o Grande Zimbábue tornou-se um 
importante centro comercial e os seus soberanos exerciam monopólio sobre as 
atividades de trocas. Era vantajoso para o negociante estrangeiro trabalhar em 
cooperação com os dirigentes, pois isso poderia garantir maior segurança e lucros. 
Mattos (2007) aponta que também no século XV o Grande Zimbábue entrou em 
decadência e isso se deu por diferentes motivos: a diminuição das águas do rio Save, 
a presença o mosquito tsé-tsé, que prejudicava a criação de gado, o crescimento 
populacional, o esgotamento do solo e de animais de caça. Esses fatores levaram o 
soberano Niatsimba Mutota a estabelecer, na segunda metade do século XV, uma nova 
capital do reino, ao norte, na região do Dande, entre os rios Mazoé e Hunyani. Nessa 
área surgiram diferentes dinastias carangas, cujos reis eram conhecidos como 
Monomotapa, que significa “senhor dos cativos” ou “senhor de tudo”. Fagan (2010) 
afirma que o soberano Mutope expandiu o território monomotapa para a região norte, 
transferindo a capital para uma área setentrional, longe da Grande Zimbábue. Por volta 
de 1490, as partes meridionais do reino romperam com a autoridade central. 
O reino Monomotapa estava restrito à região dos rios Zambeze, Mazoé, Lueanha, 
Dande e Huambe, bem como a cordilheira de Unvucué e ao vale do Zambeze. Conforme 
nos aponta Mattos (2007), a principal cidade era Ingombe Ilede, principal concorrente 
 
38 
 
 
da Grande Zimbábue, além de Cafué. Desde o século XIV, essas regiões tornaram-se 
centros de produção de sorgo, algodão, sal, da criação de bois e cabras, bem como 
produtos de cobre e cerâmica. Além disso, eram importantes pontos comerciais em que 
se trocavam o sal pelo marfim de Guembe e o cobre de Urungué. A partir do século XVI 
até XVII o domínio monomotapa caiu sob a influência dos portugueses (CAMPOS, 
2019). 
10 CULTURA AFRICANA 
A cultura, em essência, representa uma espécie de lente na qual olhamos o 
mundo e que nos condiciona a valores e práticas que compartilhamos com o grupo 
social no qual convivemos (LARAIA, 2008). O conceito de cultura de que nos 
reportamos é o de sentido antropológico. A cultura africana, nessa perspectiva, 
corresponde, em poucas palavras, à totalidade de práticas carregadas de significado, 
desenvolvidas por grupos sociais africanos e afrodescendentes em unidade na 
diversidade que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes, ou seja, 
hábitos adquiridos e presentes nos homens (e em cada indivíduo) como integrantes de 
uma sociedade (MUNANGA, 2009). 
Efetivamente, somos resultado de práticas carregadas de significados que 
compõe nossa herança cultural. A cultura africana está alinhada ao cotidiano brasileiro 
no quadro de uma longa herança cultural construída por inúmeras gerações de afro-
brasileiros, desde o período colonial até o tempo presente. Os africanos foram 
compulsoriamente conduzidos ao Brasil no processo de diáspora negra que 
transformou seres humanos, de diversas etnias e culturas, em escravos na América 
Portuguesa. 
As práticas religiosas africanas já estão incorporadas aos ritos de fé no Brasil 
desde o período colonial. No século XVII, já há informações de manifestação de cultos 
africanos. Os atos religiosos iam além do mero ritual sagrado, congregando em si, 
também, práticas de curas do corpo enfermo e de adivinhação. 
 
39 
 
 
A diversidade étnica dos negros diasporizados e a presença imperativa do 
catolicismo ibérico tornaram o sincretismo religioso em um ato estratégico a fim de 
garantir a identidade africana (QUEIROZ, 2017). 
O candomblé possibilitou a reunião de negros escravizados de diversas etnias 
africanas, de línguas e culturas diferentes, em uma mesma matriz religiosa. Diferentes 
deuses celebrados no mesmo espaço religando povos africanos distintos a partir da 
fabricação de religiosidade afro-brasileira. 
A constante perseguição religiosa, no século XIX, e a persistência do candomblé 
como identidade negra até os dias de hoje demonstram-nos que as práticas religiosas 
de matriz africana estão alicerçadas na identidade brasileira. Ao contrário do catolicismo 
que adveio do topo da hierarquia ibérica para a América Latina, o candomblé nasce 
como criação popular de extensão africana. Realmente, o que caracteriza a cultura afro-
brasileira é o popular, a africanidade que está no povo. Há uma independência 
surpreendente dos negros na formação das teias de significados culturais que escapa 
ao poder do Estado (QUEIROZ, 2017). 
O candomblé, além de ligar o continente africano à América e, de mesma forma, 
africanos aos afro-brasileiros, também produzia uma mistura geral: étnica, racial e 
social. 
 
Fonte: Brasil (2013) 
 
40 
 
 
11 COLONIALISMO NA ÁFRICA: A ESCRAVIDÃO E O TRÁFICO DE ESCRAVOS 
A historiografia ainda não chegou a um consenso sobre o surgimento da 
escravidão. Estudos referentes à Antiguidade Clássica revelam que gregos e romanos 
escravizavam os prisioneiros de guerra. Por sua vez, mesopotâmicos e egípcios 
contavam com escravos na base de suas pirâmides sociais. 
Silva (2002) aponta que uma campanha militar do faraó Esneferu, realizada por 
volta de 2.680 a.C.,

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