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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivos 1- Relembrar a morfologia dos vasos sanguíneos; 2- Discutir a etiologia, fatores de risco e epidemiologia da Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP); 3- Debater a fisiopatologia e manifestações clínicas da DAOP; 4- Explicar como é realizado o diagnóstico da DAOP; 5- Diferenciar a DAOP da Oclusão Arterial Obstrutiva Periférica Aguda; 6- Compreender a dificuldade da adesão ao tratamento da DAOP. Morfologia dos vasos sanguíneos ↠ Os vasos sanguíneos contribuem para a homeostasia, possibilitando o fluxo sanguíneo através do coração e a troca de nutrientes e escórias metabólicas nos tecidos. Também têm participação importante no ajuste da velocidade e do volume de fluxo sanguíneo. (TORTORA, 14ª ed.) Histologia dos Vasos Sanguíneos ↠ As paredes de todos os vasos sanguíneos, exceto os muito pequenos, são compostas por três camadas distintas, ou túnicas: ➢ Íntima: a túnica mais interna da parede de um vaso, que está em contato “íntimo” com o sangue em sua luz. Essa túnica contém o endotélio, o epitélio simples pavimentoso que reveste a luz de todos os vasos. As células endoteliais planas formam uma superfície lisa que minimiza o atrito do sangue que passa por elas. Uma fina camada de tecido conjuntivo frouxo, a camada subendotelial, situa -se na superfície externa do endotélio. (MARIEB, 7ª ed.) ➢ Média: consiste principalmente em lâminas de fibras musculares lisas dispostas circularmente, entre as quais se situam lâminas de fibrilas de colágeno e elastina. A elastina e o colágeno contribuem com elasticidade e resistência para suportar a pressão do sangue que cada batimento cardíaco exerce sobre a parede do vaso. (MARIEB, 7ª ed.) ➢ Adventícia: camada de tecido conjuntivo que contém muitas fibras de colágeno e fibras elásticas. Suas células e fibras seguem na direção longitudinal. Protege o vaso, reforça ainda mais a sua parede e prende esse vaso nas estruturas circundantes. Contém os vasos dos vasos, que surgem como ramificações minúsculas do mesmo vaso ou como ramificações pequenas de outros vasos vizinhos e nutrem a metade externa da parede do vaso maior. (MARIEB, 7ª ed.) Vasos sanguíneos ↠ ARTÉRIAS: a passagem do sangue pelas artérias ocorre das artérias elásticas para as musculares e depois para as arteríolas. (MARIEB, 7ª ed.) ➢ Artérias elásticas: são as maiores artérias perto do coração - a aorta e seus ramos principais. São chamadas artérias de condução. Nas paredes dessas artérias há mais elastina do que em qualquer outro tipo de vaso ➢ Artérias musculares: situam -se distalmente às artérias elásticas e suprem grupos de órgãos, órgãos individuais e partes de órgãos. Essas artérias de “tamanho médio” constituem a maior parte das artérias observadas. ➢ Arteríolas: são as menores artérias. APG 10 – “BATATA FRIA” 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ CAPILARES: são os menores vasos sanguíneos. Eles são compostos de apenas uma única camada de células endoteliais circundadas por uma membrana basal. Renovam e revigoram o líquido intersticial circundante. Existem três tipos de capilares: (MARIEB, 7ª ed.) ➢ Contínuos; ➢ Fenestrados; ➢ Sinusoides;. ↠ VASOS VENOSOS: vênulas e veias. (MARIEB, 7ª ed.) ➢ Veias: muitas veias, especialmente as dos membros, também contêm válvulas, pregas finas de túnica íntima que formam válvulas semelhantes a abas. Essas válvulas possibilitam que o sangue flua em uma direção única: ao coração. (TORTORA, 14ª ed.) ➢ Vênulas: drenam o sangue capilar e iniciam o fluxo de retorno do sangue de volta ao coração. (TORTORA, 14ª ed.) ARTÉRIAS VEIAS TÚNICA MÉDIA Mais espessa Menos espessa TÚNICA ADVENTÍCIA Menos espessa. Mais espessa. TRANSPORTE DE SANGUE Levam o sangue para fora do coração. Conduzem o sangue dos capilares para o coração. LUZ DO VASO Menor Maior ELASTINA Mais elastina Menos elastina PRESSÃO ARTERIAL Maior Menos VÁLVULAS Ausente Presente Anatomia dos Vasos Sanguíneos (MMII) Artérias 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck Veias ↠ O membro inferior tem veias superficiais e profundas: as veias superficiais estão situadas no tecido subcutâneo e seguem independentemente das artérias correspondentes e as veias profundas situam-se profundamente à fáscia muscular e acompanham todas as grandes artérias. As veias superficiais e profundas têm válvulas, que são mais numerosas nas veias profundas. (MOORE, 7ª ed.) Veias Superficiais ↠ As duas principais veias superficiais no membro inferior são as veias safenas magna e parva.. A maioria das tributárias não tem nome. (MOORE, 7ª ed.) Veias Profundas ↠ As veias profundas acompanham todas as grandes artérias e seus ramos. Em vez de ocorrerem como uma veia única nos membros (embora muitas vezes sejam ilustradas e denominadas como uma veia única), as veias acompanhantes geralmente são pares, muitas vezes interconectadas, situadas ao lado da artéria que acompanham. Estão contidas na bainha vascular com a artéria, cujas pulsações também ajudam a comprimir e deslocar o sangue nas veias. (MOORE, 7ª ed.) Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP) ↠ A Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP) ocorre predominantemente decorrente de fenômenos ateroscleróticos sistêmicos, que provocam obstruções arteriais e está associada a alto risco de morbimortalidade cardiovascular (DIRETRIZ, 2015). ↠ A doença arterial periférica (DAP) é mais comumente observada nos vasos dos membros inferiores. A condição por vezes é denominada arteriosclerose obliterante (PORTH, 10ª ed.). ↠ As artérias femorais superficiais e poplíteas são os vasos mais comumente afetados. Quando ocorre o desenvolvimento de lesões nas pernas e nos pés, as artérias tibiais, artérias fibulares comuns ou artérias dos pés são os alvos mais frequentes. A doença normalmente é observada com o avanço da idade (PORTH, 10ª ed.). ↠ A DAOP é responsável pela redução da capacidade funcional do doente, e, portanto, contribui negativamente na vida destas pessoas, podendo aumentar o risco de perda de membros, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e o óbito (SILVA; DUQUE, 2020). ↠ Na maior parte dos pacientes que desenvolvem DAOP, apresentam outras patologias de base importantes que não só comprometem o sistema vascular, mas também na qualidade de vida. Esta patologia é correlacionada ao sofrimento físico, social e psicológico, e também afeta os aspectos psicossociais e emocionais dos pacientes idosos, 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck os quais a doença possui um alto índice de desenvolvimento (SILVA; DUQUE, 2020). Etiologia da DAOP ↠ A aterosclerose é a principal causa de doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) dos membros inferiores (MOTA et. al., 2017). Além dos casos de artrites, aneurisma e tromboembolismo (SILVA; DUQUE, 2020). Embolia é a oclusão aguda de uma artéria por um êmbolo proveniente de um vaso ou do coração, provocando interrupção ou diminuição do fluxo distalmente à oclusão (PORTO & PORTO). Trombose é a formação de um trombo dentro da artéria, podendo causar estreitamento ou oclusão total da luz do vaso com consequente diminuição ou interrupção do fluxo de sangue. Instala-se em uma parede arterial previamente comprometida por uma placa de ateroma ulcerada (PORTO & PORTO). Fatores de risco da DAOP ↠ Os fatores de risco para esse distúrbio são semelhantes aos da aterosclerose (PORTH, 10ª ed.). ↠ O tabagismo contribui para o progresso da aterosclerose dos membros inferiores e para o desenvolvimento de sintomas de isquemia. Pessoas com diabetes melito desenvolvem doença vascular mais extensa e com progressão mais rápida do que as pessoas não diabéticas (PORTH, 10ª ed.). ↠ Além disso, idade, hipertensão, diabetes mellitus e histórico dedoença cardiovascular são fatores de risco para a DAOP (DIRETRIZ, 2015). Diabetes mellitus é um importante fator de risco para os mecanismos da inflamação e disfunção da célula endotelial, aumentando a agregação plaquetária e do fibrinogênio, formando assim um processo arteriosclerótico, e consequentemente favorecendo com uma porcentagem de 28% o risco de surgimento da DAOP (SILVA; DUQUE, 2020). Epidemiologia da DAOP ↠ No Brasil, praticamente todos os estudos foram realizados na Região Sudeste do país, tornando os dados relacionados à prevalência de DAOP e seus fatores de risco escassos. Estima-se um grande número de portadores de doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) que pode estar subestimado devido a maioria dos pacientes ser assintomáticos ou não apresentar claudicação intermitente (MOTA et. al., 2017). ↠ O crescente interesse no diagnóstico precoce vem ocorrendo por estar relacionada à doença aterosclerótica em outros territórios, como coronariano, cerebral, carotídeo e maior risco para eventos cardiovasculares (morte, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral), na ordem de 4 a 6% ao ano, em portadores da doença (MOTA et. al., 2017). ↠ A DAP apresenta uma prevalência de 10 a 25% na população acima de 55 anos de acordo com a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (2014), tendo aumento crescente à medida em que a faixa etária aumenta (MACÊDO et. al., 2017). Fisiopatologia da DAOP ↠ As considerações fisiopatológicas em pacientes com DAP precisam levar em conta o equilíbrio entre o suprimento circulatório de nutrientes para o músculo esquelético e a sua demanda de oxigênio e de nutrientes (BRAUNWALD, 10ª ed.). ↠ O fluxo através de uma artéria relaciona-se diretamente com a pressão de perfusão e inversamente com a resistência vascular. As estenoses reduzem o fluxo através da artéria (BRAUNWALD, 10ª ed.). ↠ Durante o processo patológico desta doença, ocorre a interrupção do fluxo sanguíneo e por consequência a diminuição no transporte de nutrientes e oxigênio para os tecidos adjacente (SILVA; DUQUE, 2020). Por esta razão vários mecanismos compensatórios são ativados para que não ocorra isquemia no local afetado. Tais mecanismos são: a vasodilatação, metabolismo anaeróbico, e o processo de circulação colateral (SILVA; DUQUE, 2020). ↠ Através da figura acima é possível notar o estreitamento causado pelas placas de gorduras, estreitando o vaso sanguíneo e impedido a passagem do fluxo sanguíneo normal, por tanto, o desenvolvimento progressivo das placas ateroscleróticas nas regiões periféricas do corpo humano (SILVA; DUQUE, 2020). 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Devido à formação de placas de ateroma, na qual são depósitos de gorduras nas artérias é levado ao desenvolvimento de um coágulo devido à interrupção da passagem sanguínea que irá se concentrar em um determinado local da artéria, este coágulo que é designado como um trombo reduz mais ainda o espaço do interior da artéria (SILVA; DUQUE, 2020). ↠ À medida que a gravidade da lesão aterosclerótica aumenta, o fluxo torna-se progressivamente menor. O gradiente de pressão através da estenose aumenta de maneira não linear, enfatizando a importância da estenose em altas taxas de fluxo sanguíneo. Normalmente, existe um gradiente de pressão arterial em repouso caso a estenose diminua o diâmetro da luz do vaso em mais de 50%, pois à medida que se desenvolve uma perturbação do fluxo, a energia cinética é perdida (BRAUNWALD, 10ª ed.). ↠ Uma estenose que não causa gradiente de pressão em repouso pode provocar um durante o exercício, quando o fluxo sanguíneo aumenta a partir da elevação do débito cardíaco e da redução da resistência vascular periférica. Dessa forma, à medida que o fluxo através da estenose aumenta, a pressão de perfusão distal cai (BRAUNWALD, 10ª ed.). ↠ À medida que a demanda metabólica muscular durante o exercício supera o aporte sanguíneo, metabólitos locais (como adenosina, óxido nítrico, potássio e íons hidrogênio) acumulam-se e os vasos periféricos de resistência dilatam- se. A pressão de perfusão cai mais por causa da limitação imposta pela estenose. Além disso, a pressão intramuscular eleva-se durante o exercício e pode exceder a pressão arterial distal a uma oclusão e parar o fluxo. O fluxo através de vasos sanguíneos colaterais pode usualmente atender as necessidades metabólicas do tecido muscular esquelético em repouso, mas pode não ser suficiente durante o exercício (BRAUNWALD, 10ª ed.). ESTRUTURA E FUNÇÃO METABÓLICA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO Os exames eletrofisiológico e histopatológico encontraram evidências de desnervação axonal parcial do músculo esquelético em pernas afetadas pela DAP. Há preservação das fibras contráteis lentas tipo I oxidativas, mas ocorre perda das fibras contráteis rápidas tipo II ou glicolíticas no músculo esquelético dos pacientes com DAP. A perda das fibras tipo II correlaciona-se com uma força muscular reduzida e uma capacidade reduzida de exercício. No músculo esquelético distal à DAP, ocorre um desvio para o metabolismo anaeróbico mais precocemente durante o exercício e isto persiste durante mais tempo após a interrupção do exercício(BRAUNWALD, 10ª ed.). Além do mais, a atividade respiratória mitocondrial e o tempo de recuperação da fosfocreatina e do trifosfato de adenosina diminuem nos músculos da panturrilha dos pacientes com DAP, conforme avaliado após o exercício submáximo pela espectroscopia 31P por ressonância magnética (BRAUNWALD, 10ª ed.). CONSIDERAÇÕES FISIOPATOLÓGICAS NA DAP FATORES QUE REGULAM O SUPRIMENTO SANGUÍNEO PARA O MEMBRO Lesão limitante do fluxo (gravidade da estenose, vasos colaterais insuficientes); Vasodilatação prejudicada (óxido nítrico reduzido e responsividade reduzida aos vasodilatadores); Vasoconstricção acentuada (tromboxano, serotonina, angiotensina II); Reologia anormal (deformabilidade reduzida das hemácias, aumento da adesividade leucocitária, agregação plaquetária, microtromboses); ESTRUTURA E FUNÇÃO MUSCULAR ESQUELÉTIC ALTERADAS Desnervação axonal do músculo esquelético; Perda das fibras contráteis rápidas glicolíticas tipo II; Atividade enzimática mitocondrial prejudicada. Manifestações Clínicas da DAOP ↠ Assim como na aterosclerose em outros locais, os sinais e sintomas da oclusão do vaso são graduais. Normalmente, antes do surgimento dos sintomas de isquemia, há um estreitamento vascular de no mínimo 50% (PORTH, 10ª ed.). Fisiopatologia da claudicação intermitente. Nas artérias saudáveis (parte superior), o fluxo é laminar e a função endotelial são normais; portanto, o fluxo sanguíneo e o suprimento de oxigênio são compatíveis com a demanda muscular metabólica em repouso e durante o exercício. O metabolismo muscular é eficiente, acarretando baixo estresse oxidativo. Em contraste, na doença arterial periférica (parte inferior), a estenose arterial ocasiona fluxo deficiente, e a perda de energia cinética acarreta queda de pressão por toda a estenose. Os vasos colaterais apresentam alta resistência e compensam apenas parcialmente a estenose arterial. Além disso, a função endotelial é prejudicada, ocasionando perda adicional da função vascular. Essas alterações limitam a resposta do fluxo sanguíneo ao exercício, causando um desequilíbrio do suprimento de oxigênio à demanda do metabolismo muscular. As alterações no metabolismo musculoesquelético comprometem ainda mais a geração eficiente de fosfatos de alta energia. O estresse oxidativo, resultado de oxidação ineficaz, prejudica ainda mais a função endotelial e o metabolismo muscular. 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ O sintoma primário da doença arterial obstrutiva crônica é a claudicação intermitente (CI) ou dor ao caminhar. As pessoas com o distúrbio tipicamente sequeixam de dor na panturrilha, porque o músculo gastrocnêmio consome mais oxigênio do que qualquer grupo muscular da perna durante a caminhada (PORTH, 10ª ed.). A CI é um sintoma patognomônico da obstrução arterial crônica, embora possa surgir também na obstrução arterial aguda (MAFFEI, 2º vol.) Claudicar, que vem do verbo latino claudicare, significa “não ter firmeza nos pés, coxear ou mancar”. A origem da expressão está relacionada com o fato de que o paciente, após andar determinada distância, comece a mancar pelo surgimento de dor em determinados grupos musculares, desaparecendo com repouso e recomeçando após a mesma quantidade de exercícios, sendo, por isso, intermitente (MAFFEI, 2º vol.) Como já foi referido, a dor da CI ocorre pela diminuição relativa do fluxo sanguíneo para os músculos em exercício, sendo esse fluxo incapaz de suprir nutrientes, levando a uma alteração metabólica do músculo e dificultando a remoção de produtos do catabolismo de maneira suficientemente rápida para manter a função muscular. Embora o oxigênio seja o principal metabólito que chega aos tecidos, sua falta não é, provavelmente, a causa direta da dor. Ela ocorreria pela acumulação de catabólitos ainda não bem conhecidos, cuja eliminação dependeria também da oxigenação (MAFFEI, 2º vol.) Quanto maior a isquemia, mais curta a distância que o indivíduo consegue andar antes do aparecimento da dor (distância de claudicação) e maior o período de recuperação da dor, isto é, há maior tempo para que a dor desapareça (MAFFEI, 2º vol.) OBS.: A CI costuma ser acompanhada de outros sinais e sintomas de insuficiência arterial, estando frequentemente associada a diminuição ou ausência de pulsos à palpação e a sopros arteriais. Um quadro clínico clássico nas DAOP é a chamada síndrome de Leriche, que inclui CI de nádegas, ausência de pulsos femorais e impotência sexual, correspondendo à obstrução da bifurcação da aorta e artérias ilíacas (MAFFEI, 2º vol.) ↠ Algumas pessoas podem se queixar de uma discreta sensibilidade ou dormência, em vez de dor. Outras atividades, como nadar, andar de bicicleta e subir escadas utilizam outros grupos musculares e podem não incitar o mesmo grau de desconforto que a caminhada (PORTH, 10ª ed.). Os pacientes com obstrução arterial podem apresentar queixas de parestesia, hipoestesia, anestesia, paresias e mesmo paralisia. Tais sintomas se devem à lesão isquêmica de fibra nervosa que, se intensa e prolongada, pode tornar-se irreversível (MAFFEI, 2º vol.) ↠ Outros sinais de isquemia incluem alterações atróficas, adelgaçamento da pele e dos tecidos subcutâneos da perna, e diminuição no tamanho dos músculos da perna (PORTH, 10ª ed.). ↠ Em geral, os pés estão frios, enquanto os pulsos poplíteos e podais são fracos ou ausentes. A cor do membro empalidece com a elevação da perna, devido aos efeitos da gravidade sobre a pressão de perfusão, e se torna intensamente avermelhada quando a perna está na posição pendente, devido à intensificação autorreguladora do fluxo sanguíneo e ao aumento da ação gravitacional sobre a pressão de perfusão (PORTH, 10ª ed.). Na oclusão arterial, a diminuição ou parada do fluxo sanguíneo para a extremidade e, portanto, diminuição ou parada da chegada de sangue, provoca esfriamento das extremidades. O vasospasmo pode ser a causa principal ou coadjuvante desse esfriamento (MAFFEI, 2º vol.) ↠ Quando a extensão da redução do fluxo sanguíneo impede que as necessidades mínimas dos músculos e nervos sejam atendidas, ocorre o aparecimento de dor isquêmica em repouso, ulceração e gangrena. Com o desenvolvimento da necrose tecidual, tipicamente surge uma dor forte na região de ruptura da pele, a qual piora à noite e com a elevação do membro, melhorando em posição ortostática (PORTH, 10ª ed.). ↠ As úlceras causadas por DAP tipicamente têm uma base pálida com bordas irregulares e costumam envolver as pontas dos dedos dos pés ou o calcanhar, ou desenvolvem-se nos locais de pressão. Essas úlceras variam em tamanho e podem ter de 3 a 5 mm (BRAUNWALD, 10ª ed.). 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck Embora as alterações tróficas sejam mais bem caracterizadas no exame físico, os pacientes podem descrever alterações como queda de pelos, alterações ungueais e aparecimento de lesões isquêmicas, como úlceras e gangrenas (MAFFEI, 2º vol.) Diagnóstico da DAOP EXAME FÍSICO ↠ Nenhum sintoma ou sinal é independentemente suficiente para diagnosticar ou descartar DAOP. A literatura existente recomenda os seguintes exames físicos como mais acurados na identificação ou exclusão de DAOP: (DIRETRIZ, 2015). ➢ Presença de claudicação intermitente; ➢ Em pacientes sintomáticos e assintomáticos: Auscultação das artérias femorais; ➢ Em pacientes sintomáticos e assintomáticos: Palpação dos pulsos das áreas da extremidade inferior (femoral comum, poplítea, tibial anterior e tibial posterior); ➢ Em pacientes sintomáticos: Coloração, temperatura, integridade da pele do pé, e também a presença de ulcerações; ➢ Palpação abdominal e ausculta em diferentes níveis, incluindo os flancos, a região periumbilical e as regiões ilíacas; ➢ Em pacientes sintomáticos, a presença de pele fria ou de pelo menos 1 sopro e qualquer anormalidade palpável no pulso pode ser indicativo de DAOP; ➢ O teste do tempo de preenchimento capilar apresentou muito baixa acurácia diagnóstica CLASSIFICAÇÃO DA DAOP ↠ De acordo com os sinais e sintomas, os portadores de DAOP podem ser classificados em diversos estágios ou categorias. Dentre as classificações existentes, duas são as mais utilizadas. A classificação de Fontaine que separa os pacientes em quatro estágios e a classificação de Rutherford, que aloca os pacientes em sete categorias, incluindo os assintomáticos (DIRETRIZ, 2015). CLASSIFICAÇÃO DE FONTAINE CLASSIFICAÇÃO DE RUTHERFORD Estágio I: Assintomático Categoria 0: Assintomático Estágio II a: Claudicação intermitente limitante (claudicação se caminhar > 200m) Categoria 1: Claudicação leve Categoria 2: Claudicação moderada Estágio II b: Claudicação intermitente incapacitante (claudicação se caminhar < 200m) Categoria 3: Claudicação severa Estágio III: Dor isquêmica em repouso Categoria 4: Dor em repouso Estágio IV: Lesões tróficas (necrose, gangrena) Categoria 5: Lesão trófica pequena (perda tissular menor: úlcera que não cicatriza, gangrena focal com úlcera pediosa difusa) Categoria 6: Necrose extensa (perda tissular significativa que se estende acima do nível transmetatarsal, pé funcional sem salvação) ÍNDICE TORNOZELO-BRAQUIAL (ITB) ↠ O índice tornozelo-braquial (ITB) é unanimemente considerado como uma ferramenta de triagem primária, devendo ser realizado após o diagnóstico clínico e antes de qualquer modalidade diagnóstica invasiva (DIRETRIZ, 2015). A maioria dos idosos não apresenta a claudicação intermitente na qual é um dos fatores da DAOP, para que seja detectada a patologia é realizado o método do índice tornozelo-braquial (ITB), o qual é considerado o método padrão para o rastreamento da doença (SILVA; DUQUE, 2020). ↠ Esse teste consiste em uma técnica não invasiva que é realizada no objetivo de medir a pressão sistólica dos membros periféricos afetados. Por meio da utilização de um Doppler vascular portátil e um manguito de pressão, o profissional capacitado para realizar o exame, deverá posicionar o aparelho na artéria tibial posterior e dorsal, assim como nas artérias braquiais (SILVA; DUQUE, 2020). ↠ O resultado será detectado quando for constatado o maior nível da pressão arterial tibial dividido pelo resultado maior da pressão sistólica braquial. O resultado do ITB será considerado normal se estiver entre 0,90 e 0,14. Pacientes que apresentam resultados inferiores a 0,90 é sugestivo de obstrução do fluxo sanguíneo, caracterizandoa DAOP. Porém, em casos de elevação desse resultado o paciente 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck estará apresentando rigidez arterial aumentada, tornando- se indicativo no diagnóstico de insuficiência renal crônica (SILVA; DUQUE, 2020). Teste ERGOMÉTRICO ↠ Testes de exercício em esteira são recomendados para fornecer evidência objetiva da magnitude da limitação funcional de claudicação e medir a resposta à terapia (DIRETRIZ, 2015). ↠ Recomenda-se utilizar um protocolo de exercício padronizado (carga fixa ou progressiva). Um estudo de metanálise apontou como protocolo mais confiável, o de aumento graduado e a distância absoluta de claudicação (DIRETRIZ, 2015). ÍNDICE HÁLUX-BRAQUIAL ↠ Pacientes diabéticos, portadores de insuficiência renal ou de outros distúrbios que resultam em calcificação vascular podem apresentar aferições falsamente elevadas das pressões sistólicas. Nesta situação, mensuração da pressão do hálux fornece valores mais acurados das pressões sistólicas distais (DIRETRIZ, 2015). OBS.: Em contraste com os limites bem definidos e baseados em evidências do ITB, os critérios diagnósticos do índice hálux-braquial permanecem ambíguos (DIRETRIZ, 2015). EXAMES DE IMAGEM ↠ Exames de imagem por ultrassom, arteriografia com ressonância magnética (RM), arteriografia com tomografia computadorizada (TC) espiral e angiografia contrastada invasiva também podem ser utilizados como métodos diagnósticos (PORTH, 10ª ed.). ↠ A angiorressonância e a angiotomografia são métodos diagnósticos de boa acurácia no diagnóstico da DAOP de membros inferiores, com valores de sensibilidade e especificidade superiores a 90%, quando comparados com a angiografia por subtração digital como padrão- ouro. Porém, a angiorressonância não deve ser considerada de primeira linha em pacientes diabéticos com DAOP infragenicular (DIRETRIZ, 2015). ↠ A angiografia por subtração digital ainda é considerada padrão-ouro no diagnóstico de DAOP. No entanto por ser um método mais invasivo que os demais (invasividade mecânica, radiológica e farmacológica), não deveria ser comumente aplicado como exame de rotina, particularmente em pacientes sem indicação inicial de intervenção cirúrgica ou endovascular (DIRETRIZ, 2015). ↠ A angiografia por ressonância magnética (ARM) pode ser usada para visualizar de forma não invasiva a aorta e as artérias periféricas. A resolução da anatomia vascular com a ARM com contraste de gadolínio aproxima-se daquela da angiografia contrastada convencional por subtração digital (BRAUNWALD, 10ª ed.). ↠ Os novos aparelhos de tomografia computadorizada usam tecnologia com múltiplos detectores para obter imagens em cortes transversais. Esse avanço permite obter imagens das artérias periféricas com uma resolução espacial excelente em um período relativamente curto e com uma quantidade reduzida de material de radiocontraste. As reconstruções de imagem em três dimensões permitem a rotação para otimizar a visualização das estenoses arteriais (BRAUNWALD, 10ª ed.). DAOP Crônica x DAOP Aguda ↠ A oclusão arterial aguda é um evento súbito, que interrompe o fluxo arterial para os tecidos ou órgãos afetados. A maior parte das oclusões arteriais agudas resulta de um êmbolo ou trombo (PORTH, 10ª ed.). 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Os sinais e sintomas de oclusão arterial aguda dependem da artéria envolvida e da adequação da circulação colateral. Os êmbolos tendem a se alojar nas bifurcações das artérias de grande calibre, incluindo a aorta e as artérias ilíacas, femorais e poplíteas. A apresentação da embolia arterial aguda costuma ser descrita como os sete “P”: (PORTH, 10ª ed.). ➢ Tiro de pistola (início agudo) ➢ Palidez ➢ Caráter polar (frio) ➢ Ausência de pulso ➢ Dor (do termo pain, em inglês) ➢ Parestesia ➢ Paralisia. ↠ A oclusão de um membro causa dor aguda de início súbito acompanhada de dormência, formigamento, fraqueza, palidez e frio. Com frequência, existe uma fina linha de demarcação entre o tecido oxigenado acima do ponto de obstrução e o tecido isquêmico abaixo dele. Não há pulso abaixo do nível da oclusão. Essas alterações são rapidamente seguidas por cianose, manchas e perda da função sensorial, reflexa e motora. Ocorre morte tecidual, exceto se o fluxo sanguíneo for restaurado (PORTH, 10ª ed.). DIFERENÇAS DAOP CRÔNICA X DAOP AGUDA DAOP CRÔNICA DAOP AGUDA Evento gradual; Evento súbito; Aterosclerose; Embolia ou trombose; Pode ser assintomática; Dor aguda; Dificuldade da adesão ao tratamento ↠ Grande parte das doenças crônicas não transmissíveis pode ser controlada pelo uso de medicamentos, tendo no acesso e na utilização adequada requisitos fundamentais para o sucesso terapêutico. Entre os fatores que influenciam diretamente os resultados terapêuticos, destaca-se a adesão ao tratamento medicamentoso, definida como o grau de concordância entre o comportamento de uma pessoa e as orientações do profissional da saúde (TAVARES et. al., 2016). ↠ Os fatores relacionados com a não adesão ao tratamento descritos na literatura estão relacionados com características individuais do paciente, à doença em si, aos medicamentos utilizados e à interação entre o paciente e os serviços de saúde, entre outros (TAVARES et. al., 2016). ↠ De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a não adesão aos tratamentos a longo prazo na população em geral está em torno de 50,0% (TAVARES et. al., 2016). ↠ A adesão é um fenômeno multidimensional determinado pela interação de um conjunto de fatores que afetam o comportamento e a capacidade das pessoas de seguir o tratamento (TAVARES et. al., 2016). ↠ Entre as estratégias para melhorar a adesão, estão a educação do paciente, melhores esquemas de tratamento e melhor comunicação entre médicos e outros profissionais da saúde e pacientes (TAVARES et. al., 2016). Referências TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016. MARIEB, Elaine. Anatomia humana. Tradução Lívia Cais, Maria Silene de Oliveira e Luiz Cláudio Queiroz. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. MOORE, Anatomia Orientada para a Clínica, 7ª ed., Rio de Janiero: Guanabara Koogan, 2014. Modelo hierarquizado para análise dos fatores associados à adesão ao tratamento medicamentoso para doenças crônicas no Brasil. PNAUM, Brasil, 2014. 10 Júlia Morbeck – @med.morbeck MAFFEI, Francisco Humberto de A.; YOSHIDA, Winston B.; ROLLO, Hamilton A.; et al. Doenças Vasculares Periféricas - 2 Vols.. Grupo GEN, 2015. PORTO, Celmo C.; PORTO, Arnaldo L. Clínica Médica na Prática Diária. Grupo GEN, 2015. NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia, 10ª edição. Grupo GEN, 2020. BONOW, Bonow. Braunwald - Tratado de Doenças Cardiovasculares. Grupo GEN, 2017. MACÊDO et. al. Doença Arterial Periférica no paciente diabético e o risco de lesões patológicas: uma revisão bibliográfica, 2017. MOTA et. al. Doença Arterial Obstrutiva Periférica: revisão integrativa. Revista UNINGÁ, 2017. PRESTI et. al. Doença Arterial Periférica Obstrutiva de Membros Inferiores Diagnóstico e Tratamento, Diretriz SBACV, 2015. SILVA; DUQUE. Parâmetros associados à doença arterial obstrutiva periférica: revisão de literatura. Revista NBC, 2020. TAVARES et. al. Fatores associados à baixa adesão ao tratamento farmacológico de doenças crônicas no Brasil. Revista de Saúde Pública, 2016.
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