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Geovana Sanches - TXXIV Epidemiologia Professor Sérgio Zanetta INTRODUÇÃO A epidemiologia é definida como a “Ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas, analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de doenças, e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração e avaliação das ações de saúde.”. Pode ser social, clínica, molecular, etc. Usos da epidemiologia: • Diagnóstico em saúde • Estudos de causalidade (geralmente estudos analíticos) • Vigilância epidemiológica • Avaliação de programas e intervenções Determinantes de saúde Transição epidemiológica A tendência da mortalidade alterou-se com o passar dos anos. Até 1960, prevaleciam as mortes devido à doenças infecciosas, década na qual as doenças cardiovasculares atingiram o primeiro lugar. “Tripla carga de doenças” (Frenk, 2006): presença das doenças infecciosas e parasitárias (dengue, malária, H1N1, hanseníase, tuberculose) + aumento das doenças crônicas pelo envelhecimento das pessoas e aumento dos fatores de risco (fumo, sedentarismo, inatividade física, sobrepeso e má alimentação) + aumento da violência e morbimortalidade por causas externas. Campo da saúde HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA É o nome dado ao conjunto de processos interativos compreendendo as inter-relações do agente (causador), do suscetível (hospedeiro) e do meio ambiente que afetam o processo global da doença e o seu desenvolvimento, desde as primeiras forças que criam o estímulo patológico no meio ambiente, ou em qualquer outro lugar, passando pela resposta do homem ao estímulo, até as alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte. Ou seja, a história natural da doença envolve as inter- relações e as variações entre esses três elementos, que levarão à diferentes fins. Tríade epidemiológica das doenças: • Hospedeiro: Idade, sexo, estado civil, ocupação, escolaridade, características genéticas, história patológica pregressa, estado imunológico, estado emocional. • Agente: biológicos (microrganismos); químicos ( mercúrio, álcool, medicações) ; físicos (trauma, calor, radiação); nutricionais (carência, excesso). • Ambiente: determinantes físico-químicos (temperatura, umidade, poluição, acidentes); determinantes biológicos (acidentes, infecções); determinantes sociais (comportamentos, organização social). A interação ambiente, homem e agente levam ao início da doença a nível celular. A doença progride a nível tecidual, até que evolui afetando estruturas maiores, ou seja, ultrapassando o denominado horizonte clínico. A doença pode seguir alguns caminhos: cura; cronicidade; sequela ou morte. Geovana Sanches - TXXIV No período pré-patogênico, temos a prevenção primária, a qual se refere às estratégias para prevenir a exposição ao fator de risco ou promover sua cessação. O comportamento da doença pode ser antecipado, por exemplo, pela realização de exames preventivos. • É possível atuar no ambiente. • Promoção à saúde: moradia adequada, escola, lazer, alimentação adequada, educação em todos os níveis. • Proteção específica: imunização, saúde ocupacional, higiene pessoal e do lar, proteção contra acidente. No período patogênico ocorre a prevenção secundária, que inclui: ● Diagnóstico + tratamento precoce: inquéritos para descoberta de casos na comunidade, rastreamento com exames periódicos, isolamento para evitar transmissão de doenças e tratamento para evitar progressão. ● Reduzir dano/ limitação da incapacidade; evita futuras complicações. Se houver sequela, podem-se realizar trabalhos a fim de reduzir as consequências da incapacidade , o que é denominado prevenção terciária. Inclui reabilitação (impedir a incapacidade total), fisioterapia, terapia ocupacional e emprego para o reabilitado. A prevenção quaternária, por sua vez, diz respeito à prevenção de riscos em excessos de saúde, como por exemplo: • Testes diagnósticos de boa acurácia, quando realizados em situações de baixa probabilidade da doença, produzem resultados redundantes que contribuirão apenas para aumentar a chance de iatrogenias (iatros= médico; gênia= causa), gastos desnecessários e ansiedade para o doente. • Qualquer tratamento que não for altamente efetivo ou que produza morbidade considerável, só deve ser administrado quando o nível de incerteza for mínimo. Na atuação médica há pouco espaço para incertezas, portanto, as principais ferramentas para a prevenção quaternária tem sido: o acesso dos pacientes à informação (que tem exigido dos médicos melhor formação), os exames complementares com melhor acurácia e tratamentos medicamentosos com melhores evidências. VALIDADE E CONFIABILIDADE EM ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS Diagnóstico dos eventos Para garantir que as medidas de ocorrência, de distribuição e as associações entre os fatores determinantes e o evento, ou seja, a qualidade do estudo epidemiológico, é necessário considerar: Ø Erros Ø Viés ou bias- desvio permanente dos resultados, fazendo-os afastar-se dos resultados verdadeiros Ø Precisão Ø Validade Erros Erro Randômico= relaciona-se com precisão ou confiabilidade - Aparece como uma imprecisão da estimativa, obtida a partir do estudo, em relação ao parâmetro que está sendo avaliado, sendo resultante da variação amostral - É, portanto, fundamentalmente dependente do tamanho da amostra e de características específicas do parâmetro a ser estimado, ou seja, sua variância - Uma amostra muito pequena pode não ser representativa da realidade - Podem ser evitados no estudo: 1) Fase de planejamento- cuidados na seleção da amostra; 2) Fase de execução- evitar perdas ou recusas não homogêneas entre os grupos; 3) Fase de análise de dados- controle de outliers (resultados discrepantes; as vezes o pesquisar tiram os dados para não mudar muito a média, mas as vezes esses valores podem ser importantes para a pesquisa) e criteriosa imputação. Þ Ligado à Amostra Erro Sistemático= relaciona-se com a validade - Diferente em sua natureza do erro randômico, por ter sua origem na existência de uma diferença entre o parâmetro a ser estimado e o verdadeiro efeito que se quer medir. - Resulta do desvio ou distorção da operação da medida, do instrumento ou do aplicador. Þ Ligado à Medida Precisão e Validade Ø Precisão= medidas precisas são aquelas que tem grande proximidade entre si, o que não significa que elas são válidas. Geovana Sanches - TXXIV Ø Validade= diz-se das conclusões de uma investigação quanto a amostra estudada ou a extrapolação das mesmas para a população de onde a amostra foi retirada ou mesmo outras populações. - Validade externa: as conclusões do estudo feito em uma amostra podem ser generalizados para a população de origem. Depende do quanto a amostra representa a população. Os resultados podem também ser generalizados para outras populações semelhantes. - Validade interna: refere-se ao grau em que as conclusões de um estudo são corretas. Engloba: • Comparabilidade de grupos estudados (viés de seleção) • Controle de fatores que possam dificultar a interpretação (viés de confundimento/confusão) • Técnica ou critério diagnóstico (viés de aferição) Viés de Seleção - Erro na identificação da população ou grupos de estudo; - Distorção devido a diferenças entre as características dos indivíduos que são incluídos no estado e daqueles que não são; - Perdas ou não respostas dos incluídos originalmente na amostra (diferencial ou não-diferencial) Viés de confundimento - Ocorre quando os resultados de uma associação entre dois fatores podem ser imputados, total ou parcialmente, a um terceiro fator não levado em consideração que é a variável de confundimento. - Variávelde confundimento, ou de confusão ou confounding é a variável que, por estar associada a exposição principal e ser um fator de risco para o efeito estudado, induz a conclusão incorreta sobre a verdadeira relação entre dois eventos. Viés de Aferição - Definição inadequada do diagnóstico de um evento - Geralmente devido à preparação ineficiente do observador ou examinador ou pelo uso inadequado dos instrumentos de aferição (problema mecânico ou técnico ou instrumento inapropriado para a mensuração). • Observador ou examinador -> Confiabilidade (ou reprodutibilidade) • Instrumento de aferição -> Validação Þ Confiabilidade (ou reprodutibilidade) - Capacidade de concordância interna, ou seja, de replicar os mesmos resultados; - Pode ser testada com a repetição das medidas utilizadas no mesmo grupo da mensuração original pelo mesmo observador ou por observadores diferentes. Þ Validação - Quantifica o desempenho de um instrumento de medida em relação a um instrumento considerado padrão-ouro (verdadeiro diagnóstico; melhor diagnóstico disponível). As medidas de validade mais usadas são: • Sensibilidade: é a capacidade que o teste apresenta de detectar os indivíduos verdadeiramente positivos, ou seja, os verdadeiros doentes. • Especificidade: é a capacidade que o teste apresenta de detectar os indivíduos verdadeiramente negativos, ou seja, os verdadeiros sadios. • Valor preditivo positivo: á a probabilidade que tem cada positivo de ser, de fato, positivo • Valor preditivo negativo: é a probabilidade que tem cada negativo se ser, de fato, sadio. SÍNTESE Erros Randômico-> Amostra Sistemático-> Medida Validade Externa-> Generalização Interna-> Conclusões do estudo; Afetada por: Viés de seleção Viés de confundimento Viés de aferição • Do examinador -> confiabilidade • Do instrumento -> validação Confiabilidade Concordância ou repetição de resultados Validação Trata-se do desempenho do instrumento. Envolve: sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo, valor preditivo negativo CONSIDERAÇÕES SOBRE RISCOS Medidas de Saúde É muito difícil a medição da saúde. Assim, para avaliar o nível de saúde de uma população buscam-se Geovana Sanches - TXXIV dados negativos (não-saúde): morte, doenças e agravos. Um importante fator a considerar no cálculo das medidas de ocorrência de doenças é o total de pessoas expostas, ou seja, indivíduos que podem vir a ter a doença. Idealmente, esse número deveria incluir somente pessoas que são potencialmente suscetíveis de adquirir a doença em estudo. Por exemplo: Câncer de colo de útero- os homens não deveriam ser incluídos no cálculo da ocorrência pois não são suscetíveis. Risco e Fator de risco Devido ao seu caráter eminentemente observacional, a lógica da epidemiologia moderna estrutura-se em torno de um conceito fundamental, o risco e um conceito correlato, o fator de risco. De modo simplificado podemos dizer que o objeto da epidemiologia é analisar “o risco e seus determinantes”. Risco Refere-se ao equivalente epidemiológico do conceito matemático de probabilidade. É a probabilidade de ocorrência de uma doença, agravo, óbito ou condição relacionada à saúde (incluindo cura, recuperação ou melhora), em uma população ou grupo, durante um período de tempo determinado. É estimado sob a forma de uma proporção (razão entre duas grandezas, na qual o numerador se encontra necessariamente contido no denominador). A definição epidemiológica de risco compõe-se obrigatoriamente de três elementos: • Ocorrência de casos de óbito / doença / saúde (numerador) • Base de referência populacional (denominador) • Base de referência temporal (período) Obs.: incidência é a ocorrência de casos de óbito/ doença/ saúde dividido pela base de referência populacional. Fator de risco São aqueles cujo efeito pode ser prevenido, como por exemplo o sedentarismo, obesidade, fumo, colesterol alto, contraceptivos orais para a doença coronariana. Marcadores de risco São atributos inevitáveis, já dados, cujo efeito encontra-se, portanto, fora da possibilidade de controle, como por exemplo sexo e grupo étnico. Estratégia de risco A estratégia de risco considera: - Distribuição desigual dos “danos” à saúde entre os diversos grupos populacionais (características próprias dos indivíduos ou sujeitos quanto a circunstâncias determinadas) com probabilidade aumentada em relação a outros sem as características ou não expostos às circunstâncias (fatores de risco). - Fatores de risco são observáveis e identificáveis antes do evento a que estão associados. - Estabelecimento de prioridades para redirecionamento de recursos. Usos do conceito de risco Os fatores de risco são definidos a partir de estudos epidemiológicos. • Coeficiente de incidência = medida de risco = risco absoluto • Risco Relativo (RR): coeficiente de Incidência de expostos / não expostos • Risco Atribuível (RA): número ou proporção de casos da doença ou causas de morte atribuível a um fator de risco = coeficiente de Incidência nos expostos – coeficiente. Inc. não expostos • Risco Atribuível na População (Rap) = RA – prevalência do fator na população • Risco ≈≈ OR / ± ≈≈ Razão de prevalência Deve-se levar em consideração a exposição frequente e à quantos fatores de risco. Usos de risco: predição, causa, diagnóstico, prevenção. RISCO = INCIDÊNCIA N° de casos (novos)/ população exposta DESENHOS DE ESTUDO Associação Algo que está associado com um fator é alterado por este fator. Sempre que o fator muda isso implicará em mudanças no desfecho. Geovana Sanches - TXXIV Duas variáveis associadas possuem uma dependência estatística maior do que se poderia esperar pelo acaso. Sempre que uma aumenta ou diminui, a outra aumenta ou diminui. Se eu digo que x está associado com y, sempre que eu alterar x o y será alterado também. Causalidade Estuda o papel de fatores que possam ser responsáveis pela existência de doenças ou condições. Uma causa é qualquer evento, condição ou característica que exerça função primordial na ocorrência de uma doença ou condição. Associação Estatística X Importância Clínica e Validade Externa Sem dúvida a estatística é importante, mas não pode ser a única ferramenta usada para o julgamento da aplicação ou não de uma nova estratégica. Exemplo: • Uma nova droga anti-hipertensiva será testada. Ela é mais cara que a antiga e existe a dúvida se vale a pena recomendar está droga ao invés da droga antiga. • Uma amostra de 15 mil pessoas é selecionada e é possível provar que ocorreu uma queda (estatisticamente significativa) de 2 mmHg na pressão sistólica com a nova droga, portanto, matematicamente está droga é melhor do que a antiga. • Clínica e eticamente, seria conveniente começar a prescrever está droga ao invés da antiga, pregando que ela é melhor? A validade externa ou generalização também precisa ser levada em conta. No exemplo dado, quando selecionaram os pacientes para o estudo, deve-se analisar quais foram os critérios para isso, pois não se sabe se os resultados obtidos naquele grupo específico podem ser extrapolados para toda a população de hipertensos. Critérios de Causalidade de Hill Em 1965, Hill propôs alguns critérios a considerar na distinção entre uma associação causal e uma não-causal. Alguns autores consideram que os critérios de evidência experimental e analogia não são relevantes em muitos casos, outros consideram que a coerência, plausibilidade e a analogia devam ser analisadas juntos, pois referem-se ao conhecimento acumulado até o momento do estudo. Sir Bradford Hill- “Nenhum dos meus pontos de vista por si só pode anular ou provar uma hipótese de causa e efeito.” 1) Força de associação: Quanto mais elevada for a medida de efeito (Risco relativo, Odds Ratio, etc.), maior a probabilidade de que a relaçãoseja causa. O que não quer dizer que a associação fraca não possa ser causal. Exemplos de associações fortes: limpadores de chaminé tem 200x mais câncer de escroto e fumantes pesados, 30x câncer de pulmão. 2) Consistência: a associação também é mostrada em vários locais, pessoas e tempos (e inclusive com diferentes delineamentos – se aplicável), ou seja, é possível reproduzir várias vezes o estudo, obtendo resultados semelhantes? Exemplo: todos estudos no mundo, mostram existir uma forte associação entre sedentarismo e obesidade. 3) Plausibilidade biológica: essa associação faz sentido biologicamente? Os achados são coerentes com os preceitos científicos conhecidos até o momento? Quanto menos se sabe sobre determinada doença, menos pode-se avaliar esse critério. O estudo sobre câncer e uso de celulares foram todos abandonados por esta falha; faltava plausibilidade biológica para provar a associação causal. 4) Relação dose-resposta: quanto mais exposição ao fator de risco, maior a chance de adoecer ou maior a gravidade da doença. Exemplo: tabagismo e câncer de pulmão -> quanto mais cigarros fumados, maior a mortalidade. 5) Especificidade: esta exposição leva apenas ao desfecho? Uma causa é especifica se, ao introduzirmos o fator causal, a doença ocorre e, se o retirarmos, o efeito não ocorre. Devido à multi- causalidade da maioria das doenças, este critério deve ser analisado sempre com muito cuidado e embasamento teórico. 6) Temporalidade: a causa deve sempre preceder o efeito. Os estudo longitudinais e os retrospectivos são os únicos que conseguem analisar este critério, pois conseguem ver o que veio antes – causa ou efeito. 7) Evidência experimental: a teoria foi provada corretamente metodologicamente através de experiências (com animais ou humanos)? Ao retirar o fator em laboratório, o desfecho diminuiu ou desapareceu? Muitas vezes este critério não pode ser avaliado por questões éticas. 8) Analogia: esta associação é similar a outras? Uma analogia simples pode aumentar a credibilidade para uma atribuição de causalidade. Por exemplo: se determinada droga é reconhecidamente causadora de malformação congênita, talvez uma similar que está em estudo também o seja. TIPOS DE ESTUDO Experimental x Observacional Observacionais: Relatos de caso; Série de casos; Transversal ou de Prevalência; Ecológico; Coorte; Caso-controle. Experimentais: Ensaio clínico; Ensaio de comunidade. Geovana Sanches - TXXIV Relato de caso • Apenas um paciente ou um pequeno número deles; • Um hospital ou serviços de saúde; • Ausência de grupo de comparação; • Descrição inicial (às vezes fundamental) de novas doenças ou associações. Série de casos • Diferencia-se do relato de caso pela quantidade de pacientes envolvidos. • Sem grupo de comparação. Estudo transversal ou de prevalência • Doença e exposição medidas simultaneamente ou em um curto período de tempo; • População inteira ou amostra da população; • Estudo comum; • Muito utilizado para planejamento em saúde; • A principal medida obtida é a prevalência em expostos e prevalência em não expostos conforme os níveis de exposição; • Fornece informações sobre a distribuição e as características do evento na população; • A seleção da população depende dos objetivos de estudo (qual a pergunta a ser respondida), tamanho da amostra e qual a técnica de amostragem (o ideal é que todos os indivíduos da população a ser investigada tenham chance de serem incluídos no estudo) - Representatividade; • A avaliação da doença pode ser feita através de questionários específicos, exames médicos, exames laboratoriais, etc. • A avaliação da exposição ocorre por definição do período de tempo, assim como questionários, testes de laboratório e exame médico. OBS.: “p” mede o nível de erro admitido, de forma que quando p> 0,05, o estudo não tem validade. • Vantagens: simples, rápido e de baixo custo; pouca dependência de memória do entrevistado; não há seguimento; adequado para descrever situações de saúde; informações para planejamento e programas de saúde; subsídios para estudos epidemiológicos mais complexos. • Desvantagens: dificuldade para inferência causal: não permite estabelecer relação temporal entre exposição e efeito; doentes com evolução rápida (cura ou morte) tem menor chance de inclusão; doentes com períodos de exacerbação/remissão também são problema - indivíduos em fase de remissão podem ser incluídos como não tendo a doença; evento raro: em geral pouco adequado; participação baixa: viés de seleção? Estudos ecológicos • Unidade de informação não é o indivíduo, mas sim um grupo. • Informações sobre doença e exposição em grupos populacionais: escolas, cidades, países, etc. • Quase sempre os dados são colhidos rotineiramente • Comparação entre áreas geográficas quanto à exposição e a doença • Também utilizado comparando exposição e doença em tempos diferentes. • Emile Durkheim (1858-1917): estudo clássico sobre religião e suicídio. Nas regiões da Prússia com maior proporção de protestantes, as taxas de suicídio eram maiores. Estudos de coorte e caso-controle Até recentemente, coorte referia-se à estudo prospectivo e caso-controle, à estudo retrospectivo, mas atualmente temos: • Coorte retrospectiva (histórica): participantes identificados segundo características e exposição no passado. • Coorte prospectiva: participantes identificados segundo características e exposição atual. A diferença fundamental entre esses dos tipos de estudo é que os estudos de coorte trabalham a exposição, enquanto os estudos de caso-controle trabalham a doença. Exemplo: exposição a raio X e risco de leucemia- o coorte estudaria os indivíduos identificados a partir da exposição ao raio X, enquanto Geovana Sanches - TXXIV o caso-controle, os indivíduos identificados a partir da Leucemia. Medidas de efeito Ø Ie= incidência nos expostos Ø Io= incidência nos não expostos Ø Risco relativo: número de vezes que o grupo exposto tem probabilidade de adoecer em relação ao grupo não exposto. Þ RR= Ie/Io Ø Risco atribuível: incidência da doença atribuível à exposição. Þ RA= Ie – Io Estudos de Coorte Vantagens: possível estudar várias doenças; possível estudar exposições raras; informação sobre exposição pouco sujeita a vieses; pode-se calcular incidência. Desvantagens: estudos de longa duração; não adequados para doenças raras; pode-se estudar poucas exposições; logística complexa; perda de indivíduos. Estudos de Caso-Controle Possibilita a comparação entre um grupo de indivíduos com a doença de interesse com um grupo de indivíduos sem a doença, no que se refere à exposição suspeita. E ainda, quantificar fatores que ocorram com maior ou menor frequência nos casos do que nos controles. É uma forma mais eficiente do estudo de coorte: • Casos: aqueles que ocorreriam no seguimento. • Controles: modo rápido e pouco dispendioso de avaliar exposição na população que deu origem aos casos. As medidas de efeito são o Odds Ratio, que é a razão de probabilidades de ocorrência e não ocorrência de um evento. Þ OR= ad/bc A seleção de casos e controles segue as seguintes características: • Os casos e controles devem vir da mesma população. • Seleção dos casos deve ser independente da exposição. • Controle “ideal” é aquele que se tivesse desenvolvido a doença seria incluído como caso. • Número de controles: o Razão 1:1 – maior poder estatístico o Número limitado de casos –> aumentar número de controles o Dois grupos de controles –> resultados semelhantes Há dois tipos de controles: populacional e hospitalar. O populacional tem uma população de origem mais bem definida- é mais fácil se casos e controles pertencem a mesma população, sendo que a história de exposição provavelmente reflete aquela das pessoas sem a doença.Tem viés de informação diferencial (recall/ bias). Já para o hospitalar, levam-se em consideração os custos, acesso, cooperação e memória. Os casos e controles tem semelhanças quanto algumas características. Há maior possibilidade de obter informação sobre exposição, tendo em vista a disponibilidade de prontuários e a possibilidade da coleta de espécimes biológicos. A história de exposição pode ser diferente daquela existente na população de origem. A avaliação da exposição deve ser feita através de entrevistas e questionários: correio, telefone, entrevista pessoal, autopreenchimento; prontuário médico; coleta de espécimes biológicos; validar informação com marcador biológico. Vantagens: possível estudar vários fatores de risco; possível estudar doenças raras; em geral não requer grande número de indivíduos; relativamente rápido e barato. Desvantagens: seleção dos controles é difícil; não adequado para exposições raras; informação sobre exposição é mais sujeita a viés; não é possível o cálculo de incidência; pode haver dificuldades para determinar sequência exposição – doença. Ensaio clínico É o tipo de estudo epidemiológico menos sujeito a viés. Trata-se de um “experimento” com pessoas doentes (terapêutica) ou sadias (prevenção). Paradigma (“Gold standard”) dos estudos epidemiológicos: • Evidência fornecida por ensaio clínico controlado: em geral maior peso que outros tipos de estudo na avaliação de causalidade. • Atualmente, para novos medicamentos, modalidades terapêuticas, técnicas cirúrgicas, testes diagnósticos, testes de “screening” e vacinas, é quase obrigatória a avaliação por ensaios clínicos controlados e aleatorizados. Vantagens: tipo de estudo menos sujeito a viés (“bias”); aleatorização garante semelhança dos grupos quanto a fatores conhecidos e desconhecidos; investigador tem grande controle das condições do estudo; melhor desenho para avaliação de terapêutica. Desvantagens: logisticamente difícil; raramente pode ser utilizado em estudos etiológicos; artificial; caro; objeções éticas. Geovana Sanches - TXXIV Ensaio de comunidade Utilizado para avaliar intervenções a nível de comunidade (escola, bairro, cidade, país). Exemplos: campanhas para prevenção de AIDS, inseticida no controle de vetor, fluoretação da água para controle de cárie. Metanálise Refere-se a síntese de informação. Em ciências biomédicas, trata-se de avaliação sistemática, organizada e estruturada de um problema, utilizando informação de diversos estudos independentes. É diferente de uma revisão tradicional: • Componente qualitativo: aplicação de critérios pré-determinados de qualidade (mesmo para inclusão ou não). Exemplos: aleatorização, mascaramento, etc. -> escore. • Componente quantitativo: integração da informação numérica -> tamanho dos estudos. Deve-se tomar cuidado na análise de estudos com desenhos diferentes e quando ao viés de publicação. Níveis de evidências • Ia Metanálise de ensaios clínicos randomizados • Ib Pelo menos 1 ensaio clínico controlado e randomizado. • IIa Pelo menos 1 ensaio controlado sem randomização • IIb Pelo menos 1 estudo de outro tipo – Coorte, caso-controle • III Estudos não experimentais – série de casos • IV Relatórios de comitê de experts, consensos de especialistas • V Opinião desprovida de avaliação crítica ou baseada em matérias básicas. Recomendações Existem três graus de recomendações: • Grau A: evidências suficientemente fortes de que seu uso possa ser benéfico. Corresponde aos níveis I de evidências. • Grau B: existem evidências, mas não são definitivas sobre seu uso ser benéfico. Corresponde aos níveis II e III de evidências. • Grau C: existem evidências de que seu uso não traz benefício. Corresponde ao nível IV de evidências. • Grau D: corresponde ao nível V de evidência. MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL Média Soma de todos os valores dividido pelo n° de observações. Vantagens: adequada para manipulações matemáticas Desvantagens: resultado afetado por valores extremos. Mediana O ponto onde o n° de observações acima se iguala ao n° abaixo. Moda O valor que ocorre com maior frequência. Mediana e moda não são influenciadas por valores extremos. Exemplo: 1 - 5 - 8 - 8 - 9 - 12 ● Média = 7 ● Mediana = 8 ● Moda = 8 ● Desvio padrão = 3,5 MEDIDAS DE VARIABILIDADE E DISPERSÃO Desvio padrão Ideia de dispersão. Quadrado da diferença e depois extrai raiz quadrada. Valor absoluto da média das diferenças dos valores individuais em relação à média. Exemplo: 1 - 5 - 6 - 8 - 8 - 9- 12 - 180 ● Média = 28,5 ● Mediana = 8 ● Moda = 8 ● Desvio padrão = 61,3 (grande variabilidade) Faixa Do valor mais baixo ao mais alto numa distribuição Vantagem: inclui todos os valores. Desvantagens: muito afetadas por extremos. Percentil, decil, quartil A proporção de todas as observações que ficam nos valores especificados. DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES SEGUNDO A CURVA NORMAL DE GAUSS Geovana Sanches - TXXIV PRINCIPAIS DESENHOS DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS Diagrama de controle endêmico ● Frequência mínima esperada: 95% - limite inferior endêmico (μ-1,96, σ) incidência ● Frequência média esperada: 95% - índice inferior endêmico, (μ) incidência ● Frequência máxima esperada: 95% - limite superior endêmico (μ+1,96, σ) incidência A curva está dentro do limite endêmico. Caso se ultrapassem os limites da curva, ocorre epidemia. Tipos de estudos epidemiológicos Agregado • Observacional o Transversal: por exemplo, mortalidade infantil o Longitudinal: sequências ou série de eventos; estuda-se se há tendências. • Intervenção o Longitudinal: ensaios comunitários. Individuado • Observacional o Transversal: inquérito ou surveys o Longitudinal • Intervenção o Longitudinal: ensaios clínicos Medidas de ocorrência, associação e significância estatística Delineamento de estudo de coorte para avaliação de risco Delineamento de estudo de caso controle Estrutura do ensaio clínico • Fase I - tolerabilidade em humanos (dose máxima tolerada) • Fase II - atividade biológica (estudo piloto da eficácia) • Fase III - ENSAIO CLÍNICO (papel na prática clínica) • Fase IV - vigilância pós-comercialização(efeitos adversos e segurança) Medidas de efeito e associação • Risco relativo ou razão de risco (RR) • Razão de chances ou Odds Ratio (OR) • Razão de taxa, Razão de densidade de incidência (RT) • Razão de prevalência (RP) • Risco atribuível ou diferença de riscos (RA) Geovana Sanches - TXXIV ENSAIO CLÍNICO Um ensaio clínico ou um estudo clínico é uma pesquisa científica que pretende responder uma pergunta sobre determinada intervenção que pode ser com um medicamento, um produto para a saúde, uma vacina... uma intervenção que deve ser controlada a fim de avaliarmos a segurança e a eficácia desta intervenção. Ou seja, é um experimento controlado em voluntários humanos utilizados para: • Avaliar a segurança e eficácia de tratamentos ou intervenções contra doenças e problemas de saúde de qualquer natureza; • Determinar os efeitos farmacológicos, farmacocinéticos e farmacodinâmicos, de novas terapias. • Inclui o estudo de reações adversas. Características Característica principal: o pesquisador pode atribuir a exposição de forma aleatória. Temporalidade: prospectivos. Pelo número de observações sucessivas: longitudinais. Os estudos clínicos não têm como critério de seleção baseados no resultado ou na exposição. Pretende-se isolar a contribuição de um fator (intervenção) mantendo constante todos os outros determinantes do resultado. Grupo controle É um grupo de indivíduos que recebem uma intervenção que serve como um contraste para avaliar a utilidade relativa da terapia experimental. Devem receber o tratamento padrão, ou seja, a melhor alternativa terapêuticavigente no momento da concepção do ensaio clínico. Se não houver um tratamento padrão, placebo pode ser o mais adequado. Validade interna Aspectos básicos: alocação aleatória; seguimento completo dos pacientes. Princípios de análise por intenção de tratar aspectos secundários: estudo cego; grupos semelhantes no início do estuo. Alocação aleatória A aleatoriedade tende a assegurar uma distribuição equilibrada de todas as variáveis. Variáveis de confusão tanto conhecidas, como não conhecidas ou difíceis de medir. Elimina o viés de seleção. Diminuem a probabilidade de que os grupos difiram significativamente entre si com respeito a alguma variável não controlada, ou alguma característica que possa influir no resultado. Mascaramento Cegamento: tentativa de evitar que saiba quem está recebendo a intervenção e evitar que isto interfira nos resultados. As expectativas podem influenciar a avaliação da resposta. A melhor técnica é o duplo-cego: condução da pesquisa sem que os membros da equipe e das pessoas que lidam com os pacientes, os investigadores que coletam os resultados e tampouco os pacientes, saibam a que grupos os mesmos pertencem, se ao grupo controle ou ao grupo experimental. Apenas uma pessoa da equipe, a qual não vai lidar com os pacientes ou avaliar os resultados, sabe quem pertence a cada grupo. Somente ao final da investigação, serão revelados os grupos aos quais cada indivíduo pertence. Diminuem os riscos de diferenças sutis e não reconhecidas na qualidade e estilo de tratamento, na resposta dos pacientes ou na avaliação do pesquisador. São importantes quando o resultado do experimento requer avaliações subjetivas. São inviáveis quando a intervenção não pode ser escondida do paciente e/ou médico (tipos de tratamento diferentes, efeitos colaterais). Ensaio clínico controlado aleatorizado Diz-se que um ensaio clínico é aleatorizado quando os indivíduos elegíveis ao estudo são alocados nos diferentes grupos de tratamentos de maneira casual, segundo, por exemplo, a geração de uma sequência de números aleatórios em um programa de computador. Em um ensaio aleatorizado, portanto, não há qualquer controle do pesquisador sobre a decisão de destinar um paciente a um ou outro grupo; e nem os pacientes participam dessa escolha. No tipo controlado, há a existência de um grupo controle. Os propósitos da aleatorização são evitar vieses e garantir que os pressupostos exigidos pelos Geovana Sanches - TXXIV métodos tradicionais de análise estatística sejam respeitados. Ensaio clínico controlado fatorial Variante do ensaio clínico aleatorizado que considera mais de um fator, exemplo: testar os efeitos da: • Droga ou intervenção A • Droga ou intervenção B • Drogas ou intervenções A + B • Placebo / procedimento controle Ensaio clínico cruzado Em um estudo clínico cruzado convencional, a cronologia da pesquisa é alocar os indivíduos em um dos grupos de intervenção (teste ou controle). Após o térmico dessa fase, esperar um tempo de “wash-out”, para que a primeira intervenção não interfira na segunda (efeito conhecido como “carry-over”) e então inverter o tipo de intervenção para cada. Ensaios clínicos do tipo cruzado são populares em estudos de desenvolvimento de novas drogas, principalmente quando o tratamento testado é apenas uma pequena modificação do tratamento padrão. São mais apropriados quando os efeitos da intervenção são de curta duração e reversíveis, e estão normalmente associados a tratamentos de situações sintomáticas e não crônicas. Não devem ser utilizadas quando a condição estudada é instável, podendo mudar independentemente da intervenção aplicada. Esse tipo de delineamento é menos usado em ensaios clínicos, principalmente por levar o dobro do tempo em relação a ensaios paralelos, já que ambos os grupos de intervenção recebem tanto a intervenção teste como a controle, em momentos diferentes. Nesse estudo, o participante atua como seu próprio controle, permitindo avaliações intragrupos e intergrupos. Se a intervenção requer um tempo de acompanhamento muito longo, esse tipo de delineamento se torna impraticável. Vantagens • Pode produzir a evidência mais forte de causa e efeito; • Pode ser o único delineamento possível para responder uma pergunta; • Algumas vezes pode produzir uma resposta mais rápida e barata do que estudos observacionais. Desvantagens • Muitas perguntas não podem ser respondidas por esse delineamento o Barreiras éticas o Resultado muito raro • Intervenção padronizada muito diferente da prática comum (reduzindo generalização) Medidas de efeito Existem diferentes maneiras de se mensurar o desfecho de interesse em um ensaio clínico. Quando os participantes são classificados em dois grupos, segundo a presença ou não de certo acontecimento, diz-se que esta variável é dicotômica. Por exemplo, os participantes podem ser classificados como vivos ou mortos, curados e não curados, com ou sem efeito adverso. Quando fazemos uso de uma variável dicotômica para classificar o desfecho dos participantes do estudo, podemos usar diferentes medidas para comparar o resultado entre os grupos de intervenção e de controle. Essas medidas são construídas através de razões ou de diferenças e trazem informações distintas. Incidência no grupo tratamento / Incidência no grupo controle Ø Incidência no grupo tratamento: a / a + b Ø Incidência no grupo controle: c / c + d Risco relativo (RR) / Redução relativa do risco (ou Eficácia) Risco: probabilidade de ocorrência de certo desfecho. Varia entre 0 e 1 e pode ser transformado em percentual ao se multiplicar por 100. Uma maneira de compararmos as duas intervenções é através do cálculo de uma razão desses riscos, conhecida como risco relativo (RR). Quando o risco nos dois grupos for o mesmo, o RR será igual a 1. Se o risco no grupo de intervenção for menor do que o risco no grupo controle, então o RR será menor que 1; caso contrário, ele será maior do que 1. A eficácia representa a redução relativa do risco obtida com a intervenção. No caso do tratamento provocar um aumento do risco de algum evento, termos o excesso relativo de risco (ERR), calculado como (RR-1) x 100. Redução absoluta de risco (RAR) A RAR representa a redução, em termos absolutos, do risco no grupo que sofreu a intervenção de interesse, em relação ao grupo controle. RAR= [R(c) – R(t)] x 100 Número necessário para tratar (NNT) É um modo adicional de se medir o impacto de uma intervenção. Essa medida representa o número de pacientes que se precisa tratar para se prevenir um evento indesejado (exemplo: morte, recaída). O NNT é calculado como o inverso da RAR. Como RAR é influenciada pela frequência do evento Geovana Sanches - TXXIV que se está avaliando, NNT também será influenciado por esse fator. Diferença de médias Existem ensaios clínicos nos quais o desfecho é medido através de escores de escalas, como BPRS ou AIMS. Essas escalas produzem escores para cada paciente, ao invés de resultados dicotômicos do tipo “sim / não”. Esse tipo de variável é denominado contínua, sendo comum o cálculo de sua média nos dois grupos que se deseja comparar. Para avaliar o tratamento de melhor resultado, costuma-se comparar as médias dos dois grupos ao longo do estudo. Em outras ocasiões, calculam-se esses escores no início e no final do tratamento, e compara-se a mudança desses escores em cada grupo. Nível de significância – Valor de p Objetivo: discutir o papel do acaso nos resultados obtidos em um ensaio clínico. Ou seja, ainda que um estudo estime uma eficácia de 30%, esta diferença entre os grupos pode ser causal. Em estatística, uma das maneiras de abordar essa questão é avaliando a evidência contra o que se denomina hipótese nula, segundo a qual não existe diferença entre os efeitos das intervenções que se está comparando.A força da evidência contra a hipótese nula é avaliada através do valor de p, que representa a probabilidade de se observar uma diferença entre os grupos como a que foi encontrada no estudo, quando, na verdade, esta diferença não existe. Por se tratar de uma probabilidade, o valor de p varia entre 0 e 1. Quando menor ele for, maior a evidência contra a hipótese nula. Para efeito de tomada de decisão, muitos ensaios clínicos consideram a probabilidade menor do que 5% (p < 0,05) como o valor limite para considerar que um efeito observado no estudo é real, não sendo decorrente do acaso. Quem mede a magnitude do efeito de uma intervenção é a eficácia, a redução absoluta de risco, o número necessário para tratar. Os valores de p apenas informam a probabilidade de que uma associação, identificada no estudo, seja um achado falso-positivo decorrente do acaso. O grau de certeza de que um efeito observado não decorre do acaso aumento quando há um número maior de indivíduos no estudo. Intervalo de confiança Define os limites inferior e superior de um conjunto de valores que tem certa probabilidade de conter no seu interior o valor verdadeiro do efeito da intervenção em estudo. Desse modo, o processo pelo qual um intervalo de confiança de 95% é calculado tal que ele tem 95% de probabilidade de incluir o valor real da eficácia da intervenção em estudo. O uso do intervalo de confiança permite não só conhecermos a precisão com que o estudo estima certo efeito, como também possibilita dizermos se o achado é estatisticamente significativo para um dado nível de significância. Quando o intervalo de confiança contiver o valor nulo de efeito, o estudo será inconclusivo (sem significância estatística). o Entende-se por valor nulo de efeito o valor que expressa riscos iguais em ambos os grupos. o No caso do RR, da eficácia e da RAR, os valores nulos são um, zero e zero, respectivamente. Poder do estudo O poder de um ensaio clínico pode ser definido como a probabilidade do estudo identificar uma diferença entre os tratamentos (efeito), quando essa diferença é real. O poder é influenciado por quatro fatores: • A natureza do teste estatístico; • O nível de significância; • O tamanho da amostra; • A diferença esperada no efeito dos dois tratamentos. É de extrema importância para os ensaios clínicos que o tamanho amostral propicie um poder elevado; estudos para detectar efeitos pequenos necessitam amostras maiores. E, ainda, que o estudo informe o poder, sobretudo quando seus resultados não alcançam significância estatística. Se o poder for baixo, nada se pode concluir. Se o poder for alto, pode- se considerar, com um pouco mais de segurança, que os tratamentos tenham efeitos semelhantes. Conclusões 1. A magnitude de uma associação ou efeito de uma intervenção é dada pelo risco relativo, redução de risco relativo (eficácia), diferença de riscos ou diferença de médias, e não pelo valor de p. 2. O fato de uma intervenção num ensaio clínico apresentar maior eficácia (redução de risco relativo) não significa que ela é responsável pela maior redução de risco em termos absolutos. 3. O valor de p não indica se o efeito de uma intervenção é forte ou fraco. Ele apenas indica a probabilidade de se observar determinado efeito quando este se deve ao acaso. 4. O valor de p é influenciado, entre outros fatores, pelo tamanho da amostra. 5. Estudos com amostras maiores tendem a obter estimativas de efeito mais precisas (menor intervalo de confiança) e costumam apresentar maior poder (probabilidade de detectar um efeito quando este existe). Geovana Sanches - TXXIV Razão de chances ou Odds Ratio (OR) É uma razão de duas probabilidades complementares, que calcula indiretamente uma estimativa do risco relativo. Muito usado quando não é possível o cálculo direto do risco, ou seja, da incidência e também do risco relativo. Exemplo: quando não dispomos do número de expostos e não expostos ao fator de risco (denominador em estudos de caso-controle). Para doenças raras, o Odds Ratio apresenta um valor muito próximo do risco relativo. OR nos ensaios clínicos A razão de chances é a medida relativa de efeito, que permite a comparação entre o grupo de intervenção e o grupo placebo. • OR=1, não existe diferença entre os dois grupos de estudos (o desfecho foi o mesmo) • OR > 1, o controle é melhor que a intervenção • OR < 1, a intervenção é melhor que o controle REVISÃO SISTEMÁTICA Revisão sistemática é uma forma de pesquisa que utiliza de fontes de informação bibliográficas ou eletrônicas para obtenção de resultados de pesquisas de outros autores. Objetivo: fundamentar teoricamente determinado objeto/tema. Sintetizam os resultados de estudos primários utilizando estratégias que diminuam a ocorrência de erros aleatórios e sistemáticos. As revisões sistemáticas identificam, dentro os inúmeros estudos publicados sobre um determinado tema, aqueles com superior qualidade metodológica, cujos resultados podem ser utilizados na prática médica. Passos para realizar uma revisão sistemática: 1. Definir a pergunta científica a. Problema clínico a ser evidenciado b. Intervenção c. Controle d. Outcome (desfecho) 2. Identificar as bases de dados a serem consultadas, palavras-chaves e estratégias de busca. 3. Estabelecer critérios para a seleção dos artigos a partir de uma busca abrangente. 4. Conduzir a busca nas bases de dados escolhidas e com bases estratégicas definidas - pelo menos 2 examinadores experientes e comparar as buscas dos examinadores e definir a seleção inicial dos artigos. 5. Aplicar os critérios e justificar exclusões. 6. Analisar criticamente e avaliar os estudos incluídos. 7. Preparar um resumo clínico. 8. Apresentar uma conclusão, informando a evidência sobre os efeitos da intervenção. Como avaliar criticamente uma revisão sistemática? O estudo possui validade interna? • Foi realizada uma estratégia de busca exigente? • Há uma questão clínica bem estruturada e focada (PICO)? • Os autores avaliaram a qualidade metodológica dos estudos incluídos na revisão sistemática? • Os resultados são importantes? • Os autores realizaram metanálise? Se sim, qual a estimativa de efeito conjunto? Os achados foram precisos? Se não, os autores explicaram potenciais causas de heterogeneidade? • Os critérios de inclusão e exclusão foram definidos a priori? • Os resultados são aplicáveis na prática? Geovana Sanches - TXXIV • Os estudos da revisão incluem pacientes semelhantes ao meu? • A intervenção em estudo está disponível no meu meio de trabalho? É de baixo risco de complicações e custo? • O paciente (ou substituto legal) aceita receber a intervenção proposta? METANÁLISE É o método estatístico utilizado na revisão sistemática para integrar os resultados dos estudos incluídos e aumentar o poder estatístico da pesquisa primária. Combina resultados provenientes de diferentes estudos produzindo estimativas que resumem o todo, chamadas de estimativas metanalíticas. Forest plot Representação gráfica resultado de revisões sistemáticas quantitativas, cuja abordagem estatística é a metanálise. Elaborado de modo a comparar os efeitos de tratamentos (medicamentosos ou não) em estudos quantitativos. Apresenta virtualmente a significância matemática de achados como Odds Ratio ou Risco Relativo. a) Quais dos estudos apresentam risco relativo maior que 1? Todos os estudos, menos o E. b) Qual dos estudos apresenta maior relevância e, portanto, influência do resultado da metanálise? Estudo J, pois está representado pela maior caixa. c) Quais são os dois estudos que apresentam os intervalos de confiança mais largos? A e D. d) Quais foram os estudos cujos riscos relativos apresentaram significância estatística? J e B, pois a linha que acompanha a caixa não cruzaa linha vertical. TESTES DIAGNÓSTICOS Principais medidas Sensibilidade e especificidade Descrevem o poder de um exame (sinal, sintoma, resultado laboratorial, de imagem…) em discriminar doentes de não doentes. • Sensibilidade: é a proporção de pacientes doentes que apresentam resultados positivo no exame • Especificidade: é a proporção de pacientes sadias que apresentam resultado negativo no exame. Cálculo Os verdadeiros positivo e negativo dão a acurácia do teste. Baixa sensibilidade: quando a sensibilidade é baixa, não se pode valorizar um resultado negativo, uma vez que há um alto percentual de falsos negativos. Alta especificidade: quando a especificidade é alta, pode-se valorizar um resultado positivo → ele tem grande probabilidade de ser verdadeiro positivo, uma vez que haverá poucos falsos positivos. Da sensibilidade e especificidade para a avaliação da “utilidade do teste”. • Um próximo teste será útil na medida da sua capacidade de aumentar o poder de discriminar doentes de sadios. • Ou seja, a probabilidade de doença pós-teste dada por este novo teste deve ser maior do que a probabilidade de doença pré-teste. Relação entre sensibilidade e especificidade - qual é o real? Geovana Sanches - TXXIV Frequentemente, na prática clínica, escolhe-se o ponto de corte onde exista o menor erro possível, tanto de falsos positivos, quanto de falsos negativos. Uma forma de expressar graficamente a relação entre a sensibilidade e a especificidade é através da construção da curva ROC (Receiver Operator Characteristic curve). Quanto mais próxima a curva estiver do canto superior esquerdo do gráfico, melhor será o poder discriminatório do teste diagnóstico e quanto mais distante, até o limite da diagonal do gráfico, pior será o seu poder de discriminar doentes e não doentes. Pode servir como orientação para a escolha do menor ponto de corte de um teste diagnóstico que, em geral, localiza-se no extremo da curva próximo ao canto superior esquerdo no gráfico. Comparação de dois (ou mais) testes diagnósticos para a mesma doença - o poder discriminatório do teste, pode ser mensurado através do cálculo da área sob a curva ROC: quanto maior for a área, tanto melhor será o teste diagnóstico. O que fazer quando a sensibilidade do teste é baixa? • Alta proporção de altos negativos • Testes múltiplos Testes múltiplos (série e paralelo) Não existem testes 100% seguros. Além disso, muitos testes são muito caros ou oferecem risco ou desconforto ao paciente. Frequentemente, é necessário lançar mão de um verdadeiro arsenal para diagnosticar uma determinada doença, solicitando um conjunto de testes diagnósticos. Usar a estratégia dos testes múltiplos • Testes em paralelo: realiza-se mais de um teste. Se um deles der positivo, trata-se. • Testes em série: realiza-se mais de um teste. Mas só se inicia o tratamento ou só se considera teste positivo quando pelo menos dois resultados de testes diferentes forem positivos. Testes múltiplos ou testes em paralelo Testes ao mesmo tempo. Regra de decisão: um teste + → doença. Aumenta a sensibilidade e diminui a especificidade. Aumenta o VPN Utilizado quando os testes disponíveis têm baixa sensibilidade ou quando há urgência ou dificuldade de acesso. Possibilidade de omitir a doença é menor, mas corre o risco de tratar pacientes que não têm a doença. → Aumento da sensibilidade • Aumenta VP (verdadeiro positivo) • Diminui FN (falso negativo) → Diminuição da especificidade • Diminui os VN (verdadeiro negativo) • Aumenta os FP (falso positivo) Deixam-se poucos positivos sem tratamento, todavia, há o perigo de tratar sadios. Testes múltiplos em série Regra de decisão: um teste negativo → sem doença. O teste seguinte só é realizado se o anterior for positivo. Aumenta especificidade e diminui a sensibilidade. Aumenta VPP. Utilizada quando: não é urgência ou quando o teste é invasivo ou caro. • Aumento da especificidade o Aumenta VN o Diminui FP • Diminuição de sensibilidade o Diminui os VP o Aumenta os FN Conclusão Probabilidade pré-teste alta > 70% → tratar Dificilmente um exame aumentará essa probabilidade. Teste positivo → ok Teste negativo → probabilidade de ser falso negativo. Probabilidade pré-teste baixa <30% → não peça outro teste, monitore Teste negativo → ok Teste positivo → probabilidade de ser falso positivo. Considerar situações de rastreio (p. ex. glicemia).
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