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1 LARISSA STORK - 70 MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS QUESTÃO CLÍNICA ( PICO) Exemplos: 1- Em pacientes de alto risco cardiovascular, o uso de estatinas, quando comparado a placebo, reduz a mortalidade total e eventos cardiovasculares graves? 2- Quais os sintomas e sinais mais importantes da tuberculose pulmonar, capazes de indicar a presença da doença e conduzir o raciocínio médico para diagnóstico da efemeridade? (Nesse caso não se aplica comparação). • Enfoques da questão PICO: terapêutico, diagnóstico clínico, diagnóstico complementar, etiologia e prognóstico. ASSOCIAÇÃO E CAUSALIDADE • A doença humana não ocorre aleatoriamente – existem fatores causais, preventivos e prognósticos. Para identificá-los, são feitas investigações sistemáticas, que se dividem em 3 etapas de acordo com o raciocínio epidemiológico: o Formulação de uma dúvida clínica; o Formação de uma hipótese específica que responda provisoriamente à dúvida; o Investigação da hipótese através de estudos epidemiológicos que incluem grupos de comparação para analisar o risco de ocorrência do efeito de acordo com a exposição (estudos analíticos). • Estudos analíticos: visam esclarecer hipóteses sobre eventuais relações de “causa” (variável independente) e “efeito” (variável dependente). Possuem grupo controle, para que possa ser feito a comparação com o grupo exposto. Para avaliar a investigação causal é preciso que haja uma associação estatística, ou seja, uma diferença estatisticamente significativa entre os grupos; • Critérios de análise de associação causal: CRITÉRIOS DE HILL (1995) Sequência cronológica / temporalidade Causa/exposição precede o efeito Força de associação / intensidade Intensidade de associação exposição-efeito Relação dose-resposta / gradiente Quanto maior a exposição, maior o efeito Reversibilidade A redução da exposição reduz o risco do efeito Consistência da associação Resultados similares em diferentes estudos Plausibilidade biológica / consistência A associação faz sentido biologicamente Desenho do estudo Os dados baseiam-se em um desenho de estudos adequado Consideração dos dados Diferentes dados / evidências levam à mesma conclusão ERROS EM ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS • A associação estatística encontrada pode ser falsa ou verdadeira. Se for falsa, indica ou um erro aleatório ou um erro sistemático (viés de seleção ou viés de informação). Se for verdadeira, pode indicar uma associação causal ou pode possuir viés de confundimento e, assim, indicar uma associação não causal; P – Paciente, população ou problema I – Intervenção ou indicador C – Controle ou comparação O – Objetivo ou outcome 2 LARISSA STORK - 70 ERROS ALEATÓRIOS • São erros quantitativos na seleção da amostra, resolvidos pelo aumento do tamanho da amostra (garante maior precisão). ERROS SISTEMÁTICOS 1- VIÉS DE SELEÇÃO • Ocorre quando a população do estudo não reflete as características da população de referência, ou seja, é um erro qualitativo na seleção da amostra. A melhor forma de se evitar é pelo sorteio aleatório; • Tipos: o Viés de voluntariado: decorre do motivo pelo qual a pessoa se candidata a participar da pesquisa, ou seja, parte do interesse da pessoa; o Efeito “trabalhador sadio”: pessoas empregadas são relativamente mais saudáveis que as não empregadas, então provavelmente menos pessoas empregadas se candidatariam para um estudo, gerando o viés. Além disso, na população empregada pode ter gente que não aceite pois está em horário de trabalho; o Viés de diagnóstico: pessoas com a exposição são mais prováveis de irem ao médico e, assim, serem monitoradas e terem a doença detectada. Como exemplo, um estudo encontrou mais casos de câncer de endométrio em mulheres que usavam estrogênio, pois elas sangravam devido ao hormônio e iam mais ao médico, faziam mais exames e, consequentemente, descobriam o câncer. Por outro lado, as que não usavam estrogênio, não sangravam e não iam ao médico com tanta frequência. Esse estudo gerou um viés de diagnóstico. o Perda de seguimento ou “não resposta”: recusa, migração, morte e dificuldade de acompanhamento durante o estudo; o Viés de incidência/prevalência (viés de Neyman): ocorre pela mudança de exposição ao saber que se tem uma doença. Fatores como cura ou efeito de tratamento influenciam. Sobrevida seletiva (pessoas com doenças menos agressivas vivem mais e são mais identificadas entre os casos). Exemplo, um estudo analisava a associação entre consumo de café e câncer de pâncreas. Foi utilizado como grupo controle pacientes que apresentavam outras doenças do aparelho digestivo, exceto câncer de pâncreas. Foi constatado que não há associação, entretanto houve viés já que os pacientes do grupo controle (com doenças no aparelho digestivo) consomem menos café por recomendação médica. Para evitar o viés, o grupo controle deveria ser o mais parecido possível com o grupo analisado, exceto pelo fato que não possuírem câncer de pâncreas; o Viés de espectro da doença: ocorre quando casos de determinado espectro da doença são incluídos (somente mais graves ou somente mais leves). Depende de fatores como: características do serviço (exemplo: se a amostra for de pessoas hospitalizadas e o estudo objetivasse analisar de modo geral todos os doentes, haveria viés pois a amostra seria os casos mais graves e não estaria representando a população alvo); características da doença; comorbidades. Para evitar esse erro deve-se escolher um local para recrutar os participantes da pesquisa de acordo com o que se quer pesquisar e restringir a pesquisa a um caso só, ex.: “pesquisar os pacientes casos leve na atenção primária”. 3 LARISSA STORK - 70 2- VIÉS DE INFORMAÇÃO • A medida de associação estimada no estudo está distorcida devido a erros na mensuração, aferição ou classificação da exposição e/ou do efeito, causados por: o Ausência ou imprecisão na definição dos eventos; o Uso de indicadores inapropriados para expressá-los; o Baixa validade das fontes e instrumentos de coleta (questionário mal elaborado, registros incompletos etc.); o Falha de instrumentos (aparelho descalibrado etc.); o Preparação deficiente dos observadores (falta de treinamento, de manual de instruções, de supervisão, de padronização). Ex.: pesquisador pergunta: “você não bebe não, bebe?” e a pessoa mesmo que beba, sente-se induzida a responder que não. • Tipos: o Viés de memória: ocorre quando a coleta de dados, feita por questionário/perguntas, depende da memória da pessoa; o Dados de terceiros: ocorre quando o questionário/perguntas é respondido por terceiros e não pelo próprio participante, como em caso de crianças e adolescentes em que um familiar responde às perguntas; o Viés de prevaricação (falsa resposta ou não aceitação): participante por algum motivo, como constrangimento, dá resposta falsas; o Viés de registro: baixa qualidade de documentos (como prontuários). Para evitar esse viés, deve-se avaliar antes a qualidade dos documentos e definir como critério de inclusão prontuários com dupla checagem, por exemplo; o Viés de suspeição de exposição (entre os doentes) ou do diagnóstico (entre os expostos): informação supervalorizada devido ao conhecimento sobre a exposição ou sobre a doença. Evita-se esse viés encobrindo do participante em qual grupo ele está (mascaramento); o Viés do observador: o observador acredita numa determinada coisa e tende a distorcer as informações. Por exemplo, ele vai supervalorizar o efeitos benéficos de um remédio que ele acredita e subvalorizar os efeitos negativos. Evita-se com mascaramento. 3- VIÉS DE CONFUNDIMENTO • Distorção que ocorre na medida da associação entre uma variável independente e uma dependente, causada por uma terceira variável - o fator de confusão, variável alheia à investigação.O fator de confusão está distribuído desigualmente entre os grupos, afetando a comparabilidade. Exemplo: 4 LARISSA STORK - 70 • Condições mínimas para um fator de confusão: deve ser fator de risco ou proteção para o efeito; está associado com a exposição, mas não é consequência direta dela; não é intermediário na associação causal e nem consequência do efeito; • Esse viés pode simular risco ou proteção da exposição em relação ao efeito, subestimar ou superestimar o fator de risco / proteção e até causar aparente inversão, fazendo o fator de proteção parecer de risco e vice-versa; • Para evitar o fator de confusão, deve-se: o Na fase de delineamento do estudo: estabelecer modelos hierárquicos de causalidade; randomizar (aleatorizar); restringir a população de estudo; parear (a cada pessoa com fator de confusão, seleciona outra sem esse fator - exemplo: para cada pessoa fumante, escolhe outra não fumante); o Na fase analítica do estudo: estratificar (analisar por categorias) e fazer modelagem estatística. • Confundimento pode ser considerado um viés ou não. É um viés se o objetivo do estudo é estabelecer causalidade, sendo assim um confundimento etiológico. Não é um viés se o objetivo for identificar grupos de alto risco, sendo então um confundimento de saúde pública. 4- OUTROS VIESES • Erros de codificação, transcrição, digitação, programação, arredondamento etc.; • Viés de publicação (a maior parte das revistas só gostam de publicar pesquisas que tiveram resultados positivo, mas os resultados negativos são tão importantes quanto); • Viés de citação (autores que se autocitam em toda a pesquisa); • Viés de conflito de interesses (pesquisas financiadas por empresas que fabricam o remédio em estudo, por exemplo). TIPOS DE ESTUDOS ANALÍTICOS • Os estudos descritivos informam sobre a distribuição de um evento na população, visando identificar grupos de risco e/ou sugerir explicações para as variações anormais de frequência, sem lidar com grupo controle; • Os estudos analíticos visam esclarecer hipóteses sobre eventuais relações causais, com base em estudo de grupos controle. UNIDADE DE OBSERVAÇÃO ATITUDE DO INVESTIGADOR REFERÊNCIA TEMPORAL DENOMINAÇÕES Individuado Observação Transversal Transversal Longitudinal prospectivo Coorte Longitudinal retrospectivo Caso-controle Intervenção Longitudinal Ensaio clínico Agregado Observação Transversal Ecológico Longitudinal Série temporal Intervenção Longitudinal Ensaio comunitário INDIVIDUADO: cada indivíduo é a unidade de análise; 5 LARISSA STORK - 70 AGREGADO: grupos de pessoas (população) são as unidades de análise; OBSERVAÇÃO: o papel do investigador é passivo e consiste na observação metódica e acurada dos eventos, sem interferência na coleta de dados nem nos resultados; INTERVENÇÃO: o pesquisador tem papel ativo, pois manipula o fator de exposição (a intervenção), provocando uma modificação intencional em algum aspecto de saúde dos indivíduos; TRANSVERSAL: a observação ocorre em um único momento (recorte do tempo), ou seja, a exposição e o efeito são analisados simultaneamente no mesmo período; LONGITUDINAL: possui mais de um momento de verificação das variáveis, ou seja, verifica a variável independente (exposição) e em um momento diferente se verifica a dependente (efeito). Pode ser retrospectivo, em que parte do efeito e busca a exposição no passado, ou prospectivo, em que se parte na ausência do efeito e, a partir da exposição, busca-se o efeito no futuro. ESTUDO TRANSVERSAL • Estudo individuado, de observação e transversal; • A análise é a comparação da frequência da doença entre expostos e não expostos, ou seja, a comparação da prevalência da doença no grupo de não expostos e de expostos para aquele fator de risco; • O tamanho da amostra em estudos transversais é definido de acordo com: o A prevalência da doença naquela localidade segundo os estudos anteriores; o Proporção na população, com base em estudos anteriores ou na literatura (se não for possível obter informação, pode-se usar o,5 ou 50%); o Precisão da estimativa (indica o quanto a estimativa pode se distanciar da verdadeira) - “Eu estimo que a prevalência seja de 10%, mas pode não ser exatamente isso, então o pesquisador define que aceita até uma variação de 20%” - obs.: a maioria dos estudos admite 5% de variação; o Nível de significância (porcentagem de casos na população que estarão fora do intervalo estimado para a proporção, em geral 0,05). • Quanto maior for a população, proporcionalmente menor será a amostra. Mas se a população for muito pequena, a amostra será basicamente a população inteira. Então, quanto menor for a população, a amostra será proporcionalmente maior; • Principais vantagens: o Não é preciso acompanhar os participantes - rapidez do estudo; o Alto potencial descritivo; o Podem descrever características da população, identificar casos na comunidade e detectar grupos de risco; o Os estudos transversais são particularmente indicados para investigar fatores de risco de doenças de início lento e de evolução longa, nos quais os diagnóstico geralmente é feito num estágio mais avançado da doença → medem a PREVALÊNCIA, quantos doentes eu tenho naquele momento na população. • Principais limitações: o Difícil determinar a cronologia exposição/efeito, pois as informações são obtidas em apenas um período e não há observação longitudinal do indivíduo; 6 LARISSA STORK - 70 o Incapacidade de determinar risco absoluto do efeito (incidência), pois o estudo se inicia com os indivíduo com o efeito; o Viés de prevalência: casos curados ou falecidos não aparecem. • Requisitos: o Amostra de tamanho apropriado - se não dá margem para erro aleatório; o Delimitação correta da população; o Boa proporção de resposta; o Definição precisa da exposição e efeito; o Instrumento / questionário bem elaborado; o Padronização de procedimentos. • Estudo padrão ouro em relação ao diagnóstico. Não é um estudo de padrão alto em relação à etiopatogenia, quando comparado a outros (coorte e caso-controle). Para prognóstico e terapia o estudo transversal não serve para nada. ESTUDO DE CASO-CONTROLE • Estudo individuado, de observação e longitudinal retrospectivo; • A seleção de casos ideais é aquela que representa todos os casos de uma população. Deve-se considerar alguns fatores, como: estadiamento e tempo de duração da doença; variantes ou tipos clínicos; fonte dos casos; casos incidentes x prevalentes. Assim, para que se tenha uma boa avaliação, o melhor é selecionar casos semelhantes e não misturar casos leves com casos complicados, ou aqueles com 5 anos e outros com 20 anos de duração, por exemplo. Assim, o melhor é escolher casos em que se sabe o início em vez de casos prevalentes, para poder saber exatamente o tempo de duração e isso não interferir no resultado do estudo; • A seleção do grupo controle (não casos) ideal é a que represente amostra representativa da população que deu origem aos casos. É muito importante que tenha pareamento, isto é, a seleção deve garantir a máxima similaridade com os casos, exceto quanto à presença da doença; • Tradicionalmente, a proporção de controle : casos é de 1:1. O ideal é trabalhar com 4:1, ou seja, 4 controles para 1 caso. Em relação à escolha da fonte de controles, pode ser feito de algumas formas dependendo da escolha dos casos, exemplo: se selecionar todos os casos da comunidade, o controle pode ser uma amostra aleatória da comunidade; se selecionar todos os casos diagnosticados em todos os hospitais da comunidade, o controle pode ser uma amostra de pacientes sem a doença do caso nos mesmos hospitais. Além disso, há a possibilidade de existir mais de um grupo controle, por exemplo: estudo sobre acidentes de trabalho e característicasindividuais e socioeconômicas, foram selecionados 3 grupos controle - populacional, vizinhança e trabalho; • Sobre o tamanho da amostra em estudo caso-controle deve-se saber se o estudo é pareado ou não; a proporção entre casos e controles; a proporção de expostos nos casos e nos expostos e o ODDS ratio; nível de significância; poder do teste (geralmente 80%); teste de hipótese (geralmente bicaudal); • Principais vantagens: o Não é preciso acompanhar os participantes - realização rápida; o Menor número de participantes; o Muitos fatores de risco podem ser investigados simultaneamente; 7 LARISSA STORK - 70 o Indicado para estudo etiológico de doenças raras ou de grandes períodos de latência. • Principais limitações: o Tamanho da amostra (com casos incidentes); o Complexidade na escolha adequada dos casos e controles (viés de seleção); o Interferência da validade dos métodos diagnósticos (os métodos diagnósticos mudam ao longo dos anos, o que pode interferir na seleção dos casos); o Aferição retrospectiva da exposição (memória); o Presença de fatores de confundimento; o Não permitem cálculo de medidas de frequência da doença: estimativa de risco é indireta. • É o segundo estudo indicado para etiologia, atrás apenas do coorte, não é padrão alto para terapia e não funciona para prognóstico da doença, pois é retrospectivo. ESTUDO DE COORTE • Estudo individuado, de observação e longitudinal prospectivo; • Aqui, há uma comparação da incidência do efeito nos expostos X não expostos. Assim, é necessária ausência de efeito na seleção dos participantes, tanto do grupo exposto quanto o controle; • Sobre o tamanho da amostra, deve-se saber a proporção de casos entre os expostos e não expostos e risco relativo; nível de significância; poder de teste (80%); teste de hipótese (mono ou bicaudal); • Principais vantagens: o Testam hipóteses etiológicas; o Cronologia de exposição e efeito é inequívoca, pois se parte da população sem efeito; o Vários efeitos podem ser investigados; o A seleção de controles é “simples”, mas nem sempre. É comum em coorte haver mudança de exposição (paciente era sedentário, mas durante o tempo de estudo, decide começar a malhar), e aí pode-se excluir o participante (podendo cair em erro aleatório) ou realocar o participante para o não-exposto, e em vez de contar a pessoa nos cálculos, conta o tempo em que a pessoa passou no grupo dos expostos e dos não-expostos (relação pessoa/tempo); o Resultados obtidos em coeficientes de incidência e RR. • Principais limitações: o Potencial falta de comparabilidade entre os grupos (restrição de categorias, emparelhamento, ajustes); o Mudanças nos níveis de exposição e nos critérios diagnósticos podem levar a erros na classificação; o Vulnerável a perda de seguimento e a vieses decorrentes do conhecimento prévio da exposição; o Alto custo e tempo de realização; o Não aplicáveis para estudos etiológicos de doenças raras (exigem grande número de pessoas); o Doenças com longo período de latência exigem longo seguimento - assim, foi criado a coorte histórica, em que o momento do estudo é quando a população 8 LARISSA STORK - 70 já tem o efeito e utiliza-se métodos, como revisão de prontuário, para analisar a diferença da incidência do efeito no grupo de expostos e não expostos. • Estudos de coorte são os melhores para avaliar etiologia das doenças e para prognóstico, pois são de acompanhamento. Serve para terapia, mas não são tão bons como os ensaios clínicos. Não serve para estudar métodos diagnósticos. ENSAIOS CLÍNICOS • Estudo individuado, de intervenção e longitudinal; • É um método experimental que tem maior validade em todos os estudos de epidemiológicos e é muito utilizado para tratamento; • Nesse estudo, parte-se de uma população sem o efeito e a exposição/intervenção e o investigador intervém no grupo experimental enquanto o grupo controle não recebe essa intervenção, comparando no final o surgimento do efeito entre os grupos. Assim, é um estudo em que a temporalidade é inequívoca, pois parte da intervenção e observa o surgimento do efeito (incidência), e a comparabilidade é garantida, pois analisa-se um grupo com intervenção e um grupo controle; • Para assegurar que os grupos comparados sejam equivalentes, os participantes são alocados ao acaso (aleatoriamente - sorteio); • Pode ser: o Não controlado: não há grupo controle e então todos os participantes recebem a intervenção e é observado o antes e depois; o Controlado: há grupo controle, necessita de randomização para garantir que os grupos sejam comparáveis (exceto quando a amostra é muito pequena, que aí se escolhe quem vai fazer parte do controle e do experimental). Muitas vezes precisa parear quando na aleatorização os grupos ficarem muito diferentes. Também pode haver um grupo rotativo (ora aplica a intervenção no grupo controle e ora no grupo experimental). O que mais dá validade ao estudo é quando se pode cegar os grupos, os seja, quando os participantes não sabem se fazem parte do grupo controle ou experimental, chamado então de estudo simples-cego. Quando os pesquisadores e os participantes não sabem, o estudo é duplo-cego. Quando um terceiro profissional (quem faz a biopsia ou raio-x, por exemplo) não sabe a que grupo o paciente pertence, o estudo é triplo-cego. • Quando a análise é feita na intenção de tratar, evita-se vieses relacionados à aderência, desvios de orientações médicas e perda de semelhança entre os grupos. Não deve incluir casos que houve perda de seguimento (se essa perda for maior que 5%, é necessário parar o estudo); • Principais vantagens: o Cronologia exposição/efeito é inequívoca; o Grupos comparáveis (aleatorização); o Não há dificuldade na formação de grupo controle; o Procedimento decididos a priori e padronizados; o Vários efeitos podem ser observados; o Podem ser cegos ou duplo-cegos evitando vieses; o Qualidade dos dados; o Resultados expressos em coeficiente de incidência e RR. • Principais limitações: o Dilemas éticos importantes; 9 LARISSA STORK - 70 o Participantes podem não ser representativos da população-alvo (grupo altamente selecionado); o Pode ser difícil obter participantes; o Pouco indicados para estudar efeitos raros ou com grandes períodos de latência; o Custo. • Os ensaios clínicos são ótimos para terapia. Não são bons para descobrir a etiologia/etiopatogenia, nem para diagnóstico ou prognóstico. ESTUDOS AGREGADOS • Os estudos agregados utilizam grupos de pessoas como unidades de análise. Analisam dados globais de populações inteiras, comparando diferentes grupos populacionais no mesmo período ou a mesma população em diferentes momentos. Podem utilizar dados obtidos de bases de dados de grandes populações e/ou por estudos descritivos ou analíticos; • Os objetivos desses estudos são: gerar hipóteses etiológicas para a ocorrência de alguma doença (descritivo); testar hipóteses etiológicas (analítico); avaliar a efetividade de intervenções na população (analítico); • Esses estudos procuram avaliar como os contextos social e ambiental podem afetar a saúde de grupos populacionais, pois muitas vezes as informações coletadas no nível individual são incapazes de refletir adequadamente processos que ocorrem no nível coletivo, como o grau de desorganização social ou fatores ambientais, por exemplo; • Nem todos os autores classificam estudos agregados como estudos analíticos; • FALÁCIA ECOLÓGICA: a associação observada entre as variáveis no nível de grupo não representa, necessariamente, a associação existente no nível individual. A variável dependente é a medida de frequência do efeito e a variável independente é a proporção dos expostos no grupo; • Tipo de informações em estudos epidemiológicos: observações/variáveis individuaissão propriedades ou características dos indivíduos, como idade; variáveis de grupo são propriedades ou características de grupos, organizações ou lugares, como poluição do ar. Assim, os estudos agregados baseiam-se nas variáveis de grupo; • Existem 3 medidas de grupos: o Medidas globais: atributos de grupos, organizações ou lugares para os quais não existem análogos em nível individual, como densidade populacional, nível de desorganização social, tipo de sistema de saúde; o Medidas ambientais: características físicas de um lugar no qual os membros de cada grupo vivem ou trabalham, como poluição do ar e exposição à luz solar. Essas medidas apresentam um análogo em nível individual; o Medidas ecológicas: sumários de observações derivadas de indivíduos em cada grupos, como média de renda familiar, proporção de fumantes, coeficientes. • Principais vantagens: o Desenho adequado para estudar o efeito dos processos contextuais ou macrossociais sobre a saúde de grupos populacionais; o Há condições em que não é possível ou não é indicado realizar estudos individuados; o Geralmente fácil planejamento e baixo custo, pois usam dados secundários frequentemente; 10 LARISSA STORK - 70 o Variáveis de confusão podem ser minimizadas através do relacionamento exposição e efeito em agregados menores e mais homogêneos. • Principais limitações: o Não é possível associar exposição e doença no nível individual; o Há dificuldade de controlar confundimento; o Frequentemente utilizam dados secundários: baixa qualidade de dados e poucas informações. • Tipos de estudos agregados: ECOLÓGICO ▪ Estudo agregado, de observação e transversal; ▪ Medidas agregadas referentes a um período (nem sempre o período considerado para a variável independente corresponde exatamente àquele da variável dependente). SÉRIE TEMPORAL ▪ Estudo agregado, de observação e longitudinal; ▪ Medidas agregadas referentes a um período, analisadas em série de tempo. ENSAIO COMUNITÁRIO ▪ Estudo agregado, de intervenção e longitudinal; ▪ Pode ou não contemplar a exclusão de pessoas com o efeito sob investigação; ▪ A intervenção é padronizada, mas não há controle sobre sua aplicação em cada indivíduo; ▪ O efeito pode ou não ser aferido a nível individual. COMPARAÇÃO DE MEDIDAS DE ASSOCIAÇÃO • A escolha da medida depende do tipo de estudo: ESTUDO MEDIDA DE RISCO MEDIDA DE ASSOCIAÇÃO MEDIDA DE DIFERENÇA Coorte Incidência Risco relativo e Hazard ratio Risco atribuível e Risco atribuível populacional Transversal Prevalência Razão de prevalência Diferença de prevalência e Dif. de prev. popul. Caso-controle Odds Odds ratio Risco atribuível populacional Ensaio Incidência Risco relativo Redução do risco absoluto e Red. do risco relativo Agregado Qualquer (grupo) Qualquer Qualquer MEDIDAS DE ASSOCIAÇÃO • Risco relativo (RR, ou razão de risco): medida de intensidade entre a relação exposição e efeito, utilizadas em estudos longitudinais que medem risco. Mede a relação do risco 11 LARISSA STORK - 70 do efeito (coeficiente de incidência) entre expostos e não expostos. Se for calculado com taxa de incidência em vez de coeficiente de incidência, tem-se o Hazard ratio. • Razão de prevalência: medida de intensidade entre a relação exposição e efeito considerada em estudos transversais. Mede a relação da prevalência do efeito em expostos e não expostos. • Odds ratio (ou razão de chances): medida de intensidade entre a relação efeito e exposição usada em estudos retrospectivos. Mede a relação de chance de exposição entre casos (efeito presente) e controle (efeito ausente). Não se tem denominador populacional. Odds é uma medida artificial que foi criada especialmente para estudos caso-controles. O valor é sempre um pouco maior do RR e, em casos de doenças raras, o valor se aproxima muito. 𝐶𝐼 = 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑛𝑜𝑣𝑜𝑠 𝑛𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 𝑝𝑜𝑝. 𝑠𝑜𝑏 𝑟𝑖𝑠𝑐𝑜 𝑛𝑜 𝑖𝑛í𝑐𝑖𝑜 𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 𝑅𝑅 = 𝐶𝐼 𝑒𝑥𝑝 𝐶𝐼 𝑛ã𝑜 𝑒𝑥𝑝 𝐻𝑅 = 𝑇𝐼 𝑒𝑥𝑝 𝑇𝐼 𝑛ã𝑜 𝑒𝑥𝑝 𝑇𝐼 = 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑛𝑜𝑣𝑜𝑠 𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 𝑠𝑜𝑚𝑎 𝑑𝑜 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑜𝑠 𝑖𝑛𝑑𝑖𝑣í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 𝑅𝑃 = 𝑃 𝑒𝑥𝑝 𝑃 𝑛ã𝑜 𝑒𝑥𝑝 𝑃 = 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑒𝑥𝑖𝑠𝑡𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑠𝑜𝑏 𝑟𝑖𝑠𝑐𝑜 𝑂𝑅 = 𝑝𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏. 𝑐𝑎𝑠𝑜 𝑒𝑥𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏. 𝑐𝑎𝑠𝑜 𝑛ã𝑜 𝑒𝑥𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏. 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒 𝑒𝑥𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏. 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒 𝑛ã𝑜 𝑒𝑥𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜 𝑂𝑅 = 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑒𝑥𝑝. 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑛ã𝑜 𝑒𝑥𝑝. 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒𝑠 𝑒𝑥𝑝. 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒𝑠 𝑛ã𝑜 𝑒𝑥𝑝. 𝑂𝑅 = 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑒𝑥𝑝.× 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒𝑠 𝑛ã𝑜 𝑒𝑥𝑝. 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑛ã𝑜 𝑒𝑥𝑝.× 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒𝑠 𝑒𝑥𝑝. 12 LARISSA STORK - 70 • Interpretação das medidas de associação: primeiro, deve-se afirmar que “O risco de tal EFEITO no grupo de expostos é X (medida de associação) vezes o risco do EFEITO nos não expostos. Se a medida for: o = 1 →não há associação entre exposição e efeito; o > 1 →a exposição é fator de risco; o < 1 →a exposição é fator de proteção. • Significância das medidas de associação: intervalo de confiança (IC) é uma amplitude de valores derivados de estatísticas de amostras, que tem a probabilidade (nível de confiança ou confiabilidade) de conter o valor de um parâmetro populacional desconhecido (por ex., o valor da medida de associação que vier a ser obtida em uma repetição daquele estudo na mesma ou em outra população); • A medida de associação tem significância estatística quando seu valor estimado em um IC não mudaria a interpretação que se faz para os resultados obtidos, ou seja, o IC deve ser ou menor que 1 ou maior que 1. Se o intervalo variar de um valor menor que 1 para um valor maior que 1 (ex., IC = 0,7 – 1,3) não há significância estatística, pois a associação poderia ser um fator de proteção ou de risco, dependendo do resultado obtido; MEDIDAS DE DIFERENÇA • Risco ou fração atribuível: parcela do risco a que está exposto um grupo da população e que é atribuível, exclusivamente, ao fator estudado. Objetivo de saber o impacto de uma exposição para determinado efeito. Não é calculado em caso-controle. A interpretação é: “X pessoas expostas possuem o efeito por causa da exposição estudada”. RA% é a porcentagem do RA na população exposta, ou seja, a interpretação é: “A exposição estudada provoca X% do efeito na população exposta”. • Risco atribuível na população: é a incidência de uma doença que, na população, está associada ao fator/exposição estudado. MEDIDAS APLICÁVEIS AOS ENSAIOS CLÍNICOS • Risco relativo (RR); • Redução no risco absoluto (RRA): ao contrário do risco atribuível. Representa o valor absoluto da redução do risco do efeito (incidência), provocada pela intervenção. Interpretação: “A intervenção evita X% do efeito”. • Redução do risco relativo (RRR) ou eficácia: diz quanto aquela redução do risco absoluto representa do risco total. Redução percentual do risco, decorrente da intervenção. Interpretação: “A intervenção evita X% do efeito” 𝑅𝐴 = 𝐶𝐼 exp − 𝐶𝐼 𝑛ã𝑜 𝑒𝑥𝑝 𝑅𝐴% = 𝑅𝐴 𝐶𝐼 𝑒𝑥𝑝 𝑅𝐴𝑃 = 𝐶𝐼 𝑝𝑜𝑝 − 𝐶𝐼 𝑛ã𝑜 𝑒𝑥𝑝 𝑅𝐴𝑃% = 𝑅𝐴𝑃 𝐶𝐼 𝑝𝑜𝑝 𝑅𝑅𝐴 = 𝐶𝐼 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒 − 𝐶𝐼 𝑒𝑥𝑝 𝑅𝑅𝑅 = 𝑅𝑅𝐴 𝐶𝐼 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒 13 LARISSA STORK - 70 • Número necessário para tratar (NNT): informa quantos pacientes necessitam receber o tratamento experimental para possibilitar um desfecho favorável ou para evitar um desfecho indesejável. O indicador fundamental para decisões sobre o manejo dos pacientes: avaliação risco-benefício. O ideal é um NNT de 1, que significa que todo paciente tratado se beneficia da terapia. EXEMPLO: Um estudo analisa a influência da vacinação de idosos contra influenzasobre as hospitalizações por pneumonia nesse grupo etário. RR = 0,75; RRA = 4%; RRR = 25%. Se RRA = 4%, a vacina evita 4 hospitalizações a cada 100 idosos vacinados. Assim, para que 1 idoso não seja hospitalizado, 25 idosos precisam ser vacinados (NNT = 25). METANÁLISE • É um método estatístico aplicado à revisão sistemática, integrando os resultados de dois ou mais estudos primários - calcula medidas em cima desses resultados; • A apresentação no gráfico de floresta ou “forest plot” representa a estimativa de efeito e intervalo de confiança para os estudos individuais e para a metanálise; • Nota-se que o quadradinho é a medida de associação de cada estudo, o qual, nesse caso, foi menor que 1 em todos os estudos, indicando fator de proteção. O tamanho do quadrado é proporcional à quantidade de pessoas incluídas no estudo. A linha no quadradinho representa o intervalo de confiança e, se ela ultrapassar o 1, ou seja, se o intervalo for de um número menor a um número maior que 1 - NÃO HÁ SIGNIFICÂNCIA ESTASTÍSTICA. O diamante é a medida de associação da metanálise e seu intervalo de confiança é a sua largura; • Heterogeneidade: é a variação excessiva dos resultados dos estudos, causando viés de seleção, devido a: Heterogeneidade metodológica: diferenças nos desenhos de estudo quanto a randomização, sigilo de alocação, mascaramento, perdas; Heterogeneidade clínica: diferenças de características chaves dos participantes (critérios de inclusão/exclusão, de diagnóstico), da intervenção (tipo, dose, duração) e/ou desfechos (tipo, escala, ponto de corte...); Escolha errada das medidas de efeito; Acaso. • Estratégias para abordar heterogeneidade: Ignorar: usar o modelo de efeito fixo na estimativa do efeito do tratamento, atribuindo ao acaso; Considerar: excluir estudo ou usar modelo de efeito randômico (aleatório) para a estimativa do efeito do tratamento; Explorar: fazer análise de subgrupo de ensaios clínicos ou subgrupo de participantes 𝑁𝑁𝑇 = 1 𝑅𝑅𝐴 14 LARISSA STORK - 70 e/ou usar meta-regressão (análise estatística que relaciona o tamanho do efeito às características do estudo); • Metanálise que só inclui estudos de um determinado tipo é melhor - evita viés de seleção. VALIDAÇÃO DE PROCEDIMENTOS DIAGNÓSTICOS • As intervenções em saúde são sustentadas com base em um diagnóstico, o qual depende de procedimentos diagnósticos, que consistem em métodos ou técnicas que incluem: procedimentos de interrogatório; exame físico; métodos propedêuticos e testes laboratoriais; • Para escolher um procedimento diagnóstico, temos que verificar a confiabilidade e a validade; • CONFIABILIDADE: ou repetibilidade ou reprodutibilidade ou precisão. É a concordância ou consistência de resultados quando o procedimento se repete em condições similares e se interpreta sem conhecimento prévio dos resultados. Exemplo: dois radiologistas que independentemente leem as mesmas radiografias e chegam ao mesmo diagnóstico alcançam o nível máximo de reprodutibilidade, mas podem estar igualmente corretos ou igualmente errados em seus diagnósticos; • Fatores que influenciam a confiabilidade: Observador único; Aparelhos de alta precisão e calibrados; Uso de amostras controle; Ambiente e tempo de execução favoráveis; Condições do paciente e do local nos quais o procedimento é aplicado; Fatores relacionados ao examinador, ao procedimento e ao ambiente; Variabilidade inter e intra observador; Expressão dos resultados de procedimentos: a diminuição do número de categorias tende a aumentar a concordância (Variável dicotômica: positivo/negativo; Variável categórica: normal/anormal/níveis limítrofes; Medidas contínuas: miligramas, mililitros; Medidas discretas: contagem de hemácias, títulos); Tipo de evento; Prevalência do diagnóstico ou evento na população: quanto menor a prevalência, menos a reprodutibilidade; Independência da avaliação: quando um examinador repete o procedimento, deve ignorar resultados prévios, obtidos por ele ou por outro examinador, para evitar vieses; • Avaliação da confiabilidade para variáveis qualitativas: ACURÁCIA OU TAXA GLOBAL DE CONCORDÂNCIA - analisa a proporção corretamente classificada pelo procedimento diagnóstico, ou seja, os verdadeiros positivos e negativos; • VALIDADE: capacidade de um procedimento de medir aquilo que se propõe a medir, a exatidão do procedimento. Exemplo: o ECG é um teste de maior validade, quando comparado à auscultação cardíaca feita com o estetoscópio, no intuito de detectar alterações cardiovasculares típicas da doença de Chagas; o Validade interna: grau no qual os resultados de uma observação estão corretos em relação ao grupo particular de pessoas que estão sendo estudadas; o Validade externa ou generalização: extensão na qual os resultados de um estudo são aplicados para pessoas que não participaram dele. • Alta confiabilidade não assegura alta validade; 𝐴𝑐 = 𝑣𝑒𝑟𝑑. 𝑝𝑜𝑠. + 𝑣𝑒𝑟𝑑. 𝑛𝑒𝑔. 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 15 LARISSA STORK - 70 • Para avaliar a confiabilidade e validade dos procedimentos diagnósticos o melhor é o estudo transversal, pois no longitudinal esses procedimentos podem mudar ao longo do tempo; • A validade simultânea ou concorrente: o Capacidade de um procedimento diagnóstico diagnosticar um evento → sensibilidade; especificidade e validade preditiva; o Capacidade de um procedimento predizer um evento → valor preditivo positivo e negativo. 16 LARISSA STORK - 70 SENSIBILIDADE • Capacidade que o procedimento diagnóstico apresenta de detectar os indivíduos verdadeiramente, ou seja, de diagnosticar corretamente os doentes. ESPECIFICIDADE • Capacidade do mesmo teste ser negativo nos indivíduos que não apresentam a doença. VALOR PREDITIVO • Probabilidade do indivíduo ser realmente doente (ou sadio) dado que o procedimento diagnóstico teve resultado positivo (ou negativo). Depende da sensibilidade e especificidade do procedimento diagnóstico, bem como da prevalência da doença no grupo de estudo. Valor preditivo positivo e negativo: PREVALÊNCIA Interpretações: • Quanto maior a prevalência da doença, maior será VPP e menor será VPN; • Quanto maior a sensibilidade, maior será VPN, porque menos falsos-negativos (é mais importante o resultado negativo de um procedimento sensível); • Quanto maior a especificidade, maior será VPP, porque menos falsos-positivos (é mais importante o resultado positivo de um procedimento específico). Importância relativa da sensibilidade e especificidade: • Indicação de procedimentos de risco: melhor garantir especificidade para evitar resultados falsos-positivos que possam expor o indivíduo a risco desnecessário; • Triagem na qual a não detecção de casos possa acarretar risco para o indivíduo ou população: melhor garantir sensibilidade para evitar falsos-negativos; • Uma forma de contornar a oposição entre sensibilidade e especificidade é utilizar os resultados de vários tipos de testes diagnósticos, realizados simultaneamente ou em série: o TESTES MÚLTIPLOS: ▪ Sequenciais ou em série: redução da sensibilidade geral; aumento da especificidade geral; 𝑆 = 𝑎 (𝑣𝑒𝑟𝑑. 𝑝𝑜𝑠. ) 𝑎 + 𝑐 (𝑑𝑜𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠) 𝐸 = 𝑑 (𝑣𝑒𝑟𝑑. 𝑛𝑒𝑔. ) 𝑏 + 𝑑 (𝑛ã𝑜 𝑑𝑜𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠) 𝑉𝑃𝑃 = 𝑎 (𝑣𝑒𝑟𝑑. 𝑝𝑜𝑠. ) 𝑎 + 𝑏 (𝑡𝑜𝑑𝑜𝑠 𝑜𝑠 𝑝𝑜𝑠. ) 𝑉𝑃𝑁 = 𝑑 (𝑣𝑒𝑟𝑑. 𝑛𝑒𝑔. ) 𝑐 + 𝑑 (𝑡𝑜𝑑𝑜𝑠 𝑜𝑠 𝑛𝑒𝑔. ) 𝑃 = 𝑎 + 𝑐 (𝑑𝑜𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠) 𝑎 + 𝑏 + 𝑐 + 𝑑 (𝑡𝑜𝑑𝑜𝑠) 17 LARISSA STORK - 70 ▪ Simultâneos ou em paralelo: aumento da sensibilidade geral (o indivíduo é considerado positivo desde que tenha resultado positivo em qualquer um dos testes ou em múltiplos testes); redução da especificidade geral (para ser considerado negativo, tem que obter resultado negativo em todos ostestes). RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA (Likelihood Radio) • Razão expressa entre a probabilidade de um resultado do procedimento em pessoas com a doença e a probabilidade do mesmo resultado em pessoas sem a doença. Consiste em uma chance, que expressa quantas vezes mais provável (ou menos) é um resultado de um procedimento. - Razão de verossimilhança de um resultado positivo: probabilidade e positivo entre os doentes / probabilidade de positivo entre os não doentes. Quanto maior RVP, melhor o procedimento, pois um resultado positivo é mais provável de ser verdadeiro positivo (sensibilidade) do que o falto positivo (1 – especificidade). - Razão de verossimilhança de um resultado negativo: probabilidade de negativo entre os doentes / probabilidade de negativo entre os não doentes. Quanto menor RVN, melhor o procedimento, pois um resultado negativo é mais provável de ser verdadeiro negativo (especificidade) do que falso-negativo (1 – sensibilidade). Ponto de corte do procedimento diagnóstico: • O procedimento diagnóstico ideal deveria fornecer, sempre, a resposta correta, ou seja, resultado positivo nos indivíduos com a doença e resultado negativo nos indivíduos sem a doença, mas o ponto de corte entre o normal e o anormal é, geralmente, arbitrário. Deveria também ser de rápida execução, seguro, simples, confiável e de baixo custo. Como escolher, então, esse ponto de corte? 𝑅𝑉𝑃 = 𝑠𝑒𝑛𝑠𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 1 − 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐𝑖𝑓𝑖𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑅𝑉𝑁 = 1 − 𝑠𝑒𝑛𝑠𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐𝑖𝑓𝑖𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 18 LARISSA STORK - 70 CURVA ROC • Representação da relação entre a sensibilidade e a especificidade de um teste diagnóstico quantitativo, ao longo de um contínuo de valores de “cut off point”; • A exatidão do teste é dada pela área sob a curva.
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