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D i b e Avaliar a condição nutricional tem por objetivo evidenciar o comprometimento de crescimento e das proporções corporais decorrentes de processos carenciais em um indivíduo ou em uma comunidade, visando estabelecer atitudes de intervenção. Desta forma, é de fundamental importância a padronização da avaliação a ser utilizada para cada faixa etária, uniformizando assim os critérios empregados pela equipe de saúde. A influência das condições nutricionais é tão marcante na determinação dos padrões de crescimento que medidas antropométricas são utilizadas como indicadores clínicos do estado nutricional. Assim, a antropometria, pela facilidade de execução e baixo custo, tem-se revelado como o método isolado mais adotado para o diagnóstico nutricional em nível populacional, sobretudo na infância. Pela aferição do peso e altura podem ser calculados os índices antropométricos mais utilizados e preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS): peso/idade, estatura/idade, peso/estatura e índice de massa corpórea (IMC). Os índices antropométricos mais amplamente usados, recomendados pela OMS e adotados pelo Ministério da Saúde, são: Para estabelecer a comparação de um conjunto de medidas antropométricas com um padrão de referência, várias escalas podem ser utilizadas; as mais comuns são o percentil e o escore Z. O escore Z significa, em termos práticos, o número de desvios-padrão que o dado obtido está afastado de sua mediana de referência. Cálculo do escore z: Escore z = valor medido na criança – valor da mediana valor do desvio padrão Os percentis são derivados da distribuição em ordem crescente dos valores de um parâmetro, observados para uma determinada idade e sexo. A classificação de uma criança em um determinado percentil permite estimar quantas crianças, de mesma idade e sexo, são maiores ou menores em relação ao parâmetro avaliado. Correlação entre percentil e escore z, segundo valores da Curva de Gauss: p0,13 -3z p2,28 -2z p15,8 -1z p50 0z p84,2 +1z p97,78 +2z p99,87 +3z As classificações antropométricas mais utilizadas e que se têm mantido ao longo do tempo são: Gomez (modificado por Bengoa), Waterlow (modificado por Batista) e atualmente da OMS. Classificação de Gomez A classificação de Gomes é preconizada para crianças menores de dois anos e baseia-se no índice de peso para a idade (P/I): P/I = peso observado x100 peso esperado para a idade e sexo (p50) Estado de Nutrição Eutrofia 91-110 Desnutrição leve ou 1º grau 76-90 Desnutrição moderada ou de 2º grau 61-75 Desnutrição grave ou de 3º grau ≤60 Classificação de Waterlow A classificação de Waterlow baseia-se nos índices de estatura/idade (E/I) e peso/estatura (P/E). É preconizada para crianças de dois a 10 anos de idade. E/I = estatura observada x 100 estatura esperada para idade e sexo (p50) P/E = peso observado x 100 peso esperado para a estatura observada Estado de Nutrição O B E S I D A D E A classificação da obesidade pode ser realizada com base no índice peso por estatura de acordo com o proposto por Jelliffe: O peso e a estatura são os dados rotineiramente coletados: P/E = peso observado x 100 peso esperado para a estatura observada Considera-se sobrepeso quando o valor encontrado estiver maior do que 110% e menor que 120%, obesidade quando ele for igual ou maior que 120% e o percentual acima de 140% como indicativo de obesidade grave ÍNDICE DE MASSA CORPÓREA (IMC) Este índice refere-se à relação peso (kg)/estatura (m) ao quadrado. peso IMC = /(estatura)2 O percentil 10 do IMC é considerado como ponto de corte para baixo peso, e o percentil 85 é considerado como ponto de corte para sobrepeso. Recomenda-se a adoção de medidas de pregas cutâneas para avaliação da composição corporal. Indivíduos abaixo do percentil 3 são considerados desnutridos e os acima do percentil 97 são obesos. AVALIAÇÃO LABORATORIAL As avaliações laboratoriais do estado nutricional incluem o exame hematológico e de proteínas séricas. Em geral, a ausência de anemia exclui anemias de causa nutricional, como deficiências de ferro, folato,vitamina B12. Ferritina, eletrólitos, Retinol plasmático, Zinco plasmático, Vitamina E sérica, VitaminaD, VitaminaC, VitaminaB6, Fosfatase alcalina. A albumina é a melhor medida do estado de nutrição protéico, porque sua meia-vida biológica é menor do que a das globulinas Idade Proteína sérica total (mg/dl) Albumina sérica (mg/dl) < 5dias 5,4 – 7,0 2,6 – 3,6 1 – 3 a. 5,9 – 7,0 3,4 – 4,2 4 – 6 a. 5,9 – 7,0 3,5 – 5,2 7 – 9 a. 6,2 – 8,1 3,7 – 5,6 10 – 19 a.6,3 – 8,6 3,7 – 5,6 O perfil lipídico pode ser realizado em crianças a partir de 2 anos, naqueles com excesso de peso e/ou risco cardiovascular familiar. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL D i b e Devemos avaliar o colesterol total e frações (HDL-C, LDL-C, VLDL-C) e os triglicerídeos. Avaliação do metabolismo glicídico e tireoidiano também devem ser investigados. O Rx dos ossos do punho e mão para determinação da idade óssea é utilizado para avaliar o comprometimento do crescimento estatural. Os exames bioquímicos em associação com métodos dietéticos e antropométricos enriquecem o diagnóstico do estado nutricional da criança e do adolescente em situações de saúde e doença. O reconhecimento de que o aleitamento materno é a única conduta alimentar sem restrições para qualquer lactente é hoje uma verdade de aceitação universal, para todos os que trabalham na área de saúde como para a população geral. O leite materno, como alimento exclusivo, é o que confere melhor condição de crescimento e desenvolvimento à criança até o sexto mês, não havendo nenhuma vantagem na introdução de qualquer outro tipo de alimento antes desta idade. Devem ser destacados os seguintes aspectos, ligados ao aleitamento materno exclusivo: · Livre demanda. · Tempo de mamada. · Oferta de água ou chá. Desde que instituída adequadamente a prática do aleitamento materno exclusivo, o tempo de sua duração (ideal até o sexto mês) será estabelecido pela disponibilidade materna (as mães que trabalham no mercado formal têm quatro meses de licença). A introdução de outros alimentos a partir do sexto mês deve ser iniciada pela oferta de papa de frutas e papa principal. As frutas passam a ser oferecidas como papas, amassadas ou raspadas. O horário mais adequado para tal é o da mamada da manhã e tarde, precedendo-a. Com isto, do ponto de vista prático, já passamos a introduzir o lanche da manhã e tarde. A papa de proteínas com legumes, hortaliças e tubérculos passa a ser a primeira grande refeição, correspondendo ao almoço. Classicamente esta refeição é constituída por um papa (consistência de um pirão). O ovo, como substituto da carne, pode ser introduzido neste período, inicialmente cozido, adicionado a papa. Aproximadamente um mês após a introdução do almoço oferece-se o jantar. Neste período já não deve haver restrições à introdução de cereais e leguminosas (arroz ou macarrão, farinhas de cereais e feijão ou seus equivalentes) que, na maioria das vezes, passam a se constituir na refeição básica do almoço e/ou jantar. Com este esquema, extremamente simples, por volta do sétimo ao oitavo mês, as crianças já passaram a receber um lanche matinal (frutas), almoço, lanche da tarde (frutas) e jantar, com a possibilidade de, nas refeiçõesmaiores, receber cereais, leguminosas, carnes e/ou ovo, hortaliças e tubérculos. O leite materno será oferecido pela manhã, ao acordar, junto ao lanche da tarde e após o jantar. Após o oitavo mês, devemos fazer a transição de alimento pastoso para alimentos de consistência mais sólida, tendendo à alimentos consumidos pela família. E após 1 ano de idade a criança não apresenta restrição alimentar. Finalmente, devemos analisar agora o que fazer naquelas situações especiais que interferem com a possibilidade de manutenção do aleitamento materno. Ou seja, quando a criança necessita de outra fonte alimentar. IMPOSSIBILIDADE DE AMAMENTAÇÃO DESDE O PERÍODO NEONATAL Existem, na prática, situações nas quais a mãe, por diferentes causas, está ou sente-se impossibilitada de amamentar seu filho a partir do nascimento ou de algum período subseqüente. Nestas situações devemos utilizar os substitutos disponíveis, sem perder de vista a possibilidade do aparecimento de situações de risco para o lactente (intolerância, cólica, infecções, anemia por perda sangüínea intestinal, etc.) que devem ser acompanhadas de perto, para pronta intervenção quando necessário. Para a substituição do leite materno existem as seguintes possibilidades, em termos de leite: -Fórmulas lácteas. -Leite in natura ou leite integral em pó (evitar) As fórmulas lácteas são preparações que atendem ao especificado pelo Codex Alimentarius da OMS, ou seja, seus componentes encontram-se em valores contidos entre as recomendações mínima e máxima. Entre os leites in natura A, B ou “longa vida”, não existem diferenças básicas a não ser nos aspectos bacteriológicos. Os leites especiais, ou tipo C, muitas vezes distribuídos por programas de suplementação alimentar, são leites reconstituídos com gordura vegetal, sendo carentes em vitaminas lipossolúveis (A,D,E), que devem ser complementadas. Leite integral em pó é o leite do qual se retirou a água e deve ser reconstituído entre 12,5% e 15% a partir de 1 ano de idade, passando a apresentar composição semelhante ao leite de vaca natural. Os leites in natura e integral em pó devem ser enriquecidos com 5% de hidrato de carbono (2% de açúcar e 3% de farináceo) e 1 a 2% de gordura. DILUIÇÕES: • leite em pó 1 med = 1 col. sopa rasa = 5g • açucar 1 med = 1 col. chá = 2g • farináceo 1 med = 1 col. chá = 3g Diluição de Fórmula Láctea: Fórmula 1: indicado para lactentes com menos de 6 meses de idade, na proporção de 1:30 (1 medida para 30ml de solução) Fórmula 2: indicado para lactentes entre 6 meses e 1 ao de vida, nas mesmas proporções de 1:30. Fórmula de seguimento: indicada para lactentes acima de 10 meses de idade até 5 aos. SUPLEMENTAÇÕES VITAMÍNICAS E MINERAIS VITAMINA D A partir da primeira semana de vida, em crianças a termo até o final do primeiro ano, a criança deverá receber vitamina D (400U/dia). Em crianças pré-termo, deve se iniciar quando o peso for superior a 1500g e houver tolerância plena à nutrição enteral Para crianças entre 12meses e 24meses de vida é recomendado suplementação de vitamina D de 600U/dia. A complementação deve ser iniciada inclusive para lactentes em aleitamento materno exclusivo, independente da região do país FERRO A indicação de ferro para os lactentes é ainda bastante controvertida. Entretanto, segundo recomendação atual da sociedade brasileira de pediatria, ficou estabelecido que as crianças nas seguintes situações devem receber suplementos de ferro: -RN a termo, AIG, em aleitamento materno exclusivo até 6º mês: 1mg/kg/dia de ferro elementar a partir de 180dias até 24meses de idade. -RN a termo, AIG, com fator de risco: 1mg/kg/dia de ferro elementar a partir de 90dias até os 24 meses de idade, independente do regime de alimentação RN a termo com menos de 2500g: 2mg/kg/dia a partir de 30dias de vida até 1ano e 1mg/kg/dia por mais 1 ano. - RN pré-termo com peso entre 2500g e 1500g: 2mg/kg/dia a partir de 30dias de vida até 1ano e 1mg/kg/dia por mais 1 ano. - RN pré-termo com peso entre 1500g e 1000g: 3mg/kg/dia a partir de 30dias de vida até 1ano e 1mg/kg/dia por mais 1ano. - RN pré-termo com peso <1000g: 4mg/kg/dia a partir de 30dias de vida até 1ano e 1mg/kg/dia por mais 1ano. Atualmente a prevalência estimada de anemia em crianças brasileiras, saudáveis e menores de sete anos é de 33%. Em regiões de prevalência de anemia ferropriva superior a 40% é recomendado suplementação com 30mg/dia de ferro elementar para crianças entre 2anos e 12anos de vida. FLÚOR Em cidades que não disponham de fluoretação das águas deve-se agregar o flúor sob forma de suplemento, a partir do 15º dia de vida até aproximadamente os 15 anos, na proporção de 0,25mg de flúor elementar até o primeiro ano, 0,50mg do primeiro ao terceiro ano e 1,0mg após os três anos. A solução de fluoreto de sódio de 221mg em 20ml de água destilada fornece esta dose, se usada uma gota no primeiro ano de vida, duas gotas de um a três anos e quatro gotas a partir dos três anos. ALIMENTAÇÃO DO PRÉ-ESCOLAR E DO ESCOLAR ALIMENTAÇÃO D i b e As recomendações nutricionais e os hábitos alimentares devem convergir para um único fim: o bem-estar emocional, social e físico da criança. As recomendações nutricionais funcionam como diretrizes para se estabelecer esquemas alimentares que proporcionem todos os nutrientes necessários ao crescimento e ao desenvolvimento das crianças de acordo com a faixa etária. O período pré-escolar caracteriza-se por diminuição na velocidade de crescimento e, portanto, por decréscimo do apetite. Assim, cabe aos profissionais orientar os pais que a falta de interesse pela alimentação, nessa fase, é natural e que se deve evitar as famosas chantagens e artifícios para obrigar a criança a comer. O pré-escolar apresenta: - sistema metabólico e digestivo funcionando nos moldes do indivíduo adulto; - volume gástrico pequeno (200 a 300ml); - apetite inconstante; - utilizam a inapetência para chamar a atenção; - interesse em manipular talheres e alimentos com as mãos. Recomendações para a prática dietética do pré-escolar: ·Intervalo de duas a três horas entre a ingestão de qualquer alimento e horário das principais refeições. ·Volume pequeno de alimentos nas refeições. ·Fracionamento da dieta: seis refeições diárias incluindo os lanches. ·Se houver recusa da refeição principal, não substituir por leite ou produtos lácteos. ·Manter a presença de verduras e legumes nas refeições mesmo que a criança não aceite, mas, sem obrigatoriedade do consumo. -Servir as refeições sem a presença de sucos, refrigerantes, ou líquidos açucarados. Esses líquidos podem ser oferecidos após o término da refeição CARATERÍSTICAS NUTRICIONAIS DO ESCOLAR Considerando as características biológicas. O escolar é a criança de sete anos de idade até que a mesma entre em puberdade, pois a partir desse fenômeno ela será avaliada sob outro prisma, o da adolescência. A maior socialização e independência promovem melhor aceitação de preparações alimentares diferentes e mais sofisticadas. O trato digestório está mais desenvolvido e o volume gástrico é comparável ao do adulto. Ocorre acréscimo da atividade física, aumentando as necessidades energéticas diárias. A inapetência comum do pré-escolar transforma-se em apetite voraz nessa fase. ALIMENTAÇÃO DO ADOLESCENTE A nutrição assume características específicas na adolescência, considerando- se que a história de vida nutricional pregressa, adequada ou não, repercutirá de forma definitiva, pois é um período em que o indivíduo ganha 25% da altura e 50% do peso final É, portanto, uma fase de crescimento rápido e transformações somáticas intensas, necessitando de aporte adequado de calorias e nutrientes. Devido à amplitude da variação individual com relação à idade de início e à duração e à intensidade da aceleração de crescimento, é tarefa difícil e complexa o estabelecimento das necessidades nutricionais do adolescente.Portanto, as tabelas e cardápios alimentares recomendados são apenas guias que deverão ser avaliados para cada caso individual. Não deve ser esquecido ainda que o adolescente, preocupado com sua aparência física, sofre influência do relacionamento grupal característico do período, é desconhecedor do valor nutritivo real dos alimentos e frequentemente tem conceitos nutricionais inadequados, estando sujeito a hábitos alimentares impróprios, que podem vir a comprometer o crescimento apropriado.